Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

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sábado, 8 de maio de 2010

Por Norma Hauer


PRK-30 E CASTRO BARBOSA

Ele nasceu em Sabará/MG em 07/05/1905 e recebeu o nome nada simpático de Joaquim Silvério (este nome lembra alguém?) de Castro Barbosa, que ficou conhecido no meio artístico apenas como CASTRO BARBOSA.
Em 1931, quando trabalhava no Lóide Brasileiro, fez um teste na Rádio Educadora, do Rio de Janeiro, sendo apresentado a Almirante (já um nome de destaque), que o convidou a participar de um programa radiofônico, em cuja emissora conheceu Noel Rosa, Custódio Mesquita, Nonô e Francisco Alves.
Convidado pelo compositor André Filho, gravou seu primeiro disco em fevereiro de 1931, com a marcha Uvinha (André Filho) e o samba”Tu hás de sentir (Heitor dos Prazeres), e no mesmo ano o samba “Tá na Mona”, com o Bando La Lua.

Foi quando conheceu Jonjoca (João de Freitas Ferreira), e com ele formou uma dupla para concorrer com Mário Reis e Francisco Alves.
A dupla que se formou (Jonjoca e Castro Barbosa) gravou entre 1931 e 1933 pouco mais de 20 discos, incluindo o Fox-samba “Flor do Asfalto”, de Orestes Barbosa e J.Tomás. A primeira gravação de uma composição de Orestes.

Mas “estourou” mesmo no carnaval de 1932, quando gravou, de Lamartine Babo e Irmãos Valença a marcha “O Teu Cabelo não Nega”. Sucesso de um lado, problemas do outro.
No disco original não constou o nome dos Irmãos Valença o que provocou uma verdadeira celeuma entre a Victor e os irmãos pernambucanos, autores do estribilho da marcha e... Os Irmãos Valença exigiram indenização e a Victor pediu que enviassem outras músicas (frevos) e a quem coube gravar o primeiro? A Carlos Galhardo que, iniciando sua carreira, foi requisitado para gravar um frevo dos Irmãos Valença.

A partir daí foram vários os seus sucessos carnavalescos, como, em 1937, Lig-lig-lig-lé (Osvaldo Santiago e Paulo Barbosa); em 1942, Praça Onze (Herivelto Martins e Grande Otelo) e, em 1943, China pau (João de Barro e Alberto Ribeiro).

Mas o que marcou a vida artística de Castro Barbosa foi sua participação (ao lado de Lauro Borges) na famosa PRK-30, primeiro na Rádio Mayrink Veiga e depois na Nacional. Fazia a caracterização de um português.

Chegou a trabalhar na TV Rio, ao lado de Chico Anísio, no Chico Anísio Show e, ainda no rádio, com Renato Murce nas “Piadas do Manduca”.

Castro Barbosa faleceu em 20 de abril de 1975, sem completar 70 anos, porque foi outro que morreu em seu inferno zodiacal.


Norma

A poesia de Artur Gomes

a lavra da palavra quero
quando for pluma mesmo sendo espora
felicidade uma palavra
onde a lavra explora
se é saudade dói mas não demora
e sendo fauna linda como a flora
lua Luanda vem não vá embora
se for poema fogo do desejo
quando for beijo
que seja como agora

arturgomes
http://pelegrafia.blogspot.com


Keith Jarrett (Allentown, 8 de maio de 1945) é um compositor e pianista estadunidense. Suas técnicas de improvisação conjugam o jazz a outros gêneros e estilos, como a música erudita, o blues, o gospel e outros.

Vamos tirar a ressaca ? - por Heládio Teles Duarte

CARTA A DEDÉ FRANÇA - Por: Dihelson Mendonça



CARTA A DEDÉ FRANÇA ( Sobre Roza Guede )
Por: Dihelson Mendonça

Meu caro amigo Dedé,
se você visse cuma é,
a bagunça que tá o mundo,
com esse tá de Forró Brega,
qualquer das moça se entrega
pras trinca de vagabundo

Tá muito mais pió agora
A esculhambação de outrora
já num é mais novidade
e pra piorar inda mais
as rádia não fica atrás
só toca imbecilidade

Agora tem um tal de "Di Jays"
que querem falar ingrês
mas de inglês num sabem nada
só sabem mesmo é budejar
passam o dia a arremedar
jumento bebendo água

Num tem uma rádio que preste
desde o sertão ao agreste
tudo só toca porcaria
tem uma tá de somzoomsat
que pega em qualquer parte
divulgando as baixaria

Num tem mais gente decente
as festa são decadente
quaje tudo termina em briga
pra você ter uma idéia
os cantor grita pra platéia
-- Aí tem moça ou rapariga ?

Mas tudo é culpa da ambição
desses maluco do cão
que vieram da capitá
poluíram nossa cidade
troxeram infelicidade
pras pessoa do lugar

Eu tenho muita fé em deus
que um dia esses fariseus
inda vão perder o nome
que dê uma gripe afônica
morram de peste bubônica
ou que se acabem de fome

Dedé eu trouxe um amigo
que deseja prosear contigo
dar-te uma palavrinha
Ele é poeta letrado
por vates grandes clamado
um mestre da escrivaninha

Assim ele diz:

"Envolto em couro, em gibão,
rejubila-se o Rei, Gonzagão
que transcendeu a arte infinda
com uma pureza abstrata
entoou versos, serenata,
que ecoam no universo ainda

Nas noites de lua cheia
os vates à luz vagueiam
plangendo ternos violões
ostentando-se para donzelas
gentis loas, aquarelas
entrelaçadas de sons

Imortais noites queridas
dos sonhos da minha vida
de outro tempo, se encerra
na pureza das crianças
nas danças, nas contradanças
de um sertão de outras eras

Campos de sonhos feridos
um norte pobre, esquecido
clama por heróis gigantes
p´ra florescer a cultura
renascer nossa bravura
e a dignidade d´antes

Ó grande vate do Crato
és príncipe, és candidato
às mais divinas esferas
de deus foste a voz altiva
a revelar-nos a intriga,
o mal que o tempo espera

Nisto posto, assim almejo
a paz dos justos, desejo
e por qual eu lhe sou grato,
que ao romper de aurora bela
livres de toda mazela
Rosa possa vir ao Crato."

Minhas saudações, nobre Poeta!

Dihelson Mendonça,
08/05/2010


Roza Guede - Por Jose Helder França - Original





Minha fia Roza Guede
Toda sumana mi pede
Pá i pá rua comigo
Ela tem muita vontade
Di cunhecê a cidade
Mais porém acho um pirigo

Acho um pirigo é verdade
Pruque aqui na cidade
A coisa é bem deferente
Num si vê mais o respeito
Num tem nomoro dereito
O povo ta indecente

Rozinha sempre diz: pai
Quando é qui o sinhô vai
Mi leva pá vê a rua
Mais eu não tenho corage
Quando mialembro dos traje
Dessas moça quaje nua

Eu sei qui Roza é dereita
I qui essas coiza num aceita
Mais pode o diabo atentá
É mió fica nos mato
Qué que vem vê cá no Crato
É mió fica pur lá

Eu sempre digo: minha fia
Vou lhe leva quarqué dia
Só pá tu vê Cuma é
Na rua, nada tem nome
É muié virando homi
Homi virando muié

É um disparate, Rozinha
Home de carça curtinha
É o que se vê na avinida
E as muié o contrario
Uma ta moda inventáro
Tudo de carça cumprida

Perdêro a morá de tudo
Tem uns tá de cabeludo
Qué o pió qui eu acho
Uns rapaz bem parecido
Cuns cabelos tão cumprido
Qui dá mode fazer cacho.

As modas qui eles canta
São tão horrive qui ispanta
Purisso num ai inverno
Basta Rozinha qui eu diga
Qui inventáro uma cantiga
Qui manda tudo pru infermo

Derda os mais véi as criança
Todo mundo cai na dança
Isquizita cuma quê
Ficam querendo dá sarto
Sibalançando cum os quarto
É um ta de iê-iê-iê

Me dixe Mané Germano
Qui é musga de americano
Qui tão querendo imitá
E qui o pió inda vem
É ôtas dança qui tem
Pras banda da capitá

Nada disso acho bunito
E nos guverno acridito
Num pode mais fica assim
Tem qui havê argum jeito
Mode vortá o respeito
Pá tudo isso te fim

Rozinha não se iluda
Qui quarqué dia isso muda
E quando mudá de fato
E num tive mais pirigo
Eu levo vancê cumigo
Pá passiá lá no Crato

Jose Helder França
Publicado no Blog do Sanharol por Antonio Morais

Pensamento para o Dia 08/05/2010


Pensamento para o Dia 08/05/2010
“O sabor dos alimentos não pode ser apreciado se a pessoa está doente ou se a mente está imersa em outra coisa. Da mesma forma, mesmo se você estiver envolvido em práticas espirituais, você não experimentará o contentamento se seu coração estiver cheio de más qualidades. Você pode saborear a doçura havendo açúcar na língua. No entanto, se houver mesmo um traço de amargura na boca, toda sua boca terá o gosto amargo. Portanto, aqueles que aspiram alcançar a Santa Presença do Senhor devem cultivar bons hábitos, disciplina e nobres qualidades. As costumeiras formas habituais de vida não o levam a Deus automaticamente. Você deve praticar disciplina espiritual (Sadhana) para modificá-la da maneira adequada.”
Sathya Sai Baba
Foto Dia de Mãe
Nívia Uchôa

Dia de Mãe

As bases da crise do socialismo no fim do século XX - por José do Vale Pinheiro Feitosa

Não sendo um substitutivo religioso, o que aconteceu com os partidos que lutavam pelo socialismo nos séculos XIX e XX? Em primeiro lugar, é importante se ter a noção que o socialismo, como idéia política mais bem constituída, surgiu na própria Revolução Francesa. Destacam-se Babeuf, com a Conspiração dos Iguais; os socialistas utópicos franceses e ingleses lá no início do século XIX (Fourier, Saint Simon, Owen etc.) e os Cartistas ingleses que foram os primeiros a incorporar idéias socialistas de democracia, igualdade e coletivismo em movimentos de trabalhadores.

Após a revolução de 1848 na França, quando efetivamente a classe dos trabalhadores enfrentou as estruturas da burguesia, começa, de fato, o movimento socialista que repercute até hoje e que nasce de um documento seminal que é o Manifesto Comunista de Marx e Engels. Deste modo, o socialismo deixa de ser encarado como um ideal para o qual se podiam fazer planos de um futuro Canaã, e passa a ser produto das leis do desenvolvimento do capitalismo. Entenda-se este desenvolvimento com as mesmas bases que Darwin aplicou à evolução da espécie. Ou seja, a transformação que implica em novas formas de estrutura e função. Aliás, em discurso no enterro de Marx, proferido por Engels, ele comparou o papel científico de Marx ao que Darwin tinha feito nas ciências naturais.

Para simplificar, as bases da luta pelo socialismo estavam no desenvolvimento do próprio capitalismo. Nada mais dialético, no sentido filosófico do modo alemão de estabelecer uma análise e um pensamento complexo para o comum da época. Neste desenvolvimento implicam-se as contradições que toda estrutura produtiva tem, qual sejam, os seus limites a partir dos quais deixam de ser. Entre elas grandes questões como: a migração rural urbana gerando excedente de pessoas ao sistema produtivo; o trabalho (infantil, da mulher, jornada, acidentes e doenças etc.); a renda, a aposentadoria, a emergência tecnológica e assim por diante.

A verdade é que todos estes limites, quase quatro séculos de capitalismo, estão presentes em todo o planeta. E nisso é que surge a crise do socialismo histórico em duas fases, antes da primeira guerra mundial e depois da segunda. A primeira crise efetivamente foi o surgimento dos partidos de natureza social democrático, que bebiam nas teses do socialismo. À proporção que estes partidos foram adquirindo natureza de massa, foram tendo que negociar dentro do parlamento e tendo que incorporar os segmentos que emergiram no século XX como a classe média. Com isso se passou a um plano moderado da luta revolucionária e se adquiriu uma natureza extremamente reformista, negociada nos termos do limite do capitalismo e que, por isso mesmo, não só o preservava, como o modernizava e reduzia seus choques com os trabalhadores.

A outra foi a Revolução Russa se tornando a força hegemônica no movimento comunista internacional. Antes que você perceba, esclarecerei uma questão: o movimento comunista internacional não era de natureza idealista, era uma estrutura de análise racional das contradições do desenvolvimento capitalista. Então, a Revolução Russa ao se tornar a força dominante, praticamente subordinou o cenário da luta internacionalista aos objetivos da grande União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Esta contradição foi, ideologicamente, muito bem explorada pelas forças organizadas do pensamento liberal e capitalista.

Quando a União Soviética caiu e todos os Estados que estavam sob sua esfera de influência, mais do que a derrocada do comunismo ou de sua forma autoritária e totalitária, o que se viu foi a emergência de outra fase do capitalismo. Chamado globalizado, criando um sistema de trocas amplas no mundo, envolvendo capitais e mercadorias, além de pessoas de um lado para outro. Quando, por outro lado, os comunistas acabrunhados, passando por intenso revisionismo, se abespinhavam diante da quebra da hegemonia, de modo independente surgiam novas forças contraditórias em todo mundo. Exemplos: o movimento pela preservação do meio ambiente, as lutas contra a globalização, o “terrorismo” islâmico, os embates por ocasião dos encontros do G7 e assim por diante.

A concentração da renda, a liberdade dos capitais e a hegemonia do liberalismo em bases mais sofisticadas de Estado mínimo e da quebra dos direitos sociais, atingiram o outro componente da crise do socialismo, que foi a Social Democracia. Os direitos sociais, mediados pelos Estados Nacionais por meio de suas moedas, estão sobre forte ataque da roda do fluxo financeiro desta nova fase do capitalismo.

O fim da União Soviética não significou apenas o fim do modo de produção socialista, mas o reforço da nova fase do capitalismo, que é o imperialismo. Imediatamente, surgiram pólos alternativos a esta hegemonia, tais como a União Européia e a China. Isto, em 2010, está em plena ebulição. Os EUA, maior representante da forma imperialista está em crise, bem como a União Européia; por sua vez a China se encontra numa encruzilhada, ou bem se acerta no resto do mundo ou se volta para dentro de si.

Na próxima semana, tentarei abordar a difícil questão do que acontecerá, tomando como marco o momento atual. É difícil, porque toda a análise socialista sempre teve, no fundo, a questão da crise final do capitalismo e isso não se viu na prática. A chamada crise final foi, para muitos socialistas, aquilo que os Judeus e depois os Cristãos sempre esperaram, ainda em vida, o retorno do Messias.

HORAS AS

TODAS
AS
HORAS
ASSOBIO UM
AS
NAS
MUDANÇAS DE
PALAVRAS E
NESSAS
HORAS
AS
PERNAS TREMEM
COMO
PERNAS
BAMBAS DE
TODAS
AS
HORAS
AS

Nívia Uchôa

BOCA OCA

Minha boca silencia,
Meu gesto cala,
Tua voz flagra meu desejo
Sacudi meu olhar zen para romper barreiras.
Cuidar do espírito é ouvir música.
Serenar meu coração é deixar o riso suspirar de volta.
Cálidos por mim e por ti me prendem
Me convexo
Convenço-me
Cego
Calo
Amarro e desato os nós a sós.
No ócio em vão passando da hora
Suspiro a nostalgia contida em mim e deixo viajar a van filosofia dita por ai

Nívia Uchôa

Poema

E na sinfonia a sós deixo os girassóis ao vento
É como descortinar a janela da alma
Mesmo sem ser a alma a esmo
Como se a solidão configura e desfigura a sólida hora
Das questões passadas na hora
Ora se na escuridão me valesse
Ia sentir a imensidão das horas
Em todas as horas
Como se fosse apenas outra vez
Cálido por te treme que a mim palpita
E de vez em quando passando da vez
Fustiga e arrepia meu invento por ti
Onde o sol raia
Amanhã e anoitece todas às vezes
Como se fosse a quimera da tez
Em vez de acaso e ocaso fosse

Nívia Uchôa

No coração da gente - Emerson Monteiro

Passadas se foram situações emocionais e, por vezes, permanecem no âmago do peito, bem no crivo do coração, retardatárias, incoerentes, as mesmas impressões de intenso fervor indefinido nas palavras silenciosas que gritam. Há pouco, impactos vividos no mais profundo da alma pediam gritantes explicações sem resposta, pois dependiam do outros, que duraram dias, meses, existências.

Quais zumbis de qualidade e cores estridentes, tons maiores de ansiedade e desprezo, tais formações nodulosas, invadem a serenidade apenas aparente do cotidiano, filhos diletos das paixões universais, no palco interior desse peito, se arriscam percorrer, por tempo descomunal, os intermináveis corredores dos recônditos lugares do corpo, entra na trilha dos pensamentos através de excursões permanentes de retorno intermitente.
Nisto, bestas solitários portadoras de saudades sombrias, arrastam consigo bolsas pesadas de dúvidas impermeáveis, mágoas fragorosas, culpas sepulcrais, exigências endurecidas, vastas penumbras recorrentes, e, contra a vontade, nos transportam a dimensões reservadas de cavernas escuras, quais guerreiros de dramas ancestrais, postigos de chapéus empoeirados nas jornadas sórdidas da experiência, largados ao abandono diante do monturo supérfluo de horas mortas.

Restos das refeições felizes ali se mexem encarquilhadas, larvas da série da gente nos instantes saboreados quase sempre ao lado de criaturas humanas bonitas, charmosas, fragmentos fantasmas de espelhos desbotados que amareleceram, pétalas secas de livros atirados nas gavetas esquecidas; eles a nos esfregar a cara de palpites pegajosos, reclamos de outras margens impossíveis, erros aflitivos de lances duvidosos, digamos em resumo.

Nalguns momentos, funcionam, sem quaisquer cerimônias, de inimigos da paz interna das tréguas, a chutar contra o patrimônio pessoal. Noutros, agem parecido com micro e dolorosos incidentes suspensos no horizonte do tórax; convergem nuvens de chumbo que teimam em não chover jamais; máscaras de azia, bolos estomacais, cólicas, coceiras...

Só raramente advérbio de modo providencial, menos denso, chega-nos desconfiado em socorro, trazendo notícias de jardins ensolarados, alentos ainda tardios, nervosos, a nutrir de reparo às frustrações lancinantes, marcas vermelhas na vastidão das ilhas abandonadas, testemunhos inconvenientes de perdidos sonhos, amores equivocados, inúteis paisagens das insônias, constelações do universo distante, nos mundos inconscientes; esperanças, talvez, de acasos fortuitos, portais reencarnatórios das soluções futuras, tropel harmonioso dos degraus da verdade eterna.

São os vultos sorrateiros de si próprio, matéria vigorosa da individualidade prepotente, sentimentos, digamos assim, elaborados na ausência da ternura, na busca de termos melhor categorizados.

Bom, nisso de identificar os tais estilhaços flutuantes da corrente sanguínea do ser abstrato e sua dor de existir, império talentoso dos casos clínicos particulares das criaturas atuais, invade-se o tempo da eternidade, nos seis pontos cardeais do intrépido infinito; se chora sozinho, se chora pelos cantos; elaboram-se cantilenas melodiosas, versos quadrados, modernos, perpassados de litanias fragorosas, vendavais insubmissos de súplica que varrem impiedosos as superfícies emolduradas nos eufemismos culturais de letras maiúsculas, decentes, dos valores imortais. Elaborações filosóficas exemplares trabalham as lufadas de tempestade, transformando-as em brisas suaves de manhãs inesquecíveis, conceito civilizado da persistência, feras descomunais extintas se nos mudam mais mansos animais de estimação; quadros fortes de museus; livros encadernados e suas lombadas brilhantes, dose certa depositada nas prateleiras das academias públicas, pedaços conservados nos sarcófagos das gerações futuras; fogueiras apagadas viram rescaldos mornos, a encher de lágrimas doces olhos ardentes...

E cada um rompe o hímen da cena seguinte, com as faces das corujas atormentadas, porém calmas no esquecimento de quem vive com pressão cardíaca nas raias da normalidade, medidas ideais do expediente, destemor na ponta da língua afiada, épicos do espetáculo revivido, máquinas da permanência, seres eficientes do inesgotável destino, altivos palatinos da utopia, páginas de velhos almanaques, último lançamento de grife, etc. Sentimento, generosidade, coração. Expressão, animação, vida. A alma perpétua deste mundo. Veemência de sentimento; entusiasmo, arrebatamento. Pessoa, indivíduo... Arre, quanta letra em espaço tão pequeno só para dizer que dói viver, e angustia sentir paixão não correspondida...