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"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Histórias do Brasil Real, Brasil verdadeiro -- II

A luz do baile – por Monteiro Lobato


O juiz era honesto, se não por injunções da própria consciência, pela presença da Honestidade no trono. O político visava o bem publico, se não por determinismo de virtudes pessoais, pela influencia catalítica da virtude imperial.

As minorias espiravam, a oposição possibilitava-se: o chefe permanente das oposições estava no trono. A justiça era um fato: havia no trono um juiz supremo e incorruptível. O peculatário, defraudador, o político negocista, o juiz venal, o soldado covarde, o funcionário relapso, o mal cidadão enfim, e mau por força de pendores congeniais, passava, muitas vezes, a vida inteira sem incidir num só deslize. A natureza o propelia ao crime, ao abuso, à extorsão, à violência, à iniquidade – mas sofreava as rédeas aos maus instintos a simples presença da Equidade e da Justiça no trono.

Ignorávamos isso na monarquia.

Foi preciso que viesse a republica, e que alijasse do trono a Força Catalítica para patentear-se bem claro o curioso fenômeno.
A mesma gente, o mesmo juiz, o mesmo político, o mesmo soldado, o mesmo funcionário até 15 de novembro honesto, bem intencionado, bravo e cumpridor dos deveres, percebendo, na ausência do imperial freio, ordem de soltura, desaçamaram a alcateia dos maus instintos mantidos em quarentena. Daí, o contraste dia a dia mais frisante entre a vida nacional sob Pedro II e a vida nacional sob qualquer das boas intenções quadrienais que se revezam na curul republicana.

Pedro II era a luz do baile.
Muita harmonia, respeito ás damas, polidez de maneiras, joias d’arte sobre os consolos, dando o conjunto uma impressão genérica de apuradíssima cultura social.
Extingue-se a luz. As senhoras sentem-se logo apalpadas, trocam-se tabefes, ouvem-se palavreados de tarimba, desaparecem as joias..."
A seriedade nos negócios deixou de ser uma virtude, passando a ser considerada uma coisa do passado. O civismo desaparecera por completo. Os bons costumes haviam sido esquecidos. Alguma força misteriosa havia transformado um povo sério numa turba de pândegos? É claro que não. Só havia uma diferença: havíamos perdido o Imperador.

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