Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

ENVIE SUA FOTO E COLABORE COM O CARIRICATURAS



... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

Para participar, envie suas fotos para o e-mail:. e.
.....................
claude_bloc@hotmail.com

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O VAQUEIRO CEARENSE - Nilo Sérgio Monteiro


Cearense...
Cara enrugada
Pensativa, nostálgica.
Viajando num pau de arara.
Gosto da terra na boca
Mãos molhadas de suor
E a fé no “padim ciço”.
Mãos calejadas, terço na mão,
cantigas e orações.
Mãos de aço de vaqueiro valente
Olhos profundos ,negros como a noite
Cara curtida, retalhada a ferro e espinhos.
Do alto do seu cavalo,
Na sua armadura de couro
Descansa seu olhar de prata
Sobre a caatinga que domou.

OLHOS VERDES, VERDE MAR...

OLHOS VERDES, VERDE MAR...


Fico aqui sentado olhando este por do sol
E as ondas batendo com ritmo nas rochas próximas.
Verdes mares, brancas espumas que se formam
Nas rochas e respingam meu rosto.
Sol magnífico, incendiando o céu azul de vermelho e
Laranja em vários tons.
Lembro teu olhar que penetrei até me perder
Doce verde, teu olhar me fez escravo,
E me seduziu.
Hoje este olhar está no mar a me perseguir
Tão grande vasto verde mar.
Teu olhar, oceano de prazer e de saudades!
De lembranças, bolhas de champagne
A dançar loucamente em minha cabeça.

Exercício de Energização.

Os participantes deitam-se de costas para o chão, num clima de silêncio, atentos ás instruções:
"Sinta a energia VERDE fluindo da mão DIREITA que cura e nutre. Da mão EsQUERDA vem a energia ROSA que relaxa e aconchega. VERDE é uma cor que nutre.É o aspecto da cura e nutrição. Dá harmonia e ajuda a desenvolver compaixão.Ajuda a ter uma comunicação
simpática com tudo o que a circunda.Dá novas energias.

A vibração suave do Rosa ajuda a relaxar totalmente.Dá sensação de amor e
carinho, como de uma criança.
Sinta estas duas energias fluindo de suas mãos para o coração.
E sinta como todo o seu corpo vai sendo preenchido com a energia destas duas cores.
Tome algum tempo para você agora, e veja o que você não aceita em você mesmo.
O que quer que seja, veja isso, imagine isso como um bloco de gelo.Você não aceita o bloco de gelo, e lança sobre ele a energia verde e rosa do coração, então ele se derrete e se converte em água cristalina, agradável, aceitável. Deixe a respiração sair pela boca, abrir-se mais. Como se em cada inspiração você abrir-se mais as portas do coração. Não tenha medo de abrir as portas demais.Permita a respiração ser mais forte, volte a respirar normalmente e visualize um botão de rosa que se abre a cada inspiração. Veja uma rosa se abrindo, florindo ( mais ou menos
uns 15 a 20 minutos).
Alongue-se. Abrace a si mesmo." Nota: faça esse exercício quando estiver se sentindo desenergizado(a) ou cansado(a), pois ele serve como energizador, relaxante e pode até provocar uma pequena Catarse.
Abraços: Liduina Belchior Vilar.

Repentes inspirados no poema de Stela : Essas Mulheres



Fantástico !
Sabe aquele riso feliz?
Não pela tua solidão( tão minha...) mas pela arte expressa, bem dita !

Às vezes brinco com elas, me vejo nelas, arquétipos , onde sou mais cinderela , sem final feliz. Minhas esperas adormecem uma vida, e acordam , sem as chegadas prometidas.
Ísis sem Osiris, esperando um plano eterno de refazimento, já que a alma não se aparta do amor que é terno !
Assim caminha a humanidade... Num labirinto de paixão , num clima de guerra e paz, ao som da melodia imortal, com música e lágrima . Em casa blanca, a gente espera o último pôr-do-sol, que o poderoso chefão , nos prepara e guarda ! Só faltou falar num raio de sol , que entra na minha varanda , e me acorda. Acaricia meu dia, e me faz acreditar que a liberdade é azul, que os brutos também amam, e que estamos a um passo da eternidade... E, se o vento levou meu amor, quando setembro chegar, um outro amor chegará, nem que seja de aldilá,porque o céu que nos protege , há de nos acobertar!
Pronto.Arrumei uns títulos de filmes pra animar esse encontro nos bastidores... O chão está cheio de pipocas. Só tá faltando a cajuína do Ceará !

Abraços, Stela, amiga !

Eis o poema

ESSAS MULHERES

Um dia abracei-me inteira com minha solidão
revelando-se-me Iracema com lábios cheios de amargor
e uma sucessão de mulheres surgiu então:
Rapunzel de cabelos curtos,
Isolda sem Tristão
Branca sem beleza de neve
(moça de chapéu desbotado)
clamando por Ariadne
(acordada sem fio condutor e amor de Teseu).
Mas surge Penélope
sem pretendentes
tecendo mortalhas
entrelaçando os fios
dos longos cabelos de
Madalena
sem os pés de Jesus para perfumar
irmã de
Perséfone o ano inteiro no reino de Hades
chamando Deméter
no mundo estéril, amarga, escondida.

Grito:
Onde está Beatrice?

E me vejo só. Sozinha
com a solidão da ausência dos mitos.
Desritualizada.
Dessacralizada.

A mulher e o espelho do tempo - Por Stela Siebra Brito

O poema que estou postando abaixo foi escrito já faz um bom tempo. Trago-o hoje em homenagem à minha querida amiga Socorro Moreira, após leitura do seu belo,leve e sincero texto "Meu nome é Dora".

DIZEI-ME ESPELHO MEU

Quem é essa mulher refletida no espelho?
No espelho do quarto,
no espelho da água do rio,
da água do mar,
da água da chuva.

Quem é esta mulher refletida no espelho de outros espelhos?

Que beleza maior o espelho não revelou?
Que grandeza maior ele ocultou?
Que sabedoria ficou atrás do reflexo do espelho?
Que riqueza guarda essa mulher?
Que mistérios guarda essa mulher?
De quantas máscaras já se desfez essa mulher?
E esse baú de reminiscências guardando véus, pedras e cartas?
Será de uma bruxa, de uma sacerdotisa, de uma orixá?
Ou tão somente de uma cidadã do século XXI?

O espelho responde de forma enigmática,
(afinal é o meu espelho!):
“A resposta está nos astros”.

Pandora que Hera Dora -Por Socorro Moreira - Para minha amiga Stela

Stela passou 4 anos para nos mostrar um poema primoroso. Eu passo só um instante, e me arvoro , sem ligar para a impureza dos meus versos... Confio na luz da compreensão ,que espelha, os que leem.

Essa mulher me estranha
quando penso que sou outra
Nos espelhos invertidos ,
imagens reveladoras
Na projeção de si mesma
descobre o quanto foi tola
Foi amante ,foi covarde ,
e foi procrastinadora.
O espelhou ofuscou
seu jeito de moura
Escondeu sua língua ferina ,
sua caixa de Pandora
Escondeu seu ventre de Hera
Sua espera ,
nas esquinas imaginárias
de uma esfera
Mistérios diluídos em quimeras
Mistérios escondidos
em verdades, que
os astros lhe disseram !
Véus guardados
depois da procissão de passos
Véus rasgados
depois de um último bolero
Naquele salão dos espelhos
sua imagem fundiu-se,
na fumaça das velas
A luz foi ficando parca,
como numa noite sem estrelas.

socorro moreira

Apenas um pássaro - Por Rosa Guerrera


Estava eu preguiçosamente sentada na varanda , absorta em meus pensamentos quando de repente observei um pequeno pássaro pousado numa folha de palmeira , a poucos metros de mim. Fiquei imóvel para não assusta-lo admirando a sua plumagem colorida, enquanto ele virando a cabecinha de um lado para o outro , parecia procurar alguma coisa. Imaginei como seria bom pudéssemos conversar ! Perguntaria talvez aquele pássaro de onde ele veio , o que pretendia passeando naquela folha de palmeira , tão distante talvez do seu ninho , dos seus companheiros ...De repente, ignorando certamente a minha presença , ele levantou vôo e eu acompanhei ainda imóvel a sua fuga pelo espaço, deixando no entanto dentro de mim a impressão de que um amigo viera visitar-me e que partira sem um gesto de “adeus”. Hoje lembrando o ocorrido , fico imaginando que como aquele pássaro , quanta gente entra e sai nas nossas vidas sem um gesto , um aceno ao menos de um “até breve’. E como num “tape” penso nas tantas pessoas que passaram também na minha estrada trazendo coloridos mil de plumagens tão lindas! Quantos passeios alegres deram dentro do meu coração ! Quantas canções cantadas aos meus ouvidos! Quantos vôos poéticos em direção a um céu azul !
E quantas partidas também repentinas sem o calor de um abraço, um aperto de mãos, um simples olhar de despedida .
Aquele pássaro realmente me fez hoje pensar na grande ciranda da vida , onde os pousos e os giros não possuem hora marcada para acontecer. E num minuto apenas , num simples minuto pode acontecer aquele encontro tão esperado , ou aquele adeus sem despedidas.Aquele pássaro merece hoje essa homenagem no meu blog !Quem sabe outro dia ele não volte a pousar na mesma palmeira !

Postado por rosa guerrera

no blog. flor da paz.

Respostas ao Desafio ...!


Não saberia envelhecer na beira da estrada ,

esperando um trem que não chega.

Não saberia envelhecer , sem meus chinelos, sem buscar um café.

Não saberia envelhecer , sem um rosário nos dedos , cantando versos.
.
Invejo os tênis , que ainda sentados, esperam ! ( socorro moreira)




Na minha opinião,senilidade não combina com tristeza.
Combina com sabedoria,com cabeça pro alto,
com ensinamentos,com risos ,com a paz,pois toda uma vida já quase se passou.
Mas também não combina com abandono e com pobreza.
Vamos amar nossos velhos sem distinção.Vamos,vamos... (Liduina Belchior Vilar)

O trem partiu
Levando alguém
Deixou a dor
De ser ninguém... (Ângela Lobo)

" Joga a rede no mar... deixa o barco correr " - Por Socorro Moreira

1979 a 2009 - 30 anos, num minuto.

Deixei Recife com uma dor sem avaliação. Decolei numa noite comprida, e aterrissei numa cidade estranha. Escolha aleatória, como ponto de recomeço : Fortaleza.

Luzes esparsas, lugar de exílio. Eu estava assaltada pelos letreiros luminosos do Recife; cortada por suas pontes ferrenhas; apaixonada pelos seus cais , e chorando os meus ais.

Quem me fez pensar em despedidas?

" Muda-se a cidade, mas não se muda o poço."

E o poço era profundo, escuro, viscoso. Quase não me devolveu ao mundo.

Fortaleza parecia uma noiva com suas roupas e lençóis de rendas. As noites eram provincianas . Violões, canções, e uma sucessão de dias amanhecendo.

Da minha janela eu viajava nas velas do Mucuripe, escutava os boémios do "Bar Santiago", e esticava o pensamento até alcançar o "Nick Bar”, "Tia Rosa”... A música era sempre um convite a entrar na roda, a contar histórias. Embriagada das noites, eu molhava as emoções nas águas do mar; suspirava valsas, choros e antigos sambas . De Kalu para trás, aceitava o desafio... Domínio de letra e melodia, além da frase principal, que condensava a canção : “... Joga a rede no mar, deixa o barco correr...". Um desespero de vida ;uma responsabilidade mais pesada do que a minha própria alma. Um dia despedi-me do vivido. A vida tinha sugado parte da minha alegria. Perdera mais uma vez, um pseudo amor (às vezes a gente jura que encontrou!).
Mudei de estação. Estava outra vez, na estrada:
Cariri / Uberlândia
Uberlândia/Cariri
Cariri/Macaé
Macaé/Mauriti
Uma pressa desmedida; uma vontade incontida, que o futuro chegasse, e aposentasse as minhas asas cansadas. Mas não parei por ali...:
Mauriti/Bela Vista
Bela Vista/Bahia
Bahia/Friburgo
Friburgo/Paraíba
Paraíba/ Ceará... “Eu penei, mas aqui cheguei!
Cheguei aquietada . Desprendida de tudo , sem bagagens.
E aqui estou ... Nuvem de quase novembro.

Imagens de Abbey Road

Clique na imagem para ver como estar agora o mais famoso cruzamento de rua do mundo.

PAIXÃO - Por João Nicodemos

até suas
listas de compra




leio
emocionado




Nicodemos

Algumas bruxinhas do Cariricaturas

Bruxinhas existem , e são identificadas, ainda meninas ...
Elas vivem mexendo , no caldeirão do carinho...


Essa porção feminina , que provoca sortilégios, no universo.
Faltam as imagens de algumas , e de muitas , mas a energia está presente ...Como a de Maria Amélia, Glória, Amanda, Rosa Catarina ,Fátima Figueiredo , Angela Lobo, Aldenir Silvestre, Hermínia, Camila Arraes, Ângela Tavares , Teresa Abath ,Walda, Corujinha... por exemplo !

Rocambole de Chocolate Especial !

Ingredientes

Massa:

8 ovos
1 xícara de açúcar
1 xícara de farinha de rosca
1 colher de pó royal
1 lata de nescau ( pequena)

Recheio

1 lata de creme de leite sem soro


Cobertura :

1 lata de leite condensado
A mesma medida de leite de gado
1 colher de maizena
3 gemas

Finalização :

Chocolate granulado e cerejas.

Acompanhamento : Marshmallow

Modo de Preparo Massa:

Bater as claras em neve junte as gemas peneiradas, continue batendo para que fique em ponto bem firme
Junte aos poucos o açúcar e continue batendo, coloque aos poucos a farinha , o fermento e o chocolate.
Forre uma forma com papel manteiga previamente untada, com margarina e trigo
Asse em forno quente por 15 minutos em assadeira retangular
Após assar deixe esfriar
Espalhe o recheio sobre a massa assada, enrole o lado maior da massa
Use a cobertura.
Polvilhe com chocolate granulado, e decore com cerejas.

* Cobertura : fazer um creme com os ingredientes acima citados.


Marshmallow


Ingredientes


3 claras

1 xícara de açúcar

1 xícara de mel karo

1 xícara de água

1 colher de sopa de suco de limão

Modo de Preparo


Faça uma calda em fio com o açúcar, a glucose de milho, a água e o limão
Bata as claras em neve bem firme
Quando a calda estiver pronta, despeje-a ainda quente e em fio na batedeira ligada
Bata até ficar morno
Você verá que conforme vai esfriando ela vai ficando branca

Use em bolos, sorvetes ou em outra sobremesa
* Essa receita aprendi com Zélia Moreira , que aprendeu não sei com quem... É o carro chefe das nossas festas há 30 anos. Sem erros !

A Avidez humana! – Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Desculpem-me. Sei que muitos dos leitores por aqui não gostam de futebol. Mas o assunto que pretendo repartir com os amigos é sobre o desejo insaciável por lucros, vitórias e glória. Para isso, ignoram-se os sentimentos de afetividades que nutre e engrandece as relações de amor. Chega-se ao extremo de escravizar o homem, se possível. Que tem o futebol a ver com tudo isso?

Apesar das relações de trabalho de um jogador de futebol profissional terem evoluído para melhor nos últimos dez anos, houve época em que o atleta era um verdadeiro escravo. Preso definitivamente ao clube, não lhe era facultado o direito de livre transferência ou escolha da equipe em que gostaria de jogar. Submetia-se a dias seguidos de confinamento, sem contatos com a família e o mundo exterior, numa ociosidade a que ainda hoje os dirigentes de futebol teimam denominar de concentração.

Em 1946, D’Ávila era um esforçado jogador de meio de campo de uma das quatro grandes equipes de futebol do Rio de Janeiro. Não chegou a integrar a seleção brasileira, mas era muito importante para o esquema de jogo do seu time. Era um desses jogadores que desarmam os ataques da equipe adversária e ajudam a empurrar o seu time para frente. Geralmente esse tipo de jogador passa despercebido aos olhos da torcida.

O time de D’Ávila estava concentrado desde a segunda-feira à noite num casarão da zona sul da cidade do Rio de Janeiro, preparando-se para um jogo decisivo do campeonato. A mulher de D’Ávila fora hospitalizada naquele mesmo dia, com uma estranha doença. Mas os dirigentes do clube não consideraram esse fato um motivo justo para dispensá-lo da concentração. Não podiam prescindir daquele jogador na equipe.

Semana inteira de treinos à tarde e o restante do dia na mais completa ociosidade. Naquele confinamento desumano, a nenhum atleta era dado o direito de sair à rua, visitar a família, ou ao menos usar o telefone.

No domingo pela manhã, dia do jogo decisivo, uma freira que trabalhava no hospital onde estava internada a mulher de D’Ávila, telefonou para a concentração procurando falar com o jogador. Disseram-lhe que ele não podia atender. “Por favor, digam a ele que o estado de saúde de sua esposa se agravou e ela pede desesperadamente para falar com ele.” Insistia a irmãzinha reforçando a urgência da presença do jogador.

Os dirigentes da equipe acharam por bem nada comunicar ao seu atleta para que nenhuma preocupação viesse prejudicar seu rendimento no jogo. Afinal, iriam enfrentar um dos mais fortes rivais.

Na tarde daquele ensolarado domingo, D’Ávila se esforçou como sempre era seu costume, contribuindo para vitória do seu time num jogo decisivo.

Somente quando a partida terminou, entre tapinhas nas costas, os dirigentes comunicaram a D’Ávila para ir ao hospital com urgência, pois o estado de saúde da sua mulher havia se agravado. Ele imediatamente enxugou o suor do corpo com uma toalha, trocou de roupa, sem ao menos tomar banho e foi de taxi, o mais depressa possível, ao hospital.

Lá chegando, a irmãzinha lhe disse: “O senhor não tem coração? Telefonei várias vezes desde a manhã de hoje. Sua mulher passou o tempo todo querendo lhe falar e somente agora o senhor chega aqui?” “Mas eu vim assim que me disseram. Estava no jogo e vim o mais rápido possível.” Disse-lhe D’Ávila preocupado. “Agora é tarde! Sua mulher faleceu às três horas da tarde.” Respondeu a freira. Ao saber dessa notícia, D’Ávila desmaiou, voltando a si, somente algum tempo depois.

O desespero tomou conta de D’Ávila. Voltou ao casarão da concentração e não encontrou mais ninguém do clube, somente o caseiro e sua mulher. Então, munido de uma barra de ferro destruiu tudo que havia pela sua frente, não sobrando nem portas, nem janelas.

No dia seguinte, durante o enterro, diante de dirigentes do seu clube e dos colegas jogadores, D’Ávila desabafava, acariciando o rosto frio da sua amada: “Não me deixaram te dar um último beijo, mas você está vingada.”

Por Carlos Eduardo Esmeraldo
(Adaptado de "Os subterrâneos do Futebol" de João Saldanha, p. 60; José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1980)

A Bruxa de Portobello - Paulo Coelho




Ela me dizia que estava aprendendo à medida que me ensinava.

Todos buscam um mestre perfeito; acontece que os mestres são humanos, embora seus ensinamentos possam ser divinos – e aí está algo que as pessoas custam a aceitar. Não confundir o professor com a aula, o ritual com o êxtase, o transmissor do símbolo com o símbolo em si mesmo.

Cozinhamos reclamando da perda de tempo, quando podíamos estar transformando amor em comida.

As coisas não são absolutas, elas existem dependendo da percepção de cada um.

Sugeriu que, pouco a pouco, começássemos a preparar terreno para dizer que ela tinha sido adotada. (...) a pior coisa que podia acontecer é que ela descobrisse por si mesma – passaria a duvidar de todo mundo. Seu comportamento poderia tornar-se imprevisível.

“Diante de mim havia duas estradas
Eu escolhi a estrada menos percorrida
E isso fez toda a diferença” (Robert Frost)

A música é tão antiga quanto os seres humanos. Nossos ancestrais, que viajavam de caverna em caverna, não podiam carregar muitas coisas, mas a arqueologia moderna mostra que, além do pouco que necessitavam para comer, na bagagem havia sempre um instrumento musical, geralmente um tambor. A música não é apenas algo que nos conforte, ou que nos distraia, mas vai além disso – é uma ideologia.

- Por que não me dá a comunhão?
(...)
- (...) a Igreja proíbe que pessoas divorciadas recebam o sacramento.
(...)
- Cristo disse: “Vinde a mim os que estão agoniados, e eu os aliviarei”. Eu estou agoniada, ferida, e não me deixam ir até Ele. Hoje aprendi que a Igreja transformou estas palavras: vinde a mim os que seguem as nossas regras, e deixem os agoniados para lá!
(...)
Penso que, ao sair da igreja, Athena pode ter encontrado Jesus. E, chorando, se atirou em seus braços, confusa, pedindo que lhe explicasse por que estava sendo obrigada a ficar do lado de fora só por causa de um papel assinado, uma coisa sem a menor importância no plano espiritual, e que só interessava mesmo a cartórios e imposto de renda.

Quando escrevo, quando danço, sou guiado pela Mão que tudo criou.

O caminho é mais importante que aquilo que a levou a caminhar.

Para aqueles que viajam o tempo não existe – apenas o espaço.

Desde épocas remotas os seres humanos tinham um ritual onde fingiam ser outras pessoas, e desta maneira procuravam a comunicação com o sagrado.

Quando vc dança, sente desejo? Sente que está provocando uma energia maior? Quando vc dança, existem momentos em que deixa de ser você?
(...) parecia entrar mais em contato comigo, o fato de estar seduzindo ou não alguém deixava de fazer muita diferença.
Se o teatro é um ritual, a dança também. Além disso, é uma maneira ancestral de aproximar-se do parceiro. Como se os fios que nos conectam com o resto do mundo ficassem limpos do preconceito e dos medos. Quando vc dança, pode se dar ao luxo de ser você.

Nos conhecemos quando nos vemos no olhar dos outros.

Procurei, eu mesma, os galhos maiores, e os coloquei por cima dos gravetos; era assim a vida. Para que pegassem fogo, os gravetos deviam antes ser consumidos. Para que pudéssemos liberar a energia do forte, é preciso que o fraco tenha possibilidade de se manifestar.

As bruxas existem - Mônica Buonfiglio



Na Idade Média, as mulheres que conseguiram o poder, passavam gradativamente a ser consideradas bruxas. A palavra inglesa witch (bruxa, feiticeira) é derivada da palavra anglo-saxônica wicce e da alemã wissen (saber, conhecer) e wikken (adivinhar). Antigamente as bruxas eram chamadas de sábias, até a Igreja atribuir-lhes uma conotação de degradação, de mulheres dominadas pelos instintos inferiores.

As bruxas nada mais eram do que mulheres que conheciam e entendiam do emprego das ervas medicinais para a cura das enfermidades nos vilarejos onde viviam. Também estavam aptas a realizar partos e a preparar ungüentos medicinais. Com o advento do Cristianismo, a era patriarcal acabou por imperar, até porque o Salvador era um homem. As mulheres foram colocadas em segundo plano e identificadas como objetos de pecado utilizados pelo diabo.

É claro que algumas mulheres rebelaram-se. Estas mulheres, dotadas de um poder espiritual - inclusive passado de mãe para filha -, começaram a angariar de novo o prestígio de outros tempos, e isto passou a incomodar o poder religioso. Como admitir que algumas mulheres podiam ser livres e que algumas pessoas respeitavam o que elas ensinavam? Para acusar uma mulher de bruxaria era muito fácil: bastava uma mulher casada perder a hora de despertar, que o marido a acusava de estar sonhando com o demônio.

Para as bruxas do mundo inteiro, o dia 31 de outubro tem um significado muito especial: o deus que representava a natureza (e que possuía chifres, em sinal de poder) saía da infância para ingressar na adolescência, tornando-se jovem e aventureiro (símbolo do alce nas pinturas alquimistas).

Neste dia, essas mulheres homenageavam a deusa Gaia (terra) em sintonia com esse deus (fecundo) para obter cada vez mais conhecimento, gerar filhos saudáveis e criar entendimento entre os familiares. É claro que algumas mulheres em tempos remotos aproveitavam-se desse poder para seus próprios interesses - como aquisição de bens -, praticando a magia negra. Como o próprio nome diz, a feiticeira tinha o poder de enfeitiçar as pessoas, atraindo pensamentos negativos em suas associações a seres infernais, em oposição ao amor de Deus. Essas bruxas, através de pactos com o diabo, também obtinham vinganças sociais.

Infelizmente, as bruxas e as sacerdotisas nórdicas foram quase que completamente esquecidas, sendo associadas ao seu aspecto negativo. Presume-se que a caça às bruxas do passado tenha ocorrido a partir de tensões sociais profundas, e esperamos que as torturas do passado, não voltem a ocorrer em tempos futuros.

Monica Buonfiglio

Um poema de Drummond



AMOR, POIS QUE É A PALAVRA ESSENCIAL


Amor – pois que é palavra essencial
comece esta canção e toda a envolva.
Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,
reúna alma e desejo, membro e vulva.

Quem ousará dizer que ele é só alma?
Quem não sente no corpo a alma expandir-se
até desabrochar em puro grito
de orgasmo, num instante de infinito?

O corpo noutro corpo entrelaçado,
fundido, dissolvido, volta à origem
dos seres, que Platão viu completados:
é um, perfeito em dois; são dois em um.

Integração na cama ou já no cosmo?
Onde termina o quarto e chega aos astros?
Que força em nossos flancos nos transporta
a essa extrema região, etérea, eterna?

Ao delicioso toque do clitóris,
já tudo se transforma, num relâmpago.
Em pequenino ponto desse corpo,
a fonte, o fogo, o mel se concentraram.

Vai a penetração rompendo nuvens
e devassando sóis tão fulgurantes
que nunca a vista humana os suportara,
mas, varado de luz, o coito segue

E num sofrer de gozo entre palavras,
menos que isto, sons, arquejos, ais,
um só espasmo em nós atinge o climax:
é quando o amor morre de amor, divino.

Quantas vezes morremos um no outro,
no úmido subterrâneo da vagina,
nessa morte mais suave do que o sono:
a pausa dos sentidos, satisfeita.

Então a paz se instaura. A paz dos deuses,
estendidos na cama, qual estátuas
vestidas de suor, agradecendo
o que a um deus acrescenta o amor terrestre.

Poema do amor eterno : Carlos e Magali

Bruxas famosas do cinema




Morgana Stradvarius Victorius (Castelo Rá Tim Bum)

Dizem que as bruxas são más. Mas não é o caso da tia-avó de Nino. Com mais de 6 mil anos de vida, adora cantar, promover festas e contar fatos históricos que presenciou, como a construção da Grande Muralha da China e a invenção do dinheiro.

Hazel (Looney Tunes)

Verde, gorda, com o cabelo desgrenhado e dedos finos. Hazel faz questão de ser feia e para isso vive preparando poções e feitiços. Para manter a forma de barril de chopp, atrai crianças para seu casebre, com o objetivo de devorá-las. Pernalonga quase foi uma de suas vítimas, mas o coelho malandro conseguiu dar um chapéu na bruxa velha.


Samantha Stephens (A Feiticeira)

Samantha (Elizabeth Montgomery) só queria ter uma vida feliz ao lado de seu marido Darrin (no Brasil, seu nome foi trocado para James, pois a pronúncia soava melhor) e dos filhos, Tabatha e Adam. Mas sempre acabava obrigada a contorcer seu nariz e lançar mão de seus poderes de feiticeira para salvar sua família de enrascadas.


Willow Rosenberg (Buffy a Caça-Vampiros)

Entre uma mãozinha e outra na luta de Buffy contra os vampiros, a bruxinha bissexual incendiou a mente de marmanjos com seu romance com Tara. Atualmente, a atriz Alyson Hannigan pode ser vista na série How I Met Your Mother.

Dona Clotilde – Bruxa do 71 (Chaves)

Dona Clotilde, mais conhecida como a Bruxa do 71, era temida por Chaves, Chiquinha, Quico, Nhonho e Pópis. Mas ela era apenas uma inofensiva senhora solteirona apaixonada pelo Seu Madruga. A personagem foi interpretada por Angelines Fernández, morta em 1994, com 71 anos de idade.

NÃO É FÁCIL DIZER ADEUS!



Estava hoje à noite lendo alguns ensaios sobre o "Adeus" da Psicóloga Junguiana Regina Nanô de São Paulo quando me deparei com um artigo de Fernanda Cecon sobre o premiado curta metragem do Cineasta e Psicólogo Americano Jay Rosenblatt sob o título: “Membro Fantasma”. Baixei o vídeo e fiquei extasiado com a sua beleza poética sob a dor e o recomendo a todos que de uma forma ou de outra têm dificuldades em lidar com o ADEUS, enfim: PERDAS E DANOS.


“Membro Fantasma” é uma reflexão poética sobre a dor e o aprendizado do adeus. Numa de suas passagens mais marcantes, um homem tosa uma ovelha enquanto uma voz narra as diferentes fases do luto. Indagado sobre as razões de ter escolhido essa cena para ilustrar a perda, Rosenblatt respondeu: Queria uma metáfora que também significasse renovação. Uma imagem que sintetizasse, ao mesmo tempo, vulnerabilidade e entrega. A ovelha perde aquela cobertura de lã; mas, ao longo de sua existência, outras crescerão e serão tosadas. Um ciclo natural, portanto. Existem momentos assim na vida, de corte, de conclusão. A perda pode vir por uma circunstância externa, como no caso da morte de alguém querido, uma demissão, uma separação repentina, um acidente. Mas pode também ser decorrente de um processo em que a decisão final depende de nós. De qualquer forma, nos dois casos, temos de nos despedir. E esse processo dói. Deixar ir embora faz parte da existência, tanto quanto começar um ciclo novo. Só que, em diferentes graus, todo ser humano tem dificuldade de colocar um ponto final. Por isso, teima em insistir numa situação conhecida, embora já insatisfatória, e não consegue assumir que aquela etapa esgotou-se e que deve finalizá-la. É preciso mesmo coragem para dizer adeus. Um adeus verdadeiro, do fundo da alma e com consciência, e não um até breve volto já. É sobre isso, leitor, que vamos falar aqui.

O que é o adeus?

Despedir-se de algo que não faz mais sentido e abrir-se para os desafios e as oportunidades de um novo ciclo é parte natural da vida. Então por que será que é tão difícil dizer adeus”?

Em primeiro lugar, tiremos a carga negativa que gira em torno da despedida. Por si só, adeus não quer dizer desistência, abandono ou fracasso: essas são interpretações atribuídas por nós mesmos. O psicólogo Wagner Canalonga, sacerdote da Sociedade Taoísta de São Paulo, recorre a uma imagem bonita para representar o adeus: é como atravessar uma porta, deixando um ambiente para entrar em outro. A mesma porta que se fecha atrás de você, impossibilitando seu retorno para o primeiro cômodo, permite sua entrada no novo aposento. Em outras palavras, o fim é sempre o começo de uma outra história. Ter isso claro traz uma compreensão diferente e mais leve do que está por vir.

Outra metáfora bastante oportuna: você já ouviu falar de ecdise? Trata-se da mudança periódica de casca dos artrópodes. O esqueleto externo, rígido, limita o crescimento do bichinho. Por isso, de tempos em tempos, é preciso que ele deixe a casca velha para formar uma nova e mais folgada e continuar a se desenvolver. Assim também é conosco: as diversas experiências vividas dia a dia vão nos alargando interiormente. Até o instante em que as escolhas antigas tornam-se obsoletas e novas se fazem necessárias mesmo que seja para continuar na trajetória anterior (no casamento, na carreira, naquele modo de viver), mas com outra presença e outros paradigmas. E como identificar esse instante de revelação? É um forte chamado interior, como se uma parte bastante profunda de você a alma e não o ego o conduzisse para um rumo um tanto indefinido. Mas, aos poucos, aquele caminho vai fazendo sentido. Hoje a razão virou o único ponto de apoio para as pessoas. Mas a intuição é que nos guia, por isso devemos levar em conta o que diz nosso coração. Uma amiga tem um reflexão muito bonita a respeito. Ela costuma falar que o ego grita, a alma sussurra. Como vivemos num mundo ruidoso, tomado por mandamentos vindos de todos os lados (da cultura, da moda, da publicidade), só escutamos os berros os do ego, querendo manter o controle a todo custo, e os dos outros. Os apelos da alma, aqueles que injetam vitalidade na existência, ficam inaudíveis. E a hora certa?O verdadeiro adeus surge quando a pessoa já entendeu qual é seu destino e refletiu muito a respeito do que precisa se desembaraçar para seguir adiante em seu caminho, afirma a filósofa Dulce Critelli, professora da PUC de São Paulo. Para ela, a lucidez na finalização de um ciclo indica um importante sinal de maturidade: o indivíduo compreende que é responsável pela própria existência. E também pelos ganhos e perdas, acertos e erros de suas escolhas. O processo da despedida sempre carrega duas grandes questões cruciais, aliás, para a maioria das tradições filosóficas. Quem sou eu? E qual é o sentido da vida? Segundo a filósofa, nem sempre o adeus é consciente, fruto de um período de maturação. Pode ser o desejo de escapar de um contexto desconfortável. Isso acontece, por exemplo, quando uma nova habilidade é requerida no trabalho e o indivíduo se sente acuado ou inseguro. Também quando a intimidade começa a se estabelecer num relacionamento amoroso e uma das partes acha que não suporta a situação. Em ambos os casos, a pessoa decide, às pressas, pôr um ponto final na experiência a fim de fugir dela e evitar o confronto com seus fantasmas. Essa atitude não é de engajamento com uma decisão madura,
afirma Dulce. Na ruptura coerente, existe uma construção gradativa de bases para o novo caminho. Portanto, antes de dizer adeus, vale refletir bastante, ponderar, pensar em como dar os próximos passos. E também perguntar: por que quero fazer isso? Para escapar de uma dificuldade ou porque desejo dar um rumo mais rico à minha vida?

Por que o sofrimento? Eis uma das grandes complicações em despedir-se: como admitir que a vida planejada anteriormente não faz mais sentido para a pessoa que você é hoje? A impermanência da existência incomoda porque inviabiliza nosso controle. Por isso, uma das razões para o sofrimento gerado pelo adeus é um velho conhecido: o apego. Atribuímos nossos próprios significados às pessoas e às situações e isso nos liga a elas de tal forma que não conseguimos nos desapegar, diz o psicólogo Arnaldo Bassoli, da Associação Palas Athena, em São Paulo. Mas, se as transformações internas e externas são inevitáveis, por que se agarrar a certos momentos quando sua existência está levando você para outro lado? O problema é que o ser humano, ainda mais na sociedade consumista de hoje, não se contenta apenas em vivenciar algo; ele quer possuir esse algo, retê-lo, conservá-lo em formol para que se mantenha para sempre tal e qual era no início e isso vale para tudo: um parceiro, um emprego, um status, um argumento, até uma rotina. E que angústia perceber a impossibilidade desse desejo! Bassoli usa uma metáfora budista para mostrar como lidar com essa situação natural da vida, que é de constante mutação: segure firmemente um objeto em suas mãos, alongue os braços à sua frente com a palma para baixo e relaxe seus dedos: você perderá o que carrega. Contudo, se mantiver a palma da mão para cima, mesmo afrouxando os dedos, o objeto ainda estará ali. O segredo, então, é conservar o que se tem com desapego ou, então, soltar de vez o que não tem mais valor.
E o que nos segura?Um adeus autêntico exige coragem, ainda mais quando vai contra o que propõe a sociedade contemporânea. Valores como segurança e estabilidade (muito mais no sentido da imobilidade que da harmonia) permanecem em alta. Então, por que arriscar? Ao mesmo tempo, a sociedade também nos impele ao frenesi das falsas mudanças (de carro, roupas, bens de consumo, parceiros sexuais...) que nos iludem com suas promessas de felicidade. Na agitação de vida atual, muitas vezes a pessoa não consegue gestar um novo projeto para si mesmo. Ou, por pressões externas, não chega nem sequer a desejar a formulá-lo, diz o filósofo Franklin Leopoldo e Silva, professor da USP. As únicas mudanças permitidas são aquelas que estão dentro dos esquemas formulados pela sociedade de consumo e sua infinita oferta de papéis e identidades. Tudo isso em benefício de uma falsa liberdade, posto que delimitada, diz ele. A solução nesse caso é seguir o que de mais particular e verdadeiro clama dentro de nós. E seguir esse anseio verdadeiro sem ter medo ou culpa. Negar a própria bem-aventurança, como dizia o mitólogo norte-americano Joseph Campbell, ou tornarse surdo diante dos apelos da alma pode trazer conseqüências até para o organismo. Os conflitos internos vão aumentando, a pessoa é tomada pelo desânimo, depressão e cansaço, a energia pára de fluir e isso explode num sintoma físico, diz a psicóloga Regina Nanô. Irritabilidade excessiva, gastrite, constipação, enxaquecas ou infecções freqüentes... É preciso prestar atenção tanto no corpo quanto no coração: será que não estão dizendo à razão que é hora de recomeçar?
Ganhos, não perdas. O medo da perda dificulta essa tomada de decisão. Especialmente pela constatação de que deixaremos para trás um parte de nós mesmos o que fomos para sermos o que somos agora. Porém, junto com toda renúncia há sempre um ganho e um aprendizado, que aos poucos se dão a conhecer. Todo adeus traz, consigo um sim para a vida dito imediatamente antes, afirma a filósofa Dulce Critelli. Como a princípio esse sim nem sempre é evidente, vem a angústia. Muitos especialistas comparam o processo de encerramento de um ciclo à experiência do luto, com as mesmas fases passadas por alguém que tenha perdido um parente, por exemplo. Há o choque inicial, o período de negação ou dúvida e o momento em que sentimentos e sensações misturados (da insegurança à solidão, da confiança a um intenso contentamento) vêm à tona de forma torrencial. Depois, o instante em que o indivíduo se dá conta de que o fato é real e, por fim, a aceitação. Permitir-se vivenciar todos os estágios é fundamental. Os especialistas em luto, inclusive, aconselham externalizar esse adeus, dizer com todas as letras para si mesmo o que se deseja largar e soltar. Algumas pessoas precisam verbalizar o que querem da vida para ganhar força para tomar uma decisão. Outra recomendação é reservar uma parte do dia para viver a dor da perda. Nesse momento, que pode ser antes de dormir ou num fim de tarde, por exemplo, se pode chorar, ir ao fundo do poço. Durante o restante do dia, porém, o mais aconselhável é viver o presente, sem se deixar carregar pelo sofrimento. O adeus acontece desde o instante em que resolvo mudar ou inicio a mudança. Até o momento da ruptura, elaboro o que ganho e o que perco e faço gradativamente as despedidas, afirma a psicóloga Ingrid Esslinger, do Laboratório de Estudos da Morte da USP. O luto continua, mesmo depois da decisão concretizada. Por isso, é comum que a pessoa se pegue, tempos mais tarde, chorando de saudade ou questionando se aquela opção foi a melhor. Segundo Ingrid, de todas as despedidas cotidianas, a mais delicada é a da separação amorosa. Mesmo que seja um adeus fruto de consenso entre ambas as partes, a aceitação da própria morte na consciência do outro é doloridíssima, diz. Reconhecer que você não fará mais parte das escolhas e das alegrias do ex, que não partilhará mais suas alegrias, é muito difícil.
Nosso novo eu! A nova etapa inevitavelmente trará surpresas, e aqui reside outro obstáculo freqüente na hora de dizer adeus: o medo do desconhecido, do imprevisível. De sair de uma situação esquematizada um parceiro que já conhece seus defeitos, uma função que domina no trabalho, um ambiente em que todos sabem quem você é para outra diferente, com as definições ainda por fazer. O adeus traz uma sensação de caos, mas é importante ter claro que se trata de uma reorganização e não de uma desestruturação, diz Regina Nanô. A despedida implica lançar outro olhar não só ao que está ao redor, mas também a si mesmo e o grande medo da despedida, talvez o maior de todos, vem daí. Medo desse novo eu que, com o fim do ciclo, ganha permissão para desabrochar e revelar-se ao mundo.

Se você passou boa parte de sua existência vivendo para os outros e sem contato consigo mesmo, o espanto será imenso: quem é essa pessoa? Porém, se aprendeu a respeitar seu dharma (termo hindu que designa nossa natureza autêntica, essa condição singular e única que nos faz ser quem somos), as perdas aparentes serão, na verdade, ganhos. O dharma não muda. A necessidade de mudança e de dizer adeus a pessoas e situações indica o quanto estamos nos afastando ou nos aproximando dele, diz Carlos Eduardo Barbosa, estudioso da Índia e professor de sânscrito em São Paulo. Assim, quanto mais sintonia houver entre seu cotidiano e seu dharma, menos despedidas existirão. Uma pessoa que age em coerência com seu chamado interior não precisa dizer adeus, diz. Ela já vive a própria escolha, sempre. A vida dá umas puxadinhas aqui e ali para que voltemos ao nosso caminho.


A propósito, despeço-me aqui, leitor. Preciso arrumar as malas, colar o que resta de mim, fechar minha casa, embalar minhas coisas. Espero que sua trajetória seja permeada por belos momentos de despedida. Adeus!


Fontes: Regina Nanô, Fernanda Cecon,Dulce Critelli, Francisco Leopoldo e Silva,Ingrid Esslinger, Arnold Bassoli e Wagner Canalonga.