Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

ENVIE SUA FOTO E COLABORE COM O CARIRICATURAS



... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

Para participar, envie suas fotos para o e-mail:. e.
.....................
claude_bloc@hotmail.com

quinta-feira, 18 de março de 2010

Decodificação - Emerson Monteiro

Disseram, um dia,
que a palavra saudade
só existiria
no português falado no Brasil,
e fui saber mais,
até descobrir que
saudade nasceu
da palavra solidão,
que gerou solidade,
que gerou sordade,
que gerou saudade...

Os encantados Zabumbeiros Cariris no Cariri Encantado


Foto: Alan Bastos

Nesta sexta, 19 de março, Dia de São José, o grupo Zabumbeiros Cariris (ZC) vai desaguar nos corações dos ouvintes do programa Cariri Encantado. Por sinal, e não por mera coincidência, o chão batido onde o ZC lançaram a semente inicial é justamente o Bairro São José, local que intersecciona Crato e Juazeiro, os dois maiores pólos dessa região encantada.

O ZC é um dos mais autênticos grupos musicais inspirados nas raízes nordestinas, em especial na musicalidade do cariri cearense.

Um dos que “tiraram fino” ao falar sobre o trabalho desta rapaziada foi o escritor José Flávio Vieira, em resenha sobre o disco de estréia do grupo:

“Eis os Zambumbeiros Cariris! Pleno de ângulos obtusos e faces pontiagudas. Traz no seu bojo toda coerência das nossas mais profundas incongruências. O Sacro/profano, o afro/indígena/ibérico, o cearense/pernambucano, o fúnebre/festivo e o romântico/erótico saltam como um saci, no terreiro de cada acorde deste disco. Os Zabumbeiros beberam nas fontes pródigas das bandas cabaçais, do reisado, do coco de roda, do baião, dos benditos, do maracatu cearense e de além-Araripe. Souberam , no entanto, destilar, desta calda sonora, um mel puro e original. Fizeram deste amálgama de sons um trampolim e se projetaram para além do simplesmente telúrico/ regional. Sua música sabe a pequi e a morango, tem o doce aroma do canavial e o acre cheiro do asfalto. Não se avexe, pois, quando a forte batida do zabumba penetrar pelos poros e vier a invadir suas artérias e sentidos. Relaxe e embarque nesta viagem futurística em busca dos nossos primórdios, em procura das fontes de onde flui nossa essência. Avançando para o começo, criançando os instantes, enquanto os Zabumbeiros nos descortinam o arcano: o estame do Som !”

Serviço
O programa Cariri Encantado é veiculado às sextas-feiras, das 14 às 15 horas, na Rádio Educadora do Cariri AM 1.020 e na Internet pelo site cratinho.blogspot.com. Apresentação de Luiz Carlos Salatiel. Apoio do Centro Cultural Banco do Nordeste.

Se ligue!

Banda Mantiqueira

19 de Março - Dia de São José - Padroeiro do Ceará


José é um personagem célebre do Novo Testamento bíblico, marido da mãe de Jesus Cristo. Segundo a tradição cristã, nasceu em Belém da Judéia, no século I a.C., era pertencente à tribo de Judá e descendente do rei Davi de Israel. No catolicismo, ele é considerado um santo e chamado de São José.

Segundo a tradição, José foi designado por Deus para se casar com a jovem Maria, mãe de Jesus, que era uma das consagradas do Templo de Jerusalém, e passou a morar com ela e sua família em Nazaré, uma localidade da Galiléia. Segundo a Bíblia, era carpinteiro de profissão, ofício que teria ensinado seu filho.

O Evangelho de Lucas atesta que o imperador Augusto ordenou um recenseamento em todo o Império Romano, que na época incluía toda a região, e a jovem Maria e seu esposo José se dirigiram a Belém, por ambos serem da Tribo de Judá e descendentes de Davi. Nessa época, reinava na Judéia Herodes, o Grande, monarca manipulado pelos romanos, célebre pela crueldade.

O texto do Evangelho deixa claro que José era o pai legal e certo de Jesus, pelo que (Mateus 1) é através de José que é referida a ascendência de Jesus até Davi e Abraão, embora o texto deixe inequívoco que ele não foi o pai biológico de Jesus. José quando encontrou Maria grávida "sem antes terem coabitado", "sendo justo e não a querendo infamar, resolveu deixá-la secretamente", quando na época a lei bíblica vigente (Deuteronômio 22) prescrevia a lapidação (morte por pedradas) das adúlteras. Eis que, então, enquanto José dormia, apareceu-lhe, em sonho, um anjo que pede-lhe que não tema em receber Maria como sua esposa, "pois o que nela foi gerado é do Espírito Santo", passagem normalmente interpretada pelos cristãos como uma concepção sem necessidade de uma participação masculina e, desde que se a suponha também virgem, de uma concepção virginal (já por tradições judaicas, Jesus é referido como "mamzer", algo como bastardo). De qualquer forma, portanto, o Evangelho não deixa dúvidas de que não é "pela carne" que Jesus herda os títulos messiânicos de "filho de Davi" e "filho de Abraão" com o que Mateus abre o Novo Testamento.
"O sonho de José", (1765-70) José Luzán. Óleo em madeira, 134 x 53 cm. Museu de Belas Artes de Zaragoza, Espanha.

O texto evangélico também é insistente —ao apresentar a genealogia de José e citar uma linha patrilinear que inclui os reis de Judá e vai até Davi e Abraão— em ressaltar terríveis impurezas morais na ancestralidade de José, o marido de Maria a mãe de Jesus. Entre tantos homens, somente quatro mulheres, além de Maria, são citadas por Mateus nessa lista genealógica: Tamar, Raabe, Rute e a mulher de Urias (Betsabé), respectivamente: uma incestuosa, uma prostituta, uma estrangeira (era proibido aos israelitas casarem-se com estrangeiras) e a que foi tomada como esposa pelo rei Davi, que para obter isso encomendou a morte de seu marido, Urias, significando aqui o assassinato e o adultério.

Nessa época, Maria, sua esposa deu à luz Jesus numa manjedoura, pois não encontraram outro local para se hospedarem em Belém. Devido a tirania do rei Herodes e de sua fúria em querer matar o menino Jesus por ter ouvido que havia em Belém nascido o Cristo (o Messias), a Biblia, no Evangelho de Mateus, refere que Deus, igualmente em sonho, orientou seu esposo José para que fugissem para o Egito. Assim, apenas nascido, Jesus já era um exilado, juntamente com José e Maria seus pais.
Imagem de São José no jardim do Colégio Sévigné.

Posteriormente, tendo Herodes morrido, um anjo de Deus, igualmente em sonho, aparece a José e orienta-o para que regressem à terra de Israel "porque já morreram os que atentavam contra a vida do menino". Ao regressar, tendo ouvido que Arquelau (Herodes Arquelau) reinava na Judéia no lugar de seu pai Herodes, temeu ir para lá e, por mais uma vez, em sonho, tendo sido prevenido por divina advertência, retirou-se para a região da Galiléia, voltando a família a residir em Nazaré.

O lugar que José ocupa no Novo Testamento é discreto: está totalmente em função de Cristo e não por si mesmo. José é um homem silencioso, e pouco aparece na Bíblia. Não se sabe a data aproximada de sua morte, mas ela é presumida como anterior ao início da vida pública de Jesus. Quando este tinha doze anos, de acordo com o Evangelho de Lucas (cap. 2), José ainda era vivo, sendo que em todos os anos a família ia anualmente a Jerusalém para a festa da Páscoa. Na Páscoa desse ano, "o menino Jesus permaneceu em Jerusalém sem que seus pais soubessem", os quais "passaram a procurá-lo entre os parentes e os conhecidos" e, por fim, o reencontraram no Templo da Cidade Santa "assentado entre os mestres, ouvindo-os e interrogando-os, os quais se admiravam de sua inteligência e de suas respostas". "Logo que seus pais o viram, ficaram maravilhados" e Maria, sua mãe, diz-lhe: "Teu pai e eu, aflitos, estamos à tua procura", sendo essa sua última referência a José estando vivo.

São José é um dos santos mais populares da Igreja Católica, tendo sido proclamado "protetor da Igreja católica romana"; por seu ofício, "padroeiro dos trabalhadores" e, pela fidelidade a sua esposa, como "padroeiro das famílias", sendo também padroeiro de muitas igrejas e lugares do mundo.

wikipédia

Seca, problema crônico sem solução


Por Pedro Esmeraldo

Hoje, 13 de março, observamos que a falta de chuva, acarreta grande impacto no seio da população nordestina. Lamentamos a falta de apoio das autoridades que, pouco a pouco não ligam para atenuar a crise deste imenso semi-árido nordestino. Uns reclamam, choram, vociferam contra as autoridades porque não procuram dar soluções satisfatórias com tecnologia avançada a fim de melhorar as condições climáticas e agrícolas através de uma irrigação, tipo moderna que poderá dar ao homem do campo mais alento e faz desenvolver uma produção agrícola eficiente por meio de trabalho mais atento e produtivo, tentando solucionar, em partes, com modernidade, uma agricultura sadia e progressista.

É uma infâmia, um desdenha, essa falta de apoio moral e técnico ao homem do semi-árido nordestino, já que permanece num trabalho desequilibrado e desarmonioso, conduzindo por uma agricultura rasteira, visto que não cuidam com melhor perfeição o trabalho agrícola e deixam o homem do campo inibido, sem nenhuma capacitação para enfrentar o trabalho. Não preparam o homem do campo para enfrentar a seca; não dão capacitação tecnológica para que venham os camponeses combater em tecnologia avançada no manejo da criação de gado por meio de fenação e silagem. Se assim o fizermos, evitaremos cair num desespero sombrio que leva o homem agrícola a implorar o meio de subsistência para que possa se bater com o trabalho eficiente e eficaz.

Avisamos a essas autoridades que o camponês não deseja esmola, mas deseja trabalhar. Com isso, lembramos uma frase do sanfoneiro Luiz Gonzaga: “- Seu doutor, uma esmola para o homem que é são, ou me mata de vergonha ou vicia o cidadão. Enche os rios de barragem, não esqueça a açudagem, dê comida e preço bom que no fim dessa estiagem lhe pagamos até o juro sem gastar nossa coragem.”

Pensando bem, Senhor Doutor, não precisa tanto exagero desses políticos que só vêm praticar o clientelismo que faz viciar o homem na prática da bandidagem. Queremos barragens, queremos trabalhos, queremos capacitação técnica agrícola, queremos que os técnicos saiam do seu gabinete e percorram o campo, ensinando os homens a praticar trabalhos técnicos, como: irrigação, com segurança, a fim de capacitar para produzir mais pastagens e mais legumes, como: cereais e plantas forrageiras que possam suprir o homem campestre com eficiência no meio de produção e a prática de melhoria de produtividade.

Há necessidade de treinar o homem do campo: ensinando-o a desenvolver com métodos adequados que poderão triunfar com forte produção agrícola e por sua vez acabar o sofrimento desse povo que vive mendigando esmolas, que se torna um filho vergonhoso e deprimente da região.

Antigamente, o nordestino era fortificado pelo plantio do algodão e da cana-de-açúcar. Hoje, o semi-árido nordestino não possui mais esses dois produtos, devido à queda do preço do algodão (exterminado pelo bicudo) e a cana-de-açúcar que se foi para o estaleiro devido à falta de modernização nos engenhos de açúcar do Cariri.

Houve época que dizíamos: a solução de combater a seca do Nordeste era de construção de açudagem que serviriam para irrigar nas áreas de aluvião as plantas gramíneas (arroz e cana-de-açúcar). Agora fazemos uma pergunta: como é que constroem os açudes e não dão ensino técnico ao homem do campo para satisfazer a sua produção agrícola? Onde estamos que não procuramos nos evoluir com mais trabalho moderno e que satisfaça os métodos lucrativos, a fim de tirar o homem do campo do aperreio financeiro e melhorar a situação econômica do homem nordestino? Que país é esse que não olha para o homem e vive praticando o clientelismo dando apoio aos viciados da política e não procuram solucionar o nosso problema?

A pior seca do Crato é a separação do distrito de Ponta da Serra, incentivado por um grupo de homens fracos, conduzidos por uma massa legislativa de deputados falidos que vivem enganando o povo, conduzindo toda a população para o caminho do mal.

Crato, 16 de março de 2010.

Chicote Queimado


Esta semana, em Fortaleza, a jovem empresária Marcela Montenegro foi morta numa tentativa de assalto. Uma família abalada autorizou a doação de órgãos terminando por beneficiar seis pacientes que, desesperadamente, aguardavam na fila de transplantes. Há que se louvar a força de familiares que, em meio a uma tragédia desse vulto, conseguem, mesmo assim, dar a volta por cima e transformar a dor e a revolta num ato de profunda solidariedade humana. Em meio à violência cotidiana, ficamos atônitos, na certeza de que é tênue a linha divisória entre o meu bem-estar e minha infelicidade . Eles dependem de meros fatos aleatórios e imprevisíveis. Parodiando Kipling , percebemos : quando se imola uma vida , de alguma maneira, se destrói o mundo. Postamo-nos todos, no meio da rua, buscando soluções para a guerrilha urbana que se vem instalando nos grandes centros populacionais. O mais das vezes, as propostas , emanadas no calor da paixão, trazem consigo um ranço vingativo que faria enrubescer o Código de Hamurabi. No caso da Marcela, há um perigoso agravante: a participação de um menor de 11 anos no assalto. Imediatamente nestes casos, salta em todos os noticiários a discussão interminável sobre a maioridade penal.
As justificativas para a diminuição da maioridade são amplas e repetitivas. Crianças com 15, 16 anos sabem perfeitamente o que estão fazendo, já podem inclusive votar e saem por aí dirigindo veículos. Por que , em caso de crimes cometidos, devem ser tratados como guris de berço, amparados e liberados rapidamente como se nada tivesse acontecido? Um tio da Marcela lembrou inclusive a condenação nos EUA à pena de morte, recentemente, de um menor homicida. Na Inglaterra, também, sabe-se de vários julgamentos à prisão perpétua para infratores juvenis. Por que só no Brasil isso não é permitido ? -- bradam os programas policiais. Cientes dessa aparente impunidade, bandidos aliciam menores para participarem de suas paradas e , em caso de morte de vítimas, colocam a culpa do homicídio neles , já que praticamente não respondem processo e , no máximo com dois anos, independentemente da gravidade do delito, estarão de volta às ruas. Reconheço que muitos desses argumentos são fortes e irrefutáveis e impossíveis de serem destruídos, máxime em momento de revolta e ânimos exaltados. Sei, também, que é bem mais fácil encontrar caminhos mais pacíficos quando o holocausto ainda não bateu à nossa porta.
Pois bem, vou meter minha passadeira nessa gamela. Vou desfiar algumas reflexões pessoais sobre o assunto. Sei perfeitamente que há menores violentos em todas as classes sociais, mas no Brasil ao menos, os infratores juvenis são quase sempre aqueles das classes mais desfavorecidas. São órfãos de escola, de saúde, de moradia, de cidadania e dignidade, de pais e de país. Criaram-se numa selva terrível onde tiveram que adquirir meneios de chacais para poder sobreviver. Talvez, por isso mesmo, tenham amadurecido tão rápido e já pareçam velhos e truculentos ainda na adolescência. Vêm armados para cobrar uma conta que sabem perfeitamente que a nação lhes deve. Como levá-los a julgamento , se a sociedade que os vai julgar não lhes concedeu as oportunidades necessárias para viverem condignamente? Como compará-los aos adolescentes dos países desenvolvidos a quem a maior parte das vezes foram fornecidos todos os ingredientes para um desenvolvimento humano saudável? E se fôssemos reduzir a maioridade penal, de que adiantaria? Em que idade a fixaríamos? Vejam que um dos assassinos da Marcelo tinha apenas 11 anos. Os bandidos imediatamente passariam a aliciar menores agora já na nova menoridade penal. Reduzir a maioridade penal é tão inócuo como vender a cama para evitar o adultério ou derrubar a casa para solucionar o problema da violência doméstica. E mais, se pena de morte resolvesse o problema, ele já estaria sanado, pois ela já existe extra-oficialmente. Todo dia o noticiário policial está prenhe de execuções de jovens por policiais, justiceiros e traficantes. E o pior é que essas mortes são veiculadas pela mídia com uma naturalidade impressionante, como se fosse uma coisa normal e previsível, quase pedagógica. No Brasil não há socialismo nem na morte. Até 2012 calcula-se que 34.000 jovens serão assassinados, nas 267 cidades brasileiras com mais de 100.000 habitantes, uma média de 13 adolescentes imolados a cada dia.
Soluções simplistas e milagrosas não existem e não surtirão efeito maior. A repressão apenas é inócua. Há que se revolver as raízes do problema que se encontra encravado nas nossas imensas desigualdades sociais. A resposta não está na razão da criança ter amadurecido já aos quinze anos sendo assim imputável, mas no porque lhe terem arrancado a infância a fórceps e forçado a se tornar um adulta antes do tempo. Ele procura na rua aquele menino que esconderam dele como a um chicote queimado . E a única ajuda que a sociedade parece lhe dar é gritar sem nenhuma convicção um tá-quente-tá-frio .


J Flávio Vieira

De vez em quando.

Apaixonado, meu peito ruge
Como um leão no coração da Tanzânia
E dança leve como nas valsas de Viena
Em um século distante.
Apaixonado, meu céu é rubro como
Os fins de tarde do Pantanal,
Mas mesmo assim com essa violenta
Paisagem voa leve, muito leve
Como os querubins das pinturas
Ou como os quero-queros
Que sobrevoam meu quintal.

O sentido e a dimensão ontológica da experiência religiosa


segunda-feira, 1 de março de 2010
(http://metafisicaemodernidade.blogspot.com/)

José Luongo da Silveira

Desde o início, o homem apresenta-se como um animal de sinais e símbolos, de signos significantes que realizam a mediação entre o mundo “visível e funcional e o invisível e modelar”, entre o vivenciado e o imaginário. Os grandes símbolos são criados ou descobertos pelo homem e permanecem no horizonte da humanidade como estruturas ontológicas subjacentes, incapazes de serem desveladas inteiramente. Essas estruturas ontológicas geram sentimentos de segurança e de auto-identidade, situando-se no plano do inconsciente.

“A segurança ontológica é uma forma, mas uma forma muito importante, de sentimentos de segurança [...] A expressão se refere à crença que a maioria dos seres humanos têm na continuidade de sua auto-identidade e na constância dos ambientes de ação social e material circundantes [...] a segurança ontológica tem a ver com o ‘ser’ ou, nos termos da fenomenologia, ‘ser-no-mundo. mas trata-se de um fenômeno emocional ao invés de cognitivo, e está enraizado no inconsciente”.(GIDDENS, A. As Conseqüências da Modernidade. São Paulo: UNESP, 1991, p. 95).

Entre esses grandes símbolos se situa o fenômeno religioso, algo que se encontra no imaginário comum de todos os povos, tempos e lugares. O fenômeno religioso interage com o sentido da vida e do mundo e se apresenta à consciência como uma construção da imagem do ser, algo inserido num contexto relacional que se articula para a formação de uma dimensão axiológica dentro das relações de tempo e espaço. A intercomplementaridade do mundo interior e exterior dá sentido à vida das pessoas e constituem-se num corpo de verdades que determina o seu agir e o seu topos no mundo. O sujeito epistemológico responsável pela formação das estruturas cognitivas realiza a função de re/construção da realidade e marca o nível de interação mental entre o mundo funcional e o mundo modelar. Na verdade, os símbolos religiosos são semióticos, exprimem o mistério, o desconhecido, trata-se de “um corpo distante de conhecimento [...] uma visão dinâmica da significação enquanto processo”.

O fenômeno religioso constitui a primeira e original leitura do mundo, fez parte de todas as culturas cuja relevância resulta do fato inconteste de sua recorrente atualidade. E quando o homem moderno se satura da fragilidade das sínteses científicas, que não respondem o sentido da vida, volta a abrigar-se na fé. A fé renasce e avança no mundo contemporâneo, apesar das suas ambigüidades.

“Já que religião é a auto-transcendência da vida no reino do espírito, é na religião que o homem começa a busca da vida sem-ambigüidade e é na religião que ele recebe a resposta. mas, a resposta não se identifica com a religião, já que a própria religião é ambígua. A realização da busca da vida sem-ambigüidade transcende qualquer forma ou símbolo religioso no qual ela se expressa. A auto-transcendência da vida nunca atinge incondicionalmente aquilo rumo ao qual transcende, embora a vida possa receber sua auto-manifestação na forma ambígua de religião”.(TILLICH, Paul. Teologia Sistemática. São Paulo: Paulinas, 1967, p. 467).

A linguagem inconsciente do mistério, algo que está mais além (o anda não) se constitui numa ordem simbólica, num campo aberto a outros campos de sentido. Por isso, nunca se esgotam as possibilidades de interpretação dos símbolos religiosos, eles são arquétipos com cunho transpessoal e estão na raiz da nossa experiência existencial. segundo Jung:

"It is impossible to give an exact definition of the archetype, and the best we can hope to do is to suggest its general implications by "talking around" it. for the achetype represents a profound riddle surpassing our rational comprehension: (...) there is some part of its meaning that always remains unknown and defies formulation. consequently a certain element of the "as if" must enter any interpretation”.(JUNG, G. Complex/Archetype Symbol in the Psychology of C. G. London: Routledge & Kegan Paul, 1959, p. 31).

O cristianismo e as grandes religiões não se contentam em recorrer somente à experiência religiosa, há o kérygma de uma fé encarnada na história. Existe um momento inicial, focal, de construção da fé numa comunidade específica e que se sedimenta ao longo da história desse povo, a exemplo do povo hebreu. Com base nessa constatação, o fenômeno religioso deixa de ter uma dimensão geral, indeterminada, e afasta-se do resultado de uma iluminação individual, para expressar algo que nasce numa comunidade, na qual a revelação se fez sentir – a experiência da fé. esse marco, prenhe de historicidade, traz a fé à esfera de cognição, contudo, o seu princípio arquitetônico transcende as dimensões espácio-temporais.

Agostinho de Hipona traduz essa dualidade entre a historicidade e a transcendência da fé revelada, dizendo: “através da luz da razão natural e da revelação divina que se manifestam as exigências e os apelos da sabedoria eterna”. Por conseguinte, a revelação pressupõe a existência da razão, há um “ponto de conexão”, porque só o ser racional pode ser iluminado pela fé. Contudo, a razão chega somente aos umbrais da revelação, não há como a estrutura cognitiva possa ultrapassar os marcos históricos e penetrar na natureza da fé revelada. A fé não pode ser atingida pela lógica racional, porque pressupõe uma iluminação espiritual para aclarar o mysterium fascinans da revelação. Esse é o ponto de discórdia entre a fé e a razão, ou seja, a compreensão de que a fé precede à razão.

A modernidade pensa que superou o dualismo entre o espírito e a matéria, o sagrado e o profano, negando o sagrado, como um enxerto artificial que se insere na realidade da vida. A modernidade esqueceu que o sagrado não é dist do cotidiano, não é um não-mundo ou um antimundo.

“O drama da nossa modernidade é que ela se desenvolveu lutando contra a metade dela mesma, fazendo a caça ao sujeito em nome da ciência, rejeitando toda a bagagem do cristianismo que vive ainda em descartes [...], (destruindo) a herança do dualismo cristão e as teorias do direito natural que haviam provocado o nascimento das declarações dos direitos do homem e do cidadão nos dois lados do atlântico”.(TOURAINE, Alain. Crítica da Modernidade. Petrópolis: Vozes, 1994, p. 219).

Quando santo agostinho, o maior pensador ocidental da alta idade média, diz que a fé precede a razão, está querendo dizer que há um ponto de conexão, aonde a razão não chega sozinha. Que o homem necessita da sensibilidade, da emoção e do mistério, tanto quanto da razão. É impossível alcançar uma definição exata dessa fé que ilumina a razão, o melhor que pode fazer é sugerir uma abordagem em torno do tema, porque seu sentido permanece intangível.

Quando aborda o lume espiritual, Santo Agostino refere-se a algo muito próximo da intuição originária de Husserl, dizendo que “a fé é a lâmpada da razão”, propiciando assim a discussão entre os dois elementos. a diferença entre a intuição e a fé torna-se sutil, ao levar-se em conta que ambas globalizam o real de modo direto e imediato. Contudo, a intuição pode ser empírica (experiência sensorial) e racional, enquanto que a fé escapa à lógica da compreensão discursiva e intuitiva. A intuição situa-se nas imediações da fé, pelas características aproximativas entre a apreensão total da experiência intuitiva e o compromisso último, imediato, direto e total da fé.

A fé pertence ao campo da teologia e, nesse contexto, é definida como dom gratuito e sobrenatural, testemonium spiritus sancti internum, embora não seja autoprojeção do eu e não possa ser alcançada pelo raciocínio discursivo, intuitivo ou estados emocionais. Esses processos podem estar presentes, mas silenciam quando a fé mergulha em seu estado próprio de abandono e auto-entrega.

A fé, sobretudo a fé cristã, apresenta-se de modo paradoxal. ela teima em chegar à vitória final depois do fim da vida terrena. É “o sucesso prometido além de todos os fracassos”. A fase escatológica da fé, a sua esperança sobrenatural, ou a dialética entre a morte e o mundo vindouro, torna-se incompreensível à razão.

O sentido e a dimensão ontológica da experiência religiosa consiste especificamente na possibilidade de uma compatibilização, ou uma aliança entre a facticidade e a transcendência. Contudo, essa síntese satisfatória, a conciliação entre o sagrado e o profano, torna-se difícil. corre-se duplo risco, de um lado, o
“[...] estreito transcendentalismo sobrenaturalista e alienante, totalmente desconexo com o aqui e agora; por outro lado, o imanentismo secularista, essa pura facticidade foi responsável pelo caráter dramático da desesperança desse final de milênio”.(SILVEIRA, José Luongo da. Noções Preliminares de Filosofia do Direito. Porto Alegre: Fabris Editor, 1998, p. 233).
_________
CRUBELLIER, M. Sens de L’Histoire et Religion. Paris: Esclée de Brouwer, 1957, p. 187.
DEELY, John. Semiótica Básica. São Paulo: Ática, 1990, p. 40.
MAGALHÃES, Rui. Textos Hermenêuticos. Porto: Res-Editora, s/d, p. 7
JUNG, G. Complex/Archetype/Symbol in the Psychology of C. G. London: Routledge & Kegan Paul, 1959, p. 31.
GIDDENS, A. As Conseqüências da Modernidade. São Paulo: UNESP, 1991, p. 95.
GUSTAF, Aulén. A Fé Cristã. São Paulo: Aste, 1965, p. 97.
LEPARGNEUR, Hubert. Espenrança e Escatologia. São Paulo: Paulinas, 1974, p. 60.
MONDIN, Battista. Antropologia Filosófica: História, Problemas e Perspectiva. São Paulo: Paulinas, 1979, p. 8-13.
SANTO AGOSTINHO. in Enarratio in Psalmum, LXII 16: CCL 39).
__. De Civitate Dei, Livros XV, XVI, XII e XVIII, Paris: Opera Omnia, 1838.
__. Confissões. Livro XI. Coleção Patrística 10. São Paulo: Paulus, 1997).
SILVEIRA, José Luongo da. Noções Preliminares de Filosofia do Direito. Porto Alegre: Fabris Editor, 1998, p. 20.
TILLICH, Paul. Teologia Sistemática. São Paulo: Paulinas, 1967, p. 467.
TOURAINE, Alain. Crítica da Modernidade. Petrópolis: Vozes, 1994, p. 219.
__________
* Vide o idealismo fenomenológico-transcendental de Husserl (HUSSERL, El Idealismo Fenomenológico. Buenos Aires: Rev . do Ocidente, 1931, p. 8 a 77).
* Subjetivismo axiológico de Ortega y Gasset, Meinong, Chistian von Ehrenfels, etc. (Vide NADER, Paulo. Filosofia do Direito. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1992, p. 49).
* JUNG, G. Complex/Archetype/Symbol in the Psychology of C. G. London: Routledge & Kegan Paul, 1959, p. 31. (“É impossível alcançar uma definição exata de arquétipo; e o melhor que podemos fazer é sugerir as suas implicações gerais, estabelecendo uma abordagem ‘em torno do tema’, porque o arquétipo representa um enigma profundo, que ultrapassa a nossa compreensão racional: (...) uma parte do seu sentido permanecerá sempre intangível e avessa à formulação. Conseqüentemente, um certo elemento de ‘como se’ comporá, necessariamente, qualquer interpretação”. Tradução livre de Luiz José Veríssimo).
Kérigma: de Keryx, palavra grega que significa mensageiro, arauto que proclama a Boa Nova, pregação original cristã.
* SANTO AGOSTINHO explica que a Providência se revela ao homem “através da luz da razão natural e da revelação divina que manifestam as exigências e os apelos da sabedoria eterna” (in Enarratio in Psalmum, LXII 16: CCL 39).
* Sobre a relação ente a fé e a razão, vide a Carta Encíclica Veritais Splendor. Papa João Paulo II, São Paulo: Paulinas, 1993, p. 75 e ss.
* Santo Agostinho. Confissões. Livro XI: “O vosso Verbo é esta mesma razão e princípio de todas as coisas o qual também nos fala interiormente”. (Vide Santo Agostinho. Confissões. Coleção Patrística 10. São Paulo: Paulus, 1997).
* Seguindo a concepção platônica, Santo Agostinho divide o conhecimento em conhecimento espiritual e conhecimento racional. (Vide SANTO AGOSTINHO. De Civitate Dei, Livros XV, XVI, XII e XVIII, Paris: Opera Omnia, 1838).
* Isaías, 7: 9, LXX; Em Santo Agostinho, não há nenhum absurdo ou “credo in absurdum” quando afirma que a fé é uma condição da racionalidade, “nenhuma criatura, conquanto racional ou intelectual, é iluminada de si mesma, ou por si mesma, mas é iluminada ao participar da verdade eterna”. (in: Psal. 119, Serm. 23, 1).
* O mundo do espírito, como uma das dimensões da vida. Terminologia análoga para diferentes povos: para os latinos spiritus , para os estóicos

Pensamento para o Dia 18/03/2010



“A sílaba ‘man’ na palavra ‘Manthra’ indica o processo de indagação através da mente. A sílaba ‘thra’ significa aquilo que tem a capacidade de libertar ou salvar. Em suma, ‘Manthra’ é aquilo que o salva quando sua mente nele imerge. Enquanto ritos, rituais e sacrifícios são realizados, você deveria lembrar-se de sua natureza e de seu significado. Você deve repetir os Manthras para atingir os objetivos pelos quais você ora. Se você recitá-los mecanicamente, sem aprender o significado, eles serão infrutíferos. Você pode colher a recompensa total somente quando recitá-los com o conhecimento de seu significado e de sua importância.”
Sathya Sai Baba
Do mesmo jeito
- Claude Bloc -


Meu poema se prende ao tempo
Em articulações que se engatam,
Se encadeiam
Em dimensões que se perdem
Se entremeiam
Por isso quero
Recuperar as noites
Mal dormidas
Noites em claro
Sem brilho nem beleza.
Quero ignorar teu choro
E teu desleixo
Meu eterno cansaço
De só cuidar de mim...

Meu poema explode
E arrebata
E se dilui nas sombras
E se prende aos laços
Nessas suturas de minha emoção

Meu poema começa e acaba
Do mesmo jeito
Fechando o círculo
Abrindo outro
Numa infindável espiral.
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Foto e texto por Claude Bloc

CaririCaturas em verso e prosa



O Livro do Cariricaturas
Um livro escrito por muitas mãos: uma coletânea com nossos escritores

Detalhes :

. Release com fotografia de cada escritor ( 01 página)
• 4 textos por escritor (máximo de 7 páginas - fonte : garamond - altura : 12) - Temática livre ( crônicas, contos e poemas).
• Os textos serão escolhidos pelos próprios escritores;
• um contingente de 200,00 por escritor
• O pagamento poderá ser feito em 4 x 50,00 ( fev-mar-abr-maio)
. O livro será dedicado aos mestres de todos os tempos, representados por Dr. José Newton Alves de Sousa.
- A capa será a foto de Pachelly- essa que já caracteriza o Cariricaturas.
- O título é: "Cariricaturas em prosa e verso"
- Edição: Emerson Monteiro ( Editora de Sonhos - Crato-Ce)
- Dedicatória ( Assis Lima )
- Prefácio/ Apresentação ( José do Vale e Zé Flávio)

-Já estão confirmadas as seguintes adesões:

01. Claude Bloc *
02. Magali Figueirêdo *
03. Carlos Esmeraldo *
04. Maria Amélia de Castro *
05. Ana Cecília Bastos *
06. Assis Lima *
07. Corujinha Baiana *
08. Stela Siebra de Brito *
09. Wilton Dedê *
10. João Marni *
11. Rejane Gonçalves *
12. Rosa Guerrera *
13.Everardo NORÕES
14. Edilma Rocha *
15. Emerson Monteiro *
16. José Flávio Vieira *
17. João Nicodemos *
18. José do Vale Feitosa *
19. Liduina Vilar *
20. Carlos Rafael *
21. Armando Rafael *
22. Bernardo Melgaço *
2 3. Domingos Barroso *
24.. Roberto Jamacaru *
25.Dimas de Castro *
26.Joaquim Pinheiro *
27.Edmar Lima Cordeiro*
28.Olival Honor *
29.José Nilton Mariano*
30.Marcos Barreto *
31.Isabela Pinheiro *
32.José Newton Alves de Sousa *
33.Vera Barbosa . *
34. Rogério Silva *
35.Heládio Teles*/Socorro Moreira
36.Roberto CARVALHO
37.Dihelson Mendonça *



Email : sauska_8@hotmail.com ou cbbloc@uol.com.br
Outras informações :
Tiragem : 1.000 exemplares
Distribuição entre autores : 20 para cada = 700 unidades
Saldo : será transformados em ingressos para cobrir as despesas da festa de lançamento : coquetel, convites, divulgação, banda,decoração, etc
300 x 20,00 = 6.000,00
Preço do livro por unidade : 20,00
A edição foi orçada em 6.500,00 ( já considerados todos os descontos possíveis).
Número de páginas : 250 ( aproximadamente).
O valor da contribuição por escritor ( 200,00) será depositado numa cta do Editor (Emerson Monteiro) a ser informada por e-mail. Em contrapartida será enviado respectivo recibo.
Atentar para as datas limite de pagamento : 05.05.2010

OBS: A maioria dos autores já fizeram depósitos de contribuição. Aguardem recibos !

URGENTE
Informem por email os pagamentos já efetuados , na cta de Emerson, e recebam seus recibos de quitação .
emersomonteiro@gmail.com

Outrossim, quem deixou de enviar um dos textos, foto ou release, favor fazê-lo com urgência!
Até 21 de março, o material deverá ser revisado e entregue , nas mãos de Emerson para diagramação e edição.
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Claude e Socorro Moreira