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"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Nosso SinhÔ do Samba - Edigar de Alencar




Fosse pela aparência, a figura de José Barbosa da Silva – negro, desdentado, “feio e bexiguento, de físico maltratado” – dificilmente seria aceita nos dias de hoje em nossa sociedade que tanto cultiva as efemeridades e o nenhum talento. Entretanto, nos anos 20 do século passado, a simples presença de Sinhô causava alegria, respeito e muita admiração em que ambiente fosse, embora a sua estampa. Sua fama explica muita coisa - às vezes em cores trágicas -, das gêneses da cultura popular e sua transformação em cultura de massa ou, melhor dizendo, em cultura comercial. Em alguns casos, explica inclusive a extinção de outras formas de expressão popular. Que o digam, os defensores empedernidos do chamado “ samba de raiz”, a tradição. O fato é que no tempo de Sinhô, samba de raiz é no mínimo um pleonasmo, estamos na maternidade do citado, cidadão tão maltratado em nossos dias. Próximo de fazer cem anos - efeméride que causará certamente uma enxurrada de palavras -, o samba causa embaraços filosóficos. O samba é como sempre foi música de gente pobre, de favelado, de gente mal instruída – por vezes analfabetos, quase sempre os negros; o samba ainda é marginal, coisa de desocupados e desordeiros, de cachaceiros, de malandros, de gente à toa, assim se pensa; no tempo de Sinhô, eram recolhidos ao xadrez o sambista e seu violão e seu pandeiro, a bem da ordem e dos bons costumes, não custa dizer. Não fossem as baianas, em suas rodas de samba no fundo dos quintais, quem daria guarida ao sambista? Quem der atenção aos versos do dito primeiro samba – Pelo telefone – perceberá que não é esta a certidão de nascimento do samba, mas antes o seu atestado de bons antecedentes, afinal o chefe da polícia mandava avisar. Para aquela sociedade, algo como engolir um remédio necessário à saúde da alma. Exatamente por isto, interessa-nos hoje e sempre a trajetória daquele que foi um pioneiro, o homem que levou o samba aos salões, que retirou o samba da marginalidade e deu-lhe lustro e a dignidade que merecia. Certa feita, Sinhô tentou ser estafeta dos Correios, encontrou os amigos da roda de samba, ficou de conversa, encheu a cara e perdeu a correspondência. Ainda bem. Como é possível prever - sem medo do erro -, as inúmeras dissertações, teses, ensaios, antologias e coisas do gênero que serão publicadas daqui até o aniversário desse mais genuíno cidadão brasileiro – o nosso samba de cada dia -, espero ansioso que nossos escritores tenham a dignidade de considerar o livro de Edigar de Alencar, neste caso, absolutamente necessário. Somente em sebos é possível encontrá-lo, devo advertir. Barulhinho bom, eu diria.


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