Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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sábado, 7 de janeiro de 2012

As tietes do Vale do Silício - Emerson Monteiro

Vale do Silício, nos Estados Unidos, se trata de região privilegiada em termos de avanços tecnológicos, espalhando inventos novos pelo mundo afora numa velocidade supersônica. Nesse lugar, a partir de 1950 que inúmeras empresas da área da Informática pesquisam e ampliam o leque das opções de mecanismos, sobretudo da eletrônica e das comunicações. O Vale do Silício abrange várias cidades do estado da Califórnia, ao sul de São Francisco, como Palo Alto e Santa Clara, estendendo-se até os subúrbios de San José.

Com isto, desde essa matriz da tecnologia de ponta, chegam ao mercado todo tipo que mais imaginaram as pessoas dos componentes de transmissão do conhecimento humano de artes, cinema, fotografia, edições, música, arquitetura, telefonia, televisão, computação, internet, educação, gravações, etc. Porém, no mesmo perído, cresceu quase em nada o espírito da criatividade dessa gente bronzeada que ora ocupa postos de elaboração das redes avançadas de produção de imagens, peças artísticas em geral, pois verdadeira e avassaladora crise de qualidade dominou os setores dos bens simbólicos, quais sabotadores da informação moderna.
Na música, por exemplo, existem ótimas peças e grupos maravilhosos, oferecidos aos milhares nas lojas, em forma de cds e dvds, contudo, na grande maioria, obras dos talentos das décadas anteriores. Recentemente quase nada apareceu de revolucinário quanto aos valores da estética e do sentido inovador.

Daí se pensar que os vivos das gerações atuais permaneceram marcando passo, de olhos abertos só para as criações tecnológicas, sem, no entanto, corresponder ao mesmo peso de desenvolvimento material dos circuitos eletrônicos em moda. Qual dizem os provérbios populares, é muita galinha para pouco ovo. Escreveu não leu, surgem, nas belas rotinas do aparelhos magníficos, algo moderno que merece alguns minutos de atenção, pouco ou quase nada. Enquanto que violência, pornografia, mediocridade, zoada muita, mau gosto em profusão, embromação mil, parecem querer forçar a porta e invadir as casas onde os aparelhinhos sofisticados vivem bolando pelo chão, nos tapetes, quatos de despejo, nesse período que corresponde às novas ofertas e aquisições dos jovens consumidores, que, queira Deus, ainda não sejam peças alienadas de tanta fome do que é bom, feitos índios descalços apenas admirando as distantes estrelas do progresso verdadeiro.

APRENDENDO A DIRIGIR - Por Edilma Rocha

Ele estava bem ali, estacionado.
A chave na ignição, como que me esperando. O jeep 51 do papai.

Limpo, reluzente depois da pintura de Moreirinha, que fazia qualquer carro velho, ficar novo. Era verde oliva, com a capota de vinil preta. Os bancos novinhos, a direção grande e a alavanca das marchas com uma bola de acrílico colorido, comprada no Juazeiro. No retrovisor central, o terço com Jesus dependurado para livrar-nos do perigo. Os pneus eram zero com os biscoitos bem definidos no polimento à óleo. Os três pedais, a embreagem, freio e acelerador, eu já tinha treinado bastante.
Agora era só colocar uma almofada nas costas para compensar a distância entre o banco  eles.

Vesti um jeans, cabelos presos num rabo de cavalo, pés descalços e me lancei na aventura. Seria uma volta só até o Pimenta. Olhei para os lados da rua e a vi vazia ao meio dia. Seria rápido e ninguém iria perceber a saída do jeep da porta da casa.

Dei partida na chave e pegou de primeira, acelerei três vezes e fui soltando o pé da embreagem aos solavancos com três  pulos inesperados...
Tinha logo que passar a segunda marcha para manter minhas mãos firmes na direção.
_ Consegui ! Agora era só acelerar e seguir o prumo da rua vazia. Alcancei a rua Duque de Caxias e dobrei na Praça da Sé. Passei pelo bar do Alagoano e senti alguns olhares em minha direção, mas não desviei à atenção no calçamento. No caminho fui desviando bicicletas, pedestres e deixando alguns carros para trás. Não existia semáforo na cidade para alguma parada brusca. E tome pé no acelerador!
Sentada no volante, dominava o jeep fazendo-o ir para onde eu quiezesse. Era o máximo ! Eu estava dirigindo pela primeira vez.

Ouvia o chiado dos pneus correndo rápido na virada da curva da Praça do Pimenta e logo depois senti um frio na barriga quando avistei o Aero Willis de Cândido Figueiredo. Enfiei a mão na buzina, mas graças a Deus o carrão dobrou no Parque Municipal a tempo.
_ Ufa ! Foi por pouco !

Precisava chegar logo em casa, antes que notassem a falta do jeep. Contornei a Praça da Sé, entrei na rua Duque de Caxias e depois entrei na rua da Vala. Estava indo rápido demais e não  conseguia diminuir a marcha. Na minha frente estava o perigo da Vala aberta, já tinham caído muitos carros por lá e do outro lado as casas dos vizinhos.
Numa virada só quis colocar o carro dentro da garagem, mas esqueci que o portão de ferro estava fechado. Senti os cabelos balançando pra lá e pra cá no sacudir do meu corpo franzino e levei o portão nos "peito". ou melhor, no para-choque. E só deu para parar porque eu soltei o pé da embreagem e estancou...
Com o estrondo, todos saíram para ver o que tinha acontecido.
Me encontraram ao volante, o muro quebrado, o portão por baixo dos pneus do jeep e eu com um sorriso amarelo no rosto...
_ Cheguei !

Edilma Rocha