Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

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sexta-feira, 4 de setembro de 2009

UMA LEGIÃO DE PEQUENOS HERÓIS por Joao Marni

Criança é um serzinho que acorda, faz o desjejum com os olhos remelados e á força. Vai para a escola ainda sonolenta por não ter ido dormir cedo e, no carro com os pais, reclama da vida que tem. Lá, estuda brincando, lancha e recreia; volta para o almoço e dana-se até que a mãe o chame para o dever de casa, volta a danar-se, lancha, brinca, janta e finalmente dorme após o leite achocolatado.
Todas as crianças deveriam ter essa rotina, mas não é bem assim: observamos, com muito pesar, outras que mal dormem por que não há um colchão, uma rede, um cantinho que seja, ou porque o barulho do estômago as acorda. Acordam, procuram o que comer, não acham e partem a pé para a escola, de olhos na merenda do Ministério da Educação. Às vezes não tem, porque a roubaram. Voltam para casa com cérebro e os intestinos vazios. Lá a mãe já fizera das tripas coração e salgara com lagrimas a primeira refeição de seus filhos. Não vale repetir. Ordena-lhes para irem logo até a padaria da moda e lá ficam, a tarde inteira, todos os dias, - muitas vezes postas a correr-, fazendo-se notar e suplicando: “ei, senhor, se sobrar uma moeda, você me dá”?

Às vezes cai em suas mãos uma moeda, ou pão, ou não. Depende do nosso humor, da indiferença ou da nossa indignação. Mas achamos que criança – não o menor – não tem culpa de nada. Essas das quais lembramos não nos abordam com canivete ou caco de vidro. Passei a não ficar indiferente ao chamado da consciência de minha infância bem cuidada e resolvi então doar-lhe um pão por dia, trezentos e sessenta e cinco por ano. Já está no orçamento. Moeda não, pois pode parecer esmola ou estimular a malandragem ou a mendicância. O pão é gesto de amizade, de divisão, de comunhão. Vamos todos nessa?

Nada de não ou cara feia, só a certeza de que uma atitude, mesmo mínima, alivia um sofrimento e escancara um sorriso, mesmo naqueles sem os incisivos centrais superiores, típicos dos seis aninhos

Os Bufões em flor maravilha - Informe Caldeirão das Artes

Dia 06 de setembro, as 17h, o grupo Dona Zefinha apresenta na Praça Verde do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura o espetáculo "Os Bufões em Flor de Maravilha" contemplado pelo Edital Centro Cultural Banco do Brasil Itinerante.

O espetáculo “Os Bufões em Flor de Maravilha”, interpretado pelo Grupo Dona Zefinha, tem a alegria e a descontração de apresentar o universo infantil cantado e contado de forma lúdica, alinhado com elementos circenses e o zelo com a qualidade artística dos melhores musicais.
A partir de situações do cotidiano urbano e rural, o show vem se desenhando a partir do repertório formado por músicas dos livros “Flor de Maravilha” e “A festa do Saci”, ambos do compositor e jornalista Flávio Paiva, que redescobre e inventa um ambiente educativo, criativo e prazeroso, o que desperta a imaginação de crianças e adultos através das linguagens visuais, da oralidade, do gestual, da simbologia, da sonoridade, do riso, da fantasia, do caráter de jogos, dos brinquedos cantados e do divertimento.

O elenco, homogêneo, que toca, canta e interpreta, conduz a platéia por um maravilhoso jogo de cena. Os palhaços, Bufão, Panfeto, Pafim e Filomena unem-se aos músicos Wagner Ferreira (Baixo), Samuel Furtado (Violino e Trompete), Chiquinho (Guitarra) e Maninho (Bateria), transformando a comédia e a música em um diálogo contemporâneo e misto, induzindo um musical de grande beleza e ritmo.

Um show para crianças de todas as idades!

Divulguem e compareçam!!!


Dona Zefinha apresenta "Os Bufões em Flor de Maravilha"
Data: 06 de setembro de 2009 - domingo
Horário: 17h
Local: Praça Verde do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura
Entrada Franca

A César o que é de César - Por Jose do vale Feitosa

Pode um ato representar a síntese de uma vida? Tenho certeza que não. A vida tem tantas possibilidades, uma quantidade imensa de modos de reagir a um mesmo fato que jamais existiria um ato para conceituá-la. Mas aquele riso entre dentes, com sopros chiados intercalados, entre o prazer próprio do sorriso e a gozação de uma determinada situação, era ele por inteiro.

Claro que havia a pinça formada pelo indicador e o polegar, retirando o torrado de uma variação de caixinhas. Imediatamente indo até ambas as narinas, que o aspirava em apenas dois atos contínuos. Em seguida, oferecia a algum sobrinho já com o olhar vivo de quem esperava algo. O menino, à vezes, só a com a aproximação do rapé às narinas, começava a espirrar e o característico riso balançava seu corpo todo. A voz baixa, roupas simples, de pouca variação, era quase um uniforme. Sempre calçando o que ficava entre algo parecido com sapatos e alpercatas.

Poucas vezes o vi, assim mesmo em ocasiões muito especiais, com roupas distintas. De uma vez, e claro não o vi pessoalmente, era a foto do seu casamento. Pois tais roupas tinham uma expressão que poucos souberam traduzir. Uma tradução mais fácil, que identificasse ali um ser simplório, certamente se enganaria em primeira mão. Outra que visse um revolucionário, que negava o padrão vigente ao vestir-se, também não encontraria a fúria justa de quem deseja soterrar o status quo.

Menos eu que tive o privilégio de ser um sobrinho-filho. Tive a primazia de ser o filho mais velho de sua irmã e, por isso mesmo, a oportunidade de vê-lo muito jovem ainda. Muito jovem cuidando de um grande patrimônio, este de muitos, que de tão enovelado entre pessoas, era inadministrável. O vi coordenando dezenas de empregados, viajando de um lado para outro. Amanhecendo na moagem da cana e anoitecendo no esguicho do vapor que subtraia pressão à caldeira no final da jornada. O vi examinando a soca da cana e acompanhando o seu corte. O vi cuidando de vacaria, jamais esquecerei seu portentoso touro holandês. Que igual valentia e zelo com as fêmeas do seu rebanho, não me recordo.

Um belo dia, de uma manhã iluminada, os mosaicos da sala anunciando uma força de eternidade, ele entrava com grandes pacotes. Chamava os sobrinhos que estivessem por perto e, abrindo os volumes, cortava grandes fatias de queijo de manteiga e goiabada. Fazia um sanduíche maior que a boca dos meninos, só para ter o prazer de vê-los tentando morder aquela espessura além de suas fomes. Enquanto as bocas se escancaram no esforço, o sorriso silencioso estimulava o ambiente em forma de total infantilidade.

Se formos contabilizar os sobrinhos que, em distantes cidades, receberam pacotes com guloseimas nordestinas ou outros artefatos regionais, tem-se a maior proporção do universo deles. Não me dou conta de quantos os recebi pessoalmente ou até mesmo enviado por algum portador ou pelo correio. Como também foram muitas as vezes em que o vi amarrando volumes para enviá-los para alguém à distância. Recordo muito dele organizando tais presentes para enviar aos parentes na transoceânica Europa.

E o quê significava aqueles presentes? Gentileza em primeiro lugar, porque, apesar de ser uma pessoa séria, era muito gentil. Era doce, até mesmo para com os filhos com quem tinha obrigações de disciplinar. Em segundo lugar, era a doação de um patrimônio cultural que ele guardava como registro de vida e história. Recordo quando chegava à casa do meu pai, em Crato e lá vinha ele com Tia Almina, os dois com roupas formais, visitar-me como um presente de boas vindas. Nesse mundo informal e imediatista, não me lembro de outro gesto mais civilizado do que aquele. Em terceiro lugar, era a dimensão da grandeza que possuía, mas não transmitia na sua inserção púbica e nem na vestimenta cotidiana. Era como se dissesse ao mundo, que nem tudo que a aparência denota, informa a real natureza das coisas.

Parece uma espécie de pensamento esotérico. Só relevado para alguns. Mas no quarto dele, na caso do Recreio, haviam tesouros do mundo como realmente o mundo era. Uma foto, uma carta, um recorte de revista ou jornal, algumas peças utilitárias da vida rural, mesmo velhos lampiões ou anéis que ornavam antigos arreios. Sobre os guarda-roupas ou, se não me engano, numa espécie de sótão em que o passado resistência ao esquecimento. Eu jamais fui iniciado naqueles conhecimentos, mas não tive a menor dúvida que havia.

Tempo após, em seu quarto no apartamento em que viveu no Crato, novamente encontrei os sinais desse mundo que se dimensionava além das aparências. Das aparências de quem se resume a um único lado das coisas. Das luzes que brilham feito estrelas, que a semelhança das super-novas, explodem em belíssimo espetáculo, mas de curta permanência. Como acontece continuamente nos espasmos do sucesso, na projeção que costuma encerrar-se com a sessão ou na saliência que praticamente pede às intempéries do tempo, que a aplane.

Quando os familiares brincavam como sua freqüente presença nas marchas fúnebres, mas denotavam seus afastamentos da vida uma vez que o corpo é, até o último ato, a expressão dela. A vida é o corpo integralmente, até a memória que se inscreve na lápide ou a presença frágil de um crânio que revela a idade dos homens desde os primórdios. Na verdade, César compreendia plenamente a sua cidade e a respeitava em sua integralidade, de tal modo que ninguém, que em vida cumprimentava ou ao corpo em respeito acompanhava, lhe era estranho. E isso já não era verdade para desleixo da maioria dos seus parentes.

De hábitos regulares. Jamais se excluiu da dinâmica do prestígio ou desprestígio político dos próximos a si. Quando a maré era enchente, não esteve na maçaneta que abre-se para as vantagens, mas perfeitamente foi solidário na vazante que historicamente teve forte teor raivoso. Se para quem vive ao passo dessas conquistas pessoais, a falta de passos em alguns degraus poderia ser inapetência, é também verdade que os vencedores se mediocrizam pelas próprias conquistas. E ele aprendeu a dar aos outros, conquistadores ou derrotados, um valor que ia além da própria vida.

Como pessoa original de sua cidade, sabia buscar no campo mitológico a antropogenia de sua família. Utilizando-se da mesma metodologia que os gregos usavam para divinizar suas origens. Ele estabeleceu linhas de comunicações e escreveu textos que na prática era a teogonia dos seus valores, com quem se comunicava em silêncio. Um dia revelou para uma sobrinha que era espírita. O que isso pudesse ser, como religião ou filosofia, na verdade era a síntese de um homem que viveu na civilização técnico-científica como se buscasse a fórmula do moto perpétuo para gerar bem estar e a panacéia para sarar o sofrimento da humanidade.

E que todos nós, que o testemunhamos: Dê a César o que é de César.

Gentil colaboração de Maria Amélia Castro

Vamos rir !!- Resposta ao anúncio da ex-noiva - Por Lícia Serra

O homem que é machista
Nunca existiu dentro em mim
Não faz parte dos meus dias
Não me dá ordens, enfim.

Sou filha de um anarquista
Inteligente e artista
Minha mãe é rezadeira
Mas é livre por inteira
E me ensinou ser assim.

Os machistas embutidos
Modernos e bestiais
Perdem logo o desempenho
Tanto no sexo,
Como no sentimental

Só conseguem mulher lerda
Ou bondosas por excesso...
Mas dentro da sua alma
Elas sabem o que querem
Não se dobram nem a pau

Fingem que tá tudo certo
E agem como se o parceiro
Fosse um débil,
um louco mental

Parceria é complemento
Cumplicidade, crescimento
Respeito e lealdade
Desencontrado da verdade
Nem que tenha esperteza
Não vale nem um trocado.

Acorde menino belo
Perfeita é a tua casta
Sozinho nada lhe falta
Sem a mulher do seu lado

Mulher com autonomia
Sabe escolher seus afetos
Dispensa qualquer fedelho
Com pinta e crista de galo

Nesse caso a galinha
Vira capota das brabas
garanto que não escuta
A zonada da mutuca
Os latidos do cachorro
Que acorda na madrugada.

O amor só fica lindo
Quando o par se harmoniza
Nem falo que nunca briguem
Pois de fato isso é raro

Mas observo feliz
Que é fruta do mesmo galho.
Homem e mulher ...
Vivem e morrem ,
no amor, que é dobrado

Vamos sorrir!!!

POEMA ESCRITO POR ELE (o noivo):

Que feliz sou eu, meu amor!
Já já estaremos casados,
o café da manhã na cama,
um bom suco e pão torrado

Com ovos bem mexidinhos
tudo pronto bem cedinho
depois irei pro trabalho
e você para o mercado

Daí você corre prá casa
rápidinho, arruma tudo
e corre pro seu trabalho
para começar seu turno

Voce sabe que de noite
gosto de jantar bem cedo
de ver você bem bonita
alegre e sorridente

Pela noite mini-séries
cineminha bem barato
nunca iremos ao shopping
nem a restaurantes caros

Voce vai cozinhar pra mim
comidinhas bem caseiras
pois não sou dessas pessoas
que gosta de comer fora...

Voce não acha querida
que esses serão dias gloriosos?
Não se esqueça meu amor
que logo seremos esposos!

POEMA ESCRITO POR ELA

Que sincero meu amor!
Que oportunas tuas palavras!
Esperas tanto de mim
que me sinto intimidada

Não sei fazer ovo mexido
como sua mãe adorada,
meu pão torrado se queima
de cozinha não sei nada!

Gosto muito de dormir,
até tarde, relaxada
ir ao shopping fazer compras
com a Mastercard dourada

Sair com minhas amigas,
comprar só roupa de marca
sapatos só exclusivos
e as langeries mais caras

Pense bem, que ainda há tempo
a igreja não está paga
eu devolvo meu vestido
e você seu terno de gala

E domingo bem cedinho
prá começar a semana,
ponha aviso num jornal
com letras bem destacadas


HOMEM JOVEM E BONITO
PROCURA ESCRAVA BEM LERDA
PORQUE SUA EX-FUTURA ESPOSA
MANDOU ELE IR PRÁ MERDA!!!!!!

Palas Athena ( Minerva ) e a Coruja



As aves, por serem consideradas os seres mais próximos dos deuses, foram, conforme suas características e atribuições, associadas a eles. A soberana águia acompanhava o poderoso Zeus, o imponente pavão, sua consorte e protetora dos amores legítimos: a deusa Hera. À atenta coruja coube a companhia da sábia Athena.

Vemos a imagem da coruja, símbolo de uma vigilância constantemente alerta, nas mais antigas moedas atenienses. A coruja, em grego gláuks “brilhante, cintilante”, enxerga nas trevas. Um dos epítetos de Athena é “a de olhos gláucos” (esverdeados).

Em latim é Noctua, “ave da noite”. Noturna, relacionada com a lua, a coruja incorpora o oposto solar. Observem que Athena é irmã de Apollo (Sol). É símbolo da reflexão, do conhecimento racional aliado ao intuitivo que permite dominar as trevas.
Apesar de haver uma forte associação desta ave à escuridão e a sentimentos tenebrosos, o que é natural a um ser noturno, o fato de ela ter sido (devido a suas específicas características) atribuída à deusa Athena também a tornou símbolo do conhecimento e da sabedoria para muitos povos.


A coruja é uma excelente conhecedora dos segredos da noite. Enquanto os homens dormem, ela fica acordada, de olhos arregalados, banhada pelos raios da sua inspiradora Lua. Vigiando os cemitérios ou atenta aos cochichos no breu, essa ambaixadora das trevas sabe tudo o que se passa, tendo-se tornado em muitas culturas uma profunda e poderosa conhecedora do oculto.

Havia uma antiga tradição segundo a qual quem como carne de coruja participa de seus poderes divinatórios, de seus dons de previsão e presciência. A coruja tornou-se assim atributo tradicional dos mânteis, daqueles que praticam a mântica, a arte do divinatio, da adivinhação, simbolizando-lhes o dom da clarividência.


Eis a ave da deusa da Sabedoria e da Justiça: atenta coruja, cujo pescoço gira 360º, possuidora de olhos luminosos que, como Zeus, enxergam “O todo”. Devido a todos esses atributos, a Coruja simboliza também a Filosofia, os Professores e nossa proposta de Conhecimentos Sem Fronteiras: integrar todas as formas de conhecimento com o olhar para O Todo.

Na introdução de sua obra Filosofia do Direito, o Filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1830), escreve o seguinte.


"Quando a filosofia chega, com sua luz crepuscular, a um mundo que declina, é porque alguma manifestação de vida está prestes a desaparecer. Não vem a filosofia para renová-la, mas apenas para reconhecê-la.A coruja de Minerva alça seu vôosomente com o início do crepúsculo.”

A frase de Hegel, que diz que a Coruja de Minerva levanta vôo somente ao entardecer, alude ao papel da filosofia. Ou seja, a filosofia só pode dizer algo sobre o mundo, através da linguagem da razão, após os acontecimentos que haviam de acontecer realmente acontecerem. Antes que “prever para prover”, que é um lema de Comte e, portanto, do espírito cientificista, Hegel preferia dar crédito a uma postura filosófica que se via distinta da postura da ciência: a voz da razão explica – racionaliza – a história. Ou seja, depois da história, ela mostra que esta não foi em vão.

Quando já não se enxerga mais através dos fatos é que a filosofia lança seu olhar em sobrevôo buscando minuciosamente entre a escuridão as verdades de seu discurso.



http://www.esdc.com.br/CSF/artigo_palasathena.htm
http://www.mundodosfilosofos.com.br/minerva.htm
http://acorujadeathena.blogspot.com/2009/04/coruja-de-minerva-simbolo-da-filosofia.html


O ilusionista (Ana Cecília)




O tempo varre a memória,
devastador.

O tempo desfigura imagens.
Suave ou brusco,
atenua contornos, desfaz ilusões,
deixando nua a minha recordação.

O tempo torna anônimas as marcas em minha própria face,
como se não fossem
vestígios do que vivi.


[Publicado em A Impossível Transcrição]
Foto: 160º. Mário Vítor Bastos. Disponível em http://www.flickr.com/photos/mvitor

Etérea vestida de terra - Por: Socorro Moreira


Já não mergulho em águas azuis

Prefiro a transparência da chuva

que desfaz a tempestade

Prefiro a partida

sem apelo ou despedida

-Alçar voos , além do arcoíris


A máxima do amor é

quando ele perde a cara,

mistura-se na luz e

enche o coração do mundo


Acorda meu sol

Mostra minha face invisível ,

presa no prazer do dia

Já não procuro a sarna...


Lembranças -trajetória finita


Nós se desatam

quando o tempo passa

e a gente fica.


A saudade carrega um samba no pé

A vida pode durar um verso,

que se imortaliza


Enquanto existir pedra no caminho

a vontade multiplica a força

É bom soltar florzinhas

Ser vento

Ser passarinho


Se você chegasse ...

Eu nem me despedia !


( foto : Fábio Vasconcelos)

Primavera Cariri... Por Pachelly Jamacaru




Mitologia Grega- Mito Deméter: A Terra Mãe e de Core - Por: Stela Siebra Brito

Conta a mitologia que quando Plutão raptou Core, a filha muito amada de Deméter, a terra sofreu sérias conseqüências.
É que Deméter – deusa e mãe da terra cultivada – cheia de dor e revolta com a ausência da filha, retirou-se de suas funções, provocando na terra uma seca devastadora.
Foi assim que a história se deu: distraia-se a deusa Core e suas amigas ninfas, no meio de um campo florido, quando foi vista e, de imediato, amada por Plutão, que acabara de ser atingido por uma seta de Eros.
Ora, Eros apenas atendeu a um pedido da mãe Afrodite, desejosa de alargar seu império de Amor até o Hades.
Deméter recusou, a Plutão, permissão para casar com sua filha, mas o pretendente não desistiu e pediu ajuda ao Senhor do Olimpo. Zeus o aconselhou a aguardar uma ocasião propícia e Plutão suspendeu o assédio, enquanto arquitetava um plano.
E a oportunidade logo se apresentou, quando Core e suas amigas passeavam em um bosque de eterna primavera e águas cristalinas.
A filha de Deméter colhia lírios e violetas quando, extasiada, percebeu um magnífico narciso à beira de um lago. Debruçou-se para apanhá-lo, mas eis que de uma larga fenda aberta na terra surge, do abismo escuro, um carro de ouro conduzido por Plutão.
A moça é arrebatada pelo senhor do Hades, que a transporta para as profundezas do seu reino. Core grita pedindo socorro, na esperança de ser salva por Deméter ou talvez por seu poderoso pai Zeus. Mas a carruagem já mergulha no seio da terra e ganha o mundo das sombras. Core ainda grita. Deméter escuta. Corre para o local de onde veio o som, mas apenas vê a terra fechar-se sobre o rastro da filha.
Agora a deusa Core pertence ao sombrio Tártaro e nem seu nome pode conservar. Passa a chamar-se Perséfone.
Deméter, desesperada, vaga dias e noites à procura da filha. Sobe ao Olimpo, interroga, ninguém sabe. Procura o Sol, que tudo vê, e pede-lhe que revele quem raptou sua filha.
- Plutão a arrebatou para seu mundo, com o conhecimento de Zeus, respondeu-lhe o Sol. Irritada com os irmãos, Deméter abandonou o monte sagrado e suas funções divinas. Resolveu permanecer na terra até que lhe devolvessem a filha. Disfarçada de velha, dirigiu-se a Elêusis; aí é convidada pela rainha Metanira para cuidar do seu filho Demofonte.
A deusa deseja tornar o menino imortal e passa a realizar, diariamente, o ritual iniciático. Uma noite Metanira surpreende a deusa no ritual. Vendo o filho entre as chamas do fogo, grita desesperada.
Deméter interrompe o rito iniciático e surge em todo seu esplendor de deusa. Solicita, então, que lhe ergam um grande templo, onde ela, pessoalmente, ensinaria seus ritos aos seres humanos.
Depois, recolheu-se no interior do Santuário, consumida pela saudade da filha Perséfone. Tal era sua dor e revolta que se recusou a continuar protegendo as plantações e as colheitas. A terra estava estéril e as plantações morriam. A fome se alastrava.
Vendo que a ordem do mundo estava ameaçada, Zeus manda mensageiros a Deméter, pedindo-lhe que retorne ao Olimpo. Ela impõe a condição de devolverem-lhe a filha, para só então voltar ao convívio dos deuses e restabelecer a vida da vegetação.
Zeus pede a Plutão que devolva Perséfone. Plutão consente, mas antes de fazê-lo, o senhor do Hades, habilmente, induziu a esposa a comer uma semente de romã, o que a impedia de deixar a “outra vida”. Ela não conhecia a regra: quem comesse qualquer coisa no Tártaro, devia sempre retornar.
Chegou-se, assim a um consenso: Perséfone deveria passar com o esposo quatro meses do ano e as duas outras partes ficaria com a mãe e no convívio dos deuses.
Feliz com o retorno da filha, Deméter dirige-se para o Olimpo em sua companhia. A seus passos os campos ressecados umedecem e fertilizam-se. As flores voltam a desabrochar, toda a natureza fica em festa.
Antes de voltar ao Olimpo, porém, a augusta deusa ensinou todos os seus rituais ao rei Céleo e a seu filho Triptólemo. Estavam instituídos os Mistérios de Elêusis.
No Santuário de Elêusis a deusa é proclamada a “maior fonte de riqueza e alegria”. Recuperando, por dois terços do ano, a companhia de Perséfone, a deusa devolveu o grão de vida, que em sua dolorosa ira havia escondido.
Deméter, assim é a “Terra-Mãe, a matriz universal, a mãe do grão, e sua filha o grão mesmo do trigo, alimento e semente, que escondida por certo tempo no seio da Terra, dela novamente brota em novos rebentos”.

Stela Siebra

Aqui nesse mesmo lugar ...

Sobre o ensaio fotográfico- Angela Moraes- Por : Prof. Zé Nilton
















Olha só que alegria, ver a minha amiga Ângela Moraes por aqui. Sempre bonita, radiante, poeta e mulher de mil prendas. Tenho que o seu melhor e mais belo ofício é a arte de retratar as naturezas. Ela faz do que você pensa não ser nada, um buquê de zis interpretações. Tece as coisas do mundo e te mostra um novo mundo de coisas plenas de cores, vida e esperança. Ela faz dum mangará de bananeira, duma quenga de coco, duma capemba de macaúba, dum cacho de catolé, duma asa de borboleta o que a natureza não lhes afeiçoou para encher nossos olhos como obras de arte. É como se ela ajudasse ao Criador a manter a sua gloriosa estética nas partes descartáveis de sua criação.
Conheci-a no meio dos anos 70, quando eu coordenava um complexo escolar, situado entre o Arpoador e o Posto Seis, no Rio de Janeiro. Ao chegar, como professora de educação artística, logo ela empolgou um projeto de escola que tinha na arte seu principal núcleo orientador do ensino/aprendizagem. De imediato, tentou fazer uma articulação da arte nordestina com a arte cosmopolita do Rio, em seus trabalhos com adolescentes da classe média alta, que freqüentavam a Sociedade Isa de Matos Prates e o Colégio Pernalonga, escolas modelo da zona sul do Rio de Janeiro.
Por esta época, isto era feito no plano musical através do grande Belchior, do Fagner, do Quinteto Violado, de Alceu Valença e da recém chegada Elba Ramalho, entre outros. Mas, seu entusiasmo não teve a devida aceitação.
A nordestina Ângela Moraes, graduada numa das melhores escolas de formação em arte-educação do Rio, o Instituto Bennett, não logrou êxito em sua iniciativa de levar para dentre daquela escola, dirigida por três desconfiados mineiros, o que já se assimilava no plano musical, ou seja, alguns elementos embutidos nos traços, nos complexos e nos padrões culturais do outro, do diferente, que circulavam abertamente na boca e nos ouvidos dos cariocas, trazidos pelos sucessos musicais do pessoal do Nordeste.
Numa das feiras de ciências, cultura e artes, o ponto alto do calendário da escola, nervosamente coordenada pela diretora pedagógica, uma das proprietárias do complexo escolar, as idéias da profa. juazeirense, filha da grande mestra Zuíla Moraes, consubstanciadas em trabalhos sob sua orientação de artista plástica e arte-educadora foram severamente criticadas por quem não alcançava seus tirocínios e morria de medo de sua possível ascensão no comando do estratégico núcleo de artes da escola.
Como assistente da diretoria, espécie de gerente geral sou instado a fazer aquilo que mais me doeu nos meus tempos de Rio de Janeiro, principalmente por ter a consciência dos interesses em jogo e do processo histórico daquele momento: demitir, sem justa causa a professora Ângela Moraes.
Sou por demais grato à sua compreensão quanto à minha função naquele estabelecimento. Nada mudou entre ela e eu. Continuamos a nos encontrar ao lado de muitos amigos comuns que freqüentavam seu apartamento, no 12º. andar, num edifício do outro lado do cine Veneza, de frente para a baia de Botafogo.
Quantas noites ali ficávamos, quedados ao janelão, a olhar o clarão do luar que descia do Cristo Redentor e prateava as águas calmosas da praia de Botafogo.
Grande amigo sou de Ângela. E é pela confiança de uma amizade terna e respeitosa que há entre a gente, que revelo ter feito uma música pra ela, a seu pedido.
Gravei no meu primeiro CD
De onde olho:
.
Taí o samba que fiz pra você
Taí você pediu e eu lhe dou
E tudo que existe em mim de grave e carinhoso
Está nas notas deste samba novo...

Acho que esta é a melhor parte que você guarda de mim.

Outro dia Cristina lhe encontrou e me falou de você. Ela sabe de tudo “do que houve entre nós dois”, com diria Herivelto Martins.
Zé Nilton
(Um depoimento tão lindo não poderia ficar como comentário, mas ilustrando outros ensaios fotográficos da Angela)
Socorro Moreira

Exposição Virtual Parte II - Edilma Rocha - Por Socorro Moreira

Sua arte é andarilha. Viaja , colhe, e pinta !


Um mar , pendurado nas nossas vistas. Barulho na concha do ouvido.Sabor de sal.Água azul dos sentimento - Edilma cria !




( Edilma e Ricardo )
É dourada a miragem da cidade luz. Edilma é sol...Nos olhos e na alma , e o seu pincel sabe disso.

"...Nosso barco partiu". Pela tela de Edilma , ai que linda ! "Carolina" viu !


O azul é a cortina do mar.Cortina transparente , enfeitada de ondas ou rendas?
Quando ela perde o dourado , a lua chega para prateá-la .

Enigmas - Por: Socorro Moreira


Madrugada e neblina
Esperam o nascimento do dia.

Enquanto todos dormem,
Preparo um sonho,
Mas ele brinca de esconde - esconde.
Foge do meu colo, dos meus beijos.

Ontem eu viajei no destino
Desenhei com cipó
A trilha do caminho
Chamei-te em pensamento
Você e os meus segredos

Encontrei o colo de Gaya
Senti as dores do parto
O pedido de clemência,
E a clemente oferta do amor.

Teu vento faz dançar as minhas folhas
Balança os sinos do meu corpo
Cria um mantra de nós dois.
.
Fios que nos unem não teiam
Não fiam a confusão de tantas vidas
Fios que nos unem se enrolam,
No decifro dos nossos enigmas!
.
Baby,
Eu quase me declaro em todas as notas

.