Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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Colaboração:Claude Bloc


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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Geoturismo, Turismo Sustentável & Geoparque Araripe (1ª Parte) – por Alexandre Sales (*)


Turismo

De modo geral, o turismo é defendido pelos economistas como uma atividade rentável e ressaltado por estudiosos como benéfico, pois movimenta toda a cadeia produtiva, somando 53 setores da economia ligados direto e indiretamente a essa atividade. Possibilita, ainda, a melhoria da infraestrutura urbana, geração de rendas, de impostos, empregos, divisas, reativação de certas atividades econômicas. Contribui para o enriquecimento cultural, conquistando ainda a conscientização da preservação ambiental, o respeito às culturas regionais, a modernização e ampliação da infraestrutura e a formação profissional.

Ecoturismo e Geoturismo

Os destinos turísticos, contemplados pela natureza, buscam em sua maioria desenvolver um produto que está em evidência no mercado atual. A exemplo do ecoturismo, da necessidade de sair da rotina e esquecer o estresse da turbulência dos grandes centros. Propiciam também  que as pessoas ampliem seus horizontes. Além do isolar-se num “mundo” mais tranquilo. Daí o turista encontrar na natureza uma forma de renovação; usufruir de ambientes saudáveis e tranquilos. Usufruir de paisagens para contemplação e meditação.

Se as cifras do turismo convencional já impressionavam, as do ecoturismo são ainda mais espetaculares. Hoje o ecoturismo representa 5%, (cinco por cento), do turismo mundial, podendo alcançar 10%, (dez por cento), ainda nesta década. ( Cfe. Organização Mundial do Turismo–OMT, em 1999). Segundo a OMT, enquanto o turismo convencional registra um crescimento de 7,5%, (sete e meio por cento), ao ano, o ecoturismo ultrapassa 20%, (vinte por cento). Por sua vez, o Ministério do Turismo do Brasil vem incentivando a certificação do ecoturismo. Aliás, a certificação de empreendimentos e pessoas inclusive está prevista no Plano Nacional de Turismo (2007-2010).
Uma pesquisa realizada pela Travel Industry Association of America (TIA) e pela National Geographic Traveler, em 2002, constatou que, nos Estados Unidos, cinquenta e cinco milhões de pessoas classificam-se como geoturistas. No mundo, o geoturismo movimenta milhões de dólares, e grande parte são realizados em regiões áridas e semiáridas, como na Patagônia Chilena e Argentina, no deserto do Atacama, na costa do Peru e Equador. Na América do Norte, a tendência de fluxo turístico é o Meio-Oeste Americano, como a Califórnia, Utah, Colorado, Novo México, Arizona, onde está o mais famoso destino geoturístico do mundo, o Grand Canyon. O turismo na África acontece no Quênia, Tanzânia, Zimbábue, África do Sul, Namíbia e nos desertos do Marrocos, Tunísia e Egito, sem falar na China e nos países da Europa, onde a moda turística são os Geoparks. (TIA, 2007).

Turismo Sustentável

No ano 1993, a OMT reconheceu que o turismo sustentável vem se afirmando como o  tipo de atividade que atende às necessidades dos turistas atuais, protegendo as regiões receptoras e fomentando as oportunidades para o futuro. Desse modo, a sustentabilidade do turismo passou a ser prioridade na agenda da OMT e dos gestores de destinos, fazendo com que os assuntos ligados à sustentabilidade começassem a ter ressonância na percepção do Público.

(continua)

(*) Alexandre Magno Feitosa Sales, é professor efetivo da Universidade Regional  do Cariri e colaborou na implantação do Geopark Araripe.

Geoturismo, Turismo Sustentável & Geoparque Araripe (2ª Parte) – por Alexandre Sales (*)



Geoparques

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO começou a exercer função importante na conservação da terra, apoiando a criação de parques no intuito de preservar o patrimônio de valor significativo. Desse modo, a UNESCO desenvolve vários projetos, tais como as Reservas de Biosfera, os Sítios de Patrimônio da Humanidade e por último, através da sua  Divisão das Ciências da Terra, desenvolve um “selo de qualidade” chamado de Geopark, definindo-o como: “Um território de limites bem definidos com uma área suficientemente grande para servir de apoio ao desenvolvimento socioeconômico local. Deve abranger um determinado número de sítios geológicos de relevo ou um mosaico de entidades geológicas de especial importância científica, raridade e beleza, que seja representativa de uma região e da sua história geológica, eventos e processos. Poderá possuir não só significado geológico, mas também ao nível da ecologia, arqueologia, história e cultura. (UNESCO, 2007). Atualmente existem 77 geoparques certificados e pertencentes à Rede Global de Geoparques (GGN-UNESCO), em 25 países.

O Brasil foi beneficiado com um selo Geopark, aonde os turistas vão motivados em conhecer o patrimônio e o estudo geológico. É de fundamental importância que os representantes do turismo no país, como o Ministério do Turismo e a EMBRATUR pensar em nortear o conceito de geoturismo como um novo segmento do turismo. É um privilégio para um país fazer parte da rede, pelo fato de a região – de imediato – ser beneficiada de maior visibilidade e promoção internacional, associada a uma marca de qualidade. Qualquer Geopark deverá disponibilizar informações sobre toda a rede (GGN-UNESCO).

Após essa novidade, o Brasil – seguindo o exemplo do pioneirismo caririense – começou a viabilizar  várias propostas de geoparques. Aí incluídos: sítios com geomonumentos e parques naturais, em diferentes regiões do país. Contextos geológicos surgiram. No entanto, as novas propostas ainda precisam ser devidamente avaliadas. A exemplo dos geoparques sugeridos na Serra da Bodoquena, no Mato Grosso do Sul; no Alto Vale do Ribeira em São Paulo e parte do Paraná;  além do Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais, que já possuem avançados estudos para serem candidatos ao status de Geopark. Outras possíveis áreas com potencial de candidatar-se ao selo Geopark poderão ser identificadas.

‘Geopark” Araripe

Eventos muito especiais na história da Terra se encontram documentados na região do Araripe através da geologia e suas rochas; da Paleontologia e seus fósseis (as pedras de peixes),  que encantam a todos. E da Arqueologia, com os registros dos antigos habitantes de nossa região do Cariri. O importante patrimônio da Terra aqui mantido e, principalmente, a forma como está preservado, levou a URCA e o Governo do Estado do Ceará, em colaboração com o Intercambio Acadêmico Alemão, em 2004, a iniciar a propositura junto a UNESCO.
O projeto  da região do Araripe passar a integrar a Rede Global de Geoparks, através do Geopark Araripe, data de 2006. O Geopark Araripe é o primeiro do continente Americano e do Hemisfério Sul. A certificação em setembro de 2006 aconteceu na cidade de Belfast, Irlanda do Norte, na segunda Conferência Internacional de Geoparques, numa cerimônia festiva e de grande expectativa no cenário mundial, quando – além do Geopark Araripe, foi anunciado a aprovação de vários outros,  distribuídos pela União Europeia, China e  Irã, totalizando, àquela época,  53 unidades.

Desde seu reconhecimento, o “Geopark” Araripe vem se confirmando como um destino Geoturístico no Cariri, que objetiva encontrar formas de desenvolvimento sustentado para a região, através da atividade turística. Com aprovação ao status de Geopark, a região do Araripe recebeu destaque internacional fortalecendo sua imagem como destinação turística. No entanto, nossa região  ficou igualmente responsabilizada a atingir o objetivo de programar um desenvolvimento no seu território. O que  beneficiaria a população e preservaria a sua maior valia: "o patrimônio". O turismo é o principal meio para o desenvolvimento de um Geopark e é uma prioridade desenvolvê-lo.

(*) Alexandre Magno Feitosa Sales, é professor efetivo da Universidade Regional  do Cariri e colaborou na implantação do Geopark Araripe.

Rumo ao Brasil Central - Por Carlos Eduardo Esmeraldo e Magali de Figueiredo Esmeraldo

. Carlos
. Magali
Quando completamos pouco mais de um mês de casados, morando ainda em Tomé-Açu, Carlos recebeu a notícia da Construtora Engenorte, de que iria trabalhar em S. João d'Aliança - Goiás, na estrada São João d'Aliança-Alto Paraíso. Em conseqüência das fortes chuvas os trabalhos da estrada “Tomé-Açu-Paragominas foram suspensos.

Com a surpresa tive a certeza de que a nossa vida estava parecendo com vida de cigano, sempre levantando acampamento. Mas, com toda a animação da nossa juventude, fomos enfrentar a mudança. E eu que, aos poucos estava conhecendo e me acostumando com aquela região cheia de igarapés, onde havia grandes plantações de pimenta-do-reino, teria que ir embora. Além dos japoneses proprietários dessas plantações, a cidade de Tomé-Açu abrigava também muitos cearenses.

Novamente, nosso fuscão ficou lotado de bagagens. Os poucos móveis e o fogão foram acomodados no caminhão da firma. Seguimos viagem pelas estradas enlameadas, deixando para trás a nossa casinha de madeira pintada de branco que foi testemunha da nossa felicidade do primeiro mês de casados.

A estrada foi aberta no meio da floresta e lembrava muito a subida para Serra do Araripe, com a diferença de que as árvores eram mais altas e frondosas e era numa região plana. Em conseqüência das fortes chuvas recentes, a estrada estava encharcada de lama. Em algum momento teria mesmo que atolar. E o fusca atolou junto também com os caminhões e máquinas da firma, próximo a uma fazenda. Horas e horas ficamos atolados já com a fome apertando, pois só tínhamos tomado o café da manhã. Dormir em Paragominas, como era o planejado não seria mais possível, pois já estava anoitecendo. Com o estômago vazio, começamos a pensar nas pessoas que passam fome. Imaginamos um pai ver os filhos sem ter o que comer e não poder fazer nada por causa do desemprego.

O mais interessante é que apesar de todas essas dificuldades eu me sentia tranquila, achando que tudo daria certo. Além da minha fé em Deus, eu confiava que ao lado de Carlos, íamos encontrar uma saída. A sintonia entre nós dois era e continua tão forte, assim como o nosso amor. Por isso, estávamos muito calmos e não nos desesperamos em nenhum momento. Lembrei-me de um pequeno versículo do Livro de Gênese 2, 24: "Por isso, um homem deixa seu pai e sua mãe, e se une à sua mulher, e os dois se tornam uma só carne." Era aí onde estava a nossa força, na Palavra de Deus, nas suas bênçãos e no nosso amor. Naquele momento, em vez de perdermos a paciência, enfrentamos tudo com muito humor. Estávamos confiantes de que Deus nos tiraria daquela situação.

Para nossa salvação, avistamos uma casa de fazenda, próximo de onde os carros ficaram atolados. Pedimos abrigo por uma noite e o fazendeiro, um simpático mineiro que há poucos dias instalara-se na terra, antes devoluta, nos acolheu. Lá já se encontrava um engenheiro do Departamento Nacional de Minas e Energia, que descobriu extensas reservas de bauxita naquela área. Após o delicioso jantar, conversamos durante algum tempo e logo fomos dormir, pois a noite estava bastante fria. É que no meio da floresta, quando chove, faz frio durante a noite. Quando o dia amanheceu, verificamos que a chuva deu um pouco de trégua, foi possível desatolar os carros e prosseguirmos com a viagem até Belém, de onde sairíamos para Brasília. Quando chegamos à capital paraense, já era noite.

No dia seguinte, acertamos os últimos detalhes da longa viagem de Belém até Brasília. Às seis horas da tarde partimos de Belém e seguimos até Santa Maria do Pará, um percurso de 100km, quando o asfalto terminou. Resolvemos dormir nessa cidade e prosseguir logo na manhã do dia seguinte.

A estrada Belém-Brasília, como era chamada desde sua construção, possuía, já naquela época, um intenso movimento de caminhões. No trecho do Pará, até Imperatriz no Maranhão nos deslocamos muito bem, pois apesar de não haver asfalto, havia um bom revestimento primário, termo técnico usado na engenharia rodoviária para o que popularmente é conhecida por estrada de piçarra. Entretanto pernoitamos em Paragominas. No terceiro dia da viagem, passamos por Imperatriz, e por volta das oito horas da manhã atravessávamos a ponte do Estreito sobre o Rio Tocantins e entramos no Estado de Goiás.

Desde o norte de Goiás, onde atualmente é o Estado do Tocantins, a rodovia estava sendo asfaltada e passamos a viajar sobre longos trechos de desvios. Eram duas trilhas aprofundadas pelos caminhões carretas, além das caçambas com o transporte de material para construção da estrada. Por isso se formou nos dois lados do desvio duas trilhas sobre a areia, bem aprofundadas. Como a largura dos caminhões era bem maior do que a do fusca, ao tentar ultrapassar uma caçamba, ficamos facilmente suspenso pelo "canteiro central" formado no meio das duas cavas feitas pelo peso das carretas. O motorista da caçamba, de espírito bastante solidário, ofereceu-se para ajudar. Amarrou uma corda no eixo dianteiro do fusca e deu partida. Ouvi um estalido seco e senti não haver saído do lugar. O motorista desceu e constatou que a ponta do eixo traseiro da caçamba havia rompido. Com isso a estrada ficou interditada. A caçamba de um lado e o fusca do outro. Imediatamente formou-se duas filas de caminhões, uma à nossa frente, e outra atrás. Até que um motorista de uma das carretas exclamou: "E nós vamos ficar aqui parado por causa desse fusquinha, pessoal?" Convocou seus companheiros e quando menos esperei, estávamos voando sobre a estrada, nos braços de homens fortes, que nem sequer pediram para que descêssemos do fusca.

Mas o pior nos aguardava mais um pouquinho à frente. Mal refeitos dos susto sofrido pelo episódio do "entalo" do fuscão, ao subirmos uma ladeira, lá no alto, fomos mandados parar por dois homens que mais pareciam dois portões de ferro. Era um posto da Polícia Federal. Perguntaram de onde vínhamos, para onde íamos, profissão, pediram nossa documentação, identidade, certidão de casamento, registro do CREA, carteira de trabalho, tudo o mais que comprovassem que não éramos terroristas. Não satisfeitos, pediram para abrir o bagageiro e passaram a revistar nossas malas, sacolas e tudo o que vissem pela frente. Dias antes, o dono da Engenorte fez uma viagem a Manaus e na volta me presenteou com uma pequena radiola portátil importada do Japão, que transportávamos debaixo do banco traseiro do fusca, por falta de espaço. Pois eles, depois de revistarem tudo, descobriram a radiolazinha e pediram a nota fiscal. Respondi que havia sido um presente, e que ao recebermos um presente não ficava bem pedir a nota fiscal e nem perguntar o preço. De nada adiantou. Ficaram com nossa radiola. Depois é que nós ficamos sabendo que naquela época estava acontecendo a guerrilha do Araguaia, a cerca de uns 50km dali. Daí termos sidos tratados como se fossemos terroristas.

Deixar nossa radiola para trás nos deixou muito tristes, pois era um dos três bens de consumo que tínhamos para o nosso entretenimento. Os outros bens eram, um pequeno toca fitas e um rádio portátil, que somente sintonizávamos à noite. Ouvíamos os discos e as fitas de Paul Mauriat, Paulinho da Viola e Roberto Carlos.

Seguimos viagem e já quase na hora do almoço avistamos um restaurante num local bastante agradável localizado numa plataforma de madeira sobre um pequeno rio. Estava praticamente lotado. Chamei Carlos para almoçar, mas ele disse que era cedo e almoçaríamos mais adiante. Só que não passamos mais por nenhum restaurante, aliás não havia mais nenhuma cidade, apenas pequenos povoados. Num deles, paramos em uma bodega procurando comprar alguma coisa para comer, mas não havia nada, nem mesmo uma coca-cola, ou um pacote de bolachas, nem água mineral. A água existente era barrenta. Passamos o resto do dia com fome e sede. Não adiantava lamentar, o certo era esperar com muita paciência até chegar a Porangatu, o que somente aconteceu à noite.

O restante da viagem transcorreu sem mais nenhum sobressalto. De Porangatu até Brasília já havia asfalto. No dia seguinte chegamos à noite em Brasília, onde dormimos e seguimos para São João d'Aliança, nosso destino.

Por Carlos Eduardo Esmeraldo e Magali de Figueiredo Esmeraldo