Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

ENVIE SUA FOTO E COLABORE COM O CARIRICATURAS



... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

Para participar, envie suas fotos para o e-mail:. e.
.....................
claude_bloc@hotmail.com

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Exercício Aeróbico - Por José do Vale Pinheiro Feitosa

rNão deu. Mas poderia. Entre dar e não dar os olhos afiados dele eram dardos que dão feridas. Mas ele dá flores para esconder os espinhos que picam agora, para tempos depois relembrar todas as mágoas de um remoto tempo qualquer.

Ela nem compreendeu o humor da frustrada aerobiose. Uma morena linda, da cintura com desejo de abraço, nem se fala do que logo abaixo ou acima se endoidece. Passou rápido num exercício de aperfeiçoar o corpo ainda mais; como se fosse possível.

Falava do exercício aerobiótico carregando todo o ar que o ambiente tinha. Ao lado segui-lhe o companheiro. Um sujeito alto, com excesso de tecido adiposo, roliço de cima a baixo. Ela falava e ele nem balançava a cabeça para confirmar todo aquele exercício.

A cada palavra de estímulo ao esforço, mais suores esguichavam dos poros dele. E o exercício tem um efeito colateral opositivo: tanto pode abrir o sorriso quanto enevoar o cenho. Ela era uma gazela querendo mais, ele um elefante em busca de uma poça de água naquele deserto de preguiça.

Ela tentava aumentar o ritmo e ele mais se irritava. Primeiro não comentava nada do que ela, com entusiasmo, pregava e como continuasse, ele começava a soprar com as bochechas flácidas a gerar um barulho de fole na forja do metal.

Até que ela percebeu o ritmo dele diminuindo. Prestou atenção na face e ele era todo desagrado. Percebeu o desencontro dos dois e ficou amuada. Calou-se, diminuiu o ritmo dos passos para acompanhá-lo e a excitação de músculo passou para um diálogo interno sobre tudo o mais que se passava a redor.

Foi aí que uma senhora, aparentando uns noventa anos passou célere por eles e se afastou num ritmo de exercício de fazer inveja. Quase que ela acelera involuntariamente, mas teve que suportar a frustração de acompanhar o companheiro.

De repente viu um homem de sunga, quase fio dental, num mar de obesidade, com sandálias japonesas no duro calçadão de pedras portuguesas. Nem deste conseguiram diminuir a distância. Num ritmo de causar irritação o homem de sunga se mantinha à mesma distância. Como ela desejava que ele sumisse nalguma transversal da praia.

No limite da renúncia ao seu exercício aeróbico ela viu uma criança de cinco anos, empurrando o seu carrinho e a babá ao lado, ultrapassar os dois e lentamente se afastarem. Foi aí que tudo desabou: ela sentou-se na borda do calçadão num choro convulsivo.

O companheiro não entendeu nada. E ela vertendo em lágrimas a aerobiose do frustro exercício.

DO FUNDO DO BAÚ


Fernando Lins e Edilma Rocha
De volta ao tempo...

"Complexo de vira-lata" - José Nilton Mariano Saraiva

Versatilidade era com ele mesmo. Nordestino de Pernambuco, mas radicado no Rio de Janeiro desde a mais tenra idade, o autodidata Nelson Rodrigues, um dos nossos consagrados escritores (e teatrólogo de mão cheia), também prestava sua competente colaboração à crônica esportiva tupiniquim, a partir da sua concorrida coluna diária, reproduzida em diversos jornais Brasil afora.
Torcedor declarado e apaixonado do Fluminense (o famoso carioca “tricolor das laranjeiras”), ainda assim Nelson Rodrigues procurava ser o mais imparcial possível em suas memoráveis análises e na didática exteriorização dos posicionamentos, não se furtando de colocar nas alturas ou dá o devido crédito a um Vasco, Botafogo, São Paulo, Santos, Cruzeiro e outros, quando faziam por merecer. Na análise individual dos times, então, os chamados jogadores “fora-de-série” (Ademir, Garrincha, Zizinho, Pelé, Tostão, Gérson, Nilton Santos e outros) mereceram crônicas épicas, marcantes, definitivas, imortais, até.
No entanto, um pequeno detalhe o importunava, o deixava por demais pessimista, cabreiro e, até, um tanto quanto descrente: a explosiva e latente instabilidade emocional que se apossava dos nossos principais atletas, ou a recorrente metamorfose que os acometia, quando, convocados a defender a Seleção Brasileira, tinham que se defrontar com os “branquelos galalaus europeus”, também conhecidos por “cinturas-duras”, tal a falta de habilidade para tratar a bola (aqui ou lá fora, em Copas do Mundo, ou não). Era uma tremedeira generalizada, uma basbaquice sem tamanho, uma “defecada” coletiva, um colossal e invulgar acovardamento. Parecia até que o brasileiro não passava de um desclassificado qualquer, um ser humano de quinta categoria, um crônico derrotado de primeira hora. E foi buscando retratar tudo isso que, frasista de primeira hora, ainda que a contragosto Nelson Rodrigues chegou à conclusão nada agradável, ao diagnóstico por demais cáustico, ao humilhante vaticínio de que o jogador brasileiro se deixava possuir, em tais ocasiões, por um incompreensível “complexo de vira-lata”.
Se tão pejorativa denominação repercutiu ou não no íntimo de cada um (teriam mesmo “tutano” pra absorver e decifrar tal conceito ???), só uma espécie de tese sócio-antropológica pra efetivamente comprovar. Fato é que, depois daí, depois das muitas decepções patrocinadas aqui e alhures, depois dos seguidos fracassos pelos campos de futebol mundo afora, deu-se como que uma espécie de “estalo”, uma bem-vinda “ressurreição” do futebol do Brasil, culminando com a conquista do título de “Campeão Mundial”, lá na longínqua e siberiana Suécia (em 1958), quando Pelé e, principalmente Garrincha, assustaram os “branquelos” e emudeceram o mundo. Repetimos a dose em gramados do sul-americano Chile (em 1962), no apogeu de Garrincha (já que Pelé, lesionado, não participou). Mas fracassamos humilhantemente na Inglaterra (em 1966), em razão das brigas políticas internas dos dirigentes de então (já aí, os jogadores brasileiros começaram a ser vistos com outros olhos no “velho continente”, a ponto de aqueles que mais se destacassem serem adquiridos por times de lá). No México (em 1970), com a paz restabelecida, formamos um imbatível time e conquistamos, em definitivo, o cobiçado troféu Jules Rimet (Copa do Mundo).
A partir daí, todo mundo sabe da história, de cór e salteado: a televisão literalmente “entrou em campo”, dedicando um valioso espaço (e, principalmente, transmitindo as partidas “ao vivo”, formando uma legião de novos admiradores), providenciando patrocinadores/anunciantes de peso, profissionalizando de vez o ambiente, e transformando o futebol numa milionária fonte de recursos e prestígio (basta dizer que a FIFA, associação gestora do esporte, hoje tem mais associados que a própria ONU).
Nossos jogadores começaram a ser vistos com outros olhos no “velho continente”, estabeleceu-se a convicção de que se tratavam de verdadeiros “artistas” no trato da bola e, assim, abriu-se um mercado por demais atraente e promissor e o futebol virou a coqueluche que é hoje.
Mas, como uma mesma moeda sempre nos apresenta duas faces distintas, aqui a policitagem suja não tardou a aparecer: interesses escusos “pintaram no pedaço” (dirigentes que ao assumirem nada tinham, saíam milionários ao final de cada mandato); a mediocridade fez moradia (como entender como um jogador (???) horroroso como um tal “Valdir Papel” tenha tido oportunidade de envergar a gloriosa jaqueta do Vasco da Gama ???); eclodiram escândalos monumentais (as eleições da FIFA tornaram-se um rentável balcão de negócios de mão dupla: pra eleitores e eleitos); a pilantragem e o mau-caratismo deram o ar de sua graça (Eurico Miranda, no Vasco, que o diga); jogadores, mesmo os “pernas-de-pau”, passaram a faturar valores astronômicos e fora da realidade do país, resultando numa corrida desenfreada em busca do “novo eldorado”; e, enfim, estabeleceram-se de vez os empresário-aproveitadores (um verdadeiro exército de mafiosos espertalhões), resultando em muita gente ficar podre de rica às custas do futebol.
Alfim, e pra encurtar a história, apesar disso tudo faturamos o título em mais duas oportunidades (Estados Unidos, 1994 e Japão, 2002) e muito, mas muito mais importante: mandamos para o espaço sideral, remetemos ao cafundó-dos-infernos e implodimos de vez e definitivamente com o tal “complexo de vira-lata”, já que hoje respeitados em todo o mundo como os “reis do futebol”.
Mas aí já é outra história.

ATELIÊ ARTESSETRA COMUNICA:

Aviso ao amigos leitoes e escritores do Cariricaturas que o Ateliê Artessetra, artes indo e vindo para você, por Jacques Boris, esta funcionando com sua nova sede no Parque Grangeiro na Av. Pedro Felício Cavalcante Nº 2274 - Crato-Ce.
 
Aproveito esta oportunidade para mostrar o meu último trabalho, uma mesa em mosaico com o motivo da nossa cultura popular da xilogravura. 
 
Mesa com motivo de xilografia - (vista parcial do novo ateliê)
Vista do tampo da mesa.
Tampo da mesa - detalhes
 
Detalhe 1 - Padre Cícero
Detalhe 2 - Violeiros
Detalhe 3 - Carregador de cana
Detalhe 4 - Mulheres no pilão
Trabalhamos também com esculturas vazadas em MDF como rosas,mandalas,silhuetas,logomarcas,fotos etc. Se você não pode ir ao Ateliê Artessetra ele vai até você, ligue (88) 8821 3731 / 9991 5770


Este convite é para VOCÊ!!!

Jacques Boris