Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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domingo, 13 de novembro de 2011

TEXTO DEDICADO A ARMANDO RAFAEL - Por Edilma Rocha

CHILENO NATURALIZADO BRASILEIRO - HENRIQUE BERNADELLI

Uma família de artistas chilenos instala-se no Rio de Janeiro, precisamente no bairro Copacabana.
Nasceu Henrique Bernadelli em Valparaiso, no Chile, no dia 15 de Julho do ano de 1857. Chegou muito pequeno junto aos irmãos, Rodolfho e Felix.
Os pais artistas famosos no Chile, dos quais o trio herdou os valores artísticos da família. Cresceram dentro do mais famoso atelier de Copacabana. Ali se encontravam, paisagens, naturezas mortas, retratos, esculturas, produzidas pela família inteira.
Em 1870, Henrique Bernadelli, ingressa na Academia Imperial de Belas Artes, sendo aluno do mestre Pedro Américo e João Zeferino da Costa. Foi condecorado com todas as medalhas honrosas, ouro, prata e bronze, que um artista poderia almejar.
Em 1878, viaja para a Europa para se encontrar com o irmão Rodolfho que já se especializava na Itália. Nesse período executou as mais belas paisagens de Capri e Roma, tipos populares e composições. No seu regresso realizou uma exposição de grande impacto pelas obras apresentadas, e entre elas a famosa, "Tarantela" pertencente hoje ao Museu Nacional de Belas Artes do MEC. Realizou uma coletânea de aquarelas com incrível técnica e colorido maravilhoso, transformando-se um inovador na sua época. Era a fama impondo o artista ao mundo carioca.
Em 1881, naturaliza-se brasileiro para gozar do prémio de viagem ao estrangeiro, passando a estudar em Paris por 4 anos com bolsa de estudos concedida pelo governo do Brasil. Radicalizando-se na França, conquista a medalha de bronze na Exposição Universal de Paris. No ano seguinte recebe a primeira medalha de ouro da Exposição Geral de Belas Artes no Rio de Janeiro, ano em que foi nomeado professor de pintura na Escola Nacional de Belas Artes.
Foi decorador do Teatro Municipal do Rio, da Biblioteca Nacional de Belas Artes e do Museu Paulista, com seus notáveis arabescos.
Produziu obras espetaculares em todos os estilos e muito realizou em seu atelier junto aos irmãos, Rodolfho e Felix. Retratou o irmão Rodolfho Bernadelli com uma tela fiel e quase real, que hoje se encontra no Museu Nacional do Rio de Janeiro.
No Museu de Arte Vicente Leite do Crato, encontra-se no seu acervo um retrato da escultora Celita Vacani, pintado por Henrique Bernadelli.
Falece em 6 de Abril do ano de 1936. Era possuidor de um talento privilegiado e deixou obras de grande valor artístico no Brasil e na Europa, fazendo valer a cidadania brasileira.

Edilma Rocha

Como a República foi proclamada – por Fernando Mascarenhas Silva de Assis (*)

O marechal Deodoro, velho e doente, foi arrancado às pressas de seu leito para falar à tropa amotinada. Os militares, descontentes com a atuação do Conselho de Ministros que governava o Brasil, exigiam a substituição desses ministros. Na realidade, o que a tropa exigia já estava decidido.

O Imperador, sempre atento ao bom andamento das questões de governo, havia decidido efetuar a troca do ministério. “O marechal, ciente da decisão do Imperador, foi ao encontro dos revoltosos e, após dar a notícia da substituição do Conselho dos Ministros, em cena que ficou imortalizada na magnífica tela de Henrique Bernadelli, levantou o quepe e gritou:” Viva o Imperador ”.

Outro “viva”, em resposta, foi dado pelos soldados que, já desarmados os espíritos, logo voltaram aos quartéis. Estes fatos ocorreram na cidade do Rio de Janeiro, no dia 15 de novembro de 1889, data em que não foi proclamada a República.

A melhor descrição da participação do povo no incidente do dia 15 foi dada por Aristides Lobo, um dos poucos republicanos que presenciaram os acontecimentos, que sentenciou: “ O povo assistira a tudo bestializado”. O que o povo viu e ouviu foi um desfile de tropas (não mais do que seiscentos militares), um marechal doente falando aos soldados, e o grito de “Viva o Imperador” que, junto com os militares, também foi respondido pelos populares.

A viúva Adelaide, a verdadeira causa da “proclamação”

A república não foi proclamada em praça pública. Veio a lume por um decreto cuja história nada tem de gloriosa. Nela aparece uma personagem quase desconhecida pelos brasileiros, escondida a sete chaves pela historiografia oficial, mas que foi a verdadeira causa da pseudo proclamação: a viúva Adelaide.
Depois da parada que terminou com um "Viva o Imperador", já em casa, de volta à cama, o Marechal recebeu a visita de um grupo de traidores republicanos que tentou fazer com que Deodoro assinasse o documento que viria a ser o decreto Nº 1 da república. O velho militar, que ainda não era um traidor, se recusou: havia jurado fidelidade ao Imperador.
De má fé, os traidores disseram ao Marechal que o Visconde de Ouro Preto seria substituído por Silveira Martins, conhecido político gaúcho. Sabiam da inimizade entre os dois. Anos antes, Deodoro havia se apaixonado pela viúva Adelaide. Durou pouco tal paixão. A viúva logo trocou os seus favores pelos do citado Silveira Martins.
Tresloucado, como sempre ficava quando se lembrava de sua antiga amada, Deodoro disse:
  – “Deixe-me assinar esta porcaria”.

"Esta porcaria", era o Decreto nº 1, preparada pelos golpistas onde constava: “Fica proclamada provisoriamente a República no Brasil”. E assim a República foi proclamada...

(*)Fernando Mascarenhas Silva de Assis, engenheiro, historiador e professor em Belo Horizonte (MG).
Aos sábados...
- Claude Bloc -


Tinha chovido. Quis sentir de novo a estrada de terra e seus solavancos novos... Despertar, assim, minhas intuições e meus desejos de vida nova. O sol hoje sorria, mas as poças de lama ainda brincavam de respingar pelos pneus recém lavados.

Seguimos. Crato foi ficando pra trás. O som dos pneus percorria todos os ligamentos nervosos de meu ouvido, excitando-os a tal ponto, que alegria foi tomando conta do meu humor abalado. Meus olhos procuravam atentamente o verde de todos os lados, resultado das poucas chuvas de novembro. Fiquei pensando em minhas últimas estações de chuva e já nem sei há quantos sábados procurei esse oásis de paz... se mil ou dois mil ou sei lá quanto, só sei que se demorasse um pouco mais, meu coração que tem nem sei quantos mil sábados não suportaria continuar a procura e eu teria de desistir de todos os sábados que se seguiriam em minha vida.

Na viagem, lembrei-me de não sei quantos sábados passados. Mantive os sentidos aguçados, a visão restrita à paisagem e à estrada. Em compensação, meus olhos viam e imaginavam uma coisa e a boca(desordenadamente) falava outra, desbancando qualquer possibilidade de me fazer entender. Minha alma era puro júbilo.

E sei que depois disso será apenas um sábado atrás do outro, e de lá para cá ou de cá pra lá, e vai sempre estar em mim esta eterna ciranda na busca de mais sorrisos como se a alegria fosse um baile onde eu tivesse um espaço imenso para dançar.

Chegando à Fazenda, meus olhos entraram em sintonia com a boca e trabalharam incessantemente. Olhei para a casa como se nunca mais a tivesse visto. Desbravei-a. Olhei para a frestas do telhado ainda não consertados. Para as rachaduras das paredes e quase chorei. Por que as coisas têm que se desgastar? Deviam permanecer como as guardamos na memória. Imaculadas !

Um sábado atrás do outro, pensei.  E a imaginação voltou a acontecer em mais um sábado. Meus olhos já foram se perdendo nos detalhes de quem procura sem medo e a boca, diante da saudade, finalmente aprendeu a se calar, emudeceu. Deixou que meus olhos implorassem pelas lembranças para que elas voltassem a bailar pelos cantos da casa onde as marcas se depositaram, embaixo e ao lado de meus olhos.

Aí, meus olhos fizeram descer um gota de água salgada e entraram em compasso com meu coração. Por diversas vezes eu ouvi o som de uma cigarra atiçando meus nervos.

Era verdade. Eu voltava ali aos sábados e abundantemente degustava o sabor desse sábado, mas o relógio não parava.  Vi-me atrás de um par de olhos preocupados com o tempo, mas meu coração clamava por felicidade.


Claude Bloc