Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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domingo, 25 de maio de 2014

Nas ondas do Rádio - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Acredito que eu seja um dos poucos ouvintes de rádio que troca alguns programas televisivos pelo rádio. Sou viciado em rádio desde os anos de 1959-60, pouco depois da época de ouro do rádio brasileiro. Ainda não existia para nós cratenses a imagem da televisão. Somente nos restava as ondas do rádio para nos conectar com o mundo.

Sinceramente, eu acredito que o rádio nos possibilita desenvolver a criatividade, coisa que não ocorre com a televisão, que já nos trás tudo pronto. Um locutor de rádio de voz bonita, ou um cantor que a gente ouve, mas não vê sua imagem, deixa-nos a imaginar como seria o seu tipo físico. Durante muito tempo eu ouvia as transmissões esportivas com Oduvaldo Cozzi pela Rádio Tupi do Rio de Janeiro. Depois, pela facilidade de sintonizarmos no Crato a Rádio Globo, passei a ouvir Waldy Amaral e admirava muito os comentários de Rui Porto. Nas emissoras paulistas lideravam as transmissões esportivas excelentes locutores: Geraldo José de Almeida ("Brasil patrão da bola"),  Edson Leite, Pedro Luis e Fiori Giliotti. Não via as imagens deles e imaginava como eles deveriam ser pelo timbre de suas vozes. Achava que Oduvaldo Cozzi fosse um homenzarrão, pois sua possante voz não nos deixava qualquer dúvida. Quando vi numa revista uma fotografia dele, me decepcionei: era um homem magro e de estatura mediana.

Atualmente permaneço ligado no rádio. Logo ao despertar, sintonizo a CBN no meu radinho portátil de cabeceira para me informar do que se passou no dia anterior por esse Brasil e pelo mundo. Um pouquinho mais tarde, após uma hora de caminhada, acompanho pela internet as noticias do Crato, através do Jornal da Radio Educadora do Cariri comandado pelo competente Antônio Vicelmo, a quem escuto há mais de 40 anos.

Há alguns dias, lembrei-me que no ano de 1961 acordávamos no Crato ouvindo um programa matinal comandado pelo animado locutor Antonio Maria da Rádio Tupi do Rio de Janeiro. Àquela época, para mim, havia três pessoas distintas com esse mesmo nome. O locutor de rádio, o cronista do jornal Última Hora que diariamente chegava às bancas de revistas do Crato e o compositor de tantos sucessos musicais como "Ninguém me ama", que aqueles que como eu são beneficiários do novo estatuto do idoso devem lembrar: (Ninguém me ama, ninguém me quer, ninguém me chama de meu amor..) "Valsa de uma cidade" (Vento do mar e o meu rosto no sol a queimar, queimar. Calçada cheia de gente a passar e a me ver passar. Rio de Janeiro, gosto de você...). Felizmente, o google esclareceu minhas dúvidas. Antônio Maria de Araújo Morais, nascido em Recife foi um radialista, que iniciou na Rádio Clube de Pernambuco, passando depois pela Ceará Rádio Clube, Rádio Sociedade da Bahia de onde se transferiu para o Rio de Janeiro. Antonio Maria era mais conhecido simplesmente pelo segundo nome Maria, e ocupou importantes cargos de direção nas emissoras de rádio e televisão dos Diários Associados e ao mesmo tempo foi um compositor inspirado. Antonio Maria foi também apresentador de programas de televisão e dizem que quando entrevistava alguma personalidade, às vezes fazia perguntas que beirava à agressão. Certa vez, entrevistava a senhora Sandra Cavalcante, secretária do governador Carlos Lacerda e candidata a deputada estadual pelo antigo Estado da Guanabara. Futricas políticas atribuíam à candidata a fama de uma pessoa "mal amada". Pois não é que numa entrevista com a secretária, Antonio Maria resolveu cutucar a onça com vara curta?
-  É verdade que a senhora é uma pessoa "mal amada"? - Indagou o entrevistador.
-  Posso até ser, senhor Maria, mas não fui eu quem compôs  aquela música "ninguém me ama."

 Cronistas da época afirmam que com essa resposta ela conseguiu os votos de que precisava para se eleger. Nos primeiros anos do golpe militar assumiu a presidência do recém criado Banco Nacional de Habitação e depois de uma tentativa como candidata a governadora do Estado na primeira eleição direta ficou em quarto lugar . Mas então não mais vivia Antonio Maria para lhe dar oportunidade de conquistar mais votos.       

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Peça de teatro no SESC Crato aborda memória do Golpe Militar de 1964



Vencedores do prêmio Shell 2013 de São Paulo na categoria melhor atriz, Fernanda Azevedo (foto) e a Kiwi Cia. de Teatro chegam ao Crato para iniciar, neste dia 23, uma curta temporada da peça "Morro como um país - Cenas sobre a violência de estado", que fica em cartaz no SESC Crato até o dia 24 de maio. Com roteiro e direção de Fernando Kinas, o solo esmiúça os elementos constitutivos da ditadura brasileira e de outras ditaduras do século XX, e os relaciona com o presente.

SERVIÇO
MORRO COMO UM PAÍS, COM A KIWI COMPANHIA DE TEATRO (S. PAULO)
HOJE E AMANHÃ (SEXTA E SÁBADO, 23 E 24/05)
NO SESC CRATO, ÀS 20 HORAS
INGRESSOS GRATUITOS

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Reunião com autoridades debate atos de racismo e direcionamentos para questões relacionadas a estudante da URCA



A Reitora da Universidade Regional do Cariri (URCA), Professora Otonite Cortez, e o Vice-Reitor, Patrício Melo, estiveram reunidos com membros da Comissão de Direitos Humanos da Universidade e o Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB Subsecção de Crato, além de representante do curso de História da URCA e Pró-Reitores, para tratar sobre questão de ato de racismo praticada contra aluno da Instituição. O aluno tratado no caso justificou sua ausência da reunião e esteve representado pela estudante Vanusa Ferreira.

Na ocasião foram debatidas as ações, algumas delas já sendo executadas pela Universidade, no intuito de combater atos de discriminação e preconceito dentro da URCA, assim como promover uma política de conscientização. Segundo o membro da OAB, Frederico Lemos, é importante que sejam efetivadas as ações educativas e de conscientização, mas não compete à URCA realizar assistência judicial ou mesmo psicológica.

A Reitora destacou ações que já vêm sendo efetivas, e ressaltou a criação de uma Comissão de Sindicância para apurar o caso, além da Comissão de Direitos Humanos da URCA, cuja presidente é a Professora do Curso de Direito, Francisca Edineusa Pamplona. Na ocasião, disse que serão encaminhados ofícios para a Secretaria de Desenvolvimento Social de Juazeiro do Norte, direcionado à Coordenação da Proteção Social Especial de Média e Alta Complexidade, com solicitações para suporte psicológico para o aluno. O ofício será encaminhado em nome de Kátia Lopes, coordenadora de Proteção Social. Além disso, a Reitora chegou a disponibilizar o acompanhamento da assessoria jurídica da Instituição ao aluno, para registrar um Boletim de Ocorrência junto à delegacia. Mas, até o momento, o próprio alunos ainda não se manifestou nesse sentido. Ele chegou a ser recebido pela Reitora, no Gabinete da Universidade.

“A história de vida dos que compõe a Administração Superior da URCA, dentro e fora de Instituição, desautoriza a acusação de omissão em qualquer situação de ofensa ou crime contra os direitos humanos”, disse a Reitora. Desde que foi comunicada de atos de racismo, e homofobia, no ano passado, conforme a Reitora, se instalou a problemática institucionalmente. Inclusive, a URCA chegou a criar e instituir o 6 de maio como o Dia Institucional de Combate ao Preconceito e à Discriminação, inserido no calendário acadêmico.

Ações de conscientização e combate ao preconceito e discriminação

A universidade publicou no site institucional nota de repúdio ao ato de preconceito praticado contra o aluno, no final de março, além de propor um programa interdisciplinar de combate ao preconceito. O ato chegou a ser comunicado pela administração da Universidade, à Secretaria Nacional da Igualdade Racial, além de solicitar material educativo para distribuição na URCA.

 No âmbito do enfrentamento, foram realizadas reuniões para debater ações nesse sentido, com representantes de departamentos, incluindo os coordenadores de cursos. Outro aspecto importante foi a instalação de uma comissão de sindicância, que teve o seu prazo de atuação ampliado. Formada por professores e alunos, cada um dos componentes poderia solicitar reunião do grupo. O aluno vítima de preconceito e ameaças chegou a ser chamado para auxiliar nos trabalhos, mas não compareceu. A Comissão de Direitos Humanos da URCA foi restabelecida durante reunião realizada na última terça-feira, 13.

Para a reunião com autoridades constituídas realizada na última terça-feira, ainda foram convidados delegado, defensor público, Ministério Público, além dos diretores de Centro de Humanidades e a chefia de Departamento do Curso de História. Segundo a Reitora, cada instituição deve atuar dentro dos marcos de sua competência. “Agiremos nesse caso, como estamos fazendo, com serenidade e a maturidade, no qual deve se pautar o gestor de um órgão público”, destaca.

Além das ações educativas realizadas por vários cursos, departamentos e grupos de pesquisa, a URCA está desencadeando ações educativas, importantes para a desconstrução do preconceito e pela afirmação dos direitos humanos. Nos dias 15 e 16 de maio, acontece o I Encontro de Estudos e Pesquisas em Direitos Humanos Fundamentais. O evento é promovido pela URCA, por meio do Grupo de Estudos e Pesquisas de Direitos Humanos Fundamentais e os cursos de pós-graduação em Direito Administrativo, Direito Processual Civil, Direito das Famílias, Direito Previdenciário e Trabalhista.

Fonte: URCA

Mais informações:
Telefones: (88) 3102-1212 - 8812.5525 ramal 2617
www.urca.br

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Um caixeiro cearense em Nova Iorque - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

A história abaixo  relatada saiu em uma edição da Revista Exame que eu li por volta de 1977, há cerca de trinta e sete anos, portanto. Dessa edição, perdeu-se no tempo a revista e, apagou-se da minha memória todos os demais temas tratados, ficando apenas a narrativa que se segue, como prova do espírito empreendedor e inovador de uma das mais marcantes personalidades de nosso estado. 

A esposa de um jovem empresário cearense foi acometida de uma estranha doença, cujos médicos locais sugeriram tratamento em São Paulo. Lá chegando, uma junta médica aconselhou o empresário levar sua mulher aos Estados Unidos. Não era doença tão grave que, o dinheiro não pudesse resolver. Com as indicações de quem e onde procurar o atendimento em Nova Iorque e de posse do competente prontuário médico vertido para o inglês, o nosso empresário decidiu acompanhar sua esposa à terra  do "Tio Sam". Em lá chegando, sua mulher foi atendida numa das mais importantes clínica da cidade de  Nova Iorque.

Realizados novos exames, o marido foi informado de que sua esposa deveria ficar alguns dias internada, sem permissão de acompanhamento de familiares e visitas permitidas apenas nos dias de domingo.

No primeiro dia a sós na cidade, o nosso empresário resolveu dar uma volta pelo centro da cidade, examinar as lojas, verificar os avanços e as possíveis novas técnicas de vendas e marketing. Sentia-se sem saber o que fazer perambulando no meio de um verdadeiro formigueiro humano, que eram as ruas da grande metrópole, quando notou uma lojinha, espécie de chapelaria, cuja vitrine se encontrava vazia e às escuras. Como precisava comprar uma capa de chuva, entrou na loja onde o proprietário, um senhor idoso,  cujo aspecto lhe pareceu ser o de um judeu, era o único atendente. Começou uma interessante conversa com o dono da loja que lhe informou que as vendas estavam muito fracas. Então resolveu gastar seu inglês para se divertir pedindo emprego:
- O senhor não sente falta de uma pessoa para lhe ajudar? Sou brasileiro, há pouco  chegado aqui e estou precisando trabalhar. -  disse o empresário
-  Meu amigo, não posso lhe pagar um salário, pois como lhe falei, minhas vendas são fracas.
-  O senhor não precisará me pagar nada. Apenas se achar justo me conceder uma gratificação de dez por cento sobre o acréscimo das vendas que se verificarem após o inicio do meu trabalho. Se as vendas não progredirem, o senhor me despede sem nada me pagar. - Proposta mais do que tentadora para um presumível judeu. Como previra o candidato a emprego, o velhinho concordou e o jovem vendedor iniciou seu trabalho.

Sua primeira providência foi dar uma arrumação geral na disposição dos artigos da loja. As malas mais bonitas e de melhor qualidade foram convenientemente expostas na vitrine que ganhou nova iluminação, de modo a despertar a atenção das pessoas que passavam pela calçada da lojinha. Ali também foram colocados outros artigos que a loja dispunha para oferecer ao público, todos eles de grande utilidade. O interior da loja também teve as lâmpadas trocadas de modo a fornecer a sensação de se estar ao relento em uma ensolarada manhã.

Não demorou muito para o efeito se fazer notar. Logo no primeiro dia, o número de visitas à loja cresceu exponencialmente e quase cem por cento das pessoas que entravam na loja saia levando consigo algum artigo relacionado com as condições do tempo, capas e guarda-chuvas, luvas, casacos de lã, malas e sacolas para viagem, enfim, a loja conheceu um acréscimo de vendas jamais imaginado por seu proprietário. Nosso empresário cearense se divertia, à seu modo, como talvez não o fizera quando criança em suas brincadeiras. Mas contrariando um famoso dito popular, a alegria de rico às vezes também dura pouco. Um belo dia entrou na loja um engenheiro americano que estivera no Ceará projetando e montando uma das instalações industriais do empresário, agora transmutado em simples comerciário. Ele, ao avistar o engenheiro, tentou se esconder por trás de alguns artigos, mas fora notado e reconhecido pelo engenheiro que perguntou ao dono da loja:
- Quem é aquele homem que se encontra escondido por trás daquele material?
- Um imigrante brasileiro que veio me pedir emprego. É um vendedor muito esperto. Depois que muito a contra gosto eu resolvi empregá-lo, minhas vendas cresceram extraordinariamente. -  Respondeu o comerciante.
- Que imigrante, que nada! Aquele homem é um dos empresários mais rico do Brasil! E se chama Edson Queiroz. - Dito isto o ricaço brasileiro saiu de onde estava, abraçou o amigo e riram bastante da brincadeira, diante do comerciante americano admirado e intrigado. Não me recordo se a reportagem citou alguma explicação relativa a continuidade do emprego ou sobre o pagamento da gratificação estipulada o informal contrato de trabalho.

Por Carlos Eduardo Esmeraldo