Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

ENVIE SUA FOTO E COLABORE COM O CARIRICATURAS



... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

Para participar, envie suas fotos para o e-mail:. e.
.....................
claude_bloc@hotmail.com

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Cumplicidade - Socorro Moreira



Desconfio que nunca virás
E se algum dia chegastes
Eu dormia...
Quem sabe na meninice angelical
quando a saudade de outra vida
em mim vivia ?
Adoro o próximo ,
como desconfio do longínquo
Mesmo assim atiro-me,
coração e alma ,
na pira do amor benvindo.

Nos pingos de uma vela
eu sorvo
o meu Eros descortinado
Imploro a compaixão de Afrodite
Pago todo o meu pecado
de amar assim ,
o inusitado !


Socorro Moreira

"A Culpa é do Samba" - Walt Disney

Homenagem de Walt Disney a Ernesto Nazareth, com o quadro "A Culpa é do Samba" parte do filme Tempo de Melodia ( 1948 )com a trilha sonora de "Apanhei-te Cavaquinho" do grande compositor brasileiro.

Nesse vídeo temos a interpretação da famosa organista Ethel Smith.

PS. Em realidade, segundo classificação do próprio Nazareth, "Apanhei-te Cavaquinho" é um Chorinho.


Alpinismos

De onde terá vindo, afinal, esta necessidade de observar o mundo dos píncaros? Sem quaisquer instrumentos disponíveis para ampliar a observação do mundo, além do olho nu, nossos antepassados escalaram montanhas e montes, talvez pela curiosidade de contemplar horizontes até então inescrutáveis. Do alto, quem sabe, seria possível perscrutar o universo em toda sua extensão! Por outro lado, a montanha sempre foi uma fábrica de mitos. O Olimpo era a residência dos deuses helênicos; as pirâmides egípcias, incas, maias e aztecas erguiam-se em busca dos céus; no Monte Arará, a Arca de Noé desembarcou a bicharada para reinício da obra da criação. Escalar o monte trazia não só a possibilidade de ampliar os limites físicos, mas trazia atrelada, uma força transcendental, uma aproximação com o sagrado . Do topo o homem mistura-se a deus, bebe nas fontes do divino.
A partir do Século XVIII, já em plena égide do iluminismo, o montanhismo começou a untar-se menos do ritualístico. Os homens abandonaram, aparentemente, seu caráter mais primitivamente sagrado e uma certa laicidade lhe deu características de esporte. Pouco a pouco, se tomou como desafio pisar em picos jamais alcançados anteriormente pelo pé humano. O Mont Blanc nos Alpes alcançado, em 1786, talvez demarque o ponto chave desta ânsia desbravadora , batizada de Alpinismo, que já se fazia presente desde os finais do Século XV. Em 1953, por fim, o Ocidente tocou o Everest, o teto da terra. Transformado em esporte, o montanhismo, no entanto, não perdeu de todo suas mitológicas nuances originais. Existe alguma coisa de radical , além da mera dosagem de adrenalina ,pulsando nas veias dos alpinistas.
Quando escalamos a montanha mais alta, no fundo, simulamos o nosso alpinismo vital. O pico parece inatingível. Pomo-nos a subir, lentamente, pedra por pedra, fincando grampos e pítons de segurança nas fendas disponíveis. Abaixo, a todo momento, o abismo ávido nos espreita. Existem muitos outros companheiros de escalada, mas cada um segue seu caminho único e pessoal. A cada momento, num vacilo : uma queda seca para o nada. O gelo, o cansaço, a fome corroem a esperança. E o paredão lá permanece: desafiador, zombeteiro, impávido. À medida que subimos a temperatura se torna mais insuportável e o ar mais rarefeito. Se a morna sorte nos bafeja a face, um dia, em meio a todas as intempéries, chagamos no topo. Observamos o mundo ao derredor com um ar cansado e vitorioso. Algumas fotos guardarão a memória deste momento único. E nem nos perguntaremos o que ali fomos buscar, qual prêmio almejávamos. Chegamos: é hora de voltar! E o caminho de volta é tão terrível como o de ida, com os mesmos riscos e precipícios. Se , por acaso, conseguirmos chegar no acampamento original, outras escaladas nos esperam, outros picos já nos chamam. Até o dia em que a sapatilha escorregará à beira do abismo e será a nossa vez de ensaiar o vôo de Ícaro. No final, perceberemos que o sentido do alpinismo encontra-se escondido não na alegria efêmera do pico, mas no suor derramado penosamente durante a travessia.


J. Flávio Vieira

o mais próximo de um devaneio

Saiba meu amor inconteste
habitante de um mundo utópico
quando vier aos meus lábios seu beijo
guardarei as armas, os papéis, a bebida
serei o mais puro dos homens e o mais correto.

Saiba coisa adorada longínqua
ente virtual de uma lenda desconhecida
quando cair sobre meus cílios sua lágrima
pousarei minhas asas de fogo no guarda-roupa
serei o mais belo dos homens e a mais sincera criatura.

Saiba formosura minha pétala noturna
mulher das mil quimeras e arroubos dilacerantes
quando seu silêncio penetrar por minha alma adentro
darei um jeito nos meus cascos de bode e nos meus olhos tristonhos.

Minha última gota de sangue
ofereci à sua imagem
ontem tarde da noite
oculto entre sombras.

Agora o meu sorriso:
somente na presença do seu corpo
meu nariz debaixo dos seus cabelos
meu espírito tragado por seu perfume.

MAXIXE QUENTE - Por Mundim do Vale


O meu parente Mundim de Benedito ( Pai da Ribeira ). Foi por um tempo nosso vizinho no sítio Vazante.
Me contou o primo Cascudo, que um dia ele saiu para a roça e a sua esposa Tereza ficou um cozinhando um feijão verde. Pense num feijão no jeito! Queijo, nata, jerimum caboclo, quiabo e maxixe.
Mundim chegou para o almoço e Tereza disse:
Mundim vá tomar banho que o almoço tá quase pronto.
- Mas antes eu vou olhar se o maxixe tá bom.
- Pois tenha cuidado que o maxixe tá quente.
- Tá nada, quem tá quente aqui é eu.
- Mundim, tu larga de besteira, que os meninos tão escutando.
Pai da Ribeira pegou a concha, tibungou no caldo, pescou um maxixe e jogou na boca. Enquanto o maxixe estava na prótese dentária não houve problema, mas quando desceu, Mundim correu em direção do pote, se abanando com o chapéu, que parecia mais com alguém enfartando. Depois de um caneco de água, Mundim mudou de aparência e Tereza falou:
- Eu num disse que o maxixe tava quente teimoso!
- Mas num tá mais quente do que eu.
.
Mundim do Vale

O BRASILEIRO É ASSIM.....

- Saqueia cargas de veículos acidentados nas estradas.

- Estaciona nas calçadas, muitas vezes debaixo de placas proibitivas. .

- Suborna ou tenta subornar quando é pego cometendo infração.

- Troca voto por qualquer coisa: areia, cimento, tijolo, dentadura.

- Fala no celular enquanto dirige.

-Trafega pela direita nos acostamentos num congestionamento.

- Para em filas duplas, triplas em frente às escolas

- Viola a lei do silêncio.

- Dirige após consumir bebida alcoólica.

- Fura filas nos bancos, utilizando-se das mais esfarrapadas desculpas.

- Espalha mesas, churrasqueira nas calçadas.

- Pega atestados médicos sem estar doente, só para faltar ao trabalho.

- Faz gato de luz, de água e de tv a cabo.

- Registra imóveis no cartório num valor abaixo do comprado, muitas vezes irrisórios, só para pagar menos impostos.

- Compra recibo para abater na declaração do imposto de renda para pagar menos imposto.

- Muda a cor da pele para ingressar na universidade através do sistema de cotas.

- Quando viaja a serviço pela empresa, se o almoço custou 10 pede nota fiscal de 20.

- Comercializa objetos doados nessas campanhas de catástrofes.

- Estaciona em vagas exclusivas para deficientes.

- Adultera o velocímetro do carro para vendê-lo como se fosse pouco rodado.

- Compra produtos piratas com a plena consciência de que são piratas.

- Substitui o catalisador do carro por um que só tem a casca.

- Diminui a idade do filho para que este passe por baixo da roleta do ônibus, sem pagar passagem.

- Emplaca o carro fora do seu domicílio para pagar menos IPVA.

- Freqüenta os caça-níqueis e faz uma fezinha no jogo de bicho.

- Leva das empresas onde trabalha, pequenos objetos como clipes, envelopes, canetas, lápis.... como se isso não fosse roubo.

- Comercializa os vales-transporte e vales-refeição que recebe das empresas onde trabalha.

- Falsifica tudo, tudo mesmo... só não falsifica aquilo que ainda não foi inventado... .

- Quando volta do exterior, nunca diz a verdade quando o fiscal aduaneiro pergunta o que traz na bagagem...

- Quando encontra algum objeto perdido, na maioria das vezes não devolve.

E quer que os políticos sejam honestos.
Escandaliza- se com a farra das passagens aéreas.
Esses políticos que aí estão saíram do meio desse mesmo povo, ou não?
Brasileiro reclama de quê, afinal ?



Recebi por e-mail.

CONVITE !

O filme o Auto da Camisinha
Direção Clébio Viriato
Estréia em Juazeiro do Norte
Shopping Cariri dia 08.02.10 às 20h
Até lá

Nívia Uchôa

--
Poesia da Luz
Nívia Uchôa
Fotógrafa
(88) 96127485 / 88488094

www.poesiadaluz.blogspot.com
www.aguapraquetequero.blogspot.com

Escola de Artes
Violeta Arraes Gervasieau

Loucuras - Rosa Guerrera


Já fiz coisas incríveis !
Já escorreguei num arco íris
e caí lentamente nos braços de um grande amor.

Já enxerguei o meu perfil
num olhar cheio de desejo
e mergulhei despida
em mares tempestuosos e lagos serenos ...

Já parei na contra mão da vida,
e sem me importar com os semaforos do destino
plantei flores nas mais altas montanhas .

Já senti até estrelas no céu da minha boca!

Já pintei brancas nuvens ...
num céu vermelho de paixão !
E sujei o meu corpo de chocolate
para que fosse provado em mim
o delírio da entrega ...

Já falei tolices !
Repeti versos!
Reprisei desejos!
Tive o mundo preso nas minhas mãos
nos claros caminhos do escuro...

E nessa complexidade
de coisas incríveis,
já conheci e vivenciei as maiores loucuras do amor .

por rosa guerrera

A Edilma - Por Claude Bloc


Era uma vez uma menina de olhos escuros, brilhantes e vivazes. Uma menina miúda, franzina, vibrante. O tempo, o destino, o caminho de nossa vida muitas vezes se perdeu. Fomos por aí construir alguns sonhos ou desfolhar as agruras que se entremeiam por entre os canteiros de nossa existência. Tudo conseqüência dessa nossa caminhada, trilhada muitas vezes com dificuldade. Pintamos muitos quadros. Uns tão concretos! Cenas familiares. Filhos chorando, crescendo. Amores de risos. Amores de dores. Passos acertados, passos em desacerto. Enganos, desenganos. Cada uma de nós com sua vida delineada... Cada uma levando adiante a jornada.


( Edilma e o flagrante da fotógrafa no vidro da moldura)


Costuma-se dizer que ninguém pode escolher a família em que nasce, mas é possível selecionar os amigos, que são como a extensão da nossa vida. É uma amizade nesses moldes que me liga a Edilma. Uma amizade que traduz uma afinidade muito grande, no respeito, na compreensão, na troca e na ajuda. E é esse sentimento muito sincero, que não depende da idade, de dinheiro e da posição social que entretece os laços nesse joio. Um sentimento que nos torna “irmãs de sempre”. Uma amizade que traz as cores da infância, da aventura, da fraterna e saudável cumplicidade.

Hoje já sobrevivemos aos naufrágios, aos terremotos, às intempéries no percurso do nosso tempo e nossa amizade continua linda, pura, fraterna. E essa menina de olhos vivos é minha amiga de sempre: Edilma.
Claude Bloc

Carnaval e Olival Honor no próximo Cariri Encantado


Cariri Encantado é um programa radiofônico semanal que acontece todas as sextas-feiras, das 14 às 15 horas, com transmissão pela Rádio Educadora do Cariri AM 1020 e pela Internet através de cratinho.blogspot.com. A sua linha musical e literária é praticamente dedicada aos autores caririenses. Quase sempre, o programa convida uma pessoa identificada com o fazer cultural e artístico da região para falar sobre algo de interesse coletivo.

Nesta sexta-feira, dia 5 de fevereiro, o programa Cariri Encantado entrevistará o escritor cratense Olival Honor (foto), que falará sobre os antigos carnavais cratenses e lerá uma crônica sua inédita.

Com apoio do Centro Cultural BNB Cariri, o programa é produzido pelas Oficinas de Cultura e Artes (OCA) e revista virtual Cariricult.

Ficha técnica
Redação e seleção musical: Carlos Rafael Dias, José Flávio Vieira e Luiz Carlos Salatiel;
Apoio logístico Jackson “Bola” Bantim;
Participação especial: Jorge Carvalho e Huberto Cabral;
Apresentação: Luiz Carlos Salatiel e Carlos Rafael Dias;
Operação de áudio: Iderval Silva.

Se ligue!

A poesia de Artur Gomes

(a Ana Augusta Rodrigues)

Aqui
onde rio e mar
se beijam
aqui no fim do mundo
onde terra e céu
se abraçam
num ato sexual.

Aqui
no fim do dia
um barco preso na corda
um peixe preso no anzol
a terra varrida ao vento
casas varridas ao temporal…

Aqui
no mesmo teto
pássaros sobre os calcanhares
homens sobre os girassóis
onde rio e mar se beijam
re-nascem nossos filhos
quando terra e céu se abraçam
sem ter nem mães nem pais

Onde o seu refúgio
é nu / meu peito aflito
e a minha solidão
nu / teu corpo é
paz.


arturgomes
http://juras-secretas.blogspot.com/

logo além

A tragédia que forja
um mortal em semideus

é festiva aos primeiros frutos
ainda secos dentro da árvore.

Meus dias turvos
um dia somem da vidraça.

(nesse dia que o vento
também leve a casa)

Encanto talvez coragem
do puro verme

que não perde a esperança
tampouco ousa chorar de raiva
cego.

Desabem então sobre meus ombros
tragédias e mais infortúnios:

Só isso?
Alegra-se a parte boa.

Piruetas, cambalhotas, rodopios
antes que o caixão desça
sete palmos.

Ernesto Nazareth - Pianista e compositor brasileiro



Ernesto Nazareth
20/03/1863, Rio de Janeiro (RJ)
04/02/1934, Rio de Janeiro (RJ)

Nazareth, autor de Brejeiro e Apanhei-te, cavaquinho, hoje clássicos da MPB

Desde menino, Ernesto Júlio Nazareth conviveu com a música nos saraus familiares. Com a mãe, Dona Carolina, aprendeu no piano os primeiros acordes de Chopin, Mozart e Beethoven, além das polcas, valsas e modinhas.

Após a morte da mãe, em 1873, ele passou a ser educado pelo pai, Vasco Lourenço da Silva Nazareth, que trabalhava como funcionário na Alfândega. Lourenço contratou Eduardo Madeira, um jovem pianista, para dar continuidade à educação musical do filho.

Aos 14 anos, Ernesto compôs sua primeira música, a polca "Você Bem Sabe", editada pela Casa Arthur Napoleão. Aos 17 anos, participou de um recital ao lado de vários músicos famosos, como o flautista Viriato Figueira da Silva. Compôs "Gentes! O imposto pegou?" e "Gracieta". Em 1878, compôs a valsa "O Nome Dela" e o tango "Cruz, Perigo!" .

Participando das rodas de choro, respondeu à polca do chorão Viriato, compondo "Não Caio Noutra". Em 1886, Ernesto Nazareth fez sua primeira apresentação em público no Club Rossini, em São Cristóvão. Na época, a polca, pelo seu aspecto brejeiro e alegre, fazia sucesso. Ernesto Nazareth dava a seus tangos um andamento de polca ou maxixe, recebendo por isso a denominação de "tango brasileiro".

Nazareth trabalhou como pianista da sala de espera do cinema Odeon, para o qual compôs o tango "Odeon", uma de suas peças mais célebres, que ganhou uma transcrição para violão. Por volta de 1920, Nazareth foi trabalhar na Casa Carlos Gomes. A função do pianista era executar músicas para que fossem vendidas as partituras (entre elas, as próprias composições de Nazareth).

Segundo os biógrafos, ele era muito exigente com as pessoas que executavam suas músicas, e freqüentemente mandava parar a execução antes do final. Ernesto Nazareth se apresentou em diversas cidades do Brasil com êxito, mas no final da década de 1920 já começava a dar sinais da surdez que se intensificou no fim de sua vida.

Os abalos que sofreu com as mortes de sua filha e da esposa contribuíram para a deterioração de seu estado mental, sendo internado em 1933. No dia 1º de fevereiro de 1934, Nazareth se perdeu nas matas de Jacarepaguá. Três dias depois, foi encontrado morto próximo à Cachoeira dos Ciganos.

Uma das primeiras composições que classifica como "choro" é a famosa "Apanhei-te Cavaquinho". Suas peças mais conhecidas são "Brejeiro", "Ameno Resedá", "Bambino", "Dengoso", "Travesso", "Fon Fon" e "Tenebroso".

uoleducação

Almeida Garret -

Este Inferno de Amar !

Este inferno de amar — como eu amo!
Quem mo pôs aqui n’alma… quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida — e que a vida destrói —
Como é que se veio a atear,
Quando — ai quando se há-de ela apagar?
Eu não sei, não me lembra; o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez… — foi um sonho —
Em que paz tão serena a dormi!
Oh! que doce era aquele sonhar…
Quem me veio, ai de mim! despertar?

Só me lembra que um dia formoso
Eu passei… dava o Sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Que fez ela? Eu que fiz? — Não no sei
Mas nessa hora a viver comecei…

Folhas Caídas

Carl Rogers


Entrevista de Carl Rogers à revista Veja (1977)

"Por um homem melhor
O Pai da psicologia humanista fala de batatas, pessoas, governos, ladrões e acadêmicos.

Por Fabíola I.de Oliveira



Nascido em 1902, e psicólogo pratico desde 1927, Dr.Carl Rogers passou cerca de 15 anos acreditando que o papel do psicoterapeuta era apenas o de manter-se a parte quanto a seus sentimentos em relação ao paciente. Assim distanciado ,pensava ele, ficava mais fácil enxergar as soluções adequadas. Depois de experiências vividas com alunos e com pessoas que vinham à procura de ajuda, Rogers acabaria percebendo, no entanto,que quanto mais se abria como pessoa no relacionamento com o paciente mais efetivo e rápido tornava-se o sucesso do tratamento. E através do desenvolvimento dessa idéia se afastando cada vez mais da psicologia tradicional ou freudiana e da psicologia do comportamento , ao ponto de hoje confessar que acredita ser “um fenômeno embaraçosamente doloroso para os psicólogos acadêmicos”.


A partir da publicação, em 1942, de “Conseling and Psychotherapy”, seu primeiro livro sobre aconselhamento centrado no cliente, ele passaria a influenciar, os mais diversos campos profissionais , tanto nos Estados Unidos – onde nasceu e vive até hoje como em outros lugares do mundo , onde é conhecido como um autêntico desmistificador de psicoterapia.


Com efeito, Rogers abriu a psicoterapia à observação pública e à pesquisa investigatória, sendo o primeiro a gravar e depois a filmar sessões terapêuticas. Assim expunha seus métodos à pesquisa cientifica. Antes dele, nenhum psicoterapeuta havia tido a coragem de mostrar, publicamente , suas falhas e seus sucessos, a observar e a estudar não só as reações da pessoa tratada mas suas próprias atitudes do processo terapêutico.


Hoje, Carl Rogers, dedica-se, junto seus colegas do Centro para Estudos da Pessoa, em La Jolla. Califórnia, onde é professor residente, à organização de grupos de encontro onde os pacientes entram em comunicação uns com os outros e pouco a pouco vão se descobrindo e se livrando de seus mal-estares emocionais. Há um mês no Brasil acompanhado por quatro membros de sua equipe, Rogers participa, na Aldeia de Arcozelo, no Rio de Janeiro, do primeiro Encontro Centrado na Pessoa, no Brasil. Lá, durante duas horas, ele concedeu esta entrevista a "VEJA".

VEJA – Como se situaria a pessoa humana diante da psicologia humanista?


ROGERS – O ser humano, como todos os organismos, tende a crescer e a se atualizar. É claro que todos os fatores sociais, econômicos e familiares podem interromper esse crescimento, mas a tendência fundamental é em direção ao crescimento, ao seu próprio preenchimento ou satisfação. Costumo exemplificar esse processo lembrando batatas que guardávamos no porão da nossa casa na fazenda. Elas criavam brotos porque havia uma janelinha no quarto. Era uma tentativa inútil, mas parte da tentativa do organismo de se satisfazer. Você consegue um produto muito diferente quando planta uma batata na terra, e comparo esse processo ao que pode ser encontrado em delinqüentes e em pessoas que são tidas como doentes mentais: o modo como suas vidas se desenvolveram pode ser muito bizarro, anormal; no entanto, tudo o que elas estão fazendo é uma tentativa para crescer, para atualizar seus potenciais. O fato de essa tentativa causar maus resultados situa-se mais no meio ambiente do que na tendência básica do individuo. A pedra fundamental da psicologia humanista pelo menos como eu vejo, é, portanto essa crença de que o ser humano tem um organismo positivo e construtivo.

VEJA – A psicologia humanista pode ajudar a sociedade a resolver seus problemas ? De que modo?


ROGERS – Ela não é uma solução para todos os problemas do mundo, mas pode ajudar muito na solução dos problemas psicológicos e sociais. Pode ajudar o individuo a crescer em direção a uma personalidade mais normal , mais expansiva. A psicologia humanista tem os instrumentos para reconciliar diferenças, para ajudar as pessoas a observarem os pontos de vista dos outros.


VEJA – Um governo com uma visão humanista não seria , então, mais poderoso que uma psicologia humanista?


ROGERS – Para mim, isso é um sonho, mas seria bom esquematizar uma utopia com um governo humanista.Quanto mais um governo acredita num ponto de vista humanista possibilidades existirão de promover um clima no qual os cidadãos possam crescer e trabalhar junto mais harmoniosamente, e no qual haverá mais compreensão,ou respostas, as suas necessidades. Mas não vejo nenhuma possibilidade do que eu chamaria de um governo humanista.



VEJA – O que o senhor pensa da psicologia acadêmica?


ROGERS – Nos Estados Unidos , a psicologia Acadêmica poderia dar excelente aconselhamento e ajuda a governos ditatoriais. Acho que, se qualquer autoridade diz “ queremos que as pessoas sejam mudadas desta forma”, a psicologia acadêmica sabe muito bem como mudar as pessoas, gradualmente, no sentido que se quiser. E vejo isso como um grande perigo. A psicologia humanista seria uma valiosa conselheira a uma forma de governo democrático, pois ela o ajudaria a ser cada vez mais democráticos, a compreender as capacidades, os direitos e a habilidade do cidadão de ser responsável.


VEJA – O senhor tem se dedicado profundamente à organização de grupos de encontros. O que vem a ser, para o senhor um grupo de encontro?


ROGERS – É uma oportunidade para as mais diversas pessoas se encontrarem, sem nenhum planejamento, a não ser elas mesmas e seus inter-relacionamentos. Não existe um tópico a ser discutido nem problemas imediatos a serem resolvidos. Então, sobre o que se vai falar? Quando as pessoas percebem que qualquer coisa pode ser discutida, então começam a falar mais de si mesmas e o encontro torna-se mais profundo. A pessoa começa a acreditar que o grupo pode compreende-la e o processo pode ser descrito como uma percepção dos próprios sentimentos, que as pessoas nunca pensaram possuir, tentando novas maneiras de se comportar no grupo, desenvolvendo relacionamentos mais íntimos, sejam eles positivos e de amor, ou de raiva e confrontação, mas, de um jeito ou de outro, se aproximando mais como pessoas.



VEJA – Qual a diferença entre os grupos de encontro e a terapia individual?


ROGERS – Na terapia de um-para-um, o cliente sente que é um milagre que ele possa ser aceito e compreendido – mas será que alguém mais o compreenderá? Em um grupo de encontro, ele logo percebe: “Todas essas pessoas me aceitam? E nem ao menos estão sendo pagas para isso?” E isso é muito forte, pois provoca o sentimento de que, “quem sabe, eu sou uma pessoa aceitável”. Nesse sentido, o grupo de encontro pode ser de maior efeito que a terapia individual.



VEJA – Que mudanças ocorrem num grupo de encontro em relação à percepção ou conscientização?


ROGERS – Tanto na terapia quanto no grupo de encontro, a mudança mais notável é a expansão da conscientização do individuo. Ele vem para o grupo achando que sabe quem é e que está consciente de si mesmo. Mas, quando começa a se abrir e a notar como as pessoas ouvem com atenção, ele descobre, dentro de si mesmo, coisas que não havia percebido antes. Começa a sentir que é mais do que pensava ser, que tem sentimentos que nunca havia notado. Uma pessoa que nunca mostra raiva, por exemplo, perceberá, no grupo, que tem raiva dentro de si. Ela não se esquecerá disso e reconhecerá, no fundo, quando sentir raiva, que não poderá mais escondê-la – e terá condições para lidar com ela.


VEJA – Por que o senhor chama de “facilitadores” os lideres dos grupos de encontro?



ROGERS – Porque o termo “líder” implica que uma pessoa sabe para onde o grupo irá se dirigir e o orientará nessa direção. Então eu prefiro chamá-lo de “facilitador”, porque minha idéia de seu propósito no grupo é a de que ele deve permitir que as pessoas se expressem sem saber onde isso as levará. Ele facilita essas expressões do grupo mas não controla sua direção. O facilitador pode saber alguma coisa sobre o processo de grupos e o mesmo é verdadeiro para a terapia. O tipo de terapeuta que eu gosto é o que age como um facilitador, pois não tem noção do que surgirá na terapia, ou que direções a pessoa escolherá para si mesma.
VEJA – E, se ocorrer uma crise dramática dentro do grupo, o facilitador deve então fazer o papel de líder?

ROGERS – Não, não! O facilitador inexperiente pode se sentir tentado a fazê-lo, mas o experiente procurará acreditar no grupo. Lembro-me do que aconteceu com um membro de nossa equipe quando um homem sofreu uma terrível crise psicótica, numa sessão de grupo de encontro. As pessoas entraram em pânico e exigiram que o facilitar fizesse alguma coisa, mas ele se manteve calmo e fez com que o grupo discutisse sobre que atitude tomar. Algumas pessoas que se sentiram mais próximas ao homem tentaram conversar com ele, mas o grupo ainda achava que ele deveria ser internado. Pediram-lhe então que voltasse ao grupo, discutiram seus sentimentos e suas preocupações com ele. No fim, tudo foi resolvido e mais tarde ele fez terapia, sem hospitalização. O ponto é que o grupo, como um todo, é capaz de agir muito mais sabiamente do que uma pessoa sozinha.


VEJA – As qualidades essenciais para um facilitador podem ser ensinadas ou são naturais?



ROGERS – As qualidades essenciais para terapia individual – ou para grupos de encontro – foram especificadas há bastante tempo e têm sido confirmadas por pesquisas. Primeiro, se a pessoa está ligada a outra, como pessoa, genuína e real –sem envergar um avental branco de doutor-, isso será de grande ajuda. Depois, se a pessoa sente uma importância real pela outra, vai tornar seu crescimento e seu desenvolvimento mais possíveis.
E, por último, se ela pode realmente compreender o mundo interior do outro, verdadeiramente se sentir parte do universo de uma pessoa, essa capacidade para a empatia será muito importante para o crescimento construtivo. Dessas três, acredito que uma pode ser facilmente treinada – a empatia. As pessoas podem aprender a ouvir melhor e com mais compreensão, e a se afastarem de alguns de seus próprios conceitos, e realmente entenderem os outros como eles são. As outras duas qualidades vêm com a experiência de vida, e outras vezes através da terapia ou de vivencias como grupos de encontro.


VEJA – Por que o senhor começou a chamar as pessoas de “clientes” , em vez de “pacientes”?



ROGERS – A razão mais profunda foi nunca ter sentido que as pessoas que me procuram eram “pacientes”. Não eram doentes, e sim pessoas em dificuldade. Então, qual o termo mais apropriado ? Em inglês, “cliente” é aquele que vem buscar o seu serviço. Mas ele ainda é responsável por si mesmo.


VEJA – Qual sua maior fonte de aprendizagem?
ROGERS – São as pessoas e os estudantes com quem convivo e trabalho. Quando você se abre ao mundo de outros, um dos riscos – e a maior vantagem – é que você terá mais possibilidade de aprender alguma coisa.


VEJA – O senhor tem se preocupado , ultimamente,de maneira crescente,com a educação como forma de comunicação entre as pessoas. Como vê o sistema escolar vigente em seu pais?
ROGERS – Até recentemente, a ênfase em mais escolas, mais educação para todos e o fato de que uma pessoa nada pode fazer se não tiver um diploma universitário resultaram num modo mais mecânico de educação , tentando preparar as pessoas para uma sociedade mecanicamente orientada. De uns tempos para cá, no entanto , têm ocorrido mudanças que dão maior ênfase à liberdade no aprendizado, onde o individuo, pode escolher o que é de maior significação para a sua vida e aprender isso. Assim , ele é levado a um processo de aprendizagem constante em vez de uma educação mecanicamente orientada, que geralmente faz as pessoas sentirem que finalmente acabaram o curso , já têm seu diploma , então não precisam estudar mais. O aprendizado autodirigido, em contrate , faz com que as pessoas tenham sempre vontade de estudar e apreender . Isso a entusiasma , assim como satisfaz ás suas necessidades.


VEJA – Os adversários desse tipo de ensino tradicionalmente argumentam com o fato de que a pessoa, nesse caso , terá uma educação limitada somente a seus interesses e pode tornar-se incapaz de perceber mudanças. O que acha disso?
ROGERS – Se observarmos estudantes que saíram de escolas tipicamente tradicionais , depois de um ano ou dois, notaremos que eles também adquiriram uma educação limitada a seus próprios interesses. Eles se lembram de algumas coisas, mas a maior parte delas já foi esquecida, pois geralmente foram estudadas somente para um teste, um exame .Então , tanto um como outro modo de ensino pode ser limitado aos próprios interesses da pessoa. Mas o estudante autodirigido pelo menos conhece mais a si mesmo , conhece suas forças e suas fraquezas. E, porque ele é automotivado, freqüentemente quer preencher os lapsos de sua educação.

VEJA – O senhor acredita que a autodisciplina surge naturalmente com o aprendizado autodirigido?

ROGERS – Sim, a liberdade e a responsabilidade sempre caminham juntas, e isso é valido tanto para a educação quanto para outros aspectos da vida. A pessoa tem que viver com as conseqüências do que aprende. Se não pode perceber as mudanças , então será enganada pelos outros. E, quando isso torna claro, mais ela será responsável – ao contrario de alguém que teve liberdade mas não reconheceu suas conseqüências.


VEJA – Seguindo a tradição humanista, o senhor costuma enaltecer a bondade nas pessoas, mas não estará deixando um pouco de lado o maquiavelismo e o espírito de competição, que naturalmente existe em nossa sociedade?



ROGERS – Fui muitas vezes acusado de não compreender a maldade nas pessoas – e levo a sério este tipo de critica , isso pode até ser verdade. Mas cheguei a uma posição, não através de pensamentos passivos mas através de meus contatos diretos com pessoas , tanto em terapia quanto em grupos, ou mesmo em salas de aula, nos quais percebi que, se confio plenamente em sua capacidade de se compreenderem melhor e ser mais autodirigidas, essas escolhem direções que são sociais e não anti-sociais, ou más. Dizem que com esse tipo de terapia o individuo pode muito bem ser um melhor ladrão ou um melhor assassino , e para mim essa é uma possibilidade bastante lógica. Mas, de acordo com minhas experiências , isso simplesmente não acontece. Se ofereço a uma pessoa a possibilidade de se expressar, de buscar suas próprias direções, ela não escolhe ser um melhor ladrão ou coisa semelhante, mas procura seguir a direção de maior harmonia com seus companheiros.

VEJA – Uma terapia ou um grupo de encontro resolveria todos os problemas da pessoa , tornaria sua vida bem mais fácil?

ROGERS – Não isso não é verdade . A pessoa se desenvolverá mas o crescimento será sempre doloroso. Quando os potenciais humanos são desenvolvidos, a vida se torna mais complexa. As pessoas se descartam de seus velhos problemas deixando-os para trás, mas , quando vão em frente, encaram novos problemas , talvez tão difíceis com os anteriores – porém mais excitantes, pois elas aí estão mais conscientes e mais prontas a lidar com eles. Portanto o prazer de ser mais independente, mais real e mais livre é mais que suficiente para contrabalançar a dor e a dificuldade que advêm deste tipo de crescimento. Para a máxima curiosidade e aprendizagem desse tipo , tanto as crianças quanto os adultos precisam de amor de um individuo , ou de um grupo, que possa criar segurança suficiente para que a pessoa que está se desenvolvendo se atreva a tomar riscos que a levem a essas áreas de crescimento. E essa é uma das coisas que um grupo de encontro proporciona – a segurança de um ambiente de compreensão, com pessoas que procuram de amar mutuamente. A habilidade de tomar riscos é um dos efeitos básicos mais importantes de um grupo de encontro. Faço questão da palavra “risco” porque toda aprendizagem é um risco; no entanto, é a nova aprendizagem e o novo comportamento que tornam a vida excitante. É o que leva as pessoas a um desenvolvimento mais completo.

VEJA – Em seus trabalhos o senhor costuma se referir ao que chama de “pessoa emergente”. O que será isso?

ROGERS – Vejo a pessoa emergente como a que tomou o risco de viver de um modo novo e mais humano numa sociedade que não encoraja esse tipo de aprendizagem. Portanto, seu caminho não é fácil. São pessoas que não estão ligadas a coisas materiais , embora possam aprecia-las se as possuírem. Em termos de autoridade, vejo pessoas emergentes como alguém que tem um sentimento bastante profundo, de que somente dentro de si existe a maior fonte de autoridade, na qual pode confiar. Esta pessoa está pronta a ouvir qualquer autoridade, mas quando se trata de seu próprio comportamento, a escolha está unicamente, dentro de si mesma. Ela é quem avalia toda experiência e autoridade, e toma decisões baseadas no que ela quer fazer. Na verdade , sempre existiu uma ou outra pessoa assim. No entanto, ter um grande grupo de indivíduos tomando decisões por si mesmo , como aconteceu nos Estados Unidos, durante a guerra do Vietnam, quando um vasto numero de jovens simplesmente se recusou a ir para a guerra,é realmente um novo aspecto da sociedade.

VEJA – A pessoa emergente seria um produto exclusivo da sociedade americana ou ela pode surgir também em sociedade de paises em desenvolvimento?

ROGERS – Os Estados Unidos, principalmente na região oeste, são um terreno bastante fértil para esse tipo de indivíduos. Mas eu os tenho encontrado também em outros paises, como Holanda , Alemanha, Japão, Austrália, e sinto mesmo que o Brasil é um bom solo para esse tipo de pessoas. Em qualquer cultura , essa pessoa irá encontrar dificuldades – mas sinto no Brasil, uma coragem igual à que encontro nos Estados Unidos. Sou muito a favor dessas pessoas , pois elas apreciam o fato de que a vida é um processo de mudança. Portanto, não estão atadas a nenhuma ortodoxia ou tradição e nem qualquer modo fixo de fazer as coisas. "


FONTE: Revista VEJA no. 441
16 de fevereiro de 1977
Postado por Psicologia Humanista às 15:29
Marcadores: Entrevista de Carl Rogers à revista Veja (1977)

Hilda Hilst- ( 21.04.1930 a 04.02.2004)





"Aflição de ser eu e não ser outra.
Aflição de não ser, amor, aquela
Que muitas filhas te deu, casou donzela
E à noite se prepara e se adivinha
Objeto de amor, atenta e bela.

Aflição de não ser a grande ilha
Que te retém e não te desespera.
(A noite como fera se avizinha)

Aflição de ser água em meio à terra
E ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel

Não saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição de te amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra."




Hilda Hilst nasceu na cidade de Jaú, interior do Estado de São Paulo, no dia 21 de abril de 1930, filha única do fazendeiro, jornalista, poeta e ensaísta Apolônio de Almeida Prado Hilst e de Bedecilda Vaz Cardoso. Com pouco tempo de vida, seus pais se separaram, o que motivou sua mudança, com a mãe, para a cidade de Santos (SP). Seu pai, que sofria de esquizofrenia, foi internado num sanatório em Campinas (SP), tendo nessa época 35 anos de idade. Até sua morte passou longos períodos em sanatórios para doentes mentais.

Foi para o colégio interno, Santa Marcelina, na cidade de São Paulo, em 1937, onde estudou por oito anos. No ano de 1945 matricula-se no curso clássico da Escola Mackenzie, também naquela cidade. Morava, nessa época, num apartamento na Alameda Santos, com uma governanta de nome Marta.

Em 1946, pela primeira vez, visitou o pai em sua fazenda em sua cidade natal, Jaú. Em apenas três dias, no pouco tempo que passou com ele, perturbou-se com sua loucura. Em "Carta ao Pai" diz a biografada:

"Só três noites de amor, só três noites de amor", implorava o pai, sim, o pai, ele nunca fizera uma coisa como essa, sim, era Jaú, interior de São Paulo, um dia qualquer de 1946, sim, a filha deslumbrante, tremendo em seus 16 anos, sim, o pai a confundia com a mãe, a mão dele fechada sobre a dela, sim, o pai a confundia com a mãe, a confundia, sim?..."

Aconselhada pela mãe, em 1948 inicia seus estudos de Direito na Faculdade do Largo do São Francisco. A partir de então levaria uma vida boêmia que se prolongou até 1963. Moça de rara beleza, Hilda comportava-se de maneira muito avançada, escandalizando a alta sociedade paulista. Despertou paixões em empresários, poetas (inclusive Vinicius de Moraes) e artistas em geral.

Em 1949 é escolhida para saudar, entre os alunos de Direito, a escritora Lygia Fagundes Telles, por ocasião do lançamento de seu livro de contos "O Cacto Vermelho".

Hilda lança, nos dois anos seguintes, seus primeiros livros: "Presságio" (1950), e "Balada de Alzira" (1951).

Conclui o curso de Direito em 1952. Três anos depois publica "Balada do Festival".

No ano de 1957 viaja pela Europa por sete meses (junho a dezembro). Namora com o ator americano Dean Martin e, fazendo-se passar por jornalista, assedia, sem sucesso, Marlon Brando, outro galã de Hollywood.

Em 1959 publica o livro de poesia "Roteiro do silêncio" e "Trovas de muito amor para um amado senhor". José Antônio de Almeida Prado, primo da escritora, inspira-se em poemas desse último livro e compõe a "Canção para soprano e piano". Em outras oportunidades voltou a basear-se em textos de Hilda para compor alguns de seus trabalhos mais significativos. Os compositores Adoniran Barbosa ("Quando te achei") e Gilberto Mendes ("Trovas"), entre outros, também se inspiraram em textos da autora.

"Ode fragmentária" é lançado em 1961. Seu livro "Trovas de muito amor para um amado senhor" é reeditado por Massao Ohno.

É agraciada com o Prêmio Pen Club de São Paulo pelo livro "Sete cantos do poeta para o anjo", em 1962. Passa a morar na Fazenda São José, a 11 quilômetros de Campinas (SP), de propriedade de sua mãe. Abre mão da intensa vida de convívio social para se dedicar exclusivamente à literatura. Tal mudança foi influenciada pela leitura de "Carta a El Greco", do escritor grego Nikos Kazantzakis. Entre outras teses, defende o escritor a necessidade do isolamento do mundo para tornar possível o conhecimento do ser humano.

Muda-se para a Casa do Sol, construída na fazenda, onde passa a viver com o escultor Dante Casarini, em 1966. Morre seu pai.

Em 1967 redige "A possessa" e "O rato no muro", iniciando uma série de oito peças teatrais que escreveria até 1969. Lança "Poesia (1959 / 1967)".

Por imposição da mãe, internada no mesmo sanatório em Campinas onde estivera seu pai, casa-se com Dante Casarini, em 1968. Escreve as peças "O visitante", "Auto da barca de Camiri", "O novo sistema" e "As aves da noite". "O visitante" e "O rato no muro" são encenadas no Teatro Anchieta, em São Paulo, para exame dos alunos da Escola de Arte Dramática, sob direção de Terezinha Aguiar.

Em 1969 escreve "O verdugo" e "A morte do patriarca". A primeira recebe o Prêmio Anchieta. A montagem de "O rato no muro", sob a direção de Terezinha Aguiar, é apresentada no Festival de Teatro de Manizales, na Colômbia.

"Fluxo-Floema", sua primeira obra em prosa, é lançada em 1970. A peça "O novo sistema" é encenada em São Paulo, no Teatro Veredas, pelos Grupo Experimental Mauá (Gema), sob a direção de Terezinha Aguiar. Baseando-se nos experimentos do pesquisador sueco Friedrich Juergenson relatados no livro "Telefone para o além", Hilda Hilst iria se dedicar, ao longo desta década que se iniciava, à gravação, através de ondas radiofônicas, de vozes que, assegurava, seriam de pessoas mortas. No mesmo período anunciou a visita de discos voadores à sua fazenda. "O verdugo" é editado em livro, e é, até hoje, a única que não é inédita. Morre sua mãe, Bedecilda.

Em 1972 o Grupo de Teatro Núcleo, da Universidade Estadual de Londrina, sobre a direção de Nitis Jacon A. Moreira, encena a peça "O verdugo". Essa mesma peça é encenada no Teatro Oficina, em São Paulo, sob a direção de Rofran Fernandes, no ano seguinte, época em que foi lançado seu novo livro "Qadós".

"Júbilo, memória, noviciado da paixão" é lançado em 1974.

No ano de 1977 é publicado o livro "Ficções", que recebe o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), como "Melhor Livro do Ano".

Três anos depois, 1980, saem os livros "Poesia (1959/1979)", "Da morte. Odes mínimas", e "Tu não te moves de ti". Recebe da APCA o prêmio pelo conjunto da obra. Estréia a montagem de "As aves da noite" no Teatro Ruth Escobar, com direção de Antônio do Valle. Divorcia-se de Dante Casarini, mas o ex-marido continua morando na Casa do Sol.

Passa a fazer parte do Programa do Artista Residente da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), em 1982. Lança "A obscena senhora D". No ano seguinte publica "Cantares de perda e predileção", que recebe os prêmios Jabuti (da Câmara Brasileira do Livro) e Cassiano Ricardo (do Clube de Poesia de São Paulo).

Em 1984 saem os "Poemas malditos, gozosos e devotos". Dois anos depois, em 1986, publica os livros "Sobre a tua grande face" e "Com meus olhos de cão e outras novelas". 1989 marca o lançamento de "Amavisse".

Com "O caderno rosa de Lori Lamby", livro que consagra a nova fase iniciada em "A obscena senhora D", a escritora anuncia o "adeus à literatura séria" (1990). Justifica essa medida radical como uma tentativa de vender mais e assim conquistar o reconhecimento do público. A obra provoca "espanto e indignação" em seus amigos e na crítica. O editor Caio Graco Prado se recusa a publicá-la e o artista plástico Wesley Duke Lee a considera "um lixo". Lança "Contos d'escárnio/Textos grotescos e Alcoólicos".

O quarto livro dessa fase que, para muito, como dissemos, causou "espanto e indignação", "Cartas de um sedutor" é lançado em 1991. O livro "O caderno rosa de Lori Lamby" é traduzido para o italiano. Estréia, em São Paulo, a peça "Maria matamoros", adaptação do texto "Matamoros" que se encontra no livro "Tu não te moves de ti".

Em 1992 lança a antologia poética "Do desejo" e "Bufólicas", na verdade uma brincadeira quase infantil da autora, por muitos visto como uma paródia. Passa a colaborar com o Correio Popular, jornal diário de Campinas (SP), escrevendo crônicas semanais; o trabalho se estenderia até 1995.

No ano seguinte publica "Rútilo nada", num livro que também continha "A obscena senhora D" e "Qadós". "Rútilo nada" recebe o Prêmio Jabuti na categoria "Contos".

Em 1994, "Contos d'escárnio & Textos Grotescos" é traduzido para o francês.

No ano seguinte sai o volume "Cantares do sem nome e de partidas". O Centro de Documentação Alexandre Eulálio, da UNICAMP, adquire seu arquivo pessoal. A escritora sofre isquemia cerebral.

Em 1997, lança "Estar sendo. Ter sido". Seus poemas são lidos em Quebec, Canadá, juntamente com textos de Safo, Gabriela Mistral e Marguerite Yourcenar, entre outras autoras, no recital Le féminin du feu, durante as comemorações do Dia Internacional da Mulher.

A edição bilíngüe (português-francês) do livro "Da morte. Odes mínimas" é publicada em 1998. Publica também "Cascos & Carícias: crônicas reunidas (1992-1995)", volume de textos que saíram no jornal "Correio Popular". Volta a se dedicar a questões sobrenaturais: afirma acreditar no contato dos mortos com a Terra através de mensagens enviadas via fax. Reafirma o desejo de construir em suas terras um centro de estudos da imortalidade.

Em 1999, lança a antologia poética "Do amor". Sob a coordenação do escritor Yuri V. Santos entra no ar seu site oficial:

http://www.angelfire.com/ri/casadosol/hhilst.html.

"O caderno rosa de Lori Lamby" é levado ao palco sob direção de Bete Coelho e tendo no papel principal a atriz Iara Jamra.

Em 2000, lança "Teatro reunido" (volume 1)". Estréia, em Brasília, a adaptação teatral de "Cartas de um sedutor". Estréia, na Casa de Cultura Laura Alvin, no Rio de Janeiro, o espetáculo "HH informe-se", reunião e adaptação teatral de textos da autora. Inauguração, em dezembro, da "Exposição Hilda Hilst - 70 anos", evento criado pela arquiteta Gisela Magalhães no SESC Pompéia, em São Paulo.

Em 2001, estréia, no Rio de Janeiro, a adaptação teatral de "Cartas de um sedutor". A Editora Globo passa a ser responsável por toda sua obra publicada.

Agraciada, em 2002, com o Prêmio Moinho Santista - 47ª edição, categoria poesia.

Agraciada, em 2003, pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), na área de literatura, com o Grande Prêmio da Crítica pela reedição de suas "Obras completas".

Hilda Hilst faleceu no dia 04 de fevereiro de 2004, na cidade de Campinas (SP).
Releituras

Segundo verso - por Phelipe Bezerra Braga



As palavras voam
De teus lábios.
E cortam meu
Peito feito navalha.

Como podes
Ser sutilmente cruel
E rasgar meus
Primeiros versos
A ti dedicados.

Mas continuo
A sonhar em ver
O teu sorriso livre,
Sem medo do que
Esta por vir

Começo - por Phelipe Bezerra Braga

Pode-se dizer que a criminologia surge com os trabalhos teóricos de Cesare Lombroso (1835-1909). A própria compreensão da criminologia começava a se construir como uma ciência voltada para o estudo da natureza crime e do criminoso.
Lombroso ao abordar o crime como um fato cientifico, colou-se em oposição a Escola Clássica. Que definia a ação criminal em termos legais, defendendo a liberdade individual em relação aos efeitos punitivos do cárcere. Rejeitando este posicionamento surge a Escola Positivista defendida por Lombroso e seus seguidores. Usando como bases teóricas para seus trabalhos as teorias evolucionistas, positivistas e materialistas.
Defendendo que as raízes do crime seriam biológicas, Lombroso acaba que por reduzir o crime como um fenômeno natural, considerando o criminoso como um doente. Pela simplicidade que sua teoria tinha, suas idéias foram na época bastante aceita pela sociedade.
A partri de 1880 as idéias básicas da Antropologia criminal criada por Lombroso começou a ser criticada por diversos estudiosos. Chegando a afirmar que a Teoria de Criminoso Nato era puramente dedutiva.
Quando a Antropologia Criminal entra em decadência na Europa, na America Latina ela ganha impulso e novos discípulos. Principalmente no Brasil onde encontraram entusiasmados juristas que divulgavam as principais idéias de Lombroso e da Escola Clássica.

A Espera - por Phelipe Bezerra Braga


O medo
Me para no tempo
Aguardo uma resposta.

Não quero perde-la
Não quero perder
O que sinto ao teu lado.

E temo que o vento pare
Logo após a brisa aparecer
.

Phelipe Bezerra Braga

Francisco de Assis Lima - Escritor cratense- " O nosso Seu Assis "


Em Amsterdam

Em Paris ...


Dr. Francisco de Assis Lima, esse moço, amigo de longas datas, foi escolhido nos anos 60 , por Dr José Newton Alves de Sousa, para corrigir as redações escolares dos alunos do Dom Bosco.
Todos tínhamos-lhe grande apreço !
Hoje temos orgulho da sua notabilidade literária , e prazer, em tê-lo como colaborador do nosso Cariricaturas.
Abraços, nobre escritor e amigo !