Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

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segunda-feira, 24 de maio de 2010

deserto

Quando a poeira assentar.
Quando retornarem os passarinhos.
Quando eu encontrar o tesouro debaixo do arco-íris.
Então poderás me dar as chaves da casa.

Aproveita e sorri sequer uma vez para este moço velho poeta.
A culpa por todos os desastres do universo minha somente.
Então não disfarces tua vitória tua infinda alegria.

Dá-me as chaves da casa.
Do cadeado.
Da porta.

Aproveita o embalo e dança um pouco.
Mostra-me teu corpo.

Aquele sinalzinho abaixo da virilha
ainda é a sombra de uma lágrima?

Quando eu fugir deste quarto.
Quando eu abrir a porta deste quarto.
Quando eu deixar os poucos livros para trás.
Então é hora de chorares.

Aproveita e conta pro meu filho
que sempre fui um apaixonado
pela vida dos objetos:

sobretudo pela xícara
do cafezinho.

O PRIMEIRO SCARPIN, A GENTE NUNCA ESQUECE ! - POR SOORRO MOREIRA


Moça , oficialmente, a gente só era considerada, quando completava 15 anos. Depois dos 30, se continuasse solteira, já era vitalina.
Mas eu tinha menos de 13 anos, quando viajamos em excursão para Salvador. Eu era a caçula do grupo, e só me dei conta das desvantagens, na noite em que todas nos preparávamos para um concerto musical , no teatro. Eu estava de luto do meu avô materno, e preto era considerado luxo. Mas, e os sapatos sem saltos? Deselegância pura ! Enquanto as meninas se "emperiquitavam" , eu timidamente fui ficando, literalmente amuada.
Não afirmo que Regina Vilar tenha sido a mais amiga...Todas nos dávamos muito bem ! Mas, sem dúvidas, naquela hora foi a mais sensível.
- Socorro, você não pode sair com esse sapato baixo.Que número você calça ?
- 35 , respondi baixinho...
-Pois é justo o meu número ! Venha escolher um dos meus sapatos.
Ela tinha um exemplar para cada vestido. Todos novos, na moda, brilhantes !
Sem muita exigência fiquei com um de trancelim preto , de bico fino, e saltos altíssimos.
Era a primeira vez que eu calçaria um sapato alto !
Até que pisei legal... Aproveitei pra usar batom, pela primeira vez, e sai vestida de moça, antes de chegar a hora !
Acho que nem contei pra minha mãe, nem pras pessoas de casa... Esse simples fato, poderia ser motivo de escândalo !
Pois então ... Fui precoce , em todos os tempos :
Precoce nas letras, nas fantasias dos adultos, no casamento e maternidade. Fui precoce também no divórcio, na aposentadoria... Só não quero ser precoce na morte, mas acho que já sai da garantia !
Agradeço, mais uma vez à generosidade da minha colega Regina...Daquele dia em diante, ficamos todas do curso com a mesma idade !

Pensamento para o Dia 24/05/2010


“A fé é muito importante. Quando luxúria, ira e outras más qualidades diminuírem e desaparecerem, a fé no Ser Eterno e na retidão da investigação espiritual crescerá e será confirmada. Desapego é o fundamento para a realização do Absoluto Universal. Mesmo para uma pequena estrutura, o alicerce deve ser estável e forte, ou ela desmorona muito em breve. Para fazer uma guirlanda precisamos de um barbante, uma agulha e flores, não é? Do mesmo modo, quando a sabedoria (Jnana) for conquistada, a linha de devoção, a agulha de desapego e as flores do foco constante, unidirecionado são essenciais.”
Ministros recomendam veto a reajuste de 7,7% para aposentados.

A CRIAÇÃO CÓSMICA DA FORÇA FORTE AGINDO NO UNIVERSO MACRO - LINDO DEMAIS!


M57: NEBULOSA DO ANEL


AURORA BOREAL

Os Filósofos da Batateira e a dialética do personagem e ator - por José do Vale Pinheiro Feitosa

Reunião de apenas alguns. Mitonho, Chico Preto, Chambaril e Bunga. Foi um pouco pelo acaso. Mitonho vinha pela estrada do brejo quando viu de longe a silhueta de Samuel, um terrível cobrador de dívidas, desviou-se pelo Arisco. Chambaril com uma toalha displicentemente nos ombros, carregava uma tora de sabão para lavar-se no rio e o caminho mais perto era o do arisco. Bunga estava procurando o seu jumento que deixara amarrado numa área e apenas encontrou o toco de corda partida.

Chico Preto era o único sábio naquele pleno das quatro horas no sítio Batateira. Destilava um opúsculo de Hume sobre a teoria do conhecimento, especialmente sobre as impressões vindas pelos sentidos e a formação das idéias. Isso embaixo da generosa sombra de um grande cajueiro, naquela altura pontilhando o folhado verde de rubros e amarelos cajus doces. Entre uma chupada cuidadosa com as manchas do sumo na sua camisa e uma lambida na ponta dos dedos, passava as folhas que digeriam um dos filósofos da Grã-Bretanha.

Com diferença de minutos os quatros Filósofos da Batateira estavam sentados em animada conversação. E que conversação! Tratava a dialética entre os personagens e os atores. Mitonho argumentava:

- Olhem bem o exemplo: Brizola era o personagem, o neto dele que é deputado federal pode ser apenas o ator.

- E Brizola tem neto deputado? Eu não sabia não! – interrogou Chambaril.

- Tem – esclareceu Chico Preto – e agora anda querendo beber o chimarrão do avô. Mas sempre resta uma dúvida: Brizola tinha a alma do seu tempo, o neto tem a farsa do tempo do avô. Ninguém vive o tempo do outro. Vive coisa parecida, que são sonhos, desejos, rumos que se tomam entre uma geração e outra, mas cabe a cada geração encontrar os inimigos dos seus sonhos e lutar contra eles. Não adianta ser apenas o ator. Isso tem pouca duração assim como o ato de um drama.

E foi neste clima que Bunga deu sua palavra: o caçuá da carga pode até durar muito, mas a carga é sempre diferente. Depende da safra e da vontade pelo produto. Tanto a safra muda durante o ano como o desejo vai mudando até mesmo na própria pessoa.

Pronto, como costumava com ao maior e mais profundo filósofo que a Batateira já tivera e tem, Chico Preto arrematou aquela breve reunião:

- O personagem está se queimando sob o sol de todos os dias. Esfola os dedos dos pés de tantas topadas na vereda irregular das noites escuras. Tem os ouvidos vitimados pelo vigor das respostas que lhe dão todas as vezes que sua voz se manifesta. O personagem não tem alternativa a não ser ele mesmo. Já o ator, apenas interpreta e ninguém consegue interpretar e viver ao mesmo tempo. Só interpreta, já com suas entranhas pedindo socorro ao badalar do final da peça. O intérprete cumpre apenas uma peça em pequenos atos, já o personagem é consumido pelos atos de uma vontade coletiva inteira, no espaço de um povo definido e no tempo que constrói os atos desta vontade.

Chico catou o livro largado ao seu lado no pedregulho do arisco, todos se levantaram com os movimentos do mais real dos personagens: foram todos mergulhar no poço que fica perto do Alto do Urubu.

Convite ! - por Luiz Carlos Salatiel

CONVITE
A CELEBRAÇÃO DO ENCANTAMENTO
DIA 29 DE MAIO, SÁBADO
A PARTIR DAS 19 HORAS, NO CRATO TÊNIS CLUBE


Caríssimo(a) Sr(a),
A Oca-Officinas de Cultura e Artes & Produtos derivados e a revista virtual CaririCult convidam V.Sa e família para celebrarem juntos o primeiro ano de vida radiofônica do programa
Cariri Encantado – A nossa arte, a nossa cultura, a nossa gente nas ondas do rádio!
que acontece todas as sextas-feiras, a partir das 14 horas, graças a parceria do CCBNB-Cariri com a Radio Educadora do Cariri.
Na oportunidade serão homenageados artistas (música, teatro, cinema, dança, fotografia, literatura, artes plásticas, etc.) mestres da cultura, produtores culturais, comunicadores, personalidades e instituições que contribuem de forma honrosa para o enriquecimento e valorização do patrimônio imaterial do cariri cearense (*).
Dentro da mesma programação acontecerá o lançamento do livro
"IMAGENS - Cento e Vinte e Cinco Anos com a família Gonzaga de Oliveira",
pesquisa de Jackson Bola Bantim e texto de Luiz Carlos Salatiel.
A partir das 22:30 horas, uma tertúlia com o Conjunto do Batista deixará a noite ainda mais animada.
Desejamos muito contar com a sua presença e de sua família.
Crato-CE, 25 de maio de 2010

Luiz Carlos Salatiel Carlos Rafael Dias
Presidente Oca e Administrador CaririCult Vice-presidente Oca

(*) veja http://cariri-encantado.blogspot.com/ a relação dos homenageados.

Contatos: 99214773 – Luiz Carlos Salatiel

MARISCOS - POR EVERARDO NORÕES

O MAR POSSUI,
POR ENGANO,
FEITO DE COR E DE PENA,
UM ALFABETO ESTRANHO.
ÁS VEZES ESCREVE CARTAS.
SE AS LEIO,
ME CONDENA.
NÁUFRAGO DO MAR SECRETO,
( SEM MARÉ BAIXA OU NAVIO)
SOU O MAU DESTINATÁRIO:
POIS NEM MESMO EM MIM
ME ACEITO,OU FIO.

Olhar de avó- por Ana Cecília S.Bastos

E por que esse retorno aflito
de terra e lugar?
Não suporto essa agonia do presente.
Esse vazio, essa dor,
essa posse absoluta do efémero.
Antes absoluto
esse desejo de raízes...
Estrada, carro de boi,
pés descalços,
vozes,
tardes.
Antes fora eu reencontrada
nesse olhar de avó
que é lembrança tão doce.

DEDICADO A BERNARDO MELGAÇO



Hoje quero homenagear Bernardo Melgaço, em agradecimento por seus escritos postados aqui no Cariricaturas. Além da riqueza dos textos, ele nos tem trazido também belas imagens do cosmos. A contemplação das grandezas do Universo é alimento para nossa alma, é amor para nosso coração, é poesia para nossa vida.
Construí o poema abaixo quando conheci as Danças Circulares, que para mim é mais um instrumento de união com o Sagrado. Estou postando-o hoje, dedicado a Bernardo, por acreditar, como ele, que há muitos caminhos luminosos direcionados para a construção da consciência plena, da LUZ e do AMOR.



A Cosmovisão nas danças circulares


Danças circulares espelham mandalas cósmicas
onde vislumbramos pássaros ou anjos dançarinos:
alegres, leves, livres.

O corpo voa com a alma...
Entrega amorosa na música e na dança.
Mensageiros de Shiva Nataraja?
Mercúrio de sandálias aladas, carregando guizos de Pã?
Ou Netuno num oceano transbordante de leveza e harmonia,
metamorfoseando-se em Vênus graciosa e musical?

Não. Não é só isso.
É abraço de Céu e Terra.
União cósmica.

O “Eu” mergulha nas Águas cósmicas da dança,
adentra a Terra, que acolhe os passos-sementes,
germinando luz e amor.
Dança no Fogo das Origens. Se aquece.
Acende tochas, queima-se em êxtase.
Voa pelo etéreo espaço.
No Ar, espalha cores,
espelha estrelas.

Não. Não é só isso.
É o início da peregrinação da alma,
busca, caminho, preenchimento do vazio.

Movimento cósmico.
Expansão e retração
Dádiva e Recebimento.
Encontro. Chegada.
Entrega.
Dança sagrada da comunhão.
União.
Encontro com o Absoluto Espírito do Amor e da Paz.

Stela Siebra
(Olinda, 27/02/05).

Eduardo Lara Resende

Estrela em neon


A família se reunira à mesa do café da manhã, enquanto assistia ao primeiro noticiário do dia na tevê. Derrotas no futebol, terremotos pelo mundo, violência nas ruas e discursos acenando desesperança silenciaram pai e mãe. Já o filho, levado a tomar o rumo da escola, emudecera diante da impossibilidade de permanecer na cama. Até que, de seres rastejantes devido ao desânimo, evoluíram todos, instantaneamente, ao estado de 'homo erectus curiosus' assim que Riana - filha e irmã adolescente - surgiu pela porta.

A garota apareceu e rodopiou sobre a ponta dos pés calçados em sandálias lilás. Os seis olhos despertos examinaram a figura em detalhe: pés e mãos com unhas pintadas em verde-limão, calça justa vermelha e blusinha branca com estampa coberta de lantejoulas. Pendurada no ombro, uma enorme bolsa na cor laranja fosforescente - a mesma cor do batom, que rebrilhava em contraste com a pele queimada de sol.

- E aí, coroada, a Ri em estilo cool vai arrasar - não vai?

Com a platéia petrificada diante da aparição, a estrela pressionou:

- Gente, que falta de incentivo... Brô Leandro, V. não diz nada?

- Você foi ontem ao oftalmologista com as unhas pintadas assim? - indagou o irmão.

- Claro, ele nem notou.

- Como é que V. sabe? - balbuciou a mãe, no que sugeria lenta recuperação de estado de choque.

- Ué, ele não disse nada...

A resposta acordou o pai:

- Esse doutor Pietro está precisando consultar-se com um colega...

A filha torceu o nariz, enquanto assumia seu lugar à mesa. Os olhares acompanharam-na pelo curto trajeto.

- Filha, esse esmalte... - a mãe ensaiou reação.

- Se quiser um igual, o preço está ótimo. Comprei naquela drogaria perto da escola, sabe?

Indiferente a tudo, Riana em seguida anunciou que daria, 'em primeira mão', a notícia-bomba da semana.

- Eu e a Paula descobrimos que o professor de ginástica namora a irmã da avó da prima da Clarissa.

Brô Leandro não se conteve:

- Nossa, o cara namora uma bisavó?

- É... Quer dizer, deve ser... - titubeou a estrela.

Àquela altura o pai, novamente a caminho da exaustão, resolveu recomendar à filha que pensasse no jeito como andava se vestindo. Caso contrário, acabaria ficando isolada, espantaria os garotos da sua idade. Resolveu exagerar, e até acenou com a expectativa de "um dia ser avô" – projeto para o qual contava com ela, sua Riana querida, em quem não via jeito de celibatária.

- Eu, heim, pai... Tenho vocação é pra ser celebridade. Esse negócio que V. falou aí, se eu achar uma no meu quarto, mato com uma chinelada só.

Por Rogério Silva

Desprendo-me
no cansaço
de todas as coisas
gritando a dor
em cada milímetro
de minha tez.
Onde o suor latejante
de veias vazantes
molham-me
em um torpor
translúcido
na noite infindável.
E ergo-me
no amanhecer
tal qual
uma fênix,
que ainda chamuscada
ergue-se de sua
urna mortuária.
Entro na manhã
serena
escaldante
e transpasso
passo a passo
o zumbi-ido
das horas
esperando
a morte eminente
ou o salvador alienígena
dos milênios transcritos
em cada degrau
dos cromossomos
que de tanto helicoidar-se
enroscou-se entre
o infinito início
e o interminável fim.


Medo de amar - Dedicado à Musa Socorro Moreira



Existem pessoas que com o tempo deixam de ser apenas pessoas e se transformam em música. Socorro Moreira é uma delas. A ela dedico esta música, que eu estava escutando aqui nesta madrugada e só poderia compartilhar com alguém que realmente sabe escutar música como eu escuto.

Medo de amar

( Vinicius de Moraes )

Vire essa folha do livro e se esqueça de mim
Finja que o amor acabou e se esqueça de mim
Você não compreendeu que o ciúme é um mal de raiz
E que ter medo de amar não faz ninguém feliz

Agora vá sua vida como você quer
Porém, não se surpreenda se uma outra mulher
Nascer de mim, como do deserto uma flor
E compreender que o ciúme é o perfume do amor

Postagem: Dihelson Mendonça

Um poema por Nívia Uchôa

Penso que os dias são feitos de pormenores tão vibrantes que as badaladas afirmam compor as cores da lua

É como se o ocaso fragmenta-se a aura de um dia poente passando da hora

Assim como o motivo de escrever é apenas para relutar o pensamento

O sol brilha e a tarde treze instinga esses pensamentos enquanto o universo varia a cada centésimo de segundo

Saborear a alma é a mesma coisa que investigar o insonciente

Semelhamentemente seria possivel conceber as hora as

Tua tez clara quase neve emerge um olhar possivel velado que aparece quando ver as estrelas em seu telhado

Céu que paira sobre todas as nuvens pensamentos ilusões

Visão onírica do tempo

Assunto desvelado em imagens

Tudo é vivo diante dos olhos

Fragmentos conspirações teimosias razões

E assim sucessivamente abraça a alma se antes fosse

É como se a perfeição não fosse assunto tão sério

Meus incomodos afrontam a noite além

Espero poder atrair a vizinhança inteira como meus critérios

E secretamente ouvir Tom Jobim para aplaudir o mar

Meus brios de mistérios trazem a melodia impar de um poema

Como se uma vida inteira me prendesse em teus sentidos

"O que for para ser vigora"

Enquanto a tenue da noite embriaga o inverso.



Nívia Uchôa

24.05.2010

Em casa no meu escritório ouvindo jazz