Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

FORTALEZA MAIS BONTIA NESTE NATAL - Por Edilma Rocha




Praça do Ferreira - Coral Infantil


Praça do Ferreira - Presépio


Praça do Ferreira


Praça do Ferreira


Arvore de Natal com redes


Abertura do Natal


Arvore durante o dia


Beira Mar


Praça Portugal

UM PASSEIO INUSITADO

Pedro Esmeraldo



No segundo quartel do século XX, ano de 1944, meu pai foi obrigado a ir ao Rio de Janeiro com a intenção de submeter-se a tratamento de olhos com grande perito na medicina relativa à vista.

Meu pai havia sofrido um conjunto de perturbações causadas por uma forte pancada traumática que afetou a parte mais delicada de sua esfera do globo ocular (deslocamento de retina).

Naquela época, a medicina não era tão evoluída como agora, por isso teve que enfrentar um sério tratamento com rigidez, visto que teve que se submeter a uma cirurgia complicada a fim de não perder a sua parte mais sensível da vista.

Seu médico era muito afamado no Rio de Janeiro. Era um cearense de grande projeção nacional, visto que esse médico era um expert do tratamento de vista de grande valor, já que meu pai recuperou quase total parte da visão, que era o seu grande anseio em permanecer com o trabalho até o último dia de sua vida.

Considero meu pai um grande baluarte da agricultura, foi arrojado em suas predileções. Não deixava acumular serviços, pois mesmo doente considerava-o herói na execução de suas tarefas.

Antes disso passou vários meses no Rio obedecendo todas as ordens médicas que lhe eram atribuídas pelo médico. Sofreu um período de sacrifício, concentrando todo o seu pensamento na sua vida agrícola, já que teve de viajar após o seu tratamento, de navio até Fortaleza e de trem até o Crato, percorrendo uma estrada de ferro poeirenta e de construção precária.

Ao chegar ao Crato o médico recomendou seis meses de grande repouso, sendo proibido de viajar em veículos que não tivessem posições de conforto exigidas pelo seu médico.

Ao chegar em Crato o meu pai submeteu-se a todos os conselhos médicos e por isso obteve sucesso em sua cirurgia.

Um dia, em pleno três de junho daquele ano teve início a moagem de cana no engenho distante de sua residência. No mesmo dia partiu a pé, às duas horas da madrugada com um amigo e dois filhos mais velhos. Este próprio que escreve e o mais novo Antonio Alcides. Ficava com a distância de doze quilômetros de sua residência e deslocou-se vagarosamente cumprindo as exigências médicas. Foi uma viagem de sacrifício e de bons momentos, visto que tivemos um dia maravilhoso pois saboreamos puro mel de engenho e o apetitoso caldo de cana.

Quando a noite chegou, impetuosamente extasiado da canseira, tivemos que fazer o mesmo percurso, já cansados e enfadados e com a fadiga dos trabalhos do dia.


Crato-CE, 20/12/2011


Autor: Pedro Esmeraldo

Histórias do Brasil Real, Brasil verdadeiro -- II

A luz do baile – por Monteiro Lobato


O juiz era honesto, se não por injunções da própria consciência, pela presença da Honestidade no trono. O político visava o bem publico, se não por determinismo de virtudes pessoais, pela influencia catalítica da virtude imperial.

As minorias espiravam, a oposição possibilitava-se: o chefe permanente das oposições estava no trono. A justiça era um fato: havia no trono um juiz supremo e incorruptível. O peculatário, defraudador, o político negocista, o juiz venal, o soldado covarde, o funcionário relapso, o mal cidadão enfim, e mau por força de pendores congeniais, passava, muitas vezes, a vida inteira sem incidir num só deslize. A natureza o propelia ao crime, ao abuso, à extorsão, à violência, à iniquidade – mas sofreava as rédeas aos maus instintos a simples presença da Equidade e da Justiça no trono.

Ignorávamos isso na monarquia.

Foi preciso que viesse a republica, e que alijasse do trono a Força Catalítica para patentear-se bem claro o curioso fenômeno.
A mesma gente, o mesmo juiz, o mesmo político, o mesmo soldado, o mesmo funcionário até 15 de novembro honesto, bem intencionado, bravo e cumpridor dos deveres, percebendo, na ausência do imperial freio, ordem de soltura, desaçamaram a alcateia dos maus instintos mantidos em quarentena. Daí, o contraste dia a dia mais frisante entre a vida nacional sob Pedro II e a vida nacional sob qualquer das boas intenções quadrienais que se revezam na curul republicana.

Pedro II era a luz do baile.
Muita harmonia, respeito ás damas, polidez de maneiras, joias d’arte sobre os consolos, dando o conjunto uma impressão genérica de apuradíssima cultura social.
Extingue-se a luz. As senhoras sentem-se logo apalpadas, trocam-se tabefes, ouvem-se palavreados de tarimba, desaparecem as joias..."
A seriedade nos negócios deixou de ser uma virtude, passando a ser considerada uma coisa do passado. O civismo desaparecera por completo. Os bons costumes haviam sido esquecidos. Alguma força misteriosa havia transformado um povo sério numa turba de pândegos? É claro que não. Só havia uma diferença: havíamos perdido o Imperador.

Histórias do Brasil Real, Brasil verdadeiro -- I

Nhá Chica, a mãe dos pobres

Imagine uma pacata cidade no interior de Minas Gerais onde uma casinha simples se destaca, apesar de muito pobre, pela grande quantidade de pessoas que dela entram e saem a todo o instante, ali se misturando ricos e pobres, doutores e até mesmo conselheiros do Imperador.

Um transeunte certamente se questionaria: “O que há de tão especial naquele local? O que atrai tanta gente?”  Ali vivia uma respeitável senhora, Francisca de Paula de Jesus, conhecida carinhosamente como “Nhá Chica”. Era analfabeta, mas possuidora de sabedoria e virtude surpreendentes. Filha de escrava, Francisca nasceu em 1808, num pequeno povoado do município de São João Del Rei. Ainda criança, mudou-se para a cidade de Baependi, próxima a Caxambu, onde aos 10 anos de idade ficou órfã.


Seguindo o conselho que sua genitora lhe dera no leito de morte, tomou Nossa Senhora da Conceição por mãe adotiva, confiando-se inteiramente à sua proteção.

A juventude de Francisca transcorreu-se na solidão, com todo o tempo livre dedicado à oração e à prática da caridade. Apesar de alta, morena e bonita, e de ter recebido várias propostas de casamento, permaneceu solteira, afirmando que queria dedicar-se inteiramente à fé e ao serviço dos irmãos.
Dava e recebia esmolas, tratando as pessoas com bondade e respeito. Por isso, em pouco tempo, ficou conhecida como “a mãe dos pobres”. Àqueles que a questionavam sobre a origem de sua reconhecida sabedoria, Nhá Chica respondia com serenidade: “É porque eu rezo com fé. Eu rezo e peço a Nossa Senhora, que me ouve e me responde”.

Ninguém ia embora de sua humilde morada sem receber uma esmola, uma promessa de oração ou ao menos um conselho, conforme a necessidade. Mas a vocação visível de Nhá Chica é que consumiu grande parte de sua existência terrena: atender “um pedido da Virgem” de construir uma capela em honra a Nossa Senhora da Conceição. Como era pobre, para realizar seu intento, percorria a vizinhança pedindo auxílio para as obras. A notícia espalhou-se e, aos poucos, as esmolas foram chegando de todas as partes.

Após muito esforço, alcançou seu objetivo e a pequenina mas vistosa capela tornou-se um lugar de peregrinação, onde os fiéis habitualmente se reuniam para rezar e celebrar o dia da Imaculada Conceição. Sem demora, o povo passou a chamá-la de “Igrejinha de Nhá Chica”.
Com a missão realizada, no dia 14 de junho de 1895, aos 87 anos de idade, Nhá Chica entregou sua alma ao Senhor. Seu velório estendeu-se por 4 dias, pois a multidão que se comprimia ao redor do corpo sentia dele exalar um agradável perfume de rosas.

Esse mesmo fenômeno repetiu-se, mais de 100 anos depois, por ocasião da exumação do corpo, em 18 de junho de 1998, na presença das autoridades eclesiásticas que se empenhavam em sua causa de beatificação. Ainda em vida, Nhá Chica era conhecida pelo povo como a “Santa de Baependi”. Em 1991 foi declarada Serva de Deus e, recentemente, em 14 de janeiro de 2011, o Papa Bento XVI assinou o decreto de reconhecimento de suas virtudes heróicas conferindo-lhe o título de Venerável.
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