Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

ENVIE SUA FOTO E COLABORE COM O CARIRICATURAS



... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

Para participar, envie suas fotos para o e-mail:. e.
.....................
claude_bloc@hotmail.com

sexta-feira, 24 de julho de 2009

No ho l´etá - por José do Vale Pinheiro Feitosa

Quando compreendi o que me dizia, poderia ser, mas não foi uma decepção. De fato estava confuso. Era uma menina de 10 anos, eu tinha 19, não podia admitir, mas ambos nos apaixonáramos. Ela, um pássaro voando, eu penitente no estrado do confessionário. Jamais poderia dizer o que sentia, mas ela não tinha dúvida, enquanto eu negava. Admitia que não pudesse admitir. Hoje sei que estava apaixonado, mas na ocasião desempenhando o papel do adulto ético, um horror à paixão pedófila. Enquanto representações sinceras, eram outros os sentimentos. Trairiam a firmeza ética? Sim.

Mas não de momento, qual fraqueza de ocasião. Uma traição ao longo do tempo.

Irmã de um colega desde os tempos da alfabetização. Lembro quando a família comemorou o nascimento da menina. O seu crescimento, brincado, atrapalhando nossos esforços de estudo, sempre pedindo que eu desenhasse em folhas de papel que roubava do pai, paisagens e interiores de casas para brincar. Com o desenho no chão, as bonecas, carrinhos, miniaturas de animais, daquele cenário tosco, do aprendiz de desenhista, ela fazia um enredo sem igual. Perdi concentrações nas notas de colégio, observando, sem querer admiti-lo, a narrativa fantástica que bordava sentimentos.

No aniversário de sete anos. Eu tinha 16 anos, já me abraçava às adolescentes em boleros de corpos fundidos, nas matinês do clube social. Ludibriava a censura na porta do cinema para assistir os filmes de 18 anos. Fumava, me embebeda, lia romance, ouvia rock, trocava revistas do Carlos Zéfiro. Não fiquei tuberculoso com tamanhos esforços, nem a mão criou cabelos. Mas fui ao aniversário, apesar da pouca oferta naquele mundo infantil. E os olhos hipnóticos do coração retiraram com um simples espinho minha armadura juvenil:

- Eu vou me casar contigo e a teu lado viver a vida toda brincando.

Confissão que provoca riso. Cara de príncipe encantado, piadista de salão, queria disfarçar a intensidade do olhar dizendo tais palavras. Para equilíbrio na cena insegura, contei histórias de contos de fada, mas ela não mudou o olhar. Era firme e certeiro como são as convicções da história. Uma vez dito, aconteceria.

Quando compreendi a cena, a sombra do pecado cobriu meu coração. Viera jantar com a família, pois iria para a capital fazer universidade. O meu colega saiu com a namorada, os pais foram ao cinema, mas a menina, então com 10 anos, pediu-me para ficar um pouco mais e ouvir um disco.

Ela me deu a mão quente e puxou-me na direção da vitrola. Um perfume de paraíso saia dos seus cabelos, os seios nascentes despontavam sob o tecido fino, a cintura afinava e os quadris se avolumavam. Enquanto o mundo girava com as mudanças no corpo da menina, disfarçava de mim mesmo, o que sentia ao observá-las. Levou-me até um sofá junto à janela. Ligou o som, pôs o disco que despencou no prato feito meu sentimentos. Começava a girar e a agulha a correr os sulcos e ela sentou-se a favor da luz da sala, deixando seu rosto iluminado face ao meu. Olhar profundo e muda enquanto a música tocava. Em italiano, na voz de Gingliola Cinquetti, um tom de menina cantando:

Non ho l´etá. Non ho l´etá..per amarte...No ho l´etá... Per uscire solo con té.

Fervia e gelava em ondas sucessivas. Na música a mesma promessa de três anos atrás: Deixe que eu viva um amor romântico, na espera que chegue aquele dia. Não tenho idade. Para amar-te. Se você quiser. Se você quiser. Esperar-me naquele dia. Terá todo o meu amor por ti. A vitrola fez a última volta do compacto e desligou.

Ela foi comigo, sem dizer mais nada, até a porta de casa. Estiquei o braço para despedir-me e ela cobriu meu cumprimento com ambas as mãos. Mas não pronunciou sequer um adeus. Apenas prendia-me na eternidade com seu lindo e profundo olhar verde. Eu balbuciei algo como:

- Esperarei.

Esperei durante todo o curso universitário. Filho de pais pobres, trabalhando, fiquei seis anos sem voltar à cidade. A marca de uma linguagem simbólica, enviava cartas com uma única frase: a cada dia a espera diminui. Uma meizinha para minhas paixões arrasadoras à proporção que recebia a resposta de volta. Não eram letras, bilhetes ou poemas. Dentro do envelope a foto de uma menina virando adolescente, a adolescente se tornando o ente mais lindo que o mundo inventa em natureza de mulher. A vida e suas magnitudes por razão de viver. Apelei ao espiritismo: fôramos amantes em vidas passadas. Amor riscando o zênite da eternidade.

No início do sexto ano da minha ausência, as fotos continuavam afirmando a linda mulher, mas o cenário havia se modificado. Tinha Recife ao fundo. No final daquele ano a beleza dela era irretocável, mas a moda da roupa se modificara. Estilo mais militar, calças, jaquetas, cabelos presos, um ar de masculino feio como se fosse possível. No sétimo ano, assim que completei o curso, tratei de ser contratado na minha cidade.

Viver a prometida plenitude, embora a espera fosse um grande motivo para se viver. Assim que cheguei à cidade, um bilhete para ela: agora terás todo o meu amor. No meio do ano as fotos foram paulatinamente ficando coletivas, ela e um grupo de mulheres e depois com outros homens. Nas férias ela estava atolada de estudos e não veio. No final desse ano a quantidade de fotos diminuiu.

Após a passagem do ano, um bilhete dando-me o horário de chegada à cidade. Com meu carro fui até a rodoviária. Ela desceu iluminando a rodoviária. Mais que as fotos. Não a beijei, continuava encostado à barreira entre a menina e o adolescente. Fui saindo, lentamente, da rodoviária. Ela pediu-me para subir um morro que dominava a cidade e no qual havia um belvedere. Ficamos olhando a nossa cidade, ainda sem dizer palavras, tramando o futuro. Nisso ela foi até o bagageiro e pegou um gravador. Sentou-se ao meu lado e o ligou.

- Caminhando contra o vento. Sem lenço e sem documento...No sol de quase dezembro eu vou.

Olhando para a cidade, nem uma vez para mim, continuou ouvindo a fita, agora em outra música:

- Soy loco por ti América....Soy loco por ti amore.....Estou aqui de passagem, sei que adiante um dia vou morrer, de susto, de bala ou vício...

Agora explico os sentimentos traídos ao longo do tempo. Ela no movimento armado contra a ditadura, foi para o exílio e hoje está casada com um Canadense e mora na Austrália.

Cantoras do Rádio - Trailler - Estreou 9 de Junho passado- Quem viu? O que achou ?

Apresentação do Madrigal Intercolegial, na noite do dia 17.07.2009 - Por Joaquim Pinheiro

...E O MONS. MONTENEGRO ESTAVA NA APRESENTAÇÃO DO MADRIGAL

Durante a belíssima apresentação do Madrigal Intercolegial, no último dia 17.07, não me contentei em ver o espetáculo do térreo.

Subi até o primeiro andar para ter visão de outro ângulo. A cena do alto era tão bonita que arrisquei tirar uma foto, mesmo sabendo que a chance de obter imagem nítida era pequena, uma vez que minha máquina é das mais simples, sem muitos recursos. A foto ficou desfocada, mas captou a figura do Monsenhor Montenegro, presente através de banner colocado pelos organizadores. Dá a impressão que o homenageado, falecido há alguns anos, assistia ao show em sua homenagem.

.
Joaquim Pinheiro

Último Encontro

Fiz o papel de bobo
como todo poeta
ao levar um pé na bunda.

Agora que lhe afaguei o ego
e sinto sua autoestima elevada

deixo-a sozinha,
vou galinhar na praça.

Minha lágrima,
o vinho que bebo -

fermenta o peito,
mas logo passa.

Bolinho de Chuva - Por Anita D.Cambuim





Pois é, ainda chove.

Gotinhas prateadas brincam de escorregador na minha vidraça.

O sábado passa.

Tive vontade de comer bolinhos de banana salpicados com açúcar e canela:

bolinhos de chuva.

Ninguém mais me fará bolinhos iguais aos dela.

Observo os pingos de chuva escorrendo... escorrendo...

Sopro a vidraça e desenho um coração,

como fazia quando a gente morava na casa amarela.

Hoje, a casa está vazia e o meu peito repleto de lembranças.

Gotas brotam dos meus olhos e escorrem... escorrem pelas minhas faces...

Chovendo me vejo.

Embaçaram meus óculos... alguém os terá soprado?

Talvez.

Ao retirá-los, percebo algo desenhado.

Reconheci o contorno daqueles lábios:

- Mãe, foi como se mais uma vez você tivesse me beijado!
.
Anita C.Cambuim

UM CONTO SUFI – CONTO TRADICIONAL DA SABEDORIA ÁRABE

(TEXTOS E FIGURAS RETIRADOS DA INTERNET)

Conta-se que, numa cidade do interior, um grupo de pessoas se divertia com o idiota da aldeia: um pobre coitado de pouca inteligência, que vivia de pequenos biscates e esmolas.
Diariamente eles chamavam o idiota ao bar onde se reuniam e ofereciam à ele a escolha entre duas moedas: uma grande de 400 réis e outra menor, de 2.000 réis. Ele sempre escolhia a maior e menos valiosa, o que era motivo de risos para todos.

Certo dia, um dos membros do grupo chamou-o e lhe perguntou se ainda não havia percebido que a moeda maior valia menos:

"Eu sei - respondeu - não sou tão tolo assim. Ela vale cinco vezes menos. Mas, no dia em que eu escolher a outra, a brincadeira acaba e eu não vou mais ganhar minha moeda."

Pode-se tirar várias conclusões dessa pequena narrativa:

* A primeira: - Quem parece idiota, nem sempre é.
*A segunda: - Quais eram os verdadeiros bobos da história?
*A terceira: - Se você for ganancioso, acaba estragando sua fonte de renda.

Mas a conclusão mais interessante é a percepção de que podemos estar bem, mesmo quando os outros não têm uma boa opinião a nosso respeito. Portanto, o que importa não é o que pensam de nós, mas sim o que realmente somos.

”O maior prazer de um homem inteligente é poder bancar o idiota diante de um idiota que banca o inteligente.”*

Créditos:
Imagens: Jupiter Images e Google
Música: Cathar Rhythm – Era
*Acervo do Grupo Sintonia Elevada
Formatação: Maristela Ferreira

A Poesia de Ana Cecília de Sousa Bastos







Uma poesia em tom menor, feita de impressões, miudezas, vestígios do dia. É desse modo que vejo a poesia da baiana Ana Cecília de Sousa Bastos. Ela mesma diz: "Acho que faço uma poesia assim, de um canto de jardim, de uma rede na varanda, não dos salões".

Nascida em Salvador, ela vem de uma família cearense. Por isso passou a infância, como diz, entre o mar da Bahia e o pé-de-serra da Chapada do Araripe, no Crato, Ceará. Quem sabe essa vivência entre o mar e o sertão tenha aguçado a observação da menina para ver e sentir coisas e pessoas e transfundi-las em versos, obedecendo "à doce tirania da palavra".

Psicóloga e professora da UFBa, ela escreve desde a adolescência. Fez uma edição de autor aos 22 anos e andou publicando textos esparsos. Em 1999, Ana Cecília conquistou o prêmio Copene/Fundação Casa de Jorge Amado, com o livro Uma Vaga Lembrança do Tempo.

Desse livro extraí os poemas ao lado. Em "Da Dor", a poeta procura entender e até localizar fisicamente o sofrimento moral. Mas, no final, em manobra bem drummondiana, foge para uma lembrança de infância. "Jugo" e "Vestígios" são poemas preocupados com o próprio ofício poético. É a mão do poeta mexendo no formigueiro das palavras. "Agenda", por sua vez, propõe indagações existenciais. "De todas as perguntas", afirma o poema, "só quero reter a centelha".

Carlos Machado



DA DOR

A dor é algo como se não fosse.
Derrapagem à beira do abismo
(aquele como se não estivesse).
Holofote sobre escura porção de sombras.
Eco à revelia do próprio eu
re-ver-be-ra-ção
por sobre o dia.
Fissura aberta minando,
ora esquecida ora sempre,
em alguma parte do corpo
como se fosse o todo.

Dasdô?
Na infância era uma prima
e seus olhos encovados.


JUGO

Obedecer à doce tirania da palavra.
Anular censura, momento, lugar.
Deixar no papel o verso líquido,
esse pálido espelho da alma.
Enquanto deixo-me estar,
impressionada pela cor da palavra
"pálida".


VESTÍGIOS

Estranha pulsão, esta:
derramar no caderno porções de alma.
A mão, captando sinais invisíveis.
Lenta, no formigueiro em marcha.
Absolutamente só,
enquanto todos perseguem a sagrada hora do
[ trabalho
e dos compromissos bancários.

E depois, palavras escondidas em oculto caderno,
papel rasgado, para que delas não sobrem
vestígios.


AGENDA

Decididamente não me interessam as vãs soluções,
nem as posições corretas
— essas respostas que a gente busca na opinião
[ informada,
antes de conferir o próprio desejo;
nem os dados que o banco ou a polícia já guardam por ofício,
nem como envelhecemos igual
— por força não da idade, mas do hábito.

De todas as perguntas,
só quero reter a centelha.

Desejo saber a que horas do dia encontro no céu
[ este azul de agora.
Desejo saber a que horas da vida há este sorriso
[ nos olhos dos filhos.
Desejo saber quanto dura a paixão pela vida.



poesia.net
www.algumapoesia.com.br
Carlos Machado, 2004
Ana Cecília de Sousa Bastos
In Uma Vaga Lembrança do Tempo
Fundação Casa de Jorge Amado/Copene Salvador, 1999

Identidade( II) - Ana Cecília de Sousa Bastos


Somos oceano nas extremidades.
Contemplo minhas unhas,
conchas do mar.
Ver essas partes de nós que tanto brilham traz uma ilusão
de acabamento e completude.
Somos oceano,
peixe e cautela,
flutuação e peso em luta na água,
correnteza e vida.
Somos ave e liberdade.
E nada quero dizer do amor.
Alheio-me, abstraio-me,
ânsia e vertigem,
sonho de profundidades inauditas,
mergulho sem fim.



Ana Cecília de Sousa Bastos


P.S. Para quem não sabe, Ana Cecília é filha do estimado casal Dr. Jose Newton Alves de Sousa e Maria Rute Barreto de Sousa. Saudosos educadores , de suma importância , na formação educacional da geração cratense ( anos 60 e 70) . Diretores do extinto Colégio São João Bôsco ; Professores da Faculdade de Filosofia do Crato ( URCA).

Ele, Diretor fundador.

Devo-lhes o mérito de gostar , e viver a intimidade cultural com todos aqueles que se deliciam com a arte e a cultura.

Estou adentrando na poesia de Ana Cecília com verdadeira admiração !

Sem esquecer que, lembro-a, na meninice e adolêscência, colega de minha irmã Verônica, já destacando-se nas letras. Longe de surpreender-me , sinto-me orgulhosa por conhecê-la , e testemunhar a sua sensibilidade e competência, em todos os versos, que até hoje eram para mim silenciosos.

Socorro Moreira

Dona Almina Arraes - Talento na Maturidade - Por Socorro Moeira


Inútil tentar falar sobre Dona Almina... Não tenho a melhor palavra, embora tenha a melhor das emoções.
Casa linda, personalidade física da Rua Dr. João Pessoa.


Sua prole: Maria Amélia, Joaquim Pinheiro, Maria Edite, José Almino ,Antonio César, Maria Benígna.

Irmãs em sangue e alma: Dona Alda, Dona Anilda, Dona Almina.
(Ausência na foto de Violeteta , Maria Alice, Lais,Miguel)

Aos 84 anos , saúde e lucidez.
Pinta, visita e recebe os amigos, navega na internet, escreve.



"Casa na cidade do Crato-CE, que meu pai passou 10 anos construindo (1938/48) mas morou apenas 10 meses, falecendo no mesmo ano que para ela se mudou. Conhecida como Casa de Vovó - minha residência ".(Almina Arraes)
Delicadeza e fidelidade nos traços ; cores ternas de intensa luminosidade; o frescor da flora; o silêncio e a paz dos mosteiros ; o abrigo de uma família nobre; patrimônio ontológico nosso.
Essa é a alma de Dona Almina.
-Trabalho em tela maravilhoso !!!
P.S. Quem sabe dessa linda mulher, se pronuncie... Postaremos a complementação , na sequência.
.
URGENTE !!!
Entrem no site e deixem comentários e voto, na obra de Dona Almina .



Melodia Imortal - Sessão IV - Por Zélia Moreira


Pra hoje tinha pensado em um filme, mas lendo o artigo de Joaquim Pinheiro, pensei em outro.
Romina Power...Tyrone Power...Melodia Imortal.
Um dos melhores filmes que assisti.
Conta a história do pianista Eddy Duchin que entre as décadas de 1930 e 1940 encantou o mundo musical, mas conheceu o sabor da amargura quando sua mulher e grande amor, morre ao dar à luz ao seu primeiro filho.
Alternado com momentos de alegria e tristeza, tem seu ápice, (afinal somos bairristas), na cena em que Eddy toca" Aquarela do Brasil." Dá um imenso orgulho ser brasileiro.
Dramas à parte, o que tem de melhor em Melodia Imortal, para os apreciadores de uma boa música, é sua trilha sonora ( executada pelo piano de Carmem Cavallaro).
Um significado especial tem pra mim este filme, esta trilha sonora...Foi através dela que fui apresentada e me apaixonei de cara por Noturno de Chopin.
datado de 1956(ano do meu nascimento).Tem no elenco Tyrone Power, no papel de Eddy Duchin e Kim Novak(linda, talentosa, fenomenal!), no papel de Marjorie sua primeira mulher.
Melhor do que ficar falando ou lendo é conferir as cenas! Vamos lá?




Carlos Galhardo - Rapaziada do Brás -Para Norma Hauer

Carlos Galhardo - Por Norma Hauer



24 ANOS SEM CARLOS GALHARDO


Chegar ao dia 25 de julho é trazer toda uma lembrança de algo que preferia que não tivesse acontecido, mas que fazer? Aconteceu!

E se não fosse nessa data, seria em outra. Não podemos fugir a nossos destinos. Todos aqueles que embelezaram nossa infância, nossa adolescência, nossa maturidade já partiram.

Mas foi duro ver Carlos Galhardo partir naquele 25 de julho há 24 anos. É muito tempo...
24 anos sem Carlos Galhardo,24 anos sem aquela presença de uma pessoa amiga, agradável, que só nos proporcionava beleza.

É duro relembrar que já se vão 24 anos!!!

24 anos de um vazio dentro de nosso coração, de uma tristeza em nosso ser, de uma grande mágoa que não nos abandonará.

Ouvi-lo é fácil, basta fazer rodar um disco,seja de 78 rotações, seja um LP ou um CD, até mesmo um MP3; afinal estamos vivendo uma época de grandes transformações que Carlos Galhardo não viveu.

Mas estamos aqui, frente a um computador, onde podemos marcar nossa saudade ao mesmo tempo que podemos ouvi-lo como se aqui estivesse.

E AQUI ELE ESTÁ!!!

Ouço-o, vejo seu retrato, posso vê-lo no vídeo gravado de algum programa de trelevisão.
Pelo menos isso é possível.

Mas, principalmente, posso sentir sua presença!!! E Ouvir seu canto...

"No apartamento azul
Do nosso coração.
Há rosas de Istambul,
Em jarros do Japão..."

Carlos Galhardo, você está presente mesmo passados 24 anos de sua ausência.

OBRIGADA!!!


Norma Hauer

Paixão Fulminante - Por Joaquim Pinheiro




Início dos anos 70, apartamento de dois quartos no bairro da Torre, Recife, 6 acadêmicos, todos cratenses, assistiam um festival de músicas italianas numa TV preto e branco. Exceto o Dr. Cori, os demais eram primos entre si. O papo rolava solto, nem as músicas nem os intérpretes monopolizavam a atenção do pequeno grupo de telespectadores. De repente, um primo deu um salto e exclamou: Que coisa linda!!! Pregou os olhos no monitor e acompanhou a apresentação até o final como se estivesse em transe. Paixão fulminante. No dia seguinte, o primo percorreu as lojas de disco da cidade em busca do LP daquela musa, da qual só sabia o primeiro nome. Recorreu a um vizinho jornalista com trânsito na Rádio Jornal do Comércio para conseguir fotos da cantora. Dois ou três meses depois da aparição na TV, o “Romeu” cratense, então morador da Rua Conde de Irajá, entrou em casa com semblante de ganhador de medalha de ouro mostrando, como troféu, uma página de revista italiana com a foto preto e branco da cantora que arrebatou seu coração. A ilustração permaneceu algumas semanas afixada na parede ao lado do beliche do apaixonado e depois desapareceu. Ignoro como e quem deu fim à ilustração.

Há poucos dias, recebi um e-mail com endereço eletrônico do youtube e, para minha surpresa, a personagem era a artista responsável pela perturbação amorosa do primo. Trata-se de Romina Power, filha do famoso artista de filmes épicos de Hollywood, Tyrone Power. Para os padrões dos anos 60/70, era realmente linda. Confiram.





Joaquim Pinheiro

Laboratório dos repentes - Magali, Carlos,Claude, Socorro, César e Zé do Vale- (Foto de Pachelly Jamacaru)


Pequi é fruto gostoso
Da Chapada do Araripe
Quem come dele é formoso
E nunca pega uma gripe ( rindo)

No painel da alegria
meus amigos se agregam
o amor dessa magia
Junta os afins que se apegam.

Feliz estou, vendo só?
Comi arroz com pequi.
Para ninguém de mim ter dó
Sirvo doce de buriti.

O cratense que se preza
Toma banho na nascente
A água é limpa e desprega
Toda a sujeira da gente. ( rindo)

A saudade que eu sinto
é de mim e de você
dessa gente que não vejo
e que é meu bem querer

choveu tanto nessa noite
que gripou o Cariri
vejo brumas lá na serra
eu só não vejo é pequi.

O luar na Serra Verde
É o mesmo que eu vi
Quando chego lá no Crato
no Vale do Cariri

Lá de cima da chapada
O luar então se encanta
Se espalha na madrugada
Até quando o sol se levanta

Água doce em rocha escura
é seiva viva pra mim
no encanto da roseira
existe também capim.

Não há outro abraço como o teu,
perfurante com a flor dos teus olhos,
tantos braços, dores, tanto ardor,
Não há outro abraço como o teu,
doce como juá, sumarento feito caju,
disfarçando teus abraços de mandacaru.

Neste mundão de meu Deus
Todos nós somos irmãos
Não se despreza ninguém
Nem o Pedro Cabeção

Coração vermelho forte,
como retalhos de panos
tem pontes, pontos e pregas
e garantia de anos.

cigana que lê a sorte
no faz de conta da vida
não enxerga a nossa estrela
mas pensa que tem um guia

Deus me deu esse pendor
pois não ganhei de Tandor
de cantar as minhas loas
aqui pro nosso doutor.

Maria Caboré (Mote)

As perseíades de Agosto

Imortalizados em duas constelações , Perseu e Andrômeda, no céu se observam, mas choram a separação. As lágrimas caem como chuva de estrelas - são as perseíades . Ocorre todos os anos em meados de Agosto, vindas da constelação de Perseus .

"Situada a Sul da Cassiopeia, entre o Pégaso e o Perseu, Andrómeda é uma constelação que teve origem na mitologia grega. Neste mito são referidas outras constelações relacionadas com ele, como a Cassiopeia, Cefeu, Perseu e Baleia.
Segundo essa lenda, Cassiopeia era rainha e mulher do rei Cefeu. Juntos, reinavam no então chamado reino da Etiópia (note-se que esta Etiópia é lendária e não coincide com o actual país, do mesmo nome, sendo que este reino incluía territórios que constituem, nos nossos dias, Israel, Jordânia e Palestina).
Juntos tiveram uma filha, de seu nome Andrómeda. Cassiopeia, que era mãe de Andrómeda, era uma mulher muito bela, mas tinha um grande defeito: era muito vaidosa. E, um dia, ao pentear os seus longos cabelos, vangloriou-se de ser ainda mais bela que as cinquenta ninfas do oceano, chamadas Nereides (filhas de Nereu e Dóris).
Ao saberem disto, as Nereides foram queixar-se a Posedion (Deus dos mares, na mitologia grega), pedindo a este que desse uma lição à rainha da Etiópia.
Posedion enviou então um monstro (representado pela constelação da Baleia) com o objectivo de devastar as costas do reino de Cefeu e Cassiopeia.
Preocupados, os súbditos do rei pediram-lhe uma solução, pelo que Cefeu se dirigiu ao oráculo de Ámon, a fim de obter uma resposta. Ao recebê-la, ficou aterrorizado: para que a fúria do monstro fosse amainada, Cefeu teria de oferecer a sua filha Andrómeda, como sacrifício, à Baleia.
Não vendo outra alternativa, Cefeu decidiu amarrar Andrómeda a um rochedo, à espera que esta fosse devorada pela Baleia.
Porém, Perseu, herói conhecido por ter morto a Medusa (monstro cujos cabelos eram serpentes e que tinha o poder de petrificar quem olhasse para ela) viu Andrómeda naquele tormento e perguntou-lhe o que se passava, pelo que esta lhe contou a triste história que a envolvia.
Perseu dirigiu-se então aos pais de Andrómeda e, depois de a ter pedido em casamento, usou a cabeça da Medusa para petrificar a Baleia.
De seguida, Perseu libertou Andrómeda do rochedo a que estava presa e acabaram por se casar, sendo que, desta união nasceram seis filhos, dos quais se salientam Perses (antepassado dos reis persas) e Gorgófone (mãe de Tíndaro, futuro rei de Esparta). "