Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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quinta-feira, 21 de abril de 2011

INFÂNCIA NA ROÇA - Marcos Barreto de Melo


Filho de fazendeiro e pecuarista, nasci e me criei no Sitio São José, numa propriedade rural pertencente ao meu pai. Contudo, nem de longe eu me afinava com algumas atividades correntes naquele ambiente. Confesso que fui mesmo um menino avesso às práticas da agricultura e da pecuária. Lembro-me muito bem de quando caiam as primeiras chuvas do mês de janeiro, marcando o início da quadra invernosa em nossa região. Acordava assustado com os trovões, raios e relâmpagos que clareavam o meu quarto pelas brechas das telhas, mas, apesar do medo, envolvido em meu pijama de flanela, ficava maravilhado em escutar a cantiga da chuva no telhado da minha casa. Porém, sabia que, ao amanhecer do dia, logo estaria escalado para compor a tropa que iria fazer o plantio de milho e de feijão no pasto do engenho. Era uma plantação apenas para consumo da família. O meu pai sempre plantava esta área para ter o desfrute do milho verde cozido ou assado, da canjica sem igual que só a minha mãe sabia fazer, e também daquele feijão verde cozido com jerimum caboclo. Tudo fresco e colhido no dia.
Em meio aos muitos trabalhadores, iam também os seus filhos junto com ele. E eu, criança, não entendia porque o meu pai fazia isto com a gente. Queria apenas ficar brincando. Se ele tinha tantos moradores e podia contratá-los, por que me levar para o roçado? Reclamava dessa prática e resmungava o tempo todo. Mas, não adiantava reclamar. Tinha mesmo que trabalhar. Era uma espécie de plantio feito de improviso, para não perder o terreno molhado e por isso, dizia-se que era uma “planta no espelho”. Depois que o legume brotava, é que era feita a limpeza final do terreno.
Nesse plantio cabia sempre a mim a tarefa de semear o milho, seguindo a pegada dos outros trabalhadores que iam à minha frente abrindo as covas na terra molhada. Dada à presença abundante de espinhos, carrapichos, maliça e ainda daquela formiga vermelha, o consumo de sementes crescia a cada carreira que eu semeava. Revoltado com o que estava obrigado a fazer, eu sempre enchia a mão ao fazer a semeadura, ao invés de lançar apenas três ou quatro grãos em cada cova. O resultado desse trabalho sujo e irresponsável só seria visto por meu pai três dias após o plantio, quando ele voltava para vistoriar o roçado e avaliar a necessidade ou não de algum replantio. Eram inconfundíveis as marcas deixadas por mim, tão visíveis que eram as “carreiras” onde o milho brotava amontoado, formando grandes touceiras que já nasciam condenadas ao atrofiamento. Em cada cova, fazia-se necessário a retirada do excedente.
E quando chegava o tempo da colheita, novamente eu era escalado para ir ao roçada buscar milho e feijão verde. E eu, mais uma vez, aprontava as minhas. Só trazia o feijão na sua forma mais tenra, chamada de “canivete“, e as espigas de milho ainda embonecando, alegando que não conseguia identificar o que já estava no ponto certo para ser colhido. Nem assim me davam trégua e eu continuava indo à roça para colher o que não queria, enfrentando o orvalho, as formigas, o carrapicho e ainda a maliça a cortar as minhas pernas. Para me livrar deste grande tormento, me veio a seguinte idéia: antes de chegar à roça, eu passava pela casa de um antigo morador, Seu Expedito, e em lágrimas, relatava para ele o meu drama. Ele, compadecido desta criança em desespero, dizia para que eu ficasse na sua casa brincado com os seus filhos enquanto ele faria a apanha do feijão verde por mim. Essa tática durou um bom tempo, até que meu pai certa vez o flagrou fazendo o trabalho que seria meu. Depois de advertido, não pode mais colaborar comigo nesta função.
Outra atividade que eu abominava, era o pastoreio do gado. No inverno, a chuva intensa provocava muita lama no curral e o gado, inconformado, berrava sem parar, como que pedindo para sair daquele ambiente insalubre. E esse berreiro interminável era tudo o que eu não queria. Além da lama, tinha também a mutuca que muito incomodava o rebanho. Coincidentemente, logo após as primeiras chuvas brotava uma vegetação rasteira que se chamava de babugem, muito apreciada pelo gado. Nesse ambiente, tudo conspirava contra mim. O meu pai queria tirar o gado desse sacrifício e contava com o entusiasmo do meu irmão Geraldo Sérgio, que desde menino adorava lidar com o gado. E quando eu previa que estava prestes a ser chamado para esta tarefa, inventava que estava estudando ou me prendia à mesa numa merenda sem fim, regada a tapioca, cuscuz, pão de côco e café. Enquanto lanchava, pela janela da sala eu via quando o gado saía do curral e corria beirando a linha do trem. O meu irmão gritava e me chamava aflito, mas eu fingia nada entender. Só saía da mesa quando era expulso por meu pai para ajudar o meu irmão. E quando eu me distanciava o bastante da minha casa, a ponto de não mais ser visto, eu me sentava no trilho do trem e de lá ficava atirando pedras nas vacas mais afoitas e que queriam se entender mais ainda ao longo da estrada de ferro. Eu queria que o rebanho ficasse confinado para poupar meu trabalho e, para tanto, atirava pedras em seus chifres, deixando-as furiosas.
Hoje, depois de tudo passado, vejo o quanto me valeram estas lições de vida dadas por meu pai. Embora reclamasse muito quando criança, reconheço agora que esse aprendizado forçado preparou-me para o profissional que hoje sou e deu-me a exata noção de que somente com o trabalho o homem alcança a sua grandeza.

Texto dedicado ao meu pai Geraldo de Melo.

Marcos Barreto de Melo

Breve !
















Lançamento em Maio !

Livro Infantil / CD Músicas / Audio-Livro

Uma Celebração à Mitologia Caririense

Livro/ Letras:

J. Flávio Vieira


Projeto Musical :


Luiz Carlos Salatiel
Abidoral Jamacaru
Lifanco
Amélia Coelho
Pachelly Jamacaru
Ulisses Germano
Luiz Fidelis
João Nicodemos
Zé Nilton Figueiredo

Intérpretes Convidados:

João do Crato
André Saraiva
Eliza Moura
Mazé (Reisado de Dedé de Luna)
Valéria Santana ( Reisado de Dedé de Luna)
Leninha Linard
Ermano Morais
Fatinha Gomes
Coral : Mensageiros de Cristo (Ponta da Serra)
Lívia Beatriz

Arranjos:

Ibbertson Nobre

Músicos:

João Neto
Ibbertson Nobre
Bonifácio Salvador
Rodrigo
Lifanco
Golerim
Dudé
Betim

Audio- Livro

Luiz Carlos Salatiel
Fernanda Cardeal



Aguardem !

GAL COSTA e PABLO MILANÉS - "AMAME COMO SOY"

Vale a pena ouvir...

Revendo a cidade de Farias Brito – por Armando Lopes Rafael



Terça-feira última, 19, revi Farias Brito. Fui assistir à homenagem que a Câmara Municipal daquela cidade prestou a um ilustre filho da terra, o Desembargador Francisco Darival Bezerra Primo (foto ao lado) e a cinco pessoas distinguidas com o título de Cidadão Honorário de Farias Brito, dentre estas o médico Leonardo Fernandes Távora, que é meu genro.

Darival foi meu colega nos bancos escolares do velho e tradicional Colégio Diocesano de Crato, a partir do que se chamava, na época, o primeiro ano ginasial. Chegou ali criança, como aluno interno, já carregando atitudes de seriedade e circunspecção que o acompanhariam pela vida afora. Tive oportunidade de dizer isso, em breves palavras, durante a homenagem que lhe foi prestada no Ginásio Poliesportivo de Farias Brito.

Nesta época do ano, a Terra da Cal (assim chamam a Farias Brito) está cercada de um verde luxuriante que inclui as plantações de milho, nas cercanias de uma cidade que cresceu e progrediu. Nem parece aquele Quixará (antiga denominação de Farias Brito), -- foto à esquerda -- cuja população guardava temerosa as palavras fortes do Padre Henrique José Cavalcante, o construtor -- em 1868-1869 -- da primeira capela que seria, posteriormente, a primeira igreja-matriz de Farias Brito.


Segundo um historiador da terra, já falecido – J. Calíope – o padre Henrique era dado a fazer milagres e o povo tinha por ele grande veneração. Mas, desgostoso com um desvio de conduta de um fiel, abandonou inopinadamente Quixará. E na saída da vila (que à época fazia parte do município de Crato, juntamente com Barbalha e Caririaçu) o Padre Henrique – debaixo de um pé de Juazeiro, no sítio Lagoa de Dentro – bateu a poeira dos sapatos e disse: Fica-te Quixará, que de Quixará não haverás de passar.

Hoje, Farias Brito sequer lembra o Quixará mais recente – o da década 40 do século passado – quando lá viveu outro de seus vigários tido também como santo, o cônego Manoel Feitosa, que lá morreu e foi enterrado, no piso da antiga Matriz de Nossa Senhora da Conceição. Esta igreja, de quando em vez, na época da invernada, era invadida pelas águas do Rio Cariús, que chegava ao seu patamar e banhava de leve o túmulo do cônego Feitosa, onde estava colocada uma pequena lápide com a inscrição Etian se mortuus fuerit vivet – Juan II, 25.

Farias Brito mudou. Na solenidade da última terça-feira vi e ouvi a Banda de Música Municipal Padre Davi Moreira, formada por jovens músicos daquela cidade. Vi alunos das escolas da cidade, perfilados com suas fardas a cantarem o Hino fariasbritense. Vi adultos bem vestidos, comerciantes falando na pujança dos seus negócios e jovens sonhando em cursar a universidade. Pouca gente dali, dos dias atuais, ouviu falar no desabafo do padre Henrique. Há décadas mudaram o nome de Quixará para Farias Brito.

Quixará ficou. Farias Brito sonha com progresso e desenvolvimento.

Armando Lopes Rafael