Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

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segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Antes de Dormir

Os músculos um dia tombam da carne
e fica cega a faca.

As estrelas são sinceras com os meus olhos:
a terra já comeu o cadáver que brilha.

Essas pernas apressadas
sempre medonhas
atrás do passo seguinte
sequer me levam a uma calçada limpa -
sem chiclete,
sem bostinha de poodle.

Meu destino é batata quente
na mão dessa mente
boquiaberta
com as vozes que invento.

Hora de confessar ao Bom Pai
que sou um menino ainda -
não se atreva apagar a luz do quarto.

Os monstrengos agora escapam
do armário branco de hospital.

Meu novo guarda-roupa.

AS MÚLTIPLAS FUNÇÕES DE MERCÚRIO (uma breve leitura do mito por Stela Siebra Brito)



“A inteligência é o mais rápido dos pássaros”
(Rig Veda)
Planeta da comunicação. Isto é a primeira coisa que vem à mente quando pensamos em Mercúrio. E aí já estamos exercendo uma atividade mercuriana, que é pensar. E tem mais: falar, estabelecer trocas, raciocinar, expressar, comunicar, negociar, escrever, dialogar são atributos ou funções de Mercúrio.
Mercúrio é rico de possibilidades que muitas vezes não exploramos. E é justamente por não utilizarmos essas habilidades, que ficamos na escassez e no reducionismo mental. Esse pouco aproveitamento do campo mental indica que não estamos pesquisando, inquirindo, dando asas ao pensamento, estudando, inventando, argumentando, dialogando, convencendo, etc.
Para clarear as múltiplas funções de Mercúrio, vamos lembrar um pouco o mito de Hermes, o deus grego que romana e astrologicamente é Mercúrio.
Hermes/Mercúrio, o filho de Júpiter com a mais nova das Plêiades (Maia), no dia em que nasce já “apronta”: livra-se das faixas que o envolvem e viaja, rouba, mente, cria e negocia. Ele rouba parte do gado real que seu irmão Apolo pastoreia e, usando de argúcia, faz as vacas caminharem de costas, após ter amarrado ramos nas suas caudas para que apagassem as próprias pegadas. Numa gruta sacrificou duas novilhas aos deuses, dividindo-as em 12 porções. Ora, os deuses do Olimpo, até então, eram apenas onze. Hermes/Mercúrio já se nomeava e promovia como o mais novo deus do panteão grego.
Quando regressa ao monte Cilene, onde nasceu, Mercúrio mata uma tartaruga, fabricando da sua carapaça com as tripas das novilhas, a primeira lira, cujo som logo vai deixar maravilhado o deus Apolo. O que acontece a seguir, é que Apolo descobre o roubo do rebanho e seu autor. Mercúrio nega veementemente e quase convence Apolo, que recorre a Júpiter para que este resolva a querela. O deus soberano do Olimpo quase ri ouvindo Apolo contar as artimanhas do seu pequeno filho e os argumentos usados pelo menino, para convencê-los que não roubou o gado. Mas Júpiter impõe sua autoridade de pai e faz Mercúrio prometer que não mais mentirá, ao que ele retruca que “não estaria obrigado a dizer a verdade por inteiro” ... E passa a tirar lindos sons da lira, como quem não quer nada. Os sons deixam Apolo encantado e desejoso de possuir aquele instrumento. Por isso propõe trocar o instrumento, de som divino, pelo gado roubado e Mercúrio aceita o negócio. Mais tarde ele inventa a flauta de Pã, atiçando o desejo de Apolo de possuir, também, aquele instrumento. É feita nova negociação. Mercúrio entrega-lhe a flauta e Apolo, em troca, dá-lhe o caduceu, que é uma varinha mágica, de ouro. O pequeno deus exige, ainda, umas lições na arte da adivinhação.

Bem, isso é só um começo, porque depois, em ocasiões diferentes, Mercúrio vai roubar o cinto de Vênus, o tridente de Netuno, as flechas de Apolo e a espada de Marte. E vai ser o criador do alfabeto, das ciências, das artes, da balança e de quase todos os instrumentos musicais.
Além do caduceu, Mercúrio leva como adereços uma bolsa cheia de moedas, um chapéu com asas (o Pétaso) e as sandálias com asas. Estes dois últimos adereços vão dar agilidade de vôo ao deus, caracterizando a mobilidade de pensamento. É como expressa a canção popular: “o pensamento parece uma coisa à toa, mas como é que a gente voa, quando começa a pensar...”

No nosso Mapa astrológico, Mercúrio indica que devemos voar para compreender, porque é sabido que “aquele que tem asas compreende”. O exercício de pensar desenvolve o raciocínio, a mente e suas propriedades de locomoção e aplicação práticas. A astúcia e a inteligência mercurianas são práticas, assim como suas invenções também o são. Por isso é bom se perguntar de vez em quando: “estou usando de modo prático minha inteligência?”, “estou sendo engenhoso?”. Verifique onde está Mercúrio no seu mapa e saiba qual área de sua vida apresenta melhores possibilidades de aproveitamento da sua inteligência e da sua engenhosidade. Observe se você está sendo “artífice” de instrumentos para ter o que trocar com as outras pessoas; observe se você está usando chapéu e sandálias aladas para fazer sua mente voar inventando uma forma nova de se colocar na vida, com outros argumentos, com novos conhecimentos, nova mentalidade, outras perspectivas e soluções para as questões e problemas que surgem no cotidiano.
É sabido que podemos alterar nossas vidas alterando nossas atitudes mentais. Este é, entre outros, um exercício mercuriano.

A mitologia narra também que Mercúrio era o mensageiro de todos os deuses e uma espécie de “secretário particular” de Júpiter (o deus de todos os deuses e dos homens). Chamavam-no de DIOS AGGELOS - o portador das ordens de Zeus.
Este mito revela que para termos acesso à sabedoria jupiteriana, é preciso falar primeiro com Mercúrio. E para falar com esse secretário, já viu, tem que ser “bom de papo”. Ou seja, tem que usar de argúcia, de lógica e eloquência. Um dos epítetos de Mercúrio indica bem essa função. Ele era conhecido como LOGIO, o que tinha discurso convincente, lógico e eloqüente.
Através do secretário Mercúrio, a mente se afasta da ignorância para adentrar e compreender o mundo da sabedoria. No mapa é Mercúrio quem nós dá a habilidade de aprender e expressar nossas crenças espirituais e filosóficas. Mercúrio nos faz compreender de forma concreta e prática as visões e conceitos mais altos e mais ideais. Ele traduz, ele exemplifica, ele interpreta e simplifica. É Mercúrio quem diz: “por exemplo”... e de forma prática e direta explica com clareza um assunto. Ele é a inteligência prática.

O mito revela também que Mercúrio circulava livremente pelos três mundos e tinha o poder de ficar invisível e viajar por toda parte num piscar de olhos. Tal poder faz dele um intermediário ou mensageiro entre deuses e deuses, entre deuses e mortais e entre estes e os deuses. Ele tem a habilidade de mudar de nível, de se adaptar. Esta plasticidade de Mercúrio o faz falar muito mais pelos outros, do que por si mesmo. Assim é que no Mapa astrológico, quando Mercúrio está em conjunção com um planeta se investe da sua história. Essa neutralidade vai fazê-lo falar pelo outro planeta, ser veículo de suas características e tradutor dos anseios inerentes àquele plano da alma.

Mercúrio é também um “deus psicopompo”, ou seja, um condutor de almas. Ele tanto transportava as almas para o mundo ctônio, como as trazia de lá para o nível telúrico. Ele conhecia o caminho e suas encruzilhadas e não se perdia na escuridão.
Isso revela uma faculdade espiritual: conduzir tanto para a luz como para as trevas. Podemos entender e aplicar à mente humana, como a capacidade de sair da compreensão lúcida e consciente, para mergulhar no inconsciente e trazer à tona material que possa ser analisado e compreendido à luz da consciência.

E assim é Mercúrio: mental, plástico, veloz, trapaceiro, mensageiro, engenhoso, esperto, inteligente, negociador, interlocutor.
Quando desenvolvemos nossas capacidades mercurianas, podemos sair de um modo de pensar e viver nas sombras para termos acesso ao mundo da luz, do conhecimento e da transcendência.
Podemos “roubar o gado de Apolo” sem constrangimento quando, astutamente, apreendemos o conhecimento através das experiências de vida e dos estudos e quando nos permitimos ser receptores e transmissores da luz da sabedoria.
Podemos inventar liras e flautas para termos instrumentos que poderão ser trocados pelo caduceu mágico do conhecimento.
“Sei muito, mas quisera saber tudo”. Goethe

Tudo estava claro - Por Claude Bloc


Tudo estava claro:
o céu,
os lábios entreabertos,
as águas das nascentes
os passos nas areias.

A serra estava perto,
fremente entre as nuvens
e os pássaros como ondas
iam, vinham, iam,
dóceis e leves
sós - alma e brancura.
Felizes, cantavam;
serenos, dormem;
despertos, amam,
exaltando o silêncio.

Tudo estava claro:
jovens, alados.
A serra estava perto
E o sol
num puríssimo, dourado.


Texto e foto por Claude Bloc

Você Aprende - Autor anônimo - Recebido por e-mail




Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma.
E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança.

E começa a aprender que beijos não são contratos e presentes não são promessas.
E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança.
E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão.

Depois de um tempo você aprende que o Sol queima se você ficar exposto por muito tempo.
E aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam...
E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso.
Aprende que falar pode aliviar dores emocionais.

Descobre que se leva anos para se construir confiança e apenas segundos para destrui-la, e que você pode fazer coisas em um instante, das quais se arrependerá pelo resto da vida.

Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias. E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida.
E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher.

Aprende que não temos que mudar de amigos se compreendemos que os amigos mudam, percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos.

Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa, por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos.

Aprende que as circunstâncias e o ambiente tem influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos.

Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser.
Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto.

Aprende que não importa onde já chegou, mas onde está indo, mas se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar serve.
Aprende que, ou você controla seus atos ou eles o controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade,pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados.

Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências.

Aprende que ter paciência requer muita prática.

Descobre que algumas vezes a pessoa que você espera que o chute quando você cai é uma das poucas que o ajudam a levantar-se.

Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve, e o que você aprendeu com elas do que com quantos aniversários você celebrou.

Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha.

Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens, poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.

Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel.

Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame, não significa que esse alguém não o ama com tudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso.

Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem que aprender a perdoar a si mesmo.
Aprende que com a mesma severidade com que julga, você será em algum momento condenado.
Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte.
Aprende que o tempo não é algo que possa voltar atrás.

Portanto, plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores.
E você aprende que realmente pode suportar... que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais.
E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida!

"Nossas dádivas são traidoras e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar, se não fosse o medo de tentar."


William Shekespeare( pseudônimo)
E-mail enviado por Caio Bonates
.

Dona Maria Benigna e Ricardo Carvalho - Por Joaquim Pinheiro



Ricardo Carvalho, veterano jornalista político de Pernambuco, esteve no Crato em julho de 1979 colhendo material para escrever um livro sobre Tio Miguel. Foi acompanhado de um fotógrafo, de sobrenome Novaes e de Lula. O fotógrafo, anos depois, foi assassinado em Olinda, vítima de assalto. Os três Viajaram em uma kombi do diário de Pernambuco. Passaram uns 4 ou 5 dias no Cariri. Fui cicerone dele em vários locais, inclusive no Diocesano, para colher informações sobre as notas do Tio. Eles manusearam o material mandado de Recife em 64, fotografaram várias peças, mas o livro não chegou a ser publicado. Recentemente ele lançou "É tudo Verdade", contando muitas passagens da sua vida profissional. A página 79 é sobre vovó. O título é "Dona Maria Benigna". Ele diz que "foi o encontro mais gratificante de toda a longa vida de repórter". Mando para vcs verem.

Dia do Pintor - Complementando lista ... -Por Socorro Moreira




Bem lembrou Carlos Rafael , quando deixamos de figurar alguns nomes como :

Samuca

Zé Pinheiro
Edelson Diniz

Romildo Alves
Aufonso Silva ;
Eu acrescentaria mais outros :
Karimai
Petrônio

Dona Almina Arraes

Edilma Saraiva
Caio Bonates

Heládio Teles Duarte
Antonio Sávio

Ângela Morais
Assunção Gonçalves
Stênio Diniz
Gilberto Pereira
Heriberto ...

E, considerando a grande lembrança do Armando Rafael, faria uma referência ao Geraldo Benigno !
Esse artista mantinha um curso de pintura , nos anos 60, que funcionava no Dom Bosco. Estudei 6 meses. Achei chata a parte teórica. Minha vontade era começar pintando, desenhando tudo, que o meu olhar percebia. Como se pintura fosse Fotografia...Imaginem !
Ele nos passava, enquanto isso, noções de Ótica, perspectiva, claro e escuro ... Quando foi chegada a hora de aplicar a teoria , eu já estava cansada, e interessada noutras programações, como namorar no parque Municipal. Pela minha irresponsabilidade artística nunca aprendi a pintar, nem a fazer renda . desenvolvi um trauma de ser filha de pintor, sem talento de herança. triste ! ( risos). Adiei para a próxima vida.

"Est(r)ilo Nico"- por Socorro Moreira



Lente e mente
.... Coração quente
..............não mente
.................... fria mente

Des(compasso)
............ o samba
........................canção
............................. dos meus ou
...........................................vi(n)dos
.................................................. de alguém.

.................... Vibra (a)ções
.........------------.......Sons e tons

............................................ Peito agoniza
........................................................amor tecido

....................................................................... Hospeda,
................................................................................a(dona) sentidos
.
por Socorro Moreira
.

Pensamento para o Dia 19/10/2009


“A corda é confundida com uma cobra e o observador foge com medo. Isso nos lembra que o olho é somente uma janela através da qual a alma vê o mundo externo. A alma é a força motriz de todos os sentidos. De que serve o olho quando você não possui ‘Samadrishti’. ‘Sama’ significa Brahman, a Realidade Absoluta; ‘Samadrishti’ significar ver apenas Deus (Brahman), o Uno, em todas as coisas e a toda hora. Essa Unidade (Ekathwam) é a verdade fundamental. Todas as outras experiências são falsas. Considere isso em sua meditação. Fixe isso em sua consciência interna. Esse é o caminho da Libertação.”
Sathya Sai Baba

Reencontro - por Socorro Moreira


Paixão

Um olhar profundo,

descolado da multidão,

aporta no mesmo plano .

Alice morava ali

Naquela varanda vazia...


Entrei no cheiro do cigarro

e na cor do campari

Gelo derretido , tremido ...

Sou onda !

Salgo a minha alma

Salvo o meu amor


Num álbum guardado

eu rasgo o teu olhar,

e me apaixono !

Vinícius de Moraes

Vinícius de Moraes


Soneto do Orfeu

São demais os perigos dessa vida
Para quem tem paixão, principalmente
Quando uma lua surge de repente
E se deixa no céu, como esquecida

E se ao luar, que atua desvairado
Vem unir-se uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher

Uma mulher que é feita de música
Luar e sentimento, e que a vida
Não quer, de tão perfeita

Uma mulher que é como a própria lua:
Tão linda que só espalha sofrimento,
Tão cheia de pudor que vive nua.

Vinicius de Moraes

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa dizer do meu amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinicius de Moraes


Soneto de Maior Amor

Maior amor nem mais estranho existe
Que o meu, que não sossega a coisa amada
E quando a sente alegre, fica triste
E se a vê descontente, dá risada.

E que só fica em paz se lhe resiste
O amado coração, e que se agrada
Mais da eterna aventura em que persiste
Que de uma vida mal aventurada.

Louco amor meu, que quando toca, fere
E quando fere vibra, mas prefere
Ferir a fenecer - e vive a esmo

Fiel à sua lei de cada instante
Desassombrado, doido, delirante
Numa paixão de tudo e de si mesmo.

Vinícius de Morais





Dias Gomes


Alfredo de Freitas Dias Gomes (Salvador BA 1922 - São Paulo SP 1999). Autor. Sua obra tem uma abordagem humanista de esquerda, com temática voltada para o homem brasileiro e sua luta com a engrenagem social. Entre elas, O Pagador de Promessas, um clássico da moderna dramaturgia brasileira.

Muda-se para o Rio de Janeiro e escreve, aos 15 anos, a sua primeira peça, A Comédia dos Moralistas, premiada pelo Serviço Nacional de Teatro - SNT, em 1939. Pé de Cabra é encenada em 1942, pela companhia Procópio Ferreira, com êxito de público e crítica. Seguem-se as montagens de João Cambão, 1942; Amanhã Será Outro Dia, 1943; Doutor Ninguém, 1943; Zeca Diabo, 1943; quase todas produzidas pelo conjunto de Procópio. A partir de 1944 passa a concentrar suas atividades no rádio. Escreve e dirige programas, exerce cargos de chefia artística em várias emissoras e produz radioteatro, inclusive com adaptações de alguns textos de sua autoria originalmente escritos para palco. Volta ao teatro em 1954 com Os Cinco Fugitivos do Juízo Final, produzida por Jaime Costa, com direção de Bibi Ferreira.

Sua consagração vem em 1960 com a montagem de O Pagador de Promessas pelo Teatro Brasileiro de Comédia - TBC, dirigida por Flávio Rangel e seguida, em 1962, por uma montagem carioca, do Teatro Nacional de Comédia - TNC, com direção de José Renato. A peça conta a história de Zé do Burro, um dos mais puros heróis trágicos da dramaturgia brasileira, que paga com a vida pela obstinação em depositar na igreja da capital a pesada cruz que trouxe de sua longínqua aldeia, em pagamento de uma promessa feita para que Iansã curasse o seu burro doente. Em torno de Zé do Burro giram as personagens que são a síntese de um Brasil ao mesmo tempo medieval e moderno, intolerante, impiedoso nos seus desequilíbrios sociais e educacionais, e onde o indivíduo não tem chance de resistir às artimanhas do esquema explorador. Para a popularidade de O Pagador de Promessas contribui a sua versão cinematográfica dirigida por Anselmo Duarte, vencedora da Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1962, e uma adaptação para a televisão que, produzida 28 anos depois da criação da obra, comprova a sua vitalidade.

O mesmo universo nordestino é cenário para A Revolução dos Beatos, criada em 1962 pelo TBC, com direção de Flávio Rangel, pela qual recebe o Prêmio Governador do Estado de São Paulo de melhor texto. A ação se baseia num episódio histórico de 1920: a trajetória do Padre Cícero e a manipulação do seu carisma místico pelos interesses políticos do deputado Floro Bartolomeu. O autor faz uma abordagem crítica desse episódio com personagens do fabulário popular. O Boi Santo, do Bumba-meu-Boi, desempenha um papel de destaque. Também em 1962 estréia no Rio de Janeiro, dirigida por Ivan de Albuquerque para o Teatro do Rio, A Invasão. Nesta peça, o autor transpõe a ação para o cenário urbano, relatando a invasão de um prédio em construção por um grupo de favelados. A comédia Odorico, o Bem-Amado, escrita em 1962, mas só montada em 1969 pelo Teatro de Amadores de Pernambuco - TAP, com direção de Alfredo de Oliveira, se passa no interior da Bahia, onde o prefeito concentra todos os esforços na demagógica inauguração de um novo cemitério, esbarrando na falta de um cadáver que possa inaugurá-lo. Anos depois, a personagem ganha enorme popularidade, quando o autor transplanta a idéia central da peça para a bem-sucedida telenovela O Bem-Amado, valorizada pela composição de Paulo Gracindo no papel-título.

Na véspera da estréia da montagem original de O Berço do Herói, em 1965, o texto é interditado pela Censura, dando início à longa etapa de repressão de que o teatro brasileiro é vítima até o fim da década de 1970. A peça desmistifica a figura de um falso herói, um ex-integrante da Força Expedicionária Brasileira - FEB. A tentativa de transformar seu enredo numa telenovela esbarra nos mesmos problemas com a Censura. Posteriormente, o autor utiliza algumas idéias desse enredo como subsídios para a novela Roque Santeiro.

Para escapar da Censura e ao mesmo tempo permanecer fiel aos seus propósitos, Dias Gomes recorre na obra subseqüente a uma parábola vagamente histórica: a jovem Branca Dias, protagonista de O Santo Inquérito, vítima da Inquisição no século XVIII, merece um lugar de destaque na galeria dos heróis puros e libertários criada pelo autor. O impasse entre o teatro predominantemente político de Dias Gomes e os obstáculos que se opõem à sua produção no Brasil da ditadura gera uma fase menos fértil do autor, na qual se destaca Dr. Getúlio, Sua Vida e Sua Glória, em co-autoria com Ferreira Gullar, montado em 1968, com direção de José Renato. O espetáculo conta a vida de Getúlio Vargas em forma de enredo de escola de samba e reproduz, no microcosmo da escola, as lutas pelo poder abordadas no enredo. Uma nova versão do mesmo texto, com o título de Vargas, atendendo às exigências de uma superprodução musical e enriquecida por músicas de Edu Lobo e Chico Buarque, estréia no Rio de Janeiro, em 1983, com direção de Flávio Rangel, texto também premiado.

A partir de 1969, o autor se afasta do teatro e se dedica, durante alguns anos, à televisão. Torna-se o mais importante dos autores de novelas, levando para o novo veículo a observação da realidade brasileira e a mistura de fantasia e realismo que caracterizam a sua obra teatral Entre as novelas mais bem-sucedidas encontram-se: Bandeira 2, 1971; O Bem Amado, 1973; Saramandaia, 1976; Roque Santeiro, 1985.

A volta de Dias Gomes à dramaturgia teatral se dá em 1977, com As Primícias, "alegoria político-sexual" que vai à cena em 1979. No mesmo ano é lançado no Rio de Janeiro o seu primeiro musical de grande montagem, O Rei de Ramos, uma fábula cuja ação transcorre no mundo do jogo do bicho. Musicada por Francis Hime com letras de Chico Buarque, a peça é, como tantas outras de Dias Gomes, dirigida por Flávio Rangel. E em 1980 chega à cena Campeões do Mundo, texto no qual ele procede a um acerto de contas com a experiência histórica do regime autoritário, mostrando ao público as diferentes motivações dos jovens que optaram pela luta armada para se opor ao regime e brechtianamente estimulando o espectador a tirar suas próprias conclusões. Em 1989, estréia um novo texto do dramaturgo, Meu Reino por um Cavalo.

O crítico e ensaísta Yan Michalski, ao analisar a obra de Dias Gomes, considera que ele "(...) conta com um excepcional dom de observação das peculiaridades do caráter nacional, quer se trate do sertanejo perdido num interior quase medieval, do favelado exposto às agruras da selva do asfalto, ou do jovem intelectual que seqüestra um embaixador nos tempos da luta armada. Por outro lado, apesar de o teatro ser rico em personagens de forte carisma pessoal, ele evita consistentemente dar destaque prioritário a problemas individuais: seus verdadeiros protagonistas são sempre, com maior ou menor nitidez, corpos coletivos, cujos comportamentos se regem muito mais por condicionamentos de caráter social, cultural e político do que por motivações de realismo psicológico. Apesar da objetividade da crítica social que é a mola mestra do seu trabalho, ele não renega, mas pelo contrário explora generosamente, elementos de fantasia, misticismo e tradição lúdica popular; da mesma forma como não hesita em misturar toques de autêntica tragédia com um humor corrosivo que é uma presença constante nas suas peças".

PEQUENA Enciclopédia do Teatro Brasileiro Contemporâneo.

Camile Claudel


Segundo o estudioso sobre a arte de Camille Claudel, Jacques Cassar, que desenvolveu extensa pesquisa sobre a vida e a obra da escultora durante a década de 80, Camille que nasceu em 08 de dezembro de 1864 em Tardenois, desde muito jovem já demonstrava genial talento para a arte da escultura.

Em 1881, a família mudou-se para Paris. Camille tinha 17 anos. Algum tempo depois, tornou-se aluna de Rodin, sendo a primeira mulher a quem o escultor deu aulas. Deste contato entre mestre e aprendiz, nasceu um relacionamento amoroso, no qual Camille e Rodin se influenciam um ao outro no desenvolvimento de seus estilos. Camille tornou-se uma importante colaboradora das obras de Rodin, com seus comentários, concepção de diversos trabalhos e sua exímia habilidade para esculpir partes das esculturas do mestre, tais como pés e mãos.

Rodin, não era casado, mas tinha um relacionamento anterior com Rose. Camille, após 15 anos, inconformada com o fato de Rodin não romper com Rose, terminou a relação com o escultor. Camille estaria grávida na época do rompimento e pouco tempo depois teria um aborto.

Frustrada em sua relação amorosa enfrentou sérias dificuldades como artista, pelo fato de ser mulher em uma sociedade e em um meio artístico essencialmente machistas. Camille enfrentou a solidão, a frustração profissional, o preconceito e a pobreza.

Com o passar do tempo, foi desenvolvendo um distúrbio, o qual seria diagnosticado pela medicina contemporânea como psicose paranóide, caracterizada por alucinações persecutórias. Ela acreditava ser vítima de um complô para destruí-la, cujo autor seria Rodin. Tal alucinação teria como fonte o fato de que Rodin realmente se apropriara, por meio de sua assinatura, de algumas das obras de Camille, além de não tê-la auxiliado em muitas ocasiões intercedendo por ela, já que ele desfrutava de prestígio social e artístico. Camille produziu intensamente, mas destruiu várias de suas obras, imaginando que Rodin ou um de seus comparsas as roubariam.

Logo após a morte do pai, Camille foi internada pela mãe, em 10 de março de 1913 no Hospital Psiquiátrico de Ville-Evrard e no ano seguinte transferida para o Montdevergues Asylum, onde permaneceu por muitos anos, sem produzir artisticamente.

Frustrada, fracassada aprisionada e louca morre em 19 de outubro de 1943.


Black & white -por Ana Cecília S. Bastos



Amortecer.
Nos desvãos se instala a dor
..............(...como se não estivesse).

O dentro e o fora des-vão.
Ana Cecília

As cores das flores no jardim da casa de Vanda e Paulo Leonardo

.
As cores das flores
.
Despetaladas
cores nos olhos
as flores nas cores
as cores nas flores
.
Transfiguração
sinfonia dos acasos
simetria dos ocasos
no azul que desfalece...

Matizes das flores/cores
sobre infindáveis cinzentos,
sonhos que vão nos olhos,
no sangue de cada um
.

pétalas e sépalas
alvores matinais
reflexão e entendimento
entre a luz e os tons

linha que toca a melodia
cores que regem
os assuntos da alma
na transparência das águas
maturidade curvada
à sapiência do eterno.


Texto e fotos por Claude Bloc
.