Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

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segunda-feira, 10 de agosto de 2009

O Vestido - Adélia Prado


O VESTIDO

No armário do meu quarto escondo de tempo e traça
meu vestido estampado em fundo preto.
É de seda macia desenhada em campânulas vermelhas
à ponta de longas hastes delicadas.
Eu o quis com paixão e o vesti como um rito,
meu vestido de amante.
Ficou meu cheiro nele, meu sonho, meu corpo ido.
É só tocá-lo, volatiza-se a memória guardada:
eu estou no cinema e deixo que segurem a minha mão.
De tempo e traça meu vestido me guarda.

Estrelas : Stela e Rosineide



ESTRELAS

Há estrelas brancas, azuis, verdes, vermelhas.
Há estrelas-peixes, estrelas-pianos, estrelas-meninas,
estrelas-voadoras, estrelas-flores, estrelas-sabiás.
Há estrelas que vêem, que ouvem,
outras surdas e outras cegas.
Há muito mais estrelas que máquinas, burgueses e operários.
Quase que só há estrelas.
(Raul Bopp)

A ESTRELA E O ANJO

Vésper caiu cheia de pudor na minha cama
Vésper em cuja ardência não havia a menor parcela de sensualidade
Enquanto eu gritava o seu nome três vezes
Dois grandes botões de rosa murcharam
E o meu anjo da guarda quedou-se de mãos postas no desejo insatisfeito de Deus.
(Manuel Bandeira )

“Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A mágica presença das estrelas!
(Mário Quintana)

WOODSTOCK - por José do Vale Pinheiro Feitosa

Se foi maior, durou menos. Mas existe esta incoerência no cotidiano burguês. Troca-se a radicalidade da árvore principal por alguns galhos desfolhados como sua vida tediosa. E mesmo que o tempo passe: não devemos confiar em pessoas com mais de trinta anos.

Venderam seu tempo em forma de trabalho. Viciados, dependentes, são capazes de matar por um copo de coca cola se não estiver bem gelada. Se as luzes das vitrines não seduzirem seu olhar ao menos uma vez por semana, a infelicidade do mundo baixo como um fumo negro.

Alguns dias. O desafio à guerra; cuspo no olho do teu consumo; resisto às tuas regras cínicas; nego teus filmes, tuas músicas, teus texto, tua poesia. Se a Caterpillar que desmonta teu morro de certezas ainda não o pôs abaixo, é que a lâmina que arrasta tuas entranhas leva tempo até consumir-se.

Um minuto ao invés de um século. Sessenta segundos de intenso mergulho no vazio do edifício que tomas por civilização ao invés de milhares de horas na praça de alimentação cercada de Hambúrguer. Gosto de pipoca, olfato de ketchup, tato de jujuba, escuta de roleta, a estética das rugas que sustentam o botox.

E quando revi tuas imagens, gastas, desbotadas, toda a energia do intenso relampejou por um breve tempo. Como breves foram tuas vidas, a rebeldia, a profunda negação daquele megassismo em alguns hectares nos arredores de N. York.

Como Che Guevara aquela geração se não morreu fisicamente no intenso que não dura, pouco depois foi enforcada com a gravata de algum escritório clean das ruas da América. E hoje, se vivos estiverem, estão em algum zoológico das espécies em extinção ou se tornaram zumbis com frases soltas de recordação.

Afinal não é da idade. É a intensidade. Se uma pessoa com mais de trinta anos não era confiável, menos ainda os menores de trinta dos tempos de agora.

Crônica para você – Por Claude Bloc

Quando somos jovens achamos muitas vezes que tudo é tão difícil! Primeiro vem o sonho. Nunca sabemos se aos poucos conseguiremos realizá-lo, mas por alguma razão desconhecida continuamos sonhando.
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A seguir, vem uma série de artifícios e processos, como, por exemplo, o questionamento dos outros sobre nossa escolha sobre o futuro, vem a expectativa dos nossos pais, e principalmente, aquela perguntinha martelando na nossa cabeça: “será que vou conseguir”? Não sabemos, portanto, a esta altura, que esta será uma pergunta constante durante o restante de nossa vida.
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Aí, então, começam as renúncias, que se estendem pela vida a fora: desde festas e passeios até falta de atenção à família, aos amigos, à/ao namorada/o…mas sempre há motivos de renúncia. (Ou não!). No final das contas todos nós podemos escolher, e é justamente quando o cansaço bate, quando a mente está já tão cheia de informações e de conhecimentos, quando não conseguimos aprender mais nada (mas não largamos o livro), quando todos reclamam que estamos estressados... sim, é nesses momentos que alguma escolha é feita.
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Poderíamos até ter seguido pelo caminho mais fácil, ter curtido toda nossa juventude intensamente, ter vivido para nós mesmos e pro mundo. Mas não, seguimos sonhando... Obviamente o tempo passa e com ele tudo segue passando. Mas a vida continua, e acabamos deixando de lado muitas vezes as pessoas que mais amamos. E agora? Pomo-nos à prova. Tentamos decidir nosso destino ou seremos jogados na jaula novamente junto ao nosso passado e às nossas lembranças.
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Depois de muitas intempéries, acabamos acreditando que estamos livres e que nos havíamos livrado das noites em claro, das tempestades, dos enganos nossos de cada dia. A ausência dos amigos aumenta. Tentamos modificar toda nossa vida. Mudamos de cidade, moramos com pessoas totalmente desconhecidas, temos que aprender a nos virar de todo jeito, porque é assim que aprendemos a crescer.
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De repente percebemos, então, que não tem mais jeito, que nossa adolescência passou e que a queremos de volta, mas não podemos mais tê-la, porque não dá mais tempo agarrá-la. Nossos amigos agora são outros; e daí, nós também não entendemos por que eles não são como os de antigamente.
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É aí que passamos a ter medo, e este acaba se tornando nosso maior amigo. Temos medo de fracassar, de ter chegado tão longe, mas sem saber direito para onde ir. Sentimos vontade de chorar, mas aí já somos quase adultos, e temos que ser fortes... Afinal, não foi assim que nos disseram? Que devemos ser fortes sempre? Que o resto é manha? Mas temos esse direito?

É aí que nos deparamos com o futuro. Nossos últimos anos foram de coragem e de batalhas. Batalhas estas que nunca acabam e vão ficando cada vez mais difíceis de vencer. Surgem as perguntas: Onde estão meus pais? Onde estão meus amigos? Pra onde estou indo? São tantas as dúvidas… Deveríamos ter um dicionário para responder a essas questões tão esdrúxulas. Porque ninguém nos diz o que vamos encontrar pela frente ou como isto ou aquilo vai ser. Mas... mesmo assim continuamos.

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Então passamos a refletir sobre nossos sonhos, sobretudo sobre aqueles que ainda não realizamos e que não somos capazes de esquecer. Diga-me, fale-me: a esta altura você seria capaz de deixar isso fugir do seu coração? .

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Agora nossa vida é esta. Apesar de ela ser repleta de insegurança, é, no entanto, e ainda, cheia de sonhos. E essa nossa vida passou agora a ser também a vida de outras pessoas. Amamos. E amamos tanto tudo isso! Amamos encontrar as mesmas pessoas todos os dias, amamos também porque não temos tempo para nós mesmos, amamos, amamos, amamos… amamos de um jeito que não valeria mais a pena viver se isso tudo não existisse. ..

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E por mais que não queiramos aceitar, e por incrível que pareça, nos encontramos hoje justamente naquilo que nos fez sentir tantas vezes perdidos. Mas é assim. Foi uma escolha nossa e, a cada tempo procuramos fazer a melhor escolha que possamos imaginar. Eu hoje escolhi vocês, meus amigos de hoje e de sempre.
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Foto 1: Atrás: Dominique, Pedro Silvino e Claude // no meio: Roberto e Ricardo Saraiva e Jean-Pierre (primo) // na frente: Bertrand e Jacques (irmãos)
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Foto 2: da esquerda para a direita = 1. (não lembro do nome) 2. Gracinha Pinheiro C. - 3. A cabeça de Vanda - 4. Ismênia Braga Brilhante - 5. Glória Pinheiro C. - 6. sentada = eu - 7. em pé = Ana Ricarda Ribeiro
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Foto 3: Turma do Pimenta: Fátima Lacerda (com a irmã mais nova), Cristina (de Seu Luiz Gonzaga) abraçando Iza (minha irmã de criação), Eduardo, Glória e Zé Junior (Lacerda), Carlinhos (na frente de Zé Junior), Rita de Cássia (falecida há pouco tempo), Ana Ricarda (na frente de Rita), Primo de Gracinha e Gracinha Pinheiro, Claude (atrás) , Marcelo, e ajoelhado Renato Pinheiro com Meirinha nas costas.
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Texto e fotos por Claude Bloc
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"Piedosa Mentirinha" - Corujinha Baiana

Não sou amiga dos espelhos.
Pra falar a verdade,
Não gosto de espelhos.
Eles não mentem nunca!!!
Estão sempre, a cada dia,
A nos mostrar "verdades"...
E nós,
Nem sempre,
Gostamos de enxergar "verdades ".
Preferimos fingir,
Fazer de conta
Que elas não existem.
E "eles" até que podiam nos contar,
Pelo menos, de vez em quando...
Uma " piedosa mentirinha ".

( Corujinha Baiana – 09/08/2009 )

HINO - Edgard Alan Poe

Santa Maria! Volve o teu olhar tão belo,
de lá dos altos céus, do teu trono sagrado,
para a prece fervente e para o amor singelo
que te oferta, da terra, o filho do pecado.
Se é manhã, meio-dia, ou sombrio poente,
meu hino em teu louvor tens ouvido, Maria!
Sê, pois, comigo, ó Mãe de Deus, eternamente,
quer no bem ou no mal, na dor ou na alegria!
No tempo que passou veloz, brilhante, quando
nunca nuvem qualquer meu céu escureceu,
temeste que me fosse a inconstância empolgando
e guiaste minha alma a ti, para o que é teu.
Hoje, que o temporal do Destino ao Passado
e sobre o meu Presente espessas sombras lança,
fulgure ao menos meu Futuro, iluminado
por ti, pelo que é teu, na mais doce esperança.


Perfume de Mulher -Sessão XIII - Por Zélia Moreira


"Vive-se uma vida em um momento."
Sem mais palavras convido a todos para serem espectadores dessa experiência.
Um casamento mais que perfeito do cinema: Perfume de Mulher*/Por una cabeza/Al Pacino.
Dispensa qualquer comentário, basta mergulhar na emoção...!


*Drama
Estados Unidos 1992
Direção de Martin Brest
Refilmagem de um filme italiano com o mesmo nome de 1974.
Protagonizado por Al Pacino(Oscar de melhor ator em 1993) no papel do tenente-coronel Franck Slade.



ESTÚPIDO FUI EU ...PORQUE DEIXEI PASSAR



Estúpido fui eu que por várias vezes estive diante da Luz e não me apeguei à Fonte
Estúpido fui quando diante da sensibilidade não vi a Sua Graça
Estúpido fui quando diante da Beleza vi apenas um objeto para o meu uso humano
Estúpido fui que deixei passar as oportunidades de Amar e agora me vem a escuridão
Na incomoda solidão

Aquela Luz era a esperança que queria encontrar
Aquela sensibilidade era uma companheira que afagaria a minha carência
Aquela beleza era a minha alegria que podia me extasiar
Aquele amor era a minha alteridade num encontro íntimo de real transcendência

Estúpido somos nós que vivemos sem perceber o presente que temos na revelação
Estúpido somos nós que vivemos a desperdiçar o que existe de maravilhoso no ser
Estúpido somos nós que vivemos um mundo automático na gangorra da competição
Estúpido somos nós que vivemos a buscar um lugar que não podemos objetivar

A revelação é a Luz da esperança
A maravilha do ser é a companhia ao entardecer da vida
A competição é a fome que não acalma o vazio do coração
A busca está na mão estendida, no abraço e no afago amigo

Somos seres sensíveis e não pedras
Somos vida e não essa ideologia da estúpida guerra
Somos Amor e não indiferença
Somos Verdade e não apenas infundada crença

Quando aprendermos a ser
A vida deixará de ser ilusão
A mão deixará de reclamar e socorrerá um irmão
E o Amor acenderá em cada coração

A Luz da Verdade É o Amor Dele em você!
Não deixe de buscar e irradiar essa Luz
Não deixe de valorizar esse bendito ser
A vida somente tem sentido no ato em si de compreender e ver

Porque Deus está tão perto de você!
É ELE o próprio Ser quem Fala no Silêncio e te Conduz
Não se assuste - aceite ser Luz Imortal!
Um dia em ti ELE finalmente como Fonte vai se revelar como tal

E quando isso vier
A vida sorrirá e vibrará
A morte calará e não mais te assustará
E você encantado amará como nunca num encontro mágico de verdade

Poesia da Lembrança - Por Socorro Moreira




Existe sempre num quadro-negro

uma estudante que nunca cresceu

Ainda adormece nos livros

e carrega cadernos

nos braços dos sonhos

De farda azul

ainda sonha,

quando apaga a luz...

Fazendo castelos

ou fiando cachos!




Farda para mim tinha cheiro de prisão( a verde, principalmente ).

A farda colegial dava-nos o gosto do anonimato com responsabilidade.

Vesti poucas. Fiquei muitos anos , naquela de saia azul , blusa branca, com botões na gola- Igualzinha a esta que Edilma Rocha um dia também usou.

Não tínhamos contas para pagar, mas éramos preocupados com elas ; não tínhamos filhos para criar, mas éramos criados por pais e mestres.

Só fazíamos estudar , brincar e sonhar, mesmo que fosse à luz de velas.

-Claro que sou do tempo de queimar pestanas e cabelos, quando não existia no Crato , a luz de Paulo Afonso...

Depois de concluir o curso colegial nunca mais senti-me estudante. Tornei-me uma adulta cheia de lembranças.Sofro o remorso do parco aproveitamento, quando as oportunidades foram tantas !

Hoje aposentada , volto ao banco da aprendizagem com novos e amigos mestres : vocês !.


Abraço especial aos meus colegas, mestres e contemporâneos do Colégio São João Bosco ,Externato 5 de Julho, Instituto São Vicente Férrer , Colégio Diocesano e Colégio Estadual do Crato.

Socorro Moreira

* Foto by Telma Saraiva .

Amanhã - Gonçalves Dias





Amanhã! — é o sol que desponta,
É a aurora de róseo fulgor,
É a pomba que passa e que estampa
Leve sombra de um lago na flor.


Amanhã! — é a folha orvalhada,
É a rola a carpir-se de dor,
É da brisa o suspiro, — é das aves
Ledo canto, — é da fonte — o frescor.


Amanhã! — são acasos da sorte;
O queixume, o prazer, o amor,
O triunfo que a vida nos doura,
Ou a morte de baço palor.


Amanhã! — é o vento que ruge,
A procela d'horrendo fragor,
É a vida no peito mirrada,
Mal soltando um alento de dor.


Amanhã! — é a folha pendida.
É a fonte sem meigo frescor,
São as aves sem canto, são bosques
Já sem folhas, e o sol sem calor.


Amanhã! — são acasos da sorte!
É a vida no seu amargor,
Amanhã! — o triunfo, ou a morte;
Amanhã! — o prazer, ou a dor!


Amanhã! — o que val', se hoje existes!
Folga e ri de prazer e de amor;
Hoje o dia nos cabe e nos toca,
De amanhã Deus somente é Senhor!


Louvações à poesia de José Augusto de Lima Siebra - Por Stela Siebra Brito



Poeta caririense: 1881 - 1960


José Augusto de Lima Siebra, nascido em novembro de 1881, em Várzea Alegre, vivenciou seus grandes momentos poéticos na primeira metade do século XX. Oriundo de uma família de agricultores teve apenas instrução primária, mas, sendo um ávido leitor, ampliou seus conhecimentos e com isso suas possibilidades intelectuais. Participou dos movimentos políticos da cidade e do estado, foi orador e poeta.
O poeta foi pouco conhecido e quase nada restou dos seus manuscritos, mas pelo material que suas filhas conseguiram recuperar, dá para reconhecer seu mérito poético e homenageá-lo com estas louvações.
Herdei do meu avô, José Augusto de Lima Siebra, a ousadia poética de conversar com as estrelas e louvar a natureza inteira, desde a contemplação da beleza das flores até o fascínio pelo manto azul do céu estrelado. E é com esse espírito que teço estas louvações.

Primeira louvação:
Louvo na poesia de José Augusto de Lima Siebra, além da reverência à obra do Criador, o conhecimento das leis cósmicas, homenageando a presença divina manifestada nos fenômenos da natureza, no canto dos pássaros ou dos homens, registros estes que podemos encontrar em muitos dos seus escritos. Como exemplo, podemos apresentar estes versos finais do poema Amanhecer e o belo poema Viagem ao Infinito.

Amanhecer
(......)
Gosto de ouvir nesta hora
A cantiga do Geraldo,
Peito que estala saudoso,
Qual um piston afinado.

Quem vê o pobre negrinho
Sujo, roto e aleijado,
A cabeça descoberta,
O olhar atravessado

Não diz que naquele peito
Bate a voz de um chorão
Nem sabe que a voz de Deus
Mora no seu coração.

O Geraldo quando canta
Deus escuta atentamente,
E sendo um Deus no seu peito
Se manifesta contente.

Solta feliz, ó Geraldo,
Este teu canto bonito
Neste teu canto eu vejo
As notas do infinito.

Viagem ao Infinito

Galguei o espaço infinito
Pelo alto pensamento
Rompendo a força do vento
Do ar o denso granito.

Pisei todos os planetas,
Signos, cometas também.
Vi tudo que gira além
Mas não vi quatro trombetas.

Não encontrei o Altíssimo
Nem o trono da verdade
E de lá voltei certíssimo
Descrendo da eternidade.

Mas de volta encontro o ar
Em profunda escuridão
Com o estridor do trovão
O corisco a fuzilar.

Acho, Deus, encontrei jeito
De crer na sua existência
Imploro sua clemência
Com a mão cruzada ao peito.

Deus! Oh, Deus! Senhor perdão!
Perdão se esta poesia
Ofendeu-Te a primazia
Sob o peso de Tua mão.

Pois, Senhor, ao infinito,
Galguei pelo pensamento
Reconheci teu portento
E o quanto sou pequenito.

Teu poder sublime e forte
Os meus olhos lá bem viram
Se os meus versos te feriram
Perdão Deus! Manda-me a morte.




Segunda louvação:
Louvo na poesia de José Augusto de Lima Siebra seu amor pelo Ceará, cantado belamente no poema O Ceará Seco, que tem estes versos iniciais:

Oh! terra dos verdes mares,
Terra da luz, Ceará!
Alguma cousa de ti
A minha lira dirá
Com mágoas que nascem d’alma
Teu nome celebrará.

Terceira louvação:
Louvo na poesia de José Augusto de Lima Siebra seu encantamento com as belezas naturais do Cariri, região homenageada com o
Hino ao Cariri

No Cariri tudo é belo
Tudo é galas e primores
É belo no sítio ameno
Ver-se flores multicores.

É belo o cantar das águas
Que vem de encontro à pedreira
A brisa a gemer nas folhas
Da majestosa mangueira.

Soluça a patativa
Na folha da bananeira
A juriti tão saudosa
Chamando a companheira.

Vê-se a beleza que tem
Os grandes canaviais
O canto dos passarinhos
Na fronde dos laranjais.

Ouve-se o rumor nas folhas
Do coqueiro pelo vento
Fitar os círios eternos
Que habitam no firmamento.

Que primavera meu Deus
Desponta no mês de abril
Maio, um altar a Maria
Coberto de flores mil.

Eu como sou filho desta
Terra cheia de delícias,
Quero viver no seu seio
Gozando suas carícias.

Quarta louvação:
Louvo seu espírito cívico, sua participação na política local e seu patriotismo entusiasmado pelo Crato, registrado no poema Revolução de Juazeiro, em que narra em versos as intrigas, desventuras e batalhas da Revolução de 1914, gerada pela situação política do Ceará. Uma versão histórica registra que a revolução foi planejada pelo governo Federal, com o intuito de derrubar o Governo do Ceará, então nas mãos do Cel. Franco Rabelo.

Soneto 25
(....)
Procedendo desta forma
Fica o Crato abandonado
Do centro do Ceará
O ponto mais cobiçado
Torrão sagrado, altaneiro,
Por muitos bravos pisado.

Tendo somente no Crato
Um pequeno pelotão
Dois outros oficiais
Dos quais Tenente Romão
Aproveitando os jagunços
Esta pouca guarnição.

Na tarde de vinte e quatro
O Crato foi atacado
A noite inteira passando
Num tiroteio cerrado
Às dez horas do outro dia
Pelos jagunços tomado.
(....)

Quinta louvação:
Louvo na poesia de José Augusto de Lima Siebra seu espírito profundamente religioso e devotado, sentimento que ele expressou em diversos poemas, notadamente nesta descrição da
Morte de Jesus.

Está parado o ramo de oliveira
E muito triste o céu da Palestina
Três horas. Lá no céu o sol declina
Queda silente a natureza inteira.

Jesus, o bom Jesus a fronte inclina
Deita da face a lágrima primeira
Do peito exala a ânsia derradeira
Morre na cruz suspensa na colina.

Escuta calmo o glauco mar profundo
Há um silêncio tal em todo mundo
Que a própria hierarquia desconhece.

A mãe do Verbo a fronte ao céu erguia
E ao supremo soluço de Maria
A terra treme, o sol empalidece.




Sexta Louvação:
Louvo na poesia de José Augusto de Lima Siebra a delicadeza poética de expressar seu amor pelo lar, pela família. Dedicou poemas para a esposa, para as filhas, para a casa e até para o pomar, simbolicamente representando a família.

Meu pomar

Plantei um pé de roseira
Lá dentro do meu pomar
Com muito jeito e carinho
Comecei a cultivar.

A roseira se estendeu
Com galhinhos bem frondosos
Em cuja fronde mimosa
Realçaram quatro rosas.

Cada rosa mais formosa
No galhinho a balançar
Dava graça, dava encanto,
Dava vida ao meu pomar.

A roseira se movia
Balançando as quatro flores
Vivia de seus encantos
Vivia de seus odores.

Porém como esta vida
É cheia de dissabores
Quando menos se esperava
Lá se foram duas flores.

O pomar é nossa casa
A roseira és tu, Maria
Nossos filhos são as rosas
Jardineiro, quem seria?


Sétima louvação:
Louvo na poesia de José Augusto de Lima Siebra seu espírito brincalhão, espelhando sua forma de ser na vida, tantas vezes irreverente, insólita. Para ilustrar tomemos estes versos soltos:

Preguiçoso, vá embora,
Eu não quero mais lhe ver
Diga ao diabo do inferno
Que trabalhe pra você.

No subir de uma ladeira
Todo santo é preguiçoso
No descer ninguém precisa,
Cada qual mais milagroso

E minha última louvação é de agradecimento por suas lições de poesia, que alguns de nós, seus netos, bisnetos e trinetos já carregamos na alma e no coração e, podemos como ele, maravilhados com a imensidão do cosmo, ouvir estrelas e interpretar as sinalizações do céu. Deliciemo-nos com este poema:

Ouvindo estrelas


Noite. O firmamento
Está de estrelas salpicado.
A lua brinca entre elas
Qual um ente enamorado.

Como é lindo à meia-noite
Conversar com as estrelas,
Fitá-las no firmamento
Amá-las, ouvir e vê-las.

Gosto de amar as estrelas,
Elas namoram comigo,
Escuto o que me dizem,
Quanto segredo não digo!

Como é bom ouvir estrelas
Quando a noite está quieta.
Mas as estrelas só amam
Só conversam com poeta.

Foi do seio das estrelas
Que nasceu a poesia
Regada por uma lágrima
De um soluço de Maria.

Quando à noite estou dormindo
Ouço alguém a me chamar
São estrelas que me chamam
Pois me querem namorar.

Levanto-me, abro a porta,
Saio quase na carreira
Passo logo a ouvi-las
Nos amamos a noite inteira.

Quando a noite vai morrendo
Que no céu desponta a aurora
As estrelas se despedem
Num soluço e vão embora.

Passo, pois, o dia triste
Sinto medo de perdê-las
Peço a Deus que a noite venha
Pois desejo ouvir e vê-las.

Camufle os vegetais para mantê-los no prato


Sopas e sucos são alternativas para quem não aprecia essa turma :

(http://yahoo.minhavida.com.br/materias/alimentacao/Camufle+os+vegetais+para+mantelos+no+prato.mv)

Que os vegetais são importantes para manter uma alimentação saudável e para conquistar sucesso no regime, não é novidade. Dá um nó no estômago só de pensar no gosto da cenoura ou do espinafre? O problema é que, sem eles, a dieta emperra. "Legumes e verduras são alimentos que apresentam baixa quantidade de calorias e, ao mesmo tempo, são fontes de nutrientes importantes para o bom funcionamento do organismo", explica a nutricionista do MinhaVida, Roberta Stella. "Eles também são uma ótima alternativa para o regime, já que são fontes de vitaminas, minerais, carboidratos e, principalmente, de fibras, que melhoram o funcionamento do intestino e fazem com que a glicose do sangue aumente gradativamente, retardando a fome."

Para te ajudar a colocar os vegetais no prato, o MinhaVida separou dicas que camuflam esses alimentos e os deixam mais saborosos, seja no meio do prato predileto ou em uma deliciosa sopa ou suco . Confira as dicas e comece a tirar todos os benefícios dessa turma:

Como preparar
Antes de começar a missão de incluir os vegetais na sua alimentação, é preciso variar as maneiras de prepará-los. "Os vegetais podem ser feitos cozidos, assados, refogados ou grelhados. Para dar mais sabor a esses alimentos, deve-se fazer uso de temperos e ervas", explica a especialista. "Usar pouco óleo na preparação impedirá que o alimento ganhe muitas calorias. Dessa forma, os fritos, à milanesa e suflês devem ser evitados."

No seu prato preferido
Qual é seu prato predileto? Massas, lanches ou uma bela feijoada? Qualquer refeição comporta uma boa dose de vegetais. "Quando a pessoa adiciona alimentos menos apetitosos ao seu prato preferido, fica muito mais fácil que ela se acostume com o sabor. No caso do vegetal, não é diferente. Uma lasanha de berinjela ou um prato de feijoada acompanhado com uma porção de couve fazem parte das alternativas ", explica.

Sopa encorpada
A sopa é uma maneira perfeita de camuflar os vegetais. "Podemos adicionar acelga, repolho, cenoura e couve-flor. E o lado positivo é que o gosto não fica tão forte, ajudando a acostumar o paladar", afirma. "Vale lembrar que devemos evitar adicionar grandes quantidades de batata ou mandioquinha na preparação, já que eles apresentam maior valor calórico", diz.

Suco turbinado
Que tal uma suco de laranja com beterraba? As misturas ficam deliciosas e o sabor da fruta prevalece, camuflando o vegetal. "Basta usar a criatividade para saborear um suco delicioso e ainda aproveitar todos os benefícios dos vegetais", recomenda Roberta. Experimente as opções de Laranja com rúcula e abacaxi com cenoura.

Reeduque o paladar
Se você não tem o costume de consumir vegetais, não é de um dia para outro que irá se deliciar com um prato recheado deles. Para se acostumar com os sabores desses alimentos, deve-se experimentar. E muito. "Provar diversos alimentos várias vezes é uma dica, já que o paladar precisa se adaptar aos novos sabores", explica Roberta. "Não se deve desistir na primeira tentativa. Em breve, você terá os seus vegetais preferidos que farão parte da alimentação diária."

Bruno Pedrosa - artista plástico brasileiro (morou em Crato)



Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.


Bruno Pedrosa nasceu no interior do Ceará, descendente de família tradicional portuguesa que chegou ao Brasil no tempo das sesmarias. Aos seis anos foi estudar em Crato (Ceará) e só retornava para a casa do pai e avós nas férias escolares. Concluiu a sua formação educacional básica na capital do estado, Fortaleza, em 1967.

Em 1968, foi morar no Rio de Janeiro, para cursar a Escola Fluminense de Belas Artes. Participou de exposições coletivas e individuais e tomou parte ativamente do movimento estudantil contra o regime militar.

No ano seguinte matriculou-se na Escola Nacional de Belas Artes e fez viagens pelo interior do Brasil e países da América do Sul. Ganhou a medalha de prata, com desenho, por sua participação no Salão Nacional de Belas Artes. Passou a freqüentar, ao mesmo tempo, as faculdades de Arqueologia e Filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Após um período de estudos do barroco brasileiro e sua arquitetura, publicou, em 1972, o seu primeiro álbum de desenhos, tendo por tema a cidade mineira de Ouro Preto. Nos anos seguintes ampliou seus conhecimentos em arqueologia visitando a Bolívia, o Peru e o Equador, estudando principalmente a história do povo Inca. Estabeleceu contato com muralistas mexicanos, como David Alfaro Siqueiros e realizou exposições individuais de seus desenhos em Buenos Aires, Nova Iorque e Cidade do México.

Bruno Pedrosa entrou, em 1976, para a comunidade do Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro, onde permanece até 1980.

É desse período o seu painel a óleo (atualmente no Mosteiro Beneditino de Juiz de Fora), uma série de retratos a óleo (incluindo o retrato do Papa João Paulo II, no acervo do Vaticano) e desenhos do Mosteiro de São Bento que formaram um álbum publicado em 1979, por ocasião das comemorações do aniversário de 1400 anos do nascimento de São Bento.

Dois anos após deixar o mosteiro, casou-se com Elinor Perlingeiro Garnero. Após morar novamente no Rio de Janeiro, e de realizar viagens pela Europa, estabeleceu-se com a família na Itália, em março de 1990.

Inicialmente morou em Cuneo, na região do Piemonte, onde nasceu seu sogro, o tenor Giovanni Garnero. Em 1991 se transferiu para Bassano del Grappa, cidade medieval vizinha a Veneza.

Em 1994, iniciou o trabalho com esculturas em cristal de Murano, que o levou a estar presente no Corning Museum de Nova Iorque, no Museu de Arte en Vidrio de Alcorcón (MAVA) em Madri, e no Ebeltoftmuseet na Dinamarca.

Vende seus trabalhos para todos os países da Europa, Estados Unidos da América e Japão.



Cordel para Jorge Amado


Jorge Amado - 10 de agosto de 1912 ( Itabuna BA) - 06 de agosto de 2001( Salvador - BA )

Jorge Amado pelo povo
Romancista: artesão ...
Bahianauta grapiúna
Cacaueiro coração
Navegante das palavras
Transmutou em criação...

Bom baiano universal
Romancista menestrel
Pensador da liberdade
Tem a chama do cordel
No País do Carnaval:
Merecedor do Nobel...

Tem Cacau em seu destino
Suor...comunicação...
Verseia Jubiabá...
No Mar Morto da ilusão
Navegador da escrita
Sempre em ebulição...

Escreveu vários romances
Sempre com criatividade
Com os Capitães da Areia
Mostrou inventividade
Pelas Terras do Sem Fim:
Visita a eternidade...

Em São Jorge dos Ilhéus
Piraginga Itabunarte
Bahia de Todos os Santos
É mentor de nossa Arte
Um escritor tão fecundo:
Nem pelas bandas de Marte...

Pela Seara Vermelha
Flui O Amor do Soldado...
O Cavaleiro da Esperança
Está sempre ao meu lado...
O ABC de Castro Alves
Tenho todo decorado...

A Luz no Túnel é paz
Na Agonia da Noite...
Os Ásperos Tempos continuam
Fome, medo e açoite
Nos Subterrâneos da Liberdade
Jorge fez o seu pernoite...

Gabriela Cravo e Canela
Morenua linda flor
Tieta do Agreste fruta
Sereia do Mar do Amor
Sol Menino grapiúna
Voa Andorinha Furta-Cor...

Vejo o Gato Malhado
E a Andorinha Sinhá
...
Com os Pastores da Noite
Belo culto de Iemanjá...
Sem A Bola e o Goleiro
Futebol não haverá ...

Farda Fardão Camisola de Dormir
Tereza Batista Cansada de Guerra
Dona Flor e seus dois maridos

Pela eternitude... erra...
Eu vou ler o Jorge Amado
No mar e no pé da serra...

Vivem os Velhos Marinheiros
Em minha imaginação...
O Capitão de Longo Curso
Continua a sua ação...
A dirigir o infinito navio
Nas plagas da imensidão...

A morte é irmã da vida
E a morte é ilusão...
Quincas Berro D´água vive
No mar de minha criação
A morte de Quincas é vida
Na Feira da continuação...

Lenita foi o Princípio
Amado e Edson Carneiro
Junto com Dias da Costa
I. Karl surge candeeiro
E o Pais do Carnaval:
É o seu livro primeiro. ..


Brandão: O mar e o amor
Ser Amado...Graciliano
Aníbal, Lins e Rachel
Sempre em primeiro plano
Editado em 1941...
Acho que não me engano...

Jorge sempre instigante
Fervor revolucionário
Antifascista...Popular
Romancista proletário
Baianavegante audaz
Criativista libertário...

Homem de contínua ação
Artista do horizonte...
Combateu a Tirania
Cavaleiro sempre avante...
Com Prestes e Castro Alves...
Sempre esteve adiante.. .

Jorge! Artista do Povo ...
MultiRevolucionário...
Social e sempre ativo...
Contra o ser reacionário...
Jorge muito bem Amado...
Teve o povo solidário...

Poesia! Alma do Povo...
Castro Alves...Jorge Amado
Caymmi e João Gilberto. ..
Telmo Padilha:vate alado...
Jorge a nos iluminar...
Com romance bronzeado...

Jorge! Euclides da Cunha...
Lima Barreto maltratado...
Castro Alves profetizou
Um povo a ser libertado
Jorge, Lamarca, Marighela
A luta contra o E$tado...

O impossível não há
O que há é a ação
Quincas, Gabriela, Flor
Tieta e o Capitão
Tocaia Grande na vida
A Face Obscura da Razão...

Jorge Amado...Dostoievski
Pushkin, Tolstói , Gogol...
Amado Goethe Balzac
Escreviventes do Sol...
Jorge, Joyce, Guimarães
Escultores do Arrebol...

Jorge bahiano arretado
Cabra da Peste Nordestino
Eterno Prêmio Nobel
Pra mudar nosso destino
É um dos grandes do mundo
Amado escritor latino...

Jorge frebordina ativo
Com Zélia efervescente
Casal sempre enamorado
Pela luz do sol nascente...
Engrandeceu o Brasil
Do Ocidente ao Oriente...

Jorge Amado sempre eterno ...
Povo, sol e carnaval...
É eterna juventude
É orgulho nacional ...
Romancista de primeira
No oceano universal...

Gustavo Dourado
www.gustavodourado.com.br

Gustavo Dourado. Poeta e cordelista.Letras(UnB). Pós-graduação em artes, literatura, teatro, gestão e linguagens artísticas.Autor de 11 livros.Premiado na Áustria.Selecionado pela Unesco.Tema de teses de mestrado e doutorado www.gustavodourado.com.br http://cordel.zip.net

Pensamento para o Dia 10/08/2009



“Quando os obstáculos no caminho da verdade são derrubados, a libertação é alcançada. Essa é a razão de a libertação (Moksha) ser algo que pode ser alcançado aqui e agora. Para isso, a pessoa não necessita esperar a dissolução do corpo físico. A ação não deve ser sentida como um fardo, pois esse sentimento é um sinal seguro de que aquela ação é nociva. Nenhuma ação que ajuda seu progresso pesará fortemente sobre você. Você a sente como um peso somente quando ela vai contra sua natureza íntima. Chegará o tempo em que você reverá suas realizações e lamentará a futilidade de todas elas. Entregue sua mente ao Senhor antes que seja tarde demais e deixe que Ele a modele como acha que é melhor.”
Sathya Sai Baba

Ainda sobre Normando ...

ALGO MAIS SOBRE NORMANDO


Um expresso da Viação Caririense. Nas estradas ainda não asfaltadas entre Juazeiro da Bahia e Feira de Santana. Quem migrou para o sul tem no seu corpo este roteiro de viagem. Mais de 12 horas de viagem desde o Crato. Calor, baratas miudinhas nas frestas dos assentos, ônibus cheio, corpos muídos, mentes dispersas entre a saudade e o futuro. Estou em pé, Normando ao meu lado, como um ilusionista a falarmos de vida material e transcendências mágicas. Ele era Rosa Cruz. Normando, com o corpo maneiro pelo biotipo, alto para nossos padrões, magro, pescoço cumprido, cabeça chata, trançava os conceitos mágicos com o movimentos dos dedos finos das grandes mãos.

Falamos de 1974. Eu voltava de umas férias de quinze dias no Crato. Era algo entre janeiro e fevereiro, tempo chuvoso, completava um ano que saíra de Fortaleza para o Rio. Estivera na minha cidade para fazer o retorno que nunca fizera desde que a deixei, às três horas da madrugada (nos primórdios do horário de verão), num trem para a capital. Foi uma noite de fevereiro de 1968, um grupo de adolescentes enxotados em sentido do futuro no tempo e no espaço. Tocávamos violão, tomávamos cachaça sob um pé de Crista de Galo, árvore seminal da minha infância, no quintal da casa da Batateira.

Naquela noite, sem cair nas figuras de linguagem, o filme da minha identidade primeira, passou-me inteiro. Ao meu lado amigos e primos desde os tempos remotos: Fernando Arraes, Joaquim Pinheiro, Nivaldo Teles, José Almino Pinheiro, Aguiar (grande pintor dos nossos cenários de teatro), Moraes (de Campos Salles, briguento por natureza, terminava as festas com olhos roxos) e Almirzinho (Almir Pimentel filho). Desde os tempo remotos.

Tinha sete anos de idade, analfabeto por opção e teimosia, solto nas quebradas do vale do Batateira, escola era presídio e tinha consciência disso. Um dia levaram-me para um grupo escolar, sentaram-me longe da molecada. No dia seguinte, no intervalo entre um dia e outro de aula, aliviei a diarréia nos livros escolares e fui exilado para os campos abertos novamente. Mas o tempo, este senhor da escravidão civilizada, sentou-me num banco do Colégio Diocesano, quatro paredes cortando-me a paisagem, uma cartilha e um caderno com lápis para fazer só o que mandassem.

Mas não há escravidão sem gente. Tendo gente tem vida, tem história e movimento. As prisões, hospitais, santórios e spas são o maior exemplo. Tarcizinho (Tarcísio Leitim, médico pelo interior do Ceará), Pedro Ernesto (filho mais velho de Tomaz Osterne), José Ribeiro (Psiquiatra em São Paulo), Alfredo Leitim, Vanderley e tantos outro recuperamos a vida na escravidão.



Aí pelos idos do segundo ano primário, um drama nordestino. Um drama político. Em Farias Brito a disputa feroz entre PSD e UDN. Um líder do PSD, Enoque Rodrigues foi assasinado a mando dos líderes da UDN. Companheiros e parentes tiveram que fugir para o Amazonas (dois grandes professores da UFC da enfermagem e estatística eram filhos daqueles que migraram a força). A violência política e social é antiga, não chorem apenas pelos de hoje, os de ontem foram terríveis. Promovam os olhos mansos no amanhã.

Enoque morreu deixando a família para criar. E aí, chegaran para estudar os irmãos Elmano e Normando. Tínhamos em conta o drama daquelas crianças como nós, mas deles recebemos um vigor de independência em que o drama de sua família não explicava tudo o que eram. Eram altivos, reagiam à provocação, se colocavam, tinham opinião. Tinham o quê dizer. Elmano foi para o Rio e se dedicou a Propaganda e Marketing, depois indo para Brasília. Normando ficou pelo Rio algum tempo e depois já soube dele de volta ao Cariri. Foi aí que vocês o encontraram. Talvez o motivo pelo qual, os irmãos da trama da vida nordestina, novamente se reencontraram em Bsb.

O encontraram como uma figura mítica que logo se encantou. Mas agora, compreendam o motivo dos blogs Cariricult e Do Crato. É que não temos elfos e outras figuras de prateleiras, temos mitos que só nós mesmos sabemos compreender. Pode até ser a projeção globalizada na nossa grei, mas não deixa de ser antropofagizada.

Postado por José do Vale Feitosa no Cariricult , em março/2008

Depoimento de Joilson Kariry Rodrigues

Inicio dos anos 80 - O caldeirão da cultura fervia um caldo de arte e anarquia nas trempes do Cariri, cada um adicionando uma pitada de tempero a seu gosto. O homem do sertão, Normando, apimentou o guisado. Ressuscitou Antonio Conselheiro, tomou-lhe o cajado e a língua ferina, fez-se do mesmo barro que modelou Gonzagão e Patativa, dessa argila desidratada que assoalha o sertão. Deu-se para a caatinga, recolhendo ossos e o sal do torrão, fez arte, destemperou o caldo. Usava a grife Salvador Dalí: fartos bigodes, costelas salientadas, e a genialidade de igual a igual, pau a pau como se diz hoje. Conheci Normando na aridez desses tempos, anos 80. O Crato era de açúcar e fel, ora se afogando nos descontroles das nuvens, ora se esturricando sob a impiedade de Helios, o deus sol. Era refugio dos donos das artes, dos loucos que aprendi a amar, dos anarquistas, era casa da mãe Joana. Normando me apresentou o Crato levando-me a dá o meu primeiro passeio de elevador. Fingiu não rir da minha cara abobalhada, do meu extasio de menino que descobre o mundo para além das ribeiras do Cariús; e deu-me de presente essa cidade, os loucos, os artistas e os anarquistas. Lembro-me do desenho de giz na calçada da Sé, um sertanejo crucificado num cabo de enxada, riscado numa madrugada de insônia. Nesse dia dividimos o último cigarro, a abstinência de um gole de cachaça, as risadas que acordaram padre Bosco. Ele me convencia a engajar nos movimentos liderados por Leonel Araripe e Carlos Rafael, como se eu tivesse importância pro movimento. As sobras do giz viraram uma escultura de sereia nua em suas mãos gigantescas, talhada e esculpida por uma tampa de caneta Bic, para depois ser atirada nas águas do canal, e foi, boiando, para as águas do oceano que eu ainda não conhecia, encantar marinheiros distraídos. Esperamos os derradeiros suspiros da lua nos batentes da catedral. E quando o sol veio cumprir sua sina de alumiar o sertão já estávamos na porta de Carlos Rafael, como dois remanescentes da boemia que se negam aceitar o fim da noite, vampiros à luz do dia. Senti ali que o sertão me regurgitava de suas entranhas, o mundo não era só ali e Normando me disse isso no dia que me descobriu num esquete de escola em Farias Brito. Era difícil acreditar que eu tivesse algum talento diante das mil faces artísticas dele, mas ele achou que eu tinha. Normando Rodrigues era Pintor, Desenhista, Escritor, Poeta, Escultor, Artesão, Ceramista, Gravurista, Xilógrafo, entre outras atividades que exerceu. A figura mais fantástica que eu já conheci. Um gênio.

Postado por Carlos Rafael Dias no Cariricult em 31.10.2007


Nico X Normando

o mundo real me absorve, nem sempre absolve, e entre tantos desvãos e devaneios não tive conhecimento destes textos...mas sempre é tempo...lembrar o inesquecível...Sou um homem de poucas palavras... (espero)e expressar meu sentimento por José Normando é tarefa impossível com a ferramenta da palavra, mesmo a poética, que transcende o comum dos signos...Vivemos, eu e ele, o melhor tipo de sentimento que duas pessoas podem experimentar;uma amizade profunda, cúmplice e inquebrantável...Tantas aventuras, tantas transoformações ...Daria para escrever alguns livros...A última vez que o ví, magro e consumido pela vida, conversamos profundamente sobre a morte.Seu fusca branco trafegando pelas ruas de Brasília, entre a rodoviária e seu apartamento... Tantas voltas para não chegar... não queríamos chegar..."... é que quando alguém de quem gostamos, morre, choramos a sua morte. Mas principalmente choramos a nossa própria morte. É que junto com ela morre nossa história em comum, nossas aventuras, cumplicidades... uma parte de nossa história pessoal morre junto...assim como diz o velho fado - só nós dois é que sabemos...-" Agora, só eu sei, eu e meu cavalo que pasta na solidão...
Que posso dizer mais? milhões de palavras não bastam...fiquei sem meu irmão!

postado por Socorro Moreira no Cariricult, em 29.09.2007
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Tem um sax na madrugada do céu

Por onde andará stephen fry...escuto zeca baleiro na memória. Os longos bigodes roubados de salvador dali (sem as dobras) aparecem: normando. O cara. O cara que escolhi para ser meu pai, xamã e mestre de cerimônias da vida. Vida...vida...que vida louca do caralho! Perdi o último ônibus, salão de outubro ducaralho, e rafael teve a idéia: - dorme na casa de normando cara! – quem? – normando. Ele é gente fina. Fui. Tive como primeiro trabalho retirar o fumo de alguns cigarros hollywood e preenche-los com maconha. Deve ter sido um teste de paciência, ou algo do gênero. Um preço pequeno pra dormir em uma bela rede, depois de beber todas e começar, ali, a respeitar um cara que sabia rir das desgraças. Alheias e suas.
Eu: prazer cara. Meu nome é lupeu. Sou poeta e anarquista.
Ele: - e eu com isso?
Risos. Dele, de rafael, neidinha, jack, nicodemos e por último, risos meus. Foi uma grande primeira aula. Com ele aprendi a amar o crato. Seus becos sujos, suas ladeiras, seus bares de ponta de esquina – quentes e fedorentos – o mercado de madrugada. Com ele aprendi a tomar porres com elegância (nem sempre). Com ele aprendi a cortar na carne, a podar ´poemas, a aprender a “ler” e “ouvir”.
Eu: caralho normando! O slayer é a banda mais fudida do planeta!
Ele: e isso é bom ou ruim?
Risos. Dele, de nicodemos, de ana sexta feira, de manel do pezão. E depois, risos meus.
Ouvi stanley jordan, os malditos paulistas, blues, jazz, misturados com literatura buena e nem tanto...não sou hipócrita. Continuo achando meus rocks mais vitais. Mais virais. Mas meus ouvidos criaram outras portas, que hoje escutam zeca baleiro cantando: - “por onde andará...” normando. Acho que me mudei pra lá nos finais de semana. Tínhamos tudo: amizade, grana pra cerveja, debates calorosos (e nem sempre amigáveis) com os luminares.
Cena 1 – o nojento rosemberg apresenta seu filminho no grande teatro do crato.
Cena 2 – mesa na lagoinha, o nojento rosemberg debate, e bate em quem não concorda com seus filmecos feitos de renda do estado. Digo: não o reverencio meu irmão.
Nojentoberg – qual o seu nome “menino”, o que você faz, quem é você, você sabe com quem está falando? Eu sou um ci-ne-as-ta!
Eu: - eu sou carteiro, poeta, e seu filme é uma grande bosta.
Risos nervosos. Eu e normando gargalhamos, e comemoramos a noite inteira. Um dia, em sua brasília teimosa e lerda, nos flagramos rindo de tudo: do anarquismo, do rock, do comunismo, da arte pop nunca nova, dos nossos bigodes (oh yes, deixei crescer um bigode), do jazz, dos nossos amigos e principalmente: de nós mesmos. Era domingo de madrugada. E a segunda feira não teve cartas na rua santa luzia, nem o banco do brasil viu seu funcionário chegar pro trampo. As nove da manhã de uma segunda comum estávamos nós, nossa namoradas, e a brasília polissílaba lá em wilson da cascata. As dez da manhã normando vaticina (fumando um back poderoso): - liberar a maconha é um retrocesso! Basta a cerveja. A discussão a seguir? Melhor que qualquer filme de rose caririaçu, ou qualquer solo de guitarra blandinesco. Um dia viajei pra petrolina. Ele, pra brasília. Me mandava poemas, fanzines, rótulos de vinhos escrotos e famosos. O tempo, que sempre pareceu não nos olhar, olhou para ele, fez as contas e o levou. Foi rafael que me contou, e eu estou convicto: foi o primeiro dia que envelheci. Hoje, quando quero me levar a sério demais, penso: o que diria ele? E o som de sua risada cristalina e única entra minha alma a dentro. Ontem, lendo o blog, olhando sua cara de guerreiro normando, decidi: zeca baleiro! “por onde andará... ninguém sabe do seu paradeiro, ninguém sabe pra onde ele foi, pra onde ele vai...” saudade do caralho! Do sax, da conversa paterna, da cerveja, do grande, do gigante, do meu maior e melhor amigo: Nor Mando. O que não mandava.

Postado por lupeu lacerda no Cariricult , em set/2007
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Aquele que virou anjo!

José Normando Rodrigues, artista plástico, músico, produtor cultural e amigo.

A minha saudade:

“O cacto” venceu o primeiro Festival Regional da Canção com a inesquecível “Grito de Uma Geração”, de Hildeberto Aquino (um dos irmãos Jamacaru) e como prêmio ganhamos uma viagem pro Rio de Janeiro pela Viação Pernambucana e estadia no Colégio Santo Antonio que ficava no Catete. Viajamos eu, Geraldo (que viria a ser Ghandi, Urano, Efe, etc.), Chico Carlos (irmão de Zé Roberto França) e Hobert (Beto). Por motivos outros, nem o Abidoral nem Louro (Alberto) puderam viajar conosco... Foi no Rio de Janeiro que encontrei o Normando pela primeira vez e foi ele que nos levou até a Cinelândia e Lapa para sentirmos o gosto da boemia carioca. Desse primeiro contato ficou a atenção que nos dispensou naquela primeira estadia na Cidade Maravilhosa. Depois, só fui reencontra-lo quinze anos depois, trabalhando no mesmo banco que eu (o BB) no Centro de Processamento. Aí começou, realmente uma grande parceria. A gente ficava no banco “tramando” produções: Jornal Folha de Pequi, Movimento Confederação dos Cariris (uma rede caririense de grupos com afinidades artístico-culturais), Salões de Outubro, Bolart (sala que o Bola mantinha no centro do Crato para encontros dos artistas), e, pasmem, até decoração de carnaval de clubes, etc.

Quando resolveu sair da cidade foi uma grande surpresa pra todos nós. Foi morar em Brasília e só de vez em quando aparecia para passar poucos dias. A gente foi se distanciando... até que “virou anjo” de asas enormes e voou tanto que o perdemos de vista. Mora agora em cada um dos nossos corações.

Luiz Carlos Salatiel

PS: Uma pequena homenagem lhe prestei quando abri uma galeria de arte que recebeu o seu nome no NaveGarte e que mantive enquanto administrei aquele espaço.

A memória de Carlos Rafael:

A primeira vez que vi Normando, lembro bem, estávamos (uma rapaziada: eu, Geraldo Urano, Deca, Clélio Reis, Sérgio Guevara, Edelson Diniz, Romildo Alves... dentre os que me lembro) numa manhã quase monótona, no Parque Municipal. Chegou Normando, como que saído do nada, com força e personalidade, ocupando todos os espaços ainda vazios, e sem delonga, logo falando (ao observar que as os oitizeiros e eucaliptais do parque estavam pintados com uma barra branca de cal): "esse tipo de pintura é intervenção oficial, a marca do poder. Vamos mudar isto". E saiu, tão impassível e misterioso como chegou. No intervalo, até a sua volta, fiquei intrigado, ou melhor apaixonado por aquela figura esbelta, cabelos e bigodes longos, e jeito único de sorrir, mexendo com charme o canto da boca. Ao voltar, Normando (homem do norte, sim!), trouxe pincéis, trinchas e tintas xadrez em abundäncia, de todas as cores, com aquelas essenciais bisnagas para colorir o pó contido nas tradicionais caixinhas preto-e-branca, estampada por uma peça-cavalo. Era cerca de nove da manhã. Passamos, pois, todo o resto do dia colorindo as barras brancas das árvores (encobrindo a marca da oficialidade e deixando a marca livre da arte). Pintadas todas as árvores, passamos para as paredes dos boxes que outrora eram as jaulas do zoológico que um dia o Parque abrigou. E depois, as paredes externas da Quadra Bicentenário. No final, estávamos cansados e felizes. Normando tinha dado um norte naquele dia que pareceria um dia comum. Mas, não! Tinha chegado, de volta, o homem do norte...

Depois daquele primeiro encontro no Parque, Normando tornou-se um dos nossos gurus. Além dele, tínhamos Salatiel e Geraldo Urano.
(o coletivo do qual trato é referente a uma moçada etariamente mais nova, a exemplo de Lupeu e Calazans).
Ele morava na rua Cel. Secundo, a mesma do Parque. Dizia ter sido um dia filiado ao PC do B, mas agora (aleluia!) era anarquista, artista plástico, ainda casado, com um lindo casal de filhos (lembro do nome do garotinho: Gláuber. E lembro também do rostinho da menininha, com seus cachinhos loiros). Inovidável, também, é a sua esposa de então, Genilce, uma carioca muito charmosa.

A lembrança de Glória:

Me lembro dele encostado na parede da cozinha do meu apartamento, numa manhã de domingo (último dia de exposição) ouvindo um disco (vinil) dos Beatles. Tinha acabado de acordar e acho que estava de ressaca.Pensativo, calado, cabelinhos oleosos, óculos em cima da mesa, cigarro entre os dedos. Tive um contato muito breve com Normando, mas o suficiente para perceber sua sapiência diante da vida e sua bondade como ser humano.

A paixão de Socorro Moreira:

Conheci Normando ,em campanha política estudantil. Naquele tempo, eles visitavam as salas de todos os Colégios, para exposição de idéias, e apresentação dos candidatos , que formariam a chapa.Sua figura se destacava, pelo jeito "cavernoso" , irônico e irreverente.Era um idealista! E, embora não estivesse disputando o cargo de Presidente da UEC, sobressaia-se, na sua postura de líder.Não sei por que cargas d'água ou, culpa do seu carisma, conquistou o nosso voto, fácil, fácil...Isso foi em meados dos anos 60.
* Pesquisem essa gestão!

Tenho a impressão que o cargo que ele ocupou foi de primeiro secretário.Mas não tenho certeza...Só sei que fui eleitora de Normando, naquele tempo, depois de muito tempo,agora e sempre!

Depois, ainda nos anos 60, reencontrei Normando, nas escadas do Colégio Estadual, namorando com uma garota chamada "Vera", nos intervalos das aulas. Olhava os dois , pelo canto dos olhos...Formavam um belo par! Ainda escuto a risada em uníssono, denunciando leveza e alegria!
Ele não era exatamente o meu tipo...(risos).Mas incomodava-me bastante, ao ponto de achá-lo, cá com meus botões, o rapaz mais charmoso dos meus tempos! Não tive chance.Existia Vera, existia Lúcia...E eu estava noutras órbitas...Nunca um olhar sequer, nós trocamos!
Era o fim dos anos 60.Todo mundo daquela geração se dispersou: pra casar, estudar fora...E o mundo girou!

15 anos depois, 1984, depois de muitas andanças, trabalhava no Banco do Brasil de Mauriti, quando ouvi sobre Normando! Uma pergunta geral, da moçada que frequentava o Parque Municipal.

-Você já conhece Normando, Socorro? Pô, precisa conhecê-lo!Ele trabalha no Cesec Juazeiro do Norte, e está ilustrando o jornal informativo do Cesec.O cara desenha bem pra caramba, além de ser, super boa gente!

E as notícias sobre a genialidade de Normando, corria nos ventos!
"Normanto separou-se da mulher"; "Normando parece "Pardal", vive inventando coisas"; "Normando vive testando e descobrindo novas técnicas de pintura";" Normando é politizado, anárquico, e de um profundo senso de liberdade, justiça, e humanismo"."Normando é o máximo!"

Uma noite, no Parque , avistei Normando brincando com duas crianças( um casal de filhos).Imediatamente associei sua imagem ao moço que eu conhecera um dia... Mantive distância , e fiquei a observá-lo.Nem se deu conta de mim.Estava absorto em cuidados, e inventava folguedos para distrair as suas crias.Fiquei encantada com a "performance" daquele pai.Putz,que cara!
Todas as vezes que voltei ao Parque, naquelas épocas ( 84 a 87),encontrava Normando com a galera de sempre: Rafael, Geraldo,Pachelly, Terto, etc,etc.
Como prima de Geraldo , eu me introjetei naquele mundo eucaliptizado...Mas nunca Normando me foi acessivo.Era monossilábico,nas respostas, quando eu o interpelava...Enfim,não alimentava papo, embora fosse elegante e gentil!

Mais uma vez, a despeito do tempo, pensava cá com meus botões:Meu Deus, que homem é esse? Confesso que, uma esfriadinha na barriga, eu sempre sentia, quando a gente se topava.Não conseguia interessá-lo...ele tinha o poder de me embobecer.Com um leve sorriso de zombaria, parecia adivinhar, o quanto me ameaçava!

Em 1986, o destino me pregou uma peça. Trabalhávamos em Agências diferentes, mas fomos convocados pra fazer o mesmo curso, em Recife.Ficamos no hotel, em que todos ficavam:Hotel São Domingos, pertinho da Av.Guararapes, aonde ficava o Centro de treinamento(DESED).
Primeiro dia, nos esbarramos, no café da manhã.O cara, nem "thum" pra mim! Um bom dia desligado...e ponto!

Final do dia, quase noitinha, vi que se distanciava com mais dois colegas...Apressei o passo, e emparelhei com o a turma.Iam todos para o Pátio de São Pedro, dançar ciranda, tomar caipirinha de pitanga! Literalmente, convidei-me...e fui!

Nos acomodamos, num dos botecos da área.Era uma mesa enorme com uns vinte colegas, e eu! Chegou um violão, no ombro de alguém.Foi convidado, e tirou as primeiras notas: "Notícia"( uma música antiga de Nelson Cavaquinho).O povo silenciou, conversou...Mas, só eu e o Normando, conhecíamos a canção, e todas as sequentes. Ficamos os dois a cantar, initerruptamente, até as altas da madrugada.Não perdíamos uma dica do "bom cantador".Repertório impecável,boêmio, poético...e aí,as afinidades explodiram, fatalmente!.Bebi todas, e não me embriaguei...nem me embobeci!Ele não era "Judas" pra negar-me! Tornamo-nos camaradas! Já voltamos pro hotel, amigos de infância!

Protegeu-me, como se protege uma irmã. Já no Hotel, cada qual pro seu canto! Sem um beijo... Apenas um sorriso de quem já não negaria , uma bola de sorvete!
Obedecemos os horários de treinamento, e fizemos programas noturnos, diários:cinema, barzinhos, jogos, etc,etc. Estranhava o cara não me paquerar...Eu estava "gata", na plenitude dos meus 35 anos.

Acho que depois de quase duas semanas, resolveu contar sua história.Estava divorciado, mas comprometido com o seu amor de adolêscência.Depois de vinte anos, Ulisses voltara para Penélope.Que podia fazer, a não ser me ternurizar com aquela história?Transcendi, instantaneamente ,todo meu tesão!
E me coloquei, na linha de amiga,porque já era tarde pra não amar aquela figura..."Tarde demais para esquecer"!

Convivemos na sequência, amorosamente, por (6) meses...Um dia, fui embora pro Mato Grosso do Sul;noutro dia, ele zarpou para Brasília.
Mas antes dessas despedidas, permiti que herdasse a minha amizade pelo João Nicodemos.Grandes amigos ficaram. Amigos de emocionar, até Deus!
Não consigo falar dessa trilogia: Socorro, Normando e Nicodemos, sem chorar... sem me engasgar de saudades!

Por breves 11 anos, nos víamos, nas (4) festas do ano.Sempre, sempre,o amor do mesmo jeito.
Idependente das nossas realidades solitárias, fomos fiéis a tudo que no amor, se aumenta!
Respeitei a escolha amorosa de Normando, e ele conviveu com todas as minhas escolhas ( erradas ou não)!

O sentimento que nos uniu, nunca se quebrou;nunca discutimos, nunca nos aborrecemos, nunca nos entediamos, nunca nos desligamos...Até que a morte nos separou!
Tudo foi ficando mais forte, com o passar dos tempos... Mas perto vai ficando, de um amor eterno!

O respeito de Zé Flávio:

Vi algumas vezes o Normando de relance. Não tive maior aproximação. Estava no Recife nos anos 70 e depois retornei na dura labuta de começar a vida de médico. É uma das figuras que só conheço por descrição dos amogos mais chegados: Salatiel, Rafael, Nikos, Socorro. O diabo é que acabou por queimar a centelha muito rápido: mas como brilhou ! Um continho chamado Ícaro que publiquei no blog foi uma história do Normando, me contada pelo nicodemos e que acabei psicografando.Esta provado que existem pessoas que têm um quê de eternidade.

A admiração de Jackson Bantim (Bola):

Normando foi um amigo e irmão, pensativo, correto diante das amizades. Sabia como ninguém visualizar o verdadeiro amigo. Fui presenteado por ele com a sua única modelagem em argila, da sua astúcia do novo campo das artes, expressando a imagem de um dos maiores poetas populares do Brasil, Antônio Gonçalves da Silva, o amigo Patativa do Assaré.
É, amigo Normando, tenho certeza que estás fazendo artes com os bons anjos do Céu.

Postado por LUIZ CARLOS SALATIEL no Cariricult