Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Vamos bregar ?

Paulo Gracindo


Pelópidas Guimarães Brandão Gracindo, mais conhecido como Paulo Gracindo, (Rio de Janeiro, 16 de junho de 1911 — Rio de Janeiro, 4 de setembro de 1995) foi um ator brasileiro.

Paulo Gracindo se considerava alagoano, pois foi viver em Maceió ainda bebê. Sonhava ser ator, o pai era um obstáculo, e lhe dizia No dia em que você subir a um palco, saio da plateia e te arranco de lá pela gola. Paulo Gracindo respeitou a proibição até a morte do pai. Aos vinte anos, mudou-se para o Rio, dormiu na rua e passou fome. Investiu num namoro com a filha de um português para entrar no grupo de teatro de maior prestígio da época, o Teatro Ginástico Português. Batizado Pelópidas Guimarães Brandão Gracindo, no palco mudou o nome: Uns me chamavam de Petrópolis, outros de Pelopes. A empregada me chamava de Envelope. Num dos primeiros trabalhos, a personagem de Gracindo ficava dois minutos no palco, o que levou um crítico a fazer o seguinte comentário: De onde veio esse rapaz que não faz nada e aparece tanto? Participou das maiores companhias teatrais dos anos 30 e 40.

Fez sucesso na Rádio Nacional, apresentando o Programa Paulo Gracindo. Com a radionovela O Direito de Nascer, encantou no papel de Alberto Limonta; e no programa de rádio Balança mas Não Cai interpretou, com Brandão Filho, o quadro do Primo Pobre e Primo Rico.

Na televisão fez personagens inesquecíveis, como o Tucão da telenovela Bandeira 2 (1971), o Coronel Ramiro Bastos em Gabriela (1975), o João Maciel de O Casarão (1976), o padre Hipólito de Roque Santeiro (1985) e o Primo Rico, no humorístico Balança mas Não Cai. Mas, o mais marcante foi o prefeito Odorico Paraguaçu, de O Bem Amado de Dias Gomes (1973; 1980-1984). Em 1990, atuou em Rainha da Sucata como o Betinho (Alberto Figueiroa), nas quais tinha um bordão que ficou muito conhecido, o famoso "coisas de Laurinha!".

Fez poucos filmes, mas foi um dos atores preferidos da geração do Cinema Novo. Fez um papel em Terra em Transe, de Gláuber Rocha. Achava a sétima arte complicada demais: É coisa de chinês, dizia.

Morreu aos 84 anos. É pai do também ator Gracindo Júnior.

wikipédia

Colaboração de Zélia Moreira

A melodia da separação

O apelido foi dado por Maria Bethânia. Drão vem do aumentativo de Sandra, a terceira mulher de Gilberto Gil. Ao virar título de um dos maiores sucessos do compositor, o apelido incomum sempre foi confundido com a palavra "grão". Sandra Gadelha desfaz o mal-entendido e se assume como inspiração dos versos densos, compostos em 1981, em plena separação do casal. Gil diz que foi bem difícil escrever a letra, uma poesia profunda e sutil do amor e do desamor. "Como é que eu vou passar tanta coisa numa canção só?", questiona-se Gil no livro "Gilberto Gil-Todas as Letras" (Cia. das Letras).

Os dois foram casados por 17 anos e tiveram três filhos: Pedro, Maria e Preta. Hoje, aos 53 anos, Sandra mora sozinha no Rio, sonha em montar uma pousada e se lembra com carinho da canção que marcou o fim de seu casamento. Por uma feliz coincidência, Sandra costuma ouvir sempre a "sua" música no rádio do carro. Uma emissora carioca parece estar programada para tocá-la todos os dias, às 11h. A ouvinte especial está sempre sintonizada.

Sandra Gadelha "Desde meus 14 anos, todo mundo em Salvador me chamava de Drão. Fui criada com Gal [Costa], morávamos na mesma rua. Sou irmã de Dedé, primeira mulher de Caetano. Nossa rua era o ponto de encontro da turma da Tropicália. Fui ao primeiro casamento de Gil. Depois conheci Nana Caymmi, sua segunda mulher. Nosso amor nasceu dessa amizade. Quando ele se separou de Nana, nos encontramos em um aniversário de Caetano, em São Paulo, e ele me pediu textualmente: 'Quer me namorar?'. Já tinha pedido outras vezes, mas eu levava na brincadeira. Dessa vez aceitei.

Engraçado que Gil mesmo não me chamava de Drão. Antes havia feito a música 'Sandra'. Já 'Drão' marcou mais. Estávamos separados havia poucos dias quando ele fez a canção. Ele tinha saído de casa, eu fiquei com as crianças. Um dia passou lá e me mostrou a letra. Achei belíssima. Mas era uma fase tumultuada, não prestei muita atenção. No dia seguinte ele voltou com o violão e cantou. Foi um momento de muita emoção para os dois.

Nos separamos de comum acordo. O amor tinha de ser transformado em outra coisa. E a música fala exatamente dessa mudança, de um tipo de amor que vive, morre e renasce de outra maneira. Nosso amor nunca morreu, até hoje somos muito amigos. Com o passar do tempo a música foi me emocionando mais, fui refletindo sobre a letra. A poesia é um deslumbre, está ali nossa história, a cama de tatame, que adorávamos. No começo do casamento moramos um tempo com Dedé e Caetano, em Salvador, e dormíamos em tatame. Durante o exílio, em Londres, tivemos de dormir em cama normal. Mas, no Brasil, só tirei o tatame quando engravidei da Preta e o médico me proibiu, pela dificuldade em me levantar.

A primeira vez em que ouvi 'Drão' depois que Pedro, nosso filho, morreu [num acidente de carro em 1990, aos 19 anos] foi quando me emocionei mais. Com a morte dele a música passou a me tocar profundamente, acho que por causa da parte: 'Os meninos são todos sãos'. Mas é uma música que ficou sendo de todos, mexe com todo mundo. Soube que a Preta, nossa filha, chora muito quando ouve 'Drão'. Eu não sabia disso, e percebi que a separação deve ter sido marcante para meus filhos também. As pessoas me dizem que é a melhor música do Gil. Djavan gravou, Caetano também. Fui ao show de Caetano e ele não conseguia cantar essa música porque se emocionava: de repente, todo mundo começou a chorar e a olhar para mim, me emocionei também. E, engraçado, Caetano é o único dos nossos amigos que me chama de Drinha."

Drão
Drão/ O amor da gente é como um grão/
Uma semente de ilusão/
Tem que morrer pra germinar (...)/
Quem poderá fazer/
Aquele amor morrer!/ Nossa caminha dura/
Cama de tatame/ Pela vida afora...
Gilberto Gil




Sabedoria? – Por Fernando Paixão

Que sabedoria é essa?
Quem será que me responde?
Que às vezes se remessa.
Outras vezes se esconde?
No mistério da existência,
ou no seio da ciência A sabedoria impera...
Às vezes com benefícios,
Outras vezes malefícios.
Se tornando uma quimera.

Com a tal sabedoria,
O homem desenvolveu
Toda tecnologia
Com a qual ele aprendeu
A superar os limites,
Saciar seus apetites
De poder e de domínio.
Estudou os hemisférios
Cerebrais com seus mistérios
Decifrando o raciocínio.

Ultrapassou a fronteira
Do espaço sideral
Fixou sua bandeira
No satélite natural.
Dos mistérios dos cometas,
Da solidão dos planetas
Pesquisou os seus rochedos.
Viajou pelo vazio
Desse universo sombrio
Desvendando seus segredos.

Inventou aparelhagem
Da medicina moderna,
Classificou a linhagem
Dos ancestrais da caverna.
E num desejo frenético,
O tal código genético
Finalmente decifrou!
A informação se repete!
No avanço da internete
Que a mente humana criou.

Na arte aprendeu fazer
Música e literatura.
Faz imagem aparecer
Na beleza da escultura,
Lapidando a pedra bruta,
Começou dentro da gruta,
Hoje está na galeria
Onde faz exposição
Exibindo a evolução
Da sua sabedoria

Que sabedoria é essa?
Eu insisto na questão!
Por que será que ela expressa
Tamanha contradição?
Por que a sabedoria
Do homem também não cria?
O antídoto da miséria?
Por que tanta resistência
Em perceber a essência
Para além dessa matéria?

Com tanta sabedoria
Que sentido tem a gente?
Por que tanta epidemia
Matando os pobres da terra?
Por que não se vê ajuda
Pra acabar com a fome aguda
No continente africano?
Pra que tanta violência
Das garras da vil potência
Do poder americano?

Se o ser humano tentasse
Superar toda ciência;
No seu intimo mergulhasse
Em busca da sua essência!
Se o homem então com calma
Contemplasse a sua alma,
Talvez ele admitisse
Que seu domínio e poder
Seu formidável saber
Não passa de uma burrice.

Fernando Paixão é cearense de Pedra Branca, poeta, cordelista, teólogo e professor.
Vida, vida

-Claude Bloc -


Desde 2008 uma turma de cearenses tem corrido para lá e para cá entre Sobral / Acaraú e Teresina. Todos buscando a realização de um sonho: o Mestrado. Enfrentamos um período de viagens mensais para assistirmos aos diversos módulos  (disciplinas), inúmeras chegadas à capital piauiense nas primeiras horas da manhã. A pousada era modesta, claro, tinha que caber no orçamento de assalariados professores. Ainda havia os deslocamentos pela cidade, enfim, uma rotina cansativa sobretudo se mencionarmos os diversos trabalhos encomendados pelos professores portugueses e brasileiros a que fomos submetidos.


As aulas conseguiram, no entanto, promover um congraçamento entre os participantes. Longe de suas casas, o grupo cearense se uniu, se entreajudou, cresceu e a grande maioria persistiu até hoje. Alguns foram chamados em abril para se qualificarem como Especialistas. Desta vez foram chamados os que, por algum motivo, não conseguiram comparecer no primeiro momento...


Os esforços foram redobrados. A tensão antes da defesa e apresentação do Projeto de Pesquisa era evidente. Era daí que realmente nascia a possibilidade de recebermos posteriormente o título tão almejado: Mestre! 

Até lá, ainda temos um ano de árdua peleja na elaboração da Dissertação. Isto sob a orientação de um Professor Doutor de além-mar (Lisboa.). Vamos esperar. Com fé!


A cada volta para casa, um brinde. Um sorriso descontraído depois de tanta tensão. Mesmo numa rodoviária onde a temperatura varia entre 34 e 43º às 7-8h da noite...

Vamos para casa. Para recomeçar a rotina e tudo o mais, novamente!

O Curso do Céu - José do Vale Pinheiro Feitosa

Paracuru, 6 de agosto de 2010.



Vagaroso,
o tampão do dia escorregou,
atrás das montanhas azuis
da minha distância.

Quando me dei conta,
a luz do dia,
escoava inteira por ali,
no esgoto da existência.

Enquanto,
ouro de frontispício,
avermelhava-se o canto,
do escoado dia.

Secava,
toda a luz existente,
do recipiente do céu,
escuridez figurada.

E neste instante,
do fusco do perdido claro,
o céu era via láctea,
um novo luminar.

Sutil,
subentendida sabedoria,
silente verdade,
contemplativa nuance.

E o céu,
preenchido de vaga-lumes,
retirada de galáxias,
girou.

E no outro lado,
a monção de luzes,
vidente resplandeceu,
os poros da pele.

Não sempre,
alternada com a sutileza,
entre a paga da vida,
e a vida paga.

Bororó


Bororó (Alberto de Castro Simões da Silva), compositor e instrumentista, nasceu no Rio de Janeiro RJ em 15/10/1898 e faleceu em 7/6/1986. Nascido no bairro do Botafogo, aprendeu a tocar violão com o pai, Sinhozinho (Alberto Simoens da Silva), conhecido boêmio contador de anedotas e autor de diversas peças satíricas.
Ganhou o apelido quando fazia o primário no Colégio Santo Inácio: nessa ocasião, um grupo de índios Bororo visitou sua casa e, assim que o professor soube, passou a chamá-lo de Bororó. O apelido pegou entre os colegas e ele passou a se envolver em brigas, que acabaram por provocar sua expulsão e a transferência para o Colégio Santo Alberto, onde fez até o terceiro ano ginasial.
Aos 18 anos já fazia apresentações como violonista. Por volta de 1920 começou sua carreira de compositor fazendo músicas para ranchos carnavalescos, entre os quais o Flor da Estopa e o Mimosas Cravinas. Junto com outros seresteiros famosos, como Melo Morais Filho, formou um grupo com Carlinhos Santos Cruz (bandolim), Fernando Albuquerque (banjo), Eudóxio Correia (banjo), que se apresentava em festas cantando modinhas, lundus etc.
Em 1939 obteve sucesso com sua primeira composição gravada - Da cor do pecado - na voz de Sílvio Caldas. Em 1940, Orlando Silva lançou pela Vitor seu choro Curare, que se tornou clássico no repertório do cantor. Em 1943 Sílvio Caldas gravou o samba-choro que marcaria seu último grande sucesso como compositor, Que é que é? (com Evrágio Lopes).
Publicou o livro Gente da madrugada: flagrantes da vida noturna, Guavira Editores, Rio de Janeiro, 1982, no qual narra a vida de personagens da boêmia carioca.


Francisco Mignone


Francisco Mignone (São Paulo, 3 de setembro de 1897 — Rio de Janeiro, 19 de fevereiro de 1986) foi um pianista e compositor erudito brasileiro.

Começou a estudar música com o pai, o flautista Alferio Mignone, que emigrou da Itália para o Brasil. No Conservatório Dramático e Musical de São Paulo formou-se em piano, flauta e composição. Foi aluno de Luigi Chiaffarelli e de Agostino Cantù.

Iniciou sua carreira na música popular, sob o pseudônimo de Chico Bororó. Era conhecido por tocar nas rodas de choro em bairros como o Brás, Bexiga e Barra Funda.


Todos em guerra contra Gaia- Leonardo Boff



O cataclismo econômico-financeiro, fruto de avidez e de mentiras, esconde um via-sacra de sofrimento para milhões de pessoas que perderam suas economias, suas casas e seus postos de trabalho. Quem fala deles? Os verdadeiros culpados se reúnem mais para salvaguardar ou corrigir o sistema que lhes garante hegemonia sobre os demais atores do que para encontrar caminhos com características de racionalidade, cooperação e compaixão para com as vitimas e para com toda a humanidade.

Esta crise traz à luz outras crises que, quais espadas de Dâmocles, estão pesando sobre a cabeça de todos: a climática, a energética, a alimentária e outras. Todas elas remetem para a crise do paradigma dominante. A situação de caos generalizado suscita questões metafísicas sobre o sentido do ser humano no conjunto dos seres em evolução. Neste momento silenciam os pós-modernos com o seu every thing goes. Queiram eles ou não, há coisas que têm que valer, há sentidos que devem ser preservados, caso contrario nos enchafurdamos no mais reles cinismo, expressão de profundo desprezo pela vida.

Já há tempos que pensadores como Teilhard de Chardin ou René Girard notaram certo excesso de maldade no caminho da evolução consciente. Cito um pensamento de Girard, estudioso da violência, quando esteve entre nós em 1990 dialogando com teólogos da libertação:”Tudo parece provar que as forças geradoras da violência neste mundo, por razões misteriosas que eu tento compreender, num certo nível são mais poderosas que a harmonia e a unidade. Este é o aspecto sempre presente do pecado original, enquanto, para alem de qualquer concepção mítica, representa um nome para a violência na história”. Não há por que rejeitar este sombrio veredito. Somente o pensamento da esperança contra toda a esperança, da compaixão e da utopia nos oferece com um pouco de luz.

Mesmo assim, há que conviver com a sombra de que somos seres com imensa capacidade de auto-destruição, até o último homem. Há anos uma pesquisa alemã sobre as guerras na história da humanidade, citada por Michel Serres em seu último livro Guerre mondiale (2008), chegava aos seguintes dados: de três mil anos antes de nossa era até o presente momento, três bilhões e oitocentos milhões de seres humanos teriam sido chacinados, muitos deles em guerras de total extermínio. Só no século XX foram mortas duzentas milhões de pessoas. Como não se questionar, honestamente, sobre a natureza deste ser complexo, contraditório, anjo bom e satã da Terra que é o ser humano?

Hoje vivemos uma situação absolutamente inédita. É a guerra coletiva contra Gaia. Até a introdução da guerra total por Hitler (totaler Krieg), as guerras possuíam seu ritual: eram entre exércitos. Depois passaram a ser entre nações e entre povos: era a guerra de todos contra todos. Hoje ela se radicalizou: é a guerra de todos contra o mundo, contra o planeta Gaia (bellum omnium contra Terram). Pois é isso que está implicado em nosso paradigma civilizacional que se propôs explorar e sugar, com violência tecnológica, a totalidade dos recursos do planeta Terra. Com efeito, atacamos a Terra em todas as suas frentes, nos solos, nos subsolos, nos ares, nas florestas, nas águas, nos oceanos, no espaço exterior. Qual é o canto da Terra que não seja objeto de conquista e de dominação por parte do ser humano?

Há feridas e sangue por todas as partes, sangue e feridas de nossa Mãe Terra. Ela geme e se contorce nos terremotos, nos tsunamis, nos ciclones, nas enchentes devastadoras em Santa Catarina e nas secas terrificantes do Nordeste. São sinais que ela nos está enviando. Cabe interpretá-los e mudar a nossa conduta. Esta guerra não será ganha por nós. Gaia é paciente e com capacidade imensa de agüente. Como fez com tantas outras espécies no passado, oxalá não decida livrar-se da nossa, nas próximas gerações.

Não nos basta o sonho do filósofo Kant da paz perpétua entre todos os povos. Precisamos com urgência fazer um pacto de paz perene de todos com a Terra. Já a atormentamos demasiadamente. Importa pensar-lhe as feridas e cuidar de sua saúde. Só então Terra e Humanidade teremos um destino minimamente garantido.

Fim de tarde , na casa de Maúrílio e Lôra

Breno, Maria Alice, Mona e Rosineide
Fátima e Breno
Maria Fernanda e Lôra
Maurílio. Maria Fernanda, maria Alice, Eu, Fátima e Mona
Num clima de perfeita harmonia, estivemos ontem , na bela residência do casal Maurílio e Lôra, para nos despedirmos de Maria Fernanda , de malas prontas, para uma nova vida, novo trabalho, nova residência
O motivo era de alegria , mas foi impossível não sentir o vazio daquela menina, num ninho tão bem cuidado ! 
Que Deus  a proteja, e fique no seu coração , nesse momento de transição, que certamente lhe trará  sucesso e muitas realizações. Como diz , a fortaleza materna, é um momento de desconstrução, mas a partir dessa experiência, ela construirá  sua própria história. 
Grande abraço, Maria Fernanda !
A gente fica por aqui , torcendo por você, e esperando a sua volta, nem que seja por breves passeios.
O momento foi coroado com um café especial,.com todas as iguarias  que um diabético não pode comer. Pequei, confesso ! Mas, depois que rezamos uma  Ave Maria e um Padre Nosso, senti o peso da culpa ficar leve, tal a paz de uma noite amiga , e cheia de graças !


O Livro dos Abraços de Eduardo Galeano: pequenos textos incendiários sobre o mundo

por Michelle Ferret

“Um mar de fogueirinhas”... Assim o escritor uruguaio Eduardo Galeano descreve o mundo no primeiro capítulo de sua obra “O Livro dos abraços”. Editado pela L&PM em versão ‘pocket’, o livro é resultado das andanças de Galeano pelo mundo e seu olhar peculiar sobre a vida e a construção das cidades. Com mais de trinta títulos traduzidos em diferentes línguas e conhecido pelas suas veias abertas pela América Latina, Galeano consegue transcender e deslocar suas impressões em capítulos curtos numa linguagem poética, doce e cortante.

Como o primeiro texto chamado “O Mundo”. Curto e explosivo em sua essência, Galeano brinca com as palavras ao imaginar um homem da aldeia de Neguá, no litoral da Colômbia que conseguiu subir aos céus. “Quando voltou, contou. Disse que tinha contemplado lá do alto, a vida humana. E disse que somos um mar de fogueirinhas (...) Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras (...)”. Das fogueirinhas acesas, ele parte na tentativa de contemplar a origem desse mundo incendiário acrescentando no absurdo da poesia, pinceladas generosas de história. Como o fim da guerra civil da Espanha e os olhos de um menino, acrescidos de seu sentimento de homem político, artista e exilado na década de 70.

Um dos textos bonitos do livro, além de tantos outros, é um chamado “A fundação da Arte/1”, quando Diego não conhecia o mar e seu pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse a imensidão. Viajaram para o sul. Quando o menino viu o mar, sentiu algo mais forte que ele que ficou mudo de tanta beleza. “E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: - Me ajuda a olhar”.

São muitos capítulos preenchidos por esses textos curtos que aliviam o espírito a cada lance de olhar. Nesse ir e vir de palavras, pensamentos e sensações, o escritor dispara sobre a realidade e o inusitado, unindo sonhos a críticas severas em relação ao sistema capitalista e a forma como o mundo está sendo construído. O interesse de Galeano é mais do que nunca a memória, unindo a sua e a memória coletiva, da América, num só corpo. O interessante do livro é que pode ser lido de qualquer parte. Não existe uma linearidade, o que torna a leitura deliciosa. No mais, é um livro delicado e afiado como a própria vida e desperta desejos, inquietações, dores e principalmente aquece o sentimento de esperança de uma América castigada por ditaduras, sombras e um mar incendiário de possibilidades. A impressão que se tem ao folhear as 271 páginas dos abraços de Galeano é receber em doses homeopáticas a realidade e a ilusão em forma de poesia.

Galeano é autor de “As Veias Abertas da América Latina”, “Dias e Noites de Amor e Guerra”, “Memória do Fogo”, “Bocas do tempo”, “Palavras andantes”, “Futebol de sol e a sombra”, entre outros.

Trechos da obra
“Na parede de um botequim de Madri, um cartaz avisa: Proibido cantar. Na parede do aeroporto do Rio de Janeiro, um aviso informa: É proibido brincar com os carrinhos porta-bagagem. Ou seja: Ainda existe gente que canta, ainda existe gente que brinca”



“A noite/4: Solto-me do abraço. Saio às ruas. No céu, já clareando, desenha-se, finita, a lua. A lua tem duas noites de idade. Eu, uma”.

Viva Viver - 2008 - contato@vivaviver.com.br

Eduardo Galeano


Eduardo Hughes Galeano (Montevidéu, 3 de setembro de 1940) é um jornalista e escritor uruguaio. É autor de mais de quarenta livros, que já foram traduzidos em diversos idiomas. Suas obras transcendem gêneros ortodoxos, combinando ficção, jornalismo, análise política e História.

A poesia cristalina de Ana Cecília S.Bastos

Paralisia.
Angústia que oprime, deserta de palavras.
A forma hermética, o jogo, cisão entre a vida e
Lágrima.
A lágrima vem  à noite,silenciosa , sem angústia.
Paira sobre o dia, incomunicável.
A perda da angústia, ela mesma, é luto, puro
Luto.
Não sei por quem choro, não sei em que lugar
posso ser nem alegre nem triste.
O mais é opressão.
Algum espanto, uma mágoa que se dilui,
de tão lúcida.

Impressão de uma tarde - Por José Newton Alves de Sousa



Ali perto, na sombra das moitas, sabiás em
canção.
Sobre a encosta, em que o verde estremece,
um chuveiro de luz.
Os flabelos acenam sem norte.
Cessaram, por uns dias, as chuvas primigêneas.
Já os cajueiros entram em desfolhar-se.
Pendem ainda as mangas, áureas, verdes,
rosicleres, pintalgadas.
A saudade repontou  nas oliveiras.
Lastreia-se o chão de umbus e siriguelas.
A serra, não se sabe se é azul, se é verde.
È simplesmente serra.
A beleza vale mais que a exatidão..

Mestre et Blaget – Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Quando eu trabalhava na Engenorte Ldta, uma construtora de Belém que construía a estrada São João d’Aliança/Alto Paraíso em Goiás, eu e Magali recebíamos mensalmente a visita do senhor Orlando Machado, um dos diretores daquela construtora. Ele ia inspecionar os trabalhos todos os meses e ficava dois ou três dias hospedado em nossa casa. À noite, após o jantar, o senhor Orlando contava muitas histórias. Algumas ficaram retidas na minha memória. Tentarei narrar uma delas, embora já transcorridos quase trinta oito anos de quando escutei aquelas histórias.

Na década de 1930, havia no Rio de Janeiro, então capital do país, uma grande loja de um francês denominada “Mestre et Blaget”. Numa manhã de sábado, um cidadão engravatado, com sotaque estrangeiro, procurou comprar um cadilakc, último modelo. Ao ser informado pelo gerente da loja que o preço era 150 contos de réis, solicitou efetuar o pagamento com um cheque do Banco do Brasil.

Tudo ajustado, o carro foi entregue por volta do meio dia. Ao chegar ao hotel, estacionou o carrão na frente da portaria e desceu para pegar a chave do apartamento onde estava alojado. No balcão da recepção havia um telegrama urgente, procedente de Buenos Aires. Ao ler, o hóspede, presumivelmente um argentino, procurou imediatamente o gerente e lhe mostrou o telegrama, dizendo: “Veja esse telegrama. Acabei de comprar aquele cadilakc que está lá fora. Conforme o senhor pode ler, eu deverei estar em Buenos Aires segunda-feira às oito horas da manhã, para assinar um contrato de um grande empreendimento, sob pena de ter de pagar uma multa contratual de hum milhão de dólares caso eu não compareça na hora marcada. Irei agora mesmo para o Aeroporto para conseguir um vôo urgente. Para que meu prejuízo não seja maior, eu lhe ofereço o carro por cinqüenta contos de réis”. O gerente respondeu que iria pensar e antes dele sair para o aeroporto lhe daria uma resposta.

Quando o hóspede subiu ao seu apartamento, o gerente telefonou para loja Mestre et Blaget contando a inacreditável história daquele hóspede que queria lhe vender um carro novíssimo, saído da loja, por apenas cinqüenta contos de réis. Como todos poderiam supor o cheque não deveria ter fundos. Infelizmente a agência do Banco do Brasil estava fechada. Naquela época, os bancos abriam aos sábados até o meio dia. Mesmo sem ter certeza, o gerente da loja acionou a policia, que resolveu prender o estrangeiro. No momento da prisão ele protestou, dizendo que tinha de estar em Buenos Aires na segunda-feira às oito horas da manhã, sob pena de ser multado em hum milhão de dólares. Não havia crime algum em vender um carro por cinqüenta contos, embora o tivesse adquirido por um preço três vezes maior. Mas ninguém deu ouvidos às ameaças de processo judicial por perdas materiais e danos morais que aquele estrangeiro fazia.

Na segunda-feira, o gerente da loja Mestre et Blaget foi com um delegado de polícia até a agência do Banco do Brasil. Ao solicitar ao gerente do banco se o cheque possuía fundos, se surpreendeu com a resposta de que na conta daquele cliente havia fundos para mais de dez cheques naquele o valor.

O Delegado e o comerciante foram imediatamente à prisão para soltar o cliente. O gerente da loja solicitou-lhe mil pedidos de desculpas pelo mal entendido. E o argentino afirmou: “Não haverá desculpas. Perdi um milhão de dólares e sairei daqui para procurar um advogado e abrir um processo judicial contra vocês todos.”

Antes de contratar o advogado, o cidadão com sotaque argentino foi ao hotel e encontrou outro telegrama lhe informando que ele não havia comparecido no horário previsto e seria multado em um milhão de dólares, que deveriam ser pagos antes do final da semana.

Resumindo a história: não somente o cheque possuía fundo, como também existiam o contrato, o projeto do empreendimento e a empresa contratante, com endereço certo e funcionamento legalizado perante as leis argentinas. Tudo foi devidamente apurado pela justiça e a Mestre et Blaget teve de pagar uma indenização de mais de um milhão de dólares. Quase quebrava e teve de mudar o nome. Passou a se chamar Mesbla S/A unindo as iniciais do nome antigo. A partir daí cresceu, teve lojas espalhadas por todo Brasil, inclusive um escritório de vendas no Crato, até década de 1950.

Anos depois, constatou-se que tudo não passara de um grandioso golpe montado com precisão de detalhes em todas as suas ações por uma quadrilha internacional.

Se a Mesbla sobreviveu a requintados golpistas internacionais e se tornou um gigante do setor de serviços, infelizmente sucumbiu sessenta anos depois com o advento do chamado Plano Real. Não somente a Mesbla, mas as Casas Pernambucanas, o Mappin e tantas outras grandes cadeias de lojas desapareceram com o advento da auto-regulamentação do mercado implantada por políticas neoliberais.

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Nota do Autor: Em 03 de setembro de 2008 fiz minha primeira postagem no Blog do Crato por intermédio de seu editor Dihelson Mendonça. Com o presente texto completo cem postagens de minha autoria realizadas nos blogs do Cariri.