Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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segunda-feira, 27 de julho de 2009

Raízes históricas da rivalidade entre Crato e Juazeiro

Por Carlos Rafael Dias

Os antagonismos entre as duas principais cidades caririenses parecem ter no processo de emancipação política de Juazeiro e na Sedição de 1914 os seus momentos de maior tensão. Isso sem ignorar a posição contrária do clero cratense aos supostos milagres de Juazeiro, um antecedente que veio a fermentar esta rivalidade.

Da mesma forma, deve se considerar, como um importante fator dessa tradicional rivalidade, a ascensão econômica de Juazeiro, já no início do século xx, fruto das crescentes romarias. Por sinal, este foi o argumento das lideranças juazeirenses para motivar a campanha pela autonomia daquele que na época era um mero distrito do Crato. No entanto, a maior motivação pró-emancipacionista foi a insatisfação decorrente dos impostos cobrados, em benefício do Crato, sobre as receitas do comércio de Juazeiro.

Se havia toda uma matéria-prima pré-fermentada para o confronto, faltava quem se dispusesse a instigar a massa para a causa emancipacionista. Esse papel foi exercido pelos editores do jornal O Rebate, semanário que circulou entre julho de 1909 e agosto de 1911. O principal objetivo do órgão era divulgar a causa Juazeirense contra as acusações desferidas pela imprensa do Crato que qualificava o Juazeiro como antro de fanatismo e banditismo. Como um desdobramento da propaganda anticratense, a população, mobilizada, boicotou o pagamento de impostos recolhidos ao Crato.

Juazeiro foi elevado a município em 4 de outubro de 1911, quando Padre Cícero foi empossado como prefeito, fato que o iniciou oficialmente na vida política. Neste mesmo dia, foi assinado em Juazeiro o famoso Pacto dos Coronéis, uma tentativa de pacificar a região, bastante tumultuada pelas violentas deposições de coronéis por outros coronéis, com uso de milícias particulares formadas, notadamente, por jagunços e capangas.

No final de 1913, um senador cearense enviou, através do então deputado federal Floro Bartolomeu, uma carta ao Padre Cícero onde era tramada a deposição do coronel Marcos Rabelo, eleito presidente do Estado do Ceará ao derrotar o grupo do oligarca Nogueira Acióli, que governou com mão de ferro a província por longo tempo. Um ano antes, Padre Cícero tinha iniciada uma longa troca de telegramas com Franco Rabelo. Nos primeiros contatos, Padre Cícero refutava a informação de que ele estaria preparando um levante contra o governo do Estado. A denúncia, que o padre considerava uma intriga de políticos adversários, poderia resultar numa intervenção armada em Juazeiro por parte do governo estadual.

A sedição para depor Franco Rabelo irrompeu, como assim já se anunciava, no dia 8 de dezembro de 1913, com o desarmamento, em Juazeiro, de um destacamento da polícia do Estado que teria a incumbência de prender ou matar Floro Bartolomeu. No dia seguinte, vários políticos juazeirenses, como o prefeito João Bezerra de Menezes, sucessor do Padre Cícero, refugiaram-se no Crato. E o Crato virou alvo da milícia que Floro Bartolomeu recrutou entre famosos e temidos celerados vindos de várias partes do Nordeste.

Os cratenses, logicamente, sentiram-se ofendidos com a invasão. Testemunhos dão conta que os sediciosos, sob o comando de Floro Bartolomeu, teriam invadidos e saqueados residências e estabelecimentos comerciais, mesmo contrariando a ordem do Padre Cícero de que não houvesse violência e que deixassem livres algumas estradas que permitissem a fuga daqueles que não quisessem lutar.

Esses episódios conjugados são os principais vetores da rivalidade que vez por outra é requentada, principalmente, na ocorrência de polêmicas que envolvem a destinação de investimentos públicos dos governos federal e estadual para a região. Quando os grandes investimentos são alocados em benefício do Juazeiro, os cratenses se queixam da intervenção de um “conciliábulo do mal” formado pelos adversários da cidade.

Há quem diagnostique que toda essa problemática deriva de duas doenças adquiridas e que teimam parecer congênitas. Enquanto os cratenses são vítimas de uma letal “juazeirite”, os juazeirenses foram acometidos de uma incurável “cratite”. O mal é, pois, intrínseco ao antídoto: rivalidade só se cura com união de interesses que venham igualmente beneficiar as populações das duas cidades. Sem inveja, sem mesquinhez, sem retrocesso. Um remédio? A recém-criada Região Metropolitana do Cariri, que deve ser prescrita sem contra-indicações, apesar dos possíveis efeitos colaterais que podem causar em pessoas de espírito bairrista.
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MENINA DA RUA DA VALA - Edilma Rocha

O mundo se resumia apenas em uma rua na mente de uma criança. Os limites iam desde a casa do Sr. Antonio Alves até a oficina do Sr. Moreirinha. Sair mais adiante para a escola Pio X na praça da Sé, só acompanhada de Vilanir. E a alma de criança se deliciava com aquele imenso mundo de descobertas vividas apenas em uma rua. A rua da vala...

Menina sapeca, só uma entre três irmãos. As brincadeiras eram de meninos. Jogava bola no final da tarde enquanto todos trabalhavam na casa e depois de muito corre- corre e suja de barro, era hora de mudar para se tornar a princesinha . Vestido rodado, grande laço na cintura, meias de crochê, os cabelos eram penteados com capricho, afinal, todas as tardes as menininhas passeavam na calçada. Ao anoitecer a luz elétrica dava o sinal para apagar três vezes e tudo escurecia, era horade dormir. Tudo começava com um outro dia cheio de novidades na rua da vala...
Tinha o homem que vendia maçãs todas as quintas aguardado por todos com o dinheirinho bem apertado entre os dedos da mão. Vermelhas, brilhantes, lindas como a lembrança da história da Branca de Neve e estava ali mesmo , naquela rua. As duas da tarde, todos os dias, era do padeiro o caminho da calçada, pão dôce quentinho com a forma de jacaré. Coisas simples e deliciosas para a garotada. Sem deixar de falar do picolé de Bantim que os meninos traziam de uma audaciosa corrida atravesando o beco e chegando a praça Siqueira Campos. Os correios ficava na esquina para colecionar os selos. No prédio do palácio do comércio, a alta escadaria para a nossa felicidade, e ainda o escritório da Companhia Real que estampava nas paredes as fotos dos lindos aviões, pilotos e aeromoças. Os bangalôs da rua pertenciam as familias ricas, como Sr. Antonio Alves, Dr, Hermano Teles, Sr. Aderson Tavares. As outras eram simples e de paredes coladas , enfileiradas e todas com calçadas que perdiamos de vista até o canal...

O dia mais festivo era de chuva. Todos nas janelas admirando aquele rio forte e perigoso, sair , era proibido. As águas turvas e barrentas que vinhas dois dois lados da cidade, desciam com uma velocidade tão grande que levavam tudo pelo caminho. Um espetáculo agurdado todos os anos, e depois de tudo, a brincadeira dos barquinhos de papel de corriam pelas cochias e iam embora rapidadente... ficava uma arreia fininha para o jôgo de triangulo e bila, hora dos carrinhos e bonecas sairem de casa. Nas noites de São João podiamos ficar até a luz ir embora pois as fogueiras iluminam a rua da infãncia. Cada um recebia uma caixinha cheia de traque, pixites e bombinhas compradas em Sr Heleno. E tudo era festa !
Se ficasse dodói, os doutores estavam na rua, Dr. José Wlisses, Dr. Jéferson e Dr. Mauricio Teles, se precisasse estudar Juraci Batista estava nos esperando com a terrivel palmatória. Não havia doenças graves, só olhinho com dordolho que amanheciam fechados, nada que uma água morna não resolvesse. Bebia leite com toddy e tomava Emulsão Escot que o papai dizia que era pra não ficar burra e raquítica .

Felizes lembranças que ficaram para sempre de uma rua tão pequena e tão grande no coração de criança... As amiguinhas ? Foram embora atrás dos seus sonhos...
Mas reencontrei três preciosas delas, Zélia,Verônica e Socorro Moreira.
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Edilma Rocha

Segredos

I
Agora o fetiche
não é mais sonho -

vejo lagartas de fogo
traçando minha borboleta
dos olhos de mel.

II
Minha língua tem um sinal
na bifurcação da serpente -

ao mesmo tempo
sente o cheiro da presa
faz cócegas na maçã

e ao solitário promete
um adocicado inferno.

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Origens do Haiku I - Por Cesar Augusto





O Haiku Japonês tem suas raízes nas velhas religiões do oriente (Taoísmo, Confucionismo e Budismo). As duas primeiras tomam forma durante o século V a.C. na China. A terceira, procede da India e, ainda que seu nascimento possa ser considerado simultâneo, não chega a China até o século I a.C. aproximadamente com a dinastia HAN. Assim mesmo, consideraremos como uma fonte remota da poesia clássica chinesa. A influência é portanto, muito mais antiga no tempo, e se introduz de um modo geral na temática através de conceitos globais (religiosidade, filosofia, etc).

TAOÍSMO - Fundado pelo mítico Lao Tse (velho professor), gira em torno da ideia fundamental do Tao, o princípio do universo em que se confluem uma série de opostos como a vida e a morte, o bem e o mal, o todo e o nada. Deste princípio, emanam os conceitos contrapostos e, por sua vez, complementários: o YIN e o YANG (a mulher e o homem, a terra e o céu). A filosofia TAO é a grande origem de tudo, mas é também o grande vazio. É uma doutrina de não-ação, e preconiza de alguma forma, a inserção harmônica do homem na construção da natureza, do universo...


CONFUCIONISMO - Moral filosófica que devemos a Confúcio (Kung-Fu-Tzu), falecido 480 a.C. Sem pensar em seres superiores, Confucio estabelece uma moral ao alcance de todos,orientada para o mundo; proporciona ao povo uma ética que abarca todas as facetas e circunstâncias da vida. Altera certos conceitos do Taoísmo, pois podemos considerar agora três princípios básicos: o céu, a terra e o homem, que unifica ambos conceitos. Muito conhecido é este aforismo de Confúcio "Os peixes foram criados para a água e o homem para o caminho" isso se enlaça com certos conceitos Taoístas e com o próprio "caminho do haiku" que seguiriam grande autores de haiku como Bashô, e que consiste em uma vida ascética e frugal, de observação, e identificação com a natureza e com o mundo. O Confucionismo é uma influência que contribuiu para culturizar a poesia japonesa tingindo-a de espontaneidade e de moralidade confuciana, e no aspecto formal, de concisão e simplicidade.


BUDISMO - No século VI a.C. vivia na Índia o criador do budismo, Buda, um príncipe Hindu cansado do mundo que se retira a meditar . Buda então tem uma iluminação: vê o mundo em que vivemos como uma série de enganos e falsidades materiais. Partindo desse princípio, considera que a nossa vida ignorando o verdadeiro valor das coisas. Para superar esse desconhecimento, nos propõe um caminho de meditação que, e no final, nos conduz ao nirvana ou iluminação (satori em Japonês). Alcançar o nirvana é desprender-se por completo das ataturas da vida, criar um vazio interior e "preencher" o espírito de verdade e de coisas boas. A compreensão e o perdão de Buda estão ao alcance de todos os seres humanos. Uma menção aparte, merece o ZEN, herdeiro de uma das correntes budistas que são formuladas pelas revelações de Buda, o budismo Mahayana e da tradição taoísta. O ZEN se desenvolve na China e desde o século XII, se introduz com normalidade no Japan. Sua espiritualidade influi decisivamente no haiku. Para o zen, assim como para o budismo, tudo é sagrado, tudo tem sua dimensão: um montinho de poeira, contém a terra enteira. Enlaça neste sentido com o panteísmo sintoísta, a verdadeira religião do Japão anterior as influiências chinesas. O zen, portanto, preenche o haiku de simbolismo, de mistério, de amor por uma vida simples e ascética.


POESIA CLÁSSICA CHINESA - O século VIII é uma época de consolidação da influência chinesa no Japão que começou no século VI. É uma influência que se extende a todos os aspectos da vida cotidiana; desde a religião, como já vimos, até a literatura. Nesta última, os temas de influência serão, a tristeza, o passar do tempo e o cansaço do mundo. São temas, em geral, bastante pessimistas. Como reação, chega a produzir no povo japonês certo repúdio a influência chinesa por medo de perder a identidade japonesa mais tradicional. Uma conhecida peça de teatro Noh (teatro típico japones de linguagem muito arcaica) chamada Harurakuten, nome de um grande poeta chines com muita fama no Japão, o tema da peça é a expulsão deste poeta do Japão por medo de sua grande influência. Em quanto a forma, a poesia chinesa se estrutura frequentemente em grupos de versos curtos que podem se tomados separadamente e nela, na poesia chinesa, encontramos antecedentes diretos do haiku como os "jueju" da dinastia Tang (século VII - X) quartetos de versos de 5 e 7 sílabas que persiguem uma poesia sintética do momento, da percepção sensitiva, tal e como encontraremos alguns séculos mais tarde. São denominadores comuns entre as poesias chinesas e japonesas a espiritualidade herdada da tradição religiosa e a comunhão com a natureza. Consideraremos como tais, as próprias fontes literárias da cultura japonesa, antecedentes do haiku na sua pauta formal e no seu conteúdo. É imprescindível citarmos o Manyoshu (coleção de dez mil folhas) a primeira grande antologia medieval nipônica que remonta do século VIII que recolheu os gêneros poéticos que se praticavam na época. Os primitivos Katauta, ainda anteriores ao Manyoshu, eram estruturas poéticas formadas por um só poema ou canto com duas possíveis pautas silábicas: 5-7-7 ou 5-7-5 (esta última é a mesma do haiku). Os katauta em forma de pergunta e resposta formavam um "mondô", um gênero poético bem mais superior. Já no próprio Manyoshu não aparecem Kakauta mas outras formas evoluidas como são os "Sedoka", "choka" (canto comprido) e "tanka" (canto curto). O canto maior constava de versos de 5 e 7 sílabas alternando constantemente sem uma medida pre-fixada de todos os poemas. Os tanka, por sua parte, eram duas estrofes de 3 e dois versos na forma 5 -7 - 5 e 7 - 7. Por último, sedoka eram poemas de dois estrófes idênticas: 5-7-7 e 5-7-7.



Pouco a pouco, conforme a mudança dos hábitos dos poetas, vão desaparecendo os gêneros como sedoka e choka convertendo então a Tonka, forma dominante, en waka (canção japonesa) por excelência. O konkishu, a nova antologia surgida no século X contém sómente 5 chokas e 4 sedoka, sendo o resto exclusivamente tankas (uns 1100 poemas). A evolução ao haiku tem seu primeiro estágio na separação paulatina da primeira estrófe da tanka (chamada hukku de medida 5-7-5) do resto do poema. Mas existe um gênero poético que se encaixa entre a tanka e o haiku, surgio no princípio do século XII no período REIAN, chgamado renga (que significa canção ou poema encadeado). Renga consiste em uma sequência de tankas compostas por vários poetas que, en um ambiente festivo e relaxado, em competição se querem, vão formando a poesia. Nesta obra conjunta, o hokku tinha muita importância, pois era a base do resto do poema e deveria sugerir um tema aos poetas que iriam compor o poema renga. Esta primeira estrófe começou a cobrar pouco a pouco certa independência e nas sucessivas antologias poéticas, foram criando sessões dedicadas inteiramente ao hokku e poetas como Sôgi , já no século XV, se dedicariam a compor hokku independentes.

Como último passo, ao conceito do hakku tal como nos chegou, nos encontramos com o HAIKAI, designação essa que chegou a considerar-se sinônimo de haikku e que consiste em um giro que alguns poetas jovens, no final do século XV, dão ao renga en resposta a sua rigidez formal e conceitual. Haikai é uma palavra que já aparece no Konkishu em referência aos versos cômicos e ligeiros. Haikai renga é, portanto, um conjunto de poemas divertidos, sem muita transcedência, de linguagem simples, sentido irônico e, diga-se de passagem, (rsssss), com pouca qualidade literária. Assim, nessas circunstâncias, se formam outras escolas que fomentam a criatividade poética do Japan, algumas partidárias de certa rigidez em suas premissas poéticas e outras de carater mais flexivel.

Cabe fazer, por último, uma nota sobre o sentido que aparenta dominar o haikku clássico. E como um empurrão que se dá espor'adicamente em outras formas poéticas japonesas como sedoka e chokae que começa a ser algo mais corrente no tanka. Sogi é o primeiro poeta que insiste em incluir como algo necessário uma palavra que referêncie a estação do ano no hokku e se dedica, inclusive, a relacionar certos eventos e objetos naturais com estações do ano determinadas, para que o leitor possa, depois de identificar a estação do ano colocar o haikku em um ambiente particular. O costume de incluir no poema a palavra relativa a estação (popularmente chamada kigo) se converterá no futuro na senha de identidade do haikku no mesmo nível que a sua medida formal 5-7-5




traduzido por Cesar Augusto

author L.C. Vasco

Crato - Educação, nos anos 60 - Por Socorro Moreira



Naqueles tempos tínhamos figuras representativas , em demasia.
Monsenhor Montenegro no Colégio Diocesano ; Fátima e Irmã Siebra no Colégio Santa Teresa; Dona Stela e Chiquinha Piancó , no Pio X; Dona Anilda Arraes no Instituto São Vicente Férrer; Dr. Luiz de Borba Maranhão no Colégio Estadual ; Madre Feitosa no Colégio Madre Ana Couto, além de um ensino público de excelente qualidade. No Colégio São João Bôsco tínhamos os nossos especiais e dedicados educadores: Dr.José Newton Alves de Sousa e Dona Rute Barreto de Sousa. Dr.José Newton era também Diretor da Faculdade de Filosofia , quando esta foi criada.No seu desempenho educacional nunca poupou nenhum sacrifício para fomentar e otimizar o ensino .

A Aliança Francesa , por exemplo, no seu primeiro ano de atividade é reflexo da sua administração.
E eis que Claude Bloc foi a primeira professora do primeiro ano de francês ; o segundo ano ficou à cargo da professora Sílmia Sobreira.
Fizemos um teste para compor as primeiras turmas. Consistiu na leitura e tradução de uma página do livro "O pequeno príncipe". Graças à Dona Lurdinha Esmeraldo fui matriculada no segundo ano de francês. Entretanto , a maioria, inteligentemente, decidiu começar pelas noções. Entre muitos estava Ana Cecília.
Ana Cecília, segundo a minha irmã Verônica ( sua colega no ginásio) destacava-se pela inteligência .
Outro dia , conversando com Everardo Norões ele comentou o trabalho admirável daquela menina , já renomada poetisa.
E tratamos de localizá-la : eu e Claude. Como era de se esperar houve receptividade .Hoje , qual não foi nossa alegria , senti-la no grupo como um dos nossos.

Complementando a prosa , relembro outros grandes professores da época , a quem devemos nossa base e estímulo cultural : José do Vale Feitosa, Vieirinha, Pe. Xavier Nierhoff, Vera Lúcia Maia, Ivone Pequeno, Cira Esmeraldo, Terezinha Pinheiro, Dona Astrês, Professor Anchieta, Ana Teresa Esmeraldo, Cidália Luna, Maria de Lourdes Esmeraldo, Agnelo de Paula Damasceno, Pe. Davi Moreira, Hermógenes, Felix, Adalgisa Gomes, Lirêda, Eneida Figueirêdo, Dr. José Nilo, João de Borba , Elsa Ramos, Divani Cabral, Pe. Ágio, Mendonça, Vinícius, Eugênio, Maria do Carmo Feitosa, Nirson Monteiro, Pe. Gonçalo, Auzir, etc,etc.

Destaque especial para a genialidade do Pe.Davi Moreira.
Segundo Humberto Cabral foi professor sabatinado, em Fortaleza , pela licença do ensino científico no Crato. Brilhante representação !

Cada nome citado merece um texto, uma homenagem , uma reverência !



Socorro Moreira

Quem foi seu mestre maior ?

Pixinguinha para todos e para Nicodemos, em especial - (Socorro Moreira)

João Nicodemos de Araújo Neto - Por Socorro Moreira


João Nicodemos


“Descobri na viola um veículo para expressar meu sentimento de brasilidade”. Assim João Nicodemos, artista da culturalmente efervescente região do Cariri cearense, sintetiza sua musicalidade expressa por meio de uma forma peculiar de tocar a viola. Multiinstrumentista e professor, Nicodemos toca e ensina violão, cavaquinho, flauta doce, flauta transversa, rabeca, viola de dez cordas, guitarra, contrabaixo e saxofone. Como compositor, está preparando seu CD “Viola e violeiro”. Gosta de viajar Brasil afora difundindo a cultura popular, com destaque para sua “viola inxirida”, uma viola com afinação goiano-mineira, cuja execução mescla técnicas de violão e viola, resultando numa sonoridade diferenciada.

Conheci Nicodemos nos idos do ano 80. Trabalhávamos no Banco do Brasil em Uberlândia - MG, no setor de informática, como gravadores. Tínhamos a cada uma hora, um intervalo de folga de 15 minutos. Corríamos um para o outro pra falar de música : violão e cavaquinho. Mas naquela época ele estava cursando a Faculdade de Música e exercitando dois grandes instrumentos : flauta doce e violino.

Éramos bancários com a sensibilidade à flor da pele. Tínhamos alma de artista , mas na logística gravávamos balancetes.

De Uberlândia voltei uns tempos para o Ceará , e Nicodemos pegou o rumo de Petrópolis - RJ. Nas férias ele sempre chegava, ao local aonde eu estivesse. Viramos irmãos.

Ele fazendo mímicas, poemas, teatro, fotografia, dança,e tocando um instrumento.

Em 1995 deixamos de ser bancários. Voltei pro seio da Matemática , e o Nicodemos assumiu sua missão de músico , artista.

Contribuiu significativamente com a cultura da nossa Cidade , quando morou no Crato por quase uma década.

Aqui fez e concluiu o seu curso de Educação Física, tornou-se professor de Ioga, e de música.

Agora está pelas praias da Paraiba ...João Pessoa foi quem ganhou !

Mas um elo de amizade e profundo amor ainda liga Nicodemos à Chapada do Araripe. Existem por aqui as águas da nascente , uma ruma de amigos, e o cheiro do pequi.

Esse paulista de Tupã, com raízes em Brejo Santo sempre será nosso irmão.

Fiquei muito feliz com a sua adesão à nossa lista de colaboradores.

Quero do moço , o cordel; o poema e a crítica; os acordes do seu pinho , e o resto dos instrumentos. Quero sobretudo a sua amizade, pois no meu peito é vivente !

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Socorro Moreira

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P.S.


Meus filhos , quando pequenos , decoravam os poemas do Nicodemos :

" à toa , à toa
meu coração desabotoa "
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Não negocio
Nem ócio, nem cio "
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Ainda hoje são fãs incondiconais do Nico.
Caio tem gravada nos dedos, a sua caricatura; André e Victor o respeitam como um artista completo ...E eu também !

História e Música - Por Norma Hauer


ALCEBÍADES BARCELOS



Ele nasceu em Niterói no dia 25 de julho de 1902 e faleceu em 18 de março de 1975.
Já aos seis anos veio com sua família para o Rio indo residir no Estácio onde viveu a maior parte de sua vida.

Exerceu o ofício de sapateiro até incorporar-se aos sambistas do Estácio, dentre eles Ismael Silva, Brancura, Baiaco e, depois, Benedito Lacerda. À exceção de Benedito, os sambistas do Estácio fundaram, em 1928, a primeira escola de samba,dando-lhe o nome de "Deixa Falar".

Já nesse mesmo ano, teve sua primeira composição ("A Malandragem") gravada por Francisco Alves, que fez constar da etiqueta do disco apenas seu nome como autor, o que ele não era. Francisco Alves procurava os compositores do morro, como Ismael Silva e, neste caso, Alcebíades Barcelos propondo gravar seus sambas, participando como co-autor. No caso de "A Malandragem" o nome de Alcebíades Barcelos só constou da partitura musical. Eles aceitavam porque Chico Alves já era um nome conhecido, com várias gravações, e o pessoal dos morros não teria oportunidade de gravar naquela época.

Em 1932 a "Deixa Falar" desfilou pela primeira vez no carnaval com suas músicas "O Meu Segredo" e "Rir para não chorar".

Em 1934 já existiam outras escolas e Alcebíades Barcelos passou a desfilar pela "Recreio de Ramos".

Foi nesse ano que sua primeira música com Armando Marçal, formando a dupla Bide-Marçal "estourou" no carnaval e ainda hoje é conhecida, tendo sido regravada por vários intérpretes:'AGORA É CINZA".

Foi Alcebíades Barcelos quem "descobriu" Ataúlfo Alves, com ele compondo"Você não sabe, Amor", uma das primeiras gravações de Carlos Galhardo.
A dupla Bide e Marçal gravou com todos os cantores da fase de ouro do rádio, como Galhardo, Francisco Alves, Orlando Silva, Sílvio Caldas.
Compôs normalmente até o início dos anos 60, quando se aposentou, afastando-se de suas atividades. Em 1967 deu um depoimento no Museu da Imagem e do Som, registrando sua passagem por nossa música.

Em 1973 deixou o Estácio, falecendo dois anos depois cego e paralítico.


Norma Hauer


O TAO E O PONTO DE MUTAÇÃO: A PONTE ENTRE O SABER ORIENTAL E O SABER MODERNO OCIDENTAL



“Os filósofos chineses viam a realidade, a cuja essência primária chamaram tao, como um processo de contínuo fluxo e mudança. Na concepção deles, todos os fenômenos que observamos participam desse processo cósmico e são, pois, intrinsecamente dinâmicos. A principal característica do tao é a natureza cíclica de seu movimento incessante; a natureza, em todos os seus aspectos - tanto os do mundo físico quanto os dos domínios psicológico e social - exibe padrões cíclicos. Os chineses atribuem a essa idéia de padrões cíclicos uma estrutura definida, mediante a introdução dos opostos yin e yang, os dois pólos que fixam os limites para os ciclos de mudança: “Tendo yang atingido seu clímax, retira-se em favor do yin; tendo o yin atingido seu clímax, retira-se em favor do yang””(p.32-33).
CAPRA, Fritjof. O Ponto de Mutação: A Ciência, a Sociedade e a Cultura emergente, Cultrix: São Paulo, 1989, p.447.

O Tao é a espontaneidade natural
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Tao)
O conceito de Tao é algo que só pode ser apreendido por intuição. É algo muito simples, mas não pode ser explicado. É o que existe e o que inexiste. Só que nós temos demasiados conceitos dentro da cabeça para o entender como um todo uno.

O Tao é o Caminho da espontaneidade natural. É o que produz todas as coisas que existem. O Te 德 (a Virtude) é o modo de caminhar espontâneo que dá às coisas a sua perfeição.

O Tao não transcende o mundo; o Tao é a totalidade da espontaneidade ou «naturalidade» de todas as coisas. Cada coisa é simplesmente o que é e faz. Por isso, o Tao não faz nada; não precisa de o fazer para que tudo o que deve ser feito seja feito. Mas, ao mesmo tempo, tudo que cada coisa é e faz espontaneamente é o Tao. Por isso, o Tao «faz tudo ao fazer nada».

O Tao produz as coisas e é o Te que as sustenta. As coisas surgem espontaneamente e agem espontaneamente. Cada coisa tem o seu modo espontâneo e natural de ser. E todas as coisas são felizes desde que evoluam de acordo com a sua natureza. São as modificações nas suas naturezas que causam a dor e o sofrimento.

A NOVA CONCEPÃO DA REALIDADE PERCEBIDA PELA FÍSICA QUÂNTICA: O PONTO DE MUTAÇÃO

CAPRA (1989, Idem) descreve esta questão da seguinte forma:

"A nova concepção do universo físico não foi facilmente aceita, em absoluto, pelos cientistas do começo do século. A exploração do mundo atômico e subatômico colocou-os em contato com uma estranha e inesperada realidade que parecia desafiar qualquer descrição coerente. Em seu esforço de apreensão dessa nova realidade, os cientistas tornaram-se irremediavelmente conscientes de que seus conceitos básicos, sua linguagem e todo o seu modo de pensar eram inadequados para descrever fenômenos atômicos. Seus problemas não eram meramente intelectuais; remontavam ao significado de uma intensa crise emocional e, poderíamos dizer, até mesmo existencial. Foi preciso muito tempo para que superassem essa crise, no final, foram recompensados por profundos insights sobre a natureza da matéria e sua relação com a mente humana.

Estou convicto de que, hoje, nossa sociedade como um todo encontra-se numa crise análoga. Podemos ler acerca de suas numerosas manifestações todos os dias nos jornais. Temos taxas elevadas de inflação e desemprego, temos uma crise energética, uma crise na assistência à saúde, poluição e outros desastres ambientais, uma onda crescente de violência e crimes, e assim por diante. A tese básica do presente livro é de que tudo isso são facetas diferentes de uma só crise, que é, essencialmente, uma crise de percepção. Tal como a crise da física na década de 20, ela deriva do fato de estarmos tentando aplicar os conceitos de uma visão de mundo obsoleta - a visão de mundo mecanicista da ciência cartesiana-newtoniana - a uma realidade que já não pode ser entendida em função desses conceitos. Vivemos hoje num mundo globalmente interligado, no qual os fenômenos biológicos, psicológicos, sociais e ambientais são todos interdependentes. Para descrever esse mundo apropriadamente, necessitamos de uma perspectiva ecológica que a visão de mundo cartesiana não nos oferece.

Precisamos, pois, de um novo "paradigma" - uma nova visão da realidade, uma mudança fundamental em nossos pensamentos, percepções e valores" (p.13-14).

Nesse sentido, cabe voltar os olhos para os novos paradigmas da ciência e os velhos valores religiosos cristãos.

"A noção mecanicista segundo a qual a sociedade consiste em unidades isoladas, cada qual a perseguir cegamente seus interesses próprios, não consegue lidar as interligações. Compostos desordenadamente de partes separadas, não coordenadas e, sem embargo, impostos de todas as direções, os sistemas mecanicistas tornaram-se pesados e instáveis. Os antigos modelos de conflito e confronto precisam ceder o passo a novas estruturas de integração dinâmica: estruturas que preservem a identidade dos membros participantes ao mesmo tempo em que os integrem a um todo operante [cooperante] mais amplo.

Em termos globais, vivemos em um mundo de crescente interdependência social, política e econômica. Mesmo os pequenos desvios no interior da sociedade ou de uma parte da sociedade se fazem sentir em todo o mundo. As turbulências no mercado de ações de Tóquio refletem-se em Londres e Nova York. Uma revolução em Beijing suscita esperanças e expectativas na Europa e nas Américas. Os processos de produção das indústrias individuais ou mesmo hábitos domésticos no lar têm efeito direto e duradouro sobre o meio ambiente da Terra. Até o mais privado comportamento dos indivíduos afeta e é afetado pelos padrões sociais em larga escala na sociedade como um todo" (ZOHAR, Donah. Sociedade Quântica. São Paulo: Best Seller. 2000, p.28).
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SOBRE CONDENADOS E CONDENAÇÕES - por José do Vale Pinheiro Feitosa

No inferno ou na cadeia. Em ambas as condenações. A pagar penas. E quem cumpre pena não corrige o erro, apenas executa outra coreografia composta para interditar o erro potencialmente possível. E no calor do inferno ou na apnéia das grades o que voga não é o erro ou sua correição, mas os dias sob tutela.

Perguntou-me: isso é prisão ou inferno? Não sei, apenas uma idéia vaga das normas, dos padrões de qualidade; como uma ética profissional ou a estética dominante. Queres o exercício? Torne-se um condenado. Às grades, ao fogo que forja e à forma que modela.

A condenação é parte da educação para o coletivo, não é? Sempre foi e será. Quando se diz Deus, não é da unidade fundida, mas da unidade coletiva que se fala. E o inferno é apenas a pedagogia da palavra de Deus. A cadeia é a filial deste no arranjo dos prepostos no ordenamento cotidiano.

A qualidade, a excelência, a produtividade, o grau de satisfação, a demanda são mandamentos de Deus. Que a felicidade navegue nas tempestades de novos portos. Quando a fugacidade é parte do desejo elástico e as coisas sem limites são apenas a expressão da fronteiras móveis.

Então se o inferno e a prisão são a didática dos mandamentos de Deus, onde de fato existe o mundo? Onde fica o mundo tal e qual é? Fora da criação. Na liberdade que é o invento, pois este é o aperfeiçoamento da criação nas pernas, braços e mente do condenado.

Mas se a cada um cabe a liberdade do invento, como haverá o coletivo? Não haverá. O coletivo deixe para lá. O conjunto não será a nossa matemática. Esqueça a matemática. Nem a imitação se considerará. Não evite o erro ou se limite ao acerto, lembre que o outro neste par de danças tem o próprio ritmo.

Mas quanta anarquia! O caos é o átomo da liberdade; a incerteza as moléculas do amanhecer e a superação as proteínas da vida. Todo humano antes da condenação tem em si átomos, moléculas e proteínas. Quando a criação se impõe perante a maioria, só restam aos condenados a visão das grades e o calor da chamas.

PENSAMENTO PARA O DIA



Se um homem, hoje, está sob a influência da tristeza e da miséria, sua mente é a responsável por isso. Felicidade e tristeza, afetos e aversões, e os prazeres sensuais que o homem experimenta surgem da sua mente. Quando a mente está preenchida com o sentimento da dualidade, você sofre por tudo isso. Quando a mente for treinada para ver a unidade de toda a criação, não haverá perversões de qualquer tipo. Você deveria enfrentar tudo na vida com um sorriso. Nesse mundo dualista, é natural alternar ganho e perda. Você não pode evitar isso. Você não deveria desesperar quando enfrentar as adversidades e nem exultar quando a sorte sorrir para você. A adversidade é o ponto de partida para a bem-aventurança eterna.
SATHYA SAI BABA

Cariricaturas - Homenagem ao escritor Ronaldo Correia de Brito





''Todos os meus livros, mais que livros, são projetos literários, são construções de um ideário, são propostas de vida e morte. Sim, eu sempre tive este ideário, essa vontade de realizar um feito heróico, mas sou, fisicamente, um anti-herói. Com o tempo, fui descobrindo que a literatura, o teatro, a música, a dança seriam os meios de realizar esse projeto, de fazer a minha política, dentro da acepção aristotélica de que todo homem é um animal político''. Bem que poderiam estas linhas ser o princípio de um conto do Ronaldo Correia de Brito, mas é ele mesmo quem assim fala. E pensei, ao ouvir estas palavras ao mesmo tempo em que lia O Livro dos Homens, que o autor há muito passou dos fundamentos e ergue, a cada livro, mais um andar ao seu construto fabuloso - a epopéia, ainda não contada de todo, desse arquétipo primordial da brasilidade. E ele está cravado no Sertão.

Não pense o leitor que, ao afirmar isto, quero dizer que Ronaldo se circunscreva ao passado, ao arcaico ou ao regional. Muito ao contrário, o vigor de suas histórias - as outras e estas, enfeixadas em O Livro dos Homens - é precisamente a universalidade da mensagem, aliada ao sincero domínio do seu mister. Os contos de Ronaldo Correia de Brito vieram ao mundo para durar. São feitos de matéria viva, pulsante, volátil mas também dotados da rijeza irmã do chão cristalino dos Inhamuns, aonde ele nasceu.

O primeiro conto, ''O que veio de longe'', vai à longínqua fonte dos contos populares árabes, que veio desaguar na beira do rio das Onças. Foi assim que um dia apareceu o morto. ''Desceu a primeira enchente do rio Jaguaribe'', anônimo em seus atavios. Por ter aparecido no dia do santo, largado junto ao pé da oiticica velha ferida dos ferros quentes de marcar o gado, o povo do lugar champou-o de São Sebastião dos Ferros, por obra também de umas tantas graças alcançadas por sua intercessão. E mais vale a lenda que a verdade.

Cada nome, uma referência, uma alusão ao misturado de tantas culturas revolvidas pelo tempo. Lê-se de primeira, tomado pelo encanto deste narrador de mil e uma noites. Outras leituras possibilitam mergulhos transversais, cortes, presságios. O autor abandona-se aos seus personagens, deixa-se tomar por eles, penetrar-se. Porque em ''Eufrásia Meneses'', as palavras dispostas sobre a página do livro têm a voz aguda de uma mulher. ''Minhas veias guardam um resto de vida, alimento do meu marido. Ele deita sobre mim, funga, rosna, machuca-me sem me olhar no rosto''. Serpente subjugada não perde o veneno.

Em ''Qohélet'', a voz que agora fala é a de Bibino, que saiu do mato pra cidade grande, analfabeto e sonhador. O conto, que traz trechos da transcriação de Haroldo de Campos para o Eclesiastes, é também a possível história de todos os mestres do maracatu. ''Mexicanos'' é a narrativa de um menino diante da morte. Este intransponível mistério humano ganha outras nuanças quando sob a ótica de um garoto afetado, vestido com seu novo paletó de tropical azul marinho, à beira do caixão de um tio suicida, e sua preocupação de não poder brincar o carnaval. ''Obedeci a minha mãe e atirei as flores sobre o caixão. Elas sofreram o baque e algumas pétalas caíram. Perderam o rosa perfeito, sujo pelos respingos de lama. Por último, foram tragadas, como tudo na vida''. O menino, de repente, havia envelhecido demais.

''Brincar com veneno'' trata de desejos eróticos, insatisfações, crueldades: os três ingredientes encorpam a maioria das mulheres criadas por Ronaldo, sempre entre a submissão e a revolta. ''Eu só posso resignar-me, partir ou morrer'', diz a mulher que criava cobras. O próximo conto, uma bela referência aos mitos dos índios cariris e aos Irmãos Aniceto, ''A Peleja de Sebastião Candeia''. E como um homem velho ainda pode sustentar os pilares que seguram este mundo, entre o lombo da serpente e os pés da Virgem Maria.

''Milagre em Juazeiro'' é um filme. Os rostos enrugados das beatas sobre o pau-de-arara, em primeiro plano, ao som de um coro de benditos. A promessa de Maria Antônia ao pai, na hora de sua morte. A busca por um rosto na multidão. Em ''Rabo-de-burro'', outra vez a questão da mulher, entre a vontade própria e os costumes arraigados. Num jogo de opostos, ''O amor das sombras'' é o poder sexual de Djanira sobre o jovem cunhado Laerte. ''Cravinho'' é outro dos contos que extrapola o cenário sertanejo cearense para exaltar a Zona da Mata e os subúrbios de Olinda e Recife, com a bela história de José Gonzaga dos Passos, o Mateus Cravo Branco. E de como ele quase foi uma donzela.

Os dois próximos contos, ''Da morte de Francisco Vieira'' e ''Maria Caboré'', trazem outra vez a mulher ao procênio. No primeiro, Clara Duarte, aos 90 anos, narra sua história, seus presságios, seu rancor. Em oposição a esta, temos a sina de Maria Caboré, que ''vivia de pilar arroz, a um vintém cada cinco litros''. O último conto, que dá título ao livro, ''O Livro dos Homens'', reafirma em linhas atuais o perdido código de honra do sertão. Pontuando cada conto, uma marca de ferro das comarcas cearenses, do escritor Virgílio Maia. O Livro dos Homens é para ser lido uma e outra vez, em lambidas leves e num resfolego. Que o livro é guloseima, fruta e pimenta. E ainda um veneno.
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Eleuda Carvalho


SERVIÇO

O Livro dos Homens - Contos de Ronaldo Correia de Brito. Edição Cosac Naify.


"Seu" Edmundo Ribeiro - por Pedro Esmeraldo

No início dos anos sessenta, conhecemos seu Edmundo Gonçalves Ribeiro quando aqui se instalou proveniente da cidade de Missão Velha. Era um senhor sério, de andar calmo, sorumbático, conseguiu crescer na sua loja de tecido, instalada na rua Dr. João Pessoa.
A princípio, alcançou dar seus primeiros passos, e agigantou-se, num prédio alugado pelo qual foi ativo e destemido, persuasivo, já que lutou com muita dificuldade. Foi dinâmico e suportou com altivez as barreiras econômicas durante a crise dos governos civis dos anos oitenta.
Casado com dona Elzenir Ribeiro fiel companheira, teve uma prole numerosa e soube acompanhar seus passos com dignidade e amor ao trabalho.
Seu Edmundo soube suportar os vexames ocorridos durante as perplexidades devido as fraquezas dos nossos governantes.
Começou as suas tarefas mercantis em Missão Velha, no ano de 1949. Expandiu-se e adquiriu por compra as partes dos dois irmãos, caminhando sozinho, com segurança nas suas diligências comerciais.
Foi enérgico em seus negócios, perspicaz, cauteloso, amealhou um patrimônio invejável, suportou às intempéries fiscais provocadas pelas medidas abusivas dos governantes.
Soube relevar-se procurando melhorias de qualidade e avantajou o seu império comercial instalando-se numa loja na cidade do Crato o que vem conduzindo com galhardias até os dias de hoje. Foi relevante, perseverante, corajoso, pois é ajudado pela sua filha Eugenia fez a reforma do prédio, na rua Dr. João Pessoa “em que ela, a sua filha” está gerenciando com serenidade o que vem aprimorar o crescimento comercial de sua empresa.
Neste momento de alegria enviamos nossos sinceros abraços de parabéns e que, junto com seus filhos, saibam continuar com dedicação e apreço o seu crescimento do patrimônio adquirido ao longo dos anos, com muita dedicação e firmeza no seu trabalho, com honestidade e eficácia e ao mesmo tempo pedimos a Deus que venham outros comerciantes deste mesmo quilate e que tenham a mesma capacidade e a mesma perseverança que alcançou no seu desempenho.
Crato, 10 de julho de 2009
Texto: Pedro Esmeraldo

Repentes - Carlos, Magali, Socorro e Claude - Foto Pachelly Jamacaru

Amigos, por caridade
Me ajudem nessa hora
Me façam criar juízo
Que eu já tô indo embora

Tô voltando pro trabalho
Já morrendo de saudade
Não me deixem sem notícia
Por favor, por caridade!

A música é um combustível,
uma linguagem, uma arte
quem canta porque tá triste,
alegre ou embebedada ,
deixa tudo muito leve
e a tristeza aperreada.

Olhando as ondas do mar
Com cheiro de maresia
Escuto ao longe um cantar
De uma bela poesia.

Princesa do Cariri
Cratinho dos meus amores
Quando me ausento daqui
A vida muda as cores

Sigo, mas meu coração
Fica preso na saudade
A vida fica vazia
e branca a felicidade.

Pessoa que sabe amar
Vive a vida com vigor
Tem tempo pra trabalhar
E também pra muito amor

Mulher é bicho veneno
pra ela não tem antídoto
se é santa ou é profana
domina quem abre o bico

Vou-me embora pro passado
Não quero sair do Crato
Queria ficar aqui
Queria fazer um trato:

Machucar esta saudade
Que me vai no coração
E nunca mais ir embora
Dessa terra, deste chão.

A poesia do poema
existe subtendida
tem poema que perfila
uma estrofe sem poesia
poesia é o sentimento
na pena do artesão

CANELA