Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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terça-feira, 3 de abril de 2012

SEMANA SANTA - Por Edilma Rocha

Sempre que penso na Semana Santa retorno ao meu passado de criança na minha cidade natal, o Crato.
Minha avó falava :
_Menina, você vem comigo para a Igreja pois é tempo de quaresma !
Eu não entendia nada...
Achava que Semana Santa era a Páscoa com o meu sapatinho  de verniz preto recheado de doces e um lindo ovinho de chocolate ao amanhecer do dia do domingo. Para depois se transformar em brincadeiras de esconder os tesouros no jardim.
.
Mas eu tinha que crescer e começar a entender as coisa da Igreja. Era levada pela mão na companhia de um bando de velhotas vestidas de branco, com véus na cabeça e um rosário comprido feito de continhas brancas e azuis. Eram as filhas de Maria, sabia identifica-las porque levavam no pescoço uma fita vermelha com medalha dourada.

Eu tinha que me vestir com respeito e para cobrir  o decote do vestido de alcinhas usava um bolero com mangas compridas e um véu de renda na cabeça, afinal não queria ser expulsa da Igreja. Na minha imaginação a Igreja era bem maior que  na realidade e me causava espanto ver todos os Santos cobertos por um pano roxo. E eu não sabia porque, com naquele aglomerado de pessoas não dava para perguntar nada pois a Procissão do Calvário estava começando.

Todos cantavam e caminhavam pelas ruas da cidade acompanhando a imagem de Jesus que carregava uma cruz pesada. Na cabeça uma coroa de espinhos e o sangue lhe escorria pelo corpo inteiro, eu via quando o vento balançava o manto. Logo atrás a imagem da Virgem Maria também coberta seguia com a multidão.

Finalizava com a celebração da Missa, para depois seguir a longa fila dos beijadores do Santo Morto. Era tudo tão triste que eu voltava para casa com os olhos vermelhos de tanto chorar. Eu naõ gostava de assistir aquilo, mas como dizia minha avó, era nossa obrigação.

A única coisa divertida que vi foi o maluco  que morava ao lado da minha casa que seguia com uma vela acessa na mão e queimava os fiapos de cabelos das mulheres que não usavam o véu.
_Tiiisssss........... e o cheiro de queimado se espalhava no ar...
Eu sorria baixinho e encobria os dentes  com as mãos.

Mas porque tantas coisas tristes, tantas velas, tantas pessoas chorando que se amontoavam para assistir a Cruxificação de Jesus ?
Minha avó dizia que logo logo eu ia fazer o Catecismo e entenderia tudo. Tudinho mesmo! Agora tinha mesmo era que obedecer e ficar calada...

Jesus nasceu no Natal, pequenino no Presépio e nasceu outra vez depois de grande com cabelo e barba. Tinha dois aniversários ? Como isso poderia ser ? Era o menino Deus e depois Jesus Cristo. Que sobrenome esquisito aquele... não poderia ser Coelho da Cruz ? Para resolver de vez com toda aquela história na minha cabeça ?
E Mãezinha dizia :
_ Essa menina pensa demais, é bom leva-la para aprender a reza com Dona Tereza que ensina o Catecismo, pois já não sei mais como responder as suas perguntas.

E com o passar do tempo aprendi a reza e fiz o Catecismo me tornando "Cruzadinha" da Igreja da Sé. Aprendi o verdadeiro sentido da semana Santa com a Sua Páscoa, com os Mistérios da fé. Soube relacionar os fatos de nascer e morrer como uma sequência natural da vida. Saber o verdadeiro sentido da Semana Santa que naquela época era muito mais religioso do hoje, tão Feriadão e tão comercial.

Edilma Rocha

BOM DIA CARIRICATURAS