Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

ENVIE SUA FOTO E COLABORE COM O CARIRICATURAS



... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

Para participar, envie suas fotos para o e-mail:. e.
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claude_bloc@hotmail.com

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Homenagem:Ao Senhor dos Pinceis e da Arte de Fotografar-Wilson Bernardo.

EDILSON ROCHA...Quando o tempo de flores agrestes,sua maquina que ao provável se fazia ao certo!

POEMA PARA AS LENTES FOTOGRÁFICAS.
O homem concebe ao tempo
da idade
O prazer de envelhecer
Na sabedoria do que se faz
A tela e a imagem

O revelar e a perspectiva
das cores desconstruidas
em pinturas
em fotografias
Nos revelando a pureza do olhar
No envelhecimento magico das retinas.

Wilson Bernardo(Poema & Fotografia)

deixa o menino brincar














OLHA O MENINO

Eu só quero que Deus me ajude
E o menino muito mais também
Pois a rosa é uma flor
A flor é uma rosa
E o menino não é ninguém

Olha o menino ui
Olha o menino ui, ui, ui, ui

Há seis mil anos 
o homem vive feliz 
fazendo guerra e asneiras
Há seis mil anos 
Deus perde tempo 
fazendo flores e estrelas

Olha o menino ui
Olha o menino ui, ui, ui, ui

Eu sou um homem sincero 
porque nasci cresci e vivo livre
Eu sou um homem sincero 
que quero morrer nascer 
e viver livre

Olha o menino ui
Olha o menino ui, ui, ui, ui

(Jorge Ben)

Foto: Chagas. Menino no Largo de São Bento. 

A estética que salvou o cangaço - (Dedicado a Manoel Severo)


Pesquisador mostra que a linguagem fez o levante ficar na memória, apesar dos esforços oficiais de riscá-lo do mapa 



A derrota militar jamais capou o brilho do cangaço. Brilho de estrela em chapéu de couro, bem entendido, preservado na memória popular, setenta anos após o ocaso do movimento, com a morte de Corisco, em 1940. O historiador recifense Frederico Pernambucano de Mello acaba de lançar uma obra para mostrar que grande parte do fascínio e da mística do cangaço, que fez dele um raro movimento de insurgência popular a não ser apagado pela história oficial brasileira, vem de sua estética e de sua linguagem.

Estrelas de Aço: A estética do cangaço (Escrituras Editora, 258 páginas, R$ 150, 2010) é livro de arte com mais de 300 fotos. A obra, que tem fotos inéditas, prefácio de Ariano Suassuna e ilustrações do arquiteto Antônio Montenegro, é resultado de 13 anos de pesquisa e 25 anos de estudo. Historiador e advogado, Pernambucano de Mello foi procurador federal em Recife e, de 1972 a 87, integrou a equipe do sociólogo Gilberto Freyre na Fundação Joaquim Nabuco. Especializou-se nos conflitos da história nordestina, em particular os levantes populares que não se sujeitavam aos valores coloniais, como os "guerreiros do sol", como chama os cangaceiros.

Dono de um acervo com mais de 160 objetos do cangaço, Pernambucano de Mello pretende um dia criar um museu. Até lá, acredita que a vingança do cangaço à derrota militar está em sua estética, expressa em seu vestuário simbolizado pelo chapéu em meia-lua com estrela e na linguagem popular nordestina, que até hoje se instala na fala e na cultura da região.

A suntuosidade das roupas do cangaço fez Mello reiterar a análise antecipada por Língua em 2006, pelos pesquisadores Leandro Cardoso Fernandes e Antonio Amaury Corrêa de Araújo, segundo a qual a imponência da indumentária no cangaço só encontra paralelo na história dos conflitos humanos nas figuras do samurai japonês e do cavaleiro medieval europeu.

 A riqueza de vestuário e linguagem forma, para o historiador, o traço arcaico do homem ligado ao místico e ao divino. Para os cangaceiros, os elementos estéticos faziam com que ultrapassassem a sua condição, criavam uma blindagem alegórica que os descolava de seus crimes.

Sua indumentária cheia de adereços era versão das roupas de vaqueiros, adaptada ao meio e ao cenário. As abas do chapéu de couro permitiam visão lateral, o que evitava emboscadas. Aberta na frente, a alpercata de rabicho protegia o pé de espinhos e do calor. Para carregar até 30 quilos de peso, o cangaceiro usava bornais na lateral, enquanto os "macacos" (soldados) eram obrigados a usar mochilas concentrando todo o peso nas costas, tirando seu ponto de equilíbrio.

A importância da palavra no cangaço integrava a imagem que os bandos queriam transmitir de si mesmos. Para Fernandes e Araújo, novos membros do bando ganhavam um "vulgo" (apelido) a que deviam honrar. Em caso de morte, quem o substituía herdava o vulgo, para perpetuar e imortalizar a reputação do cangaceiro.

Imponência
Os cangaceiros foram donos de uma riqueza vocabular própria, mais rica que os manjados termos a eles associados, como "volante" (equipe móvel de perseguição policial) e "macaco" (soldado). Para Fernandes e Araújo, muitos termos usados pelos bandos não eram conhecidos do sertanejo comum e formavam um jargão militar próprio. Com o fim do movimento, parte dos termos passou a ser usado de maneira corrente no sertão. Nem sempre de forma duradoura - algumas palavras terminaram esquecidas, como "gargulina" (enjoo), "desaprecatado" (desprevenido), "jabiraca" (lenço de pescoço).

Para Pernambucano de Mello, a estética do cangaço tornou o cangaço um mito primordial brasileiro. Em sua opinião, os cangaceiros não eram criminosos comuns, que tentam se misturar ao ambiente para não serem notados.

Não se camuflavam, nem se escondiam: faziam do estardalhaço visual, e verbal, seu cartão de visita.

Partes das armas brancas e punhais dos cangaceiros: nomenclatura própria Esquema da cartucheira, por Antonio Montenegro, e modelo usado no Ombro por Lampião (foto), em 1938: linguagem ornamental



Detalhe dos nomes dados pelos cangaceiros às partes do chapéu de estrela e os protetores de Lampião: aprumo vocabular era também visual
Cantil de viagem longa de Lampião, em 1932: cores vivas
Cangaço triunfou mesmo com morte de Lampião, com vestuário e traços na linguagem popular




Utensílios como os de Lampião recebiam nomes do cangaço e faziam sua reputação

Maria Bonita e seus adereços, com a jabiraca(lenço) e suas joias: léxico requintado



Nomeclatura dos bornais, acima, e roupas e armas de Maria Bonita (foto), abaixo

Vocabulário da cartucheira
Arreiado - Cangaceiro ou soldado bem equipado. "Arreio" é cartucheira.
Botada - Ataque surpresa.
Brigada - Combate.
Carrego - Bagagem do cangaceiro/soldado, derivado de "carregamento".
Costureira - Metralhadora. Também "fuzil de gancho".
Coito - Acampamento de cangaceiros. Deu origem a "coiteiro", pessoa que ajudava cangaceiros, quem lhes dava coito.
Corta rastro - Expressão tirada do vocabulário dos vaqueiros à caça de reses desgarradas, nomeava a técnica de comparar pegadas para achar o rastro de cangaceiros (muitos usavam sapatos com falsas solas invertidas).
Papo de ema - Reservatório perto das cartucheiras para guardar dinheiro.
Rastejador - Guia das volantes que decifrava os rastros na terra.
Rua - Cidade.
Russeio - Barulho.
Torneira - Casa com buraco na parede para pôr fuzil e reagir a ataque.
Tracação, melodia - Nomes dados ao coito, à diversão sexual.


Fonte de pesquisa:

http://revistalingua.uol.com.br/textos.asp?codigo=12223

"Por que somos tão desprezados como professores?"

Faça uma enquete, professor: quantos dos seus alunos pretendem se dedicar ao magistério?


Por Fábio dos Santos*

"Peraí, nada de desânimo, caro colega, cada um pensa o que bem quiser, somos ou não donos de um país livre?", disse o professor de Matemática, Carlos, dirigindo-se à professora de Biologia, Cláudia. Eu apurei os ouvidos. Estávamos no intervalo. De todos naquela sala, eu era o mais jovem e novato professor. "Não se trata de uma apologia contra o magistério", continuou, sempre incisivo. "Mas, que dá vontade de largar tudo de uma vez, isso ninguém pode negar."

"Então, por que somos tão desprezados como professores?", queixou-se Cláudia. E a questão pairou no ar.

Dentro da sala de aula, os alunos percebem o que se passa com o professor a cada dia. Eles se inteiram de tudo, graças à velocidade das e ao acesso fácil às informações. O que é mais prático aprender: o quanto é investido na educação, por exemplo, ou na segurança etc. ou funções, equações de 2º grau, polinômios? Como alunos, chega até ser irritante o quanto somos obrigados a ver um assunto que nunca utilizaremos em nossas vidas. Por isso o desinteresse de Afonsinho ou de Joãozinho por determinadas matérias
.
Em detrimento às dificuldades apresentadas por algumas disciplinas, ouvimos das bocas rasas dos alunos uma aversão exacerbada pela profissão de professor. Quer ver: faça uma enquete, caro colega, em sala de aula, sem compromisso, e conte quantos alunos sonham em ser professor. Não desanime nem faça muxoxos com o resultado se as profissões campeãs forem na área jurídica ou médica. O sistema é bruto, todos nós sabemos. O que não justifica cochichar pelos cantos, reclamar feito louco, passando-se por coitado, sem ao menos tomar uma atitude.

Quando era aluno do fundamental, me perguntaram o que eu gostaria de ser. Imaginem a profissão! Escritor. E olha o que me tornei: professor. Desanimar? Nunca. Mas fica aquela sensação de que quem não tem talento ou dom para fazer qualquer outra coisa na vida se não lecionar estará condenado a sonhar pequeno.


(*) É poeta e professor de Literatura e Língua Portuguesa da Escola Estadual Dr. Edson dos Santos Bernardes, que fica no bairro do Vergel, Maceió-Alagoas.

Fonte de Pesquisa: 
http://linguaportuguesa.uol.com.br/linguaportuguesa/gramatica-ortografia/21/retratos-158393-1.asp

Filosofia na sala de aula - Revista Literatura (Escala Educacional)

O que as pessoas modernas precisam compreender é que toda discussão começa com um pressuposto


por G.K. Chesterton

O que as pessoas modernas precisam compreender é que toda discussão começa com um pressuposto; isto é, com algo de que você não tem dúvidas. Você pode, é claro, se quiser, duvidar do pressuposto no início do seu argumento, mas nesse caso você está na verdade começando um argumento diferente, com outro pressuposto em seu início. Todo argumento se inicia com um dogma infalível; se você nunca poderá provar sua primeira afirmação, ela não deveria ter sido a primeira. Este é o abecedário do pensamento. E isso é especial e positivo sobre isso: pode ser ensinado na escola, como qualquer abecedário. Não começar um argumento sem afirmar seus pressupostos pode ser ensinado em filosofia em uma escola comum, com um quadro negro, tal qual é ensinado em Euclides. E eu acredito que pode ser ensinado em um nível simples e racional mesmo para as crianças, antes de irem para as ruas e serem expostas à lógica e à filosofia da mídia de massa.
Muito do caos sobre dúvida e religião vem disso: do fato que nosso ceticismo moderno sempre começa por nos dizer para não acreditar. Mas mesmo sobre um cético nós querermos saber em que ele acredita. Antes de argumentar, nós queremos saber se sobre o que não precisaremos argumentar. E toda essa confusão é infinitamente ampliada pelo fato que todos os céticos de nosso tempo são descrentes em diferentes níveis da dissolução do próprio ceticismo.

Agora eu e você temos, espero, esta vantagem sobre todos esses espertos novos filósofos: nós não somos loucos. Todos nós acreditamos na Catedral de São Paulo; a maioria de nós acredita em São Paulo. Mas nos deixe esclarecer esse fato, que nós acreditamos em coisas que são parte de nossa existência, mas não podem ser demonstradas. Deixemos a religião fora da questão por um momento. Todos os homens sãos, eu digo, acreditam firme e inalteradamente em um certo número de coisas que não foram provadas e são improváveis. Vamos falar delas francamente:
1 Todos os homens sãos acreditam que mundo a sua volta e as pessoas nele são reais, e não sonho ou ilusão. Nenhum homem ateia fogo em Londres na crença que seu servo logo irá acordá-lo para o café da manhã. Mas o fato que eu, a qualquer momento, não estou em um sonho, não foi provado e é impossível de ser provado. O fato que qualquer coisa além de mim existe não foi provado e é impossível de ser provado.
2 Todos os homens sãos acreditam que este mundo não apenas existe, como também importa. Todo homem acredita que há algum tipo de obrigação em nós que nos torna interessados em esta visão ou panorama de vida. Ele acharia errado um homem que dissesse "Eu não pedi por esta farsa e ela me deixa entediado. Eu estou ciente que uma mulher idosa está sendo assassinada no andar de baixo, mas estou indo dormir". O fato que há qualquer tipo de obrigação de melhorar as coisas erradas é algo que não foi provado e é impossível de ser provado.
3 Todos os homens sãos acreditam em algo equivalente a um eu, ou ego, que é continuo. Não há uma polegada a mais no meu cérebro que continue a mesma que a de dez anos atrás. Mas se eu salvei um homem em batalha dez anos atrás, eu continuo orgulhoso; se eu fugi de medo, eu continuo envergonhado. Este "eu" soberano não foi provado e é impossível de ser provado. Mas é mais que não comprovado e impossível de ser provado; é um tema definitivamente debatido por muitos metafísicos.
4 Por último, a maior parte dos homens sãos acreditam, e todos os homens sãos dizem acreditar, que possuem um poder de escolha e de responsabilidade por suas ações.
Certamente se podem estabelecer declarações simples e enfadonhas como as acima, para fazer as pessoas verem em que estado se encontram. E se à juventude do futuro não for ensinada qualquer religiosidade, que pelo menos sejam ensinadas, clara e firmemente, as três ou quatro sanidades e certezas do livre pensamento humano.

Daily News, 22 de junho de 1907

Fonte de pesquisa: 
http://literatura.uol.com.br/literatura/figuras-linguagem/34/filosofia-na-sala-de-aula-207161-1.asp

(IN) INPULSOS - 2001 - Por Wellington Alves


Enclausuro-me
E isto já me basta
Não sou de ouvir tolices
Bobagens, palavras vãs
Coisas sem nada

A engenharia do meu cérebro
Exige passos otimistas
Ideias e ideais
Comprometidos comigo

A arquitetura de minha alma
Dispensa a hipocrisia do mundo

Não vulgarizo pensamentos
Nem penso vulgaridades
Não banalizo coisas
Não coisifico banalidades
Não me animalizo
Na certeza de que sou mortal
Sou intolerante
Talvez intolerável

Mas me basto
Na clausura do meu tempo

Na solidão deste momento.
 .

Texto de Wellington Alves (postado com a autorização do autor)
Texto sem título (pág 181) - Publicado no livro "inpulsos" - Ed. ABC - Edições SOBRAMES

VITRINE FOTOGRÁFICA - Por Samuk



Quando as artes se encontram

 Quando as palavras se encontram


Quando os amigos se encontram


Descobrimos o quanto é belo sonhar
Observar
Sentir.
 A ARTE.
Fotos de Samuk - janeiro de 2011.

Por que não falar de futebol? - Por José de Arimatéa dos Santos

Futebol é a paixão do brasileiro e de muita gente no mundo a fora. E essa paixão começa já na infância quando já ganhamos a nossa primeira bola. A maioria das vezes a escolha do time que vamos torcer para a vida toda depende da fase de determinado clube. Hoje as coisas no futebol estão muito diferentes de quando comecei a a entender de futebol. Naquela época tínhamos os ídolos futebolísticos caracterizados no camisa 10. Todo mundo queria ser o camisa 10, pois representava o craque, ídolo ou melhor jogador. Sou de um tempo de Rivelino, Zico, Roberto Dinamite, ... Só grandes jogadores e jogos com estádios lotados e grandiosos espetáculos. O futebol brasileiro era o único que víamos. Não existia essa coisa de camisa de Barcelona, Inter de Milão ou Milan. As camisas eram de clubes brasileiros e os jogadores jogavam aqui e faziam carreira praticamente num único clube. Ai daquele que se transferisse para o time rival!
Interessante que as torcidas rivais se respeitavam e a violência entre torcedores era mínima. Futebol é um esporte mágico e como tal a torcida deve ser de respeito e brincadeira. Nada de violência. Noventa minutos de espetáculo tanto no campo de futebol e na arquibacanda. Aplauso e reclamação, mas tudo dentro da civilidade e ao final do jogo a confraternização pelo futebol jogado. O futebol é mágico e cheio de lugares comuns como: "o futebol é uma caixinha de surpresa", "a bola pune", "são onze contra onze" e outras maravilhosas pérolas. O futebol une toda uma nação e transforma cada brasileiro num treinador que discute e arma seu time no melhor esquema tático. E todo final de semana ao fim do domingo vai deitar com a alegria da vitória de seu time do coração ou com a cabeça inchada por mais uma derrota. Futebol é vida. Futebol significa empate, derrota ou vitória. Isso é a vida.
Foto: José de Arimatéa dos Santos

Ilusões de um cachorro - Emerson Monteiro

Indagado qual a razão de o cachorro ser o melhor amigo do homem, com propriedade um sábio respondeu: - Porque ainda não conhece o dinheiro. Ah! Os bens materiais, quantas cogitações equivocadas podem ocasionar no bloco das vaidades humanas. Tal vê, também, os comportamentos animais, acho que nas fases de preparação de outras vivências da natureza. Sei não, pois há tantos mistérios a desvendar, da terra ao céu, que causa ânsias e vertigem.
O cachorro da minha casa, por exemplo, este apresenta manias bem típicas dos bichos da espécie, com o agravante das arrogâncias dos cachorros de raça, valentões, pretensiosos, dos que olham de cima as pessoas. Sempre que abro a porta para sair na varanda, ali está ele, o verdadeiro dono do pedaço. A segunda coisa que faz depois de balançar o toco do rabo, trazido assim mutilado, segundo explicaram, para manter o padrão da raça, a segunda coisa, mostrar a língua e lamber o focinho, tomando gosto, qual abríssemos a porta toda vez só para lhe levar alimento.
Acha-se o dono absoluto de toda a extensão territorial da casa e do muro que a cerca. Mija por todo canto, costume estudado pelos especialistas caninos que adotam para demarcar o espaço das suas pertenças. Nesse ponto, mora o título deste comentário, o motivo das ilusões dos cachorros, por pensarem possuir o mundo inteiro onde mijam descaradamente. Caso consiga escapar até a rua, sai mijando tudo que aparece à frente, semelhante ao que providencia cada vez que chego com o carro, renovando mijadas nos pneus, parachoques, lataria, reforçando o instinto que alimenta de proprietário exclusivo do transporte que adquirimos com relativa dificuldade. Ele nem de longe imagina o que de antipatia isso acarreta no dono, essa pretensão de garantir só para si um direito que corresponde à família inteira.
Os passarinhos que pastam pelas imediações em volta da casa, a seu modo, sofrem na pele essa inclinação possessiva do cão alienado em constante vigilância. Corre e late desesperado quando sanhaços, sabiás, anuns, garrinchas, griguilins, pardais, vinvins, lavandeiras, aventuram catar insetos e sementes no chão. Vez em quando aparece pássaro morto na varanda, prática parecida com a dos humanos, únicos animais que matam e abandonam a vítima. Os outros assassinam apenas no propósito da sobrevivência.
As ilusões do cachorro chegam ao domínio de causar mais constrangimento aos seus donos. Caso saia a telefonar na varanda, quem aparece, ele, atento na escuta de toda a conversar, quebrando qualquer sigilo, semelhante aos agentes secretos deste mundo. Até hoje, porém, não descobrir de como se beneficia da escuta privilegiada.
Sua agressividade patrimonial, no entanto, restringe as visitas que de raro recebemos, seleção prévia que ele mesmo estabelece. Resultado, alguém bate no portão e eu corro apressado a prender dito chefe provincial, o que deixa a impressão do tanto de analogia dos bichos com os humanos, tão cheios de ilusões de honras e posses, durante a curta jornada desta vida, surpreendidos, inevitáveis, nas folhas que, secas, voam dos calendários.

Será ??? - José Nilton Mariano Saraiva

Como os "eternamente do contra" não dão trégua e já estão querendo atribuir à administração Dilma Rousseff a responsabilidade pela falta de energia em Estados do Nordeste (por poucas horas), numa dessas noites passadas (comparando-a inapropriadamente com o "verdadeiro apagão" da era FHC), é bom atentar para a notícia abaixo (atentem para os horários das ocorrências).

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A tempestade solar e o blackout no Nordeste

Apesar do recente apagão do Nordeste ter como provável causa o acionamento do sistema de proteção em uma subestação no município de Jatobá, em Pernambuco, as causas que levaram ao apagão podem ter sido provocadas por um repentino pulso eletromagnético ocorrido às 23h36 (hora do Nordeste), provocado por uma tempestade solar. Em boletim recebido do SWPC, Centro de Previsão de Tempo Espacial dos EUA, às 02h36 UTC (23h36 no Nordeste e 00h36 em Brasília), magnetômetros instalados em Boulder, no Colorado, registraram um repentino pulso eletromagnético de 8 nanoTeslas ("Tesla" é a unidade de medição de campos magnéticos). Exatamente nesse mesmo instante, quase toda a região Nordeste do Brasil ficou às escuras. Segundo relatos feitos no site Painel Global, diversos carros e luzes também apresentaram funcionamento errático e intermitente, além de muita interferência nas estações de rádio.
O pulso eletromagnético detectado nos EUA teve origem após uma explosão solar ocorrida no dia 31 de Janeiro, quando uma grande quantidade de massa coronal foi ejetada da estrela. A maior parte dessas partículas seguiu em direção ao espaço, enquanto uma pequena parcela atingiu o campo magnético terrestre e pode ter provocado auroras nas latitudes médias e altas.
Ainda é muito cedo para se afirmar com certeza se de fato o pulso eletromagnético foi o responsável por fazer "cair" o sistema elétrico em diversos Estados, mas os relatos de interferências em estações de rádio associados ao exato momento que o pulso foi detectado contribuem para essa possibilidade.
É importante destacar que o desvio apontado nos magnetômetros de Boulder às 23h36 não são capazes de avaliar a intensidade do campo eletromagnético induzido nas redes de energia elétrica. Eles apenas indicam um desvio anômalo no campo magnético da estação e que este foi provocado por um pulso eletromagnético repentino provocado por uma explosão solar.
Para fins de comparação, o pulso eletromagnético registrado teve intensidade de 8 nanoTeslas. A maior tempestade solar já registrada ocorreu em setembro de 1857 e teve a intensidade estimada em 110 nanoTeslas. Essa tempestade ficou conhecida como "Evento Carrington".

VAGA-LUME - Marcos Barreto de Melo

NA NOITE ESCURA

VEJO UM LUME A VAGAR

UM VAGA-LUME A PASSAR

SINTO FALTA DO LUAR
Labirinto
- Claude Bloc - 
 
Muitas vezes andamos distraídos pela rua. À toa. Olhamos para o nada. Nosso olhar está vazio. Nossas venezianas se fecham, se abrem. Nada nos toca.

Depois, observamos que isso não é só conosco. Que as outras pessoas também, muitas e muitas vezes, já nem se olham. São apenas passageiros/as do tempo que perambulam pela vida, deixando que as horas se escoem por aqui, por ali, inconsequente.

Outras vezes, percebemos que já não se distingue mais, entre todas as pessoas, aquela velha sintonia entre amigos... Aquela que havia antigamente e que nos levava ao deleite por meio de uma boa conversa... Seguem torpedos, voltam e-mails e as pessoas varam noites teclando, usando para se comunicar uma maneira mais segura e menos trabalhosa.

E é aí que sentimos que a cada vez que falhamos, a nossa alma se encolhe, certamente triste diante de tanta precariedade, e em vez de vibrar e se expandir, perde-se num imenso labirinto vazio e seguro de emoções.

Claude Bloc