Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

ENVIE SUA FOTO E COLABORE COM O CARIRICATURAS



... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

Para participar, envie suas fotos para o e-mail:. e.
.....................
claude_bloc@hotmail.com

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Feliz Aniversário, Ana Carolina !

Faz de conta que, como nos teus primeiros anos, comemoraremos todos juntos, essa data especial !



Sobrinha de Socorro, neta de Dona Valda e filha de Teresa Moreira, Ana Carolina é uma cratense , criada na Bahia, agora portuguesa , hoje completando 15 anos !
Um grande abraço de todos, para você e Teresa.

Josilson Lobo - Chapada do Araripe

Nelson Pereira dos Santos



Nelson Pereira dos Santos (São Paulo, 22 de outubro de 1928) é um diretor de cinema brasileiro.

Considerado um dos mais importantes cineastas do país, seu filme Vidas Secas, baseado na obra de Graciliano Ramos, é um dos filmes brasileiros mais premiados em todos os tempos, sendo reconhecido internacionalmente como obra-prima.

Foi um dos precursores do movimento do Cinema Novo.

É o fundador do curso de graduação em Cinema da Universidade Federal Fluminense, sendo professor do Instituto de Artes e Comunicação Social da UFF.

Em 2006, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira 7, cujo patrono é Castro Alves. É o primeiro cineasta brasileiro a se tornar imortal.

wikipédia

Dina Sfat




Dina Kutner de Souza (São Paulo SP 1938 - Rio de Janeiro RJ 1989). Atriz. Inquieta, profunda, dona de uma presença física singularmente sedutora e de uma aguda inteligência interpretativa, Dina Sfat distingue-se, na sua carreira teatral, pela exigência e coerência com que seleciona os seus compromissos profissionais. É uma das artistas de proa que verbalizam e expressam as reivindicações nacionais contra a injustiça e a opressão durante o período da ditadura.

Filha de judeus poloneses, começa a trabalhar aos 16 anos em um laboratório de análises clínicas. Em 1962 faz uma ponta em Antígone América, de Carlos Henrique Escobar, montagem de Antônio Abujamra para Ruth Escobar. Volta ao amadorismo, como integrante de um grupo estudantil do centro acadêmico de engenharia da Universidade Mackenzie. Dessa experiência nasce seu contato com o Teatro de Arena, onde estréia profissionalmente substituindo a atriz que interpretava Manuela, a filha em Os Fuzis da Senhora Carrar, texto de Bertolt Brecht, dirigido por José Renato, em 1962. Adota, então, o nome artístico de Dina Sfat, homenageando a cidade natal de sua mãe.

Integra os elencos de O Melhor Juiz, o Rei, de Lope de Vega, 1963; Tartufo, de Molière, 1964; e ganha o Prêmio Governador do Estado de São Paulo de melhor atriz em Arena Conta Zumbi, 1965, musical de Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal, todas com direção de Augusto Boal. Em 1967, participa de Arena Conta Tiradentes, novamente autoria de Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal, no mesmo teatro.

No final desse ano aceita um desafio: substituir às pressas Ítala Nandi no papel de Heloisa de Lesbos de O Rei da Vela, texto de Oswald de Andrade encenado por José Celso Martinez Corrêa para o Teatro Oficina, conquistando as atenções do Rio de Janeiro.

Filma Corpos Ardentes, de Walter Hugo Kouri, com expressivos resultados; o que a conduz ao desempenho da guerrilheira Cy, de Macunaíma, filme de Joaquim Pedro de Andrade realizado em 1969, onde brilha ao lado de Paulo José, o protagonista. Eles se conhecem desde o Teatro de Arena, mas é a partir daí que passam a assumir uma relação marital estável.

Dissolvidos os dois grandes conjuntos teatrais dos anos 1960, Dina passa a aceitar contratos com produções independentes, alternando sua vida artística entre a televisão e o cinema. Seu currículo teatral registra expressivos desempenhos em Dorotéia Vai à Guerra, de Carlos Alberto Ratton, 1973; A Mandrágora, de Maquiavel, 1975; ambos direção de Paulo José. Participa da montagem de O Santo Inquérito, de Dias Gomes, 1976, dirigida por Flávio Rangel. Está em Seis Personagens à Procura de uma Autor, de Luigi Pirandello, mais uma direção de Paulo José, em 1977. Integra o elenco em Murro em Ponta de Faca, de Augusto Boal, 1979, primeira peça abordando a problemática dos exilados políticos a chegar aos palcos.

Torna-se produtora dos espetáculos que protagoniza, em As Criadas, de Jean Genet, 1981, e Hedda Gabler, de Henrik Ibsen, 1982. Esse último espetáculo alcança grande adesão de público não só no Rio de Janeiro, onde estréia, mas também numa longa tournée por vários Estados. Sua despedida dos palcos ocorre com A Irresistível Aventura, quatro peças em um ato dirigidas por Domingos Oliveira, 1984.

Na televisão, protagoniza novelas de grande projeção, tornando-se atriz de larga empatia e reconhecimento popular. Entre outras, destaca-se em Selva de Pedra, em 1972; Os Ossos do Barão, 1973; Saramandaia, 1976; O Astro, 1977; Bebê a Bordo, 1988; além das minisséries Avenida Paulista, em 1982, e Rabo de Saia, em 1984.

No cinema firma sua personalidade sempre densa, dramática e cheia de sutilezas em algumas películas de repercussão, lastreando seu prestígio. Como Jardim de Guerra, 1970; Tati, a Garota, 1973; Álbum de Família e Eros, o Deus do Amor, ambos em 1981; Das Tripas Coração, Tensão no Rio e O Homem do Pau Brasil, todos em 1982, sendo que neste último interpreta a pintora Tarsila do Amaral; deixa inacabado O Judeu, só concluído em 1995.

Não é possível desligar sua vida artística de sua ativa participação na vida cultural e política do país, seja integrando movimentos em prol da democracia ou da liberdade de expressão. Sua forte liderança neste campo é tão grande que, numa aula da Escola Superior de Guerra, um general a define como "líder feminista vinculada à estratégia de poder da extrema-esquerda". Ela, de fato, noticiou que sairia candidata ao cargo de vice-presidente do país pela sigla do Partido Comunista do Brasil - PCB, em 1984, mas jamais integra algum partido ou filia-se a qualquer facção política. Seu inconformismo e legítimo sentido de liberdade ancoram-se em generosa visão da vida e do mundo, sem sectarismos.

Ao descobrir-se com câncer, luta durante três anos contra a doença. Viaja para a Rússia, em tratamento, aproveitando para fazer um documentário para a TV, no momento em que a perestróika dava seus primeiros passos, levantando muita curiosidade sobre o assunto.

De seu casamento com Paulo José nascem três filhas. Ana e Bel Kutner tornam-se, igualmente, atrizes.

Pouco antes de morrer lança uma autobiografia, Dina Sfat - Palmas pra que Te Quero, escrita em parceria com a jornalista Mara Caballero.

Analisando a trajetória da intérprete, comenta o crítico Alberto Guzik: "Apaixonada e coerente, não poucas vezes Dina viu declarações suas transformadas em berços de polêmica. Mas sempre teve a coragem de sustentar suas idéias francamente e nunca se fechou ao diálogo. Quanto a seu trabalho em cena, embora fosse uma intérprete de bons recursos cênicos, voz trabalhada e evidente perícia na composição de caracteres, o que a destacava era a paixão. A vibração de sua presença, a imperiosa honestidade com que desenhava suas atuações, valeram-lhe uma posição de destaque, que a atriz manteve sempre com enorme dignidade".


1. GUZIK, Alberto. Dina: a paixão como profissão. Jornal da Tarde, São Paulo, p. 19, 23 mar. 1989.

Geocities - Lembrete !




Você se lembra do geocities? sim aquele serviço de hospedagem gratuita que muitos hospedavam suas páginas gratuitas e que marcou o inicio da web no brasil. este serviço está chegando ao fim. o yahoo disparou um email avisando a todas as pessoas que tem contas no geocities que façam download das suas páginas. é que o serviço sairá hoje da rede e todas as páginas hospedadas lá serão apagadas. se você tem páginas hospedadas lá. faça o download até o dia de hoje 26/10.


Mundinha Dantas - Versos e prosas

Mundinha é filha de Manuel Dantas, fiscal da Serra Verde de quem já falei aqui no Cariricaturas. Desde sempre eu convivi com ela, visto que cuidou de Dominique, de Bertrand e pelo fato de ter saído lá de casa pra casar.
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Mundinha é uma guerreira. Voltou a estudar aos 60 anos e, assim, realizou um de seus sonhos, protelados pela vida a fora. Com esta atitude, concluiu o Ensino Médio e até se tornou a oradora da turma devido a sua facilidade de versejar e de seu bom humor e desinibição. Teve seis filhos e fez o melhor que pôde para dar-lhes o que não teve: o direito de estudar.
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Estando em Crato, fui visitá-la como sempre faço. Entre um baião e muito bom humor consegui colher alguns de seus versos para trazê-los ao Cariricaturas com o intuito de homenageá-la e também mostrar que a inteligência é algo inato. Alguns deixam-se vencer pela vida sem usá-la. Mundinha, ao contrário, soube fazer uso de seu potencial para atingir alguns de seus sonhos mais caros.
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Leiam, vejam, e apreciem.

Mundinha, compenetrada lendo seus versos

Bom humor e tiradas inteligentes


Minha escola foi a roça
Meu colégio o sertão
Meu caderno as sementes
De arroz e de feijão
Minha caneta a enxada
De escavacar o chão

Quando era cinco horas
Eu já tava acordada
De “currulepa” no pé
E de cabeça amarrada
Com a enxada nas costas
Seguia minha jornada

Era uma turma danada
Eu e mais nove irmão
Passava o dia interinho
Plantando milho e feijão
Debaixo de sol e chuva
De ‘relampo’ e de trovão

Chegava em casa molhada
Tirava a roupa e torcia
E como não tinha outra
Aquela mesma vestia
E sentindo muito frio
Com esta mesma dormia

Eu caia na fianga
Com cinco minutos dormia
O meu corpo tão cansado
Que até as ‘unha doía’
Achava a noite curtinha
E logo chegava o dia

Quando eu me acordava
O primeiro que eu fazia
Era dar a ‘bença’ a meu pai
Era ele que exigia
Ai de quem não desse a ‘bença’
A ele naquele dia

Meu pai era um cidadão
E muito inteligente
Mas como pai um carrasco
Judiou muito da gente
E minha mãe uma santa
Tinha um jeito diferente

O tempo foi passando
Minha infância terminou
Carregou minha esperança
Que quase nada ficou
De todos sonhos que sonhei
Só um pouquinho restou

Esta mulher que está aqui
Não é aquela que nasceu
Ela foi se transformando
No período que cresceu
E ficou lá no passado
A mulher que era eu.

Versos de Mundinha (Dantas) de Freitas Ferreira

Fotos de Claude Bloc

Desperto

Após o jantar
deito-me na cama box solteiro
e cruzo os braços -

tenho absoluta certeza
que estou sendo observado.

Talvez pelo ventilador (agora limpo)
pelas paredes ainda assustadas
pelo armário de hospital silencioso.

Após o jantar
só me levanto da cama box solteiro
e descruzo os braços

quando sinto
que o ventilador me esqueceu
que as paredes adormeceram
que o armário de hospital fechou a porta.

É hora então de escrever um poema.

"Jalousie" (1935) - Xavier Cugat




Maurício de Sousa


Mauricio de Sousa é sem sombra de dúvida o maior cartunista brasileiro voltado para o mundo infanto-juvenil, mas que agrada também os adultos e criador da famosa "Turma da Mônica". Mauricio nasceu no dia 27 de outubro de 1935, em Santa Isabel, São Paulo, filho do barbeiro Antônio Mauricio de Sousa e da poetisa Petronilha Araújo de Sousa e deve ter herdado de sua mãe o gosto pela arte.

Apesar de nascido na cidade de Santa Izabel, o pequeno Mauricio passou grande parte de sua infância em Mogi das Cruzes, quando sua família se mudou para lá pouco tempo depois de seu nascimento. Mais tarde vieram para a Capital de São Paulo, onde Mauricio começou a estudar no externato São Francisco e depois em outros colégios. Tempos depois dividia os estudos com trabalhos diversos, inclusive fazendo algumas ilustrações para o jornal da cidade de Mogi, pois tinha um talento especial para desenhos e isso passou a ser o seu grande sonho.

Na Capital de São Paulo começou a trabalhar como repórter policial no jornal Folha da Manhã onde permaneceu por quase cinco anos, mas entre uma matéria e outra continuava a dedicar-se ao desenho e mostrá-las aos amigos que trabalhavam com ele no jornal, o que lhe proporcionou a abertura de uma oportunidade para editar algumas tiras para o jornal. Bidu e Franjinha foram as suas primeiras tiras a começar a circular através do jornal em 1959.

Com o decorrer do tempo, Maurício foi criando outros personagens como o Cebolinha, Chico Bento e outros e também iniciou a publicação do tablóide semanal do personagem Horácio, Raposão e não parou mais. Em 1963, Mauricio criou juntamente com a jornalista Lenita Miranda de Figueiredo, outra personagem denominada Tia Lenita, que passou a ser apresentada dentro de um encarte do jornal chamado "Folhinha de São Paulo" e neste mesmo ano também era criado o seu personagem mais famoso: a Mônica, inspirada em sua filha.

Outros personagens também surgiram por inspiração de seus filhos e também de seus amigos de infância como Nimbus, Do Contra, Maria Cebolinha, Magali, Marina. Sendo pai de dez filhos, Mauricio teve inspiração de sobra para criar os seus personagens. Quando a Mônica foi lançada em 1970 ela chegou a incrível cifra de 200 mil exemplares (não esqueça que estamos falando em termos de Brasil). Dois anos depois chegava às bancas a revista Cebolinha e assim sucessivamente outros personagens que foram publicadas pela editora Abril.

Na década de 80, Maurício presenciou a invasão no mercado brasileiro dos animes japoneses e com isso acabou perdendo bastante de seu mercado, pois naquela época ele ainda não tinha nenhum produto televisivo. Pensando nisso, Mauricio fundou o estúdio de animação "Black & White" e nela criou uma grande equipe que projetaram oito longas-metragens para reconquistar o mercado, mas tudo isso aconteceu num péssimo momento da nossa história, pois o Brasil passava naquele momento por uma inflação galopante, sem contar com a lei de reserva de mercado da informática que impedia qualquer tipo de modernização para fazer frente aos novos produtos.
Diante disso, não restou outra opção senão a de retornar as histórias em quadrinhos, pelo menos até que a situação econômica brasileira melhorasse. Em 1987as revistas em quadrinhos passaram a serem publicadas pela editora Globo, em conjunto com o estúdio Mauricio de Souza.

Pouco a pouco a conjuntura nacional começou a melhorar e as histórias de Mauricio começaram a ultrapassarem fronteiras e ser conhecida fora do Brasil, além disso, suas obras começaram a ser adaptadas para o cinema, televisão, videogames e licenciamentos para diversos produtos utilizando marcas com os seus personagens. Também foi criado um parque temático da Turma da Mônica denominado o Parque da Mônica, que fica no Shopping Eldorado, na Capital de São Paulo, além de outro em Curitiba e Rio de Janeiro.

Em 2007, todos os títulos da Turma da Mônica passaram para a multinacional Panini, que na época também possuía os direitos sobre as publicações dos super-heróis da Marvel e DC Comics. Ainda neste mesmo ano, Mauricio de Souza recebeu homenagens pela escola de samba, Unidos do Peruche, que cantou o samba enredo "Com Mauricio de Sousa a Unidos do Peruche abre alas, abre livros, abre mentes e faz sonhar".

Principais Fontes Bibliográficas

http://pt.wikipedia.org/wiki/MauÃ-cio_de_Sousa

http://www.monica.com.br/

http://www.geocities.com/Area51/Shire/7217/mshist.htm


Estrelas cadentes - Por Socorro Moreira


Repentes são
como estrelas cadentes
numa velocidade urgente
caem, e se infiltram
nas garras das nossas mãos.

Inquietas
gritam na espera
e nada era
Eram apenas canções
no rádio da imaginação.

Tempo ...Pediram-me tempo
- O tempo do esquecimento !
E, antes que a verdade se firme,
eu deixo de sentir
o que às vezes penso.

Foi um tempo
Foi-se o tempo
A gente já não se avizinha
A gente se adivinha...
E a resposta é não !

Tarde quente
Já passou da hora
Já sumiu da mente
O telefone toca ...
Como antigamente !

Sono
Sonho tristemente
O que não pode chegar
que de mim
se despeça ,já !

Socorro Moreira

Qual o sentido da filosofia?

Mário Ferreira dos Santos – Palestra no Centro Convivium, 1964
Não há uma única, só há a filosofia, porque ela como já definiu muito bem Pitágoras, continua com a sua definição, ela nada mais é do que o amor a sabedoria. Pitágoras, numa aula de geometria, em que fazia a demonstração de um teorema indicou um caminho. Ele disse que devia se fazer a filosofia “a more geométrico”, também com demonstrações rigorosas e apodíticas. Se procedermos assim a filosofia não será motivo de divergências humanas, mas de aproximação.
A matemática não tem divergências, porque ela entrou no campo especulativo e entrou na demonstração rigorosa, o que existe de divergência é que pode haver é na parte de aplicação, na parte prática. É lógico que não pode atingir a perfeição incomutável. O triângulo perfeito será
sempre relativo, o que há necessidade é de dar a filosofia outro sentido, se a filosofia for construída assim é uma só, então encontramos uma filosofia perene, positiva e perene através dos séculos, através dos milênios.
Filosofia que vem vindo através dos gregos, através dos pitagóricos, socráticos, platônicos, aristotélicos, através da escolástica, através dos grandes árabes até nós. Agora estamos numa fase de confusão, porque a filosofia está sendo invadida por estetas e o espírito do esteta, o espírito romântico é destrutivo, pois ele acha que a filosofia é subjetiva, pessoal. A nossa luta é voltar outra vez a estrada real, aquela estrada real que é nossa, que é patrimônio da humanidade. Filosofia não é filodoxia, filosofia não é o campo dos palpites, não é o campo das opiniões, na filosofia não há lugar para opinião. Quando se diz “qual é a sua opinião” não se está mais fazendo filosofia, está se fazendo filodoxia. Filosofia tem que se demonstrar, se não se pode demonstrar então fica em suspenso, continua se investigando até que se chegue a demonstração rigorosa. Porém não se vai encontrar uma explicação apodítica de fatos contingentes, querer reduzir os fatos da ciência a um sentido especulativo e de raciocínios apodíticos absolutos não se vai conseguir, são sempre prováveis e este é o campo da probabilidade da ciência. É provável, por exemplo, que aquela pedra que está solta vá cair, mas não há nenhuma necessidade absoluta que ela caia, é outra coisa.
Hoje em dia se faz muitas confusão, há muitas tendências, muitas escolas. As questões que existem na escolástica são questões abertas, mas em regra geral todos os escolásticos têm uma unidade, há um pensamento entre eles que é unitário, que forma uma unidade, dá uma corporeidade, dá uma tensão a escolástica, assim como existe no pitagorismo apesar das divergências entre os pitagóricos. Chamamos nossa filosofia de concreta, porque ela é uma filosofia positiva que busca concrecionar os aspectos positivos de todo o filosofar, tudo o que expomos demonstramos apoditicamente e o mais possível, evitando o termo médio, quer dizer
evitando o raciocínio da razão, porque o raciocínio propriamente racional que é o da ciência é precisamente aquele que usa o termo médio, procuramos evitar o mais possível, embora nem sempre seja possível evitar.

Nota: Quando a obra de um filósofo de tamanha importância é ignorada nas universidades é porque há alguma coisa de errado nisso. Ou a obra é realmente muito falha que não valha a pena adota-la ou o nível dos professores é muito falha que não a percebem. Infelizmente a maioria de nossas universidades está no segundo caso, ignorando por completo uma obra monumental que após sua leitura ver-se-ia de imediato o besteirol sofista adotado como verdades até hoje por inúmeros "pensadores", que não chegam a ser filósofos. A obra do Mário, ao que me parece é uma ameaça constante as inúmeras teses defendidas e tidas como verdades absolutas, dando aos seus autores o título de intelectual, sendo este bem aceito na cúpula que o absorve. Adotar o estudo do Mário me vez ter que rever totalmente os quatro anos de faculdade, vendo que noventa por cento do que eu tinha estudado não passava de um conhecimento travestido de filosofia, mas que contém erros grosseiros que não passaria despercebidos nem por um aluno iniciante de filosofia medieval.

Mestre Graça da Linguagem: Cordel para Graciliano Ramos

Graciliano Ramos, Heloísa e filhos

A foto e a caricatura

Graciliano em diversas fases

Desenhos e Caricaturas


Graciliano é Nordeste
Ser Sertão e desalento
Traz o Cárcere na Memória
Seca vida e atormento
Sofrimento sertanejo:
Mandacaru...sentimento...

Das Alagoas para o Mundo
Romancista universal
Psicológico - Humanista
Narra-a-dor essencial
Escritor de Quebrângulo
Crítico sóciocultural...

Graciliano primogênito
De quinze, foi o primeiro
No Sertão das Alagoas
Veio ao mundo por inteiro
Romancista magistral
Sangue e alma de vaqueiro...

Literatura seca, enxuta
De aridez na paisagem
Ilumina o pensamento
Na ressequida imagem
Graciliano transmuta
O elixir na linguagem...

Clássico - regionalista
Solar, telúrico - literal
Introspecto, inconfidente,
In.comparável - genial
Graaande, lúcido, inteiro
Além do Bem e do Mal...

Linhas Tortas,Vidas Secas
Sem água para molhar
Sempre vasilha vazia
Sem nada pra alimentar
Minguada cuia na vida:
Sem lagosta e caviar...

Graciliano nos revela
Pobreza e injustiça


Fomiséria brasileira
Que dilacera a Justiça
Morte e desnutrição:
Elite que desperdiça...

Caetés e Vidas Secas
Memórias do Cárcere:brado
Fez Infância e Dois Dedos
Insônia: voz dum seco bardo...
Alexandre e Outros Heróis :
Angústia e São Bernardo...

Histórias de Alexandre
7 Histórias Verdadeiras,
Fez "Viagem" pelo mundo
"Linhas Tortas", passageiras,
Umas "Histórias Incompletas",
Pelas plagas brasileiras...

Miserável epopéia
Vida seca, amarela,
Angústia do cidadão
Sofrido: na esparrela
Fome que desmata o homem
Sem comida na tigela...

Sempre espírito grandioso
Perseguido, aprisionado,
Apesar da amargura,
Do coração transtornado,
Foi bom diretor e prefeito:
Honesto e sempre honrado...

Paulo Honório - Sinhá Vitória
Fabiano com coragem
Madalena, Anita, Anália
Luís da Silva, personagem
Graciliano alquimista:
Mestre Graça da Linguagem...

Graciliano autor fecundo
Em várias línguas traduzido
Retrata nosso Brasil real
Árido torrão ressequido,
Homem - Terra, co(s)munista
Jamais será esquecido...


www.cronopios.com.br/site/printversion.asp?id...

O cantar do coração - Por Emerson Monteiro

A literatura dos interiores distantes traz em si um charme especial de quem sofre sozinho em meio às coisas que acontecem longe, no dia-a-dia do código interno da vida sob sete chaves, na alma calada, indagadora, febril, viajante nas encostas dos relevos imaginários, em sobrevoos de largas praias, no seio do coração, paixão crua de viver isolado e amar ainda assim sozinho.

E nisso o poeta vira doutor de ciência inatingível pelos dedos da fria realidade. Peregrino de estradas desertas, examina cada urze e cada pedra às margens. Mergulha nos prados da alma, abre portas de castelos infinitos, abraça o próprio peito e consigo as multidões, mártir da mesma ausência que confronta barreiras e o tempo, suas brisas abissais de madrugadas insondáveis.

Criar do nada, sentir o pulsar das veias e decodificar palavras guardadas em gavetas bolorentas, atirar às futuras gerações punhados de sementes douradas. O poeta e o território dos homens, missionário das grandes navegações do furor dos indivíduos tempestuosos, espécie de cobaia no seu estado mais puro de ausências.

Raimundo Elesbão de Oliveira nos conta tudo isso em versos dotados de afirmações interrogativas de momentos agitados do ser. Suas aventuras espirituais as deixou gravadas em forma de notícia-tradução aos pósteros que só hoje revelam passos que deu na memória de uma época que se foi, a outras gerações, em formato de livro.

Artistas sonham. Amam. Artistas nutrem ideias, utopias, realidades tangíveis. Não lhes cabe produzir bombas, metralhadoras, aviões de combate, tanques, fome, divisões.

Hoje, ao seu tempo, a literatura propicia trabalhar a ciência nos seus níveis tantos, rumo ao potencial da infinita criação, transformando-os em seres válidos, amigos, irmãos entre humanos, a fim de construir sociedade nova, sem ganância ou competição exacerbada, livre dos atuais derramamentos inúteis de sangue. Tudo perpassa o senso do estético e disponibiliza constante mudanças de inspiração. E sentar e transferir ao papel valores dignos, naturais, democráticos, das possibilidades em partilhar o amor com as outras criaturas, dando exemplo de clareza no que pese a luta insana cotidiana. A arte qual mágica de sonhos realizáveis pela força vital, a pleno dispor da fértil natureza, meios efetivos, abertos ao público em profusão de cores, distribuições, suportes.

Seus filhos e netos sentem a responsabilidade disso para com alguém inspirado, que foi o avô e pai consciente , a registrar contrito os refolhos grandiosos da paisagem íntima em palavras, gestos de interpretação, testemunhos inalienáveis do que presenciou no dedilhar das eras contínuas. Transferem com isso o compromisso de personalidade eminente para o seu meio, a cidade de Araripe, no Cariri cearense, com atitudes clássicas e visão avançada, chance única dos que viveram naquele contexto e não mais existem a não ser nas descrições esmeradas de Raimundo Elesbão, a deter a escritura de seu posto de observação, a corrosão da imperenidade dos séculos impacientes.

Falassem as pedras e restariam semelhante angústia de autores e suas palavras prenhes de poemas e extrema verdade.

Eis por tudo isso o que este livro (“A vida e o verso”, lançado no dia 24 de outubro de 2009, em Araripe CE) quer guardar, o melhor perfume notado de um senhor a um só tempo mestre, tabelião, conselheiro, filho, esposo, pai, avô, amigo, autor, em comunidade interiorana do sertão do Nordeste, escondida nos socavões da Serra do Araripe, cheia de tipos inesquecíveis, dignidade provinciana e inspiração à flor da pele, nos tantos mistérios de realidade multiforme. Estes versos lhes falarão disso com carinho e continuidade, esperança de que outros reavaliem o penhor do sonho de tempos ricos em paz e solidariedade brejeira.


Graciliano Ramos


Graciliano Ramos relata que, quando menino, na escola lhe ensinaram um ditado: “Fale pouco e bem e ter-te-ão por alguém". Ele repetia o ditado mas ficava com uma dúvida: “Quem será esse ‘Tertião’?"

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Graciliano Ramos de Oliveira nasceu no dia 27 de outubro de 1892 em Quebrângulo (AL). Um dos 15 filhos de uma família de classe média do sertão nordestino, passou parte da infância em Buíque (PE) e outra em Viçosa (AL). Fez estudos secundários em Maceió, mas não cursou faculdade. Em 1910, sua família se estabelece em Palmeira dos Índios (AL).

Autor de Vidas Secas, foi um romancista, cronista, contista, jornalista, político e memorialista brasileiro do século XX.

O estilo formal de escrita e a caracterização do eu em constante conflito (até mesmo violento) com o mundo, a opressão e a dor seriam marcas da literatura. Graciliano foi indicado ao premio Brasil de literatura.

Em 1914, após breve estada no Rio de Janeiro, trabalhando como revisor, retorna à cidade natal, depois da morte de três irmãos, vitimados pela peste bubônica. Passa a fazer jornalismo e política em Palmeira dos Índios, chegando a ser prefeito da cidade (1928-30).

Em 1925, escreve seu primeiro romance, Caetés. Muda-se para Maceió em 1930, e dirige a Imprensa e Instrução do Estado. Logo viriam São Bernardo (1934) e Angústia (1936, ano em que foi preso pelo regime Vargas, sob a acusação de subversão).

Memórias do Cárcere (1953) é um contundente relato da experiência na prisão. Após ser solto, em 1937, Graciliano transfere-se para o Rio de Janeiro, onde continua a publicar não só romances, mas contos e livros infantis. Vidas Secas é de 1938.

Em 1945, ingressa no Partido Comunista Brasileiro. Sua viagem para a Rússia e outros países do bloco socialista é relatada em Viagem, publicado em 1953, ano de sua morte.

O escritor tinha o hábito de trabalhar arduamente a linguagem do texto, sempre à procura do termo correto, da frase seca e sóbria. "Isso talvez ocorra por Graciliano ter sido um homem do sertão, apesar de pertencer a uma camada privilegiada daquela região seca de Alagoas", observa o professor. Isso não significa que, ao contrário do se possa imaginar, Graciliano não era um homem triste, melancólico ou apático. "Era, isso sim, uma pessoa bastante reservada, que sempre ficava na defensiva. Talvez por não ter tido formação regular universitária. Era um autodidata", conclui Berriel.

Obsessão - A secura e a objetividade são uma particularidade marcante no seu texto, que tem muito a ver com uma certa concepção de escrita que se pode encontrar referências muito fortes em Eça de Queiroz e Machado de Assis, por exemplo. Graciliano foi um escritor que ficou conhecido pelos cortes que fazia em seus textos. Seus originais eram sempre marcados por sinais de régua para riscar palavras, frases e períodos inteiros e, ao final, quando já havia escrito umas quatro laudas, formando-se um amontoado de rabiscos, tirava uma página a lápis, "mais ou menos definitiva". Depois, não necessariamente no mesmo dia, reescrevia toda a página a caneta. "Era um escritor tão obsessivo que não raro reescrevia até mesmos as provas tipográficas", revela Berriel.

"A crer no narrador, analfabeto até os nove anos de idade, algo de muito interessante nesse processo deve ter ocorrido, a ponto de os críticos considerarem Graciliano Ramos autor dos mais precisos no manejo da língua portuguesa", observa a pesquisadora. O escritor confidenciou à esposa, Heloísa Ramos, ter tido no banheiro "uma ótima idéia" para um livro. Os capítulos de Infância começavam então a ser delineados.

Os Doze Pares de França para a rede, num gesto próximo de sua intimidade com o cigarro de palha e as conversas com os empregados no terreiro. "Padre Pimentel parecia ocupar lugar especial em sua formação. Traduzia-lhe as expressões enigmáticas dos textos religiosos, atualizando as informações distantes de seu foco de compreensão. Agia como um verdadeiro mediador, cuja principal qualidade era a de permitir a existência de dúvidas e provocar indagações", diz a pesquisadora. Tudo isso em um contexto, onde, curiosamente, à criança não era permitido sequer tomar parte em conversa de gente grande.

Vale a pena ver este vídeo.
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Fontes de pesquisa:


UM PINTOR CHAMADO ARMANDO VIANA - Por Edilma Rocha


O artista que na infância rabiscava todos os papeis que encontrava em branco nos cadernos da escola, dando vida com lápis coloridos aos desenhos criados por sua intuição prodigiosa, se fez ao longo dos anos um nome respeitado.
O companherismo no seu meio o fez cada vez mais, subir os degraus de uma carreira brilhante no mundo das artes Brasileiras.
Armando Martins Viana, nasceu na cidade do Rio de Janeiro no ano de 1897. Começou os seus estudos no Liceu Artes e Ofícios, antiga escola, sob a orientação dos professores Eurico Alves e Stefano Cavalaro. Realizou obras à óleo e aquarelas, praticando uma pintura tradicional e realista com o seu desenho e coloridos fieis. Pintou paisagens, nus artisticos, flores, marinhas , figuras e arte sacra. Cumpriu todas as etapas de uma grande escola de artes, passando por todos os temas necessários para a escolha de um estilo próprio.
Ingressou na Escola Nacional de Belas Artes e foi pupilo de Rodolfo Amoedo e Rodolfo Chamberlland, nomes importantes na orientação do artista no Rio de Janeiro. Todos os que tiveram a oportunidade de passar pelas mãos dos grandes mestres, levaram no seu currícuo, honra merecida. Trabalhou na decoração do Palácio do Catete, no Palácio da Guerra e nas igrejas de São Jorge e Nossa Senhora do Rosário , deixando o seu talento no registrado na história do Rio de Janeiro.
Um pintor eclético, no decorrer da sua carreira evoluiu para o academismo e impressionismo, com incursões pelo modernismo cubista. Foi um grande amigo de José Pancetti na inovação do seu trabalho. Sua obra-prima, Limpa dos Metais de 1923 encontra-se no Museu Mariano Procópio, em Juiz de Fora. Pintou os nossos escravos, dando um significativo registro para a história do Brasil junto a colega Tarsila do Amaral. O nosso Museu de Arte Vicente Leite, no Crato, possue um trabalho desta época, intitulado Prêto Velho datado de 1921. Vale a pena conferir. O nosso idealizador e criador Bruno Pedrosa conseguiu de suas próprias mãos este trabalho para o acervo em doação, na década de 70, no Rio de Janeiro.
Existe hoje no mercado da arte brasileira um número de obras do artista em diversas fases circulando nos leilões, principalmente em São Paulo, para os grandes colecionadores.
Aos 94 anos, ainda produzindo, falece no Rio de janeiro, Armando Martins Viana, um grande nome na pintura brasileira.
Edilma Rocha

Lembranças inertes - Por Socorro Moreira (foto de Pachelly Jamacaru)

Minha poesia é pretenciosa
Inventa um Natal em outubro
Pede emprestado , o olhar de Pachelly ...
Mistura-se na argila da estrada
Pisa em folhas brancas da saudade
Na argamassa das palavras
constrói barracos de papel...
Desarrumada nos cipós e calhas
pede inclusão na paisagem ...
No escuro que o luar invade
esconde a timidez
Ilumina de falas, a casa.
Falta querosene na lamparina da sala
O fogão de lenha queima,
gravetos catados,
na beira da alma
.
Meu quintal tem um balanço,
onde brinco com meus sonhos
Minha rede sempre armada,
tem no vento um aliado...
Quando ele chega,
abro a janela da vida ,
e canto uma moda antiga ...
Pra que as estrelas se encantem,
e me apanhem com seu brilho.
.
Inércia

.A cantiga da chuva começa a ficar monótona.
Saudades dos meus óculos de sol.
O retiro que se indefine, encharca-se de uma preguiça nostálgica. As distâncias vão instalando valas ... Os abismos aprofundam-se. Nossas próprias águas avoluma-se , e nos asfixiam.
Olho para o céu ... Esse tempo nublado me deixa careta, e desapaixonada.
Meu amor platônico auto-deletou-se !
Meu amor virtual dorme antes e depois de mim.
Meus afetos reais ocupam-se dos seus dramas pessoais ...Não tocam... Se entocam !
A casa de janelas abertas ferrolha a sua porta. A vida consome-se lenta e corrosivamente. O tempo arranca meu velho papel de parede, num vendaval insubmisso. Pesam-me os pensamentos, e essa virada do tempo.
Caras desmotivadas e assaltadas por todas as angústias do mundo, impostam-me máscaras. Alegria sem eco...Tristeza sonora, como um disco arranhado ...Pinga em gotas...Conta-gotas ...Lágrimas da Terra.
Sinto que o os mensageiros de todas as novas estão a caminho. As mudanças aleatórias virão ! Esse aperto no peito explodirá um jeito verde de enxergar a vida .

Casa silenciosa , abandonada pelas baratas, pessoas e paixão. Meus tamancos zuadam pela escada interna .Passeiam nos recantos selados e desmemoriados. Lá fora a cidade corre. Meus templos são as calçadas ... Empoçadas , espelham um céu e um momento gris.
Vou e volto para os algodões ( verde - água) dos meus lençóis desarrumados pelo tormento dos sonhos. Pernas cruzadas, olhar .
Quando a minha energia voltar vou inverter a posição das telas do meu quarto, polir as lembranças;inocentá-las de todas as dores... Retirar essa energia senil .
É confortável o silêncio do corpo. O meu silêncio só abre a boca, quando encara a vida , e sente-se feliz !

Socorro Moreira

Intervalos e Nuances - por Socorro Moreira


Noites de ócio
longas , insones ...
Internet, TV, telefone
de pensamentos fixos,
pesadas nos vícios .
Tardes de torpor
sonolentas , vazias .
Manhãs atropeladas ...
Curtas manhãs !
-Tempos roubados de mim !
.
Rio dos alentos
Recife dos reencontros
Crato comigo...
unido, indescritível
Estradas sem pontes
Rio sem margens
Profundas viagens
Pálpebras pesadas
pernas cruzadas,
diante da claridade...
Fechando ciclos !
.
Minha mãe voltou
Abracei o colo que foi meu
Ainda tem aconchego
no sorriso terno
Ainda tem luz
nos olhos sábios !
Na esquina da rua
vi o vazio do meu pai,
encostado no muro
Presença invisível ?
Pensei ouvir seu assobio
Tanto tempo passou...
O tempo anda,
e vultos invisíveis
se alastram como buracos,
marcando a história.
.
Túnel do tempo
Entrar e sair
Abraçar, despedir-me
Fazer isso na memória ...
Seguir o rastro do perfume
Aspirar a poeira das horas !

.
Nuances

O sol despontou, um tanto zarolho. Parece um pirata, cheio de asas. As ruas escondem suas sombras, e clareiam os movimentos de quem passa.Atravessei a praça, adiantando e retardando compromissos diários. Enfrentei filas. Comprei frutas nas calçadas. Olhei vitrines.Experimentei vestidos floridos. Aspirei meu próprio cheiro, no vento dos meus cachos. Ideias enroladas ... Dispenso os babados. Amigos encontro ao acaso. Sorriem perguntas formais. Sem casos, problemas escondidos, no banco de trás. Arrasto tempo e sandálias . Compro um brinco , na lojinha da esquina ... Balançam meu juízo , mas emprestam-me charme. Café com bolo não posso,mas traço ! E saio requebrando , na minha saia estampada. Pés descobertos , evitam as águas paradas. Vestígios das chuvas , alocados nos buracos ... Eu passo ! Pulo feito gata... quando fui gata ? Era uma tonta mulherzinha trepidando saltos no asfalto. Hoje as sandálias me carregam, me levam pra onde os olhos não podem , nem querem.Tarde de malemolência. Sessão de cinema que adormece. Amores na tela , me acordam ... São quatro horas. Olho o espelho e vejo uma cara, traquinamente feliz ...Mentira de outubro ?

É quase cínico ou triste , o olhar que pisca , nuances de mim.

Como nossos pais - Belchior , interpretado por Elis Regina



Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes (Sobral, 26 de outubro de 1946) é um cantor e compositor brasileiro. Foi um dos primeiros cantores de MPB do nordeste brasileiro a fazer sucesso nacional em meados da década de 1970.

Em agosto de 2009 houve rumores de seu suposto desaparecimento. Mas o artista foi encontrado morando em uma pousada no Uruguai.

Durante sua infância no Ceará foi cantador de feira e poeta repentista. Estudou música coral e piano com Acaci Halley. Foi programador de rádio em Sobral, e em Fortaleza começou a dedicar-se à música, após abandonar o curso de medicina. Ligou-se a um grupo de jovens compositores e músicos, como Fagner, Ednardo, Rodger Rogério, Teti, Cirino entre outros, conhecidos como o Pessoal do Ceará.

De 1965 a 1970 apresentou-se em festivais de música no Nordeste. Em 1971, quando se mudou para o Rio de Janeiro, venceu o IV Festival Universitário da MPB, com a canção Na Hora do Almoço, cantada por Jorge Melo e Jorge Teles, com a qual estreou como cantor em disco, um compacto da etiqueta Copacabana. Em São Paulo, para onde se mudou, compôs canções para alguns filmes de curta metragem, continuando a trabalhar individualmente e às vezes com o grupo do Ceará.

Em 1972 Elis Regina gravou sua composição Mucuripe (com Fagner). Atuando em escolas, teatros, hospitais, penitenciárias, fábricas e televisão, gravou seu primeiro LP em 1974, na gravadora Chantecler. O segundo, Alucinação (Polygram, 1976), consolidou sua carreira, lançando canções de sucesso como Velha roupa colorida, Como nossos pais (depois regravadas por Elis Regina) e Apenas um rapaz latino-americano. Outros êxitos incluem Paralelas (lançada por Vanusa), Galos, noites e quintais (regravada por Jair Rodrigues) e Comentário a respeito de John (homenagem a John Lennon) gravada por ele e pela cantora Bianca. Em 1983 fundou sua própria produtora e gravadora, Paraíso Discos, e em 1997 tornou-se sócio do selo Camerati. Sua discografia inclui Um show – dez anos de sucesso (1986, Continental) e Vicio elegante (1996, GPA/Velas), com regravações de sucessos de outros compositores.

Pelos sucessos do passado, Belchior é um nome que a gente respeita !


Pensamento Para Hoje: 26/10/09.



"Para mim ter prazer significa: alegrar-me, com todo o meu corpo, na abundância da vida.Essa é também uma experiência Bíblica:"Os pobres possuirão a terra e se deleitarão com paz abundante."Assim reza o salmo 37,11. O salmista menciona aqui os ímpios que dificultam a vida dos pobres.Mas ele se encoraja a si mesmo a fim de não dar atenção a eles,mas sim acalmar-se diante de Deus e confiar nele.

Contra toda afição causada por más pessoas temos sua promessa: os pobres possuirão a terra e se deleitarão com paz abundante.Paz, shalom, não é somente a ausência de guerra e violência; é tudo que a pessoa anseia: sossego, bênção, vida em abundâcia."

Do autor:Anselmo Grun.

Paz a todos: Liduina.

Darcy Ribeiro - um multitalentoso brasileiro !

Nasceu em 26 de outubro de 1922 em Montes Claros, Minas Gerais. Depois de abandonar o curso de Medicina, matriculou em 1944 na Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Entre 1947 e 1957 trabalhou com o Marechal Rondon no Serviço de Proteção aos Índios (SPI). Contratado por Anísio Teixeira, assumiu em 1957 a direção da Divisão de Estudos Sociais do Ministério de Educação e Cultura. Tornou-se um "discípulo" de Anísio Teixeira na defesa da escola pública e juntos influenciaram o processo de elaboração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1961. Foi o primeiro reitor da Universidade de Brasília e Ministro da Educação e Cultura do governo João Goulart. Após o golpe de 1964, exilou-se no Uruguai, Venezuela, Peru, Chile, entre outros países. Com a anistia, em 1979, associou-se à Leonel Brizola, para reorganizar o velho Partido Trabalhista Brasileiro. Em 1982, como vice-governador do Rio de Janeiro e coordenador do Programa Especial de Educação, criou os Centros Integrados de Educação Pública (Cieps) e as Casas da Criança, que integravam o atendimento de saúde e educação a crianças de 0 a 6 anos. Em 1986, assumiu a Secretaria de Desenvolvimento Social de Minas Gerais, na tentativa frustrada de implantar os Cieps. Como senador em 1990, foi relator do anteprojeto aprovado da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996), que passou a ser conhecida como Lei Darcy Ribeiro. No segundo mandato de Leonel Brizola no Rio de Janeiro, coordenou o 2° Programa Especial de Educação chegando a marca de 500 Cieps, escolas públicas de tempo integral. Autor de diversos livros, faleceu em 17 de fevereiro de 1997.

Educador, sociólogo, etnólogo, poeta, romancista, antropólogo, político: o multitalentoso Darcy Ribeiro deixou um legado sem parâmetros no pensamento brasileiro

Filho de farmacêutico e professora, o jovem Darcy Ribeiro, provavelmente por influência dos pais, estudou medicina durante três anos – até ter a convicção de que o interesse dele não era a fisiologia do corpo humano. A verdadeira motivação desse mineiro, que nasceu no ano da Semana de Arte Moderna e cresceu testemunhando a crueldade da seca e dos grandes latifundiários, era entender porque o Brasil era um país que teimava em não dar certo.

Antropólogo, educador, intelectual, romancista e político: Darcy Ribeiro foi um homem difícil de caber numa única definição. Quando trocou a faculdade de Medicina, em Belo Horizonte, pela de Ciências Sociais, na Escola de Sociologia e Política, em São Paulo, começou o desenhar uma trajetória que o tornaria conhecido e respeitado em todo o mundo.

O antropólogo viveu dez anos junto às populações indígenas. Desse período, resultaram algumas das suas principais obras – entre elas Kadiwéu, coletânea de ensaios sobre o saber, o azar e a beleza, considerados um clássico da etnologia, da mitologia e da arte dos antigos índios Guaicurus.

Outro importante trabalho é Diários Índios, em que reproduz na íntegra as anotações feitas durante as expedições com os índios Urubu-Kaapor, nos anos de 1949 e 1951, época em que trabalhava no extinto SPI (Serviço de Proteção aos Índios). Lá, conheceu o Marechal Cândido Rondon, que presidia o Conselho Nacional de Proteção aos Índios e que acabou por influenciar, profundamente, o trabalho que desenvolvia junto às comunidades indígenas.

Na relação de feitos do antropólogo Darcy Ribeiro estão as criações do Museu do Índio e do Parque Nacional do Xingu. Todos esses anos de convívio e estudo da cultura indígena e dezenas de livros acabaram resultando em uma das publicações mais importantes do etnólogo Darcy Ribeiro: O Povo Brasileiro. O autor consumiu 30 anos de trabalho até terminar esse que é um dos mais fiéis retratos da formação do povo brasileiro.

Em Darcy Ribeiro, o educador sempre andou lado a lado com o político. Bom exemplo disso foi a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – um de seus grandes sonhos, concretizado quando se tornou senador. A LDB, aprovada durante o período de convalescença do câncer que o levaria à morte, em 1996, determina as condições para um ensino com eqüidade, competência e qualidade, além de defender a integração com a comunidade, educação a distância e excelência na formação do magistério. A lei especifica, ainda, critérios para avaliação e credenciamento de universidades. Enfim, os eixos fundamentais para a melhora da educação no país.

O educador-político, durante o governo de Juscelino Kubitschek, foi o responsável pela criação da UnB, a Universidade de Brasília, até hoje referência de qualidade entre as universidades do país. Darcy Ribeiro foi seu primeiro reitor até assumir, no governo parlamentarista de João Goulart, a pasta de ministro da Educação.

No exílio, depois de ter seus direitos políticos cassados pela ditadura militar, em 1964, ajudou a criar escolas e universidades nos países latino-americanos onde buscou refúgio até poder voltar ao Brasil, com a Lei da Anistia.

Nas primeiras eleições livres para governo de Estado, depois da ditadura, em 1982, foi eleito vice-governador do Rio de Janeiro, na chapa encabeçada por Leonel Brizola. E foi ocupando mais esse cargo político que o educador realizou uma das suas obras mais polêmicas e revolucionárias: os Cieps, que, na definição de Darcy, representavam o ponto mais expressivo de sua crença no ensino básico para os segmentos historicamente marginalizados.

Os Cieps eram escolas públicas, de período integral, onde as crianças cursavam disciplinas curriculares e recebiam alimentação de qualidade e acompanhamento médico-odontológico, além de praticarem atividades esportivas. Para abrigar essa "nova escola" foram construídos prédios próprios, projetados por Oscar Niemeyer, o grande arquiteto de Brasília e amigo de Darcy.

Ativo defensor da democratização do ensino público gratuito, foi também o idealizador da universidade Norte Fluminense, concebida quando era vice-governador do Rio e concretizada no governo seguinte.

O intelectual Darcy Ribeiro não se restringiu apenas à academia. Autor de vasta e rica literatura científica, foi além e se mostrou um competente literato. Ao todo, foram cinco romances, um ainda inédito, contra mais de duas dezenas de livros e ensaios voltados para o mundo do conhecimento.

A primeira tentativa de escrever um romance foi ainda na juventude, ao 20 anos. Lapa Grande, um texto com cerca de 250 páginas, conta a agruras de um cego que recupera a visão e se surpreende com a feiúra da mãe. A experiência mal sucedida acabou afastando o jovem Darcy da ficção e dando impulso à carreira de escritor de livros científicos.

Muitos anos depois, já no exílio, fez uma nova tentativa, dessa vez com sucesso. Em Mayra, o antropólogo usou todo o conhecimento que tinha sobre hábitos e cultura indígenas para escrever "o drama de Avá, uma espécie de índio-santo sofredor, na sua luta impossível para mudar de couro, deixando de ser sacerdote cristão para voltar à sua indianidade original", como o próprio autor resumia a sua obra.

Nos seus quatro livros publicados (seguiram-se O Mulo, Utopia Selvagem e Migo) se percebe a angústia do antropólogo que chegou à conclusão de que o Brasil não deu certo por ser "um país enfermo de desigualdades", resultado de "uma mentalidade que permanece viva e ativa nas nossas classes dominantes rústicas, que continuam a fazer do Brasil um engenho de gastar gente".

Darcy era um homem alegre e de bom humor imbatível. Usina constante de idéias, muitas vezes atropelava as palavras ao falar. Os lábios nem sempre eram capazes de verbalizar pensamentos na mesma velocidade com que o cérebro as processava. Toda essa energia não era suficiente para afogar a angústia de suas decepções – ou fracassos, como ele mesmo gostava de definir. Celebrado com o título de Doutor Honoris Causa, pela universidade francesa de Sorbonne, dedicou-o às suas "derrotas". Afirmava, com lucidez e coragem: "Somei mais fracassos que vitórias em minhas lutas, mas detestaria estar no lugar de quem venceu".

Apesar de toda a importância da bibliografia de Darcy Ribeiro, seu último livro, um romance, permanece guardado numa gaveta à espera de alguma editora. As Histórias Gáticas conta a história, infanto-juvenil, de um gato ridicularizado pelos demais por acreditar ser dono de um rabo de galo, uma espécie mutante, que sonhava em ter filhos alados. Essa foi a segunda incursão literária dele pelo mundo infanto-juvenil (ele já tinha publicado Noções de Coisas, com ilustrações de Ziraldo).

Darcy também deixou, inéditos, um livro de poemas eróticos, Eros e Tanatos, e um romance urbano, Jóxua, escrito quando ele já estava muito doente. O texto relata as aventuras e dramas de um adolescente que deixa a família depois de sofrer violência sexual – e acaba se tornando garoto de programa em Copacabana. O autor escreveu todo o livro a mão, em manuscritos de letra miúda, resultando em originais incompreensíveis.

Seu livro de memórias, Confissões, foi concluído 40 dias antes de morrer. Com ilustrações de Niemeyer, a autobiografia é um relato carinhoso, mas em tom de zombaria, às vezes irado, em que não poupa ninguém, nem a si mesmo. No livro há histórias da família, como a da bisavó que casou o amante com a filha de 12 anos, para, segundo ele, "tê-lo sempre junto de si". Darcy também não esquece de relatar os fatos vividos ao longo dos seus 74 anos, como a relação com a literatura, os índios, a política e os políticos. Dos tempos da juventude, lembra de casos interessantes, como sua primeira amante, uma prostituta da cidade onde nasceu. Levado ao prostíbulo, com 15 anos, o jovem Darcy foi indagado pela experiente prostituta, chamada Almerinda: "Você já viu mulher nua?". "Já, sim senhora", respondeu Darcy. "Senhora é a sua mãe!", teve que ouvir.

Produção Bibliográfica

Religião e Mitologia Kadiwéu
América Latina, a Pátria Grande (Guanabara)
Configuração Histórico Cultural dos Povos Americanos (Civilização Brasileira)
Ensaios Insólitos (LP&M)
Mayra (Civilização Brasileira)
Migo (Record)
Nossa Escola é uma Calamidade (Salamandra)
Sobre o Óbvio (Guanabara)
Testemunho (Siciliano)
Aos Trancos e Barrancos (Guanabara)
Uirá Sai à Procura de Deus (Paz e Terra)
A Universidade Necessária (Paz e Terra)
Universidade para quê? (UnB)
Utopia Selvagem (Record)
As Américas e a Civilização (Vozes)
Os Brasileiros (Vozes)
Dilema da América Latina (Vozes)
Formas e Sistemas de Governo (Vozes)
A Fundação do Brasil (Vozes)
Os Índios e a Civilização (Vozes)
Processo Civilizatório (Vozes)
Teoria do Brasil (Paz e Terra)
Povo Brasileiro (Companhia das Letras)
Noções de Coisas (FTD)
Diário Índios (Companhia das Letras)
Confissões (Companhia das Letras)


Fonte: Revista Educação (nº 34)
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Pensamento para o Dia 26/10/2009


“Cada ato feito com a consciência do corpo é fadado a ser egoísta. O serviço altruísta nunca pode ser realizado enquanto estiver imerso na consciência do corpo. A consciência de Deus (Deva), em vez da consciência do corpo (Deha), originará o esplendor do Amor Divino (Prema) de dentro do coração. Com essa idéia como inspiração e guia, o homem pode conseguir muitas realizações boas. Devemos cultivar a atitude de que tudo é pela vontade de Deus, tudo é Seu jogo Divino (Leela).”
Sathya Sai Baba

Di Cavalcanti

"Era uma profunda e doida vida de artista a minha vida naqueles anos que precederam a Revolução de 30. Vida de artista possuído de uma grande inquietação humana dos problemas sociais."

Di Cavalcanti, 1971


"Di Cavalcanti conquistou uma posição única na pintura brasileira. Sem se prender a nenhuma tese nacionalista, é sempre o mais exato pintor das coisas nacionais. Não confundiu o Brasil com paisagens e em vez do Pão-de-Açúcar pintou telas com o tema samba, em vez de coqueiros, retratou mulatas, pretos e carnavais . Analista do Rio de Janeiro noturno, satirizador das nossas taras sociais, amoroso contador das nossas festinhas, mulatista-mor da pintura, este é o Di Cavalcanti de agora... "

( Mário de Andrade ) .
Comentário de Di Cavalcante com Mário de Andrade, numa carta de 1930:

"Mário, felizmente eu não me apresso, não quero nunca realizar obras-primas como quis o Brecheret, o Villa e mesmo já o Celso Antonio, o que acontece é que eles, sem autocrítica, já estão paus. E eu me sinto de uma mocidade comovente (...) " .


Rio de Janeiro, RJ, 1897
Rio de Janeiro, RJ, 1976


Após ter permanecido por dois anos em Paris, onde entrou em contato com os principais vanguardistas europeus e com a efervescência política do momento, retornou ao Brasil em 1925, marcado definitivamente por uma temática voltada ao social.

O ano de 1928 foi um marco; foi onde Di "oficializou" a tendência afetiva que o inclinava às questões sociais:

"Abri o portão de uma velha casa de cômodos... Ali morava preto Salvador. Tinha ido à Rússia. Éramos umas quinze pessoas ouvindo: operários gráficos, carpinteiros, duas mulheres... E foi naquela noite que assinei meu nome no Partido Comunista". (Di Cavalcanti. )

Durante a década de 30 a obra de Di, por um lado se dedica à denúncia do Brasil da corrupção e da desordem política, e por outro, ao cortejamento dos aspectos sociais do país. A primeira vertente está representada essencialmente em seus desenhos, e a segunda, em suas pinturas.

Em 1931, participou do Salão Revolucionário da Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro, onde foram expostas obras tanto de acadêmicos como modernos. Em 1932, ao lado de Flávio de Carvalho, Antônio Gomide e Carlos Prado fundou o Clube dos Artistas Modernos, associação positivamente comprometida com as questões tangente ao homem, à arte e à sociedade. Em 1933 participa da 2 ª Exposição de Arte Moderna da SPAM. Entre 1935 e 1940 morou na Europa com sua então companheira Noêmia Mourão. Apesar da ausência no país, seu trabalho figurou no 2 º (1938) e 3 º Salão de Maio (1939).

Houve quem denunciasse o conteúdo social de suas pinturas como estático e a-político, o que de fato constitui uma grande injustiça, uma crítica que perpassa o viés anacrônico e não consegue reconhecer em Di, o que Mário Pedrosa muito bem identificou: "Sendo o mais brasileiro dos artistas, foi o primeiro a sentir que entre o interior, a roça, o sertão e a avenida, o "centro civilizado" havia uma zona de mediação -o subúrbio. No subúrbio vive o verdadeiro autóctone da grande cidade. Já não é caipira mas ainda não é cosmopolita. O que já se passa é autêntico, de origem e de sensibilidade..." Além deste conteúdo pioneiro nas artes plásticas, ainda reside em Di o lirismo de representar as classes populares através de sua dignidade e beleza e não de sua miséria.

Em 1951 participa como artista convidado da primeira Bienal de São Paulo. Participa de outras bienais, inclusive estrangeiras, ganhando medalha de ouro em 1960 na II Bienal Interamericana do México. Nesta década, Di se proclama um defensor fervoroso da figuração, tecendo críticas ferozes aos abstracionismos.

Deixou um legado, que é lírico e crítico, nas técnicas distintas. Escrevera certa vez: "Fui de esquerda, mas meu marxismo era mais um sentimento humano e emotivo do que partidário". Mas certo é que esse engajamento, ainda que no plano da idealidade, refletiu-se com riqueza no seu trabalho.

Vanessa S. Machado
(bolsista IC / FAPESP)
Profa. Dra. Daisy Peccinini
(coordenadora do projeto)

Ando devagar ... porque já tive pressa - Por : Rosa Guerrera

Foto by Claude Bloc

Sou grande admiradora do Almir Satter, mas não posso negar que me atinge profundamente a música:”TOCANDO EM FRENTE” . A impressão que tenho quando a escuto é que ela retrata alguma coisa muito minha. “ANDO DEVAGAR PORQUE JÁ TIVE PRESSA ... LEVO ESSE SORRISO PORQUE JÁ CHOREI DEMAIS "...... E como já corri nessa vida ! Catava minutos e segundos no tempo para sempre encontrar mais horas para correr, para amar , para brincar, para trabalhar,para dirigir em alta velocidade, como se tudo ficasse resumido a emoção de vertiginosas carreiras pelas estradas e atalhos do destino .Mas quando a gente atinge meio século de vida , e começa a dobrar o cabo da boa esperança ( como se diz na gíria nordestina ), e que sentimos a descida nos degraus da escada da vida, é que a gente reflete que o tempo está mais curto e a pressa já não precisa existir nesse novo caminho. Aí olhamos o relógio ou o calendário com aquela vontade danada que o dia possua 30 horas , os meses 50 dias , e que tudo passe bem devagar , para melhor vivermos, para melhor amarmos , e para espalharmos mais sorrisos sem aquela pressa que tínhamos de até chorarmos desnecessariamente. E vamos assim nadando calma num lago azul,vivendo até com mais poesia os orgasmos que o amor nos oferece. E entendemos que hoje o importante é mesmo caminhar devagar , e esquecer totalmente que um dia tivemos talvez pressa demais para subirmos uma montanha , quando a planície do agora nos oferece todo tempo que ainda nos resta , para admirarmos e curtirmos melhor a paisagem que se estende ao nosso redor .
rosa guerrera