Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

ENVIE SUA FOTO E COLABORE COM O CARIRICATURAS



... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

Para participar, envie suas fotos para o e-mail:. e.
.....................
claude_bloc@hotmail.com

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

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O Cariricaturas festeja hoje
o aniversário de Rosa
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Feliz Aniversário, Rosa Guerre(i)ra!
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***
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Procuramos um bolo que "falasse de flores".
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Que falasse por nós.
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Que exclamasse : Rosa, Rosa Gerre(i)ra,
nós te queremos bem e hoje queremos festejar teu dia!
..
Queremos te presentear com a alegria que guardamos bem embrulhadinha em papel de presente, mas que despejamos em tuas mãos neste dia especial, para ti e para todos os teus amigos do Cariricaturas.
..
Parabéns Rosa !
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***
Que teus sonhos se realizem
Que tua vida seja plena
em felicidade e amor


Que possamos usufruir sempre desse presente que nos ofertas com palavras...

Que teus escritos estejam sempre presentes no jardim do Cariricaturas, pois que és

Rosa, Rosae, Rosarum... A Rosa Gerre(i)ra

Recados e Imagens de Rosas para Orkut

Por isso, cá estamos reunidos neste grande dia de festa:
para também nós, podermos te ofertar rosas.
As rosas da nossa amizade e estima
.Recados e Imagens de Rosas para Orkut
.
Quem disse que as Rosas não falam?
.


Nosso grande ABRAÇO !

Boa noite , Cariricaturas ! Feliz natal para todos ! Estamos fazendo a ronda natalina.... !

Eu sou Dudu. Moro em Recife. A tia , Rosa Guerrera, está completando idade nova. Vim ajudar na surpresa . Fui convidada para abrilhantar a festa.


Eu sou Bambina, prima da Dudu. Nessa noite especial visto a fantasia do Natal , pra desejar-lhes uma noite de paz , e festejar com alegria o aniversário da minha dona, amiga de vocês : Rosa Guerrera.

Equilíbrio

Somente por hoje
perdoa-se a sombra

o fantasma
aquele inimigo distante.

Bebamos um pouco de vinho
para amolecer nosso espírito.

Não sejamos tão duros
quanto uma porta

tão teimosos
feito uma mula.

Basta girar o trinco.
Basta um afago nas ancas.

Somente por hoje
farei de conta
que a vida é bela:

ninguém precisa
um cuidar do outro.

Basta trocar presentes.
Reatar laços.
Apertar nós.

Quem sabe no final da noite
surpresa boa:

uma namorada
inteligente

com muita carne
nas coxas.

AMOR, SAÚDE E PAZ!

A TODOS OS AMIGOS QUE FAZEM ESTE "BLOG", COM ÊNFASE PARA SOCORRO MOREIRA, POR TUDO DE FORÇA QUE TEM NOS DADO DE ALEGRIA E IDEALISMO NO DECORRER DE SUA EXISTÊNCIA!

FELIZ NATAL E ANO NOVO DE PROSPERIDADE E REALIZAÇÕES POSITIVAS!

Recuperação de Estradas - por Heládio Teles Duarte




O governador Cid Gomes cumpre o prometido, ou seja , não só recuperou os trechos danificados no inverno passado, como pavimentou todo o trecho compreendido entre Barbalha, Arajara e Crato, com asfaltamento de qualidade e sinalização horizontal e vertical . O nosso muito obrigado, em nome de todos os moradores da estrada sopedânia.



Heladio Teles Duarte

O narcisismo




Era uma vez Narciso, filho do deus-rio Césifo e da ninfa Leríope. E Narciso se distinguia dos outros seres por sua rara beleza...

Mas eis que a vantagem se torna maldição, pois ele, ao ver pela primeira vez sua imagem refletida nas águas de uma fonte, se apaixonoupor si mesmo e, como castigo, foi transformado em uma flor branco-dourada, da qual se extrai o narcótico, substância que embota a consciencia e reduz a sensibilidade.

Como os mitos retratam as paixões humanas, os estudiosos da mente logo chamaram de narcisismo a principal e mais característica enfermidade do ego: a incapacidade de dar afeto e praticar qualquer ato que não vise à própria gratificação. De fato, o auto-amor, quando exclusivo, causa a maioria dos desvios de comportamento, não só dificultando as relações interpessoais como também o relacionamento saudável consigo mesmo.

O narcisista enclausura-se no seu ego de tal maneira que não consegue ter nenhum interesse pelo que não é "ele" ou não é dele. Considera-se superior às pessoas, valoriza exageradamente as qualidades que possui ou julga possuir, e é, por isso, hipersensível à crítica, magoando-se por qualquer ninharia que possa ameaçar o pedestal ilusório em que supõe estar. Quando participa de atividades sociais, o portador dessa patologia não o faz pelo prazer de conviver, mas para ostentar-se. Daí, falar invariavelmente das próprias façanhas, numa insuportável egolalia à cata de elogios. Para a consciência narcísica, os outros são sempre admiradores.

Muito preocupado com as aparências, o narcisista cai em profunda depressão por causa do mais leve problema de saúde ou mesmo algum desalinho no aspecto pessoal. Mas, o pior é que jamais consegue ser espontâneo. Suas atitudes são estudadas com o fim de causar boa impressão, pois o reconhecimento e os aplausos lhe são imprescindíveis. Até numa relação amorosa, o narcisista ama, em verdade, a própria imagem projetada na pessoa do outro.

Na forma benigna, o narcisismo recai não no próprio indivíduo (o que ele é ou tem - beleza, força física, inteligência, riqueza, etc.), mas no que ele realiza - trabalho, atividade artística, científica ou literária -, e assim o narcisismo fica limitado pela necessidade de contar com a colaboração alheia.

O narcisista não tira nenhum proveito de seu modo de ser. Alguém o comparou com muito acerto àquele que, achando uma valiosa pepita de ouro, transforma-a em espelho só para contemplar-se no metal amarelo!

O narcisismo individual pode converter-se em coletivo, manifestando-se no ufanismo nacionalista, no racismo, no partidarismo político e religioso e, também, no fanatismo esportivo de que são exemplo as atuais torcidas organizadas de futebol, reponsáveis por atos de vandalismo e violência.

Todos nascemos narcisistas, dado que o auto-amor é necessário à conservação do ser. À medida, porém, que interagimos com o ambiente, nossa atenção e nosso afeto se dirigem naturalmente às pessoas de nosso convívio, de modo que o narcisismo primário, próprio do feto e do recém-nascido, se reduz a ponto de não impedir, na maturidade, o compartilhamento do amor. Quando tal não ocorre é porque não estamos prontos para a vida relacional, como a figura mítica de Narciso.

A educação e as religiões colaboram no processo de superação do narcisismo humano. Aquela com atividades socializantes, em fases precoces do desenvolvimento infantil, e estas, as religiões, com ensinamentos de fraternidade e altruísmo. O preceito levítico Amarás o teu próximo como a ti mesmo é regra milenar no combate ao narcisismo e, também, receita infalível para sanidade mental.

F.R.C. R+C

Velho Realejo para Norma Hauer com os nossos votos de Feliz Natal !

Assim era o Natal ...- por Norma Hauer



A N O I T E C E U...

O rádio, que nos 30 estava nos despertando para muitas novidades, marcou o
NATAL de 1933 com uma melodia, que foi a primeira composta exatamente para as festas de fim de ano, até então pouco exploradas.

Anoiteceu...
O sino gemeu,
A gente ficou feliz e rezar.
Papai Noel vê se você tem
A felicidade p'ra você me dar.

Era, porém, uma melodia melancólica, porque melancólico estava seu autor (Assis Valente) quando a compôs. Apresentada no rádio e repetida em todas as emissoras levava uma novidade ao público, espalhando no éter a voz nova de Carlos Galhardo, representando seu primeiro sucesso.

Até então, o Natal era uma festa comemorada em família ou com alguns amigos.

Não havia a exploração por parte do comércio que só então viu a possibilidade de se expandir oferecendo produtos, através de anúncios no rádio, que os lançavam como "natalinos". Afinal,o rádio já estava penetrando em todas as casas e era a grande porta que se abria para a divulgação daqueles produtos.

Papai Noel era uma figura descrita, tal como hoje o conhecemos, mas não era “visto”; assim as crianças o imaginavam (e acreditavam) que ele poderia estar em todas as casas na noite de 24 de dezembro.

Lojas passaram a se expandir e anunciar seus produtos no rádio.
Principalmente, lojas de brinquedos, visto que naqueles anos, apenas as crianças recebiam presentes; adultos participavam das ceias e à meia-noite iam à Missa do Galo. Lembro-me de uma tia muito católica que não perdia essa Missa e não concordava com presentes e árvores de Natal, até então só montadas em poucas casas. A maioria "montava" presépios. Em minha casa, uma árvore pequena era enfeitada com algodão e em seus galhos colocavam-se velas que, muitas vezes, pegavam fogo e acabavam com a árvore.

Foi na primeira metade dos anos 30 que uma pequena loja foi aberta e, praticamente, dominou o comércio no Natal. Foi criada por um empreendedor francês e recebeu o nome de "Mestre et Blagé". Pouco tempo depois foi destruída por um incêndio de grandes proporções. Mas de suas cinzas renasceu a Fênix e seu nome foi abreviado para Mesbla. Que saudades da Mesbla !... São memórias de muitos "Natais. Não posso recordar-me da Mesbla, sem sentir uma grande emoção. Foram anos em que "meu Natal" se iniciava na Mesbla.

E hoje, com "Papais Noéis" espalhados por toda parte, dominando a televisão, os
"shoppings", a "Saara", com suas ruas estreitas, onde até caminhar é difícil, o espírito de Natal se transformou em um grande "mercado persa". E as pessoas, portando seus presentes, em uma grande árvore de Natal.


Norma Hauer
Foto do acervo de Ernesto.

Outro Olhar

Mesmo que os sorrisos das pessoas
digam-me o contrário.

Tragédia é depois dos abraços
quanto cinismo despertado
a cada taça de vinho.

O coração aumenta de tamanho
por novas mágoas até ontem esquecidas.

Mesmo que os sorrisos das pessoas
digam-me o contrário.

O desgosto é claro
no bocejo enfadonho
quando a festança acaba.

Dor nas costas,
mil louças na pia

ainda tem o ano novo,
vontade louca enforcar os parentes

também os penetras
e outros tantos vizinhos.

Mesmo que os sorrisos das pessoas
digam-me o contrário.




















Meu abraço no coração de cada um de voces!


VOTOS DE ANO NOVO PRA MEUS AMIGOS DA NAÇÃO CARIRI

Anote os seus querê e pendure num lugar que você enxergue todo dia.

Mermo que seus pranos esteje lá prá baixa da égua, vale à pena correr atrás. Não se agonie e nem esmureça. Peleje.
Se vire num cão chupando manga e mêta o pé na carreira, pois pra gente conseguir o que quer, tem é Zé.
Lembre que pra ficar estribado é preciso trabalhar. Não fique só frescando.

Sobre o amor:

Não fique enrolando e arrudiando prá chegar junto de quem você gosta. Tome rumo, avie, se avexe!
Dê um desconto prá peste naquela cabrita que só bate fofo com você. Aperreia ela. Vai que dá certo e nasce um bruguelim véi amarelo.
Você é um corralinda. Se você ainda não tem ninguém, não pegue qualquer marmota. Escolha uma corralinda igual a você.
Não bula no que tá quieto. Num seja avexado, pois de tanto coisar com uma, coisar com outra, você acaba mesmo é com um chapéu de touro.
As cabritas num devem se agoniar. O certo é pastorar até encontrar alguém pai d'égua. Num devem se atracar com um cabra peba, malamanhado e fulerage. O segredo é pelejar e não desistir nunca. Num peça pinico e deixe quem quiser mangar. Um dia vai aparecer um machoréi da sua bitola.

Sobre o trabalho:

Trabalhe, num se mêta a besta. Quem num dá um prego numa barra de sabão num tem vez não.
Se você vive fumando numa quenga, puto nas calças e não agüenta mais aquele seu chefe véi fulerage, tenha calma, não adianta se ispritar.
Se ele não lhe notou até agora é porque num tá nem aí se você rala o bucho no trabalho. Procure algo melhor e cape o gato assim que puder.
Se a lida não está como você quer, num bote boneco, num se aperreie e nem fique de lundum. Saia com aquele magote de amigos pra tomar uns merol.
Tome umas meiotas e conte uma ruma de piadas que tudo melhora.

Sobre a sua vidinha que vive reclamando:

Você já é um cagado só por estar vivo. Pense nisso e agradeça a Deus.
Cuide bem dos bruguelos e da muiê. Dê sempre mais que o sustento, pois eles lhe dão o aconchego no fim da lida.
Não fique resmungando e batendo no quengo por besteira. Seje macho e pense pra r
Num se avexe, num se aperreie e nem se agonie. Num é nas carreira que se esfola um preá.

Arrumação pra putaria!
No forró da entrada do ano, coma aquela gororoba até encher o bucho. É prá dar sorte, mas cuidado, senão dá gastura.
Tome um burrim e tire o gosto com passarinha ou panelada que é prá num perder a mania.
Prá começar o ano dicunforça:
Reflita sobre as besteiras do ano passado e rebole no mato os maus pensamentos.
Murche as orêia, respire fundo e grite bem alto:

Sai mundiça !!!
Ah, e não se esqueça do grito de guerra, que é prá dar mais sorte ainda:
Queima raparigal !!

Agora é só levantar a cabeça e disimbestar no rumo da venta que vai dar tudo certo em 2010, afinal de contas você é cearense. E para os que não são da terrinha, mas são doidim prá ser, nosso desejo é que sejam tão felizes quanto nós.
Peeeeennnnse num ano que vai ser de arrombar!
Respeite como vai ser pai d’égua esse 2010.
















O Clima

I
Vejo gafanhotos
exibindo belos adornos
nas longas patas

minhocas acordam da terra fofa
com os olhos contentes

quem diria até o diabinho
encosta seu tridente

aceita tomar um cafezinho
em companhia da sua antiga vítima.

Quanta delicadeza entre os vizinhos
nunca se falaram sequer um bom dia

mas reina o clima natalino
abrem a guarda
dão-se trégua

até o anjinho perdoa aquele sujeito
do primeiro andar

místico descarado
um esquisitão confesso.

II
Vejo borboletas em paz
dentro do casulo

não precisam entrar pelas janelas
hoje é o poeta que bate à porta.

Por favor, nada de vinho
tampouco panetone

só quero mesmo
ver como fazem vocês
para pintar essas cores.

Estive tão ocupado
escrevendo versos

nunca lhes toquei as asas
nem o milagre vi de perto.

III
Vejo as bijuterias da minha irmã
balançando com o vento.

Atrás o sol me olha
na fachada do outro prédio.

Comentários sobre o texto postado aqui: Carlos Castaneda por Miguel Duclós

Prezada Amiga Socorro,

Adorei o texto. Ele me fez voltar no tempo – 1988! Foi nessa época de grandes transformações e crises internas no meu mundo interior que tomei ciência das obras de Castaneda. Eu li e estudei todos os livros lançados por ele. Eu ficava fascinado pela sabedoria de D. Juan. Isto porque me identificava com os fenômenos da consciência alterada relatados por Castaneda em seus livros. Até hoje procuro seguir certos procedimentos recomendados pelo índio: parar o mundo, o diálogo interior, a intenção, a história pessoal, ver o ovo luminoso, identificar os pontos de aglutinação (chakras) etc.

Os livros de Castaneda muito tem para nos ensinar sobre os mistérios da consciência, das energias sutis e dos mundos paralelos. D. Juan era um homem sábio e misterioso incompreendido pelas mentes racionais condicionadas, principalmente ocidentais.
Eu conseguia ler e entender o contexto metafísico onde ocorriam as experiências de D. Juan e Carlos Castaneda porque naquela época em que tomei ciência dessa obra riquíssima de Castaneda eu estava passando por uma experiência de consciência alterada muito próxima do lugar existencial em que eles estavam e apontavam para nós nos livros escritos.
Obrigado!

Um abraço,

Feliz Natal

Bernardo

BEM MAIS ... por Rosa Guerrera


E eu não me cansarei de teus beijos
nem adormecerei com tuas carícias ...
Eu pedirei bem mais !

Pedirei toda a eternidade
em forma de abraços,
Todo o universo no contato
de tuas mãos ...
E ainda pedirei bem mais !

Pedirei uma vida
emoldurada com flores,
um poema todo ternura,
uma estrada iluminada de amor.

E não escutarei
o relógio
nem saberei do tempo...
Não verei o sol despontar ,
nem imaginarei
que existe um mundo lá fora.

Não mais rimas
Nem alento de poesias ...
Fecharei os olhos ,
e te darei bem mais !

Pensamento para o Dia 24/12/2009


“Se um homem deseja ser feliz, o primeiro exercício que deve fazer é remover de sua mente cada mau pensamento, sentimento e hábito. Tristeza e alegria são frente e verso da mesma experiência. A alegria é quando a dor termina; tristeza é quando a alegria acaba. O que é exatamente tristeza? É apenas uma reação à perda de algo que se ganhou ou o fracasso na obtenção de algo desejado. Portanto, a única maneira de escapar da tristeza e do sofrimento é superar o desejo pelo ilusório. O segredo da felicidade não está em fazer aquilo que se gosta, mas em gostar do que se tem que fazer. Independentemente do trabalho que se deva fazer, você deve fazê-lo com prazer e gosto.”
Sathya Sai Baba

Simone B de Oliveira




Simone Bittencourt de Oliveira nasceu em Salvador BA em 25 de Dezembro de 1949. Cresceu num ambiente musical: o pai havia sido cantor de opera e a mãe tocava piano. Aos 16 anos mudou-se para São Paulo SP, onde estudou e começou a jogar basquete, chegando a integrar a seleção brasileira. Em 1973, depois de ouvi-la cantar entre amigos, Moacir Machado convidou-a para um teste na Odeon. Aprovada, assinou contrato de quatro anos e, a 20 de março de 1973, gravou seu primeiro LP, Simone, estreando no mesmo dia em um programa da TV Bandeirantes. Em outubro do mesmo ano, a convite de Hermínio Bello de Carvalho, viajou para a Bélgica com o espetáculo Panorama brasileiro, apresentado na Feira Brazil Export, de Bruxelas, e no Olympia, de Paris. De volta ao Brasil, foi novamente convidada para uma tourneé, agora pelo Canada e EUA Em 1975 gravou no Brasil seu segundo LP, Quatro paredes. Seus maiores sucessos dessa época são as gravações de De frente pro crime e Bodas de prata (ambas de João Bosco e Aldir Blanc). Interprete de canções românticas, firmou-se como cantora ao gravar Começar de novo. Em 1980 incluiu em seu repertório a canção Caminhando – ou Para não dizer que não falei de flores (Geraldo Vandré), que se tornou um de seus maiores sucessos. Foi a primeira cantora a lotar sozinha um estádio, o Maracanãzinho, em 1981, consagrando-se como grande estrela. Em 1982, com o show Canta Brasil, levou ao estádio do Morumbi, em São Paulo, 15 mil pessoas a cada noite do espetáculo. Nesse mesmo ano, assinou contrato com a CBS, gravou nos EUA, recebendo o reconhecimento da critica especializada e, em dezembro, estreou o show Corpo e alma, no Canecão do Rio de Janeiro, com direção de Flávio Rangel, no qual interpretou sucessos como o bolero Me deixas louca (Armando Manzanero), Vida (Chico Buarque), Alma (Sueli Costa e Abel Silva), Tô que tô (Kleyton e Kledir), entre outros. Lançou pela Polygram, em 1996, o CD Café com leite, disco inteiramente dedicado às composições de Martinho da Vila. Em 1997 apresentou-se no Metropolitan, Rio de Janeiro, no show Brasil, dirigido por José Possi Neto, com músicas de Paulinho da Viola, Dorival Caymmi, Ari Barroso, Gonzaguinha e Cazuza, entre outros.

Biografia: Enciclopédia da Música Brasileira
Art Editora e PubliFolha

Vamos pegar o rato? – Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Relembro com saudades do companheiro rotariano Jósio de Alencar Araripe, um grande amigo, que a vontade maior, que vence a todos nós, roubou do nosso convívio.

O companheiro Jósio era um forte crítico das idéias desprovidas de inteligência e, principalmente do regime político que vigorou em nosso país por longos vinte e um anos.

Quando o Rotary Clube do Crato ainda se reunia no Crato Tênis Clube, a notícia que mais teve repercussão no noticiário daquela época foi a declaração de Nelson Chaves, um conhecido nutricionista pernambucano, que receitava uma dieta de ratos para acabar com a fome do nordestino. Na reunião plenária da semana em que essa notícia era o prato do dia, Jósio se inscreveu no “Período de Comunicações” para comentar a infeliz declaração do cientista pernambucano, que era ligado a uma agência governamental de combate à fome. Iniciou sua fala comentando que a Checoslováquia tinha muitas represas próprias para criação de peixes. Era uma excelente maneira de matar a fome do povo daquele país. Que o nordeste precisa de açudes e o Ceará com os açudes do Orós e do Castanhão, naquela época, ainda um projeto distante, poderia se transformar num grande criatório de peixes. Ele lembrou ainda, que o governo poderia montar um programa de construção de pequenos açudes, exclusivos para criação de peixes. E assim o companheiro Jósio encerrou sua comunicação: “O nosso sertanejo não tem o costume de comer peixe. Mas seria muito mais fácil habituá-lo a comer peixes do que ratos. Mas como esse governo tem muita propaganda, pode ser que investindo em uma maciça campanha publicitária, convença nosso povo a comer ratos. Agora, difícil mesmo vai ser pegar o rato...”

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Dean Martin - para Assis Landim

COMPOSITORES DO BRASIL




Sobre música,
Sobre o Natal brasileiro.

Por Zé Nilton

Desde que o homem captou o som ouvindo a natureza, descobriu a estrutura matemática de suas combinações e inventou uma escala tonal com infinitas possibilidades de manifestar uma melodia, a música definitivamente marca os eventos da trajetória humana.

A música, dentre múltiplas serventia, parece despertar certa substância em nosso cérebro, quando nos lembramos de algo em que ela fora testemunha.

Os acontecimentos por que passamos não se repetem, ou melhor, a atmosfera da época e o clima do momento estão ausentes nos ciclos repetitivos de nossas vidas. No entanto, caso esses momentos tenham sido emoldurados pela música – ou por aquela música que embalou e marcou aquele momento, ao ouvi-la e juntá-la ao ocorrido, entramos na aura que decolou daquela ocasião e que agora emerge na nossa lembrança.

Só para entendermos melhor. Ontem à noite, numa entrevista, o músico Tom Zé descreveu, com pureza de detalhes, o momento em que ouviu, pela primeira vez, a voz e o violão de João Gilberto interpretando “Chega de Saudade”. Seu semblante se transfigurava à medida que ia detalhando o local, o clima, as pessoas e tudo o que se encontrava à sua volta, enquanto desfrutava daquela ocasião mágica. Assim também ocorreu com toda uma geração de jovens compositores nos idos de 1959.

Parece que essa “sobredeterminação,” como uma imagem projetada num espelho – quando a música ajuda a tecer a ocasião - aguça o sentimento de (des)prazer quando lembramos.

Caso o leitor não concorde com minhas observações, remeto-o para a leitura de um livrinho (muito substancioso), do cratense Paulo Elpídio de Menezes, - “O Crato de meu tempo”, Fortaleza: edições UFC, 2ª. edição, 1985.

Nele o autor faz uma descrição histórica de nossa cidade nos fins do século XIX, levando em conta não o calendário histórico-linear, aquele em que se vai marcando os acontecimentos numa escala evolutiva. O autor se vale dos ciclos da vida, dos ciclos festivos como forma de construir suas rememorações, que terminam por revelar uma história (social) da cidade e de seu povo. Em todos esses eventos ele cita os folguedos, as músicas, as cantigas, as brincadeiras de rua, as serenatas e descreve as letras. Enfim, fala de sua infância e adolescência revividas em sua memória enriquecida pela trilha sonora que marcaram sua lembrança.

Então, o que seria do ser humano se não houvesse a música?

Acho mesmo que no Natal, assim como em outros ritos de passagem, e todos os ciclos festivos, a música ajuda muito a realçar as simbologias desses eventos.

No Brasil a música natalina é marcada pela diversidade da criação musical brasileira. As cantigas dos autos de natal no Brasil são expressões da cultura local. Acredito ser a música de Natal uma manifestação musical extraordinariamente rica, porquanto ela acompanha sob diversos ritmos e tons, os temas dos ciclos natalinos que se realizam em diferentes subculturas.

Por aqui tudo foi perfeitamente assimilado pelos diversos grupos que ensejaram a (des)ocupação paulatina do nosso território. No plano da música, os instrumentos, as danças, as cantigas, muitos ritmos, os autos, as coreografias etc. transplantadas por populações misturadas de todas as partes do mundo, foram acolhidas e até ressignificadas para permitirem sua continuidade no tempo...

Esse será o tema de hoje do Programa COMPOSITORES DO BRASIL.

Vamos falar das músicas do natal brasileiro, de seus compositores e cantores. Vamos enaltecer a figura da compositora Chiquinha Gonzaga, nascida em 1847, e que aos 11 anos de idade, em uma festa de Natal no lar, apresentou, com letra de seu irmão, sua primeira composição, uma música natalina: “Canção dos Pastores”.

Ouviremos e comentaremos:

1.Presente de Natal, de Herivelton Martins e Rogério Nascimento, gravação de Francisco Alves e participação do Trio de Ouro (Dalva de Oliveira e Dupla Preto e Branco, e ainda Fon-Fon e sua orquestra, de 1934.
2.Um feliz natal, de Ivan Lins com Ivan Lins
3.Feliz natal, papai noel, de Martinho da Vila com Martinho da Vila
4.Jesus, papai noel, de Benito de Paula, com Benito de Paula
5.Menido Deus, de Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, com Clara Nunes
6.Natal das crianças, de Blecaute, com Carequinha
7.Balada para qualquer natal, de Evaldo Gouveia Jair Amorim, com Altemar Dutra
8.Noite de Natal, de Felisberto Martins, com Francisco Alves, gravação de 1945.
9.Boas Festas, de Assis Valente, com Ná Ozzeti
10.Cartão de Natal, de Zé Dantas e Luiz Gonzaga, com Luiz Gonzaga
11.Menino Deus, de Caetano Veloso, com Caeteno Veloso
12.Jesus menino, de Geraldo Rocca, com Almir Satter
13.Um novo tempo, de Paulo e Marcos Valle e Nelson Motta, com os conjuntos MPB4 e Quarteto em Cy.

Quem ouvir, verá!

Programa COMPOSITORES DO BRASIL
Pesquisa, produção e apresentação: Zé Nilton
Rádio Educadora do Cariri
Todas às quintas-feiras, às 14 h.
Apoio Cultural: CCBN

Joan Miró


Joan Miró i Ferrà (Barcelona, 20 de abril de 1893 — Palma de Maiorca, 25 de dezembro de 1983) foi um importante escultor e pintor surrealista catalão.

Quando jovem frequentou a Escola de Belas-Artes da capital catalã e a Academia de Gali. Em 1919, depois de completar os seus estudos, visitou Paris, onde entrou em contacto com as tendências modernistas como os fauvismo e dadaísmo.

No início dos anos 20, conheceu o fundador do movimento em que trabalharia toda a vida, André Breton, entre outros artistas surrealistas. A pintura O Carnaval de Arlequim, 1924-25, e Maternidade, 1924, inauguraram uma linguagem cujos símbolos remetem a uma fantasia naif, sem as profundezas das questões psicanalistas surrealistas. Participou na primeira exposição surrealista em 1925.

Em 1928, viajou para a Holanda, tendo pintado as duas obras Interiores holandeses I e Interiores holandeses II. Em 1937, trabalhou em pinturas-mural e, anos depois, em 1941, concebeu a sua mais conhecida e radiante obra: Números e constelações em amor com uma mulher. Mais tarde, em 1944, iniciou-se em cerâmica e escultura. Em suas obras, principalmente nas esculturas, utiliza materiais surpreendentes, como a sucata.

Três anos depois, rumou pela primeira vez aos Estados Unidos. Já nos anos seguintes; durante um período muito produtivo, trabalhou entre Paris e Barcelona.

No fim da sua vida reduziu os elementos de sua linguagem artística a pontos, linhas, alguns símbolos e reduziu a cor, passando a usar basicamente o branco e o preto, ficando esta ainda mais naif.

wikipédia

Vida ! - Charles Chaplin

Já perdoei erros quase imperdoáveis,
tentei substituir pessoas insubstituíveis
e esquecer pessoas inesquecíveis.

Já fiz coisas por impulso,
já me decepcionei com pessoas
quando nunca pensei me decepcionar,
mas também decepcionei alguém.

Já abracei pra proteger,
já dei risada quando não podia,
fiz amigos eternos,
amei e fui amado,
mas também já fui rejeitado,
fui amado e não amei.

Já gritei e pulei de tanta felicidade,
já vivi de amor e fiz juras eternas,
“quebrei a cara muitas vezes”!

Já chorei ouvindo música e vendo fotos,
já liguei só para escutar uma voz,
me apaixonei por um sorriso,
já pensei que fosse morrer de tanta saudade
e tive medo de perder alguém especial (e acabei perdendo).

Mas vivi, e ainda vivo!
Não passo pela vida…
E você também não deveria passar!

Viva!
Bom mesmo é ir à luta com determinação,
abraçar a vida com paixão,
perder com classe
e vencer com ousadia,
porque o mundo pertence a quem se atreve
e a vida é “muito” pra ser insignificante.

Charles Chaplin

Humphrey Bogart




Humphrey DeForest Bogart (Nova Iorque, 25 de dezembro de 1899 -- Hollywood, 14 de janeiro de 1957) FOI UM Ator de cinema e Teatro dos Estados Unidos, Eleito pelo American Film Institute como a maior estrela masculina do cinema norte-americano de todos os tempos.

Conhecido pelo público como Bogie ou Bogey (preferia ser chamado de Bogie), é considerado um dos grandes Mitos do cinema e ganhou o Oscar de melhor ator de 1951 por seu papel em Uma Aventura na África. Morreu em 1957 vítima de Câncer.

Dentre seus filmes de maior sucesso estão Relíquia Macabra, O Tesouro de Sierra Madre e Casablanca.

Carlos Castaneda por Miguel Duclós

Carlos Castaneda (1935- 1998) nasceu no Brasil, numa cidade do Vale do Paraíba, e passou a infância em uma fazenda próxima de Mairiporã, interior de São Paulo. A fazenda era de seu avô paterno, e sua mãe foi provavelmente uma emprega Castaneda declara que foi um ato sexual pobre, que os pais mal se deram conta do que haviam feito, pois eram muito jovens (15 e 17 anos) . Teria passado a infância com visitas periódicas do pai nessa fazenda. Caçava. Fazia travessuras na cidadezinha próxima e saía correndo. Foi continuar seus estudos na Argentina, país que lhe agradou. Então, com ajuda paterna e muito esforço próprio foi para Los Angeles, fazer antropologia na UCLA. Era um aluno aplicado. Namorou uma moça loira. Teve um filho, que não criou. Apesar disto, sempre gostou de crianças.

Os livros de Castaneda são autobiográficos, e por ter um conteúdo extraordinário, por muitos são considerados fantasiosos. São um relato de seu aprendizado com Don Juan Matus e de suas experiências de iniciação à feitiçaria, entendida como um conhecimento formado a partir da antiga cultura tolteca pré-colombiana. Juan Matus é um nome falso, porque nomes tem poder, e não devem ser manipulados em vão. Castaneda estava se formando em sua faculdade quando partiu em pesquisa de campo afim de levantar dados para sua tese de doutorado, cujo assunto era o uso de plantas medicinais entre os índios mexicanos. Preencheu muitas páginas com anotações e entrevistas nessa pesquisa. Então resolveu ir atrás de informações sobre alucinógenos usados em rituais, como o peiote, a erva do diabo (estramônio) e o cogumelo mexicano. O peiote já havia sido objeto de pesquisa ocidental acadêmica. Sintetizaram o seu agente químico, a mescalina. Aldous Huxley tomou essa droga e sua experiência serviu de base para o ensaio As Portas da percepção e Céu e Inferno.
Através de um conhecido de Castaneda, Bill, ele teve um primeiro encontro com Don Juan, numa estação de ônibus. Bill havia falado que aquele velho sabia do assunto mas era intratável e vivia bêbado. Castaneda foi logo pedindo informações sobre o peiote, dizendo que sabia muitas coisas sobre isso quando na verdade sabia pouco. Don Juan captou sua mentira e refletiu-a com um olhar. Esse olhar marcou Castaneda. Mais tarde Don Juan afirmou que lhe mostrou pela primeira vez a segunda atenção. Envergonhado, Castaneda se preparou durante seis meses e voltou, descobrindo a casa de Don Juan por meio dos habitantes do vilarejo. Don Juan, muito caricato, o recebeu, e desde o início usou de subterfúgios, armou situações e explorou o sentido figurado das frases. Ele era um yaqui de Sonora, nascido por volta de 1875, mas é meio mítico. Nunca entrou em algum contato com o público ocidental e seus ensinamentos envolviam uma sutil manipulação da realidade perceptível. Pouco se sabe de seu passado. Teria perdido o pai e mãe ainda jovem. Era muito forte. Trabalhou em uma fazenda, sendo explorado por um empregado, que ele chama de pequeno tirano, como escravo. Levou um tiro dos capangas e foi achado e curado pelo seu benfeitor, nagual Julian. Um de seus primeiros ensinamentos - conforme relata Castaneda em seu terceiro livro, Viagem a Ixtlan - é para se apagar a história pessoal. Pois você tem de alimentar a opinião dos outros com ela, com relatos. Assim deve uma obrigação, fica fixo. Se começar a não falar realmente o que você faz, fala Don Juan, ficará envolto numa áurea de mistério.

Ocorrem muitos desentendimentos entre o jovem estudante e o velho índio. Castaneda passa a impressão que é inepto e medroso. Mas essa é uma artimanha e uma forma humilde de passar sua mensagem. Para se livrar das amarras da realidade consensual e entrar na consciência e percepção mágica, adquirindo fluidez, o bruxo tem que preencher muitos requisitos e fazer muitas tarefas, até mergulhar no mistério da essência e adquirir a percepção extraordinária conhecida como ver. Há muitas coisas para se ver, como os ovos luminosos, a realidade última do ser humano. Essas revelações foram dadas aos poucos por Don Juan. Castaneda foi entrando profundamente até se ver engolido pelo sistema de crenças que se dispôs a estudar como antropólogo. Os dois primeiros livros, A erva do diabo- um caminho yaqui para o conhecimento (no título original Os ensinamentos de Don Juan) e Uma estranha realidade, lançados em 1968 e 1971, falam das experiências com alucinógenos. Mas Castaneda, que estava adquirindo prática na feitiçaria, retoma o início da aprendizagem de 1960, 1961 no terceiro livro, de 1973 - Viagem a Ixtlan. Don Juan no princípio se recusou a falar do peiote, e as experiências alucinógenas, de fato, não são a parte principal do pensamento do autor, como ficou disseminado. Cada capítulo em Viagem a Ixtlan funciona como uma martelada. O objetivo de Don Juan desde o princípio foi fazer o aprendiz parar o mundo. O mundo é o que é porque desde o início das nossas vidas somos obrigados a empregar um sistema de interpretações pela influência dos mais velhos em nós. Com um inventário de memórias e de ítens, e com um diálogo interno progressivamente mais complexo, nossa percepção se torna fixa e enxergamos o mundo da mesma forma todos os dias. Assim, parar o mundo é parar o modo como o Ego conduz subjetivamente nossa consciência. Don Juan bombardeou sucessivamente o Ego de Castaneda, realçando sua pequenez diante da eternidade e da vida. É preciso perder a importância própria para apreciar realmente o mundo ao redor. A vaidade faz com que nos ocupemos com nossos problemas como se fôssemos a coisa mais importante do mundo, e nós tratamos a realidade com uma mesquinharia tremenda. Assim, um bom exercício para se perder a importância própria é conversar em voz alta com as plantas.

De fato, se compararmos os acontecimentos ordinários com a morte, eles perderão a importância. Por isso a morte deve ser usada como uma conselheira. Devemos perguntar à ela, ensina Don Juan, se já chegou a hora de seu toque. Sem Castaneda falar nada, Don Juan viu nele o dia em que sua morte deu um aviso. Foi quando ele era criança e estava caçando um falcão albino. Don Juan também fez Castaneda ver uma sombra de relance. Era sua morte. Ela sempre está à nossa esquerda, a um braço de distância. No O Fogo Interior, livro que relata as experiências na segunda atenção, com a consciência em estado intensificado, Castaneda explica melhor. A morte é uma sombra negra na luminosidade da pessoa que chega a ficar do tamanho dessa e dar uma estocada na fenda que temos no ovo luminoso, debaixo do umbigo. A força rolante, uma força do universo martela nesse ponto sem cessar, até que a pressão se torna muito forte e o casulo se enrola, como um tatu-bola, e é levado para ser consumido.

Em 1961, Castaneda aprendeu a ser um caçador. Um caçador é humilde, fala pouco e caça o necessário. Não tem rotina, pois são elas que fazem o mundo parecer fixo e maçante. A rotina cria uma força, que enfraquece e molda os hábitos. Devemos romper com ela. Castaneda conseguiu romper com ela fazendo coisas como escrever noturnamente e comer apenas quando sentia fome. Don Juan passa a levar mais a sério e se dispor mais com Castaneda quando percebe augúrios ou presságios do espírito, indicando Castaneda como discípulo. Um feiticeiro sabe ler o mundo, e o Espírito dá sinais o tempo inteiro para quem sabe observar. Don Juan adverte que corvos não são simples corvos. Podem muito bem dar indicações importantes para as pessoas, como o sentido em que se deve prosseguir. Don Juan tinha uma ligação com corvos. Na verdade, adorava-os.

Um bruxo, ou guerreiro assume a responsabilidade por seus atos. Cumpre sua missão de forma impecável, e não se preocupa com as conseqüências. Uma maneira de ser impecável é seguir o caminho do guerreiro, que é um modo ético de se servir o Espírito. Um guerreiro é inacessível. toca o mundo sem exagero e não está disponível para o capricho das pessoas. Mas caça o poder, se mostrando para ele.

No breu absoluto da noite do deserto mexicano, Don Juan ensina à seu aprendiz o passo do poder. Fala para ele confiar no nosso seu poder pessoal, e usar de passo especial, levantando o joelho até o abdômen. Assim, pode-se correr à noite. É uma maneira de desenvolver seu propósito, sua intenção. Matreiramente, Don Juan observa que um velho como ele correr a noite no deserto seria suícidio, não fosse o passo de poder. E para incentivar Castaneda, dá pequenas voltas troteando em torno dele, dizendo que não sabe caminhar nestas condições, só correr. Sozinho na escuridão, Castaneda precisa seguir o pio de coruja de Don Juan para chegar até ele. Mas, depois de um tempo, o pio passa a ser imitado pelos entes da noite. Assim, Castaneda narra um primeiro contato marcante com os seres inorgânicos. Os seres inorgânicos são melhores explicados no último livro, A arte de sonhar. Sonhar significa sonhar com um propósito, consciente e controlando os sonhos. O primeiro portão do sonhar se atinge quando estamos conscientes de estarmos caindo no sono. Um exercício para treinar a atenção é olhar as mãos no sonho. Assim, você se lembra de uma ordem dada quando estava acordado. Olhando para um item e para sua mão, sucessivamente os sonhos não se alteram. É uma técnica um tanto rudimentar, mas de início, dá resultado. O segundo portão se atinge pulando de um sonho para outro, ou acordando de um sonho para outro sonho. A verdadeira tarefa do segundo portão é isolar e seguir um batedor. Um batedor é um ser de alguma parte do universo infinito que freqüenta os nossos sonhos, sem sabermos. Os seres inorgânicos mandam batedores para os nossos sonhos. Eles se destacam nos sonhos porque são objetos estranhos. Os seres inorgânicos podem se tornar aliados de um bruxo, conversar telepaticamente. Não são bons nem maus, mas aos olhos de quem não vê são apavorantes. Tem um poder muito grande. Castaneda relata diversas aparições desses seres enquanto estava acordado. Os bruxos antigos adoravam seus aliados. A nova linhagem os vê com mais distância. A nova linhagem surgiu com a reagrupamento de bruxos depois da conquista espanhola, que massacrou populações. Don Juan fazia parte dessa linhagem, cujo objetivo é alcançar a liberdade e o abstrato, atingir um estado explicado em O fogo interior como a terceira atenção, quando todos os lugares que o ponto de aglutinação do bruxo esteve são acendidos de uma só vez, e ele se torna o que realmente é, uma explosão de energia. Os bruxos dessa linhagem não são necessariamente índios. Há o relato de diversos brancos que participaram dela. Don Juan faz uma crítica ao poder mesquinho que a segunda atenção pode despertar. Alguns usam esse poder para se apegar às coisas do mundo, como o dinheiro ou fixar a atenção em outras pessoas até fazer-lhes mal. O homem tem um lado sombrio que é refletido também na segunda atenção.

Falando em voz alta sua intenção no sonho, pode-se seguir um aliado até o reino deles. O reino deles é descrito como tendo várias partes e três tipos de seres inorgânicos. É escuro e cheio de corredores. Castaneda fez diversas visitas para esse reino, até que caiu numa armadilha e ficou preso lá. Don Juan reuniu seu grupo e foi buscá-lo, com o corpo físico. Assim, Castaneda ficou livre para o terceiro portão. O terceiro portão é alcançado quando vemos a nós próprios dormindo. O guerreiro está preparado para esse momento, e em vez de acordar, como fariam a maioria das pessoas, passa a examinar o lugar que seu corpo está dormindo. Porque ele está no corpo energético. Através da prática do sonhar, chega-se ao corpo energético, ou corpo sonhador. Nesse portão o corpo sonhador move-se como a energia, rápida e diretamente. O quarto portão é alcançado quando se sonha o mesmo sonho junto com outra pessoa. Castaneda sonhou com um bruxo pré colombiano e voou nas asas do intento. O intento é a força que permeia tudo, perscrutando o ser e o tornando consciente. O intento é a potência do espírito. O bruxo desenvolve seu intento através da vontade. Com um propósito inflexível, se põe num nível maior que ele mesmo, mais louco do que poderia imaginar. Mas esse são os ensinamentos da segunda atenção. O bruxo de que falei é conhecido como o inquilino, ou o desafiador da morte. Pegando energia dos naguais da linha de Don Juan, consegue fechar sua fenda e escapar da morte. É um grande feiticeiro, poderosíssimo, o último da original linhagem tolteca vivo. Vive num espaço diferente, como em sonho. Castaneda se encontrou com ele e ficou dez dias na segunda atenção. A segunda atenção é o círculo extra de poder que o bruxo desenvolve. As pessoas tem um círculo de poder que é posto em funcionamento no momento em que nascem. Ele faz com que vejamos o mundo. O feiticeiro desenvolve um segundo círculo de poder, para perceber mais. É uma metáfora. A atenção é o resultado final da percepção. É o estado de vigília incessante. A primeira atenção é a do mundo ordinário, a segunda faz parte de uma coisa maior, como ver energia. A atenção do ser humano é divida pelo tonal e o nagual. O tonal é tudo o que podemos imaginar e consta na nossa mente e no nosso inventário. O nagual faz parte da atenção do ser consciente de sua luminosidade. Se tudo o que conhecermos for posto numa mesa, todos os itens, poderíamos supor que a mesa é o tonal. O universo à volta é nagual. O bruxo sai da segurança do tonal para encarar o inconcebível. Essa teoria é exposta no quarto livro, Porta para o Infinito. Para desenvolver a segunda atenção, é necessário não fazer. Fazer é o que torna o mundo do jeito que o enxergamos. Uma pedra só é uma pedra porque conhecemos o fazer necessário para isso. Não fazer seria tudo aquilo que nós não temos um valor cognitivo. É o corpo quem Não faz. É um método, conseguido por coisas estranhas à razão, que torna o mundo diferente. O mundo é uma sensação, e a realidade é uma interpretação. Não fazer é necessário para parar o mundo. Um ponto importante para se seguir adiante no aprendizado é conseguir parar o diálogo interno. O diálogo interno é mais uma coisa que mantém a percepção fixa, sendo necessário pará-lo e ficar apenas sentindo para romper com o esquema de direção e norteamento que a razão dá. Assim, pode-se entrar num transe e outras coisas.

Em um certo período, Castaneda teve de se preocupar com seu adversário valoroso,La Catalina. La Catalina era uma conhecida de don Juan, amistosa com ele. Mas ele falou que era sua inimiga para Castaneda enfrentá-la e usar tudo que tinha aprendido. Ela o atacou, se transformava em pássaro e usave de outros meios para apavorá-lo.

Depois que Castaneda se tornou realmente aprendiz de Don Juan, este deu plantas de poder para ele. Elas era necessária para Castaneda vencer sua razão. A razão nos faz encarar o mundo de forma rígida, não admitindo percepções extraordinárias. Para ficar mais fluído, Castaneda tomou essas plantas. Mascou peiote e viu um cachorro brilhando, seus fluídos internos. Don Juan interpretou como o Mescalito, divindade contida na planta de peiote. Mescalito ensinou uma canção à Castaneda. Sob a influência do mescalito e de Don juan, adquiriu a percepção de um corvo. Sentiu seu corpo se transformando em um, e voou com seus companheiros pássaros. Foi o inquilino que ensinou essa técnica para Don Juan, que a passou para Castaneda. Castaneda também usou a erva do diabo. Don Juan alerta que é uma planta perigosa e muito poderosa, cheia de caprichos. Faz-se um extrato da planta, e passa-se pelo corpo. Não pode passar na testa. Castaneda passou e entrou fundo na Segunda atenção. Com dois lagartos, um no ombro falando para ele, teve muitas visões. Fez uma pergunta acerca do mundo real e ela foi respondida.



E Castaneda teve suas experiência com um fumo de cogumelo alucinógeno. Viu o guardião do outro mundo, uma aberração gigantesca. Quando estava entrando na segunda atenção, fixou-a num mosquito, e viu a aberração. Não quis mais fumar, e ficava desesperado quando Don Juan sugeria o uso. Igualmente desesperado ficava quando Don Genaro, um companheiro de Don Juan, lhe mostrava o não fazer. Don Genaro era extremamente potente, brincalhão e alegre. Tinha outros aprendizes, Pablito, Nestor e Benigno. Genaro mostrou as linhas de energia do mundo. Pulava para uma montanha a quilometros de distância. E quando Castaneda perguntava como isso era possível, a visão desaparecia. Tinha muitas danças de poder. O grupo todo de Don Juan tinha dezesseis pessoas, sendo que doze mulheres. Depois que Don Juan foi embora, Castaneda teve um período de interação com os outros aprendizes. Foi muito conflitante. Destacava-se Elena, a La Gorda, que o ajudou a se lembrar da sua segunda atenção e a organizar seu saber. Castaneda brigou com Soledad, suposta mãe de Pablito. Fez o seu duplo sair algumas vezes. Esses relatos estão no amedontrador livro O Segundo círculo do poder. No livro seguinte, O presente da Águia, depois de mais interações com os aprendizes, Castaneda conta que se lembrou da segunda atenção.

O seu aprendizado se divide em duas partes: uma de 1960 a 1965, quando deixou o aprendizado, outra de 1968 a 1973, quando Don Juan partiu do mundo. A última instrução direta de Don Juan para Castaneda foi para ele pular de um abismo, e entrar totalmente no lado esquerdo, ou segunda atenção. Castaneda pulou, e depois de uma série de visões, voltou a terra. Nunca mais viu Don Juan. Mas, se lembrando do lado esquerdo, são outros livros com ensinamentos mais profundos. Castaneda aprendeu o regulamento que fala da Águia. A Águia seria a fonte de tudo, responsável por uma realidade transcedente, que forma o mundo. O mundo é constituído de filamentos infinitos de energia, que exudam consciência e provém da Águia, pois emanam dela. É o poder que governa o destino de todos os seres vivos. O vidente olha a Águia e quatro relâmpagos revelam como ela é e o que está fazendo. A Águia está devorando a consciência de todas as criaturas mortas, pois consciência é o seu alimento. Como uma recicladora de matéria espiritual. A Águia é impiedosa, e com ela não se brinca. Ela concede um presente a cada uma nas criaturas vivas: o de perpetuar a consciência depois da morte. Para isso, a criatura tem que buscar a abertura. Para se guiar até essa abertura, a Águia criou o nagual. O nagual é uma criatura duplicada, que tem o poder de ser um conduto do espírito. Por causa disso, os seres que conduzem ao nagual (segunda atenção) são chamados de naguais. Os naguais tem quatro compartimentos de energia, enquanto as criaturas normais tem apenas dois. Don Juan e Castaneda são naguais. Só que Castaneda não é um nagual completo, pois tem só três compartimentos. Don Juan havia se enganado na interpretação de sua visão. Os outros quatro tipos de criaturas , nos homens, são: os homens de conhecimento, estudiosos. O segundo é o homem de ação. O terceiro é o organizador por trás dos bastidores, misterioso, o quarto é o mensageiro. Seu papel é viajar adiante do nagual e contar seu relato. Não funciona por si só. No grupo de Don Juan, Vicente é do primeiro tipo, Genaro do segundo, Silvio Manuel do terceiro. As mulheres , além das naguais, são de quatro tipos, ou quatro direções: norte, sul, leste e oeste, cada qual com características predominantes de essência e comportamento. As mulheres podem ser sonhadoras ou espreitadoras.

Na realidade transcendente das emanações da Águia, os videntes descobriram, ao ver um ovo luminoso, que a consciência é um brilho e pode ser usada como um elemento do ambiente. Pode se fundir na água e usá-la para viajar na segunda atenção. Nessa interpretação, o ovo luminoso também é constituído de emanações da Águia. É um casulo luminoso, e as emanações que estão dentro se alinham com as que estão fora. A percepção é o alinhamento, quando há a compatibilidade entre o ser e o exterior, se constrói o mundo. O mundo não é fixo, pois é infinito. Apenas uma ínfima parte das emanações são percebidas pelos humanos, reduzida ainda mais pela consciência cotidiana. Essa pequena parte é selecionada por um ponto no casulo: o ponto de aglutinação da percepção. Esse ponto seleciona uma parte das faixas que compõe o universo e fixa um mundo. São infinitas posições, mas uma, que a humanidade atualmente usa é a da razão. O ponto de aglutinação está fixo em um lugar na humanidade. Quando isso acontece, vêm o esquecimento de outras posições, e no caso, vem o esquecimento da condição do homem como criatura de pura energia, de luz, assim como o mundo. Para movê-lo, os bruxos desenvolveram três técnicas, a da espreita, a da consciência e a do sonho.

Espreitar consiste em controlar o comportamento. Quando se comporta de maneira fora do usual, o ponto de aglutinação se move um pouco. Dá para usar seu comportamento para um objetivo em mente, iludir as pessoas, etc. Espreitar possui várias técnicas sutis. A mestria da consciência e desenvolvida a partir de ver. É poderosa, consiste na elaboração de técnicas enquanto videntes. A outra mestria é a do intento.

O ponto máximo, a coroação do desenvolvimento da segunda atenção implica uma maneira alternativa de morrer. Um homem de conhecimento que manipulou seu ponto de aglutinação em muitos lugares pelo ovo luminoso e recapitulou sua vida pode passar pela Águia e ser iluminado pelo Fogo Interior. Castaneda fala que isso aconteceu com Don Juan. Todas as células de seu corpo se tornaram conscientes de si mesma, e todas as emanações contidas no interior do casulo são iluminadas. Passou então para outro plano de existência, outro mundo. Definitivamente. Quando se dorme, o ponto de aglutinação se move levemente para a esquerda, criando o sonho. Sonhar é usado para fixar a nova posição do ponto de aglutinação. O ponto crucial de toda a feitiçaria é mover o ponto de aglutinação. Castaneda diz também, que ele é a espinha atravessada na garganta da humanidade, que não sabe de sua existência. O caminho do guerreiro é um modo de fechar as os pontos de escape, e economizar energia, necessária para ver. Considerando o lado mágico da consciência, Castaneda fala que fez uma recapitulação completa de sua vida. Recapitulou todas as interações com todas as pessoas, minuciosamente. Assim , ficou livre para sonhar.

Carlos Castaneda influenciou muitos jovens interessados em adentrar no mistério da consciência, alterando sua percepção e buscando interpretações alternativas do mundo. Muitos são os autores exotéricos e esotéricos que beberam dessa fonte, pois em muitos pontos seu trabalho . O antigo grupo, de Pablito e La Gorda se dissolveu, pois Castaneda não era o líder apropriado para eles. Castaneda conta que passou a interagir com um novo grupo, reunido por Don Juan antes de morrer, e formado por mulheres, Florinda Donner Grau, Taisha Abelar (que escreveram livros) e Carol Tiggs. Existem muitos pretensos herdeiros de sua obra, e m,mesmo uma corporação fundada sob seu nome que vende exercícios de "passes mágicos". Em todo caso, numa obra deste teor, surgem sempre inevitáveis dúvidas. Como por exemplo, ele explicaria o fato de passar dias em consciência intensificada e não se lembrar depois, nem dar conta disso quando estava normal? Nem sequer supunha saber algo a mais, como descreveu no Segundo círculo do poder. E a guinada de estilo que aconteceu entre o livro O poder do silêncio e o A Arte de sonhar? No mês de junho de 1998 veio a notícia, discreta, de sua morte. Um furo do jornal Los Angeles Times. A agente do autor revela que ele morrera dois meses antes, de câncer. Como ele mesmo relata, jamais conseguiu reunir conhecimento suficiente para se tornar um feiticeiro do porte de seus mestres. Fica a dúvida se o contato com don Juan fez bem ou não para ele, visto que 24 anos depois da morte de seu guia, ainda estava tentando recordar tudo o que acontecera, e continuava falando do velho índio. Ainda vivia sob a sombra de Don Juan ou apenas explorava o valor literário desse fascinante personagem? Uma coisa é influenciar um indivíduo a tal ponto que ele queira viver sob a mesma regência que a sua, mas depois de ensinado e feito tudo o que podia, esse indivíduo tem que ter a heteronomia de buscar ir além, ao mesmo não entrar em círculos viciosos de consciências, que tudo o que fazem são enfraquecer. Principalmente se tratando de um mundo tão sério e tão impiedosamente cruel e difícil como o mundo da energia, da consciência intensificada. De qualquer forma estamos em dívida. O contato com uma cultura diferente é sempre engrandecedor, e podemos divisar o fim do etnocentrismo quando um antropólogo de cultura ocidental estudando povos indígenas admite para si e para o mundo que seu objeto de estudo é mais vasto e profundo do que o de sua formação.

Humanidade - por Domingos Barroso

Às vezes escrevo um poema
que falta o fundamental:
a Poesia.

Leio, leio, leio
e nada acontece:

o morto não move os dedos,
a flor não desabrocha.

Apenas aquela sujeira comum
debaixo da geladeira.
Merry Christmas
(Conto de Natal)

Por Roberto Jamacaru

À noite, nas ruas daquela grande cidade, sob os efeitos coloridos e mágicos das luzes, músicas e cores, soltas no ar, o que mais chamava atenção de um simples observador, era a ação daquela multidão de gente invadindo shoppings e pequenas lojas comerciais, onde, de forma compulsiva, passava consumir vários tipos de bens para servirem de presentes na Noite de Natal.
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Massificada pela ambição mercantilista, a maioria dessa gente não tinha consciência de que estava sendo monitorada por um personagem de cultura estranha à sua: ele tinha cabelos e barbas brancas, trajava roupão e boina vermelha, portava um saco recheado de presentes e tinha o hábito de distribuir, gratuitamente a todos, o seu comercial e hipnótico sorriso: OH, OH, OH, OH, OH, OH!

Em seu trono, sob a estratégia lojista e conivência dos pais, ele atendia às crianças que, por suas vezes, absorviam, sem direitos de esclarecimentos, a idéia distorcida da festa... A de que ela só significava presentes dados pelo glorioso e inesquecível Papai Noel!

Trinta minutos para a meia noite...

Nesse fervilhante mercado de sonhos e requintada beleza plástica, as vitrines constituíam-se num espetáculo à parte. Seus criadores, porém, tinham o máximo cuidado de não decorá-las com nada que lembrasse a figura do Menino Deus. Não que o respeitassem, mas porque ele estava se tornando figura imprópria para época. Mas, nas raras vezes em que era encontrado nesses espaços, o pequeno Jesus, juntamente com Maria e José, só era visto na condição de garoto propaganda. Em imagens estáticas, a Sagrada Família ostentava placas de ofertas de produtos cujos preços (com juros de mora embutidos) eram anunciados com falsos descontos de até “50%!”.

E a agitação prosseguia...

Ainda como parte contrastante dessa “Noite Feliz”, a mendicância adulta e infantil perambulava pelas ruas da Metrópole na busca de seus sonhos, não necessariamente de consumo material, mas de reconhecimento social e fraternidade! Suas tristezas em seus olhares colocavam em cheque a sublimidade do Natal, ou seja, aos abastados eram dados os bônus das posses, das alegrias e dos prazeres; aos párias o ônus da pobreza, da tristeza e da fome!
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Em meio a todos, e sem conseguir disfarçar a sua profunda tristeza, um anônimo acompanhava, a passos lentos, o vai-e-vem daquela multidão estressada. Nessa mesma noite, véspera de seu natalício, seu espírito havia acabado de visitar o Universo inteiro. Esteve ele no exibicionismo festivo das altas sociedades, nos silêncios dos hospitais, nos clamores dos presídios, nos abandonos dos asilos e orfanatos; nas dores das guerras, nas preces dos templos religiosos, nos prostíbulos, nos shows midiáticos nos mais inacessíveis dos lares... Enfim, andou por todos os cantos e recantos da terra onde o Natal estivesse sendo celebrado.

Para ele, o que deveria significar comunidade, solidariedade, confraternização e amor, passou a ter, em alguns desses cantos, conotações de consumismo, egoísmo e gula. Por conseguinte, nada do que Ele estava vendo ali aparentava ser diferente... A fartura, o desperdício e a arrogância dos lares ricos contrastavam com as limitações e preces dos excluídos.

A noite foi chegando ao seu fim!

Magoado pelos homens, o visitante resolveu comemorar o verdadeiro Natal embaixo de um viaduto junto a um grupo de sem-tetos, sem comida e sem mil outros direitos. Ali Ele orou, conversou e dividiu sua ceia com todos. Foi tudo muito simples, mas especial, o suficiente para nutrir, no limite certo, o corpo e a alma de cada um.

No seu último olhar para aquela cidade, Ele continuou sem conseguir disfarçar a sua tristeza, pois tinha a certeza de que, em breve, mais precisamente na celebração da sua Paixão e Morte, como também na Páscoa, sua lembrança seria novamente deturpada.

A Sexta-Feira, por exemplo, hoje popularizada como o feriadão da Semana Santa, não seria cultuada nos templos, retiros nem mesmos nos corações de muitos fiéis, mas nos lazeres dos bares, shoppings, campos e praias.

A Páscoa, comemoração festiva da sua Ressurreição teria como símbolos coelhos e ovos de chocolates (ou de Pá$coa), conforme as estratégias da mídia, da indústria e do comércio. Ou seja, sua imagem seria, mais uma vez, objeto de troca por símbolos mercantis.

Antes de partir, porém, benzeu a todos seus irmãos ali reunidos dando-lhes, inclusive, um beijo em suas faces.

Em seguida, com a leveza de uma ave noturna, andou alguns metros, levitou e sumiu na obscuridade da noite.

Seu rosto nunca mais chegou a ser visto naquele lugar.
A noite e a madrugada chegaram aos seus fins!

Desfigurada, bêbada e a vomitar a bílis de seus pecados, mistos de gulas e soberbas, a cidade acordou com um ar de remorso.
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Esparramados em alguns lares, ruas e shoppings, o excessivo e colorido lixo do ter exalava no ar a fedentina do egoísmo e da falta de solidariedade humana!

Noite infeliz...
Noite infeliz...
Tente dormir em paz, meu Jesus!
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Conto por Roberto Jamacaru