Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

 

 
El sueño del celta: do genocídio à globalização

 
Chego no final das 464 páginas de El sueño del celta, o último livro de Mario Vargas Llosa. Como A Guerra do fim do mundo, trata-se de uma espécie de recriação histórica. No caso, as aventuras de um diplomata inglês, Roger Casement (1864-1916), que foi cônsul em Santos, no Pará e no Rio de Janeiro. De origem irlandesa, distinguiu-se, no início do século passado, por denunciar as atrocidades cometidas no Congo pelos esbirros de Leopoldo II, rei dos belgas, e as perpetradas no Amazonas peruano pelos exploradores da borracha. Para quem leu os dois livros é difícil não fazer a comparação. A guerra do fim do mundo pode ser mais instigante, pois levou às últimas consequências um desafio que nenhum escritor brasileiro ousou aceitar: traduzir numa obra de ficção a saga do Conselheiro – místico e mártir de Canudos – e recompor o sertão euclidiano em toda sua complexa geometria.
Mas El sueño del celta se ocupa de outro personagem histórico não menos controvertido. Embora a história de Roger Casement se situe num contexto diferente, é tão polêmica quanto a do beato do Monte SantoRoger Casement foi um herói dos direitos humanos avant la lettre e terminou por se envolver com grupos independentistas da Irlanda, o que lhe custou caro. Acusado de traição por suas ligações com a Alemanha, em guerra contra a Inglaterra, foi feito prisioneiro na prisão de Pentoville. Seu diário, apelidado de Diário negro, eivado de confidências pessoais, caiu nas mãos do serviço secreto inglês e foi utilizado contra seu autor, acusado de traição e homossexualismo. Há quem sustente que certas passagens foram forjadas, discussão que dura até hoje. Mas o certo é que páginas do diário serviram de argumento determinante para levar Roger Casement ao cadafalso no dia 3 de
agosto de 1916.
El sueño del celta se divide em três parte (El Congo, La Amazonía e Irlanda). Nos capítulos ímpares são narrados os três meses de prisão que precederam a execução de Roger Casement. Através desses capítulos o leitor acompanha a intimidade, a angústia e as reflexões do personagem nos seus últimos momentos de vida. É através deles que Vargas Llosa explora sua visão do mundo. Os capítulos pares se desenrolam como reportagens sobre a exploração, as torturas, as chacinas praticadas contra as populações do Congo e da Amazônia peruana e a participação de Casement na fracassada Insurreição Irlandesa de 1916.
Entre A Guerra do fim do mundo e El sueño del celta mudam os cenários, mas pouco sofre a visão do escritor sobre o absurdo da condição humana. Se o paradigma de Vargas Llosa é a escrita de Flaubert – a quem dedicou todo um livro, A orgia perpétua –, é certamente inspirado em escritores como Camus que ele busca demonstrar o quanto a vida da ficção torna mais suportável, embora paradoxalmente mais pobre, nossa vida verdadeira. Enquanto A Guerra do fim do mundo o cenário é único – o universo de Canudos – em El sueño del celta a aventura do personagem é tricontinental: o
Congo (pedaço da África então sob o domínio de Leopoldo II, rei dos belgas), Iquitos e a selva peruana (onde se articulavam interesses peruanos, brasileiros e ingleses em torno da exploração dos seringais) e a Irlanda (envolvida num conflito nacionalista que teve como pano de fundo as contradições imperialistas que deram origem à Primeira Guerra Mundial).
A forma contundente com que Vargas Llosa narra certos episódios e os articula no contexto histórico da época nos oferece uma verdadeira ‘aula de história’ e um exercício de desmistificação sobre os primórdios de nosso capitalismo selvagem. Numa entrevista a El País, em 29 deagosto de 2010, respondeu que na Bélgica o rei Leopoldo II não era tratado como genocida. Ao contrário, ali havia um museu maravilhoso, apesar de se calcular que, no Congo, haviam morrido mais de dez milhões de pessoas, duas vezes mais do que no ‘holocausto’ judeu. Como no exemplo do rei Leopoldo II, vários de nossos “heróis” envolvidos em crimes contra os direitos humanos também têm seus nomes nas placas de muitas de nossas ruas e praças.
Apesar de ser considerado por muitos como um conservador, devemos à arte do romance de Vargas Llosa – entre os quais este El sueño del celta – a desconstrução dos fundamentos coloniais de nossas elites e uma escrita que abre com corte de bisturi as entranhas de nossa América. É bem verdade que sua preocupação maior é penetrar nos labirintos da condição humana para decifrar as origens do mal. Nesse aspecto, esse seu livro certamente será cotejado com outros que tratam da mesma realidade – a exploração brutal de populações nos confins do mundo –, a exemplo de O coração das trevas, de Conrad. Mas se quisermos penetrar nas entrelinhas de seus romances é possível entrever o ovo da serpente que acabou por gerar a sociedade em que vivemos. Afinal, na raiz do imperialismo dos conglomerados financeiros, que nos acostumamos a chamar de globalização, estão os resquícios da rapina e dos crimes contra a Humanidade de que tratam alguns romances do autor do tão nosso A guerra do fim do mundo.
 
(Everardo Norões)

FALANDO DE FLORES - Por Edilma Rocha


PAPOULA - Papaver somniferum - A bela que faz dormir.
Esta belíssima flor traz em si a força e o magnetismo da Lua. Das suas sementes, os seus derivados entorpecem os sentidos e transportam o homem ao mundo dos sonhos.


Planta anual e rústica, com altura que vai de 75cm a 1,20m  .Originada  na Ásia. Também conhecida como "dormideira". A denominação somniferum está relacionada na mitologia grega com o deus dos sonhos Morpheu (de onde vem a palavra morfina) e Nix, deusa das trevas, filha de Caos, sempre representada com uma coroa de papoulas. Muitas vezes aparece no Tártaro, entre o sono e a morte, seus filhos. Os romanos a representavam sempre adormecida. Os sumérios, há mais de 3 mil anos, usavam a planta em cultos religiosos. Hipócrates foi um dos primeiros a descrever seus efeitos medicinais contra diversas enfermidades. No século XVI, Paracelso, médico e alquimista suíço, a partir de um concentrado de suco de papoula preparou o láudano, com o poder de curar muitas doenças e rejuvenecer.


Da papoula é extraído o ópio e a morfina, depressores do sistema nervoso central. O ópio também contém substâncias como a cocaína, e a heroína. Por serem consideradas drogas que viciam, o cultivo da papoula é controlado na maioria dos países. Somente em alguns lugares como a Tasmânia e Tailândia o cultivo é permitido. Na medicina, a morfina e a codeína são anestésicos poderosos.

Flores da família da papoula, no Brasil.

OS HOMENS OCOS - T.S. ELIOT

"A penny for the Old Guy"
(Um pêni para o Velho Guy)

Nós somos os homens ocos
Os homens empalhados
Uns nos outros amparados
O elmo cheio de nada. Ai de nós!
Nossas vozes dessecadas,
Quando juntos sussurramos,
São quietas e inexpressas
Como o vento na relva seca
Ou pés de ratos sobre cacos
Em nossa adega evaporada

Fôrma sem forma, sombra sem cor
Força paralisada, gesto sem vigor;

Aqueles que atravessaram
De olhos retos, para o outro reino da morte
Nos recordam - se o fazem - não como violentas
Almas danadas, mas apenas
Como os homens ocos
Os homens empalhados.

II

Os olhos que temo encontrar em sonhos
No reino de sonho da morte
Estes não aparecem:
Lá, os olhos são como a lâmina
Do sol nos ossos de uma coluna
Lá, uma árvore brande os ramos
E as vozes estão no frêmito
Do vento que está cantando
Mais distantes e solenes
Que uma estrela agonizante.

Que eu demais não me aproxime
Do reino de sonho da morte
Que eu possa trajar ainda
Esses tácitos disfarces
Pele de rato, plumas de corvo, estacas cruzadas
E comportar-me num campo
Como o vento se comporta
Nem mais um passo

- Não este encontro derradeiro
No reino crepuscular

III

Esta é a terra morta
Esta é a terra do cacto
Aqui as imagens de pedra
Estão eretas, aqui recebem elas
A súplica da mão de um morto
Sob o lampejo de uma estrela agonizante.

E nisto consiste
O outro reino da morte:
Despertando sozinhos
À hora em que estamos
Trêmulos de ternura
Os lábios que beijariam
Rezam as pedras quebradas.

IV

Os olhos não estão aqui
Aqui os olhos não brilham
Neste vale de estrelas tíbias
Neste vale desvalido
Esta mandíbula em ruínas de nossos reinos perdidos

Neste último sítio de encontros
Juntos tateamos
Todos à fala esquivos
Reunidos na praia do túrgido rio

Sem nada ver, a não ser
Que os olhos reapareçam
Como a estrela perpétua
Rosa multifoliada
Do reino em sombras da morte
A única esperança
De homens vazios.

V

Aqui rondamos a figueira-brava
Figueira-brava figueira-brava
Aqui rondamos a figueira-brava
Às cinco em ponto da madrugada


Entre a idéia
E a realidade
Entre o movimento
E a ação
Tomba a Sombra
Porque Teu é o Reino

Entre a concepção
E a criação
Entre a emoção
E a reação
Tomba a Sombra
A vida é muito longa

Entre o desejo
E o espasmo
Entre a potência
E a existência
Entre a essência
E a descendência
Tomba a Sombra
Porque Teu é o Reino
Porque Teu é
A vida é
Porque Teu é o

Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Não com uma explosão, mas com um suspiro.


(tradução: Ivan Junqueira)
.

SAMUK - FELIZ ANIVERSÁRIO _ Por Edilma Rocha



O CARIRICATURAS PARABENIZA
O ARTISTA PLÁSTICO SAMUK
 PELO SEU ANIVERSÁRIO.

Medalha de ouro no Salão Outubro 2010 com a tela "Maracatú Atômico"
Fotógrafo em destaque na abertura do Blog Cariricaturas

RECEBA O NOSSO CARINHO NO DIA DE HOJE COM OS VOTOS DE FELICIDADES


A força maior do Universo - Emerson Monteiro

Das proposições, a mais pretensiosa, querer definir em palavras o indefinível. Descrever o indescritível. Gerar das equações um resultado impossível de números inexistentes. Isso, de contar o que representa o sentimento mais elevado, a essência de tudo. Dizer o que significa o Amor em linguagem humana, tarefa das impossíveis, admissíveis, no entanto, à medida do furor das intenções.
A paixão consciente, isto seria o amor. A força maior do Universo, isto que aciona todos os movimentos que houver num dia e haverá no outro, nas curvas tortuosas dos sempres inextinguíveis. A luz de todos os nascentes, visão de todos os olhos existentes e inimagináveis. A unidade primeira das quantidades, avaliável ao Infinito das saturações. Voz de todas as falas, destino de todos os caminhos, próximos ou distantes, em qualquer território, no campo das probabilidades.
Quando nasce um filho, traz consigo a tônica do Verbo Divino, razão principal das existências, desde o fator original dos espécimes primeiros à partição milenária das multiplicações, em menor ou maiores quantidade. O Tudo e o Nada, em iguais proporções. A Força e o Poder, nas consequências inatingíveis de visões e sonhos. Maravilha das maravilhas, prazer fugidio nas seduções, linguagem dos becos e religião das religiões.
Amor, palavra e energia, concentração de pensamento, feixe de raios convergentes numa única direção e nelas todas, direções livres e sentido absoluto das linhas e dos pontos em batimento cardíaco permanente. Algo notável, ainda, porém, quimera de tantos e muitos. Valor infinitesimal. Volume descomunal. Transformação de água em vinho, chumbo em ouro, dos alquimistas e navegadores de substâncias sagradas. Cálice sagrado, pedra filosofal, fortaleza indevassável, vitória em batalhas siderais, vetor de mobilizações sociais, bandeira de palácios em festa, condição numeral dos pitagóricos; o drama e a solução dos conflitos, nexo das histórias misteriosas, linha melódica de danças e sinfonias, fusão de corpos e junção das luminosidades, em galáxias e superfícies, projetos e planos das populações espalhadas entre o oásis e as caravanas, busca desesperada dos tesouros e prospecção de minerais raros.
Instinto de procura e encontro, o amor fala nas ficções e canta nos poetas, conduz romancistas pelas sendas da civilização. Música das esferas, sabor dos elementos, quantia das moedas deste mundo. Razão principal das tradições, o amor dos animais e insetos vem nas flores e nos passarinhos, pigmento das cores oferecidas pela luz ao vigor das águas nos caudais das quedas livres; nos sóis, nas luas, nos ventos, raios e trovoadas, tempo máximo e pulsação da Eternidade.
Som nos naipes e nas elevações; o fervor das orações. O poder superior das preces silenciosas, senso e fé dos desejos virtuosos dos trabalhadores do Bem. O amor, a fala contundente dos corações enamorados. Amor, solidão dos mosteiros e conventos, vida, resistência e renúncia; emoção das emoções, estação final e princípio de jornadas espaciais; alegria das borboletas em nuvens, nas estradas desertas; trilho e meta dos viajores perdidos, jogados aos mares tempestuosos, saudades e abraços de boas vindas; perfume das rosas e tela dos gênios pintores; e sorriso aberto das crianças felizes. A volta ao recomeço...
O amor, das proposições, a mais pretensiosa, querer definir em palavras o indefinível. Descrever o indescritível.

A vocação do lagartixa – Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Em 1954, a energia elétrica da cidade do Crato era obtida de forma precária, de uma pequena hidrelétrica nas nascentes do Rio Batateiras. A tensão era de 220 volts, mas nunca atingia esse nível, de modo que não podíamos ligar geladeiras e outros motores. Eu estava cursando o primeiro ano do curso primário, no Grupo Escolar Alexandre Arraes, tendo sido aluno da primeira turma que inaugurou aquele estabelecimento de ensino. Certo dia, uma lagartixa caiu dentro da jarra na qual todos os alunos bebiam de sua água. A diretora proibiu que brincássemos no recreio daquele dia, para que não sentíssemos sede, pois não poderíamos beber água. Fui ver o tal pote e a lagartixa, que era enorme, estava nadando com o rabinho para cima. Nos matos do Sítio São José, eu tinha experiência de sobra para lidar com lagartixas. Querendo me exibir, peguei a bichinha pelo rabo e sai ameaçando os demais colegas, numa algazarra total. Orlando da Bicuda gritou: “– Pega a lagartixa, minha gente!” –“Lagartixa!” – Responderam todos, em coro. A esta altura já tinha atirado a lagartixa em alguém. De repente surgiu um precoce compositor com uma musiquinha: – “Lagartixa come gente, oxente, oxente!” – Cantavam todos em uníssono.

A lagartixa tinha ido embora e aquela gritaria só podia ser comigo mesmo. Fiquei fulo de raiva e passei a reagir de modo um tanto quanto atabalhoado, correndo atrás de um e de outro, dando chutes e murros ao vento, xingando e ameaçando brigar. Foi o suficiente para que o apelido me caísse como uma luva. Imediatamente, ganhou as ruas da cidade, como fogo em palha de canavial. Moleques de rua, com quem não tinha a menor intimidade, gritavam pelo meu apelido. Depois surgiram várias pichações nos muros da cidade com o versinho de lagartixa come a gente, oxente, oxente. Sentia-me como um louco acossado pela turba. E reagia e brigava e o apelido crescia na mesma proporção da minha revolta. Por causa disso, duas cabeças foram furadas.

A primeira cabeça a sangrar foi a de Orlando da Bicuda. Era assim chamado, porque seu pai, Cícero Moura Rozendo era apelidado de Cícero Beija Flor. Ele possuía uma mercearia que tinha o nome de Mercearia Beija Flor. Não sei quem veio antes, se o apelido ou a mercearia. Orlando era um dos meus melhores amigos. Sentávamos no mesmo banco da escola. Ele me ensinou o ofício de coroinha na capela do Colégio Santa Tereza e juntos íamos ajudar o padre Gonçalo na Bênção do Santíssimo, todas as noites. Mas não premeditei furar sua cabeça. Aconteceu de forma espontânea. Foi durante um passeio com os alunos da minha turma e algumas professoras, colegas da nossa, a um sítio no sopé da Serra do Araripe. Estávamos nas margens de uma pequena levada e ele atirava uns pedriscos em mim e dizia: –“Pega essa lagartixa. Reagi mandando uma taboa de caixote que foi certeira em sua cabeça.

A segunda cabeça a rolar foi a de César Alencar, uns três anos depois, já aluno do Colégio Diocesano. Certo dia, durante o recreio, estávamos jogando futebol e uma turma, que não tinha conseguido entrar no time, começou a atirar uns cacos de telhas dentro da quadra. César estava no meio dessa turma. Entrou no campo e aproximando-se de mim, tirou uma dedada dizendo: “– Cai fora, lagartixa!”
Confesso que não tive raiva e para amedrontá-lo, peguei um caco de telha e atirei para o alto, numa direção bem acima de onde César se encontrava. O caco de telha saiu voando e girando em torno de si mesmo, descrevendo uma parábola perfeita. Acontece que César correu na mesma direção. Quando ia se aproximando do final do pátio, cerca de uns sessenta metros de distância, coincidiu que o bólido, que voava em seu percurso predeterminado, ia descendo velozmente, encontrando na linha de sua trajetória a parte posterior da cabeça de César. Houve a queda brusca de seu corpo e ao levantar-se, notei a blusa de sua farda, toda avermelhada. Ao lado dele, o temível diretor, Monsenhor Montenegro a me perguntar: “– Zezinho, você é louco? Na minha terra quem atira pedra é louco!”

Para me livrar do apelido, pedi ao meu pai para acompanhar o meu primo José Esmeraldo Gonçalves, a quem seus pais resolveram mandar estudar no Seminário, mesmo sabendo que daquele estofo não poderia sair nenhum padre.

No seminário, pensava estar livre do apelido e até já me acostumara com o uso da batina em tempo integral. Mas foi somente até a Semana Santa. Todos nós seminaristas deveríamos acompanhar a procissão. Quando o cortejo seguia pela Rua Senador Pompeu, avistei de longe um grupo de ex-colegas e conhecidos, Gérson Moreira liderando a turma, Orlando da Bicuda entre eles, todos amontoados em torno de uma janela alta para poder melhor assistir à passagem da procissão do Senhor Morto. Virei meu rosto para o lado oposto, para que ninguém me visse. Em vão. Quebrando o silêncio, ouviu-se a voz inconfundível de Gerson Moreira gritando: “– Ó lagartixa de batina, minha gente!” –“Lagartixa!” – Gritaram os demais.

Disfarcei firme, sem olhar pra eles, fiz de conta que não era comigo. Rezava para que os demais seminaristas não percebessem que eu era o lagartixa. Ao chegarmos ao seminário, tão logo o padre diretor de disciplina disse “Benedicamus domino”! Cuja resposta que deveria ser: “Deo gratias”, daquela vez foi substituído pelo coro:
“Lagartiiiiiiiiixa!”

Condensado do livro “Histórias que vi, ouvi e contei” de Carlos Eduardo Esmeraldo, Premius Editora, Fortaleza – CE, 2005

Funcíonário público envia livros para comunidades carentes do Nordeste - Leilane Menezes



(MATÉRIA PUBLICADA NO CORREIO BRAZILIENSE, EDIÇÃO DE 11.01.11)

Por iniciativa própria e sem qualquer subsídio, multiplicador de conhecimento ajuda a ampliar os horizontes de muita gente

Quando o caminhão abastecido de livros entra na cidade, é como se um oásis se abrisse em meio ao calor e à secura evidentes na paisagem. Ali, as pessoas têm sede de conhecimento. A cena se repete em cada uma das localidades do Nordeste para as quais o funcionário público Elmano Rodrigues Pinheiro, 61 anos, envia os presentes. Há 15 anos, ele recolhe doações de livros em Brasília, para mandá-los a quem não tem acesso a essa riqueza. Todo ano, são pelo menos 50 mil unidades. Para pagar os fretes, Elmano já vendeu até um apartamento no Rio de Janeiro e um carro. A única recompensa é ver gente simples se deliciando com os livros. Ele começou fazendo doações a bibliotecas já montadas e, recentemente, tomou a iniciativa de construir novos espaços.

Elmano é um multiplicador de conhecimento. Entrar na casa dele, no Park Way, é como estar em uma grande biblioteca. Os exemplares acumulados ali, porém, não são de sua propriedade. Serão doados em breve para a inauguração de espaços destinados à leitura. As cinco toneladas de livros seguirão de carreta até o Ceará, em dois meses. Vieram de doações, especialmente da Fundação Assis Chateaubriand, vinculada aos Diários Associados.

O doador de livros nasceu em Farias Brito, na região do Crato, Cariri cearense. Em casa, ao lado de sete irmãos e dos pais, descobriu o prazer da leitura. Seus pais eram responsáveis pela única biblioteca (que era privada) da cidade. Em 1958, o pai de Elmano, o candidato a prefeito Enoch Rodrigues, morreu assassinado em uma disputa pelo comando político da região. A mãe, Maria, mesmo passando a enfrentar dificuldades, não deixou de lado a educação dos filhos. Montou uma pequena escola para dar aula a crianças de famílias carentes. “Esse valor que eles davam à educação me marcou muito”, lembra Elmano.

O funcionário público mudou-se para Brasília há mais de 30 anos e, desde então, trabalha na Editora da Universidade de Brasília (UnB). Ali, o publicitário de formação teve contato com uma grande quantidade de títulos, nem sempre bem aproveitados por aqui. “Eu via todos aqueles livros e lembrava que na minha cidade não tinha nem sequer uma biblioteca. Daí nasceu a ideia de mandar as publicações para lá, para incentivar o gosto pela leitura. Pensei nos meus. A gente roda o mundo todo, mas o coração fica preso.”

Aos poucos, no boca a boca, o funcionário público ficou conhecido pelas arrecadações de exemplares. Amigos, colegas e desconhecidos, sempre que precisavam se desfazer de suas bibliotecas particulares, procuravam Elmano, certos de que os livros teriam um bom destino. “Com as moradias cada vez menores e as pessoas cada vez mais presas ao computador, muita gente quer se desfazer de bibliotecas inteiras”, observa.

Padarias
Na Casa do Ceará, em Brasília, Elmano descobriu o termo “padarias espirituais”. O nome surgiu em um movimento modernista, no fim do século 19. Naquela época, o romancista e poeta cearense Antonio Sales e outros intelectuais investiram na popularização da produção cultural voltada para a literatura. “Isso me inspirou. Resolvi chamar as bibliotecas de padarias espirituais, porque é lá que as pessoas encontram o alimento do espírito”, explica.

A intenção é construir 100 bibliotecas comunitárias no Ceará. Boa parte delas já está de pé. “Com essa carreta que vamos enviar, no máximo em dois meses, atingiremos a meta das 20 bibliotecas, só em Juazeiro (CE). Então, será o momento de partir para outros estados do Nordeste e fora de lá também”, empolgado.

Com a divulgação de seu trabalho, Elmano recebe ligações de prefeitos e de várias outras pessoas interessadas em levar livros para as cidades. “Eles dão um jeito de pagar o frete e eu me comprometo a conseguir milhares de livros. A parceria funciona assim. Eu também corro atrás de apoio de deputados, de ministérios, para conseguir enviar o material.”

Independente
O multiplicador tem ajuda de várias editoras e da Câmara dos Deputados, mas não recebe nenhuma verba do governo para fazer o trabalho. E nem pretende requisitar esse tipo de incentivo: “Não quis registrar minha fundação. Administrar dinheiro público pode desvirtuar o objetivo”. Elmano sabe da importância de atitudes como a sua, para democratizar a cultura e o conhecimento no nosso país. “Se não existir iniciativa privada, a coisa não anda. Esperar pelo governo não dá, porque muitas vezes quem comanda não está interessado em promover educação, não quer que as pessoas entendam seus direitos”, avalia.

Ao lado da mulher, Alcimena Vieira Botelho, ele faz a triagem no material recebido. Entre os títulos, vão livros técnicos, literatura, apostilas para concursos públicos e muito mais. “É um mundo de conhecimento que chega até lá.” Elmano já perdeu a conta de quantas toneladas de livros mandou para fora do DF. Além do Nordeste, a Amazônia, o estado de Tocantins e outras regiões já foram beneficiados. Com isso, ele quer dar condições às pessoas para que elas pensem. “Quando leem, elas começam a criar, a saber do que são capazes, a identificar o que está errado na sociedade e a querer mudanças. Mais do que livros, estamos doando condições”, acredita.

As primeiras bibliotecas foram construídas em Juazeiro, no bairro de João Cabral, um dos mais pobres da região. “Tenho uma grande preocupação com o envolvimento dos jovens com as drogas, em especial o crack. Acredito que o acesso à leitura, à cultura, pode ajudar muito a desviá-los desse caminho.” Farias Brito, a terra natal, também não ficou de fora. “O livro é vivo, presente. Antes, chegava com muita dificuldade. Agora isso começa a mudar”, orgulha-se.

A ideia de Elmano inspirou mais gente. Muitos quiseram juntar-se a ele. Aos poucos, começam a surgir diversos pontos de leitura em regiões carentes do Nordeste. “Meu povo tem uma cultura vasta, são muitas manifestações, como o cordel. Essa riqueza não pode ser esquecida. A imagem do nordestino que está sempre de mão estendida, pedindo, tem de mudar. Quem tem cidadania consegue tudo.” Exemplo perfeito da riqueza, da força que vem do Nordeste, Elmano não desanima em sua caminhada. Enquanto tiver vida, vai contagiar mais e mais gente com sua paixão.


QUER AJUDAR?// Quem tiver livros para doar pode entrar em contato com Elmano: 9983-3472.

Dentro de mim - Aloísio

Dentro de mim


No mar de águas bravias
Não dá pra fazer poesia
Quero um mar sem ressaca
Pra navegar qualquer dia

Vejo-me na beira da praia
Esperando a embarcação
Que me levará para a ilha
Que fica no meu coração

Chegando a estas paragens
Sinto-me dentro de mim
E agora o que eu faço?
Se eu comigo desavim

Para eu desatar este nó
Em círculos eu vou girando
Ficando no mesmo lugar
Cada vez mais me enredando

Em busca de uma saída
Passo a andar em linha reta
Quem sabe até me encontre
Consultando algum profeta

Nem tudo está apagado
Vem chegando a luz do sol
Pois eu seguindo em frente
Vou encontrar o meu farol



Aloísio
Secreto momento
- Claude Bloc -



A poesia me incita
e no silêncio se ata,
e me desata...
porque a poesia (con)vive
com a dor do poeta...
E no compasso do tempo
o poema amarga a rima
e pinga no ritmo,
sacudindo passo a passo
essa alegria complexa
que se esconde
na estrofe, no espaço...
E no momento preciso
no mais secreto momento
a poesia se encanta,
me traduz
e traz a luz
ao meu instante.

Claude Bloc


LEMBRANDO DE GONZAGÃO - Por Marcos Barreto de Melo


AMANHÃ EU VOU andar
17 LÉGUA E MEIA
vou atravessar o RIACHO DO NAVIO
quero voltar para o MEU PÉ DE SERRA

eu já estou ROENDO UNHA
e te esperando DAQUELE JEITO
quero dançar NUMA SALA DE REBOCO
que é a maior ALEGRIA DE PÉ DE SERRA


quero escutar um FOLE DANADO
sentir o CHÊRO DA CAROLINA
ouvindo o som da SANFONA SENTIDA
sei que vou sentir SAUDADES DE HELENA


eu gosto mesmo é de um FORRÓ FUNGADO
sou um MATUTO DE OPINIÃO
eu já estou ficando APERREADO
chegue pra cá, VAMOS XAXEAR


com o SANFONEIRO ZÉ TATU tocando
sei que FACILITA A DANÇA DA MODA
dizem que ele é O MAIOR TOCADOR
nascido aqui NO MEU PÉ DE SERRA


VEM MORENA, da CINTURA FINA
pois você é RAZÃO DO MEU QUERER
uma MAZURCA, O FOLE RONCOU
quero dançar com você MORENA


ouvi dizer que DERRAMARO O GÁI
e vão dançar o FORRÓ NO ESCURO
é FIM DE FESTA, é HORA DO ADEUS
vem NA ROSA, ONDE TU TÁ NENÉM


PENSE N'EU, DEPOIS DA DERRADEIRA
vamos viver um ROMANCE MATUTO
se você é FULÔ DA MARAVILHA
saiba que eu sou um PORTADOR DO AMOR


Marcos Barreto de Melo

NOTA - AS PALAVRAS ESCRITAS EM MAIÚSCULO SÃO TÍTULOS DE MÚSICAS COMPOSTAS OU GRAVADAS POR LUIZ GONZAGA


Desastre na Região Serrana foi maior devido à ocupação irregular do solo


(http://oglobo.globo.com/rio/mat/2011/01/12/desastre-na-regiao-serrana-foi-maior-devido-ocupacao-irregular-do-solo-923492191.asp)

RIO - A chuva torrencial não é a única culpada pelo cenário avassalador da Região Serrana. Parte da tragédia deve ser atribuída à inércia de autoridades, que não investem no diagnóstico de áreas mais suscetíveis a tragédias ambientais, tampouco na retirada da população de regiões de risco. Esta é a opinião de Ana Luiza Coelho Netto, do Instituto de Geociências da UFRJ. De acordo com a pesquisadora, a vulnerabilidade de municípios como Petrópolis e Teresópolis é, há muito, conhecida, dada a sua localização, a frágil composição do solo e, principalmente, o modo irregular como foram ocupados por ricos e pobres.

Climatempo prevê mais chuva para Região Serrana

Para Ana Luiza, um dos exemplos mais notórios da falta de planejamento urbano da região é o bairro Caleme, em Teresópolis, localizado em um vale na estrada para Itaipava, um dos mais atingidos.

- Os deslizamentos convergem da encosta íngreme para o fundo do vale - explica. - Os rios serão a rota principal dessas avalanches na descida. Essas áreas jamais deveriam ser ocupadas. Existe uma ausência total de planejamento urbano, que perceba ou leve a sério fenômenos já esperados.

Na descida, os sedimentos tornam a água mais densa, aumentando a sua capacidade de destruição. A corrente ganha força para transportar objetos cada vez mais pesados, como troncos de árvores e blocos de detritos.

Desmatamento é problema grave
Segundo Ana Luiza, a maioria das prefeituras, se perguntada, afirmará ter mapa de risco. A metodologia desses trabalhos, porém, não raro é pouco confiável, e os cálculos são feitos sobre dados incompletos ou desatualizados.

- É só ver o tamanho do desastre. É impossível que um mapa de diagnóstico não tenha observado fatores de risco tão óbvios - condena.

Um dos ingredientes do desastre é o desmatamento. Solos montanhosos são especialmente vulneráveis. Mas, se ocupados por uma floresta conservada, a vegetação leva proteção às encostas. Não é o caso de boa parte da área atingida, onde o verde deu lugar a casas.

- Se existem áreas com escarpas rochosas e solo muito fino, como é característico das áreas montanhosas, será difícil impedir o estrago - lamenta a pesquisadora. - A água da chuva penetra pela fratura das rochas e a pressão a faz sair dali com muita potência, iniciando o deslizamento. A falta de drenagem, uma falha que deve ser comum naquela área, só aumenta o potencial de destruição, independentemente de haverem comunidades ou mansões no caminho.

Outro fator de risco, este natural, é a localização das cidades afetadas. Petrópolis e Teresópolis estão no topo da Serra do Mar - uma cadeia montanhosa que se estende de Santa Catarina ao Espírito Santo. Esta geografia é especialmente propícia à formação de chuvas. Ao se afastar da superfície, as massas de ar frio, densas e pesadas, deparam-se com aquela barreira e tendem a subir. Enquanto cumprem este trajeto, elas condensam e comportam menos umidade.

- A massa atinge a saturação e, assim, provoca chuvas - explica Ana Luiza. - É por isso que a serra, especialmente em seu trecho voltado para o mar, tem índice pluviométrico maior do que o registrado na Baixada Fluminense, por exemplo.

A Baixada, porém, não está livre das agruras registradas no topo da serra. As chuvas intensas descem e podem provocar inundações em localidades de Duque de Caxias, além de novos deslizamentos de encostas.

Quanto mais gente, mais risco

A sucessão de catástrofes no início do ano passado - Angra dos Reis em janeiro, Rio e Niterói em abril - mostra como a força das chuvas de verão é previsível. Ainda assim, só agora as cidades têm se mobilizado para fazer o levantamento de seus terrenos mais vulneráveis. Um trabalho semelhante é realizado pelo engenheiro geotécnico da Coppe Willy Lacerda, coordenador do Instituto Nacional de Reabilitação de Encostas e Planícies.

- Elaboramos mapas de suscetibilidade das encostas usando estudos de diversas áreas, como geologia e geotecnia - assinala. - A esse levantamento nós sobrepomos o mapa habitacional. Quanto maior a presença humana, maior o risco. Finalmente, depois de muito insistirmos, os governos têm se interessado por esse cálculo.

As autoridades terão de ser insistentes. Primeiro, porque todas as encostas na Serra do Mar são vulneráveis. Qualquer área dali que receba chuva forte por quatro dias, como já ocorre na Região Serrana, tende a desabar. Sendo assim, o manejo populacional, de acordo com Lacerda, é "inevitável".

- A ocupação irregular extrai a cobertura vegetal, desvia o curso das águas, ocupa os canais e arma o palco para a tragédia - destaca. - Não há uma solução definitiva sem um projeto que se estenda por, no mínimo, dez anos.

E contra a Pedofilia, nada ???

Militantes católicos fazem circular dossiê anti-Dilma na internet

DE SÃO PAULO

Militantes católicos que pregaram boicote à candidatura da presidente Dilma Rousseff reuniram as declarações de ministros sobre temas como aborto, união civil homossexual e descriminalização das drogas em dossiê no qual pedem a mobilização dos fiéis contra mudanças na lei, informa o "Painel" da Folha, editado interinamente por Ranier Bragon (íntegra disponível para assinantes do jornal e do UOL).
O documento, concebido em Anápolis (GO) e propagado na internet, inclui relato sobre o kit escolar contra a homofobia que havia sido criticado por evangélicos, além de entrevistas dos ministros Iriny Lopes (Políticas para as Mulheres), Maria do Rosário (Direitos Humanos) e José Eduardo Cardozo (Justiça).

“Prostíbulo global” – José Nilton Mariano Saraiva

Depois de propagado incessantemente e precedido de detalhadas análises “sócio-antropólogicas” por parte de “especialistas em relações humanas” (que, por incrível que pareça, tentam nos convencer da sua utilidade), a Rede Globo mais uma vez monta o seu “prostíbulo global” em nossa sala de estar, em pleno horário nobre, através do indecente e desprezível programa BBB (e que nem por isso deixa de ser um dos seus “campeões de audiência”). Serão meses de xaropadas, imoralidades e futilidades (e quem quiser, tiver saco, grana e abobrinha na “cachola”, pode até passar o dia todo assistindo, desde que adquira o “pacote”).
A fórmula é velha e conhecida: numa tal “casa” são acomodados garanhões, gays, lésbicas, marombados, homossexuais, prostitutas, mocinhas inocentes, anônimos aspirantes à fama e até vovós (pra dissimular), com ordens de infligir códigos, desrespeitar as leis, praticar sexo ao vivo e a cores e, enfim, exercitar a devassidão e o heterodoxo (se existir algum(a) “virgem” entre eles e lá demorar, certamente sairá “ex”, tal a pressão da “direção” para que tal se concretize).
Estimulados pelo pseudo-intelectual e apresentador Pedro Bial (quem te viu e quem te vê), e por um tal Boninho (um dos diretores graduados da emissora), os escolhidos não têm limites éticos, legais, morais ou alguma coisa que se pareça com respeito ou dignidade, já que tudo lhes é permitido, contanto que o “jogo” seja apimentado e “desperte” a curiosidade do público (independentemente do vazio do seu conteúdo).
Público, aliás, que é estimulado a “escolher” (pagando caro a ligação telefônica) os seus preferidos, expostos nos tais “paredões”, que por sua vez rendem milhões e milhões de reais à emissora e à operadora telefônica (para tanto, uma mega estrutura é montada e disponibilizada aos telespectadores), inclusive e principalmente pais, mães, irmãos e demais familiares, que compulsoriamente se deixam envolver em troca de uma viagem ao Rio de Janeiro (com mordomias inimagináveis), além de uma aparição relâmpago na telinha.
Enfim, o circo ta armado e nossas crianças e adolescentes sairão mais “cultos”,
“sabidos” e “preparados para a vida”, graças ao BBB (e ainda tem gente que não acredita na influência e tirania da televisão).
A propósito, abaixo, transcrição de um cordelista baiano, a respeito.

José Nilton Mariano Saraiva
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BIG BROTHER BRASIL (Antonio Barreto, cordelista de Santa Bárbara-BA),

Curtir o Pedro Bial/E sentir tanta alegria/É sinal de que você/O mau-gosto aprecia/Dá valor ao que é banal/É preguiçoso mental/E adora baixaria.

Há muito tempo não vejo/Um programa tão ‘fuleiro’/Produzido pela Globo/Visando Ibope e dinheiro/Que além de alienar/Vai por certo atrofiar/A mente do brasileiro.

Me refiro ao brasileiro/Que está em formação/E precisa evoluir/Através da Educação/
Mas se torna um refém/Iletrado, ‘zé-ninguém’/Um escravo da ilusão.

Em frente à televisão/Lá está toda a família/Longe da realidade/Onde a bobagem fervilha/Não sabendo essa gente/Desprovida e inocente/Desta enorme ‘armadilha’.

Cuidado, Pedro Bial/Chega de esculhambação/Respeite o trabalhador/Dessa sofrida Nação/Deixe de chamar de heróis/Essas girls e esses boys/Que têm cara de bundão.

O seu pai e a sua mãe/Querido Pedro Bial/São verdadeiros heróis/E merecem nosso aval/Pois tiveram que lutar/Pra manter e te educar/Com esforço especial.

Muitos já se sentem mal/Com seu discurso vazio/Pessoas inteligentes/Se enchem de calafrio/Porque quando você fala/A sua palavra é bala/A ferir o nosso brio.

Um país como Brasil/Carente de educação/Precisa de gente grande/Para dar boa lição
Mas você na rede Globo/Faz esse papel de bobo/Enganando a Nação.

Respeite, Pedro Bienal/Nosso povo brasileiro/Que acorda de madrugada/E trabalha o dia inteiro/Dar muito duro, anda rouco/Paga impostos, ganha pouco:/Povo herói, povo guerreiro.

Enquanto a sociedade/Neste momento atual/Se preocupa com a crise/Econômica e social/
Você precisa entender/Que queremos aprender/Algo sério – não banal.

Esse programa da Globo/Vem nos mostrar sem engano/Que tudo que ali ocorre/Parece um zoológico humano/Onde impera a esperteza/A malandragem, a baixeza/Um cenário sub-humano.

A moral e a inteligência/Não são mais valorizadas/Os “heróis” protagonizam/Um mundo de palhaçadas/Sem critério e sem ética/Em que vaidade e estética/São muito mais que louvadas.

Não se vê força poética/Nem projeto educativo/Um mar de vulgaridade/Já tornou-se imperativo/O que se vê realmente/É um programa deprimente/Sem nenhum objetivo.

Talvez haja objetivo/“professor”, Pedro Bial/O que vocês tão querendo/É injetar o banal/Deseducando o Brasil/Nesse Big Brother vil/De lavagem cerebral.

Isso é um desserviço/Mal exemplo à juventude/Que precisa de esperança/Educação e atitude/Porém a mediocridade/Unida à banalidade/Faz com que ninguém estude.

É grande o constrangimento/De pessoas confinadas/Num espaço luxuoso/Curtindo todas baladas/Corpos “belos” na piscina/A gastar adrenalina:/Nesse mar de palhaçadas.

Se a intenção da Globo/É de nos “emburrecer”/Deixando o povo demente/Refém do seu poder/Pois saiba que a exceção/(Amantes da educação)/Vai contestar a valer.

A você, Pedro Bial/Um mercador da ilusão/Junto a poderosa Globo/Que conduz nossa Nação/Eu lhe peço esse favor/Reflita no seu labor/E escute seu coração.

E vocês caros irmãos/Que estão nessa cegueira/Não façam mais ligações/Apoiando essa besteira/Não dêem sua grana à Globo/Isso é papel de bobo/Fujam dessa baboseira.

E quando chegar ao fim/Desse Big Brother vil/Que em nada contribui/Para o povo varonil/Ninguém vai sentir saudade/Quem lucra é a sociedade/Do nosso querido Brasil.

E saiba, caro leitor/Que nós somos os culpados/Porque sai do nosso bolso/Esses milhões desejados/Que são ligações diárias/Bastante desnecessárias/Pra esses desocupados.

A loja do BBB/Vendendo só porcaria/Enganando muita gente/Que logo se contagia/Com tanta futilidade/Um mar de vulgaridade/Que nunca terá valia.

Chega de vulgaridade/E apelo sexual/Não somos só futebol, baixaria e carnaval/
Queremos Educação/E também evolução/No mundo espiritual.

Cadê a cidadania/Dos nossos educadores/Dos alunos, dos políticos/Poetas, trabalhadores?/Seremos sempre enganados/e vamos ficar calados/diante de enganadores?

Barreto termina assim, alertando ao Bial:

Reveja logo esse equívoco/Reaja à força do mal/Eleve o seu coração/Tomando uma decisão/Ou então: siga, animal…

CARTA DE TONY BLOC - FROM PARIS



Pont Diena à Paris


Minha querida Rita e queridos irmãos,

Se o meu dinheiro desse, moraria por aqui, o clima é espetacular, a temperatura tem oscilado até o momento entre 2 e 10 graus, nada que nossas roupas não resolvam.

Tudo aqui é grandioso e majestoso, as igrejas, os museus, as ruas, enfim tudo. Em alguns lugares cheguei a me emocionar lembrando do passado da nossa família:

- Les Invalides - museu das guerras, mostrando desde as guerras napoleônicas até a 2 guerra mundial. Esse local era usado como hospital para inválidos das guerras;

- Arco do Triunfo e Praça Charles De Gaulle me lembra as histórias de papai sobre o General Charles De Gaulle, muito venerado aqui na França. Nessa praça tem o chamado dele aos resistentes para pegar nas armas e partir pu pau, muito emecionante, enchi os olhos de lágrima quando li;

- O rio Sena é um Show à parte, estamos sempre passando sobre as suas pontes. Está cheio até a tampa, mas mesmo assim andei por uma de suas calçadas, próximo à igreja de Notre Dame (aquela do filme O CORCUNDA DE NOTRE DAME).

O Dr. François disse que terei que tirar uma férias depois dessa viagem. Acho que ele tem razão, pois caminhamos muito para ver as coisas. Estou com as pernas só os molambos, fazendo até escalda pé.

O que mais me impressionou nessa terra foi o sistema de transporte, nunca pensei que andaria igual a um peba, por baixo do chão direto. Sensacional! Vamos para todos os cantos da cidade numa rapidez incrível. Isso é que é logística.

Outra coisa, nossos arquitetos são uns bostas, bons são os daqui (risos).

Alugamos um carro grande que cabe a turma toda e as malas da Ana Flávia. Posso dirigir sem problemas, pois tirei minha carta internacional. Sairemos amanhã em direção aos castelos, Bordeaux, Pau, Toulouse, Carcassone, etc. Se tiver internet direi por onde andarei.

Beijos

Tony

*Meu irmão Tony está na França com a esposa e filhotes. Mandou-nos este e-mail emocionado pela  realização de um sonho antigo. Hoje reparto a alegria e a emoção dele (e nossa) com os meus amigos.
* Rita é a pessoa que cuidou dos meus irmãos desde pequenos.

Claude Bloc