Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

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sexta-feira, 12 de março de 2010

À Baco

Sinto mãos em meu corpo
que não conheço.
Tantas bocas
para poucos beijos.

Nus,
os corpos derretidos
se misturavam.

Carícias rudes
tapas suaves.

O cheiro de alccol
ganhava cor.

Nossos olhos
se perdiam
me meio há tantos
movimentos.

Uma noite
que durou todo o dia.

12 de Março de 2010

Phelipe B. Braga

VEM CONHECER RECIFE por Rosa Guerrera


O cantor e compositor Reginaldo Rossi prestou uma homenagem a cidade de Recife , dentro do seu estilo bem peculiar . E eu , aproveitando o ensejo , parabenizo a minha cidade pelos seus 473 anos , transcrevendo a letra dessa música que todo recifense sabe cantar .

Recife Minha Cidade
(Reginaldo Rossi)

Hei! Vem cá que eu quero te mostrar
Hei! A minha cidade, o meu lugar
Hei! Recife tem um coração
Hei! Tem muito calor, muita emoção

O povo daqui gosta de cantar
Tem religião, gosta de rezar
Tem cristianismo, tem candomblé
Tem muita cachaça e muita mulher

Tem Luiz Gonzaga, Rei do Baião
Tem Alceu Valença, anunciação
E em Olinda o carnaval
É o melhor do mundo
É sensacional

Recife tem encantos mil
É... É um pedacinho do Brasil
É um paraíso tropical
Tem... Tem um acervo cultural

Ela é a Veneza desse Brasil
É entrecortada por muitos rios
A capital do meu Pernambuco
Capitania que deu mais lucro

Ela é a cidade que viu surgir
grandes heróis da nossa nação
O negrão Henrique e o branco Negreiros
O índio Felipe e o Camarão

De Porto Alegre até Boa Vista
De Porto Velho até Natal
Em diagonal até Fortaleza
O Brasil, eu sei, tem muita beleza
Mas sou de Recife e devo cantar
A minha cidade, o meu lugar
Você não entende se não quiser
Tem muita cachaça e muita mulher



ANIVERSÁRIO DE RECIFE ! 473 ANOS ! por Rosa Guerrera


A História da região inicia-se em 1534, quando Portugal criou as capitanias hereditárias.
A Capitania de Pernambuco foi dada a Duarte Coelho Pereira; no mesmo ano de 1534, foram fundadas as vilas de Igaraçu e Olinda. Pernambuco foi uma das poucas capitanias que prosperaram, graças à boa adaptação que a cana-de-açúcar teve ao solo da região.
Recife, por décadas, foi apenas o porto utilizado para escoar a produção local e receber peças da metrópole; o nome Recife deriva da faixa de recifes que acompanha boa parte do litoral da região. Essa situação alterou-se a partir de 1630, quando os holandeses (atraídos pela riqueza da cana-de-açúcar) ocuparam Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte.
Acostumados que estavam às terras planas da Holanda, os holandeses preferiram estabelecer-se em Recife. Em 1637, o conde Maurício de Nassau assume o governo das possessões holandesas no Brasil. Culto, Nassau conduziu uma revolução urbanística na cidade: ruas foram planejadas e traçadas, várias pontes foram construídas; Nassau trouxe da Europa grandes arquitetos, engenheiros e paisagistas que deram um ar de metrópole à cidade do Recife.
A infra-estrutura que se criou ao longo dos séculos para receber os comerciantes foi adaptada para receber turistas de todas as partes do Brasil que chegam, atraídos pela riqueza cultural e pelas belezas naturais da região.
Hoje , completando os seus 473 anos Recife salta aos olhos dos visitantes a riqueza de culturas, mistura de elementos europeus, índios e negros, que se reflete nos ritmos e sabores da cidade. E essa riqueza vem rodeada por algumas das mais belas praias do Brasil.. Parabéns Recife !

Na última hora

Quando me atingiram na face
No dia que eu cantava nos prados
Fugi...
Fugi pisando nas pétalas de rosas
E meu sangue, tingindo-as de rubro
As feridas, arrancadas nos trocos
Das árvores caíram ao chão,
Expondo as chagas? Jamais
Expondo o perfume que exala
Meus poros...
Quando no último salto,
De um abismo para o outro,
Alvejado no peito.
A bomba quase (e) terna parou
E infestou de azul,
(A cor que foi possível)
O céu... já que pelo menos
Nas pétalas já tinha deixado
Minhas pegadas.

Foto: Sónia Cristina Carvalho



Ame e dê vexame aborda is dificuldades de uma vida amorosa numa sociedade voltada para o que está em oposição aos sentimentos. São textos que, ao relatar experiências pessoais, encerram lições valiosas para quem precisa assumir a precariedade de uma existência que não descarte o amor. Eles funcionam como um roteiro leve e bem humorado em favor da gratificação permanente, apesar das advertências de uma sociedade baseada na exploração e no consumo. Na série de textos sobre assunto tão candente, o autor explica as vantagens de mergulhar profundamente naquilo que pode causar escândalo em determinado momento, mas que revela-se, com o tempo, corno a única grande motivação de se continuar vivo.

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Editora: Novo Paradigma
Autor: ROBERTO FREIRE

Muito estranho


(Cuida Bem de Mim)
Composição: Cláudio Rabello / Dalto



Hum!
Mas se um dia eu chegar
Muito estranho
Deixa essa água no corpo
Lembrar nosso banho...

Hum!
Mas se um dia eu chegar
Muito louco
Deixa essa noite saber
Que um dia foi pouco...

Cuida bem de mim
Então misture tudo
Dentro de nós
Porque ninguém vai dormir
Nosso sonho...

Hum!
Minha cara prá que
Tantos planos
Se quero te amar e te amar
E te amar muitos anos...

Hum!
Tantas vezes eu quis
Ficar solto
Como se fosse uma lua
A brincar no teu rosto
Cuida bem de mim
Então misture tudo
Dentro de nós
Porque ninguém vai dormir
Nosso sonho...(2x)

Literatura de Cordel - As proezas de João Grilo



João Martins de Athayde


João Grilo foi um cristão
que nasceu antes do dia,
criou-se sem formosura,
mas tinha sabedoria
e morreu depois da hora
pelas artes que fazia.
E nasceu de sete meses,
chorou no bucho da mãe;
quando ela pegou um gato
ele gritou: "não me arranhe
não jogue neste animal
que talvez você não ganhe".

Na noite que João nasceu
houve um eclipse da lua
e detonou um vulcão
que ainda continua,
naquela noite correu
um lobisomem na rua.

Porém João Grillo criou-se
pequeno, magro e sambudo
as pernas tortas e finas
a boca grande e beiçudo.
No sítio onde morava,
dava notícia de tudo.
João perdeu o pai
com sete anos de idade.
Morava perto de um rio,
ia pescar toda tarde.
Um dia fez uma cena
que admirou a cidade.
O rio estava de nado,
vinha um vaqueiro de fora,
perguntou: “dará passagem?”
João Grilo disse: “inda agora,
o gadinho de meu pai
passou com o lombo de fora”.

O vaqueiro botou o cavalo
com uma braça deu nado,
foi sair já muito em baixo,
quase que morre afogado!
Voltou e disse ao menino:
“você é um desgraçado!”

João Grilo foi ver o gado
para provar aquele ato,
veio trazendo na frente
um bom rebanho de pato:
os patos passaram n’água.
João provou que era exato.

Trovinhas despretensiosas - por Socorro Moreira


Tomara que chegue Maio
Pra Julho chegar também
Enquanto isso eu me escondo
De mim, e de ti também !
.
Se antes eu não te via
Agora te vejo bem
Somos velhos conhecidos
Agora te quero bem !
.
Passado a gente discute
Presente quer se dar bem
Futuro é sempre o novo
Do velho que se deu bem !
.
Não choro a minha tristeza
Tão ligeira , sempre passa
Comemoro a alegria
De te encontrar por acaso
.
Os amores bem lembrados ...
São sempre os aventurados
No "Auto da Compadecida"
Permanecem os consagrados !
.
Aqui termino esses versos
Na fumaça , na tragada
Tua lembrança é clara
Não duvides, tá na cara !
Entre alhos e bugalhos
- Claude Bloc -
Vou assim
entre alhos e bugalhos.

Encontro-te
em tantos dos meus sentimentos
que me perco
na velocidade dos meus sonhos.

Eu, eu apenas
querendo simplesmente
ser o sopro ou o estro
o ar que te faz navegar pelo tempo.

Nesse espaço,
sou um corpo feito de brisas.

Olhar-te, eu o faço
em todos os momentos
com olhos de vento
... e quero
nos dias iluminados

trazer-te para perto
e ser absolutamente
a tua parte
e minha contraparte.


Claude Bloc

Não me lembro de ti - por José do Vale Pinheiro Feitosa

Logo tu, esse sinônimo de lembrança,
Esta exuberância de Chapada do Araripe,
De acordar a sonolência da preguiça,
De mover as moendas do engenho,
E depois aproveitar as águas levadas.

Como me esqueceria desta presença?
Capaz de flutuar no mais escuro da tristeza,
Submergir no manto inconcluso desta vida mutante,
E como as baleias esguichar alto as lágrimas sentidas,
Colhidas, firmes como o frutos de buriti da segunda-feira.

Não me lembro de ti,
Como nem lembro de mim,
De nós, deles, daqueles minutos selecionados,
Como o relógio da estação de trens,
A estátua da samaritana,
O Cristo de braços abertos,
A cidade a brincar de golfinho,
Fugidia, pulando e mergulhando nos abismos da lembrança.

Não me lembro de ti,
E mesmo que me digas,
mas eu me lembro de ti!

Juntemos a afirmação à minha “deslembrança”
Ambas se anularão como a antimatéria,
E ao final teremos:
Inteiros, destacados, com todos ângulos e lados,
Nós os deslembrados,

A nossa própria natureza.
A natureza que não precisa de lembranças,
Sobretudo energia a gerar no presente,
As lembranças quando o presente se tornar futuro.
Mas aí o futuro já será presente e tudo se resolve.

Eu fui ao Crato - por José do Vale Pinheiro Feitosa

O Cariri continua lindo. Com seu verde hidratado, seus babaçus arrojados, quintais floridos e toda a curvatura que se posta respeitosa ao talude magno da Chapada do Araripe. Este vale é mais ainda, pois se abre sobre a planície das léguas tiranas dos sertões. Não é como aqueles vales acanhados, apertados entre saliências que estão ali para dizer-lhe: és vale pelo meu poder permissionário. O Cariri é vale a desafiar o semi-deus da caatinga circundante.

Logo no primeiro dia andei pelo centro da cidade do Crato. Fervilhante centro. Tão comercial como se reduziu tudo aquilo que antes fora sociedade e política. As famílias migraram, as praças perderam a ambiência do debate, confesso que senti certa vergonha de, na madrugada de uma sexta-feira, encontrar a Praça da Sé coalhada de copos descartáveis e sobre suas calçadas as varetas de ferro das barracas da “camelotagem”. Tudo só comércio.

Um comércio sem peias. Apenas propaganda e uma vontade imensa de vender. Uma espécie de “crack” fumado todas as manhãs ao se abrirem as caixas registradoras. Um vício a matar a cidade. A cidade se reconhece pelas suas ruas e suas ruas apenas existem pelas suas edificações. E as edificações? Estão escondidas, aprisionadas, humilhadas pelas placas um tanto imbecis da mercancia. A maior demonstração de que tudo anda sem medidas se vê por uma placa imensa “deletando” a visão do prédio do Coronel Antonio Luiz. A cidade foi adonada por uma volúpia que apenas pode ser controlada por fora, talvez pelo poder público se ele se manifestar. Pois não se manifesta. Como aquele biombo que esconde um dos prédios mais representativos da alma da cidade e que faz uma propaganda de uma coisa esdrúxula: DENTISTA POPULAR.

Dentista popular. Lembrou-me um incidente do grande Advogado Sobral Pinto com um coronel nos idos da ditadura militar. O Coronel: Dr. Sobral nós estamos inventando a democracia à brasileira. Ao que o mestre rebateu: não exista tal, o que existe é peru à brasileira. Não existe dentista popular, pois se é dentista apenas existe para atender ao povo. O comércio do centro do Crato parece que inventa a fachada colorida sem história e sem vida, apenas loucura de droga.

Neste mesmo centro não se precisa ir ao Chile e nem ao Haiti. O terremoto aconteceu ali mesmo. No que antes era a quadra central da vida social, política e histórica da cidade. Alguma decisão sem humanidade derrubou todo um quarteirão, deixando os escombros como prova cabal de que a propriedade privada sobrepõe-se a tudo, inclusive ao interesse histórico, social e, portanto, histórico. Mata-se a alma do Crato como os fumadores de “crack” fazem com a própria, em caráter particular.

À noite um grupo de pessoas da cidade me deu o sentido de que tudo existe, tudo ainda acontece. Na casa de Roberto Jamacaru, tive inveja de quem lá não esteve. O Crato ainda existe. O Cariri é lindo. Esta beleza é mais que a fugacidade “daqueles fumos inebriantes”.

Quem será a próxima vítima - por José do Vale Pinheiro Feitosa

Este texto o fiz pensando no Ceará, sem saber da morte do Clauco em São Paulo. Mesmo assim o mative já que faz parte da mesma questão.

O surto de violência que de algum modo atingiu todos os países centrais, se alastrou pelo Brasil, chegou primeiro às capitais e se instalou no interior do país. Como toda “pandemia” existe variações locais, a depender de fatores sociais, políticos e econômicos, mas tem algumas características bem comuns.

Entre as características mais comuns, ele atinge com maior incidência aos jovens, pobres e do sexo masculino. A natureza básica ainda continua tomando por ódio as diferenças sociais e econômicas, recebendo as variações locais como sociedade de consumo, bebidas alcoólicas, drogas, corrupção política e no aparelho de Estado. A considerar a materialidade dos meios com os quais se realiza o ato violento: armas de fogo leve, veículos motorizados para evasão rápida e rádios de comunicação à distância (celulares).

A natureza das políticas públicas tem muito peso na forma como a violência se dissipa no tecido social. No Ceará, por exemplo, a percepção da sociedade é que a violência se amplia, que o governo não consegue implementar uma política adequada ao tamanho do problema e que a própria sociedade se encontra num estágio confuso que pode levar a diversos efeitos.

Uma abordagem rápida destas três questões: percepção, política de segurança do governo atual e o trato político (social) da questão. A percepção é paralisante. Há uma sensação generalizada que todos já foram acometidos pelo surto, que o surto está fora de controle, que o modo como uma pessoa pode se vitimar é duplamente contraditório: certo e aleatório. Assim como a morte, certo que vem só não se sabe como. É o próprio limite da paralisia.

A mídia ajuda a formar esta sensação paralisante sem dúvida alguma. Muita gente ganha a vida a criar um “clima” de que tudo descambou e que a resposta se encontra na própria violência. Assim como um Canudos em suas guerras terminais. Outro dia num velório de uma empresária vítima de assalto, uma professora de sociologia, com pesar de sua ciência dizia: tem que matar alguns para que outros se assustem e se inibam. Assim como o Barão de Jeremoabo pensava do Conselheiro.

Sobre a política do governo do Ceará com o assunto? O governo está perdendo o debate por uma série de fatores. Não apresenta e discute as estatísticas de violência em face desta política. Valorizou excessivamente o efeito externo, com veículos caríssimos, jovens bem vestidos e há uma crítica que tais “carrões” se tornaram apenas meios de locomoção e passeio destes jovens. Enfim, o governo perde na comunicação social. Quem já sofreu algum tipo de agressão traduz a política de segurança do governo Cid Gomes como a polícia do pós fato. Apenas existe para registrar o acontecido. E tem algo mais grave: dentro das corporações de segurança há um enorme descontentamento salarial e, certamente, uma autofagia que redunda em sabotagem das ações táticas e estratégicas.

Se o Cid Gomes pode, politicamente, pagar caro por sua política, não menos as soluções desta mesma sociedade, paralisada e crítica da política do governo deixa de ser um desastre. Ampliam-se os esquemas privados de segurança. Cria-se a pior espécie de “sociedade policial”, aquela que não é mais republicana, se forma por “milícias” avulsas e armadas como se todos vivessem aqueles velhos esquemas do sistema feudal. Se tivermos juízo faremos o debate correto sobre o assunto.

E certamente pensar o assunto é criar um pacto social que traga não a paz das armas, nem a sociedade do medo (é flagrante como os ricos, agastados pelas investidas de jovens assaltantes desejam implantar o medo entre os mais pobres), mas a paz do debate, da divergência como método de apreensão do que já diferente e a convergência como sistematização de políticas públicas e republicanas.

Glauco Villas-Boas




O cartunista Glauco Villas-Boas - o criador do personagem "Geraldão" - foi assassinado com quatro tiros nesta madrugada, durante um assalto na casa em que morava, em Osasco, São Paulo. O filho dele, Raoni, de 25 anos, também morreu, a caminho do hospital Albert Sabin. Glauco e o filho foram baleados ao tentar convencer os dois bandidos a desistir do assalto. O cartunista tinha 53 anos.

Segundo o advogado da família, Ricardo Handro, dois ladrões renderam uma filha de Glauco, que chegava de carro em casa, por volta de 0h20m da madrugada desta sexta-feira, e forçaram a entrada na residência, que fica em um bairro de chácaras, em Osasco, perto do Pico do Jaraguá, Zona Oeste de São Paulo.

Dentro da residência, segundo o advogado, os ladrões passaram a ameaçar a família e agrediram Glauco e a mulher dele com coronhadas.

Leia mais em: Cartunista Glauco, criador do 'Geraldão,' é morto durante assalto em SP
No ar
- Claude Bloc -


Estou no ar.
Se ando ou se paro
Caminho entre nuvens...


Muitas vezes
mergulho em céus claros

e encontro num sol incandescente
sorrisos de ontem
retalhos de hoje,
de meu íntimo desejo
de aquecer-me
ou de (re)encontrar-me.

Outras vezes
escorrego em dias cinzentos

e me recolho.
Encurto o passo
e nessas horas tenho medo
vai que eu me perca?


Claude Bloc

Dentro de mim mora um anjo



Composição: Sueli Costa/Cacaso



Quem me vê assim cantando
Não sabe nada de mim
Dentro de mim mora um anjo
Que tem a boca pintada
Que tem as unhas pintadas
Que tem as asas pintadas
Que passa horas à fio
No espelho do toucador

Dentro de mim mora um anjo
Que me sufoca de amor
Dentro de mim mora um anjo
Montado sobre um cavalo
Que ele sangra de espora
Ele é meu lado de dentro
Eu sou seu lado de fora

Quem me vê assim cantando
Não sabe nada de mim
Dentro de mim mora um anjo
Que arrasta suas medalhas
E que batuca pandeiro
Que me prendeu em seus laços
Mas que é meu prisioneiro

Acho que é colombina
Acho que é bailarina
Acho que é brasileiro
Quem me vê assim cantando
Não sabe nada de mim

Cinema Antigo

Composição: Sueli Costa e Cacaso


Se eu pudesse escolher o seu desejo
Eu queria renascer no seu amor
Todo dia pra você, todo dia só pra mim
Nosso dia vai durar eternamente
Quero apenas a promessa do seu beijo
Quero apenas um vintém do seu amor
E sonhar os sonhos seus
Dar adeus a todo adeus
Sem fantasia, um tempo só, um dia

Cacaso



Antonio Carlos Ferreira de Brito nasceu em Uberaba - MG, em 13 de março de 1944. Grande poeta, foi um dos principais parceiros nas composições de Sueli Costa e também de Nelson Angelo. Faleceu no Rio de Janeiro em 27 de dezembro de 1987.

Para falar sobre seu trabalho, trazemos um artigo de Heloísa Buarque de Hollanda, uma das grandes responsáveis pela divulgação e reconhecimento das novas gerações da poesia brasileira dos anos 70 até os dias de hoje.


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O poemão de todos nós
Heloísa Buarque de Hollanda*

Mesmo inacessível por mais de 15 anos, a obra de Antônio Carlos de Brito, o Cacaso, não desapareceu do nosso panorama poético. Ao contrário, sua presença nos idos da década de 1970 continua sendo uma forte referência para os poetas da geração 1980/90. Talvez por causa disso, a atual edição de sua obra completa, em "Lero-Lero", não seja apenas a redescoberta do poeta Antônio Carlos de Brito, mas uma importante dívida saldada para a compreensão da poesia dos anos 70.

Poeta em tempo integral, ensaísta, letrista, desenhista, principal articulador e teórico da poesia marginal, Cacaso foi, antes de mais nada, personagem totalmente singular numa hora em que a poesia foi eleita como a forma de expressão predileta da geração que experimentou, de forma cabal, o peso dos anos de chumbo. Num certo sentido, Cacaso nos colocou uma armadilha interessante: pensar sua poesia sem pensar na sua vida é quase errado.

Sobre a personagem Cacaso, que começava insofismavelmente no layout que criou para si próprio, não posso evitar de citar Roberto Schwarz, que, com argúcia, fez o desenho mais definitivo que temos do poeta (e como pára-efeito, também de sua poesia):

"A estampa de Cacaso era rigorosamente 68: cabeludo, óculos John Lennon, sandálias, paletó vestido em cima de camisa de meia, sacola de couro. Na pessoa dele entretanto esses apetrechos de rebeldia vinham impregnados de outra conotação mais remota. Sendo um cavalheiro de masculinidade ostensiva, Cacaso usava a sandália com meia soquete branca, exatamente como era obrigatório no jardim-de-infância. A sua bolsa a tiracolo fazia pensar numa lancheira, o cabelo comprido lembrava a idade dos cachinhos, os óculos de vovó pareciam de brinquedo, e o paletó, que emprestava um decoro meio duvidoso ao conjunto, também".

Sabidíssimo, meio interiorano, meio irônico, ressabiado, conseguindo manter uma ambigüidade cortante, Cacaso foi fiel a esse personagem em todas as situações. Como poeta, como professor, como letrista, como amigo.

Quando escreve, por exemplo, o poema "Na Corda Bamba": "Poesia/ Eu não te escrevo/ Eu te/ Vivo/ E viva nós!", num poema que, à primeira vista, poderia ser classificado como um versinho "rápido e rasteiro", Cacaso mostra o que seria o traço distintivo do conjunto de sua obra. Ao escrever "Na Corda Bamba", o poeta não estava na certa defendendo uma posição ingenuamente vitalista nem mesmo pregando a gratuidade como valor poético. O poema, que se tornou um de seus best-sellers e foi dedicado a Chico Alvim, tem um sentido bem mais fino e ácido do que aparenta.

Cacaso era um aplicado teórico em tempo integral. A questão que levanta aqui -a gratuidade como ponto de partida e pressuposto da criação artística- é, na realidade, um problema que perpassou vários estudos do crítico-poeta. No artigo "Alegria da Casa", de 1980, diz: "O modernismo, para quem a criação é igual à realização, em ato, de um ideal, é portanto um esforço empenhado em prol da gratuidade, da autonomia das coisas e dos valores, um jeito de constranger para que a espontaneidade pudesse aflorar sem constrangimento, o que em si já configura um paradoxo".

Voltando ao emblemático poema de Cacaso, tudo indica que a aparente gratuidade proposta no poema coloca em pauta a contradição que inevitavelmente se esboça quando nos aproximamos de um poema "autenticamente marginal". Ou seja, quando o poeta marginal propõe uma quase coincidência entre poesia e vida, essa proposta poderia, no limite, resultar no desaparecimento da própria poesia. É a produção poética literalmente "na corda bamba" (que aliás dá nome não apenas ao poema, mas também ao livro), na qual o poeta marginal consegue equilibrar-se quase sempre com alguma dificuldade. Um caminho difícil e conflituado que pode ser entrevisto na própria trajetória da obra poética de Cacaso.

Em 1967, Antonio Carlos de Brito lança "Palavra Cerzida", um livro ainda muito tímido e dentro dos padrões literários do momento. Já "Grupo Escolar" (1974), uma edição que traz a marca da produção coletiva e semi-artesanal, mostra o poeta pressentindo outros caminhos, identificado com o grupo que integra a "Coleção Frenesi": Chico Alvim, Geraldinho Carneiro e Roberto Schwarz.

Heloísa Buarque de Hollanda
é professora titular de Teoria Crítica de Cultura da
Escola de Comunicação da UFRJ
Reproduzido com autorização da autora.


Neil Sedaka




Neil Sedaka (Brooklyn, New York, 13 de março de 1939) é um cantor, pianista e compositor americano geralmente associado com o Brill Building. Ele fez parceria com Howard Greenfield para compor muitos de seus sucessos, tanto para si como para outros cantores. A voz de Sedaka é identificada com a de tenor. O maior sucesso de Neil é a canção "Oh Carol" de 1959. Além de "Oh Carol", outras canções de Neil Sedaka fizeram sucesso entre o final da década de 1950 e início dos anos 1960. "The Diary" (provavelmente de 1958) fez parte da trilha sonora da novela Esplendor, da Rede Globo. As músicas "Breakin' Up Is Hard To Do" e "Calendar Girl", ambas de 1962, além de "Laughter in the Rain" são outros sucessos do cantor. Curiosidade: quando o grupo sueco ABBA estava no início de carreira, Neil Sedaka ajudou a fazer a versão em inglês de uma das primeiras canções do grupo nessa língua. A canção é Ring Ring,incluida no álbum de mesmo nome, em 1973.
wikipédia

Liza Minnelli




Liza Minnelli, filha da lendária Judy Garland e do seu segundo marido, o diretor Vincent Minnelli, consagrou-se como cantora e atriz no filme "Cabaré", que lhe deu o Oscar em 1972.

Liza apareceu nas telas pela primeira vez na cena final do filme "In the Good Old Summertime" estrelado pela sua mãe e Van Johnson. Aos 16 anos, começou na Broadway com um revival do musical "Best Foot Forward". No ano seguinte apresentou-se em Londres com sua mãe. O público adorou e sua carreira musical decolou. Retornou a Broadway aos 19 anos e ganhou o prêmio Tony por "Flora, the Red Menace". Recebeu outro Tony por "The Act" em 1978 e um Tony especial em 1974. Em 1984, foi indicada por "The Rink", mas perdeu.

O filme "The Sterile Cuckoo",de 1969, garantiu sua primeira indicação ao Oscar. Em 1972 ganhou como melhor atriz por "Cabaré". Liza Minelli foi a única vencedora da Academia cujos pais são ambos vencedores também. Ganhou ainda um Emmy, em 1972, pelo especial para a TV, "Liza com Z".

Em 1990 recebeu um Grammy. Ganhou também um Globo de Ouro por "Cabaré" e outro pelo filme para a TV "A time to live".

Ficou conhecida pelo seu estilo vocal poderoso, como em suas canções "Cabaré" e pelo tema de "New York, New York". Como sua mãe, teve diversas uniões desfeitas. Seu primeiro marido foi Peter Allen, com quem ficou de 1967 a 1972. Depois se casou com o produtor e diretor Jack Haley Jr . O casamento durou de 1974 a 1979. O terceiro marido foi o escultor Mark Gero, de 1979 a 1992. O quarto foi o "promoter" David Gest, de 2002 a 2003. Além disso esteve ligada romanticamente a Martin Scorsese, a Petter Sellers, ao pianista Billy Stritch, a Mikhail Baryshnikov e ao ator Desi Arnaz Jr.

uoleducação

Nelson da Rabeca



Nelson dos Santos, conhecido como Nelson da Rabeca (Joaquim Gomes, 12 de março de 1929), é um rabequista, acordeonista e compositor brasileiro.

Assim como sua família, sua principal ocupação sempre foi a agricultura, principalmente a lavoura da cana-de-açúcar. Casado com Benedita, tem dez filhos.

Sem ter frequentado escola, portanto, sem saber ler, e sem precedentes musicais na família, aprendeu a tocar rabeca sozinho, já por volta dos cinquenta anos.

Sediado em Marechal Deodoro, em Alagoas, paralelamente ao trabalho na agricultura, toca rabeca e compões baiões, xotes, marchas e forró pé-de-serra. Também toca acordeão. Começou a construir rabecas na década de 1970, alcançando renomada originalidade e perfeição no ofício que aprendeu sozinho, seguindo um processo de experimentação, até chegar a um resultado que lhe satisfizesse. Para seu trabalho, pesquisa madeiras diferentes, objetivando a beleza e o resultado sonoro do instrumento. Sua madeira preferida é a jaqueira que, segundo ele "além de ser bonita e dar bom som, não acaba nunca". Escolhe madeiras duras e pesadas para a construção de seus instrumentos que têm como marca serem robustos e resistentes.

Com o apuro de seu trabalho como compositor, instrumentista e especialmente como construtor de rabecas, tornou-se conhecido na comunidade de Marechal Deodoro, mas foi com a pesquisa de José Eduardo Gramani, que ganhou reconhecimento não só em Alagoas, mas também de estudiosos de vários pontos do Brasil. Gramani, ao entrar em contato com a primeira rabeca de Nelson, ficou tão impressionado, com aquele meio de expressão musical e com sua riqueza timbrística que se sentiu inspirado a compor vários temas, que se tornaram peças específicas para aquela rabeca. Essas peças tiveram registro em um CD, gravado em 1994.

Em 1998, objetivando fortalecer esse reconhecimento, foi fundada a "Associação dos Amigos de Nelson da Rabeca", encabeçada por artistas, intelectuais e agentes culturais alagoanos, que vêem nele um dos mais legítimos representantes da cultura popular alagoana e que, voluntariamente, promovem seu trabalho artístico.

São diversos os músicos e pesquisadores que, atestando a qualidade dos instrumentos de Nelson, registraram sua admiração e respeito a ele, o musicólogo Wagner Campos, sobre ele, afirmou: "Dominando todos os processos de sua arte musical, do corte da madeira,passando por todas as etapas específicas da construção de cada um de seus instrumentos, até a criação e interpretação de suas próprias composições, Seu Nelson trabalha apoiado em um sabedoria secular, representando o ponto de chegada de conhecimentos muito antigos trazidos na bagagem dos colonizadores, diminuíndo distâncias entre passado e presente, tradição e atualidade".

Em 2003, foi convidado para entrevista, apresentando-se no "Programa do Jô", na TV Globo.

wikipédia

Dona Almina Arraes recebe a visita de duas interessantes mulheres : Rosineide e Maria Alice- Fotos de Joaquim Pinheiro

Linda, bem sentada e bem centrada. Essa mocinha vai longe !
Na paz de um jardim, o encontro da amizade solidificada .
Três gerações , e algo em comum : inteligência , beleza e simpatia. Verdade no sorriso, sabedoria nas escolhas.
Dona Almina é lucidez e talento ; determinação de continuar ensinando e aprendendo !
Rosineide , eterna adolescente, na alegria de vida; personalidade destemida ! Uma amiga que não sabe dizer não , quando se trata de generosidade.
Maria Alice, pura esperteza e graciosidade. O xodó de todos que a conhecem. É minha sobrinha torta preferida.
Adoro a companhia das três... Pena que não participei, nem registrei o momento, mas Joaquim Pinheiro o fez !
Abraços,
Socorro moreira



Franklin de Oliveira


José Ribamar Franklin de Oliveira (São Luís, 12 de março de 1916 — Rio de Janeiro, 6 de junho de 2000), mais conhecido como Franklin de Oliveira, foi um jornalista e crítico literário brasileiro.

Começou a carreira de jornalista aos 16 anos, no Diário da Tarde, e em 1938 já estava no diário A Notícia, do Rio de Janeiro. Na década de 1930 trabalhou na revista Pif-Paf e, em 1944, foi para O Cruzeiro, onde tornou célebre sua coluna "Sete Dias", que escreveu por 12 anos.

Em 1956, tornou-se editorialista e crítico do Correio da Manhã. Quatro anos depois, mudou-se para Porto Alegre, onde, no governo de Leonel Brizola, foi secretário-geral do Conselho de Desenvolvimento Econômico do Rio Grande do Sul e delegado desse estado no Banco de Desenvolvimento Regional do Extremo Sul. Exerceu cargos importantes na Petrobrás até que o governo militar instalado em 1964 cassou seus direitos políticos com base no AI-1.

De volta ao jornalismo, foi redator n'O Globo e, na década de 1970, passou a colaborar com a Folha de S.Paulo, assinando artigos políticos.

Em 1983, recebeu o prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto da obra, quatro anos depois de conquistar o prêmio Golfinho de Ouro de Literatura do Museu da Imagem e do Som, do Rio de Janeiro. Era membro da Academia Maranhense de Letras.

O Reverso da Saudade

O Reverso da Saudade

Às vezes sinto falta de alguma coisa que eu nem sei o que é. Algo que, me parece, já esteve em mim, porém, não consigo identificar. Fico imaginando que poderia ser qualquer coisa da minha infância que hoje não posso mais ter. Penso então imediatamente na minha cidade natal. Pacata, pequena e com poucos atrativos. Mas com apenas três anos minha família mudou-se para outra cidade que, embora, seja mais nova, é umas das mais prósperas do estado.

Com dezoito anos voltei novamente nesta minha pequena terra. Ela continuava igual, senão, menor, isso era incrível! Poucas coisas tinham mudado e as notícias que vinham de lá através dos familiares nestes anos de ausência eram apenas de óbitos. Mas isso não me entristecia, na verdade, a maioria das pessoas que já tinha se ido, não era conhecida, nem amiga ou um que outro parente longe que eu só tinha ouvido falar de nome. Entristeço-me, claro, com minha convicção, por vezes, de que a vida é um tanto cruel (pois muito breve), na medida que vamos perdendo nossos entes queridos para quem sabe nunca mais, pelo menos não assim de corpo e abraços e beijos e carinhos e afetos e tremenda saudades que ficará até então irmos também, para o além.

Mas a falta que eu sinto não é esta. É uma falta impalpável. Quem sabe o mundo moderno tenha nos trancado, serena e seriamente dentro de nós mesmo. E que quando ao sairmos para uma volta na lua, a rua já não seja a mesma e não só de 'boas noites' poderíamos atravessar calmamente a cinética cidade em calçadas frívolas e tantas vezes traiçoeiras, mesmo nas cidades pequenas.

Quem sabe eu sinta falta de uma tranqüilidade exagerada, mas necessária para atravessarmos o cosmo com o pensamento tão longe de tudo e dentro do peito a vontade de um vago despertar de sonhos dourados como quando tragamos um pouco de fumo e álcool sem a preocupação do câncer eminente e do vício incontrolável. Apenas o sentir do despertar das estrelas como tantos sóis iluminando-nos, e nós como parte infinita deles. Quem sabe eu sinta saudades das velhas senhoras e senhores poeticamente nas suas janelas escuras a fitar as nuvens em busca de chuva para o refrescar da madrugada.

Ou que a saudade seja de um ombro amigo onde eu possa me desabafar por completo, narrando-lhe minhas tristezas de ser humano que vive sozinho desabafando angústias de um não sei o que, um vazio que parte para fora voraz, consumindo-me de pura incompreensão.

Mas hoje, longe de minha cidade natal, separado por uns 3 mil km e 30 anos mais ou menos, vejo que o que sinto é o oposto da saudade. É andando pelas ruas desta outra pequena cidade que vejo os velhinhos contemplativos nas janelas, a cinética inócua da cidade rolando pelos meus pés, com seus ébrios poetas pelas festas de aniversários de olhares meigos e carinhosos a deslumbrar um passeio aconchegante pela lua cheia, atravessando sim o cosmo das idéias e suposições musicais e poéticas e eu me desabafando num ombro amigo as angústias do ser humano que partirá um dia sozinho para um além das esperanças e reencontros.

Hoje o que sinto é o reverso da saudade, é um resgatar de devaneios esquecidos nas andanças e peripécias de um sonhador.