Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

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quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Infância - Por Socorro Moreira


Ela acordou em 1959 aos 7 anos de idade.Morava num sobrado de família bem apanhada. Sabia que não era rica , mas tinha vida de princesa. Vestido de organdi e meias de seda. Tinha bonecas, livros de história, e uma coleção de fitas pro cabelo.Sua mãe era linda e triste. Parecia esconder mágoa ou segredo. Seu pai era boa pinta, gostava de desenhar , e cantava lindamente , no banheiro. Tão criança, e já apaixonada por um primo de 10 anos. Francisco estava por de férias, acompanhado pelo pai , irmão da sua avó. Ele jamais saberia ,ninguém jamais saberia , mas seu coração começou a bater mais forte.

A discoteca da casa era diversificada, mas só tinha coisa boa, coisa de muito bom gosto. Naquela manhã de domingo , Doris Day estava na agulha, cantando "que será será' ( Whatever wil be, will be).Tinha lido na Cinelândia, que a música era trilha sonora do filme :" O homem que sabia demais".Filme impróprio para crianças daquela idade, mas a música estava ali , no seu ouvido, entrando livre e maravilhosa !

A casa era enorme, e possuia muitos esconderijos. Sua avó sempre a encontrava . Vinha com um romance pela metade , debaixo do braço, e lhe pedia para ler, em voz alta, mais alguns capítulos - a história do "Moço Loiro"( Joaquim Manoel de Macedo) . O nome do personagem feminino era Honorina , mas ela achava que era "Mirtô" ( "... O ponto culminante, no entanto, situa-se quando, ao beijá-la, o moço rouba .... A fronte não cingi de *mirto e louro. Antes de verde rama engrinaldei-a ...")

- , quando eu me casar, e tiver uma filha mulher, o nome será Mirtô. O que acha ?
- Mirtô é um nome lindo, e raro. Boa escolha !

-Mas existirão condes, herdeiros de castelo, ou posso casar-me com qualquer menino que toque bem acordeon ou realejo? Quero casar-me com alguém que toque todas as canções do mundo; que não precise sair para trabalhar; que fique brincando no jardim de criar rosas, e leve-me para o cinema todas as noites. Não quero perder uma película sequer... Quero assistir a todos os filmes proibidos, e tem mais : quero viajar de avião por todo o mundo, conhecer a Praia de Copacabana, Paris, e a Bahia de São Salvador. Não é lá , que a gente compra cocada , num taboleiro de damas ?Pois eu quero !

E a água de coco ? Papai diz que lá tem praias com muitos coqueiros. Eu quero conhecer a Igreja do Senhor do Bonfim.

Sentiu as mãos da vovó Ana , nos seus cabelos anelados.
- Não vá catar piolho, viu ? Hoje não... Cante uma moda do seu tempo de menina: " perdão Emília... Acho linda !

E a , numa voz de rouxinol , cantarola baixinho.
Lá na sala, Doris Day ainda canta. Seu pai deixa que o disco fique arranhado pelas repetições, enquanto traga o seu hollywood, e sorve uma Brahma do Recife, geladinha.

Dormiu. Dormiu no colo da , pés esticados numa cadeira.
Acordará entre lençóis quentinhos, provavelmente .

* Pensou, no seu entendimento de criança, que mirto, fosse um nome feminino ( Mirtô, na sua interpretação), uma vez que não conseguiu traduzir a palavra.


E antes que chegue a madrugada , uma foto de Emerson Monteiro


Michel Moore em Cuba - Por Joaquim Pinheiro Bezerra de Menezes


O cineasta norte-americano Michael Moore, diretor de Fahrenheit 9/11 e massacre em columbine, levou alguns americanos a Cuba. O grupo era formado por vítimas do atentado de 11 de setembro (Torres gêmeas) e não tinham recursos para custear tratamentos nem plano de saúde. O polêmico diretor filmou a estadia na ilha caribenha e transformou as cenas no filme Sicko (traduzido como SOS saúde). No site abaixo pode ser visto um trecho do documentário.

http://video.google.com/videoplay?docid=-8478265773449174245&hl=pt-BR



O FÁRMACO NO " CORPUS HIPOCRATICUM"





"O FÁRMACO NO CORPUS HIPPOCRATICUM"





Diversos em sua cronologia, temática, escola e doutrina, unitários em seu comum apoio no conceito de phisis, os 53 textos que compoem o CORPUS HIPPOCRATICUM inicia a elaboração dessa consciência metódica da medicina que culminou em GALENO. No decorrer dos séc. V e IV a.C., mas prolongados no tempo até varios séculos depois, os textos foram desprendendo-se da linha mágico-telúrica do período arcaico e afiançando seu caráter empírico-racional até tornar-se verdadeira tékne iatriké. Sobre o fundamento comum da physis, entendida a constituição desta como uma composição de elementos - os quatro empedocleanos- dotados de suas qualidades (fogo, terra, ar e água), os hipocraticos, em virtude de um complexo processo em cuja história não posso entrar, mas que foi muito bem exposta por LAIN, a cujo saber me apoio e recorro, vão os hipocráticos elaborar um conceito biológico a um nivel superior o do humor, comprendido por sua vez como associação, em proporções diversas, dos quatro elementos com suas qualidades; quatro também são os humores: sangue, bilis amarela, bilis negra e pituitária. Apoiado nela o hipocrático vai conceber a enfermidade como o predomínio de alguma qualidade - seguindo a tradição alcmeônica (Alcmeon médico Grego) como o desequilíbrio na composiçao dos elementos ou como maior vigencia e duração até o mundo moderno, como dyskrasía , ou mal mistura humoral. O qual significa que: sabendo fazer e sabendo por que faz aquilo que executa - e transitando da pura empiria a tékkné- o hipocrático vai entender o tratamento como a arte de estabelecer a isonomia das qualidades, o equilíbrio dos elementos ou a eukrasía dos humores, ajudando a própria natureza que em virtude de sua inata vis medicatrix, trata de rstabelecer por si mesma sua própria desordem.

Como conseguiu isto? Através dos recursos terapêuticos, da dietética, a matéria médica, , a cirurgia e a psicoterapia. Fixemo-nos na MATÉRIA MÉDICA. No CORPUS HIPPOCRATICUM o pharmakón perdeu definitivamente seu significado mágico para ser utilizado, segundo ARTEL e LAIN, em um triplo sentido: como substância exterior ao corpo, capaz de produzir nele uma ação favorável ou desfavorável, dificil de delimitar da noçaõ de alimento; como puro medicamento capz de modificar o estado presente; como medicamento purgante, no sentido de que a "purgação" - kátharsis - teve para o hipocrático, isto é, como ação evacuante, e em consequência purificadora da matéria alterada , origem da enfermidade.


É evidente que neste último sentido foram purgantes para os hipocráticos a maior parte dos fármacos utilizados. Exerceriam sua ação purificadora através de um suposto mecanismo de "agitação" ou "atração" , relativo aos humores, contituído em sua própria natureza e sempre concebido segundo o princípio do contraria contrariis (tão grata aos homeopatas de Hanemman séculos depois). Mas algo mais cabe dizer desses farmacos catárticos: a conexão semântica entre seu significado e o da kátharsis no sentido de "purificação ritual". Foi tem amplamente tratado por ARTEL, TEMKIM e LAÍN, e resumidamente cabe afirmar que tal relação existiu, talvez através do caráter divino que para os hipocráticos tinha a phisis. DEUBNER pôs em evidência os "crivos expiatórios", os homens destinados a purificar a cidade de seus males carregando-os sobre si, eram denominados pharmakoí; cada pharmakós era um " pharmakón personificado" . Asim tão complexamente entendido o "pharmakón", a medicina hipocrática utilizou um númeo mais restrito deles do que até então havia sido habitual nas culturas arcaicas. A TISANA - bebida mucilaginosa procedente da cocção de cevada triturada- o HIDROMEL ,-água com mel - o OXIMEL , mistura de vinagre, água e mel. O leite o vinho, etc., tiveram grande utlização. Importante papel tiveram certamente os purgantes - o eléboro-, os enemas, especialmente com leite de burraou com uma mistura de mel e sal-, as decocçoes de acelgas , nabos, suco espesso de euforbiaceas e de veratrum album. Como diureticos a cebola e o aipo. Os narcóticos foram pouco empregados: com preferência se utilizou o MECÔNIO ou a dormideira. No total , ACHERKNECTH e outros autores dão cifras de umas 250 a 263 plantas terapêuticas empregadas; as substâncias animais foram muito similares às da farmacopéia arcaica: gordura, bilis. Os remédios minerais foram relativamente escassos, uma vez que se pensava que sua ação, ao ser tão diferente da humana, era demasiado intensa: especialmente utlisaram o alumínio, o sal e as terras, externamente aplicados em forma de unguentos. Por via oral se aplicava o óxido de ferro. Poções, pilulas, epitimas , enemas e pesarios foram outars tantas formas de administração dos fármacos. O médico dispunha de uma pequena farmácia - segundo nos informa o texto "Sobre a Decência" - de "tópicos, emolientes, poções incisivas, preparados conforme a fórmula e segundo seus gêneros", assim como de susbtâncias purgantes tomadas nas melhores localidades e tartadas para serem conservadas asim como as substãncias frescas, preparadas no mesmo momento e todas as demas coisas pertinentes". Como os Egipcios, também os médicos hipocráticos preparavam pessoalmente seus fármacos. Um só ponto resta tratar: a origem e sentido da farmacopéia hipocrática. Com relaçao ao primeiro, é lógico pensar em sua procedência a partir da medicina empírica e mágica, tanto nativa como das diversas culturas orientais com as quias o povo grego teve contato. Mas, assim como outros autores consultados , me pergunto: Por que um determinado fármaco chegou a ser adotado como próprio por uma medicina que se autodenominava "técnica"? Deixando a margem a possibilidade da "observação comprovada" assim como do post hoc ergo propter hoc, LAIN ressaltou os certeiros estudos de R. JOLY, quem aplicando ao caso a psiscanálise de BACHELARD, argui a existência de uma série de "presságios" - o exotismo, a vida, o odor, a disgestão - como explicação daquele sentido; o qual viria a demonstrar : em que pese a sua racionalidade e técnica, a mente do hipocrático todavia operava inconscientemente os presságios míticos vigentes em sua sociedade.
Dedicado ao Dr. José do Vale Filho, que, em não tendo sido SEMINARISTA como eu, e aprendido um pouco de Latim e Grego com o ilustre Professor Pe. José Honor de Brito, mas colega da mais brilhante e perturbadora IVa Série do Colégio Diocesano, amigo, colega entende exuberantemente de Medicina e de solitudine, soledad e solis.

ESTANDARTIZAÇÃO DO VIVER NA SUPERFÍCIE


“Vemos hoje ampliar-se o influxo do progressismo, especialmente entre jovens. Seduz a juventude primariamente a negação de toda e qualquer tradição, porquanto esta atitude a desobriga de considerável esforço de estudar todo um passado cultural, que se alonga no tempo e demanda séria e constante dedicação intelectual.

É mais fácil sustentar-se que o passado não tem vez em nossos dias e que incube ao homem de hoje situar-se no seu tempo... Voltar as costas à tradição cultural da humanidade é um convite extremamente sedutor, próprio de quantos se recusam assumir as responsabilidades oriundas da tomada de consciência da condição humana.

Viver na superfície das coisas, aceitar o ritmo do quotidiano, sem descer a uma profundidade maior, onde o homem se defronta consigo mesmo e não mais escapa à seriedade da vida e de sua destinação superior, é missão altamente gratificante à primeira vista, conquanto o não seja a longo prazo. Aqui tocamos num problema.

Mas o que é viver na superfície? Numa era em que os meios de comunicação social
nos acenam com os seus atrativos, cingindo o nosso comportamento, banalizando-o imperativamente, nem sempre é fácil a tarefa de acordar o homem do torpor em que se encontra, mormente quando ele não se apercebe. Cuidam muitos que escolhem o seu modo de vida, quando a verdade é bem outra. O comportamento social é ditado de fora para dentro.

A estandardização do viver ganha cada vez maior número de adeptos, que ficariam extremamente ressentidos se lhes disséssemos ser bem diminuta a sua faixa de decisão pessoal. Adotam o ritmo existencial das maiorias amorfas, por lhes parecer exatamente ser esta a atitude correta, bem ao gosto de uma atualidade em que querem situar-se, sem saber precisamente em que ela consiste.

Assim a vida se esvai nos espasmos do comportamento prefixado pela comunicação epidérmica, onde o que mais falta faz é o diálogo. Não se dialoga, mas se menciona o diálogo como essencial. Falece calor humano, e se proclama a relevância do amor. Clama-se por uma vida comunitária, e se aprimoram as técnicas de domínio absoluto da posse de bens fugazes, que acentuam os traços do egoísmo” (PADILHA, 1975, p.26).

PADILHA, TARCÍSIO MEIRELLES - Brasil em Questão, s.ed., Rio de Janeiro, José Olympio, 1975, p. 165.

Sou filha de nordestino, com muita honra! - por Anita D Cambuim

Sou filha de nordestino, com muita honra!

.

Anita D Cambuim

.

Eu vou contar pra vocês
Como é nascer em São Paulo
Trazendo como herança
O bom sangue nordestino.

.

Mesmo sendo só de um lado
E isso fica bem patente
nos meus modos, nos meus gostos.

.

Os meus amigos se amarram
Na culinária que eu
herdei do meu do pai e tias:
faço bem feijão de corda,
e galinha a molho pardo,
sarapatel ou um simples
franguinho com quiabo.

.

Na minha mesa não falta
Manga, cocada e farinha
Aprendi com minha madrinha:
Cuscus, canjica , sagu e
vários pratos de mandioca.
Toda gente come e gosta!

.

Quem quer saber de outra escolha?
Feijão de corda, arroz e torresmo:
Dá um baião de dois que
só nós conhecemos!

.

Me interessei em aprender
Os segredos dos temperos:
colorau, coentro, cominho,
coco, azeite de dendê e
boa pimenta de cheiro.

.

A vizinha fica aguada
Com o que ponho na panela:
quiabo, maxixe, bucho,
muqueca, macaxeira,
milho assado, carne seca,
amendoim torrado ou sarapatel...
Com tanto artigo de luxo
quem quer saber de pastel?

.

Pra equilibrar a dieta
Bom é tirar uma soneca
Numa rede. Quem diria ?

.

Tudo isso se vive em São Paulo!

.

* Este e mais 87 textos de minha autoria estão publicados no Recanto das Letras, onde aguardo a sua visita.

Abraço, Anita.

(Dia do fotógrafo) - Ensaio fotográfico - Por Claude Bloc

Não sou fotógrafa, sou apreciadora do belo.
.
***

O verde me encanta.
Encanta-me a cor, o cheiro, a exuberância, a perfeição.

Aprecio o verde simplesmente e reflito nos meus versos,
o reflexo dos seus tons, nos sons do vento e nas gotas de orvalho.

Integro-me e me entrego ao delírio e ao deleite de ver-me no verde
e nele me deixar ficar o quanto posso.
Embrenho-me.
E nas entranhas da mata
sorvo absorta
a seiva e o sumo do seu âmago.

Fica em mim o verde e a verdade
Para ser, enfim,
o verde que pousa em tua saudade...
.
Texto e fotos de Claude Bloc
..

Despedidas... somente !- por Edilma Rocha



Chega de voltas
Não terão mais retornos
Momentos se fazem
O destino é esse

Cansei de malas
Que vão e voltam
Brincando de vai e vem

No presente
Existe o ausente
Cara lambida
Desculpas esfarrapadas
Que machucam
E deixam marcas

Realidade no engano
Nem lágrimas
Nem desculpas
Valem mais...

Senhor da razão
Vai o insulto
Vai a autoridade
Dentro da mala

As portas se fecham
O perfume finda
E quem fica
Sufoca mais uma vez

Dois corações
Distantes e unidos
No mesmo pensamento
Sofrem outra vez



Edilma Rocha

Aracy de Almeida - A grande intérprete de Noel Rosa - Por Norma Hauer

Um grande vulto de nossa música popular nasceu a 19 de agosto do ano de 1914: ARACY DE ALMEIDA, conhecida como a maior intérprete de Noel Rosa,com quem conviveu muito, freqüentando as tabernas da Glória e da Lapa.

Foi na antiga Rádio Educadora do Brasil, onde Aracy deu seus primeiros passos como cantora popular, depois de cantar em igrejas evangélicas, que ela conheceu Noel, travando com ele uma forte amizade até que ele partisse aos 26 anos, em maio de 1937.

Sua primeira gravação foi na Colúmbia, com o samba "Em Plena Folia", mas foi quando gravou, de Noel e Hervê Cordovil, o samba "Triste Cuíca" que seu nome apareceu entre as cantoras de sua época.

Ainda em vida de Noel,gravou "Cansei de Pedir";"Amor de Parceria";"Palpite Infeliz";"O X do Problema"; Eu Sei Sofrer": e "Último Desejo". Já em 1938, depois de Noel morto, gravou "Século do Progresso"; "Feitiço da Vila";"João Ninguém" e "Filosofia".

Mais tarde, no fim dos anos 40, lançou 2 álbuns com 10 discos de 78 rotações somente com músicas de Noel.

Depois de Noel, foi Haroldo Lobo, em dupla com Milton de Oliveira quem mais deu músicas para Aracy, como "O Passarinho do Relógio";"Passo do Canguru", "Miau Miau"...

Aracy, quando ingressou na Rádio Mayrink Veiga, já com César Ladeira na direção artística da emissora, foi denominada por ele como "O Samba em Pessoa". De fato, foi a maior intérprtete de sambas no tempo áureo do rádio.

Apesar disso, gravou uma canção "Mamãe Baiana" e um samba-canção bem triste "Pedro Viola". Em sua comunidade já tive ocasião de citar um fato reverente que aconteceu com ela e o compositor Pedro Caetano (que conta este caso em seu livro "50 Anos de Música Popular").

Aracy,como muitos sabem e gostam de comentar tinha uns ares meio masculinos por ter sido a única filha mulher entre cinco irmãos homens.

Embora nunca tivesse se casado teve um caso amoroso (e rumoroso) com um goleiro do Vasco da Gama, conhecido como Rei. Tivera uma forte briga com ele, caso que repercutiu nos jornais da época .

Pedro Caetano e Claudionor Cruz compuseram um samba de nome "Engomadinho"
e levaram para Aracy gravar.

Compareceram à gravadora e ela ainda não conhecia a letra do samba, mas acreditava nos autores. No momento da gravação, lendo a letra disse "isso não gravo", exatamente na parte em que dizia "Rei do meu amor".

Todos espantados perguntaram "por que?" Resposta: "Não quero dar cartaz àquele pilantra. Ou muda agora, ou..até amanhã. E ameaçou sair da gravadora.

-"Mas Aracy, disseram, não tem nada uma coisa com outra. Rei dos seresteiros nunca foi rei de futebol."

Aracy: não adianta, não vou dizer "rei do meu amor de modo nenhum"!

Foi difícil, mas Pedro Caetano mudou o último verso da última estrofe,que dizia:"Rei dos seresteiros, rei do meu amor", para "deste seresteiro, que é o meu amor. Aí ela gravou.

Aracy tinha uma forte personalidade, os compositores cederam e o samba tornou-se um grande sucesso.

Em 1950, Aracy foi "de armas e bagagens" para São Paulo; ali apresentou-se em alguns programas de TV, como "Programa do Bolinha";"Buzina do Chacrinha"; "Almoçando com as Estrelas", de Aerton Perlingeiro" e alguns outros, mas ficou famosa como a jurada "rabugenta" dos calouros de Sílvio Santos. Dava sempre notas baixas aos "coitados" dos calouros.

Mas essa era sua personalidade.

Aracy regressou ao Rio de Janeiro, já doente, ficando dois meses em coma, falecendo em 26 de junho de 1988 em uma casa de saúde na Tijuca, sendo sepultada no Cemitério Jardim da Saudade
Norma Hauer
.

Signos Zodiacais - Sinais para estrelar a vida- Por Stela Siebra Brito

(artigo escrito para a revista eletrônica, de Astrologia, Porto do Céu, em janeiro de 2000)


Chegou o ano 2000 e com ele o alvoroço nos corações e mentes das pessoas. Será este ano igual aos outros? Ou será diferente, por ser o início de um novo milênio? Talvez pela excitação reinante e o grande número de festas, não nos daremos conta que ele será mesmo igual aos outros, se não houver uma disposição interior em cada um de nós para fazê-lo diferente, para compreendê-lo de uma forma nova e única. Temos uma grande oportunidade para entrarmos noutra dimensão, transformando cada coisa menor da nossa vida em algo maior. Pensemos nisso. Pensemos em mudar, em nos libertarmos do medo de sermos nós mesmos. Pensemos em nos libertarmos da solidão e da desintegração cósmica, da nostalgia e saudade de algo mais.

É tempo de perceber a dimensão maior da vida, pois compreendendo a nossa inserção na ordem cósmica e divina, não ficaremos mais presos à nossa auto-imagem, fechados em nós mesmos, solitários, soltos ou distantes, ignorando nosso relacionamento com o Cosmos.

Vamos refletir e, sob um ponto de vista astrológico, mudar nossas vidas. Compreendendo nossa macro-integração, vamos experienciar os princípios de cada signo zodiacal e assim dar um significado real às nossas vidas.

Freqüentemente ficamos na aparência das coisas, na compreensão superficial dos conceitos, sem estudarmos nem aprofundarmos nossos pensamentos e elaborações mentais ou sensíveis. Conformamo-nos com o básico feijão com arroz, que alimenta apenas uma simples curiosidade de saber. Isso é muito comum para quase todos os assuntos, e aqui quero me referir especialmente ao interesse pela Astrologia.

Para nos conhecermos melhor e vivermos em harmonia com os princípios dos signos e planetas, é necessário conhecer nosso mapa de nascimento e seguir as orientações dadas pelo astrólogo.

É preciso compreender o verdadeiro sinal do signo e fazer brilhar seu significado. Quero aqui fazer um chamamento bem ariano, para arregimentarmos forças e empreendermos uma expedição, tal qual fizeram os argonautas em busca do tosão de ouro.

Nós também temos que buscar o ouro da nossa vida. E seja qual for o signo predominante no nosso mapa do céu, tudo começa com Áries, o signo que inaugura e conquista.

Vamos começar uma viagem buscando empreender e/ou intensificar o autêntico significado da Astrologia, num convite a expandir nossa alma na busca da realização pessoal e do crescimento espiritual.
O mapa natal, dividindo o céu em quatro casas angulares, parte do Ascendente e culmina no Meio do Céu, fazendo um percurso que visa reproduzir a ordem celeste na vida humana. E essa ordem celeste nos convida a uma vida de harmonia e realizações. Compreendendo os sinais astrológicos, saímos do egoísmo e da densidade da terra para a leveza integrativa e silenciosa do céu.

O mapa astrológico nos possibilita o equilíbrio entre os mundos físico e espiritual, entre o imanente e o transcendente. Como temos todos os signos no mapa, devemos ficar atentos para os sinais de todos eles e viajar de Áries a Peixes, compreendendo e experienciando seus ensinamentos.

Se queremos fazer nova e diferente a vida, aprendamos a estrelar cada signo do nosso mapa natal. E conseguiremos isso quando sairmos de um modo de vida insignificante para a compreensão dos sinais que podem nos possibilitar um cotidiano de vida mais significativo e, conseqüentemente, mais qualitativo.

Em ÁRIES estrelamos a vida quando, compreendendo os mitos de Crisômmos e dos Argonautas, inauguramos cada dia com agilidade e aventura. Vamos agilizar nossos projetos e arriscar suas realizações, explorando o melhor de nós mesmos para conquistar o melhor lá fora. Desengavetando e empreendendo estes projetos, desencadeamos a conquista do nosso próprio ouro, que é a nossa própria luz. O signo de Áries, impulsivo e do elemento Fogo, nos convida a desencadear novas e ousadas ações.

Já em TOURO, tal qual as princesas da mitologia grega, IO e EUROPA, não podemos nos deter até que atinjamos nosso objetivo. Resistência, persistência e coerência são ferramentas que não podemos dispensar para estrelamos a vida com a porção Touro do nosso mapa. Temos um nível de produção a atingir e devemos empregar todo esforço para consegui-lo. Touro, signo fixo e do elemento Terra, nos convida a uma praticidade nas nossas ações. Todo o entusiasmo acionado por Áries encontra em Touro a forma prática para ser desenvolvido com tenacidade e objetividade.

GÊMEOS – a amizade dos irmãos Castor e Pólux, que repartem alternadamente a imortalidade, é o ponto de partida para dar um significado geminiano às nossas vidas. Desenvolver amizades, trocar informações, aprender e ensinar são atitudes que ativam nosso pedacinho Gêmeos do Mapa do Céu. O que avaliamos como coisas opostas podem na realidade complementar-se. É bom verificar se não estamos olhando apenas para um lado das questões que se nos apresentam. Será que estamos dando um brilho no nosso lado espiritual, ou somente nos ocupamos das questões materiais? Gêmeos vai pedir que cuidemos dos dois lados, pois são pólos opostos que se abraçam.

Para estrelar CÂNCER que tal juntarmos as fotos antigas e recompormos o álbum de fotografias da nossa vida? Que tal cuidarmos de cicatrizar as feridas da alma, curando-nos de um emocionalismo que só nos impede de agarrarmo-nos ao que realmente nos impulsiona para um crescimento? Lendo e estudando o 2o. Trabalho de Hércules, compreenderemos melhor o mito do signo de Câncer. Temos que evocar nossas lembranças mais antigas e, assim como Hércules, que queimou todas as cabeças da Hidra de Lerna, temos que cicatrizar as questões emocionais, para que não fiquem sempre a renascer. Quando não conseguimos resolver bem um problema emocional, tendemos a transferir a carga para os outros. Estrelamos Câncer quando procuramos nossa intimidade, fazendo uma escalada interior, ativando nossa memória mais antiga. Assim, ambientando-nos com o mais íntimo da nossa alma, podemos recompor o quebra-cabeças, juntando os pedacinhos perdidos dos fatos da nossa história pessoal.

Em LEÃO, a alma busca encontrar seu verdadeiro brilho, saindo do egocentrismo exacerbado e devorador para entrar no cerne da luz. O mito nos remete ao 1o. Trabalho de Hércules: o Leão de Neméia. Vamos acender nosso brilho leonino, distanciando-nos do que é exibicionismo e concentrando-nos naquilo que verdadeiramente é valoroso. Não nos deixemos dominar pelas feras internas, mas aprendamos a asfixiá-las, pois assim poderemos triunfar sobre as possíveis monstruosidades do ego. Desta forma entraremos em contato com o que existe de grandioso e majestoso em nossa alma.

VIRGEM – estamos sendo simples, naturais e puros? A simplicidade, a naturalidade e a pureza são princípios que estrelam o signo de Virgem. O mito de Astréia, a virgem que viveu na Terra na Idade de Ouro, quando então a natureza era respeitada na sua sacralidade, convida-nos a uma análise apurada dos nossos atos. É um convite a trabalhar com meticulosidade, fazendo as necessárias faxinas e seleções, pois é preciso separar o joio do trigo. Em Virgem é preciso trabalhar para brilhar e, também, redescobrir e incrementar a relação espiritual com a Natureza, compreendendo que a Terra é generosa em sua abundância e fertilidade.

LIBRA - muitas vezes, impulsionados pelo desejo imediato de fazer as coisas, não ponderamos se aquela ação é realmente viável. Estrelar Libra é ponderar, é pesar e medir. Nada de inquietações ou decisões precipitadas! Temos que buscar o equilíbrio e agirmos de forma justa e social. O mito deste signo é a Balança de Astréia, que ao se retirar do mundo deixou-a com os homens, representando a Lei. A reflexão aqui nos conduz a analisar nossos atos: estamos sendo justos? Estamos lutando para legitimar nossos direitos? Na busca pela justiça não podemos esquecer a imparcialidade e a retidão.

ESCORPIÃO – o mito do Gigante Oríon ajuda-nos a entrar no mistério deste signo: ir além da forma aparente e superficial. Signo de Água, Escorpião suscita-nos um aprofundamento das questões e a viver nossas emoções com muita intensidade. Estrelar Escorpião é eliminar o excesso de emocionalismo, representado pelas paixões, é morrer e renascer cada vez que vivemos situações intensas, é sentir (e não compreender intelectualmente) que existe um mistério e que esse mistério, que faz tudo fluir, é quem indica o caminho do mais além, da verdadeira transformação.

Estrelar SAGITÁRIO é formular metas para nossa vida e, a cada meta atingida, formular outra e sempre mais outra. É um processo de perene elevação ou transcendência para um outro alvo. O mito de Quirão, o centauro sábio, nos ensina que para atingirmos a sabedoria temos que sair do mundo das emoções, passar pelo racional e transcender. O conhecimento permite esta ultrapassagem de “ser animal” para “ser espiritual”.

CAPRICÓRNIO – aqui o objetivo é se instalar, se sedimentar mesmo. Se queremos colher os frutos da abundância e concretizar nossos projetos, temos que ser obstinados e pacientes. Há dois mitos para este signo de elemento Terra: o da cabra Amaltéia e o de Pã, que impulsionam a lição capricorniana de abundância, consistência e totalidade. Estrelar Capricórnio é buscar a integralidade, usando todos os recursos para expulsar as fraquezas e sair do pânico, para nos sentirmos plenos e integrados ao Todo.

Estrelar AQUÁRIO é sair de um quadro de referências essencialmente subjetivo e pessoal, para olhar a vida com uma perspectiva objetiva, social, solidária e ampla. Vamos olhar bem para o futuro, com esperança e, sintonizados com idéias inovadoras, desenvolver uma sociedade mais justa e igualitária. Os ideais aquarianos estimulam consciência e interações sociais. Não podemos ficar de braços cruzados, olhando para nosso próprio umbigo, quando as mudanças e revoluções estão acontecendo. Vamos participar, cooperar e desenvolver nosso espírito de solidariedade. Vamos estrelar Aquário buscando a matriz primordial das coisas. Quando sairmos de um tipo de vida comum – centrados na nossa auto-imagem – para buscar o modelo original, estaremos nos repotencializando, nos libertando e oficializando nosso encontro com o Sagrado. Aí começamos a realizar e estrelar PEIXES.
E a proposta de PEIXES é a Fé.
Unificados pela Fé, deixemo-nos levar pela sensibilidade e, certamente, nossa serenidade e inspiração fluirão. Dessa forma estaremos mais aptos a viver com Amor, Fraternidade, Compaixão e Paz.


Stela Siebra Brito

Roberta Sá - Chovendo na roseira ( Tom Jobim)



Desencanto - idas e vindas- por Socorro Moreira

Existem idas sem voltas
Momentos saem da órbita
Desistem do seu destino

Existem voltas sem malas
extraviam o amor
que brinca do outro lado
.
Existe o ausente
que não cabe no presente...

O riso palhaço
O olhar desconfiado
A palavra maldita
que sufoca cruelmente
o respirar de uma flor.


Desencanto apaga o riso por encanto

Pôe a lágrima no canto

Embarga a voz na garganta

Não canta

Não discute, leva a mala

Deixa a chave da casa ,

deixa perfume no ar

Irrita quem fica

Faz lembrar

Meninar - Ana Cecília S. Bastos

Antiga notação, ainda agora real em mim.
Desejo do espaço vazio, tela na qual possa ter um lampejo de mim mesma,
sem os tantos papéis que devo assumir.

Permitir o olhar, a pele porosa,
sinais e sons,
a calma de reconhecer o próprio sentir.

Sem tumulto, no hiato inexistente das transições.
Sem o interdito, o gesto paralisado.

Habitar a casa da poesia.

Um poeta é apenas alguém a se entreter na música das palavras.
A se entre-tecer.
O verbo ‘meninar’, por exemplo, fragmento de canção,
me nina.

Imagem: Igor Souza. Ver http://www.fotolog.com.br/igorsouza/

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José Wilker - Um ator cearense

O nome de José Wilker é José Wilker de Almeida. Ele nasceu em Juazeiro do Norte, no Ceará.

Era o dia 20 de agosto de 1947. Artista desde pequeno, começou a trabalhar em Recife, como locutor de rádio. Participou também em teatro no "Movimento de Cultura Popular". O grupo era meio revolucionário. E assim, quando houve a Revolução de 1964, houve perigo e Wilker mudou-se para o Rio de Janeiro. Procurou emprego e, embora bastante jovem, foi fazer seu primeiro filme: "A Falecida", ao lado de Fernanda Montenegro.

No Rio, Wilker fez vários filmes e peças de teatro. Foi se tornando um grande ator. Fez: "A China é Azul"; "Os Inconfidentes"; "O Bofe". Entre 1976 e 1985 ele não trabalhou em teatro. Fez alguns filmes importantes. O principal deles, em 1976, foi: "Dona Flor e Seus Maridos", baseado em um romance de Jorge Amado, ao lado de Sônia Braga e Mauro Mendonça Fez ainda: "Xica da Silva"; "Bye Bye Brasil"; "Bonitinha mas Ordinária"; "O Homem de Capa Preta"; "José Wilker estava consagrado.

Trabalhou ainda em filmes famosos: Fez: "Dida Demais"; "Dias Melhores Virão"; "Como Deixar um Relógio Emocionado"; "O Pequeno Dicionário Amoroso"; "A Guerra dos Canudos". Além disso ele estudou sociologia no Rio de Janeiro. Em 2000 Wilker fez: "Villas Lobos, Uma Vida de Paixões". Em 2002 fez: "Dead in the Water", estrelado por Henry Thomas. Em 2003 fez: "Maria, Mãe de Deus" e "Redenta" em 2004.

Em 2003 Wilker foi eleito presidente do Rio Filmes. José Wilker fez ainda muitos outros filmes. Mas, para o grande público, a importância foi sua atuação em televisão, em novelas e minisséries.

Desde 1970. O Esteve na Rede Globo de Televisão e fez: "Anjo Mau"; "Plumas e Paetês"; "Brilhante"; "Final Feliz"; "Transas e Caretas"; "Suave Veneno"; "Roque Santeiro"; "O Salvador da Pátria"; "Bandeira 2"; "O Bofe"; "Ossos do Barão"; "Gabriela"; "Senhora do Destino e várias outras. Alguns desses títulos tiveram sucesso memorável.

Ele se tornou um dos maiores nomes de cenário artístico nacional. Em 2006 fez, à perfeição, o papel título de "JK", seriado histórico sobre a vida e obra do ex-presidente do Brasil. José Wilker já em 1970 ganhou o Prêmio Moliere, com ator em "O Arquiteto e o Imperador da Assíria" . Em 2007 ganhou o Prêmio Contigo, por sua criativa performance em "Senhora do Destino".

Enfim, José Wilker foi a vida toda considerado um ator extraordinário. Casou-se algumas vezes. Duas vezes foi com Renée de Vielmond, com quem tem um filho, uma vez foi com a Mônica Torres, também com um filho e última vez, no ano 2000, com a bela atriz Guilhermina Guinle, de quem agora está separado.

Muito culto e inteligente, a ele também cabe, na Rede Globo de Televisão, a tradução para o português e toda a apresentação, por ocasião da cerimônia do Oscar.

José Wilker é considerado um dos gênios em atividade na televisão brasileira. Além de ator, foi produtor e diretor de trabalhos de dramaturgia.

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Caribé " Obá de Xangô "

A magia contida nas linhas de Jubiabá, um dos romances mais famosos de Jorge Amado, foi suficiente para trazer à Bahia o argentino, nascido em Buenos Aires, Hector Julio Paride Bernabó, lá pelos idos de 1938.

Você não sabe quem é Hector Bernabó? E se eu chamá-lo pelo apelido que recebeu ainda na infância, quando era escoteiro, Carybé? Mesmo que não conheça a fundo a vida desse artista plástico, escultor, gravador, cenografista, jornalista, diretor de arte, multitalentoso baiano de coração – ele naturalizou-se brasileiro em 1957 e foi agraciado na mesma época com o título de cidadão da Bahia -, com certeza, já viu espalhadas pelas ruas de Salvador, obras que levam sua assinatura.

Se for soteropolitano do dendê (carioca é que é da gema), conhece os gradis que cercam o Museu de Arte da Bahia (MAM-BA) ou o Campo Grande (praça 2 de Julho); ou já viu a escultura de uma mulher com o filho enganchado nos quadris, na entrada do shopping Iguatemi; ou ainda, os paineis no Teatro Castro Alves.

Se for baiano e seguidor do Candomblé, mais especificamente frequentador do terreiro do Ilê Axé Opô Afonjá, em São Gonçalo do Retiro, já viu obras do artista e referências a ele no lugar de honra reservado aos obás (ministros) de Xangô da casa. Mesmo que seja turista, ao desembarcar no Aeroporto Internacional da capital baiana, no seu roteiro até a saída, há um painel do artista.








Carybé não era nem argentino nem italiano. Era um homem de muitas cores, absorvendo todas elas, assim como o faz o preto na escala cromática. Pintava negros, índios e brancos.Quando partiu para outra viagem, disseram que foi fazer arte no céu.


É provável que um dia desses, ao acordarmos e olharmos para as nuvens, encontremos nelas grandes baianas com seus tabuleiros ou negros jogando capoeira . Pode ser também que todo o céu se transforme numa imensa aquarela ou que o arco-íris mude de cor.

Para quem veio de longe mostrar ao povo da Bahia a beleza desta terra, nada é impossível. Nem mesmo ser Obá de Xangô. E em se tratando de tão alto posto na hierarquia dos orixás, nada mais adequado que despedir-se saudando seu orixá-regente: KAWÓ-KABIYÈSILÉ!!!
AXÉ!
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Pelo Dia Mundial da Fotografia... Por Pachelly Jamacaru



Fotos: Pachelly Jamacaru
"Direitos reservados"

Nas contas que faço - Por Claude Bloc


Eu sou tudo
Eu sou nada
E nessas contas que faço
Me desfaço
Em mil pedaços

E como posso ser tão pouco
Se me agiganto
Se deixo claro e certo
Meu espanto?

Falo pouco
Cismo tanto
E nesse tudo ou nada
Me encanto

Não sei mais se em tudo
Ou se em nada
Fico no contrapasso
A cada instante.
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Texto e foto (flor de cajueiro) por Claude Bloc

Tem branco no terreiro - Carybé

Carybé pintou o candomblé como ninguém e partiu
entre deuses de um culto na Bahia

(Geraldo Mayrink)

Foto: Fernando Vivas
Carybé: versatilidade formal do
maior cronista visual da Bahia,
para onde se mudou nos anos 50

Alto, elegante e magro, envolto em paletós de tweed e foulard de renda negra no pescoço, sempre que a temperatura permitia, Hector Julio Paride Bernabó era argentino de nascimento, italiano de formação, carioca quando se tornou brasileiro e cidadão do mundo com seus murais nos aeroportos de Nova York e Londres.

Quando morreu do coração, durante uma sessão no terreiro de candomblé Ilê Axê Opô Afonjá, em Salvador, ele já era tão baiano quanto outro estrangeiro, o etnólogo francês Pierre Verger, havia sido em vida.

Carybé, como era conhecido, tinha 86 anos, estava terminando novas telas e não podia mais subir escadas, proibido pelo seu médico. Ainda assim, insistia em continuar produzindo.

Pintor de recursos limitados, mas um desenhista brilhante, pertence à mais depurada crônica visual da Bahia, que tanto pode ser vista nos desenhos que criou para os livros de Jorge Amado quanto na vasta galeria de tipos de deuses do candomblé.

Amante da vida, Carybé era tocador de pandeiro, bom dançarino e contador de histórias. Acima de tudo, tinha um título de Obá de Xangô, o posto mais alto dado pelo candomblé, seu maior orgulho.

"Sou amoroso e devoto da religiosidade afro-brasileira, de seus deuses modestos e humanos, que hoje se defrontam com estes deuses contemporâneos, terríveis e vorazes, que são a tecnologia e a ciência", ele dizia.

Foto: Luciano Andrade
Casa de Exu: vendo a religião
afro-baiana por dentro
e recriando-a de memória

Certamente por isso, as cenas do candomblé ocupam boa parte da vasta produção deixada por Carybé. A porção mais grandiosa de seu trabalho é justamente o desenho, a aquarela e o nanquim. De maneira nervosa e moderna, com poucos golpes de pincel, ele era capaz de resumir a forma de baianas prostradas de joelhos como magníficos círculos coloridos.

Segundo o amigo Jorge Amado, foi como um observador de dentro, envolvido com a religião, que o artista se dispôs a retratá-la. "Outros podem reunir dados frios e secos, violentar o segredo com as máquinas fotográficas e os gravadores e fazer em torno dele maior ou menor sensacionalismo, a serviço dos racismos mais diversos, mas apenas Carybé e ninguém mais poderia preservar os valores do candomblé da Bahia."

Esboços
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Sua mulher durante cinqüenta anos, a argentina Nancy, com quem teve dois filhos, o artista plástico Ramiro e a bióloga Solange, costumava contar que o marido era um homem de tanta fé que jamais levava papel ou lápis para as cerimônias de candomblé. Achava falta de respeito. Guardava tudo de cabeça e desenvolveu uma memória visual fora do comum.

Dono de uma obra vasta, na qual se estimam cerca de 5.000 trabalhos, entre pinturas, desenhos, esculturas e esboços, Carybé trabalhou com vários materiais.

Criou também esculturas, a vertente menos importante de sua produção, e até esboços de cenas de filmes, como as mais de 1000 que fez para a primeira versão de O Cangaceiro (1953), do diretor Lima Barreto, e ilustrações para livros. Além de Jorge Amado, emprestou seus traços a obras de Rubem Braga e Gabriel García Márquez, entre outros.

Carybé, o nome de um mingau que adorava tanto que o adotou como nome artístico, ainda era Hector quando chegou a Salvador pela primeira vez com um projeto ambicioso: fazer uma reportagem com Lampião. Teve de se contentar em desenhar as cabeças do rei do cangaço e seus capangas, já decapitadas.

Sua família morava no Rio e ele já tinha no currículo trabalhos em publicidade para jornais de lá, de São Paulo e de Buenos Aires, além de ter pintado muitos cartazes de rua. Já se considerava um "branco suspeito", como dizia. Ouvira dizer que na sua família (mãe gaúcha, pai italiano) havia uma tia preta que até fumava cachimbo. Sua morenização parecia uma fatalidade.

Com uma carta do escritor Rubem Braga ao então secretário de Educação da Bahia, Anísio Teixeira, em 1950, Carybé arrumou o emprego que pediu a Deus: desenhar cenas baianas.

"Foi a sopa no mel. Nunca mais fui embora. A Bahia tem tudo que um pintor procura, luz, água, mar aberto, a gente sempre vê o corpo humano funcionando", contou.

No mesmo ano conheceu o marchand Valdemar Szaniecki, que mais tarde colocou suas obras numa galeria de São Paulo ao lado das de Mário Gruber, Di Cavalcanti, Aldemir Martins, Manabu Mabe e Clovis Graciano.

Com o passar dos anos, os trabalhos de Carybé não pararam de se valorizar e ele passou a viver só de arte. "Um quadro grande meu vale 10000 dólares", orgulhava-se ele, no começo deste ano, embora alguns possam chegar a até 30000. Para ele, não tinha muita importância. "A economia é a peste negra. Nada sei sobre ela", dizia.

Falsificações

No começo dos anos 80, diante da valorização crescente de sua obra, houve um derrame de quadros falsos atribuídos a ele em Salvador. As telas, com figuras chapadas na praia ou em casarios coloniais, eram vendidas por um quarto do preço de tabela. Com o passar do tempo, os larápios trocaram de alvo, preferindo falsificar artistas mais caros, como Di Cavalcanti e Guignard.

No decorrer da vida, Carybé foi muito pouco premiado primeiro lugar em desenho numa bienal de São Paulo e por duas vezes sala especial em outras bienais. Gostava de pintar, mas não de ficar expondo, "emoldurar quadros, fazer catálogos, dar entrevistas, essas coisas aborrecidas".
Para ele, a única coisa insuportável na vida era ficar parado, esperando um estalo de criatividade. "Inspiração é besteira", achava.

Fotos: Lalo de Almeida
Cabeças do filho-de-santo Abia
no rito de iniciação do candomblé
e figura feminina de costas: traço telegráfico
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Fonte: Revista «Veja» - 08.10.97
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