Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

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segunda-feira, 26 de abril de 2010

Vitrais

Por que não me amas?
Meus olhos de Neruda
o meu riso de Baudelaire?

Ou seria por causa dos óculos
de Fernando Pessoa?

Por que não me amas?
Minha cantiga de grilo
a minha indolência de minhoca?

Ou por minha recente micose?
(sarou, querida)

Agora de volta aos meus tornozelos
as brilhantes asas (roubei do pégaso).

Por que não me amas?
Minha larga testa de caboclo
os meus lábios cortados de pivete?
Ou meus dentes amarelos de Bukowski?

Parei de beber.
Permaneço ébrio.

Um lunático perfeito
rompantes de asceta.

Por que não me amas?
Por que sou de escorpião tenho veneno na cartola?
Para te amedrontar meu signo chinês é cobra.

Parei de odiar as pessoas como antigamente.
Prossigo com a mente enlouquecida.
Oculta, calada, genocídios.

Por que não me amas?
O meu cíúme de Euclides da Cunha?

Inferno agora é que quero matar quem ama as nuvens.
Quem se isola no quarto conta quantas formigas
afogam-se no vaso sanitário.

É uma tortura esse desejo de esganar quem se parece
com minha sombra dentro do baú antigo da minha vó.

Quando penso que existe alguém arrasta meus chinelos
a minha corrente pela casa e fala sozinho quero matar.

Certamente tu não me amas por esse desvario
que por ora é toda a minha ambição de vida.

Aos meus ombros apenas o fardo invisível.
O cafezinho quente à minha alma ofegante.

E não existe possibilidade de mudanças.
Por todo o sempre (um sopro)
serei esse mesmo tronco
essa mesma casca
e alguns pássaros
no alto.

Ora estufam o tépido peito,
ora batem as asas de chuva:
e gripam.

BRUNO E MARRONE por Rosa Guerrera


Gosto de duplas sertanejas .Já fui até chamada de 'brega" por essa minha preferência . Mas, não importa. Tenho uma admiração especial por Bruno e Marrone .Gosto do jeito como eles cantam , da maneira de interpretar , do carisma que essa dupla possui e principalmente das letras das canções . Talvez muita gente nunca se prendeu em ler a poesia existente em quase todas as canções cantadas por eles. E abrindo um espaço nesse blog , onde tantos famosos interpretes , autores e compositores já foram mencionados , gostaria de transcrever uma das músicas que mais gosto interpretada por essa dupla que para mim , é sensacional .


BIJOUTERIA

Quando a noite cai
É que eu sinto a falta que você me faz
Saudade que não passa e nem me deixa em paz
A sombra de um amor que já brilhou demais.

Você foi pra mim
A coisa mais bonita que me aconteceu
Nao pode imaginar os sonhos que me deu
E quanta insegurança que deixou o adeus.

Amei você
Sem truques,sem maldades,fiz o meu papel
Eu quis lhe oferecer o que ninguém te deu
Você não acredita, mas eu fui fiel

Amei você
Mas hoje posso ver que foi melhor assim
Preciso te esquecer pra me lembrar de mim
A vida continua

E no brilho de uma pedra falsa
Dei amor a quem não merecia
Eu pensei que era uma jóia rara,era bijouteria

Das mentiras das palavras doces
Vi calor no teu olhar tão frio
Na beleza do teu rosto esconde um coração vazio





"Toda criança tem direito de brincar...
É na barriga da lona que crianças de todas as idades recuperam o direito de brincar de ser artista, de sonhar e de construir suas cidadanias plenas."
Cristina Diogo
Tempo
- Claude Bloc -
.

O tempo é fragmento
de luz escassa
onde o agora
se enovela com o sempre
num embate sem trégua.

E no tempo
um barco a vela,
a vida na tela
no início de tudo.

O tempo resiste
a cor insiste...
e a cor neste tempo
é saudade.
...
Claude Bloc

Caixinha de Música - por Norma Hauer

A caixinha já não existe mais,
Só ficou a saudade de seu trá-lá-lá..."

Uma das poucas músicas que ele compôs sozinho foi a "Caixinha de Música", gravação original de Sílvio Caldas. E quem a compôs?

O aniversariante desta data que hoje completaria 100 anos, mas só viveu 34; não chegou a completar 35. Seu nome CUSTÓDIO MESQUITA.

Custódio Mesquita nasceu aqui no Rio de Janeiro, no bairro de Laranjeiras, no dia 25 de abril de 1910.

Há um século!

Custódio foi compositor, escreveu peças para teatros, atuou no cinema; era um galã diferente. Na época em que os homens cortavam o cabelo a la Príncipe Danilo, Custódio ostentava uma cabeleira bem tratada, bonita, que lhe dava os ares de galã hollywoodiano.
Criando trabalho para teatro, conheceu o também autor e compositor Mário Lago, fazendo logo dupla com ele. Foi quando ambos compuserem um dos grandes sucessos de Orlando Silva :"Nada Além". Na outra face do disco de 78 rotações foi gravada outra composição da dupla:"Enquanto Houver Saudades".

Custódio compôs com Sady Cabral "(Velho Realejo", "Mulher" e"Bonequinha");
Com Evaldo Rui ("Rosa de Maio". "Como os Rios Correm P''ro Mar"; "Valsa do Meu Subúrbio";"Gira...Gira...Gira...". "Saia do Meu Caminho"...")

Mas seu primeiro sucesso foi gravado por Aurora Miranda em 1934, a marchinha "Se A Lua Contasse".

. Termino este trabalho como comecei:

"A caixinha já não existe mais,
Só ficou a saudade de seu trá-lá-lá..."
Norma

Comentário sobre o Geraldo Junior

Música: Geraldo Junior

April 23rd, 2010
 
Sexta-feira é dia de relaxar, deitar numa boa rede e uma boa música escutar.

A partir de hoje, a sexta-feira será o dia de trazer  aqui para o blog o que estamos escutando em nossa agência. Compartilharemos com vocês colegas, clientes e parceiros, um pouco do som que rola por aqui e nos trás a inspiração de cada dia.
Geraldo Junior
Geraldo Junior - Foto: Junior Panela

Começaremos com o CD – Calendário – O Tempo e o Vento, do músico Cearense Geraldo Junior, que, no momento, é o som mais “ouçado” na agência.
E para aqueles que gostam da boa música e do verdadeiro forró, aproveitem para saber um pouco mais sobre a história do Geraldo, assistir vídeos, ver fotos e até mesmo fazer o download do cd, através do seu site www.geraldojunior.com.br
Aproveitamos para parabenizar este cabra da peste que representa a nossa região à altura e desejarmos todo sucesso do mundo.

Vejam a matéria original no blog Leriado:
http://vf2.com.br/leriado/2010/04/musica-geraldo-junior/


Faltam 04 dias, Show MUSI(CA)MINHOS de Pachelly Jamacaru

Contagem regressiva, será dia: 30 Abril no Centro Cultural BNB em Juazeiro do Norte,às 19.15h. Participaçãoes Especiais: Abidoral Jamacaru, Luis Carlos Salatiel, João do Crato, Dihelson Mendonça, Nivando Ulisses, acompanhados por: Aminadaber, Danilo, Isaias do(Trio Cariri) e o Mestre Jairo Starqey Convidamos a todos, marquem presenças!

Projeto água pra que te quero! - Nívia Uchôa

Feliz Aniversário, Ni !

Ni de Sousa, grande produtora cultural do nosso Cariri !

Um abraço de felicitações do Cariricaturas !

Foto: Cristina Diogo.

William Shakespeare



SONETO LXXXVIII
Quando me tratas mau e, desprezado,
Sinto que o meu valor vês com desdém,
Lutando contra mim, fico a teu lado
E, inda perjuro, provo que és um bem.
Conhecendo melhor meus próprios erros,
A te apoiar te ponho a par da história
De ocultas faltas, onde estou enfermo;
Então, ao me perder, tens toda a glória.
Mas lucro também tiro desse ofício:
Curvando sobre ti amor tamanho,
Mal que me faço me traz benefício,
Pois o que ganhas duas vezes ganho.
Assim é o meu amor e a ti o reporto:
Por ti todas as culpas eu suporto.
William Shakespeare

BISAFLOR RECOMENDA “O LIVRO DOS ABRAÇOS”, DE EDUARDO GALEANO

Bisaflor adora livraria. E biblioteca também, pois gosta de ler histórias, assim como gosta de ouvi-las, inclusive os “causos” contados por esse mundo afora. É por isso que vezenquando ela conta uma história aqui no Cariricaturas.
Hoje Bisaflor vai ler um conto do escritor uruguaio Eduardo Galeano, que consta de O LIVRO DOS ABRAÇOS.
Misto de memória pessoal e memória coletiva da América, O Livro dos Abraços conta várias histórias, com beleza e poesia, a partir de pequenos momentos e fatos da vida do autor, da vida de amigos e parentes, das cidades da América Latina, enfim histórias ouvidas nas suas andanças. Para Galeano “a memória viva nasce a cada dia”, é feita sem as grandiloqüências de heróis, e sim com a grandeza da vida.

CAUSOS/1 (In O Livro dos Abraços. Porto Alegre, L&PM, 2009)

Nas fogueiras de Paysandú, Mellado Iturria conta causos. Conta acontecidos. Os acontecidos aconteceram alguma vez, ou quase aconteceram, ou não aconteceram nunca, mas têm uma coisa de bom: acontecem a cada vez que são contados.
Este é o triste causo do bagrezinho do arroio Negro. Tinha bigodes de arame farpado, era vesgo e de olhos saltados. Nunca Mellado tinha visto um peixe tão feio. O bagre vinha grudado em seus calcanhares desde a beira do arroio, e Mellado não conseguia espantá-lo. Quando chegou no casario, com o bagre feito sombra, já tinha se resignado.
Com o tempo, foi sentindo carinho pelo peixe. Mellado nunca tinha tido um amigo sem pernas. Desde o amanhecer o bagre o acompanhava para ordenhar e percorrer campo. Ao cair da tarde, tomavam chimarrão juntos: e o bagre escutava suas confidências.
Os cachorros, enciumados, olhavam o bagre com rancor; a cozinheira, com más intenções. Mellado pensou em dar um nome para o peixe, para ter como chamá-lo e para fazer-se respeitar, mas não conhecia nenhum nome de peixe, e batizá-lo de Sinforoso ou Hermenegildo poderia desagradar a Deus.
Estava sempre de olho nele. O bagre tinha uma notória tendência às diabruras. Aproveitava qualquer descuido e ia espantar as galinhas ou provocar os cachorros:
- Comporte-se – dizia Mellado ao bagre.
Certa manhã de muito calor, quando as lagartixas andavam de sombrinha e o bagrezinho se abanava furiosamente com as barbatanas, Mellado teve a idéia fatal:
- Vamos tomar banho no arroio – propôs.
Foram, os dois.
E o bagre se afogou.

Verso - por Edmar Cordeiro

O VERSO É O LADO DE FORA.

SÃO AS COSTAS,

O DETRAZ

O CONTRÁRIO A ...

NÃO É CARA É COROA

NÃO É A FACE

É O QUINTAL

O FUNDO,

O OPOSTO,

O ADVERSÁRIO

A NOITE, NÃO O DIA,

A SOMBRA, NUNCA A LUZ,

O PESADELO NÃO O SONHO,

A LOUCURA, NÃO A RAZÃO

O TÉDIO,

FORÇAS OPOSTAS

VOCÊ LONGE

E MEU AMOR

FORTE CLAMANDO

POR SEU SER

VENCEDOR

EMBORA

NO VERSO.

QUEM NÃO FEZ ??? por Rosa Guerrera


´Já fiz muita coisa nessa vida ! Se certas ou erradas não sei! Sei apenas que no momento em que sentidas e vividas representaram fragmentos de mim.
Já escondi inúmeras vezes o pranto quando deveria ter chorado copiosamente.
Já emprestei meu ombro para acalentar quem não devia, e já fiquei sozinha sem uma mão para apertar a minha.
Já fugi do amor , com medo de me machucar., e já me machuquei por amar quem não devia
Já cantei canções para sufocar a solidão , e já caí nos braços da solidão ouvindo apenas uma canção.
Já acreditei em promessas vãs , na esperança de transformar mentiras em verdades.
Já me entreguei as loucuras de uma paixão , consciente de que tudo não passava de instantes passageiros.
Já gargalhei com piadas ( velhas conhecidas) apenas para agradar quem me fazia companhia.
Já menti sorrindo no intuito de abafar mágoas e cicatrizes da minha alma , e já deixei com inverdades lágrimas em outros corações.
Já disse “ adeus” quando queria ter ficado, e já parti antes que me acenassem um “adeus”.
Já sonhei sonhos impossíveis ! E tive pesadelos com a realidade.
Já afirmei ser forte ,e reconheci que as bases da minha fortaleza ainda estavam em construção.
Já entreguei de corpo e alma a minha verdade, quando deveria ser mais cautelosa .
Já me julguei ser única em ter feito tanta coisa irrefletida, ter silenciado quando deveria ter gritado, ter falado em tom áspero quando o silencio seria bem melhor, guardado mágoas em lugar do perdão , feito projetos impossíveis de serem concretizados, rasgado a poesia que o meu Eu gritava para que eu a escrevesse, abafado a voz do meu coração quando tinha ímpetos de soltá-la sem grilhões e sem medo ......... que hoje refletindo sobre tudo isso , me atrevo a perguntar : ‘QUEM NÃO FEZ O MESMO ?”

Avatar - por José do Vale Pinheiro Feitosa

1 Rubrica: religião.
na crença hinduísta, descida de um ser divino à terra, em forma materializada [Particularmente cultuados pelos hindus são Krishna e Rama, avatares do deus Vixnu; os avatares podem assumir a forma humana ou a de um animal.]
2 processo metamórfico; transformação, mutação

James Cameron's epic motion picture, Avatar”.

Com tais palavras o site oficial do filme explica a que veio. Com todas as suas metáforas, fantasias, lendas das forjas de Hollywood, o pretensioso se mostra muito aquém (ou além) do resultado. É um filme pipoca, bebe nas águas de Walt Disney, mergulha nos diversos “Guerra nas Estrelas” e emerge, quase faltando o fôlego, com o discurso oficial da sociedade americana. Qual discurso?

Da sociedade e dos governos do hemisfério Norte. As riquezas materiais do território do sul não podem ser exploradas. Tudo aquilo que antes era reserva ao sul do equador, deve permanecer como tal para um futuro uso dos habitantes do Norte. Não é esta a metáfora direta, geraria revolta a sul e quem sabe até ao norte. É a metáfora indireta, aquela que, por travessa, diz o essencial: não toquem nisso que não é de vocês, é nosso.

É a posse “internacional” do território que antes ainda era tido como o inviolável das nações. A Amazônia é deles, o petróleo do pré-sal, também, o que é nosso é o subdesenvolvimento e a pobreza. Vamos olhar para o Avatar James Cameron: numa manifestação, internacional, contra a construção da hidrelétrica de Belo Monte. Bem aqui no território nacional, junto a quem de direito e com o espírito, não metafórico, da mídia amiga do imperialismo.

Agora vamos à qualidade do discurso hollywoodiano tanto de Al Gore quanto este recente de Cameron. Aliás, se encontra mais explicitamente no filme 2012, quando o mundo é salvo, com uma arca de Noé moderna, construída para salvar apenas os espécimes do G8. Deve ter sido roteirizado e filmado antes da crise que caiu no colo deles com mais vigor que o argumento do filme.

É um discurso tipicamente de psicologia social, disfarçado de bem comum, para defender a reserva da qualidade de vida das sociedades avançadas, que consomem escalas assombrosas da energia do planeta e dos seus recursos minerais não renováveis e aqueles renováveis. Falam do bem comum com aquele direito de intervir no outro, preservando o seu modo como herança de privilégio.

Ora eles têm que pagar mais pelo que nos tiram. Devem consumir menos do que estragam para que, também, possamos. Precisamos de água limpa, escola decente, saúde coletiva, moradia de qualidade, melhorar enormemente as nossas cidades, articular a malha de transporte numa escala centenas de vez maior do que a de hoje. A metáfora deles corrompe os jovens e vicia os que desistiram das próprias pernas.

O Avatar não é nossa fantasia. É, sobretudo, o processo metamórfico, ou a mutação do discurso imperialista como modo de preparar o futuro exclusivo para eles. E o futuro deles não é tão distante assim. Amanhã virá o segundo capítulo com a exploração dos recursos.