Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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domingo, 25 de abril de 2010

O Pequi fugiu do prato - por José do Vale Pinheiro Feitosa

Liduina Belchior roeu um pequi a vista de todos e seus olhos não brilhavam como seria mais fácil de se dizer. Não, olhos que brilham se incendeiam pelo que vêm. Liduina não olhava para o fruto do Pequi. Ela o saboreava. São olhos que expressam outro sentido. O sabor tem um olhar encantado, apertado, como se as pálpebras quisessem a penumbra para que o ser se concentrasse noutra esfera da relação com o mundo. É um olhar diferente, pois o brilho traduz a chegada do evento aos olhos, enquanto o olhar de Liduina se encontra no prório processo do acontecimento. Quando o olhar brilha, ele adivinha, se antecipa ao que ocorrerá com a presença daquele momento. Já o olhar de Liduina, são janelas para inteireza entre a natureza específica do fruto do pequi e a boca em tudo que isso tem historicidade das franjas do Araripe, especialmente dos Cratenses.

Como bem diz Liduina: o pequi é tudo ou nada. Isso é importante, pois quem tem na raiz cultural uma fruta como essa, tem tudo para ser de uma radicalidade só comparada àquela que despacha como o fruto proibido do paraíso. Mesmo em seu profundo conservadorismo, o cratense o é, radicalmente conservador. Como radicalmente iconoclasta ou radical em suas raízes folcóricas.

E a coisa é tão interessante, pois no caso do Pequi do Ceará, ele só ocorre numa pequena mancha do território, ele é mais radical ainda. Pois é restrito, não é abrangente, acontece quase que apenas no consumo dos cratenses, não igualmente nas outras vizinhas cidades. Não se estranhe que a irmã siamesa Juazeiro do Norte, usasse o pejorativo piquizeiro para brincar com o outro lado. No cariri o consumo do pequi é uma ilha isolada no meio de um continente de cozinha sertaneja. Em Góias, ou em Montes Claro em Minas Gerais, o pequi é consumido por grandes faixas de municípios, faz parte da cultura geral.

Agora vem o vazio enorme. O Pequi fugiu do prato. O momento foi breve, me refiro a apenas dois restaurantes, mas significativos. Fui num restaurante quase artesanal, bem no alto, acima da nascente, lá pedi pequi e não tinha. Não faziam porque a clientela não gostava. O mais grave foi no Pau do Guarda, que aliás tenho um reparo a fazer. Lá não se faz mais pequi, os pratos não são pedidos ou serão devolvidos pelos frequeses, não se come mais o Pequi. O que aconteceu, até entendi, eles abrirão uma filial imensa em Juazeiro, a sua freguesia não é mais cratense. E os "cratenses" que lá estão ou são por demais shopping center ou não foram criados na cultura do cariri.

O reparo sobre o Pau do Guarda. Uma coisa é evolução e outra aculturação. A evolução acontece no evoluir das próprias bases, enquanto a aculturação se faz pela introjecção de uma base alienígena. O ideal é que os donos do estabelecimento, abrisse um com esta cara de Picanha que existe feito praga por todo o país, mas deixasse que a velha cozinha caririense continuasse seu evoluir, com seus elementos, com seus ingredientes e temperos. A este mantivesse a mesma denominação, ao outro lhe desse outro qualquer, ou um destas manjada Picanha do .....e completava com um nome qualquer.

Por último. De Fortaleza à Bahia, aliás especialmente na Bahia, os letreiros não dizem mais "Carne de Sol", mas Carne do Sol. O artigo definido me deu um sabor de carvão de carne.

Canto do Bosque

Saberei na hora
ao queimar seus olhos
com meu olhar de fogo

se ainda lhe gosto
se fico trêmulo
transpirando.

Tolice sonhar com o paraíso
antes de pisar sua calçada.

Saberei no momento
em que tocar sua campainha
(da sala vindo seu perfume)

se ainda me enlouquece
a sua presença
se ainda me deixa a língua
dormente.

MAIS OU MENOS ...........por Rosa Guerrera

A gente pode morar numa casa mais ou menos, numa rua mais ou menos, numa cidade mais ou menos, e até ter um governo mais ou menos.

A gente pode dormir numa cama mais ou menos, comer um feijão mais ou menos, ter um transporte mais ou menos, e até ser obrigado a acreditar mais ou menos no futuro.

A gente pode olhar em volta e sentir que tudo está mais ou menos...

TUDO BEM!

O que a gente não pode mesmo, nunca, de jeito nenhum...
é amar mais ou menos, sonhar mais ou menos, ser amigo mais ou menos, namorar mais ou menos, ter fé mais ou menos, e acreditar mais ou menos.

Senão a gente corre o risco de se tornar uma pessoa mais ou menos.”

(Chico Xavier)

Escolhi hoje essa mensagem de Chico Xavier ,por tudo de GRANDE que ela representa para nós PEQUENOS seres humanos,sempre tão ansiosos em alcançarmos a felicidade , e quando chegamos até ela , na maioria das vezes achamos QUE AINDA ESTÁ FALTANDO ALGUMA COISA !
É esse o risco que o sábio Chico falou ! Vivemos sempre sentados na insatisfação de sermos pessoas mais ou menos ! Nada parece nos completar !

Relato

Nunca acredites no poeta.
O voluptuoso poeta.

Disparidade contra
o mundo real das coisas.

Encanto.
Tremores.

Tudo abstrato.

Por mais cirúrgica
a mão do bardo.

Por mais concisos
os encaixes dos versos.

Não te enganes com o poeta.

O dissimulado ao forjar
fantasia em lágrimas

sabe que se trata
do mundo paralelo
e do risco de morte.

Chega-se o próprio senhor das palavras
a torcer o pescoço de angústia.

Isto é loucura.
Nunca confies no poeta.

O poema é imaculado.
Mas o poeta é uma fábula.

A inércia em agir lhe proporciona
um deleite incompreensível.

Senta-se ele (com sua bunda de metal)
sobre o pufe e inicia seus apelos.

Escárnios.
Devaneios.

E se julga o herdeiro da Verdade.
Loucura.

As cidades atuais - Emerson Monteiro

Nas suas origens, a cidade surgia como solução dos problemas de uma humanidade solitária, assuntada em face das intempéries naturais. Quando os seres humanos notaram que a ordem individual das pessoas precisava encontrar alternativas comuns para seus problemas, naquele momento decidiram abrir mão dos valores da paz pessoal em nome da formação dos aglomerados coletivos e seguros.
E agora, transcorridos milênios de experiências, o que vemos são essas cidades lotadas de interrogações quanto a um futuro melhor, onde os dramas de que as pessoas fugiram ao deixar a selva apresentam face talvez tão pavorosa quanto no início da grande aventura social.
Às portas das residências urbanas batem hoje demandas de tão difíceis respostas que agoniam o espírito moderno como garras afiadas a pescoços descobertos. Em velocidade estúpida, o crescimento desordenado das populações já invade áreas de risco inadequadas e inóspitas; a construção de moradias anda a passos lentos em relação ao número de habitantes; as distâncias impõem milhões de transportes que abarrotam vias de circulação e tornam lentos os percursos entre a casa e o trabalho; a sobrevivência reduz conceitos morais em níveis jamais suportados de perversão, ocasionando guerra de classes e desconfiança mútua entre as pessoas, num somatório desordenado de vícios e violência, na coletivização da insegurança e da promiscuidade, tudo levando de roldão o sonho dourado da paz às raias de pesadelos e desencantos avassaladores.
Diante disso, os caminhos da política, velha reserva das respostas negociadas na praça pública, tornam-se tortuosos e ineficazes para oferecer frutos doces de honestidade a que se propunham nos primórdios.
As cidades, em consequência disso, acordam, dia após dia, na longa fila de espera dos novos meios promissores, e a natureza humana apenas amargura pela vida o descumprindo de seu papel de aprimoramento em grupo na força da paciência e da esperança.
Sob este impacto de mais desafios do que de satisfação segue o barco da história, a repassar às outras gerações aquilo que caberia aos contemporâneos resolver com habilidade, concluímos a título de um diagnóstico antes das soluções urgentes necessárias.

Dias & Dias - Ana Miranda


"Estamos diante de um livro que não se consegue parar de ler", escreve José Mindlin na orelha deste romance de Ana Miranda. A história reúne três personagens centrais: Feliciana, uma jovem sonhadora e obstinada; o poeta romântico Antonio Gonçalves Dias, por quem ela nutre uma longa e intensa paixão, e o sabiá - não um sabiá específico, mas a espécie inteira, que na "Canção do exílio" simboliza a pátria distante.
A narrativa de Ana Miranda combina história e ficção para contar uma história sobre o amor, os costumes provincianos no interior do Brasil durante o século XIX, a descoberta da cultura indígena, a beleza da poesia e os mistérios da sensibilidade.
No romance, Feliciana toma conhecimento da vida íntima de Gonçalves Dias por meio das cartas enviadas pelo poeta a seu grande amigo Alexandre Teófilo de Carvalho Leal. Mostradas a Feliciana por Maria Luíza, esposa de Teófilo, as cartas registram muitas das questões existenciais do poeta. Feliciana descreve de forma emocionante a paixão que as cartas alimentam, e seu relato revela refinamentos da alma feminina. A trama tecida pela autora faz com que o leitor se identifique com Feliciana, uma mulher que desvenda o que sente por meio da escrita e da memória.
Os personagens menores - o pai de Feliciana, colecionador de sabiás; Adelino, um tímido professor apaixonado por Feliciana, e Natalícia, a doce e severa preceptora - conferem ao livro uma grande riqueza humana.
Antonio Gonçalves Dias (1823-1864) é o principal nome da poesia romântica brasileira. Além de "Canção do exílio", compôs os principais poemas da vertente indigenista do romantismo, entre eles "I-Juca-Pirama" e "Leito de folhas verdes". Com uma narrativa clara e simples, reproduzindo a linguagem do romantismo, Ana Miranda recorda mais uma vez a vida de um de nossos poetas - como fez também com Gregório de Matos em Boca do Inferno -, levando o leitor a uma viagem de encantamento lingüístico e conhecimento histórico. Dias & Dias recebeu o Jabuti na categoria romance, em 2003, e o premio da Academia Brasileira de Letras para romance brasileiro, no mesmo ano.



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Trecho do livro A volúpia da saudade

Logo que soube da chegada de Antonio no dia 3 de novembro, no Ville de Boulogne, viajei para São Luís e aqui estou, esperando no embarcadouro a chegada do velho brigue francês que partiu do Le Havre, e há dias e dias sinto o meu coração como um sabiá na gaiola com a porta aberta, tenho vontade de girar, girar até ficar tonta e cair no chão, como eu fazia quando era menina. Trago nas minhas mãos os versos que Antonio escreveu para meus olhos, quantos anos, mesmo, tínhamos? eu doze, e ele treze, pois isso se deu em 1836. A poesia fala em olhos verdes, e naquele momento, quando a li pela primeira vez, acreditei que fossem os meus olhos, mas meus olhos não chegam a ser verdes, têm mais a cor da folha quase seca da palmeira, ou talvez a cor da água da baía de São Marcos, uma água suja de lama e areia dos moventes baixios, revolvida pelas dimensões da lua, pelo percorrer incessante dos saveiros de pesca, esta água que agora vejo ao sol da manhã.

Revista Epoca, resenha de Paulo Roberto Pires, em 30 de setembro de 2002

Suflê de Milho Verde



Ingredientes

* 1 lata de milho verde escorrido
* 4 ovos (claras e gemas separadas)
* 1 colher (sopa) de manteiga
* Sal à gosto
* 50grs de queijo parmesão ralado
* 2 xícaras (chá) de leite
* 1 colher (sopa) de farinha de trigo
* 1 colher (sopa) de fermento em pó
* Margarina para untar
Modo de preparo

* No liquidificador, bata o milho, as gemas, a manteiga, sal, o parmesão, o leite e a farinha até homogeneizar.
* Transfira para uma tigela, acrescente as claras batidas em neve, o fermento e misture delicadamente.
* Coloque em um refratário de 20cm de diâmetro untado e leve ao forno médio, pré aquecido, por 35 minutos ou até assar e dourar levemente.
* Retire do forno e sirva em seguida.
Rendimento: 4 porções. Fonte Guia da Cozinha
A

Ella Fitzgerald



Página oficial www.EllaFitzgerald.com

Ella Jane Fitzgerald (Newport News, 25 de abril de 1917 — Beverly Hills, 15 de junho de 1996) foi uma cantora estadunidense de jazz.

Mestra nas improvisações, a tímida Ella Fitzgerald cantava como um músico. Sempre dividiu opiniões sobre ser ou não a maior cantora do Jazz, com a não menos brilhante Billie Holiday.

Os pais de Ella nunca se casaram. O Pai dela, William Fitzgerald, reconheceu a paternidade mas as deixou quando Ella fez 3 anos de idade. Então ela viveu com a mãe, Temperance (Temple), e o padrasto português, Joseph da Silva, que a maltratava.

Seus vizinhos riam quando ela dizia que um dia iriam vê-la nas manchetes dos jornais, que ela tinha certeza de que seria famosa. Ella sempre gostou de de cantar, ainda mais de dançar. Aos 13 anos ensaiava os passos e pedia às garotas mais velhas para ensinarem novos passos dos salões de dança do Harlem.

Foi na igreja que ela aprendeu os primeiros rudimentos musicais, da mesma forma que outros grandes cantores e cantoras norte-americanos do séc. XX. O rádio e o fonógrafo também foram veículos fundamentais para que ela pudesse desenvolver sua formação musical. Ella fez parte da primeira geração de crianças que, na década de 20, tiveram acesso livre à música por meio desses aparelhos sonoros. Sua mãe faleceu quando ela tinha somente 14 anos. Ela então largou a escola e foi mais tarde para um reformatório por vadiagem. Ficou pouco tempo até que fugiu e foi viver nas ruas de Nova Iorque cantando e dançando para ganhar gorjetas.

Em novembro de 1934 participou de um show de calouros no Apollo Theatre, no Harlem, e apesar de maltrapilha e nervosa, ganhou o primeiro prêmio que era a permissão de se apresentar no teatro duas semanas, mas o gerente não aceitou por considerá-la muito feia.

Cantava gratuitamente até que Chick Webb a levou para um teste com o bandleader, mas que não quis ouví-la por também considerá-la muito feia, mas por insistência de Webb acabou ouvindo e contratando-a.

Em 1938 gravou o primeiro sucesso com Webb, “A-Tisket a-Tasket”.

Aos dezenove anos já era considerada a primeira dama do jazz. Foi contratada pelo produtor e dono de gravadoras (Verve/Pablo) Norman Granz, integrando o grupo Jazz At The Philharmonic.

Fitzgerald gravou três discos clássicos ao lado de Louis Armstrong (Ella and Louis, Ella and Louis Again e Porgy and Bess).

Agostinho dos Santos




"Natural de São Paulo, foi crooner de orquestra, trabalhou nas rádios América e Nacional. Em 1955 foi para o Rio de Janeiro cantar com Ângela Maria e Sílvia Teles na Rádio Mairynk Veiga e gravou, no ano seguinte, o LP "Uma Voz e seus Sucessos", com músicas de Tom Jobim e Dolores Duran. Foi intérprete no filme "Orfeu do Carnaval", de Marcel Camus, com trilha sonora de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, que lhe rendeu dois grandes sucessos: "Manhã de Carnaval" (L. Bonfá/ Moraes) e "A Felicidade" (Jobim/ Moraes). Nos anos 50 e 60 ganhou prêmios e atuou como compositor, além de cantor. Participou do Festival de Bossa Nova no Carnegie Hall, em Nova York (1962) com o conjunto de Oscar Castro Neves. Teve uma rápida passagem pelo rock'n'roll nos anos 50, gravando "Até Logo, Jacaré", versão de Julio Nagib para "See You Later, Alligator", de Bill Halley & His Comets. Excursionou pela Europa e morreu num acidente aéreo em Paris."

Para Maryfran Oliveira

Samba erudito

(Paulo Vanzolini)

Andei sobre as águas
Como São Pedro
Como Santos Dumont
Fui aos ares sem medo
Fui ao fundo do mar
Como o velho Picard
Só pra me exibir
Só pra te impressionar

Fiz uma poesia
Como Olavo Bilac
Soltei filipeta
Pra ter dar um Cadillac
Mas você nem ligou
Para tanta proeza
Põe um preço tão alto
Na sua beleza

E então, como Churchill
Eu tentei outra vez
Você foi demais
Pra paciência do inglês
Aí, me curvei
Ante a força dos fatos
Lavei minhas mãos
Como Pôncio Pilatos

Andei sobre as águas (...)

Paulo Vanzolini



Paulo Emílio Vanzolini nascem em São Paulo SP em 25 de Abril de 1924. Filho de um engenheiro, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro RJ, quando tinha quatro anos. De volta a São Paulo em 1930, cursou o primário no Colégio Rio Branco e fez o ginásio numa escola publica, terminando o curso em 1938. Quatro anos depois entrou para a Faculdade de Medicina, passando a freqüentar as rodas boêmias de estudantes e a compor seus primeiros sambas. Saiu da casa dos pais em 1944 e começou a trabalhar com um primo, Henrique Lobo, na Rádio América (programa Consultório Sentimental, de Cacilda Becker), sendo logo depois convocado para o Exercito, o que o obrigou a interromper os estudos. Dois anos depois, retomou o curso de medicina, começou a dar aulas no Colégio Bandeirantes e foi trabalhar no Museu de Zoologia, da Universidade de São Paulo. Formou-se em 1947, casou no ano seguinte, e foi para os EUA, onde se doutorou em zoologia, na Universidade de Harvard.

Em São Paulo em 1951, compôs o samba Ronda, por essa época, e publicou um livro de versos, Lira. Convidado por Raul Duarte, passou a trabalhar na TV Record, de São Paulo, em 1953, produzindo os programas de Araci de Almeida. Ainda em 1953, Bola 7 fez a primeira gravação de Ronda, acompanhado por Garoto e Meneses, nas cordas, Mestre Chiquinho no acordeão e Abel na clarineta. Mais tarde, em 1959, ofereceu seu samba Volta por cima à cantora Inezita Barroso, que não quis gravá-lo. Por influencia de seu amigo José Henrique (violonista e dono da boate Zelão), voltou a mostrar o mesmo samba ao cantor Noite Ilustrada, que o lançou pela Philips em 1963, com grande sucesso. Nesse ano tornou-se diretor do Museu de Zoologia. Continuou acumulando composições inéditas, conhecidas apenas por restrito grupo de boêmios, principalmente os freqüentadores da boate Jogral, onde costumava cantar.

Em novembro de 1967, seus amigos Luís Carlos Paraná (dono da boate Jogral) e Marcus Pereira (então dono de uma agencia de publicidade) resolveram produzir um LP com músicas suas – 11 sambas e uma capoeira – interpretadas por vários cantores, entre os quais o próprio Paraná (Capoeira do Arnaldo), Chico Buarque (Praça Clóvis e Samba erudito) e Cristina (Chorava no meio da rua). No ano seguinte, com Toquinho, seu único parceiro, inscreveu a música Na boca da noite no II FIC, da TV Globo, vencendo a parte paulista do concurso. Com Toquinho compôs, ainda, Boba e Noite longa, ambas em 1969. Só teve, porém, novas músicas gravadas em 1974, ano em que Cristina lançou Cara limpa no seu primeiro LP, e Marcus Pereira, agora dono da gravadora de mesmo nome, editou um segundo LP – A música de Paulo Vanzolini – com músicas interpretadas por Carmen Costa e Paulo Marques, entre elas Mulher que não da samba, Falta de mim, Teima quem quer. Em 1997 foi homenageado, na USP, com show em que foi apresentada uma nova música sua, Quando eu for, eu vou sem pena.
Biografia: Enciclopédia da Música Brasileira Art Editora e PubliFolha

Pensamento para o Dia 25/04/2010


“Sua devoção por Deus deve ser contínua e ininterrupta como o fluxo de óleo de um recipiente para outro. Você deve ter observado que o jovem macaco se baseia em sua própria força para se proteger. Onde quer que sua mãe salte, ele tem de se agarrar rapidamente à barriga da mãe e não deve afrouxar seu abraço, mesmo quando separados. Igualmente, como um devoto, você deve passar pelo teste nas mãos do Senhor e abraçar o Nome do Senhor em todos os momentos e em todas as condições, incansavelmente, sem o menor traço de antipatia ou aversão, suportando ridicularização, críticas do mundo e superando os sentimentos de vergonha e derrota. A prática da devoção desse tipo é chamada Markatakishora Marga. Prahlada, grande devoto, filho do Senhor, praticou esse tipo de devoção.”
Sathya Sai Baba

Era uma vez uma feira - beatas e frutas - Por Xico Bizerra


Na rua da Igreja, beatas e feira. Feira de primeira. Toda segunda-feira. De verdura, cereais, mas principalmente, a colorida feira das frutas. Das jaboticabas roxinhas, limões verdes, pitangas vermelhas. Tamarindos marrons e azedos se juntavam a doces siriguelas amarelinhas para enfeitar a banca de Mané Gordão e a boca gulosa da meninada. Às vezes eram vistas acerolas cor de acerola e, quase nunca, carambolas, estas de uma cor sei-lá-que-cor. Os olhos brilhavam diante da aquarela de sabores, das goiabas e das maçãs, das mangas e dos cajus...
Onde estão as feiras? Onde se escondem as frutas? Onde brilham as cores? Hoje, aquela rua só tem as beatas. A feira mudou-se para o ar condicionado: lá, as frutas têm sabor acre e as cores se desbotam, se esvaem, lembrando do burburinho e com saudades da mão gorda de Mané a afagá-las.
Na hora de pagar o dinheiro é de plástico. Na fila do caixa, sem a zoada da feira, uma criança chupa chiclete. Do lado de fora, outra criança pede esmola. Alguém oferece uma laranja amarga.
Por Xico Bizerra