Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

ENVIE SUA FOTO E COLABORE COM O CARIRICATURAS



... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

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claude_bloc@hotmail.com

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Sedução Feminina é Marketing- por Ari Lima

O marketing nasceu com as mulheres. Naquela época, havia só Adão e Eva, e nesse marketing intuitivo, Eva vendeu o paraíso a Adão utilizando uma arma bem simples, mas infalível a sedução.

A partir daí muita coisa mudou. Criou-se a civilização, o relacionamento homem-mulher foi se tornando cada vez mais complicado, confuso, complexo.

Surgiram os psicólogos, terapeutas, Freud, que tentou de todas as maneiras entender verdadeiramente as mulheres. Inútil, elas continuam e continuarão sendo absolutamente competentes em duas artes:

Primeiro, na arte da sedução coitados dos homens, que estão predestinados a serem agradavelmente dominados por aquelas mulheres maravilhosas que os seduzem, tal qual um consumidor fica embevecido pela atração infalível de um produto que nem mesmo saberia dizer porque queria tanto possuir.

Segundo, a arte tão bem explorada pelas mulheres, que é sua maneira feminina de ser, intransponivelmente enigmática.

Um homem minimamente inteligente entende o seguinte: mulher, é preciso amar, cortejar, sentir e aproveitar todo seu encanto. Entender jamais. Perderia o encanto.

A mulher que se revela demais, perde o encanto, é esta sua maior força de marketing.

As mulheres são profissionais do marketing quando o assunto é o homem de quem elas gostam ou que pretendem conquistar. Teríamos muito os homens - a aprender com elas.

Senão vejamos:


Conhecimento do produto as mulheres conhecem os homens, suas atitudes, suas intenções, seus desejos mais do que os homens às mulheres numa proporção de dez para um.
Conhecimento do mercado as mulheres observam e conhecem profundamente a concorrência, as outras mulheres de uma maneira detalhada e minuciosa.
Conhecimento dos benefícios que estão oferecendo as mulheres conhecem bem suas vantagens, as coisas que os homens nunca poderiam ter sem elas, a não ser num relacionamento.
Venda adicional as mulheres sabem que só elas podem dar a um homem o poder da paternidade.
A embalagem quem melhor do que as mulheres estão aptas a apresentar-se de uma forma tão apresentável, maquiadas, vestidas, cheirosas, pintadas, adornadas.
Preço bom... neste item elas costumam cobrar caro... mas, pensando bem, vale a pena!
Concluo dizendo o seguinte: se todo profissional de marketing e vendas puder observar melhor o comportamento das mulheres daqui pra frente, com certeza, conseguiria extrai muitas idéias poderosas e de aplicação fácil e prática em suas atividades comerciais.

Receita de Rusty Nail





4 cl. de whisky
2 cl. de Drambuie
gelo



Preparação de Rusty Nail:

Junte os ingredientes no copo, adicione gelo e mexa.

Utensílios:
Copo on the rocks

Decoração:
Colocar no bordo do copo 1 cereja com um raminho de hortelã.

Drambuie - " The Spirit Lives On"




Sua história está diretamente ligada a da Escócia. Em 1745, o príncipe inglês Charles Edward Stewart, conhecido como Bonnie Prince Charlie, liderou uma revolta (chamada Jacobite) para tentar recuperar o trono britânico. Derrotado o príncipe e alguns seguidores fugiram e se refugiaram nas ilhas de Skye, na França. O príncipe então presenteou um de seus seguidores, o capitão John McKinnon, como prêmio por sua grande lealdade, com a fórmula secreta de seu licor pessoal, o DRAMBUIE, elaborado à base de uísque escocês e uma mistura de mel com ervas aromáticas. A palavra “Drambuie” deriva da frase Gaélica “An dram buidheach”, que significa “bebida que satisfaz”.

“on the rocks” (com pedras de gelo) ou em coquetéis, como o clássico Rusty Nail.

Mau Jeito

A dor que sinto
na caixa torácica

na costela
bem na cavidade
do osso

não é saudade
nem alma em conflito -

é apenas a insônia
personificada,

e até pode me seduzir
outra hora
tarde da noite

enquanto meu velho pégaso
come seu milho triturado
sobre o telhado

os olhos entediados,
as asas murchas

ainda assim simpático
a dividir migalhas
com as gatas prenhes.

Um cavalheiro,
este meu velho pégaso.

Ensaio sobre a foto de Edilma

A meiguice de uma menina sapeca





Ensaio por Claude Bloc

JÁ TEM DÔCE PRONTO ? - Por Edilma Rocha


Sua voz era grave e rôuca. Cabelos claros, olhos azuis, saia rodada, um enorme avental e arrastava um par de chinelos de couro pelo chão.
Uma tia avó, tradicional merendeira do pequeno lugar.
Meus olhos infantis mergulhavam no cenário diferente da casa de lanche. A cozinha no fundo, abrigava um enorme fogão à lenha e as labaredas do fogo tremiam no meu olhar de espanto. Por cima das lascas de lenha, as linguas de fogo pareciam dançar saltitantes entre amarelos e vermelhos. O calor era sentido a certa distância me deixando incomodada e curiosa. Todo o trabalho iria começar...
A merendeira trazia nas mãos com muita dificuldade e cuidado, um enorme tacho de barro onde despejava uma quantidade de leite puro e perfumado. De uma lata ao lado, enchia várias medidas de açúcar um pouco escuro e ia despejando no tacho e misturando devagar. Diante da alta e forte cozinheira eu parecia mais franzina e pequena do que era na realidade. Olhos atentos observavam o vai e vem da enorme colher de pau, que por um instante mais parecia o remo de um barco rio à baixo. As paredes eram cobertas de fuligem negra e eu via as teias de aranhas no alto do telhado, brancas e brilhantes. Aos poucos se ouvia o barulho do borbulhar do dôce que começava a encher a velha casa com um aroma delicioso que despertava a fome no meu estômago. A côr do leite se tornava caramelada e se ouvia o som da colher de pau raspando o fundo do tacho. Era o sinal de que o dôce estava ficando no ponto, e falava com sotaque e rouquidão:
_ Tá quase no ponto !
Em silencio, sentada num pequeno tamborete, aguardava à chegada dos fregueses.
Eram retirados os pedaços da lenha e por cima das brasas depositado um flande que iria manter a temperatura por um tempo. O dôce era servido quentinho. Tinha apenas uma mesa e algumas cadeiras, arrumadas sôbre o chão de tijolos vermelhos. Curiosamente observava que os fregueses eram homens e chegavam sempre no mesmo horário com a mesma pergunta:
_ Dona Hortência, já tem dôce pronto ?
Pequenos pratinhos iam saindo hum a hum cheios de dôce de leite e eu corria feliz para levar as colheres de latão.
Um sorriso agradecido e satisfeito depois de um copo dágua se estampava nos seus rostos, para retornarem no próximo dia.
Estava chegando o tão esperado momento ...
Primeiro lavar a louça, depois guardar em potes de vidro o restante do dôce, e era a hora de raspar o tacho de barro com uma colher que de tanto uso, só tinha uma banda. O dôce era escuro , diferente do da freguesia, mas o seu sabor era especial. Sentávamos à mesa e madrinha Hortência, cantalorando um bendito da igreja, fazia pequenas bolinhas das sobras e as depositava num prato grande, uma a uma. E finalmente eu saboreava o mais delicioso dôce que a minha memória de criança guardou para sempre.
Edilma Rocha

Mundim do Vale nos envia mais algumas do Caririês...


Impinjar, caçuar, incharcar e chaleirar.
Sabacu, cocorote e cafuné.
Inxirido, maluvido e saliente.


Se não forem caririês, são Varzealegrês.

Abraço.
Mundim.

Maria Gadu

maria Gadu, no Carnaval de Olinda - oto de Inambê



Convite ! - Reunião dos colaboradores do Cariricaturas



Local : Residência de Roberto Jamacaru
Horário: 05.03.2010 às 20 h
Teremos a presença de José do Vale Feitosa
Assunto : O Livro do Cariricaturas !

Um livro escrito por muitas mãos: uma coletânea com nossos escritores e artistas.

Detalhes :

. Release com fotografia de cada escritor ( 01 página)
• 4 textos por escritor (máximo de 7 páginas - fonte : garamond - altura : 12) - Temática livre ( crônicas, contos e poemas).
• Os textos serão escolhidos pelos próprios escritores;
• um contingente de 200,00 por escritor
• O pagamento poderá ser feito em 4 x 50,00 ( fev-mar-abr-maio)
. O livro será dedicado aos mestres de todos os tempos, representados por Dr. José Newton Alves de Sousa.
- A capa será a foto de Pachelly- essa que já caracteriza o Cariricaturas.
- O título é: "Cariricaturas em prosas e versos"
- Edição: Emerson Monteiro ( Editora de Sonhos - Crato-Ce)
- Dedicatória ( Assis Lima )
- Prefácio/ Apresentação ( José do Vale e Zé Flávio)

-Já estão confirmadas as seguintes adesões:

01. Claude Bloc *
02. Magali Figueirêdo *
03. Carlos Esmeraldo *
04. Maria Amélia de Castro *
05. Ana Cecília Bastos *
06. Assis Lima *
07. Corujinha Baiana *
08. Stela Siebra de Brito *
09. Wilton Dedê *
10. João Marni *
11. Rejane Gonçalves *
12. Rosa Guerrera *
13. Heladio Teles Duarte * /Socorro Moreira
14. Edilma Rocha *
15. Emerson Monteiro *
16. José Flávio Vieira *
17. João Nicodemos *
18. José do Vale Feitosa *
19. Liduina Vilar *
20. Carlos Rafael *
21. Armando Rafael *
22. Bernardo Melgaço *
2 3. Domingos Barroso *
24.. Roberto Jamacaru *
25.Dimas de Castro *
26.Joaquim Pinheiro *
27.Edmar Lima Cordeiro*
28.Olival Honor *
29.José Nilton Mariano*
30.Marcos Barreto *
31.Isabela Pinheiro *
32.José Newton Alves de Sousa *
33 -Jorge de carvalho Alves de Sousa *
34.Vera Barbosa . *
35. Rogério Silva *
36.Dihelson Mendonça *
37.Elmano Rodrigues *

Email : sauska_8@hotmail.com ou cbbloc@uol.com.br
Outras informações :
Tiragem : 1.000 exemplares
Distribuição entre autores : 20 para cada = 700 unidades
Saldo : será transformados em ingressos para cobrir as despesas da festa de lançamento : coquetel, convites, divulgação, banda,decoração, etc
300 x 20,00 = 6.000,00
Preço do livro por unidade : 20,00
A edição foi orçada em 6.400,00 ( já considerados todos os descontos possíveis).
Número de páginas : 260 ( aproximadamente).
O valor da contribuição por escritor ( 200,00) será depositado numa cta do Editor (Emerson Monteiro) a ser informada por e-mail. Em contrapartida será enviado respectivo recibo.
Atentar para as datas limite de pagamento : 05.05.2010

OBS: A maioria dos autores já fizeram depósitos de contribuição. Aguardem recibos !

Claude e Socorro Moreira

Fotos de Pollyana Esmeraldo e Samuel Araújo - Niver de Dr. Zé Flávio, em dez/2009- ( nunca é tarde !)

Samuka e Blandino
Fabiana, Pollyana e Flora


Abidoral, eu, Rosineide , Zé Flávio e Blandino


Filhos de Zé Flávio


Povo lindo e amado : amigos do Crato !

Filé a Cordon Bleu - para Glauco !



200 gr de filé mignon
100 gr de presunto magro
100 gr de emmenthal
quanto baste de óleo de soja para fritar
quanto baste de ovo para empanar
quanto baste de farinha de rosca para empanar
quanto baste de farinha de trigo para empanar
quanto baste de sal
quanto baste de pimenta-do-reino branca


Abra o filé em bifes finos e tempere com o sal e a pimenta do reino.
Ponha sobre um dos bifes uma fatia de presunto e uma fatia de queijo.
Cubra com outro bife e prenda com palitos.
Passe pela farinha de trigo, pelo ovo e em seguida empane na farinha de rosca.
Frite em óleo pré-aquecido e sirva com uma deliciosa salada mista com endívias.

Matéria assinada por:
Chef Allan Vila

Stacatto - por Ana Cecília S.Bastos



É o verão que se insinua.
É a gota de sangue na letargia da tarde.
O aconchego das nuvens ao entardecer.
Rosas e azuis.

Não vi o semblante das ruas e pessoas.
Talvez alguns passos.

Não vi o suor ou a lágrima colados ao humano.
O dia é cor de shopping e estou morta.


Publicado em A Impossível Transcrição (De tudo fica a poesia).
Abstrato. Foto de MVítor.

Reza para as quatro almas de Fernando Pessoa - Adélia Prado

Da belíssima "Ode à noite antiga"


resulta que eu entendo, limpo de esforço


e vaidade, se nos fosse possível:


da oração verdadeira nasce a força.


Ninguém se cansa de bondade e avencas.


Os rebanhos guardados guardam o homem.


Todos que estamos vivos morreremos.


Não é para entender que nós pensamos,


é para sermos perdoados.


Pai nosso, criador da noite, do sonho,


do meu poder sobre os bois,


eis-me, eis-me.


BEM LONGE DO ESPINHO

Por Pedro Esmeraldo

Às vezes, aparecem perto de nós pessoas bisbilhoteiras e, portanto, procuramos afastar desse lado mal porque não apoiamos o bisbilhoteiro.

Um dia, amigos nossos, (não citaremos nomes), advertiram-nos dizendo: em mesa de bares e em rodas de amigos surgem conversas desagradáveis. Mas procuramos desviar com altivez, pois desse quadro não podemos contornar em ambiente sombrio que nos provocam constantemente ao seu bel prazer.

Temos pavor de nos encostar em arbustos espinhentos, como é o caso de mandacaru. Não suportaremos comentários maldosos que nos podem acarretar a diferença amistosa que há entre amigos e poderão escurecer esse ambiente de paz, união e serenidade.

Mas, afirmamos, não desejaremos mais afastar dos amigos, por que temos como meta a sinceridade e freqüentamos sempre, com assiduidade, a rota amistosa com pessoas dignas e honestas.

Avisamos, com muita precisão, que o nosso maior desejo é lutar pela nossa terra. Infelizmente, nos dias atuais, vemos uma horda de mal feitores que lutam contra o Crato e não desejam conservar os bens patrimoniais de nossa cidade, já que não teem cautela e muitos são maldosos; não freqüentam um ambiente sadio em prol da nossa terra.

Avisamos, com sinceridade e desde priscas eras, o nosso maior desejo é vermos o Crato evoluir, sempre glorificado nos dias atuais, mas, para isto, é preciso afastar do meio político as pessoas fracas e falaciosas e consideramos os vendilhões desses municípios.

Não gostamos desses políticos fracos, pois tratam o município com gestos ardilosos, vivem enganando o povo, contaminando o ambiente com pessoas mal cheirosas, visto que há muitos anos teem por objetivos trabalhar só para si e o Crato que caia no esquecimento.

Desde o início da década de 1980, Crato sofre com homens despreparados para exercer cargos públicos e vem sempre administrados por pessoas inadequadas e de comportamento sóbrio, com muita maldade dominam a cidade.

Se continuarmos neste mesmo diapasão Crato não andará e sempre poderá se descontrolar, porque alguns políticos andam tocando músicas desafinadas e não compreendem que o povo não pode suportar tanto erro cometido, provocado pela ganância de alguns e pela falta de patriotismo de outros, enquanto isso a cidade percorre um caminho lento e tenebroso que faz tirar a iniciativa do povo.

Notamos que estamos percorrendo um caminho sozinho, sem nenhuma ajuda para empurrar o barco em direção das águas profundas, a fim de adquirir bons elementos que façam o Crato caminhar com dignidade em direção ao futuro.

Fujamos desse desregramento físico que nos faz arrefecer e ficar ponderando atoleimados diante das injustiças sem podermos nos controlar e seguir em frente o nosso caminho.

Antes de tudo, procuremos consertar os erros e nos afastar dessa corja trogloditiana que só nos vem provocar e trazer mal-estar dentro do nosso pensamento de homens sérios, e equilibrar o barco que anda à deriva.

Mais uma vez dizemos: lutaremos pelo Crato até a morte, custe o que custar, mas procuramos afastar esses políticos fracos que vivem querendo dilacerar o Crato através da intriga, e, ao mesmo tempo, continuaremos na luta de distritos importantes que nos vem causar desgosto e prejuízo ao país. Já chega de tanta cidade-distrito por que queremos crescer e mostrar que somos uma cidade destemida e voluntariosa.

Crato, 10.02.2010

Pensamento para o Dia 22/02/2010



“Insetos venenosos estarão em nosso lar somente em lugares escuros, sujos. Dentro de um quarto mantido escrupulosamente limpo, nenhuma cobra, escorpião ou inseto venenoso pode entrar. Do mesmo modo, a sabedoria sagrada não pode entrar nos corações que são escuros e sujos. Em vez disso, as características venenosas como a raiva encontrarão nesses corações um resort agradável. O significado sublime de Vidya ou Educação Superior pode ser apreendido por alguém quando a sua mente é pura. Ela pode ser comunicada a alguém somente quando a mente pura derrama sua luz reveladora.”
Sathya Sai Baba

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“Abandone os sentimentos de “eu” e “você”. Só então você pode compreender a glória daquilo que não é nem “eu” nem “meu”. Isso não significa renunciar a tudo. Lide com o mundo como o dever demanda, com um espírito de desapego. O teste de ácido pelo qual uma atividade pode ser confirmada como santa e sagrada é verificar se ela promove apego ou escravidão. A atividade é impura ou pecaminosa se surgir ou promover ganância. Com a intenção de cumprir suas funções legítimas, ore a Deus para mantê-lo vivo por cem anos. Você não incorrerá em culpa. Essa é a lição da verdadeira educação.”
Sathya Sai Baba

MANUEL DE BARROS – INCOMPLETUDE QUE COMPLETA - Por Stela Siebra Brito

Desde a primeira vez, sempre que leio Manuel de Barros fico desassossegada e quase completa, lendo tudo no deslivro da vida, alumbrada com gafanhotos e bem-te-vis. Desavessada e mais bocó ainda, bebo a água de rio e o canto de sabiás. Me poetizo toda para receber as completudes da natureza, o anteceder da noite e do dia, as conversas “profundas com as águas” .

Do “Livro sobre o nada” – Record, 1997

5.

Sou um sujeito cheio de recantos.
Os desvãos me constam.
Tem hora leio avencas.
Tem hora, Proust.
Ouço aves e beethovens.
Gosto de Bola-Sete e Charles Chaplin.

O dia vai morrer aberto em mim.

9.

A ciência pode classificar e nomear os órgãos de um
sabiá
mas não pode medir seus encantos.
A ciência não pode calcular quantos cavalos de força
existem
nos encantos de um sabiá.

Quem acumula muita informação perde o condão de
adivinhar: divinare.

Os sabiás divinam.


Em “O Livro das Ignorãças” – Civilização Brasileira, 1994
Terceiro Dia

Passa um galho de pau movido a borboletas:
Com eles celebro meu órgão de ver.
Inclino a fala para uma oração.
Tem um cheiro de malva esta manhã.
Hão de nascer tomilhos em meus sinos.
(Existe um tom de mim no anteceder?)
Não tenho mecanismos para santo.
Palavra que eu uso me inclui nela.
Este horizonte usa um tom de paz.
Aqui a aranha não denigre o orvalho.

Do livro “Memórias Inventadas – A Segunda Infância” – Planeta, 2006
Bocó
Quando o moço estava a catar caracóis e pedrinhas na beira do rio até duas horas da tarde, ali também Nhá Velina Cuê estava. A velha paraguaia de ver aquele moço a catar caracóis na beira do rio até duas horas da tarde, balançou a cabeça de um lado para o outro ao gesto de quem estivesse com pena do moço, e disse a palavra bocó. O moço ouviu a palavra bocó e foi para casa correndo a ver nos seus trinta e dois dicionários que coisa era bocó. Achou cerca de nove expressões que sugeriam símiles a tonto. E se riu de gostar. E separou para ele os nove símiles. Tais: Bocó é sempre alguém acrescentado de criança. Bocó é uma exceção de árvore. Bocó é um que gosta de conversar bobagens profundas com as águas. Bocó é aquele que fala sempre com sotaque das suas origens. É sempre alguém obscuro de mosca. É alguém que constrói sua casa com pouco cisco. É um que descobriu que as tardes fazem parte de haver beleza nos pássaros. Bocó é aquele que olhando para o chão enxerga um verme sendo-o. Bocó é uma espécie de sânie com alvoradas. Foi o que o moço colheu em seus trinta e dois dicionários. E ele se estimou.
ALÔ CARIRICATURAS, MANDA AÍ A CONTA BANCÁRIA PARA O DEPÓSITO DA FRANQUIA DO LIVRO !

Projeto água pra que te quero ! - Poesia da Luz






Fotos : Nívia Uchôa

João Nicodemos , no Sesc Crato, dia 26 de fevereiro, às 20 h. Não percam !