Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

ENVIE SUA FOTO E COLABORE COM O CARIRICATURAS



... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

Para participar, envie suas fotos para o e-mail:. e.
.....................
claude_bloc@hotmail.com

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Engenho de rapadura - Fotos de Heládio Teles Duarte

O último dos engenhos de rapadura - Arajara - Foto : Heládio Teles Duarte
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Maria Garapeira- O pesadelo dos donos de engenho
Foto : Heládio Teles Duarte
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. Como fazer rapadura - Foto de Heládio Teles Duarte
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"Engenhos de 300 anos podem desaparecer no Ceará.Os engenhos de rapadura do Cariri estão com os dias contados. Dos mais de 100 engenhos que funcionaram na década de 60, no município de Barbalha, restam somente cinco que estão agonizando. O fim da agroindústria canavieira, que durante 300 anos impulsionou a economia regional, está sendo denunciado por um fato inusitado. O gado está sendo solto dentro do canavial. A cana que seria moída pelos engenhos está sendo transformada em pasto.
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As velhas moendas estão virando sucata na bagaceira dos engenhos. Outras estão sendo vendidas para outros Estados para fabricação de cachaça e álcool. Recentemente, o proprietário do Engenho Padre Cícero, Antônio Sampaio, vendeu para o Estado de Sergipe, por R$ 10 mil, um centenário engenho que funcionava no Sítio Venha Ver, a quatro quilômetros de Barbalha.
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Hoje, o quilo da rapadura está sendo vendido a R$ 0,80 centavos. A batida, temperada com erva-doce e cravo da índia custa R$ 1,00 o quilo. Os maiores consumidores são os romeiros do Padre Cícero. "É possível que sobreviva um ou dois engenhos para atender a este mercado formado por saudosistas", vaticina Antônio.
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O rosário de lamentações é puxado também pelo proprietário do Engenho Santo Antônio, Antônio de Pedro, que também está colocando o gado para pastar dentro das canas. Antônio garante que este é o último ano de moagem. "Estou acabando com uma tradição que foi herdada do meu avô", complementa ele.
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Na área dos engenhos estão sendo construídos condomínios, casas de veraneio, pistas de vaquejadas e postos de combustíveis. Antônio de Pedro conta nos dedos os últimos remanescentes de uma aristocracia rural que dominou o Cariri desde sua colonização.

Destilaria de álcool

Depois do processo de sucateamento do setor, agravado com o fechamento da Usina Manoel Costa Filho de Barbalha, o governo do Estado pretende, agora, reerguer a atividade sucroalcooleira no Ceará, mais especificamente na Região do Cariri. O secretário de Desenvolvimento Agrário, Camilo Santana, já anunciou que o governo busca atrair investidores para instalação de destilaria de álcool na região do Cariri.

"No entanto, pelo andar da carruagem, o projeto vai chegar atrasado", diz o industrial Rommel Bezerra, proprietário de uma destilaria de cachaça no Crato, lembrando que a cada ano diminui a área plantada de cana na região. Já foram ocupados 10 mil hectares, produzindo 500 mil toneladas. Hoje, são apenas mil hectares, gerando 50 mil toneladas do produto. Rommel destaca que o governo vai começar pelo plantio de uma variedade que se adapte às terras e ao clima da região caririense.

A pretensão de recuperar o setor canavieiro já havia sido levantada pelo governo anterior, quando lançou o Programa Renovacana Cariri. A meta era, em cinco anos, elevar em 260% a produção de cana-de-açúcar no Estado, de onde se destilaria o álcool. Entretanto, apesar de gerar um aumento na quantidade de hectares cultivados, a revitalização esperada do parque industrial ainda não foi alcançada. " (TV Canal 13)

*Até os anos 70, quando morei no Crato, existiam vários engenhos de cana-de-açúcar. Quando retornei em 2000, já não havia nenhum. Um dos prazeres de todas as famílias urbanas era passar férias, feriados , ou passear , num sítio, em tempos de moagem. Aqui tinha até a feira da rapadura. Ela não faltava nas nossas casas , inclusive a batida, e eram ainda processadas pelas donas de casa. Em qualquer dia, a minha mãe transformava a rapadura em mel, e o mel em alfinim. Eu adorava puxar o alfinim. Comia que enjoava. Nas visitas aos engenhos , a gente se lambuzava de tanta garapa e mel, e ainda levava pra casa, aos baldes. Gostava do cheiro, e da fartura. Um dos tais que frequentávamos, como passeio e programa dos mais animados, ficava nas imediações do Lameiro. Tinha ainda como alternativa o engenho de Seu Nemésio ( amigo do meu pai) .
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E como se não bastasse, comprávamos a cana na porta de casa , e ela era descascada por meu avô ou pai . Depois de rolada , iam dostribuindo entre a meninada. Até nas praças, Exposição, festa de Padroeira o rolete de cana era a nossa pedida maior.
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Engenhos de cana-de-açúcar era uma paisagem natural do Crato , e do Cariri, e de todas as localidades do país.O algodão também sumiu ; as casas de farinha perderam o caráter festivo e produtivo... Tudo mudou, passou !
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Hoje estive passeando nas ruas do Crato com uma amiga de infância, que mora noutra localidade, e comentávamos : é surpreendente o quanto Crato, Juazeiro e Barbalha cresceram ,nos últimos anos, e assumiram outra personalidade física.Nem vou salientar que o Juazeiro disparou em tudo, e que Barbalha mantém os seus casarinhos... nem precisa ! Mas , no geral, a nossa região tão progressista , precisa ainda, e muito, melhorar , na sua qualidade de vida. Pensamos até num mutirão pra lavar a Praça da Sé com sabão. A gente sonha com uma cidade mais linda, mais alinhada , e com um povo mais amoroso, no sentido de mantê-la limpa e bonita. Sonhamos com a melhoria da infra-estrutura turística; a preservação do ecossistema, na sua valorização e consciência maior por parte dos seus habitantes. Mas, como não sou política,( sou apenas cidadã comum) confio num programa específico, administrativo.Que ele chegue no papel e na ação, e conte com o apoio do seu povo .Que todos se envolvam , pela melhoria da nossa comunidade. Como fazê-lo é outra questão. Vale a discussão, e as suas diversas formas de manifestação.
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Ora, ora... Eu só queria lembrar a magia dos engenhos de cana , desaparecidos por inúmeros motivos. Imagens , fazem parte do passado...!

Socorro Moreira

Longe, muito longe ...- Sessão XIX - Por: Zélia Moreira

Ausente, fazendo algumas viagens(?)...longe , muito longe, além do mar.(Al di lá)
Uma delas quero contar pra vocês.
Estive na Itália . Conheci Roma e alguns lugares do norte do país.
Vi Roma e sua história em pouco tempo. Aproveitei cada momento , embora muitos falem:"É imposssível conhecer Roma em um dia...uma semana...um ano...
..Arco de Constantino, Coliseu, Palácio de Veneza, tendo no Centro o Balção de Mussolini. Num espaço de seis quarteirões andei pelo mundo dos Césares e de Mussolini.
Numa carruagem romana atravessei o Rio tibre, fui à Praça de São Pedro, visitei livrarias na Praça Navona em frente a Fonte Bellini.
À noite terminei meu dia numa taberna, com música ao vivo e um jantar à luz de velas de um candelabro.
Esse foi meu momento Roma !
Embarquei no dia seguinte numa excurssão rumo ao norte da Itália.
Óstia Antica(antigo porto), Bamorzo, Arezzo, construída pelos etruscos centenas de anos antes do império romano, Pisa com sua famosa torre inclinada...Orbieto , com suas igrejas medievais, provando que o que é bom nunca acaba, nunca morre.
Visitei lugares a nível do mar e no topo de montanhas....de casa de enamorados(Verona) a arena de gladiadores.
Poderia continuar falando, mas algumas notas musicais continuam vivas na minha memória e me fazem num ecoar sem fim , cantarolar :

Lá, lá,lá, lá
Lá, lá , lá ,lá
Lá, lá, lá ,lá.......

É isso ai...! Você também quer fazer essa viagem?
Embarque no mundo do cinema, como eu fiz .
Candelabro Italiano, não é nenhuma obra de arte do cinema europeu, mas consegue de forma prazerosa mostar um pouco da Itália, e do que ela tem de mais fascinante.
Já não sou mais a adolescente que viu esse filme pela primeira vez nos anos 60, mas posso ainda me encantar com a fotografia, com a música e por que não dizer com a busca de cada pessoa por um amor romântico.
Fica a dica, com a ficha técnica do filme citado.

O Candelabro Italiano (Rome Adventure), um clássico do cinema Europeu do ano de 1962, um romace italiano, roteiro e direção de Delmer Daves. Livro de Irving Fineman.

O elenco é composto por Troy Donahue, Angie Dickinson, Rossano Brazzi , Suzanne Pleshette, Constance Ford, Al Hirt, Hampton Fancher, Iphigenie Castiglioni, Chad Everett, Gertrude Flynn. Não poderia esquecer,a música, ponto inesquecível do filme.


Ismael Silva, companheiro de boas lembranças.


O Rio que passou em minha vida foi repleto de passagens e paisagens, que marcaram todos os espaços, e serviram de rascunho para uma pequena caminhada por caminhos às vezes sem rumo e sem destino.
Num passeio pelas postagens ontem, deparei-me com uma figura que marcou durante anos, um pouco da minha vida boêmia pelos espaços perdidos da Lapa; o meu amigo Ismael Silva.
O meu primeiro contato com Ismael foi através de Normando, meu irmão, e travamos uma amizade que diariamente marcava ponto num bar pé-sujo da Avenida Gomes Freire, onde jantávamos e trocávamos conversas, estórias, e histórias, dos encontros e desencontros da sua trajetória pelo mundo da música.
Seu andar trôpego vitimado por um cravo na sola de um pé, fazia dele uma figura diferente, pois para descansar do incômodo, ficava sempre com um olhar a fitar a distância, como se tivesse espreitando ou investigando algo que estivesse lhe interessando
Numa noite depois de um show no Teatro Opinião, de volta a Lapa, me confidenciou que a maior tristeza da sua vida, era ter perdido por negligência um exemplar do seu primeiro disco, e isso lhe acarretava um sofrimento infinito.
Confesso que fiquei emocionado, pois sabia que nos meus alfarrábios, guardava aquela preciosidade, presente do meu alfaiate Daniel que era sabedor da amizade e do carinho que devotava pelo Ismael. Foi um dia difícil de passar, pensando no presente que daria ao meu querido amigo. Como de praxe fui ao seu encontro, e lhe falei: Veja só o que trouxe de lembrança pra você. Seus olhos marejaram, recebi um forte abraço, e a promessa de dar-me o primeiro exemplar que recebesse do seu novo disco.
Cumpriu a promessa, e a nossa amizade virou uma irmandade, irmandade essa, que carrego até hoje, guardando as lembranças desse Rio que passou em minha vida, mais que deixou boas e belas recordações.

A voz do silêncio - Cesar Augusto

Com as cortinas fechadas mantenho o mundo afastado.
Gritei mas não me escutaram e agora, já não sai nenhum som da minha garganta.
Talvez tudo não tenha passado de um sonho efêmero.
A angústia deu lugar a letargia e já não perco meu tempo
buscando em todas as faces a sua face.
A dor da mágoa e as saudades, lentamente se esmaecem
e dentro de um pouco mais de tempo, vou poder abrir as cortinas
e olhar o mundo la fora, saboreando o colorido da vida.
Quero viver e amar. Vou seguir meu caminho, até um dia,
encontrar a minha felicidade a minha calma interior e a minha paz de espírito.
Isso é tudo que eu preciso para morrer tranquilo.

A Coruja - Texto Budista


A Coruja

Era uma coruja pequena, de uns vinte centímetros de altura e talvez quarenta de envergadura. Entrara à noite na sala de Zazen e se empoleirou no altar.

As pessoas haviam ido para o Zazen de Iniciantes. Sentavam-se calados e imóveis, de face para uma parede clara, ouvindo os sons internos e externos, transcendendo o comum e o sagrado, indo além do pensar e do não-pensar, procurando acessar à sabedoria completa, àquele saber-conhecer-perceber profundo que nos coloca face a face com a Verdade. Contato direto com a realidade real da grande unidade. Indo além de conceitos e de pré-conceitos. Antes do pensar se iniciar, antes da dualidade se criar. Antes do dividir e escolher. Antes do separar e julgar. Quando tudo apenas é. E nesse ser se percebe o interser. Inter-relacionamentos perfeitos e sincrônicos na grande sinfonia do universo. Nós tão pequenos humanos. Tão sonhadores de uma grandeza à qual não alcançamos. O planeta Marte vermelho e brilhante deixou nosso céu mais vasto e nos fez pensar nos marcianos. Eles eram verdes na minha infância. A vida em Marte era uma fascinação. Discos Voadores – Objetos voadores não identificados. Até pensei ter visto um assim de relance, na curva do prédio. Mas era apenas a ponta do dirigível sobrevoando a cidade. Dirigível é muito lindo.



Será que somos dirigíveis? Quero dizer, será que podemos dirigir a nós mesmos? Ter acesso à central de controle de nossas vidas? Guiarmo-nos a nós mesmos? Ou será que somos dirigidos por alguém mais? Será que somos controlados por radares espaciais? Será que as propagandas, revistas, televisões, modas e padrões determinam nossas opções? Estas e outras questões podem surgir nos momentos sentados quietos imóveis sedentos do encontro sagrado com o mais sagrado. Penetrar a origem da mente, a origem do ser, a origem da vida comum a toda a vida, a nossa própria mente procurando a mente, a própria vida procurando a vida. O que não nasce nem morre, que se revolve e transmuta, transforma e reforma incessantemente.

A coruja pequena marrom e cinzenta de olhos grandes e bico pequeno empoleirada no canto do altar voou baixo perto das cabeças dos que sentados estavam, em zazen entregados. Bateu a cabeça no vidro da porta. Estonteada voou para o outro lado. Bateu na parede e se sentou. Assentada ficou a coruja também. Será que meditava? Olhos semicerrados procurando o sagrado?

Meditar é um verbo transitivo que requer um objeto. Meditar sobre a vida. Meditar sobre as obras do Senhor. Meditar sobre suas ações. Mas também existe um meditar intransitivo, meditar a meditação meditando, sem objeto, sem objetivo, sem nada. A qual meditação se entregava a ave perdida na sala encontrada?

Nós outros, humanos, nos regozijamos, pois a coruja também simboliza a grande sabedoria que ali na sala se encontraria. Teria ela, a sabedoria, vindo nos visitar? Olhos enormes, que vê no escuro.

Que tesouro poder tudo ver compreender. Adeus aos rancores e tantos temores. Sabedoria brilhante, irradiante.

Os meditadores se levantaram e se foram alegres com o bom presságio. Fiquei encantada e preocupada em como lidar com a coruja na sala. Escurecemos o ambiente, deixando a luz de fora acesa, para que ela encontrasse o caminho da volta. Volta para onde? De onde viera a coruja tão pequena e tão bela? Teria fugido de alguma morada? Teria um ninho, uma árvore, uma casa? Seria sem teto? E o céu não é nada? Depois de momentos ela voou. Tão lindo vê-la de asas abertas. Obrigada, amiga, por sua visita.

Qual o objetivo do Zen? - me pergunta alguém.
Encontrar o sagrado secreto.

* Zazen
Zazen literalmente significa Sentar Zen. Zen é uma palavra que vem do Sânscrito Dhyana ou Jhana e significa um estado meditativo profundo. Geralmente não chamamos o Zazen de meditação, pois o verbo meditar é transitivo direto, ou seja, requer um objeto. Meditar sobre a vida, meditar algo. Enquanto que o Zen é intransitivo. Não há objeto de meditação. Até o sujeito desaparece. E quando isso acontece, o Caminho se manifesta em sua plenitude.

Monja Coen Sensei
Monja Coen Sensei é missionária oficial da tradição Soto Shu - Zen Budismo com sede no Japão e é a Primaz Fundadora da Comunidade Zen Budista, criada em 2001, com sede em Pacaembu.

Iniciou seus estudos budistas no Zen Center of Los Angeles - ZCLA. Foi ordenada monja em 1983, mesmo ano em que foi para o Japão aonde permaneceu por 12 anos sendo oito dos primeiros anos no Convento Zen Budista de Nagoia, Aichi Senmon Nisodo e Tokubetsu Nisodo.


Nos olhos dos pássaros - Por Claude Bloc


Te vejo nos olhos dos pássaros
E sempre encontro sorrindo
Os sonhos que semeamos.
,
Abres caminhos pelo espaço
E o mundo vai se abrindo
Aos pós do tempo...
O amanhecer me aconchega
O anoitecer me conforta
Das lidas do dia
Mas tu segues voando
Pelos vales,
E pelos mares onde não estou
... pelos horizontes da plenitude.
,
Abres tuas asas
Elas ainda se sacodem intrépidas
Nos recônditos da minha saudade.
És passaro
E assim te vejo
Dourando meus sonhos.
Segues inquieto
em busca de noite que não chega
Cruzando meus espaços.
.
Texto por Claude Bloc
Imagem formatada por Claude Bloc
,

As Histórias dos Outros – I: O Fujão – por Carlos Eduardo Esmeraldo

Há alguns anos, comprei na Livraria Siciliano o livro “Minhas Histórias dos Outros”, do jornalista Zuenir Ventura. O título desse livro me deu a idéia de narrar, ao meu modo, as histórias dos outros que li e contei aos amigos em bate-papos informais. Inicio com a aventura de um ilustre cratense, acontecida há quase noventa anos.
***
Ano-novo de 1921 e o jovem Zezinho, aos 17 anos, fora mandado pelo pai à Fortaleza para tentar ingressar no curso de Farmácia. Até então levava uma vida de estudo, conciliada com muito trabalho na farmácia do pai. Tinha como diversão somente a escuta das conversas noturnas na botica de seu pai. Médicos, advogados, comerciantes e políticos do Crato ali se reuniam todas as noites para comentarem os assuntos da política, contarem “causos”, anedotas e falarem sobre literatura e outros assuntos da terra. Aquelas conversas eram instrutivas e inspiravam no jovem Zezinho o gosto pelos estudos e pela leitura.
Ao chegar a Fortaleza, Zezinho se extasiou com as opções de lazer que a capital oferecia, bem diferente daquela vidinha rotineira de um Crato, ainda província. Livre de qualquer censura passou a desfrutar de uma intensa vida social. Eram espetáculos teatrais, clubes de danças, serestas, bares e tantas outras coisas desconhecidas por ele. Não havia tempo para se preocupar com os estudos.
Certa vez, o senhor Pedro Pequeno, um rico comerciante cratense se hospedou com suas filhas na pensão em que Zezinho se alojara. Percebendo que o jovem cratense não freqüentava o curso preparatório e vivia se divertindo, segredou a um companheiro, sem perceber que o estudante, sentado numa mesa atrás, a tudo escutava: “Esse filho do nosso boticário não está estudando nada. É direto na farra! Quando chegar ao Crato eu vou contar tudo o que vi ao pai dele.” E o nosso Zezinho, admirador da beleza de uma das filhas daquele comerciante, transformado repentinamente em seu zeloso guardião, passou a achá-la feia e chata. “Quem diria que aquela moça magrinha e muito elegante viria a ser a minha esposa?” Indagava ele anos depois.
Zezinho estava consciente de que se voltasse ao Crato reprovado no vestibular seria severamente castigado pelo seu autoritário pai. Influenciado por Freitas, um colega de Recife, seu companheiro de pensão e festanças e, como ele, sem dar bolas para os estudos, resolveu partir para São Paulo em companhia do amigo, onde segundo pensavam, haveria emprego farto. Porém o dinheiro de que dispunha somente dava para a passagem de navio até a cidade de Recife. Mas o colega pernambucano lhe prometera que na sua cidade arranjaria com seus pais dinheiro suficiente para custear a despesa com a viagem dos dois até São Paulo. Assim sendo, tomaram o vapor “Acre” e zarparam do Mucuripe. À medida que o navio se afastava, Zezinho tinha a impressão que o farol piscava dando-lhe um saudoso adeus.
Ao chegarem a Recife, após dois dias de uma viagem na qual Zezinho passou a maior parte vomitando, ele se hospedou na pensão de um português. Estava fascinado pelos grandes sobrados, o movimento de veículos e as belas pontes daquela cidade. No dia seguinte, procurou Freitas, seu colega e companheiro de aventura. Este lhe comunicou que não mais iria seguir viagem, pois seus pais convenceram-no ficar em casa, e arranjaram para ele um bom emprego no jornal “Diário de Pernambuco”. Zezinho teve uma grande decepção. Estava sem dinheiro em terra estranha. Lembrou-se de Cavalcanti, um viajante, representante de medicamentos que frequentemente visitava a botica do seu pai. Contou-lhe sua situação e este o aconselhou a voltar para o Crato. Com a ajuda de Cavalcanti, Zezinho tentou arranjar emprego até juntar o suficiente para seu retorno ao Crato, como dizia a Cavalcanti. No íntimo, sabia que era outro seu objetivo. Acompanhado por Cavalcanti, visitaram várias farmácias do Recife, sem, contudo obterem êxito.
Após dois meses de tentativas frustradas, Zezinho não desistira de ir para São Paulo. Procurou então o Coronel Granja, abastado homem de negócios do Recife, que vivera muitos anos no Crato, onde se tornara amigo de seu pai. Contou ao coronel que desejava retornar à casa paterna, mas estava sem dinheiro. O coronel Granja, confiante na lisura do boticário cratense, ofereceu-lhe a quantia que ele precisava. Tão logo recebeu o dinheiro, Zezinho comprou passagem para São Paulo, embarcando no mesmo vapor Acre, que o trouxera de Fortaleza. Três dias depois, numa ensolarada tarde, aportaram em Salvador. O navio somente seguiria viagem pela madrugada e, os passageiros poderiam sair para conhecer a cidade. Zezinho andou de elevador, subiu e desceu o Plano Inclinado, visitou o Pelourinho, a Baixa dos Sapateiros, onde à noite assistiu a um espetáculo teatral no Cine-Teatro.
De volta ao navio, um jovem da polícia marítima encontrava-se à entrada. O comandante disse: “É esse aí!” Então o policial marítimo segurou Zezinho pelo braço e lhe disse: “Você não poderá seguir viagem. É menor, está desacompanhado e não tem autorização de seus pais.”
Aconteceu que no Recife, um jovem estudante cratense, que fora companheiro de infância de Zezinho, sabia dos planos do amigo e avisou ao Coronel Granja. Não haveria tempo para comunicar ao boticário do Crato. Então o coronel entrou em contato com a chefatura de polícia, que comunicou aos seus colegas da Bahia.
O jovem policial que o prendeu, viu nele apenas um jovem dominado pela aventura de viajar. Levou-o para passar o restante da noite em sua residência, próxima ao Largo Dois de Julho, onde Zezinho dormiu tranquilamente numa cadeira preguiçosa na sala de visitas. Ao despertar, surpreendeu a conversa do jovem policial com sua mãe, que o recriminava por ter levado um estranho à sua casa. Entretanto aquela recriminação da velhinha baiana não aborrecera Zezinho. Sentia-se com a sua viagem, participante de uma aventura de folhetim ou herói de fita de cinema. Na delegacia, o delegado tratou-o com muita cordialidade, como bem sabem fazer os baianos. Perguntaram-lhe se ele possuía algum parente ou conterrâneo em Salvador. Lembrou-se do doutor Dario Peixoto, um cratense ali residente, antigo amigo do seu pai. Este procurou o chefe de Polícia, o Conselheiro Seabra. Em seguida ficou quinze dias em Salvador, numa pensão cheia de estudantes, aguardando decisão de seu pai. No dia seguinte, os estudantes lhe mostraram as manchetes dos jornais, num deles, estava escrito, “Um menor fujão”; em outro, “Abandonou a casa paterna”, sugerindo que ele deveria ser recebido em casa com uma boa sova.
Em seguida, conforme determinação de sua casa, o fujão voltou para o Crato num trem até Juazeiro da Bahia e Petrolina. O restante da viagem foi feito em lombo de burro, em companhia do arrieiro Antonio Paixão. Oito dias, tempo de duração daquela enfadonha viagem. À medida que se aproximava do Crato, Zezinho não sentia alegria, mas a certeza de que uma grandiosa surra lhe aguardava. Tinha medo de prestar contas ao seu pai e mais ainda das lágrimas de sua mãe.
Chegando ao Crato, foi salvo por seu irmãozinho Aníbal, que acabara de nascer. Seu pai, conhecido em todo o Crato por Zuza da Botica, para não contrariar a mulher em seu “resguardo”, substituiu a surra que deveria ter aplicado no futuro farmacêutico, escritor e historiador cratense, J. de Figueiredo Filho, por dois anos de trabalho como operário na sua Farmácia Central.
(Adaptado por Carlos Eduardo Esmeraldo, do capítulo “Batendo Asas” do livro “Meu Mundo é uma Farmácia”, de J. de Figueiredo Filho, p. 61 a 71)

Flores do Crato no jardim de outro lugar- Fotos de Teresa Abath











Visão de Ulisses - fl 07



Visão de Ulisses - fls 05 e 06






Visão de Josenir - fls 03 e 04










Visão de Josenir - fls 01 e 02






Poética da Indiferença- Cordel de Josenir Lacerda e Ulisses Germano













A poesia de Geraldo Urano


sou uma escrava do amor
vagando pelos desertos da lua
uma pomba no ombro da china
uma águia
com os olhos fixos na saia do brasil
o mar cor de anil
e eu com esse maravilhoso fuzil
para acertar na testa do tio sam

foto : Fábio Vasconcelos

Nascidos da presença - Por : Socorro Moreira



Devolvo as lágrimas ao mar
Fico com o olhar em botão
Discretamente nascido,
num pé de saudade.



Voz de auroras que se repetem
Luas lastimosas que reclamam
Gotas de orvalho aspergindo a terra
Fêmeas colcheias atiradas pelo ar
Repousam, renascem ,
filhas da natureza !




Entre pela porta
pela poesia
pela meia voz
Entre na hora
entre no depois
ou no antes
Entre você e o tempo
é sempre você quem ganha.
Dono da porta e da chave
dono também das janelas,
paredes, barraco de papel...
Dono , coração insano !
fotos 1 e 3: Tânia Peixoto

Fotos de Giorgio Moreira Xenofonte- Machu Picchu






CONHECER & SENTIR: DESCOBRIR & AMAR



É preciso conhecer e sentir em sintonia - simultaneamente!

Pois, de que adianta conhecer sem sentir se o sentimento é que nos faz buscar e nos faz sentir bem; se o sentimento é a chave da felicidade que buscamos dentro de nós; é a mesma coisa que voar sem sentir que está voando. De nada adianta o vôo sem o prazer de se estar voando.

De que adianta sentir sem conhecer se o conhecimento é a porta para a compreensão e a liberação do nosso ego de qualquer ilusão; é a mesma coisa que estar voando sem saber porque e para que se deve voar. De nada adianta sentir o prazer sem as delícias da novidade. Posto que não conseguiremos entender nossos conflitos - para corrigi-los! - e nossa alegrias - para retribuí-las! Poderemos confundir o apego e a paixão no lugar do amor verdadeiro. É como cair no abismo achando que se está voando.

Conhecer sem sentir gera a violência, a soberba e o poder. E portanto o que os orientais chamam de karma negativo (efeitos indesejáveis).
Sentir sem conhecer gera a carência afetiva, o apego e a paixão. E portanto o karma negativo.

Conhecer sem sentir gera o ceticismo.
Sentir sem conhecer gera o dogmatismo.

Um e outro são necessários, o sentir e o conhecer. Tem que haver uma complementariedade sinergética. O conhecimento é o pensamento em processo de reflexão. Por isso, quando buscamos o conhecimento e a vivência, a junção dos dois nos dá a consciência que é a fusão do conhecer e do sentir. "Navegar é preciso..."(e viver também) na rota segura da nossa consciência infinita.

Assim, se não conhecemos as leis Universais e não sabemos o rumo que Deus traçou para todos nós, não podemos aproveitar conscientemente a vida nesse plano; se não conhecemos outros sentimentos em níveis vibratórios diferentes dos padrões já conhecidos como poderemos avançar nos nossos níveis de consciência; se não sentimos outros conhecimentos como vamos perceber os níveis de consciência. Como vamos perceber uma nova vida? De que adianta o novo se não sabemos distinguir o que é velho e necessário. De que adianta o velho se não nos permitimos sentir o que é de fato novo e revelador. De que adianta as escrituras dos sábios se não sabemos interpretar e sentir as riquezas de suas mensagens.

De que adianta conhecer sem sentir ou sentir sem conhecer se é na complementariedade do sentir e conhecer que conseguiremos sair da visão objetiva tridimensional do universo para percebermos e vermos sutilmente um universo de várias dimensões.

O conhecer sem sentir nos impedirá de perceber que o rumo que estamos dando a ciência e a tecnologia está afetando as outras dimensões da nossa realidade humana.

Será que ainda temos dúvidas de que estamos caminhando para a destruição de nossas reservas florestais e portanto de nosso meio ambiente? Que estamos nos intoxicando com agrotóxicos e drogas medicinais; que em nome do progresso estamos acelerados produzindo mais seres neuróticos nas fábricas e nas diversas atividades profissionais; que em nome da ciência estamos a beira de uma catástrofe nuclear; que em nome de Deus estamos promovendo guerras e disputas religiosas; que em nome da medicina estamos tornando nossos corpos físicos um produto para venda no mercado dos transplantes; que em nome da segurança estamos desenvolvendo todo um complexo de arsenais de guerra enquanto milhões de seres necessitam de paz para evoluirem; que em nome da nossa saúde estamos interrompendo prematuramente o ciclo evolutivo de alguns animais, para satisfazer principalmente nosso apetite; que em nome do lazer estamos condicionando nossas crianças para guerra através de programas infantis na televisão e video-games; que em nome da inteligência estamos condicionando nossos estudantes a pensarem apenas racionalmente.

Os psicólogos há muito tempo vêm afirmando que para sermos felizes temos que nos descondicionarmos. Então, de que adianta sentir sem conhecer se sem conhecimento dos nossos sentimentos como saberemos que estamos condicionados? E da mesma forma, de que adianta conhecer sem sentir se não sentindo como poderemos perceber a vibração dos condicionamentos indesejados? De forma que sem conhecer e sentir simultaneamente não conseguiremos nos descondicionarmos. E ninguém externamente pode fazer isso por nós. A entrada em nosso mais profundo ser somente é possível por nós mesmos. Ninguém - ninguém mesmo! - tem esse poder de entrar em nossas regiões metafísicas-espirituais mais íntimas.

A força de vontade é a primeira virtude que devemos desenvolver para que possamos querer realmente mudar os condiconamentos. E sem a força de vontade não conseguiremos conhecer e sentir. Não teremos vontade para ler, pois desistiremos nas primeiras leituras de temas sobre o assunto. Desistiremos de sentir nas primeiras semanas de descondiconamentos. O ego que inconscientemente resiste as mudanças justificará uma série de coisas: falta de tempo e dinheiro, família, trabalho, compromissos diversos, etc.

A força de vontade nos leva ao querer, e este nos leva à busca da essência de Deus dentro de nós. A força do querer quebra com as ilusões do ego quando reconhece com a dor moral as suas deficiências que ele reconhecia e rejeitava nos outros. E sem a força de vontade não adquirimos conhecimentos; não conhecendo não percebemos novos sentimentos; sem perceber os novos sentimentos não sentimos o prazer de continuar conhecendo, e sem o prazer não sentimos vontade de continuar vivendo.

Assim, sem força de vontade quebramos (ou não iniciamos) a cadeia evolutiva: vontade-sentir-conhecer-vontade...Os metafísicos, espiritualistas, religiosos e alguns psicólogos afirmam que somos LUZ. Como vivenciar o estado de Luz se nosso ego condicionado resiste às mudanças? Será que conhecemos todos os nossos sentimos? Poderemos conhecer os sentimentos se não percebemos as suas vibrações? Podemos sentir os nossos condicionamentos se não conhecemos como eles se formam ou de onde se originam? Se não conseguimos responder as duas perguntas acima, se torna impossível descondicionarmos. Por que não percebemos a Luz? Por que ela está em outro nível vibratório. E porque não percebemos os outros níveis vibratórios? Porque estamos condicionados. O condicionamento é a energia do ego. O descondiconamento é a energia do Eu (Self - centelha de Deus).

Carlos Castaneda afirma em um de seus livros:

“Dom Juan explicou que, para percebermos essas outras regiões, precisamos não apenas desejá-las. Precisamos de energia suficiente para agarrá-las. Ele dizia que sua existência é constante e independe de nosso conhecimento, mas sua inacessibilidade é totalmente conseqüência de nosso condicionamento energético. Em outras palavras: apenas por causa de nosso condicionamento somos compelidos a presumir que o mundo de nossa vida cotidiana é o único mundo possível” Carlos Castãneda.

Nesse sentido, somente quando reduzimos as ilusões e modificamos a energia aprisionada do ego é que vamos sentir a Luz. A Luz Divina é o fluxo de energia que percorre nossos corpos mas que o ego não consegue ver porque vibra numa freqüência diferente desta Luz.

Faz-se necessário romper com a "rocha" de orgulho, medo, preconceito, superioridade intelectual, racionalidade e tantos outros valores negativos que estão formando um castelo de ignorância, prepotência, ilusão e poder fantasioso no interior do nosso ego perturbado e ao mesmo tempo tão deslumbrado por não compreender finalmente a menor de todas as partículas do universo: o átomo. De que adianta a luta pela superioridade contra um outro irmão se não conseguimos entender a nós mesmos e tampouco o pequeníssimo átomo que forma o fio de nossos cabelos.

Em suma, para romper o muro desse castelo de ilusão em que estamos aprisionados devemos buscar o conhecimento amplo de forma humilde em todas as áreas possíveis: espirituais, místicas, filosóficas, metafísicas, religiosas, científicas, etc. Porque qualquer discriminação é fruto de ego resistente e preconceituoso. O medo ao novo revelado, a vaidade dos conhecimentos adquiridos e o ritmo acelerado de nossas vidas nos impedem de buscar outras formas de conhecimento e portanto de sentimento.

De modo que, se temos conhecimentos racionais nossos sentimentos vibrarão na mesma freqüência da nossa racionalidade. A energia sentimento acompanha a energia pensamento. Se pensamos em violência sentiremos a violência; se pensamos em amor sentiremos e captaremos a energia cósmica amor. Portanto, viver sem sentir ou viver sem conhecer nos leva ao desequilíbrio da infelicidade e ao sofrimento do egoísmo.

Dessa forma, se faz necessário que soltemos o nosso intelecto da prisão da consciência racional e soltemos também nosso emocional da prisão da consciência sentimental condicionada.

O Amor
Que o homem
Fala tanto
Muitas das vezes
É o apego,
A paixão
E o desejo
Escondido,
Camuflado
Que o ego iludido
E condicionado
Não pode perceber.
E compreender.

Pensamento para o Dia 18/09/2009


“O que é o controle da mente (Mano-Nigraham)? De fato, controle (Nigraham) significa ser indiferente aos caprichos da mente. É difícil controlar a mente, assim como é difícil segurar o ar em suas mãos. Como pode alguém controlar a mente, que é todo-penetrante na vastidão de seu alcance e de sua compreensão? Quando se compreende que a mente é composta de pensamentos e dúvidas, a forma de conter a mente é a eliminação dos pensamentos. Os pensamentos estão associados aos desejos. Enquanto os desejos permanecerem, não se pode ter desapego (Vairagya). É necessário limitar os desejos. Quando não há restrição alguma, o desejo excessivo torna-se um mal e conduz o homem à miséria. Quando nos esforçamos para controlar o desejo, em seu devido tempo ele evolui para o desapego ou para a renúncia (Vairagya).”
Sathya Sai Baba

Sem poesia


Aqui, bem aqui, onde as plumas valsam ao sol do meio dia
Aqui, onde as vagas não chegam, onde as gotas não caem
O tempo é sol, e sendo este dia e noite protagonista da dor,
Pai do medo e da fome, não sobraram poetas para cantá-lo.
Aqui, bem onde desconfio ser o coração do sol
Não existem Leminsks, não cantam Jobins
Dalís morrem ao primeiro raio de realidade
Cá, somente valsam viventes com almas em frangalhos
Olhos secos de arte, cegos de fome, fome, de quem não come mais as migalhas
Sequer de um só sonho. Medonho!
Aqui, onde a lua é mera tolice, luz boba e teimosa, inútil.
Útil seria cá entre meus dedos, para torcê-la,
Assim como fiz nas carnes de Maria, e a vi gemer...
Assim queria-a, entre meus dedos para ver se ela me gemeria
Um só gole d’água, para uma garganta sedenta, fomenta e atordoada pela realidade.

Foto: Deise Rezende

SEXTA FEIRA DO AMOR - SELEÇÃO DE POEMAS FEITA POR BISAFLOR


Canto XLVI de “Cem sonetos de Amor

Pablo Neruda

Das estrelas que admirei, molhadas

por rios e rocios diferentes,

eu não escolhi senão a que eu amava

e desde então durmo com a noite.

Da onda, uma onda e outra onda,

verde mar, verde frio, ramo verde,

eu não escolhi senão uma só onda:

a onda indivisível de teu corpo.

Todas as gotas, todas as raízes,

todos os fios da luz vieram,

vieram-me ver tarde ou cedo.

Eu quis para mim tua cabeleira.

E de todos os dons de minha pátria

só escolhi teu coração selvagem.

AMOR ETERNO

Shakespeare

Impedimentos não admito para a união

de corações fiéis: amor não é amor

quando se altera ao perceber alteração

ou cede em desertar quando o outro é desertor.

Oh! Não, ele é um farol imóvel tempo em fora

que as tempestades olha e nem sequer trepida;

é a estrela para as naus, cujo valor se ignora,

mau grado seja a sua altura conhecida,

O amor não é joguete em mãos do tempo, embora

face e lábios de rosa a curva foice abata;

não muda em dias, não termina numa hora,

porém, até o final das eras se dilata.

Se isto for erro e o meu engano for provado

Jamais terei escrito e alguém terá amado.

SONETO DE RENDIÇÃO

Sandra Pimentel

Ah, amor, enquanto se é humano

não se pode chegar ao bem divino,

contentar-se urge com o destino

de tecer o sacro em tear profano.

Não nego, amo-te tanto e tanto

que me entrego errante aos sentidos

de nossos corpos já tão confundidos

como de Orfeu a lira e o doce canto.

Se o amor é humano enquanto carne

e o humano é divino enquanto amor,

a carne é sinal de divindade.

Por isso nos beijemos sem pudor,

numa ânsia que embriague, que nos farte,

já que a eternidade é puro amor.

Romaria ao Caldeirão do beato José Lourenço será no domingo


Pelo décimo ano consecutivo, será realizada a Romaria ao Caldeirão do beato José Lourenço. A expectativa é da participação de duas mil pessoas. O evento marca o movimento messiânico que ocorreu no Crato
O marco é um fato histórico. A cada setembro, a comunidade relembra o primeiro massacre na região do Caldeirão. Reunida, grande parte da gente parte em romaria todo ano para reavivar a memória e os ensinamentos do beato José Lourenço, líder do povoado. Neste ano, o percurso será realizado no próximo domingo, 20. A comunidade do Caldeirão é localizada no distrito de Mont-Alverne, no Crato, na Região do Cariri.

Na capela da comunidade, a celebração começa às 7h30min. A comunidade do Faustino, do distrito de Ponta da Serra, também no Crato, está se organizando para fazer um percurso de oito quilômetros a pé. Participa da organização da romaria a Diocese do Crato.

Conhecido como o Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, o movimento messiânico surgiu em 1926, na cidade do Crato e era liderado pelo beato José Lourenço. Em setembro de 1936, a fazenda onde era instalada a comunidade foi invadida. Mas só em maio de 1937,quando houve o grande massacre, ela foi destruída.

Organização
O padre Vileci Basílio Vidal, que coordena o cortejo em direção ao Caldeirão, explica que o beato ainda é lição hoje em dia, quando são relembradas as práticas de convivência comunitária e organizada. ``A figura do beato agrega valores de igualdade e de liberdade. No Caldeirão, nada era de ninguém e tudo era de todos``, destaca padre Vileci.

Antes da romaria, é realizado o Fórum Araripense de Combate à Desertificação, que começa hoje, 18, e segue até domingo. O tema principal deste ano é ``Vida e cidadania no semiárido``, adianta o padre. No domingo, haverá apresentações culturais, que são iniciativas das comunidades participantes. Um grupo de vaqueiros protagoniza o canto do aboio. Para completar o resgate da memória, ocorrerá uma homenagem ao poeta popular Patativa do Assaré, que morreu há sete anos. O ano de 2009 marca o centenário do nascimento de Patativa.

A expectativa, segundo o padre Vileci, é de que de 1.500 a duas mil pessoas participem neste ano da romaria. ``O Caldeirão é destaque pela sua capacidade de produção e de organização. Isso nos dá força para fazer uma discussão da convivência com o semiárido em uma produção alternativa do campo, em que a gente vai dando força também à organização dos movimentos sociais na luta dos trabalhadores``, analisa.

O padre lembra que o beato José Lourenço era afilhado do Padre Cícero. Toda orientação que o beato dava à comunidade era oferecida também pelo padre, tido como santo popular. Depois que Padre Cícero morreu, em 1934, o Caldeirão resiste só por dois anos. (Colaborou Amaury Alencar)
> Nos anos 1920, o beato José Lourenço passou a viver com cerca de 500 pessoas no local batizado de Caldeirão. Viviam em um sistema de mutirão.

Saiba mais
> O Governo acusava de ser uma experiência comunista. Começou a perseguição.

> A primeira expedição para destruir a comunidade ocorreu em 11/9/1936.

> A segunda, em 11/5/1937, destruiu o Caldeirão.

FONTE: Banco de Dados do O POVO

Tributo a Greta Garbo

Nosso SinhÔ do Samba - Edigar de Alencar




Fosse pela aparência, a figura de José Barbosa da Silva – negro, desdentado, “feio e bexiguento, de físico maltratado” – dificilmente seria aceita nos dias de hoje em nossa sociedade que tanto cultiva as efemeridades e o nenhum talento. Entretanto, nos anos 20 do século passado, a simples presença de Sinhô causava alegria, respeito e muita admiração em que ambiente fosse, embora a sua estampa. Sua fama explica muita coisa - às vezes em cores trágicas -, das gêneses da cultura popular e sua transformação em cultura de massa ou, melhor dizendo, em cultura comercial. Em alguns casos, explica inclusive a extinção de outras formas de expressão popular. Que o digam, os defensores empedernidos do chamado “ samba de raiz”, a tradição. O fato é que no tempo de Sinhô, samba de raiz é no mínimo um pleonasmo, estamos na maternidade do citado, cidadão tão maltratado em nossos dias. Próximo de fazer cem anos - efeméride que causará certamente uma enxurrada de palavras -, o samba causa embaraços filosóficos. O samba é como sempre foi música de gente pobre, de favelado, de gente mal instruída – por vezes analfabetos, quase sempre os negros; o samba ainda é marginal, coisa de desocupados e desordeiros, de cachaceiros, de malandros, de gente à toa, assim se pensa; no tempo de Sinhô, eram recolhidos ao xadrez o sambista e seu violão e seu pandeiro, a bem da ordem e dos bons costumes, não custa dizer. Não fossem as baianas, em suas rodas de samba no fundo dos quintais, quem daria guarida ao sambista? Quem der atenção aos versos do dito primeiro samba – Pelo telefone – perceberá que não é esta a certidão de nascimento do samba, mas antes o seu atestado de bons antecedentes, afinal o chefe da polícia mandava avisar. Para aquela sociedade, algo como engolir um remédio necessário à saúde da alma. Exatamente por isto, interessa-nos hoje e sempre a trajetória daquele que foi um pioneiro, o homem que levou o samba aos salões, que retirou o samba da marginalidade e deu-lhe lustro e a dignidade que merecia. Certa feita, Sinhô tentou ser estafeta dos Correios, encontrou os amigos da roda de samba, ficou de conversa, encheu a cara e perdeu a correspondência. Ainda bem. Como é possível prever - sem medo do erro -, as inúmeras dissertações, teses, ensaios, antologias e coisas do gênero que serão publicadas daqui até o aniversário desse mais genuíno cidadão brasileiro – o nosso samba de cada dia -, espero ansioso que nossos escritores tenham a dignidade de considerar o livro de Edigar de Alencar, neste caso, absolutamente necessário. Somente em sebos é possível encontrá-lo, devo advertir. Barulhinho bom, eu diria.


América Futebol Clube - Por : Norma Hauer

No dia 18 de setembro de 1904 foi fundado o meu querido time, o AMÉRICA FUTEBOL CLUBE, tão injustiçado, principalmente a partir de 1986, quando foi criado o Clube dos Treze, colocando o América para escanteio.

Sou torcedora do América desde criança e não é pelo fato de ele estar esquecido, que vou mudar meu time de coração, cuja "cor do pavilhão é a cor do nosso coração", como Lamartine Babo descreveu no hino de nosso clube.

Um pouquinho de História. O América foi fundado no dia 18 de setembro de 1904, estando completando 105 anos, com altos e baixos.
Prefiro os altos, lembrando suas glórias com alguns campeonatos e vice-campeonatos cariocas. Sei que aqui não se dá bola ao vice e muito menos ao terceiro colocado, a não ser nas olimpíadas e nos "pans", mas são lugares de honra, visto que existem os lanternas ou quase lanternas.

Em 1986, o América foi o clube que representou os demais cariocas, derrotados no então Rio-São Paulo, precursor do Brasileirão. Ficou em terceiro lugar,depois de um empate com o São Paulo e uma derrota para o Guarani(ou vice-versa) não me lembro.

Apesar disso, com a criação do Brasileiro, treze clubes (4 aqui do Rio) e os demais de São Paulo,Minas e Rio Grande do Sul, criaram o Clube dos Treze e um torneio com duas espécies de turnos; um Verde, com os treze e um Amarelo, neste incLulindo o América.
A Diretoria de então não aceitou disputar o título mais inferior e... foi praticamente eliminado dos torneios realizados a partir daí. Disputou alguns Brasileiros B, mas nunca conseguiu atingir o A. Mesmo dos estaduais ficou ausente.
Agora está tentando reerguesse, está disputando a 2ªdivião do Estadual, e vem se saindo muito bem, estando na liderança.
Se conseguir uma boa perfomance, retornará à primeira divisão em 2010

Deixo aqui meus PARABÉNS, ao AMÉRICA FUTEBOL CLUBE pelos seus 105 anos de fundação E QUE TENHA AINDA GRANDES VITÓRIAS NO FUTURO.

Norma Hauer