Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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domingo, 16 de outubro de 2011

CULTURA DO CARIRI - I





Lá vem os guerreiros Cariris.
Eles vêem com seus laços de fitas, com suas espadas de ponta, coroas brilhantes e seus aventais de espelhos.
Eles cantam uma musica alegre. Dançante. Eles brilham como o sol. Reluzem quando a luz bate nos espelhos dos seus aventais. Eles chegam trazendo alegria.

Como pergunta o sociólogo Oswald Barroso: QUEM SÃO ESSES GUERREIROS?

São guerreiros e defensores da nossa cultura. São guardiões da nossa história. São os nossos mestres; delatores do que fomos e do que somos. São os nossos espelhos duplamente reais, porque nos enxergamos e nos vemos literalmente internalizados nos espelhos colados em seus coloridos e brilhantes aventais.

Mas o que é o Reisado?

Trata-se de um Auto Popular, que passeia entre no profano e o religioso, O reisado é formado por grupos de brincantes dançarinos, acompanhados por músicos e cantores, que saem, geralmente à noite, de porta em porta, no período que vai entre o dia 24 de dezembro até o dia 6 de janeiro(quando o catolicismo comemora o Dia de Reis), anunciando a Chegada do Salvador, em algumas regiões é tratada como “A Chegada do Messias”, para homenagear os Três Reis Magos, Belchior, Baltazar e Gaspar, e louvar os donos das casas onde eles dançam.

“A tradição é portuguesa. Em Portugal era costume os grupos de Janereiros e Reiseiros saírem pelas ruas pedindo que lhes abrissem as portas e recebessem a nova do Nascimento de Cristo. Os donos das casas recebiam os grupos e a eles ofereciam alimentos e dinheiro. Os personagens eram Rei, Rainha, Mestre ou Secretário de Sala, Contra-mestre, Mateus e Palhaços e o figurá. Em outros grupos são: Rei, Rainha, Mestre ou Secretário de Sala, Contra-Mestre ou Vassalo, dois Embaixadores, Contra-Guia, Contra-Passo, Moçambiques, Bandeirinhas, Palhaços e Mateus.
Com vestimenta composta por Saiote de cetim colorido, adornado de gregas douradas ou prateadas. Chapéu de abas largas, guarnecidas de espelhos redondos, flores artificiais e fitas variadas. Tocam peças como: Marchas de Rua, Pedido de Abrição de Porta, Marchas de Entrada de Sala, Louvação aos donos da casa, Louvação ao Divino, Guerra e Retirada. O auto é entremeado com danças dramáticas como a Guerra e Totêmicas*, como a Farsa do Boi com a Característica: morte, repartição e ressurreição. Farsa do Jaraguá, do Diabo e da Alma, além de outros. Existem ainda as peças (danças cantadas) com motivos românticos e circunstânciais e as Embaixadas, que são partes declamadas. (* Crença no parentesco entre o homem e certos animais e plantas) (http://apotheka.wordpress.com).

“Dia de Reis, Festa de Reis ou "Epifania do Senhor", significa o dia em que Jesus se manifesta para outros povos. Infelizmente aqui no Brasil esse dia perdeu seu significado religioso sendo mais lembrado com o dia em que se desmonta a árvore de Natal. Segundo a tradição, foi nesse dia que os três reis Magos foram orientados pela "Estrela de Belém",até a gruta onde Jesus havia nascido para presenteá-lo com ouro, incenso e mirra”( http://wikipédia).

Belchior, Baltazar e Gaspar, segundo a historia cristã, foram três os três Reis que atravessaram terras e terras, impulsionados por uma visão, para presenciar o nascimento do Messias. Os três levavam presentes para o Salvador.

"A simbologia religiosa tem o ouro como representação da nobreza, tendo sido presenteada pelo Rei Belchior. O incenso representava a divindade de Jesus, sendo presenteada por Gaspar. A mirra, sendo uma erva muito amarga, simbolizava o sofrimento que Jesus enfrentaria na Terra enquanto Salvador da Humanidade, também simbolizava Jesus quando homem e foi presenteado por Baltazar".(http://apotheka.wordpress.com

"Segundo a tradição, um era negro (africano), outro branco (europeu) e o terceiro moreno (assírio ou persa) e representavam toda a humanidade conhecida daquela época. Quanto ao nome dos três, quem deu nome aos magos foi Beda, um cronista inglês que viveu entre 673 a 735 d.C. Em outros países, principalmente na Europa, essa data tem um significado tão importante quanto a do Natal, sendo feriado em todo o continente". (idem)

O Brasil, pela sua resultante missigenada, tem em suas festas nmatalinas uma representação da sua particular mistura de raças (Indígena, Africana e Européia). Nos Reisados ou Folias de Reis, clarifica-se todas as influência recebidas das tres raças que formaram a raça Brasil. As celebrações natalinas em muito assumem formas, significados, brilhos, cores e sons particulares e próprios do povo brasileiro. São exemplos de folguedos natalinos os Reisados, Moçambiques, Congos, Cavalhada, Chegança, Fandango, Guerreiro, Maracatu, Pastoril, etc.

’Os Reisados brasileiros envolvem música, dança, celebração religiosa, orações, com elementos específicos mais marcantes dependendo da região do país, e acrescenta a tradição de que aqueles que recebem a visita do Reisado em suas casas (na realidade, o simbolismo representa a visita dos Reis Magos a Jesus) devem oferecer graciosamente comida a seus integrantes, que realizam toda sua performance de tradição folclórica-religiosa local, enaltecem o hospedeiro, agradecem pela comida e seguem para o próximo destino’.( http://www.velhosamigos.com.br)

IMAGENS DA INTERNET

Para que servem os desafios - Emerson Monteiro


Nas condições dos momentos, à frente das portas de sempre, em qualquer lugar, ou diante das ordens do espaço de viver, ninguém passa pela vida longe de enfrentar limites e desafios. Porteiras abertas da criatividade, transações de aproveitar o tempo, cabe aos indivíduos a epopéia das horas ligeiras de experimentar as oportunidades e conhecer os meandros da natureza mãe que morar em si.

O que parece filosofia, na realidade anda um pouco mais. Mostra, sim, que encarar a viagem através das pedras do desconhecido servirá de orientação a fim de observar o mistério espalhado na paisagem da chamada existência. Ninguém representa só passageiro inútil desfilando nas malhas de impunidade... Os mínimos aspectos dessa estrada abrem-se aos seres fantásticos que habitam nossa espécie, desde mulas sem cabeça a sacis impertinentes, a título da imaginação inesgotável e aos pedidos de compreender o enigma dessas ocasiões sucessivas.

Um olhar fixo dentro da gente, a luz da Consciência, demonstra responsabilidades imensas diante dos caminhos da salvação trazidos nesse território. Há sentido nas visões da janela do trem, que desenvolve velocidade quase acima das nossas forças, enquanto o conhecimento de aproveitar ao máximo o percurso desliza no vento. Invés de querer definir para dominar, deixar entrar, nos cômodos da alma, o hálito rico do inesperado, das boas práticas da liberdade, no sonho intenso de manter abertos os olhos de enxergar as maravilhas.

Isto com a paciência das crianças e dos santos... Saber suportar o calor de lutas, às algumas vezes inglórias, no furor das tempestades, lições necessárias ao desapego de valores inúteis, na poeira que esvoaça e dobra nas curvas do destino.

Bom, falar de paciência e infinitude jamais esgota o assunto, senão perder-se-ia dos próprios nomes. Saber ler nas entrelinhas das palavras que querem dizer coragem. Paciência inesgotável, pois.

E, nisso, amar acima de tudo... Amar todos, independente de credo ou cor... Amar, na simplicidade incondicional dos sábios, ao Sol das religiões e das vivências da esperança.

Para, depois, lembrar com alegria os instantes do roteiro quando assistíamos aos melhores filmes na sala surpreendente das histórias coletivas, ao sabor do eterno. Aceitar as imposições e os bloqueios quais respostas às ações do que produziu em face desses desafios. Preparar, no instante atual, o que as leis do bem querer ofertam logo em seguida aos praticados. A quem quer bondade, que plante a semente no coração das pessoas que, juntas de nós, andam na perene estrada do Infinito, nisto se acha o resumo das escolas do saber.

CULTURA DO CARIRI - II



O Cariri cearense, pela sua localização geográfica, durante o período que se conhece como Idade do Couro, sofre o processo de povoamento com a chegada de novos moradores e a expulsão de parte do contingente indígena da região, época em que a a coroa portuguesa promove uma verdadeira entrada sertões adentro, à custa da vida daqueles que até então detinham o domínio das terras da região do pajé Araripe.

A mistura de culturas foi inevitável. Indios que permaneceram, negros e brancos que chegaram promoveram a mistura cultural que hoje da vida ao perfil da região. Hoje rica em expressões culturais herdadas de três raças (indígena, negra e branca), o cultural Cariri guarda na sua teia de festejos uma das mais ricas, senão a mais rica lista de expressões culturais/folclóricas que se conhece no Nordeste brasileiro. Importante registrar que o Cariri é o centro matemático do Nordeste. Ou seja, é eqüidistante aos principais centos urbanos da região Nordeste.

Por conta disso recebemos influencias culturais desde a Bahia até o Pará. Como se tentassem desde os tempos do império estabelecer ligação urbana numa travessia retilínea da Bahia ao Maranhão, coincidentemente dois dos maiores portos do Nordeste. Registre-se a importância dada pela Coroa Portuguesa ao desenvolvimento do interior do território brasileiro pelo estabelecimento das fazendas de gado.

Assim é que, em meio ao nosso Reisado, vemos elementos de outras danças ou manifestações folclóricas como é o caso da figura do Boi, típico do Bumba Meu Boi do Maranhão e do Estado do Pará, passos de dança de roda como os Reisados e cirandas, congos e danças de roda pernambucanas e reisados sergipanos, e elementos muito presentes da dança dos guerreiros alagoanos. Ressalte-se que existe um grupo de Congos na cidade de Milagres. É uma junção de elementos dos pastoris, cheganças, quilombos, caboclinhos, entre outras danças.

De toda forma, o Reisado, ou a Dança do Reisado, também conhecida como Folia de Reis presentes no Cariri, apesar de toda a influencia externa, e sem dispensar o respeito a todas as outras influencias que o lapidaram, tem hoje a sua identidade própria, tem a sua cor, a sua musica, o seu brilho e a sua historia, e refletem a miscigenação, a mistura provocada pelo jeito brasileiro de se formar enquanto gente brasileira. O Reisado do Cariri tem os seus próprios mestres, todos merecedores de toda a nossa reverencia e de todo o nosso respeito.

O Reisado do Cariri, como os outros reisados, se compõem de várias partes e tem no seu contingente de brincantes diversos personagens como o rei, o mestre, contramestre, figuras e moleques(Mateus). Os instrumentos que acompanham o grupo são geralmente utilizados por grupos independentes que se propõem a acompanhar-los. violão, sanfona, ganzá, zabumba, triângulo e pandeiro. Mas, muitos reisados tem os seus músicos próprios.

No Cariri Cearense são muitos os grupos e os mestres que se revezam sustentando a muito custo a vida dos grupos de reisados na Região. Na cidade do Crato, destacamos os grupos formados pelo grande Mestre Dedé de Luna, hoje sob o comando de suas filhas, e os grupos comandados pelo Mestre Aldemir Calou reunindo grande contingente de filhos e netos. No Juazeiro destaca-se todos os seguidores da grande mestra Margarida, entre outros mestres.

Presente, ainda, no Cariri cearense, um vasto contingente de reisados conhecidos como CARETAS, assim conhecidos um tipo de reisado onde os figurantes se apresentam mascarados(daí o nome caretas) ou REISADOS DE COURO(quando os mascaras são feitas de couro). Estes geralmente se apresentam munidos de chicotes a infernizarem a vida daqueles que se deparam com aquele grupo de brincantes. Eles saem a procura de doações que depois da coleta é dividido entre a comunidade.

No Cariri cearense a indumentária dos caretas assemelha-se em muito aos calungas pernambucanos, que são representações carnavalescas presentes nos carnavais das cidades canavieiras. (CALUNGA: Divindade secundária de culto banto; a imagem ou fetiche dessa divindade). Destaque aos grupos de caretas de Potengí e Jardim. Ressalte-se que em Jardim-CE, os caretas utilizam um tipo de chocalho usado pelos figurantes de um segmento de maracatus pernambucanos conhecidos como “MARACATU DE BAQUE SOLTO, que eram grupos ligados aos folguedos católicos, enquanto que os conhecidos como de BAQUE VIRADO eram ligados aos terreiros de Candomblé.

Ave a esses grandes guerreiros Cariris. São os nossos mestres verdadeiros que, duplamente investidos do painel colorido da nossa cultura, e do alto do panteão que ocupam, bravamente resistem e permanecem firmes, de pé e á ordem, na defesa dos nossos costumes e da nossa identidade, emitindo luzes na medida das suas possibilidades, esperando reconhecimento digno daqueles que enchem o peito quando citam a cidade do Crato como “TERRA DA CULTURA”.