Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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quinta-feira, 5 de maio de 2011

Meu mundo por um cheiro - José do Vale Pinheiro Feitosa

Eu já andei me queixando do uso indiscriminado do “beijo” em relação ao nosso tradicional “cheiro”. Especialmente no nosso Ceará, as novas classes urbanas abandonaram o cheiro pelo beijo. Antigamente se despedia em tom amável com cheiros, mas hoje são beijos. Ninguém pegava uma criança para beijar, era para cheirar.

O quê nos fez mudar de sentido é um estudo antropológico que apenas especulo. Sem fundamentos. Mas não deixa de haver certo estímulo do cinema e da telenovela. O beijo é a multinacional do carinho entre duas pessoas e as imagens estimulantes vieram daquele meio.

Foi assim que sentir o odor do outro foi substituído pelo sabor de pele, cabelos e mucosas. Mas é verdade que o beijo também aspira algo olfativo que do outro evola-se. Mas o sentido central do cheiro foi para as margens da cultura.

Nem tanto. Não dar para ir com a antropologia tão longe assim. O senhor mercado mostra um promontório muito elevado. O Brasil hoje é o maior mercado de perfumes do mundo. Ganha até mesmo dos EUA, enquanto consumimos U$ 6 bilhões em perfume, os EUA consumiram U$ 5,3 bilhões.

O título de mais cheiroso ganhamos de lambuja dos gringos, além de gastarmos mais na conta total, aplicamos mais por pessoa. Eles têm uma população de 308.745.538, enquanto o Brasil tem 190.732.694 isso nas contas dos censos de 2010. Sendo os mais cheirosos, resta saber quem são os mais cheirosos entre nós.

Já adivinhou né? Claro que não falaria em perfume se a vantagem nordestina não fosse de humilhar o sul maravilha. Enquanto 90% das famílias nordestinas gastam com perfume, apenas 40% da prole familiar o faz no sul do país.

E sabem mais? Os nordestinos tomam vários banhos ao dia e por isso gostam mais das colônias tipo splash que duram menos tempo na pele. Os nordestinos não precisam que os perfumes se fixem muito tempo entre 12 e 24 horas, pois antes disto já haverá um novo banho.
E como gostamos mais de perfumes e sempre estamos retirando algum das prateleiras dos mercados para as nossas bolsas de compra, resulta que as companhias que fabricam perfume não façam tantas promoções na região. Isso é coisa lá para o sul, que precisam ser convencidos a se perfumar. Os nordestinos já o fazem mesmo.

E ainda vieram uns cabras fedorentos querendo amolecer Lampião só por que o sujeito usava perfume. Homem em baile é ambiente perfumado. É dançar para sentir o cheiro.

Eu quero um cheiro.
Um cheiro de você.
Uma fragrância do quarto em que tu nascestes.
Vertente dos aromas que destilam os mistérios da vida.

Arco do Tempo - Paulo César Pinheiro

Arco do Tempo
(Paulo César Pinheiro)

Eu tenho um barco por dentro
Seu rumo é a curva de um arco
Seguindo o arco do tempo
Que puxa a corda do barco

O barco é o meu sentimento
No mar do peito eu me encharco
Em qualquer ponto do tempo
Eu passo e finco meu marco

Meu rastro é o verso que eu deixo
Formando um mar de sargaço
E quanto mais mar eu vejo
É mais um canto que eu faço

Já fiz um círculo e tanto
Cruzei um século inteiro
Morrer eu vou, mas meu canto
Jamais vai ter paradeiro


P.S. Esta música dá título ao CD de Soraya Ravenle, lançado neste ano.

Traduções & Tradições


“O fim da arte inferior é agradar,

o fim da arte média é elevar,

o fim da arte superior é libertar”

Fernando Pessoa


O Centro Cultural Banco do Nordeste, no seu aniversário de cinco anos, tem muitas razões para comemorar o apagar das velinhas e o talho do bolo. O Centro trouxe a força gravitacional necessária para atrair as mais diversas formas de arte e a caixa amplificadora para dar ressonância às mais diversas expressões artísticas de que o Cariri é reconhecidamente um celeiro. O Centro Cultural somou suas forças ao trabalho já encetado há muitos anos pelo SESC e hoje é possível dizer que a os rumos da Cultura aqui na nossa região dividem-se em aC e dC ( antes e depois do Centro).

No último dia 29 de Abril, subiu ao palco, num memorável show de aniversário, uma plêiade de artistas representativos daquilo que se vem fazendo de melhor em música contemporânea no Ceará. De um lado a TRADIÇÃO configurada na batida inconfundível e telúrica dos “Zabumbeiros Cariris”, com seu canto úmido de misticismo , grávido de húmus. O canto que teve a participação especial de Luciano Bryner e que nos aviva na alma nossas profundas raízes pernambucanas que saltam do Maracatu de Baque Virado, dos Caboclinhos, do Coco de Praia.Na outra extremidade os músicos caririenses mais representativos, no seu trabalho autoral, e que digeriram toda nossa cultura popular mas temperada com as mais diversas influências da música/poesia universais . Trazendo-nos o contraponto imprescindível das “TRADUÇÕES”. Todos eles , incrivelmente, com mais de quarenta anos de estrada, mas provando-nos ,a todo instante do Show, que a boa arte é libertária e atemporal.

Abidoral Jamacaru , Luiz Carlos Salatiel, João do Crato esmeraram-se em trazer à ribalta o que existe de mais clássico no repertório da música caririense: “Lua de Oslo”, Prá ninar o Cariri”, “Lá de Dentro”, “Limite”, “Oriente”, “Vida”, “Cuba”, “Coco pra Azuleika e Asa Branca” e tantas outras. A poesia icônica de Geraldo Urano brilhou como se saísse dos refletores, junto com um universo de compositores cearenses: Pachelly Jamacaru, Ermano Morais, Eugênio Leandro, Amélia Coelho, Cleivan Paiva, Luiz Gonzaga... A banda trazia a competentíssima batuta de Ibbertson Nobre nos teclados /Sanfona, Rodrigo(Bateria) , a percussiva presença dos Zabumbeiros, além dos inconfundíveis baixo/violão de João Neto.

A casa estava cheia de uma platéia entusiasmada e participativa e que em voz uníssona confirmava: Um Show para se ver e rever! Um show que precisa sair do casulo e ganhar os palcos do Ceará e do Brasil !

Esta é a nossa Arte: a expressão maior de que aqui estamos vívidos e vivos. Mídia do Brasil, nem só Traições vive o Show Business! Que tal Tradições & Traduções ?

J. Flávio Vieira

Entre o "S" e o "B"


Nesta semana os Estados Unidos anunciaram, com estardalhaço, a morte de Osama Bin Laden. Nova York comemorou na Time Square como se tratasse do Dia de Ação de Graças. Uma alegria não muito diferente daquela que invadiu o Iraque , nove anos atrás, quando ruíram as Torres Gêmeas. A mídia internacional elogiou seguidamente a ação militar , transparecendo , claramente, que o terrorismo mundial findava com o extermínio puro e simples do inimigo público número 1. Os britânicos estamparam manchetes: “Covarde até na morte”, interpretando informação , depois desmentida, de que Osama teria usado a mulher como escudo, no ato final da sua vida. Como se um fanático fundamentalista temesse a morte ou qualquer uma outra coisa além do afastar-se de seus rígidos e pétreos princípios Os europeus, mais sensatos, perceberam que haviam ganho comido um pequeno peão no imenso jogo de xadrez da política do internacional. O presidente Obama, em plena campanha de reeleição, posou de John Weyne, após o pretenso duelo final deste faroeste de longuíssima metragem.

Pois bem, aqui deste nosso fim de mundo, junto às botas que Judas perdeu, vamos refletir um pouco sobre esta Paixão profana: cheia de muitos Pilatos, tantos beijos falsos, vários Caifás, muitas crucificações ,poucos anjos e nenhum Messias. Não é por mera coincidência que apenas uma mera consoante separa Obama de Osama. Nesta sintaxe é impossível saber se o “B” que existe em um é o de bonzinho, boçal ou de besta-fera , bem como o “S” que o outro ostenta representa o sabido, sacana ou satanás. Obama não é o que ele é, mas o que ele representa. Terrorista ,cada um a seu modo, eles são extremidades que se tocam e soltam faíscas. Porque, amigos, terrorismo é sempre uma estrada de mão dupla e, no final, é sempre a população civil que paga diretamente pelos erros cometidos lado a lado. Tão injustificável quanto as mais de 3000 mortes do World Trade Center, são as incontáveis perdas causadas pelo imperialismo capitalista no Terceiro Mundo, com sua política colonialista e predatória. Basta lembrar que só na invasão do Iraque, segundo a Opinion Research Business (ORB), mais de um milhão e duzentas mil vidas foram sacrificadas de forma violenta. Buscava o que o bravo exército norte-americano ? Uma arma de destruição em massa que só depois se percebeu chamava-se : Petróleo.

Há um outro ponto que precisa ser lembrado. A cavalaria perseguiu Bin Laden por quase dez anos. Com toda tecnologia quase não consegue encontrá-lo. Ele se tornou o campeão mundial de esconde-esconde. Por que a dificuldade? Um dos fatores mais importantes é o fato de que tentavam capturar um mito e que contava com a cumplicidade de todo universo islâmico.

O terrorismo acaba com Bin Laden? De maneira alguma! Do mesmo jeito que a pretensa guerra contra o terror não acabaria com o desaparecimento eventual de Obama . Assim como o Arraial de Canudos não acabou com a morte do conselheiro: apenas se mudou para as favelas. O cangaço não se findou em Angicos, tão-somente subiu os morros e urbanizou-se. A Guerra contra o terrorismo só acabará quando cessar o tráfego nas duas mãos da rodovia. Enquanto isso viveremos um conflito pleno de lágrimas derramadas de lado a lado e alguns enganadores intermezzos em que o povo comemorará uma vitória fictícia, sem perceber que a próxima bomba já se encontra com o estopim chiando.


J. Flávio Vieira

FALANDO DE FLORES - Por Edilma Rocha


MACELA - Anthemis nobilis - RESISTÊNCIA NA DELICADEZA - Uma erva sagrada no antigo Egito, pelos inúmeros benefícios que trazia à saúde. Na Grécia, era sinônimo de coragem e persistência e era também muito empregada com revigorante do corpo e do espírito, por seu aroma agradável e relaxante.
Uma planta muito antiga e, por suas propriedades curativas, uma das ervas preferidas dos egípcios, que a dedicavam ao sol. Na Grécia era receitada para acalmar febres e perturbações femininas. Suave e ao mesmo tempo resistente, a Macela inspirou um antigo provérbio que fala sobre a coragem na adversidade: "É como a Macela, quanto mais a pisam, mais floresce".


Planta aromática, vivaz, rústica, atinge de 20 a 30 cm de altura. Originada do Egito, Europa e América do Sul. Cultivada em solo leve e bem arejado com exposição ao sol. A reprodução é por sementes. Semear na primavera. Cultivar a Macela próximo de outras plantas que estejam enfraquecidas e murchas as fará reviver.


O suave e relaxante aroma da Macela, que nas folhas lembra o da maça, alegra o espírito e favorece a saúde do corpo, por isso era muito usado em inalações ou fumado para aliviar a asma e curar insônia. Tônico e sedativo, o chá de Macela ajuda a descontrair os músculos faciais. Usada na água do banho, tonifica e alivia queimaduras de sol. Folhas e flores podem ser usadas em "potpourris", travesseiros e  almofadas aromatizadas.

Edilma Rocha
Fonte - Jardim Interior - Denise Cordeiro

Um amor para sempre - Emerson Monteiro

Existem infinitas abordagens para o fenômeno da morte entre os seres humanos. O assunto envolve as concepções filosóficas, religiosas, sentimentais, de quem o considere. Impacto extremo, a hora do desaparecimento da vida no corpo ocasiona dores atrozes, abalos devastadores, a exigir firmeza e renúncia dos que passam por isso, que são todos, sem nenhuma exceção. Sendo, pois, a morte o ponto final do processo vida e limite da pesquisa científica, nela se interrompem as avaliações do método e seus estudos matemáticos. Quando cessa a vida na carne, também cessa o objeto da cultura como instrumento de respostas para as ações da natureza. Nessa hora, entrem em campo os valores da metafísica, ramo da filosofia que cuida dos fenômenos depois da morte. Será o momento da religião, tendo a transcendência por sua principal abordagem do Universo.
Os credos religiosos trazem considerações a propósito do que resta quando as pessoas deixam de existir no mundo visível. Há hipóteses desde as religiões mais remotas, o hinduismo, o taoísmo, o zoroastrismo, até as escolas da atualidade. As respostas indicam aspectos tratados como matéria de fé. A formação adquirida pelos devotos significará, nesta hora, o valioso instrumento de superar a crise das perdas dos entes queridos. A aceitação inquestionável da existência de um Ser Superior, por exemplo, definirá, sobremodo, o quanto de sabedoria comanda tudo na Vida. Esse é o dado principal: Aceitar a existência de Deus, pai e criador do quanto existir.
A seguir, sustentar a permanência da vida após a morte, ali quando, um dia, se reencontrarão os que se amam, porquanto consciências individuais não morrem com o desaparecimento do corpo material.
E compreender que a força suprema do Amor organiza as existências, energia poderosa e permanente, justa e acessível, fruto maior das compreensões elevadas e motivo do que as criaturas realizam durante o tempo, neste pedaço de galáxia girando no grande Cosmo, no sentido de um dia seres perfeitas.
Nisso, os laços eternos jamais se desprenderão, pouco importando as justificativas apenas intelectuais para minorar as dores pungentes da distância física. No entanto, a linguagem que os corações desenvolvem entre si oferece consistência nas respostas às marcas da saudade que machuca. Essa linguagem estabelece o contato dos seres que, de verdade, se amam. Nesse contanto amoroso, por isso, acham-se as soluções para a dor da separação, porta aberta da Eternidade. No isolamento das horas amarguradas, transes só conhecido pelos que vivenciam, a voz de Deus e do seu amor tocará o íntimo profundo de pais que perdem seus filhos, ocasião própria de ouvir com bem clareza os que saem de cena, mas continuam vivendo tão perto de nós.