Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Uma lição de civilidade – Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Vivíamos no Crato, em outubro de 1958, eleições disputadíssimas. Concorriam ao cargo de prefeito o senhor Pedro Felício Cavalcante pelo PSD e José Horácio Pequeno pela UDN. Os comícios eram concorridíssimos de cada lado. Os udenistas chamavam os pessedistas de “gogó”, e eu nunca soube o porquê, e estes replicavam que os udenistas eram os “carrapatos”, talvez numa referência a esse partido ter vencido várias e sucessivas eleições. O meu pai concorria ao cargo de vice-prefeito na chapa da UDN. Era a primeira vez que esse cargo, na minha modesta avaliação, desnecessário ainda hoje, era disputado.  
 
Gerson Moreira, um dos meninos mais udenistas que conheci, desde criança um líder natural, organizou um comício dos meninos que a cada dia ganhava mais adeptos. À medida que as eleições se aproximavam mais gente acorria ao comício dos futuros políticos da nossa cidade. Surgiram palanques, sistema de som, todo requinte que os comícios dos políticos de verdade tinham.
 
Pedro Felício concorria pela quarta vez e compuseram uma paródia musical cujo refrão eu guardo na memória: (“hei Pedro Felício, hei seu "teimosão", hei esta será a quarta decepção...”).
 
Certa noite, houve um desses comícios dos meninos defronte a casa do senhor José Honor de Brito, na Rua José Carvalho, bem perto de onde eu morava. Gerson, quando me viu, me convidou para o palanque e após alguns oradores falarem muito bem, me surpreendeu dizendo: “Agora vamos ouvir o filho do futuro vice-prefeito do Crato!” E de súbito, eu me vi engasgado, com o microfone nas mãos, todo trêmulo e sem saber o que falar. Então cochichei para o Gerson: “O que é que eu digo?” E alguém não identificado respondeu: “Diga que Pedro Felício é um ladrão!” Repeti como uma marionete esse recado, sem ao certo imaginar o que estava dizendo e fui muito aplaudido pela platéia que enchia a rua defronte do palanque.
  
Ao final daquele comício mirim que se encerrava cedo, provavelmente às oito horas da noite, voltei para casa satisfeito, crente que havia colaborado para eleição do meu partido. Mas por cerca das dez horas daquela mesma noite, eu fui bruscamente acordado pelo meu pai. Após a aplicação do corretivo usual para a educação daquele tempo, uma expressão que meu pai usou ficou para sempre no meu íntimo: “Pedro Felício é um homem de bem, é muito honesto e meu amigo. Eu não admito que você volte a falar o que falou dele! E está proibido de ir a esses comícios.” Realmente observava que papai se dava bem com todos os políticos do PSD e com seus eleitores também. Certa vez ele viajou com Pedro Felício, Jósio Araripe e outros amigos a Uberaba, em Minas Gerais para comprarem gado da raça gir e nelore, ainda não existentes na nossa região. Muitos dos primos e primas do meu pai, da família Pinheiro eram do PSD e jamais houve inimizade entre eles.
     
Terminada a apuração da cidade, naquela época apuravam-se em primeiro lugar os votos das urnas da cidade e depois a votação dos distritos, Pedro Felício vencia o pleito com uma boa maioria, algo em torno de mil votos, se não me falha a memória. Para vice-prefeito, votava-se em separado, meu pai tinha quase a mesma votação que seu Pedro. Os pessedistas já comemoravam a eleição como certa. Diziam que aquela diferença não daria para os currais udenistas desfazerem.
 
Assistíamos ansiosos os resultados dos distritos e zona rural. Estávamos nas últimas urnas e a diferença cada vez mais sendo desfeita. Encerrada a apuração registrou-se a vitória do prefeito José Horácio Pequeno por uma pequena maioria, creio que 58 ou 63 votos, não lembro ao certo, só que foi por um valor muito pequeno. Eu estava presente ao encerramento daquela apuração, observando de longe a reação dos derrotados. O senhor Pedro Felício colocou o chapéu na cabeça, desceu humildemente as escadas da antiga prefeitura, onde hoje fica o museu do Crato, e se dirigiu à Rua Nelson Alencar, residência de José Horácio Pequeno.
 
A molecada acompanhava cantando o hino do “teimosão”. Vi quando ele entrou na casa do prefeito eleito, cumprimentou-o efusivamente, desejou os maiores êxitos para sua administração, bebeu o que lhe foi oferecido pelo anfitrião, participou da alegria dos vitoriosos por alguns minutos e, em seguida rumou para nossa casa para cumprimentar meu pai. Aquela atitude foi uma das maiores demonstração de urbanidade que eu já presenciei num homem público.
  
Quatro anos mais tarde, meu pai desligou-se da UDN. Sentiu-se traído por seus correligionários. Aconteceu o seguinte: em julho de 1962, a alta cúpula da UDN reuniu-se em nossa casa do São José para tentar convencer meu pai a ser candidato a prefeito. Havia o senhor Derval Peixoto pretendendo ser candidato a prefeito, mas conseguiram convencer meu pai a ser o candidato. Mas ocorreu que o Dr. Derval Peixoto, excelente estrategista, lançou-se candidato a Deputado Estadual. Era um tiro em mais uma eleição do Coronel Filemon para a Assembléia Legislativa. Na convenção, meu pai foi surpreendido com a escolha do doutor Derval Peixoto como candidato da UDN. Lembro-me quando que cheguei um pouco atrasado à convenção e ainda ouvi o meu pai dizer: “O resultado dessa escolha vai ser a derrota da UDN.” E a partir daquele momento, ele desligou-se da UDN e inscreveu-se num partido pequeno, para no que a imprensa passou a chamar anos depois, ser um "anticandidato". Nas eleições, Pedro Felício que se candidatara a prefeito pela quinta vez, foi eleito, também por pequena margem. Ele ainda foi reeleito dez anos depois.
 
Em julho de 1975, tão logo eu passei a trabalhar no Departamento Regional da Coelce, em Juazeiro do Norte, observei que a Prefeitura do Crato tinha um saldo elevado na conta da iluminação pública, suficiente para edificar alguns projetos de construção de redes elétricas. Minha primeira atitude foi telefonar para seu Pedro Felício e comunicar-lhe que aquela reserva poderia ser utilizada em obras. Ele eletrificou parte de um bairro pobre do Crato e no Natal daquele mesmo ano me convidou para inauguração da obra. Quando ele falou entregando aquela iluminação à população, agradeceu muito a mim e passamos a ser amigos.

Anos depois fui vizinho de sua filha, a dona Naylê, ainda minha parenta, pois sobrinha neta de minha bisavó Santana Gonçalves Esmeraldo. Não poderia ter melhor vizinha. Ela e seu marido sempre souberam tolerar com muita paciência as estripulias dos meus filhos, que tanto subiam no telhado da nossa casa, quanto no da casa deles, danificando algumas telhas. Nem ela, nem seu marido me cobraram nada. Eu mesmo, quando soube pelas telhas quebradas da minha casa, tomei a iniciativa de mandar repor as telhas danificadas, tanto da minha, quanto da residência dela.
 
A lição de civilidade de “seu” Pedro ficou projetada também nas suas duas filhas, genros e nos seus netos.

Por Carlos Eduardo Esmeraldo
Publicado originalmente no Blog do Crato em 20.09.2008 

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Por que me orgulho do Brasil de hoje! - Por Carlos Eduardo Esmerado

Somente muita miopia política daqueles que desejam que este pais retorne ao domínio dos tucanos neoliberais. Neoliberalismo, nada mais é do que um sistema político-econômico que acredita na autorregulamentação do mercado e no estado mínimo. Que significa isso? Para países em desenvolvimento ou emergentes, expressão que os neoliberais adotaram com eufemismo para substituir o que antes era denominado de países subdesenvolvidos, significa em primeiro lugar o desemprego em massa, arrocho salarial, privatização das empresas estatais, políticas voltadas prioritariamente para o capital; banqueiros, rentistas ou agiotas. Segundo sugeriu o Sr. Armínio Fraga, provável futuro ministro da Economia caso a maioria dos brasileiros prefira retornar ao passado que ninguém em sã consciência deseja revivê-lo, os bancos do Brasil, Caixa Econômica, e BNDES devem ser privatizados. Quem é esse cidadão? Armínio Fraga é um economista da mais alta confiança do governo americano, possuidor que é de dupla cidadania: brasileira e americana.
 
Somente quem não quer, ou por pura cegueira ou provavelmente paixão político-partidária não reconhece como nosso país melhorou nos últimos doze anos. Vivemos algo próximo do pleno emprego. Para o último mês de setembro a taxa de desemprego registrada foi de 4,9% menor do que a de muitos países da Europa. O salário médio do brasileiro em setembro foi de R$ 2067,10, conforme informações publicadas a muito contragosto pelo jornal fomentador de golpes "O Globo". E a inflação se encontra em queda, 6,5% bem distante dos 12% com os quais FHC nos premiou.

Acusar o Bolsa-Família como indutor de letargia do trabalhador faz parte da retórica de quem não deseja ver a fome do povo minorada. Como se uma pessoa possa viver sem trabalhar com a irrisória quantia de R$ 168,00 (cento e sessenta e oito reais) mensais, o equivalente R$5,60 diários (cinco reais e sessenta centavos). Quem assim pensa é aliado dos neoliberais que quando detêm o poder, combatem ferozmente "qualquer política voltada para extinção da pobreza", conforme constataram os bispos latino-americanos no documento de conclusão da Conferencia Episcopal Latino-americana (CELAM) realizada em Puebla.

O programa do Bolsa-Família não atende somente a Região Nordeste. Em São Paulo, o estado mais rico do país, existem 1,2 milhões de assistidos pelo programa, bem à frente do Ceará, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Alagoas, Paraíba e Maranhão.

Mas o nosso país nos últimos doze anos viu crescer consideravelmente o número de universidades, de Faculdades de Medicina, de Escolas Técnicas, do programa Universidade sem Fronteiras, onde nossos jovens têm oportunidades de complementarem seus estudos em universidades estrangeiras, além do Pro-Uni, em que estudantes da rede pública obtém acesso às vagas ociosas de faculdades particulares, com financiamento do programa Fiés, além de cursos de formação técnicas para capacitação das pessoas para o trabalho. Pessoalmente eu conheço muitas pessoas beneficiadas pelo programa Bolsa-Família que dão duro no trabalho diário do campo. Como também muitos universitários que estudaram parte de seu curso em universidades da França, Espanha, Estados Unidos, Portugal e Inglaterra, recebendo diploma das duas universidades estejam satisfeitos com o atual governo e reconhecem que o objetivo do programa não é eleitoreiro, mas o de solidificar a formação dos brasileiros. Todos esses programas são de cunho social. Somente muita paixão político-partidária para não reconhece-los.
    
O Brasil atual enfrentou mais de seis anos de uma dura crise mundial, onde Estados Unidos e a Europa foram duramente atingidos por adotarem políticas neoliberais. É claro que o Brasil foi atingido em sua balança comercial. Ao contrário dos governos tucanos, ninguém alegou crise dos países chamados de "Tigres asiáticos". Pois não vivemos dentro de uma economia neo-liberal. Nossa política externa não ficou apenas atrelada ao Estados Unidos. Um leque de relações mútuas foi aberto para China, Rússia e países africanos.
  
Orgulho-me desse país, pois em quase setenta anos de existência jamais havia visto experiência governamental tão exitosa quanto essa.  Que Deus ilumine nosso povo, soberano em suas decisões para que não opte pelo retrocesso.  

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

O Retorno - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

O senso comum afirma que o brasileiro tem memória curta. Confirmamos essa assertiva no desenrolar da presente campanha eleitoral. De repente, como que anestesiados pelas inserções sublimares da grande imprensa, tendo à frente a diabólica Rede Globo, grande parte do nosso povo passou a admirar o sociólogo, aquele mesmo que recentemente considerou o nordestino um povo ignorante e, que há pouco menos de duas décadas, trouxe-nos o caos quando aderiu ao "Consenso de Washington" e implantou políticas neoliberais em seu famigerado desgoverno. O que vimos, lembram-se? Arrocho salarial, fome, salário mínimo abaixo de cem dólares, menor do que o de países mais pobres, como o Paraguai, a dilapidação do patrimônio do estado brasileiro, quando todo nosso setor de distribuição de eletricidade, nosso precário sistema ferroviário, que no caso do Ceará simplesmente foi extinto, nossas siderúrgicas e mineradoras, e tantas outras empresas estatais foram vendidas na "bacia das almas", mas cujo resultado ninguém soube qual foi, além de altas tarifas e a descapitalização do nosso país. 

No final do desgoverno de FHC, no centro comercial de Fortaleza, inúmeras casas comerciais foram fechadas e transformadas em estacionamentos. Gigantes do comércio varejista, lojas tradicionais cujo capital era nacional, como a Mesbla, o Mapin, a Lobrás, a Eletroradiobrás, as Casas Pernambucanas, o Romcy e tantas outras sumiram para sempre do mercado. Lembram ainda delas? Muitos dos nossos jovens não as conheceram. As políticas neoliberais aplicadas no desgoverno tucano quebraram o país três vezes, tendo que ser socorrido pelo FMI, (Fundo Monetário Internacional).  

A Europa e os Estados Unidos vivem no presente uma grande crise econômica, justamente por ter abusado da aplicação do receituário neoliberal. Crise essa que de certa forma também nos atinge.

Agora esse grupo sediado em São Paulo, o mais nordestino dos estados brasileiro, pois até a seca já chegou por lá, com direito a falta d'água e muita sede de um povo satisfeito com seus atores, pois anestesiados pelas novelas globais, está querendo reassumir os destinos desse país, alardeando uma grande crise em que vivemos. Será por que os aviões saem lotados dos aeroportos? Ou por que as lojas estão cheias de gente comprando? Ou será por que o povo está comendo? Pelo menos três refeições diárias estão tendo e não mais vimos retirantes da seca estendendo a mão em nossas esquinas.

Pensem nisso! Libertem-se das paixões partidárias. Faço esse apelo porque em 2004 fui um dos responsáveis por ter colocado FHC no governo. Penitencio-me hoje. Minhas esperanças foram então frustradas e não desejo ver repetido o filme dos que não olham para o bem estar do nosso povo, mas apenas para os banqueiros e grandes empresários, priorizando o capital à frente do social. Pensemos no futuro dos nossos filhos e netos. Não desejemos para eles o desemprego e desesperanças.