Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Funes, o memorioso - Jorge Luis Borges



Recordo-o (não tenho o direito de pronunciar esse verbo sagrado, apenas um homem na terra teve o direito e tal homem está morto) com uma obscura passiflórea na mão, vendo-a como ninguém jamais a vira, ainda que a contemplasse do crepúsculo do dia até o da noite, uma vida inteira. Recordo-o, o rosto taciturno e indianizado e singularmente remoto, por trás do cigarro. Recordo (creio) suas mãos delicadas de trançador. Recordo próximo dessas mãos um mate, com as armas da Banda Oriental, recordo na janela da casa uma esteira amarela, com uma vaga paisagem lacustre. Recordo claramente a sua voz; a voz pausada, ressentida e nasal de orillero antigo, sem os assobios italianos de agora. Mais de três vezes não o vi; a última, em 1887... Parece-me muito feliz o projeto de que todos aqueles que o conheceram escrevam sobre ele; meu testemunho será por certo o mais breve e sem dúvida o mais pobre, porém não o menos imparcial do volume que vós editareis. A minha deplorável condição de argentino impedir-me-á de incorrer no ditirambo - gênero obrigatório no Uruguai; quando o tema é um uruguaio. Literato, cajetilla, porteño. Funes não disse essas palavras injuriosas, mas de um modo suficiente me consta que eu representava para ele tais desventuras. Pedro Leandro Ipuche escreveu que Funes era um precursor dos super-homens; "Um Zaratustra cimarrón e vernáculo"; não o discuto, mas não se deve esquecer que era também natural de Fray Bentos, com certas limitações incuráveis.

A minha primeira lembrança de Funes é muito clara. Vejo-o em um entardecer de Março ou Fevereiro do ano de 1884. Meu pai, nesse ano, levara-me a veranear em Fray Bentos. Voltava com meu primo Bernardo Haedo da estância de San Francisco. Voltávamos cantando, a cavalo, e essa não era a única circunstância da minha felicidade. Após um dia abafado, uma enorme tempestade cor cinza escura havia escondido o céu. Alentava-me o vento Sul, já enlouqueciam-se as árvores; eu tinha o temor (a esperança) de que nos surpreenderia em um descampado a água elemental. Apostamos uma espécie de corrida com a tempestade. Entramos em um desfiladeiro que se aprofundava entre duas veredas altíssimas de tijolo. Escurecera repentinamente; ouvi passos rápidos e quase secretos no alto; levantei os olhos e vi um rapaz que corria pela vereda estreita e esburacada como que por uma parede estreita e esburacada. Recordo a bombacha, as alpargatas, recordo o cigarro no rosto duro, contra a densa nuvem já sem limites. Bernardo gritou-lhe imprevisivelmente: Que horas são, Ireneo? Sem consultar o céu, sem deter-se, o outro respondeu: Faltam quatro minutos para as oito, jovem Bernardo Juan Francisco. A voz era aguda, zombeteira.

Sou tão distraído que o diálogo a que acabo de me referir não teria chamado a minha atenção se não o tivesse enfatizado o meu primo, a quem estimulavam (creio) certo orgulho local, e o desejo de mostrar-se indiferente à réplica tripartite do outro.

Disse-me que o rapaz do desfiladeiro era um tal Ireneo Funes, conhecido por algumas peculiaridades como a de não se dar com ninguém e a de saber sempre a hora, como um relógio. Complementou dizendo que era filho de uma passadeira do povo, Maria Clementina Funes, e que alguns diziam que seu pai era um médico de saladeiro, um inglês O’Connor, e outros um domador ou rastreador do departamento de Salto. Vivia com a sua mãe, na curva da quinta dos Laureles.

Nos anos de 1885 e 1886 veraneamos na cidade de Montevideo. Em 1887 voltei a Fray Bentos. Perguntei, como é natural, por todos os conhecidos e, finalmente, pelo "cronométrico Funes". Responderam-me que um redomão o havia derrubado na estância de San Francisco, e que havia se tornado paralítico, sem esperança. Recordo a sensação de incômoda magia que a notícia despertou-me: a única vez que eu o vi, vínhamos a cavalo de San Francisco e ele andava em um lugar alto; o fato, na boca do meu primo Bernardo, tinha muito de sonho elaborado com elementos anteriores. Disseram-me que não se movia da cama, os olhos repousados na figueira do fundo ou em uma teia de aranha. Ao entardecer, permitia que o levassem para perto da janela. Levava a arrogância ao ponto de simular que era benéfico o golpe que o havia fulminado... Duas vezes o vi atrás da relha, que toscamente enfatizava a sua condição de eterno prisioneiro; uma, imóvel, com os olhos cerrados; outra, imóvel também, absorto na contemplação de um aromático galho de santonina.

Não sem um certo orgulho havia iniciado naquele tempo o estudo metódico do latim. A minha mala incluía o De viris illustribus de Lhamond, o Thesaurus de Quicherat, os comentários de Júlio César e um volume ímpar da Naturalis historia de Plínio, que excedia (e continua excedendo) as minhas modestas virtudes de latinista. Tudo se propaga em um povoado; Ireneo, em seu rancho das orillas, não tardou em enteirar-se da chegada desses livros anômalos. Dirigiu-me uma carta florida e cerimoniosa, na qual recordava no encontro, desditosamente fugaz, "do dia 7 de Fevereiro de 1884", ponderava os gloriosos serviços que Don Gregorio Haedo, meu tio, falecido nesse mesmo ano, "havia prestado às duas pátrias na valorosa jornada de Ituzaingó", e me solicitava o empréstimo de qualquer dos volumes, acompanhado de um dicionário "para a boa intelecção do texto original, pois todavia ignoro o latim". Prometia devolvê-los em bom estado, quase imediatamente. A letra era perfeita, muito perfilada; a ortografia, do tipo que Andrés Bello preconizou: i por y, j por g. A princípio, suspeitei naturalmente tratar-se de uma zombaria. Meus primos asseguraram que não, que eram coisas de Ireneo. Não sabia se atribuía ao atrevimento, à ignorância ou à estupidez a idéia de que o árduo latim não requeresse mais instrumento do que um dicionário; para desencorajá-lo completamente enviei-lhe o Gradus ad parnassum de Quicherat e a obra de Plínio.

No dia 14 de Fevereiro telegrafaram-me de Buenos Aires que voltasse imediatamente, pois meu pai não estava "nada bem". Deus me perdoe; o prestígio de ser o destinatário de um telegrama urgente, o desejo de comunicar a toda Fray Bentos a contradição entre a forma negativa da notícia e o peremptório advérbio, a tentação de dramatizar a minha dor, fingindo um estoicismo viril, talvez distraíram-me de toda a possibilidade de dor. Ao fazer a mala, notei que me faltavam o Gradus e o primeiro tomo da Naturalis historia. O "Saturno" zarpava no dia seguinte, pela manhã; essa noite, depois da janta, dirigi-me à casa de Funes. Assombrou-me que a noite fora não menos pesada que o dia.

No humilde rancho, a mãe de Funes recebeu-me.

Disse-me que Ireneo estava no quarto dos fundos e que não me estranhasse encontrá-lo às escuras, pois Ireneo preferia passar as horas mortas sem acender a vela. Atrevessei o pátio de lajota, o pequeno corredor; cheguei ao segundo pátio. Havia uma parreira; a escuridão pareceu-me total. Ouvi prontamente a voz alta e zombeteira de Ireneo. Essa voz falava em latim; essa voz (que vinha das trevas) articulava com moroso deleite um discurso, ou prece, ou encantamento. Ressoavam as sílabas romanas no pátio de terra; o meu temor as tomava por indecifráveis, intermináveis; depois, no enorme diálogo dessa noite, soube que formavam o primeiro parágrafo do 24o capítulo do 7o livro da Naturalis historia. O tema desse capítulo é a memória: as últimas palavras foram ut nihil non iisdem verbis redderetur auditum.

Sem a menor mudança de voz, Ireneo disse-me o que se passara. Estava na cama, fumando. Parece-me que não vi o seu rosto até a aurora; creio lembrar-me da brasa momentânea do cigarro. O quarto exalava um vago odor de umidade. Sentei-me, repeti a estória do telegrama e da enfermidade de meu pai.

Chego, agora, ao ponto mais difícil do meu relato. Este (é bem verdade que já o sabe o leitor) não tem outro argumento senão esse diálogo de há já meio século. Não tratarei de reproduzir as suas palavras, irrecuperáveis agora. Prefiro resumir com veracidade as muitas coisas que me disse Ireneo. O estilo indireto é remoto e débil; eu sei que sacrifico a eficácia do meu relato; que os meus leitores imaginem os períodos entrecortados que me abrumaram essa noite.

Ireneo começou por enumerar, em latim e espanhol, os casos de memória prodigiosa registrados pela Naturalis historia: Ciro, rei dos persas, que sabia chamar pelo nome todos os soldados de seus exércitos; Metríadates e Eupator, que administrava a justiça dos 22 idiomas de seu império; Simónides, inventor da mnemotecnia; Metrodoro, que professava a arte de repetir com fidelidade o escutado de uma só vez. Com evidente boa fé maravilhou-se de que tais casos maravilharam. Disse-me que antes daquela tarde chuvosa em que o azulego o derrubou, ele havia sido o que são todos os cristãos; um cego, um surdo, um tolo, um desmemoriado. (Tratei de recordar-lhe a percepção exata do tempo, a sua memória de nomes próprios; não me fez caso.) Dezenove anos havia vivido como quem sonha: olhava sem ver, ouvia sem ouvir, esquecia-se de tudo, de quase tudo. Ao cair, perdeu o conhecimento; quando o recobrou, o presente era quase intolerável de tão rico e tão nítido, e também as memórias mais antigas e mais triviais. Pouco depois averiguou que estava paralítico. Fato pouco o interessou. Pensou (sentiu) que a imobilidade era um preço mínimo. Agora a sua percepção e sua memória eram infalíveis.

Num rápido olhar, nós percebemos três taças em uma mesa; Funes, todos os brotos e cachos e frutas que se encontravam em uma parreira. Sabia as formas das nuvens austrais do amanhecer de trinta de abril de 1882 e podia compará-los na lembrança às dobras de um livro em pasta espanhola que só havia olhado uma vez e às linhas da espuma que um remo levantou no Rio Negro na véspera da ação de Quebrado. Essas lembranças não eram simples; cada imagem visual estava ligada a sensações musculares, térmicas, etc. Podia reconstruir todos os sonhos, todos os entresonhos. Duas ou três vezes havia reconstruído um dia inteiro, não havia jamais duvidado, mas cada reconstrução havia requerido um dia inteiro. Disse-me: Mais lembranças tenho eu do que todos os homens tiveram desde que o mundo é mundo. E também: Meus sonhos são como a vossa vigília. E também, até a aurora; Minha memória, senhor, é como depósito de lixo. Uma circunferência em um quadro-negro, um triângulo retângulo; um losango, são formas que podemos intuir plenamente; o mesmo se passava a Ireneo com as tempestuosas crinas de um potro, com uma ponta de gado em um coxilha, com o fogo mutante e com a cinza inumerável, com as muitas faces de um morto em um grande velório. Não sei quantas estrelas via no céu.

Essas coisas me disse; nem então nem depois coloquei-as em dúvida. Naquele tempo não havia cinematógrafos nem fonógrafos; é, no entanto, verossímil e até incrível que ninguém fizera um experimento com Funes. O certo é que vivemos postergando todo o postergável; talvez todos saibamos profundamente que somos imortais e que mais cedo ou mais tarde, todo homem fará todas as coisas e saberá tudo.

A voz de Funes, vinda da escuridão, seguia falando.

Disse-me que em 1886 havia elaborado um sistema original de numeração e que em muito poucos dias havia ultrapassado vinte e quatro mil. Não o havia escrito, porque o pensado uma só vez já não podia desvanecer-lhe. Seu primeiro estímulo, creio, foi o descontentamento de que os trinta e três uruguaios requeressem dois signos e três palavras, em lugar de uma só palavra e um só signo. Aplicou logo esse disparatado princípio aos outros números. Em lugar de sete mil e treze, dizia (por exemplo) Máximo Pérez; em lugar de sete mil e catorze, A Ferrovia; outros números eram Luis Melián Lafinur, Olivar, enxofre, os rústicos, a baleia, o gás, a caldeira, Napoleão, Agustín de Vedia. Em lugar de quinhentos, dizia nove. Cada palavra tinha um signo particular, uma espécie de marca; as últimas eram muito complicadas... Eu tratei de explicar-lhe que essa rapsódia de vozes desconexas era precisamente o contrário de um sistema de numeração. Eu lhe observei que dizer 365 era dizer três centenas, seis dezenas, cinco unidades; análise que não existe nos "números". O Negro Timoteo a manta de carne. Funes não me entendeu ou não quis me entender.

Locke, no século XVII, postulou (ou reprovou) um idioma impossível no qual cada coisa individual, cada pedra, cada pássaro e cada ramo tivesse um nome próprio; Funes projetou alguma vez um idioma análogo, mas o desejou por parecer-lhe demasiado geral, demasiado ambíguo. De fato, Funes não apenas recordava cada folha de cada árvore de cada monte, mas também cada uma das vezes que a havia percebido ou imaginado. Resolveu reduzir cada uma de suas jornadas pretéritas a umas setenta mil lembranças, que definiria logo por cifras. Dissuadiram-no duas considerações: a consciência de que a tarefa era interminável, a consciência de que era inútil. Pensou que na hora da morte não havia acabado ainda de classificar todas as lembranças da infância.

Os dois projetos que foram indicados (um vocabulário infinito para a série natural dos números, um inútil catálogo mental de todas as imagens da lembrança) são insensatos, mas revelam certa balbuciante grandeza. Deixam-nos vislumbrar ou inferir o vertiginoso mundo de Funes. Este, não o esqueçamos, era quase incapaz de idéias gerais, platônicas. Não apenas lhe custava compreender que o símbolo genérico cão abarcava tantos indivíduos díspares de diversos tamanhos e diversa forma; perturbava-lhe que o cão das três e catorze (visto de perfil) tivesse o mesmo nome que o cão das três e quatro (visto de frente). Sua própria face no espelho, suas próprias mãos, surpreendiam-no cada vez. Comenta Swift que o imperador de Lilliput discernia o movimento do ponteiro dos minutos; Funes discernia continuamente os avanços tranqüilos da corrupção, das cáries, da fatiga. Notava os progressos da morte, da umidade. Era o solitário e lúcido espectador de um mundo multiforme, instantâneo e quase intolerantemente preciso. Babilônia, Londres e Nova York têm preenchido com feroz esplendor a imaginação dos homens; ninguém, em suas torres populosas ou em suas avenidas urgentes, sentira o calor e a pressão de uma realidade tão infatigável como a que dia e noite convergia sobre o infeliz Ireneo, em seu pobre subúrbio sul americano. Era-lhe muito difícil dormir. Dormir é distrair-se do mundo; Funes, de costas na cama, na sombra, figurava a si mesmo cada rachadura e cada moldura das casas distintas que o rodeavam. (Repito que o menos importante das suas lembranças era mais minucioso e mais vivo que nossa percepção de um gozo físico ou de um tormento físico). Em direção ao leste, em um trecho não pavimentado, havia casas novas, desconhecidas. Funes as imaginava negras, compactas, feitas de treva homogênea; nessa direção virava o rosto para dormir. Também era seu costume imaginar-se no fundo do rio, mexido e anulado pela corrente.

Havia aprendido sem esforço o inglês, o francês, o português, o latim. Suspeito, contudo, que não era muito capaz de pensar. Pensar é esquecer diferenças, é generalizar, abstrair. No mundo abarrotado de Funes não havia senão detalhes, quase imediatos.

A receosa claridade da madrugada entrou pelo pátio de terra.

Então vi a face da voz que toda a noite havia falado. Ireneo tinha dezenove anos; havia nascido em 1868; pareceu-me tão monumental como o bronze, mais antigo que o Egito, anterior às profecias e às pirâmides. Pensei que cada uma das minhas palavras (que cada um dos meus gestos) perduraria em sua implacável memória; entorpeceu-me o temor de multiplicar trejeitos inúteis.

Ireneo Funes morreu em 1889, de uma congestão pulmonar.


Tradução de Marco Antonio Frangiotti

(in Jorge Luis Borges: Prosa Completa, Barcelona: Ed. Bruguera, 1979, vol. 1., pgs. 477-484).

Difícil Moradia


Respostas ao Desafio - Foto de Heládio Teles Duarte



Corujinha Baiana disse ...

E o céu resplandece !

Sol ou Lua ?
Ouro ou Prata ?
Dia ou Noite ?
Estrela ou Satélite ?

No céu
o brilho nos confunde.

Mas os dois astros sabem
Em todo seu esplendor,
Que é preciso um sair
Para que o outro brilhe.

E lá, nas alturas,
quando os dois teimam
em disputar o mesmo Espaço ...

O Céu escurece ...
A Luz desaparece ...
E o encanto se desfaz.

Liduina Belchior disse...

Vejo a lua e um céu inteiramente nosso.

Somos livres prá pensar em Tudo

Repensar a vida, ir até este "infinito",relaxar,viajar...
Refletir,contemplar, olhar de novo essa lua e cogitar :

ela também me pertence!!!!!

Socorro Moreira disse...


A lua de ontem
explodiu em nós
O sol da manhã,
nos encontrou acompanhados,
e ficou lua !



Francíria e Henrique- Uma linda história de amor !- Por Socorro Moreira



Conheci Francíria Alencar , quando cursávamos o curso primário ,no Instituto São Vicente Férrer.
Menina amiga , estudiosa, responsável , era destacadamente forte, no jogo do "Mata".
A época da política mudava seus ânimos. Não brigávamos porque estávamos sempre do mesmo lado : UDN !
Fizemos o ginásio no Colégio Dom Bosco.Trocamos confidências , nos primeiros encantos do amor.
E o seu primeiro amor foi Henrique.
Namoraram alguns anos, mas um dia a história terminou (?). Os caminhos se trocaram , e a vida os separou.
Algumas décadas depois, e nessa década atual - o reencontro !
E não é pra gente acreditar em magia , e em histórias de fadas ?
Pois eu acredito e gosto de histórias de amor.
Uma literatura sedimentada, nos contos de M.Delly , tornaram-me paladina dos finais felizes !
Ontem, na comemoração do aniversário do Nilo Sérgio, o assunto fechou , em amores eternos !
O amor arrebatador, fadado, por Deus predestinado; aquele que os poetas escrevem, e as estrelas registram.
Na roda de homens sensíveis e mulheres apaixonadas , todo mundo soltou o verbo, e contou um pedaço da sua história de amor:

Eleonôra e Maurílio- 37 anos de casados, testemunharam que a cumplicidade e o bom humor, sustentam o amor !

Nilo Sérgio , o aniversariante, declarou com todas as letras , que está disposto a recomeçar um grande amor.Enquanto falava brilhava o seu olhar , buscando o sorriso da amada , que estava na roda, misto de alegria e desconfiança...(Será se a felicidade é simples , e o resgate é por conta do destino? )
Quando os dois querem , o amor é destemido. Nem precisa pegar fila, nem contar o tempo de espera . Acontece, quando a vida oportuniza, e volta pelo mesmo caminho, que seguiu na despedida.
Amor mal resolvido no passado, tem que ter uma nova chance, e se for merecido , a felicidade está ganha !
Os demais não se atreveram a fazer declarações explícitas, mas soltaram sentimentos , nas entrelinhas :
Marcos Cunha -as coisas do coração são inexplicáveis; assumem um primeiro plano...
Roberto e Fanca - parecem um casal de pombos. Ainda extasiados, vivem uma grande paixão.

Eu , Liduína, Aline, Zélia, Rosineide, Fátima e demais alencarinas ( Fásia, Fabíola, Fábia ) fizemos um pacto de silêncio , e guardamos na surdina, um amor ou sentimento, quem sabe ainda latente ou fervente... Ou talvez apaziguados pelas contingências ?

Ida Figueirêdo no seu jeito extrovertido, disse o nome do que sentia, sem pronunciar o nome do santo... Mas que é movida à paixão , isso ficou muito claro .

Senti que a minha função era de mediadora ... Valho-me da experiência , na identificação dos amores. E olha o resultado das minhas reflexões :
Ninguém deixou de sonhar. Alguns procuram no ar do passado, o cheiro de um amor.
Ele pode voltar , numa lufada de vento pra acender a fogueira, que guarda brasas, nas suas cinzas.

Amigos ,vamos acolher o amor, mesmo que ele continue distante dos "nós "!
.
Socorro Moreira

Sentimos falta de muitas presenças , depoimentos de Claude, Stela, e de todos que guardam uma linda história de amor para contar.

Edilma Rocha , enquanto ela tarda ...



REALISMO
(Sinhá D'amora- seu único poema)

Como estou hoje longe de você !

Seu arroubo, seu calor, viraram um papel molhado

Sinto a depressão infinita de quem não crê.

Abraçando com sofregidão, esse amargo bocado !


Jamais o quereria aos meus pés !...

De rainha que fui, verdadeira ou não...

Não interessa sabe-lo de cristalina fé.

Apenas me apraz o desapego de então.


Juras ?

Sei que seriam sentidas no momento

Mas para que ?

Se logo após tudo é mentira !

Prefiro aquele barulho

Do mar... verdoengo...

Sussurando aos eus ouvidos

Essa bela afirmativa.

AMA-TE A TI MESMA, OH ! MULHER !

Convive com a natureza rica

Embriagando-te como um ser qualquer...

E terás atingido o mais alto nível da vida


A AMIZADE
( uma poesia de Francoise Hardy)

Muitos dos meus amigos vieram das nuvens
Tendo o sol e a chuva como simples bagagens
Fizeram estação das amizades sinceras
As mais belas das quatro estações da terra
Teem a douçura das mais belas paisagens
E a fidelidade dos passaros migradouros
Em seus corações esta guardado uma ternura infinita
Mas as vezes, em seus olhos aparece a tristeza
Então
Veem aquecer
Comigo
E tu tambem virás
Poderão retornar as nuvens
E sorrir de novo para muitos outros rostos
Distribuir a tua volta um pouco da tua ternura
Quando alguem quizer te esconder a tristeza
Como não sabemos o que a vida nos dá
Pode ser, por minha vez, que eu seja mais ninguem
Se me restar um amigo que realmente me compreenda
Esquecerei ao mesmo tempo minhas lágrimas e dores
Então
Talvez eu venha a ti
Aquecer meu coração
Com tua chama

Dos arquivos de Edilma, matando a saudade da sua presença.

Tem um grande hotel em teu mundo ? - José do Vale Pinheiro Feitosa

Um ambiente muito diferente de tudo que é conhecimento do mundo. Escadas que se sucedem com outras escadas de um andar acima do outro. E apenas sabia que as escadas iam do chão ao sótão. Em cada andar tantas portas, entradas uma após as outras e dentro delas vidas que se multiplicavam em adereços, livros, discos, uma escova para dentes, um pente para cabelos. E ninguém era da família, parente ou aderente.

Um Grande Hotel, numa esquina para a Praça Siqueira Campos, na rua que vai para o Cine Moderno é um portal mágico entre séculos. No mundo do ambiente rural, sem luz elétrica, com água de cacimba, um paiol de milho, estrado levantado de queijos, o silêncio dos automotores, mas o grito do pavão. Um Grande Hotel é, de fato, uma abertura da Aida de Verdi para o interior fabuloso do mundo Egípcio, de um Etíope que cobiçava tal civilização.

Lá morava o professor de Português que corrigia estas falas, os sujeitos e seus predicados. Morou um sujeito dos Inhamuns, saíra do sertão, fora para o Rio de Janeiro, viveu mais de 30 anos naquela cidade e voltou, como os elefantes para morrer em volta de seu lago africano. Tal sujeito dormia e dormia, acordava pelas onze horas e logo comia seu almoço numa bacia carregada de misturas alimentares. O resto do tempo, entre o Grande Hotel e longas conversas com gentes que andam pelas ruas do Crato em busca de conversa como sopro de vida.

O circo chegou na cidade. Isso no tempo que um circo era tão grande que um shopping, destes que sucedem os mitos arquitetônicos da identidade urbana, não chegavam aos seus pés. Eram muito mais variados, animais selvagens, daqueles que só as fitas de cinema fotografaram, palhaços, dramas, trapézios, equilibristas, dançarinas e bandas. Mas o maior de tudo, a multidão que se acotovelava para adquirir uma entrada do espetáculo.

Pois foi na porta do Grande Hotel que a mulher do circo, uma bailarina de seus 16 anos, linda de doer, um sorriso de derreter, um corpo de acender, cabelos em coque que prometiam a enxurrada de todas as paixões. E do Grande Hotel saiu um filete de amor que, feito os versos de Marti, postos na Guatanamera, encantaram mais que o mar, tão imenso a prometer eternidade.

Mas do meu mundo do prédio do Grande Hotel, Edifício Figueira Teles escorre pela Rua Dr. João Pessoa uma permanência que não necessita de substrato para viver. Saindo do número 114, era lá que a cidade me dava um endereço, passava, com algum dinheiro no bolso, na porta da Livraria Católica que conhecia como a palma da mão. Em seguida, estava em frente às portas da loja elegante de Ernani Silva, que além de tudo honrava o centro da cidade, morando num sobrado sobre o próprio negócio. A casa de Dr. Elísio, corpulento homem entre a medicina e seu belíssimo sítio com engenho d´água. Mais alguns passos e encontrava o Deputado Filemon Teles, cabelos brancos de neve, bengala, uma vivacidade de velho político conservador, adonado da vida política da cidade.

Qual o quê? Era na esquina do Grande Hotel, bem no bico com vista plena para exuberância da praça que o menino caia nos braços da urbe luminosa. Um bar, mesa com pés de ferro fundido, tampo de uma pedra branca, cadeiras confortáveis, balcão com mostruário de vidros, o barulho de um refrigerador de picolé e sorvete, azulejos, quadros pendurados nas paredes e móveis de madeira que subiam cheios de vendas acima do balcão.

Nesse bar, sob a vida do Grande Hotel, uma bomboneira de vidro, arredondada e compartimentada, giratória, cheia de sonhos de crianças. A cada pequeno giro os papeis chamativos dos bombons faiscavam nos olhos e mourejavam a boca. Eram tantas as possibilidades que só a cidade pode. O exercício era girar para ver antes de apontar o dedo para o desejo sobre todos outros desejos já conhecidos.

Uma perfeita cor transparente do vermelho com mistura de azul, um solferino de sedução. Impresso um casal, ele vestido com um fraque preto e ela com vestido longo amarelo, dançando aberto como asas em evolução de vôo. Em seguida, um papel alumínio, hoje tão comum, mas, então, um brilho de prata no olhar. Finalmente a terra dos sonhos, com mais da metade em formato de globo e no outro lado um pólo achatado. Tinha este cosmo uma crosta de chocolate puro. Abaixo do chocolate um biscoito crocante, aerado como os waffles. No centro deste mundo de sabor, o núcleo era um mistério doce, com lembranças de castanhas.

E disseram que o Grande Hotel irá abaixo para dar vida a mais uma rua Miguel Lima Verde mutilada ou quem sabe arremedada. E dos escombros, surgirá, como um fênix banal, sem qualquer vida nova, sem simpatia, qualquer identidade, o palco do faz de conta de um Shopping, em inglês mesmo, pois é deste tipo de suicídio que a inapetência urbana vive.

No final quem lembrará do Crato?

Mas um bombom SONHO DE VALSA ninguém me rouba.

José do Vale

*José do Vale Pinheiro Feitosa – nascido na cidade de Crato, Ceará, em dezembro de 1948, morando no Rio de Janeiro há 34 anos. Médico do Ministério da Saúde. Publicou o Romance Paracuru em 2003, assina matérias em alguns blogs e jornais. Em literatura agita crônicas, contos, poesia e ensaios de temas variados. Gosta de pintar e tem alguns trabalhos de escultura.

Assis Lima - Poemas Arcanos

"Francisco Assis de Sousa Lima. Este é o nome de um poeta. Diante de tantas festividades e vaidades afloradas, diante de tanta gente que não é o que pensa ser, eis que surge um livro de poesia, de um poeta cearense. Francisco Assis de Sousa Lima. Este é seu nome. Um poeta.


Psiquiatra e pesquisador em cultura popular. Nesta área publicou Conto popular e comunidade narrativa. O poeta reuniu poemas escritos ao longo de 30 anos. O resultado é resplandecente, e a expressão é essa mesma. Basta ver o livro Poemas arcanos, que ele assina apenas como Assis Lima.
Assis Lima é o nome do poeta que, ao meio desses escombros, surge do Ceará, nascido em Crato. De vez em quando é bom ver um livro de poesia. E isso, em relação à literatura inclui, também, o caráter duvidoso de muitos que julgam ter a grandeza que nunca terão. Mas a poesia ainda existe. De alguma maneira, apesar de tudo, ainda existe poesia no Brasil. Ainda existem alguns poetas. Só alguns, mas existem. Prova disso é este livro.
Lima abre seu livro com palavras de um autor anônimo, para melhor situar seu poema e o que pensa, afinal, da própria poesia e da existência, existência mesmo, sem discursos: "O mistério é protegido não pelo segredo, mas de outra maneira. A sua proteção é a sua luz, ao passo que a proteção do segredo é a obscuridade. Quanto ao arcano, que é o grau médio entre o mistério e o segredo, é protegido pela penumbra. Porque ele se revela e se oculta por meio do simbolismo. O simbolismo é a penumbra dos arcanos". A verdade é que a poesia de Assis Lima se impõe por uma qualidade cada vez mais difícil neste país de gente que se diz poeta e faz da poesia um cartão de visita para expor a vaidade dos imbecis.
Assis Lima sabe que não é assim. A poesia é a poesia, ela mesma, sem mais nem menos. O poema se constrói com dedicação e trabalho, exercício existencial e não mecânico e com o alarde dos que se julgam sábios: "Minhas certezas são poucas,/ são pulsações que nem peço./ Trago uma herança de medo/ e a dor de um banzo tão velho/ que já não posso, nem quero,/ suportar tamanho peso". O poeta fala da sua dor de ser, quando ser parece impossível. As pessoas que andam procurando boa poesia para ler devem sair em busca deste livro. Um livro que se impõe pela beleza.
Um livro de poesia que se impõe só pela poesia, sem aquela movimentação ridícula da política literária, que manda e desmanda, faz e acontece. Não. Assis Lima apenas mostra sua poesia, uma poesia que é poesia. Como estes quatro versos, início de um soneto. É, um soneto!: "Pelos ventos nativos, ruminantes,/ brincam pastores céleres de outrora./ Saltam leves, ligeiros, ou contemplam/ como quem doura o trigo e se abstrai". Destaque-se, especialmente, os seis poemas que compõem a parte Temas para Lua Cambará: "O tempo me ensinou a ruminar./ Eu rumino o bredo dos séculos que comi".
Poemas arcanos é um livro de poemas e de poesia. Sem discursos inócuos. Isso é o que mais se vê, especialmente em causa própria.Neste livro de poesia, o poeta narra o que vê e se envolve, até porque poesia sem envolvimento não é poesia. É outra coisa que nem convém dizer. "
.
Ateliê Editorial

A poesia de Geraldo Urano

sua boca
é uma boca pequena
sua boca
é uma boca vermelha
e por coincidência
sua boca
é a boca linda que me beija
até chegar a hora do sol
que virá ao encontro de nós dois
dois pequenos sóis
na bicicleta do tempo
por isso digo
da cor da alegria
é azul três vezes
--------------------------------
agora é tarde pra dizer
baby te amo
"inês é morta"
agora é o começo das tristezas
e você diz
é bom ir a missa
agora você pode enlouquecer
se não tomar cuidado
ela saiu na revista
agora ninguém segura
só um milagre
é o que nós todos estamos precisando
-------------------------------------
uma saudade a mil
dos amigos
estou em plena solidão
mundão de pedras
os robôs passam
garotas macias
elas são tão dispersas
o que ainda me toca
são os olhos fundos da pérsia
------------------------------
o mundo está cheio de coisas
como as minhas cantigas
é um sapo que pula
é um relâmpago que brilha
na velha cidade
a senhora londres me investiga

Programação da Bienal Internacional de Dança em Juazeiro do Norte -por Tânia Peixoto

Dias 09, 10 e 11/10
Oficina Teorica e pratica com Flávio Sampaio e Paracuru Cia. de Dança
Sempre de 8h às 12h e de 14h às 18h
Local: Academia RL Nucleo.
Cronograma: Aula de Balé Clássico, História da Dança do Século XX, Hip
Hop e Mostra comentada de vídeos de dança (Moderno e pós-moderno)

ESPETÁCULOS/ LOCAL - SESC JUAZEIRO DO NORTE -Entrada Franca.

Dia 20/10 – TERÇA-FEIRA

20h – Varal – Andréa Sales (CE)
21h – Na dobra do tempo – Lavínia Bizzotto (RJ)
Local: SESC Juazeiro

Dia 21/10 – QUARTA-FEIRA

19h – BR 116 – Alysson Amancio Companhia de Dança (CE)
Local: SESC Juazeiro

Dia 22/10 – QUINTA-FEIRA

19h – Cantinho de nóis – J.Gar.Cia Dança Contemporânea (SP)
Local: SESC Juazeiro

Dia 23/10 – SEXTA-FEIRA

19h – Entre e saia para as entre salas – Cia. Etra (CE)
Local: SESC Juazeiro

Projeto "Água pra que te quero"! - por Nívia Uchôa


Letras Musicais - DIA DO COMPOSITOR - Por Claude Bloc

Letras musicais
onde viceja o néctar
claves de sol ,
sonatas, sinfonias,
o despertar do amor
em dó maior

flores do âmago,
o mínimo no máximo,
o sedutor encanto,
o brinde aos sentimentos
sustenidos ...


Um toque musical
sensibilidades
sons e tons
melodias vibrantes
que se soltam pelo vale
em ré, em mi
em pura harmonia...
e neste dia
que já seria
feliz em si (bemol?)
será também em ti,
compositor!

.
Homenagem aos compositores de nossa terrinha e em especial a Pachelly, Abidoral, Cleivan Paiva, Zé Nilton, Salatiel, Célia Dias, Correinha, Ulisses Germano, Calazans Callou, Tiago Araripe ... sem esquecer tantos outros que encantaram e adornaram nossa vida com a sua música.


Texto por Claude Bloc
.

Convite - Exposição Ladeira das Cores - Por Nívia Uchôa


Abertura hoje no SESC - Juazeiro do Norte-Ce as 19h

A volta da banda Fator RH

A banda Fator RH, uma das pioneiras do movimento roqueiro caririense, está de volta para uma única apresentação. Será na abertura do Festival Estudantil da Canção, neste próximo sábado, dia 10, às 19:30, no Centro Cultural do Araripe (antiga Rffsa).

Da formação original, já confirmaram presença Carlos Rafael, Marcos Leonel e Igor Arraes.

Enquanto não chega a hora do show, matem a saudade com essas fotos e um texto escrito por Marcos Leonel, publicado no Cariricult.


BANDA FATOR RH- Final dos anos 80, Baile Rock à Fantasia,
Bar Banho de Bica, em Crato. Da esquerda para a direita: Sergestes
Tocantins, Lupeu , João Eymard (na bateria), Calazans Callou e
Marcos Leonel.



UMA QUESTÃO DE SANGUE

Por Marcos Leonel


Essa é a primeiríssima formação do Fator RH, segunda banda de rock autoral do Cariri. Após o término da pioneira Pombos Urbanos, - que tinha em sua formação Carlos Rafael, bateria e voz; Nicodemos, guitarra e voz; Segestes Tocantins, baixo e voz; e Marcos Lubisome, guitarra - eu, Segestes e Rafael formamos um grupo de ensaio que originou a banda Fator RH. Primeiro Calazans se juntou ao grupo, para tocar baixo. Depois Lupeu foi integrado como vocalista e anarquista. Logo em seguida Calazans trouxe João Eimar para tocar bateria no lugar de Rafael, que passou à linha de frente nos vocais. Estava feita a conspiração, só faltava a guerrilha.

Corriam os anos 80, a new wave comandava o cenário musical do rock lá fora e aqui começava a todo vapor o chamado Brock. Estávamos lá, inconformados com a falta de oportunidades e com a pasmaceira do quadro cultural caririense. O Fator RH estava na área, não para fazer o papel de testemunha ocular, mas participar de tudo aquilo, mesmo entrando pela porta de trás e sem nenhum convite. Nossa trincheira era o discurso poético, tendo à frente as sacações geniais de Rafael, o cinismo beat de Lupeu e a lisergia do meu universo musical. Ouvíamos de tudo: desde a música independente brasileira até às experimentações da Orchestra Universal de Sun Ra.

Nossas influências eram a música crua do Hasker Dü, do Ramones, Sex Pistols e Raul Seixas, via Segestes Tocantins; a pauleira sem misericórdia do Sepultura e do Slayer, via Lupeu; os blues e a música alternativa brasileira, via Rafael; o experimentalismo de Robert Frip e Frank Zappa, da minha parte; o rock dos anos 70, através de João Eimar; e a poesia bem sacada de Zé Ramalho, através de Calazans. Nosso som era cru, era na veia, era muito mais rock’n’roll do que aquilo que fazia sucesso, como Paralamas, Legião e outras coisas mais intragáveis como Kid Abelha e Gang Noventa. Nosso som estava mais para Talking Heads e Joy Division do que para o heavy metal poser do período; estava muito mais para Isca de Polícia e Tiago Araripe do que para Titans ou Legião.

Era um período difícil demais para quem fazia rock, sendo autoral ainda nem se fala. Não existiam espaços. Nós é que inventávamos, como em encontros de estudantes e campanhas eleitorais do PT. Também não existia público, nós é que inventávamos que tínhamos público. Comprar encordoamento era uma verdadeira aventura, e cara. Quando João Eimar anunciou que tinha uma bateria, foi uma verdadeira festa. Os ensaios valiam mais do que as próprias apresentações. Eram verdadeiras epopéias. Ensaiávamos na casa de Segestes, um sítio, fora do Juazeiro (hoje é o parque ecológico das Timbaúbas). Muitas comédias temos para contar. São lances pitorescos, dignos de um best seller. Essa formação do Fator RH tinha cerca de sete músicas no repertório, o que já era demais. Entre elas figuravam: Nomes, Buraco Negro, Fator RH, Margarete, Marinalva e outras pérolas do cancioneiro rebelde caririense. Pena que eu não lembro onde foi essa apresentação. Sei que era Rafael de bateria e voz; Lupeu nos vocais; eu e Segestes de guitarra; e Calazans no baixo.

Marcos Leonel

MEDITAÇÕES - Por João Marni


Fênix – O pai que volta;
o choro da mãe;
a culpa e o perdão;
o desespero e a esperança;
a noite e o dia;
o sorriso da criança;
fim da agonia
.

Calazans Callou - Um músico e compositor cratense


José Calazans Callou Neto, mais precisamente, Calazans Callou.
Callou vem desenvolvendo um trabalho autoral árido, mas cultivável. Nascido no Crato-Ce na década de sessenta, época de transição social, onde surgiu no mundo, uma nova ordem, o formato universal na arte musical. Cresceu ouvindo rádio, como as AM Educadora e Araripe, no Crato. Surge a vontade de um dia fazer música, ter suas próprias composições.
Já nos meados da década de oitenta, integrou a pioneira banda de rock autoral do cariri cearense, a banda Fator Rh, como baixista, depois transformando-se em Lerfa-Mu, lançando a primeira fita demo da região. No começo da década de noventa, mudou-se para o Recife. Logo engajou-se aos movimentos musicais alternativos, como guitarrista da banda Gnomos da Metrópole, ganhou em 1996 o prêmio de melhor banda de rock do circuito universitário promovido pelo Centro de Artes da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. Nesse mesmo ano surge a banda Nacacunda no Crato-Ce, onde veio a participar da etapa Norte/Nordeste do SKOL ROCK, no Recife. Junta-se aos caras da Nacacunda e passa a fazer inúmeros shows por diversas cidades do cariri cearense.
Em 2005, começou uma nova fase como produtor musical, produzindo o CD ao Rei da banda Astro Reggae, no ano seguinte, produziu o primeiro cd da banda Nacacunda, Na Lata. Em 2007, já em trabalho solo, produziu o seu primeiro cd Estação Urano, ainda não lançado. São 11 músicas em parceria com o poeta maior Geraldo Urano. A partir daí começou a tocar em diversos locais da capital pernambucana. Com esse trabalho, inscreveu-se no Festival Cariri da Canção, 2008, ficando em quarto lugar e ganhou em parceria com o compositor Luiz Carlos Salatiel o prêmio de melhor intérprete, com a música Girassóis (Calazans Callou/Geraldo urano).
Atualmente, está com o show Estação Urano, onde mescla o trabalho autoral com compositores já consagrados da música pop brasileira. Dentre eles: ( Walter Franco, Karnak, Zeca Baleiro, Abidoral Jamacarú, Pachelly Jamacarú, Los Hermanos, etc.).
* Neto de Seu Calazans e Dona mariquinha, pais dos meus amigos de infância e adolescência.
Filho de Chico Callou e Dona Severina ( minha querida professora primária).
Calazans circulava , nos bosques de eucaliptos dos anos 80 ( Parque Municipal do Crato). Lá onde uma tribo criativa e amiga, vivia se reunindo. Nunca fomos íntimos, mas sempre fomos ppróximos.
Tenho-lhe um verdadeiro afeto , e velada admiração.
Desejo-lhe nesse dia dos compositores, sucesso, e plena realização como músico sensível de valioso talento. Todos que o conhecem podem testemunhar !
Calazans, um abraço do Cariricaturas !

Festa Imodesta - "...Salve o compositor popular ".

Festa Imodesta
Chico Buarque
Composição: Caetano Veloso
.
Minha gente
Era triste amargurada
Enfrentou a batucada
Pra deixar de padecer
Salve o prazer
Salve o prazer
Uma festa imodesta como esta
Vamos homenagear
Todo aquele que nos empresta sua festa
Construindo coisas pra se cantar
Tudo aquilo que o malandro pronuncia
E o otário silência
Tudo aquilo que se dá ou não se dá
Passa pela fresta da cesta e resta a vida
Acima do coração
Que sofre com razão
A razão que volta do coração
E acima da razão a rima
E acima da rima a nota da canção
Bemol natural sustenida no ar
Viva aquele que se presta a esta ocupação
Salve o compositor popular.
Tudo aquilo que o malandro pronuncia
E o otário silência
Tudo aquilo que se dá ou não se dá
Passa pela fresta da cesta e resta a vida
Acima do coração
Que sofre com razão
A razão que volta do coração
E acima da razão a rima
E acima da rima a nota da canção
Bemol natural sustenida no ar
Viva aquele que se presta a esta ocupação
Salve o compositor popular
Salve o compositor popular.

Incomensurável - por Abidoral Jamacaru



Composição: Abidoral Jamacaru

.
Incandesce a cidade
o campo, o espaço
e o brilho incomensurável
de qualquer lugar
jorra mel do teu riso
brandura dos olhos
perfuma as águas
por onde andar
e faz coro com o canto
de quem não tem rancho
faz pouso no rancho
de quem quer amar
é amor
seu padrinho o tempo
já faz tanto tempo
que dá todo tempo
de andar pelo tempo
do campo florar
eu te dou de presente
o aroma da flor
o zumbido da abelha
a frescura da chuva
pra você levar
e antecipo as coisas
que ainda não tenho
mas que um dia eu lhe entrego
pra você velar
gira amor, girassol
a fragrância, o brilho
o zumbido, a abelha
a brandura em torno de você
tudo é deus, tudo é seu, tudo é meu
tudo chega no olho
e penetra no fundo
de quem quer amar

Amor Barato - Chico Buarque

Amor Barato
Composição: Francis Hime/Chico Buarque

.
Eu queria ser
Um tipo de compositor
Capaz de cantar nosso amor
Modesto

Um tipo de amor
Que é de mendigar cafuné
Que é pobre e às vezes nem é
Honesto

Pechincha de amor
Mas que eu faço tanta questão
Que se tiver precisão
Eu furto

Vem cá, meu amor
Aguenta o teu cantador
Me esquenta porque o cobertor é curto

Mas levo esse amor
Com o zelo de quem leva o andor
Eu velo pelo meu amor
Que sonha

Que enfim, nosso amor
Também pode ter seu valor
Também é um tipo de flor
Que nem outro tipo de flor

Dum tipo que tem
Que não deve nada a ninguém
Que dá mais que maria-sem-vergonha

Eu queria ser
Um tipo de compositor
Capaz de cantar nosso amor
Barato

Um tipo de amor
Que é de esfarrapar e cerzir
Que é de comer e cuspir
No prato

Mas levo esse amor
Com zelo de quem leva o andor
Eu velo pelo meu amor
Que sonha

Que, enfim, nosso amor
Também pode ter seu valor
Também é um tipo de flor
Que nem outro tipo de flor

Dum tipo que tem
Que não deve nada a ninguém
Que dá mais que maria-sem-vergonha


Uma pessoa especial - Por Rosa Guerrera


Pode até não falar a nossa linguagem,mas entende tudo que dizemos !Uma pessoa especial não precisar entrelaçar nossas mãos,mas nos conforta com um simples olhar !Uma pessoa especial não tenta ser especial ,mas nos faz especial no seu caminho !Uma pessoa especial não insiste em ficar ,mas aceita o convite para entrar no nosso coração!Uma pessoa especial não se emoldura em virtudes,mas mostra humildemente suas falhas !Uma pessoa especial não precisa gostar dos nossos gostos,amar nossos livros,vibrar com nossas músicas ou seguir a nossa religião...Uma pessoa ESPECIAL é aquela que não se dá ...mas , se doa !!E doação é entrega, é caminho ,é verdade, e pureza de coração ...Uma pessoa ESPECIAL é finalmente aquela que se alegra quando consegue trazer para nossa vida, a verdadeira alegria de VIVER .

rosa guerrera

A poesia de Ana Cecília S. Bastos


Corte


Expurgar o medo,

o horror da falta,

o vazio,

o nada além.

E o pegajoso perfume deixado no corredor.


Ana Cecília

(Uma vaga lembrança do tempo)

Zé Quieto-Zé Kéti - Por Norma Hauer

Ele não nasceu em 6 de outubro de 1921 e sim em 16 de setembro. De seu registro civil consta a data da 6 de outubro o que era cumum, visto que os pais demoravam a fazer o resgistro e, para não pagarem multas registravam com uma data futura.
Recebeu o nome de José Flores de Jesus, mas ficou conhecido como ZÉ KETI, mesmo assim só nos anos 60. Antes era conhecido como Zé Quieto.

E por que Zé Keti? Porque quando ele atingiu o êxito de sua carreira a letra K estava em evidência nos nomes de três presidentes: o do Brasil (Juscelino KUBITSCHECK), o dos Estados Unidos (John KENNEDY)e o da União Soviética (Krushev). Porque ele também não teria K em seu nome?
Assim, ficou conhecido como ZÉ KETI.

Ele nasceu aqui no Rio, no bairro de Inhaúma e como todo menino pobre, exerceu várias profissões, tendo servido durante três anos na Polícia Militar.

Em 1937, morando em Bento Ribeiro, passou a freqüentar a Portela, tornando-se mais tarde um de seus compositores. Desentendo-se com colegas por causa de direitos autorais, transferiu-se para a Escola União de Vaz Lobo. Somente em 1954 regressou à Portela.

Em 1939, levado pelo compositor Luiz Soberano foi conhecer a Casa Nice (não Café,mas Casa) travando conhecimento com os compositores e cantores que faziam ali seu "quartel general" ali.
Apesar disso, ainda não era um nome conhecido, apesar de já ter composto vários sambas.

Foi com o samba "A Voz do Morro", gravado em 1955 por Jorge Gouilart, e que fez parte da trilha do filme "Rio 40 Graus",de Nelson Ferreira dos Santos, que seu nome apareceu, ainda como Zé Quieto.
Jorge Goulart voltou a gravar um samba de Zé Keti em 1960 .Título: "Não Sou Feliz".

Em 1964, com Nara Leão e João do Vale, fez parte do Grupo Opinião.

Em 1967, seu maior sucesso: "MÁSCARA NEGRA", que foi gravado por ele e também por Dalva de Oliveira.
Esse samba ganhou ao primeiro lugar no concurso de músicas carnavalescas estipulado pelo Conselho de MPB do Museu da Imagem e do Som.

Em 1998 recebeu o Prêmio Shell, pelo conjunto de sua obra. Foi homenageado pelos companheiros da Portela, como Paulinho da Viola, Elton Medeiros e Velha Guarda da Portela.
Foi realizado, no Canecão, um espetáculo por essa homenagem, dirigido pelo jornalista e escritor Sérgio Cabral.

Tendo composto mais de duzentas músicas, destacarei algumas:
"A Dama das Flores"; "A Felicidade Vem Depois";Desquite";"Despedida de Solteiro"; "Samba Folgado";"Diz que foi por aí...";"Desprezo"...

Zé Keti faleceu em 14 de novembro de 1999 aos 78 anos,deixando um vácuo em nossa música popular.

Norma Hauer

BRINCANDO COM AS PALAVRAS – BISAFLOR CONVIDA CRIANÇAS PARA UMA RODA DE POESIA

Quem disse que criança não gosta de poesia? Bisaflor aposta como toda criança pode gostar de poesia. É uma brincadeira gostosa de se fazer com as palavras. Por isso vamos brincar de poesia, criançada?

O PINGUIM
Vinícius de Moraes

Bom dia, Pingüim
Onde vai assim
Com ar apressado?
Eu não sou malvado
Não fique assustado
Com medo de mim.
Eu só gostaria
De dar um tapinha
No seu chapéu jaca
Ou bem de levinho
Puxar o rabinho
Da sua casaca.


Canção de agora
Mário Quintana

Em cima do meu telhado,
Pirulin, lulin, lulin,
Um anjo, todo molhado,
Soluça no seu flautim.

O relógio vai bater:
As molas rangem sem fim.
O retrato na parede
Fica olhando para mim.

E chove sem sabe por quê...
E tudo foi sempre assim!
Parece que vou sofrer:
Pirulin, lulin, lulin.

RIMAS PRA CRIANÇA
Cristina Aragão

Gato rima com rato,
balão rima com feijão,
chinelo com amarelo,
e encarnado, então?

Responda-me, criançada.
O que rima com camelo?
Será pato, será lobo?
Nenhum dos dois: é novelo!

A VACA
Elias José

Era uma vaca fofoqueira,
uma vaca muito curiosa.

Em vez de dar leite
e pastar com alegria,
ficava de ouvido em pé
com a pulga atrás da orelha
e com a língua muito afiada.

Um dia, escondeu o leite
Porque duas cochichavam.

Aí ouviu o retireiro dizer
que vaca manhosa era boa pra corte.
Ficou toda arrepiada, soltou o leite
e nunca mais deu ouvidos pra fofocas.

Torta especial de goiaba - Colaboração de Monalissa Figueirêdo


Camadas:

Primeira - Creme :
1 lata de leite condensado, a mesma medida de leite, 3 gemas, 2 colheres de maisena misturadas com meia xi. de leite gado, misture tudo e leve ao fogo até formar uma papa grossa. Deixe esfriar um pouco e acrescente 1 cx. de creme de leite, mexendo levemente. Derrame num refratário e reserve.

Segunda - doce :

Dissolva 1 lata de goiabada bem picadinha com uma xi de água, leve ao fogo até formar um creme grosso. Jogue por cima da camada anterior.

Terceira -massa :

Quebre bem muidinho 1 pacote de biscoito Clube Social(original) e jogue por cima.

Quarta -chantilly

Bata 3 claras em neve, acrescente 2 colheres de açúcar e 1 cx de creme de leite, misturando levente.

Quinta e última - cobertura :

400gr de queijo coalho ralado bem grosso.

Leve ao congelador e deixe por 1 hora. Depois, passe para a parte mais alta da geladeira. Bom apetite!

*Monalissa, obrigada pela colaboração. Provei dessa sobremesa na casa de Fátima , e fiquei desejando a receita. É deliciosa. Impossível alguém não gostar !

Socorro Moreira