Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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sábado, 6 de março de 2010

Homenagem a César Pinheiro - por Júlio Pinto de Sousa

Homenagem a César Pinheiro

Pelos caminhos da vida,
um certo dia encontrei um cidadão
de olhos grandes e de bom coração.

Honesto a vida inteira
Cesar Pinheiro, Cesar Pinheiro
foi no Crato que ele nasceu
era um cidadão verdadeiro.

era simples
em toda aquela região
bom filho,bom esposo, bom pai
e bom irmão.

Só vivia fazendo o bem
tinha muito amor no coração
Recebia todos com atenção
Fazendo caridade a qualquer cidadão

Cesar Pinheiro era Pai ou Irmão
não sei comparar, queria lhe fazer alusão
e agradecer,obrigado Cesar Pinheiro,
pelo que fez pro compadre Julião.

Joaquim,Jose, Antonio,Maria Edith,
Maria Amélia e Maria Benigna,belos irmãos
Compadre Cesar, são seus filhos
Que vivem na maior união.

Compadre Cesar, a sua cadeira
esta no mesmo lugar
quando vou chegando meu coração começa a soluçar.

Sustando as lagrimas
nos olhos, não posso soltar
só pra não ver
Comadre Almina chorar.

Júlio Pinto de Sousa (Julião)
22.09.2003

A César o que é de César - por José do Vale Feitosa

Pode um ato representar a síntese de uma vida? Tenho certeza que não. A vida tem tantas possibilidades, uma quantidade imensa de modos de reagir a um mesmo fato que jamais existiria um ato para conceituá-la. Mas aquele riso entre dentes, com sopros chiados intercalados, entre o prazer próprio do sorriso e a gozação de uma determinada situação, era ele por inteiro.
Claro que havia a pinça formada pelo indicador e o polegar, retirando o torrado de uma variação de caixinhas. Imediatamente indo até ambas as narinas, que o aspirava em apenas dois atos contínuos. Em seguida, oferecia a algum sobrinho já com o olhar vivo de quem esperava algo. O menino, à vezes, só a com a aproximação do rapé às narinas, começava a espirrar e o característico riso balançava seu corpo todo. A voz baixa, roupas simples, de pouca variação, era quase um uniforme. Sempre calçando o que ficava entre algo parecido com sapatos e alpercatas.
Poucas vezes o vi, assim mesmo em ocasiões muito especiais, com roupas distintas. De uma vez, e claro não o vi pessoalmente, era a foto do seu casamento. Pois tais roupas tinham uma expressão que poucos souberam traduzir. Uma tradução mais fácil, que identificasse ali um ser simplório, certamente se enganaria em primeira mão. Outra que visse um revolucionário, que negava o padrão vigente ao vestir-se, também não encontraria a fúria justa de quem deseja soterrar o status quo.
Menos eu que tive o privilégio de ser um sobrinho-filho. Tive a primazia de ser o filho mais velho de sua irmã e, por isso mesmo, a oportunidade de vê-lo muito jovem ainda. Muito jovem cuidando de um grande patrimônio, este de muitos, que de tão enovelado entre pessoas, era inadministrável. O vi coordenando dezenas de empregados, viajando de um lado para outro. Amanhecendo na moagem da cana e anoitecendo no esguicho do vapor que subtraia pressão à caldeira no final da jornada. O vi examinando a soca da cana e acompanhando o seu corte. O vi cuidando de vacaria, jamais esquecerei seu portentoso touro holandês. Que igual valentia e zelo com as fêmeas do seu rebanho, não me recordo.
Um belo dia, de uma manhã iluminada, os mosaicos da sala anunciando uma força de eternidade, ele entrava com grandes pacotes. Chamava os sobrinhos que estivessem por perto e, abrindo os volumes, cortava grandes fatias de queijo de manteiga e goiabada. Fazia um sanduíche maior que a boca dos meninos, só para ter o prazer de vê-los tentando morder aquela espessura além de suas fomes. Enquanto as bocas se escancaram no esforço, o sorriso silencioso estimulava o ambiente em forma de total infantilidade.
Se formos contabilizar os sobrinhos que, em distantes cidades, receberam pacotes com guloseimas nordestinas ou outros artefatos regionais, tem-se a maior proporção do universo deles. Não me dou conta de quantos os recebi pessoalmente ou até mesmo enviado por algum portador ou pelo correio. Como também foram muitas as vezes em que o vi amarrando volumes para enviá-los para alguém à distância. Recordo muito dele organizando tais presentes para enviar aos parentes na transoceânica Europa.
E o quê significava aqueles presentes? Gentileza em primeiro lugar, porque, apesar de ser uma pessoa séria, era muito gentil. Era doce, até mesmo para com os filhos com quem tinha obrigações de disciplinar. Em segundo lugar, era a doação de um patrimônio cultural que ele guardava como registro de vida e história. Recordo quando chegava à casa do meu pai, em Crato e lá vinha ele com Tia Almina, os dois com roupas formais, visitar-me como um presente de boas vindas. Nesse mundo informal e imediatista, não me lembro de outro gesto mais civilizado do que aquele. Em terceiro lugar, era a dimensão da grandeza que possuía, mas não transmitia na sua inserção púbica e nem na vestimenta cotidiana. Era como se dissesse ao mundo, que nem tudo que a aparência denota, informa a real natureza das coisas.
Parece uma espécie de pensamento esotérico. Só relevado para alguns. Mas no quarto dele, na caso do Recreio, haviam tesouros do mundo como realmente o mundo era. Uma foto, uma carta, um recorte de revista ou jornal, algumas peças utilitárias da vida rural, mesmo velhos lampiões ou anéis que ornavam antigos arreios. Sobre os guarda-roupas ou, se não me engano, numa espécie de sótão em que o passado resistência ao esquecimento. Eu jamais fui iniciado naqueles conhecimentos, mas não tive a menor dúvida que havia.
Tempo após, em seu quarto no apartamento em que viveu no Crato, novamente encontrei os sinais desse mundo que se dimensionava além das aparências. Das aparências de quem se resume a um único lado das coisas. Das luzes que brilham feito estrelas, que a semelhança das super-novas, explodem em belíssimo espetáculo, mas de curta permanência. Como acontece continuamente nos espasmos do sucesso, na projeção que costuma encerrar-se com a sessão ou na saliência que praticamente pede às intempéries do tempo, que a aplane.
Quando os familiares brincavam como sua freqüente presença nas marchas fúnebres, mas denotavam seus afastamentos da vida uma vez que o corpo é, até o último ato, a expressão dela. A vida é o corpo integralmente, até a memória que se inscreve na lápide ou a presença frágil de um crânio que revela a idade dos homens desde os primórdios. Na verdade, César compreendia plenamente a sua cidade e a respeitava em sua integralidade, de tal modo que ninguém, que em vida cumprimentava ou ao corpo em respeito acompanhava, lhe era estranho. E isso já não era verdade para desleixo da maioria dos seus parentes.
De hábitos regulares. Jamais se excluiu da dinâmica do prestígio ou desprestígio político dos próximos a si. Quando a maré era enchente, não esteve na maçaneta que abre-se para as vantagens, mas perfeitamente foi solidário na vazante que historicamente teve forte teor raivoso. Se para quem vive ao passo dessas conquistas pessoais, a falta de passos em alguns degraus poderia ser inapetência, é também verdade que os vencedores se mediocrizam pelas próprias conquistas. E ele aprendeu a dar aos outros, conquistadores ou derrotados, um valor que ia além da própria vida.
Como pessoa original de sua cidade, sabia buscar no campo mitológico a antropogenia de sua família. Utilizando-se da mesma metodologia que os gregos usavam para divinizar suas origens. Ele estabeleceu linhas de comunicações e escreveu textos que na prática era a teogonia dos seus valores, com quem se comunicava em silêncio. Um dia revelou para uma sobrinha que era espírita. O que isso pudesse ser, como religião ou filosofia, na verdade era a síntese de um homem que viveu na civilização técnico-científica como se buscasse a fórmula do moto perpétuo para gerar bem estar e a panacéia para sarar o sofrimento da humanidade.
E que todos nós, que o testemunhamos: Dê a César o que é de César.


*Homenagem do Cariricaturas à memória do ilustre cratense César Pinheiro Teles, que hoje estaria completando 91 anos. Ele é pai de dois dos nossos colaboradores : Joaquim Pinheiro e Maria Amélia; tio de José do Vale Feitosa ; esposo de Dona Almina Arraes , amigo dos nossos antepassados e conterrâneos.
Uma memória e carinho sempre vivos !

Poema de Wellington Alves - (Tontom)

Enclausuro-me
E isto já me basta
Não sou de ouvir tolices
Bobagens, palavras vãs
Coisas sem nada

A engenharia do meu cérebro
Exige passos otimistas
Ideias e ideais
Comprometidos comigo

A arquitetura de minha alma
Dispensa a hipocrisia do mundo

Não vulgarizo pensamentos
Nem penso em vulgaridades
Não banalizo coisas
Nem coisifico banalidades
Não me animalizo
Na certeza de que sou mortal
Sou intolerante
Talvez intolerável

Mas me basto
Na clausura do meu tempo

Na solidão deste momento.

Poema sem título de Wellington Alves
Do livro inpulsos - edições SOBRAMES - 2001

Os lamentos de quem perdeu a festa...


Se lamento valesse como remédio eu não estaria sentindo tanta falta dessa gente boa que ontem se reuniu na casa de Roberto Jamacaru e Fanca para acertar os detalhes sobre o livro Cariricaturas.
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Lamentei igualmente não ter tomado parte dos festejos do aniversário de um menino do Crato - Roberto Jamacaru, uma pessoa muito especial e amiga que merecidamente foi homenageado.
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Pelos bastidores eu soube dos preparativos, do desvelo amoroso de Fanca, do carinho dos amigos... mas infelizmente nem sempre eu posso estar no Crato quando quero. Segunda-feira de manhã eu tenho trabalho em Sobral e ontem foi o casamento de Marcelo, filho de meu primo Georges. Como ultimamente a família Bloc-Boris só andava se encontrando em velório, em missa de sétimo dia etc etc etc... resolvemos, desta vez, (e muitas outras) comemorar juntos a vida. O encontro. A alegria.
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Lamentei ainda, nesse embalo, não ter podido (re)conhecer pessoalmente o Dedé (José do Vale Feitosa) e extensivamente a Tereza sua esposa, de quem só tenho ouvido elogios e que gentilmente ingressou, desta vez, na nossa tribo, no ensejo dessa data festiva.
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Agradeço a cada pessoa que perguntou por mim (eu soube) e deixo a todos o meu abraço e minha alegria (emocionada) por me sentir querida entre os nossos Cariris(caturenses). Orgulho-me por pertencer a esse núcleo de gente querida e fico feliz por estar na lembrança dessa gente em dimensões estratosféricas.
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O lamento é apenas, mas absolutamente, pela falta de oportunidade de ter podido estar aí num momento desse. Mas... me aguardem para outra oportunidade!!!
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Abraço grande a todos.
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Mais uma vez, abraços ao aniversariante!
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Claude Bloc
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com sede à fonte

Tive que subir ao telhado.
Apartar meu Pégaso das estrelas.

Havia discórdia entre os olhares trocados.
Meu Pégaso enraivecido por tantos furos no céu.
Não conseguia dormir de olhos abertos.

Mas uma vez expliquei ao meu Pégaso:
as estrelas brilham porque são cadáveres.

Para lhe acalmar, saltei, montei
e lhe feri as costelas com os calcanhares.

As asas do meu Pégaso
têm mais de três metros de envergadura
(cada uma). Furioso, satisfeito, sacudiu-se
e precipitou-se de encontro ao abismo. Voamos.

Já bem perto das estrelas,
meu Pégaso virou seu pescoço de mármore
e me olhou profundo. Ouvi sua mente:

"as estrelas se são cadáveres
quero sê-las ao morrer..."

Respondi em silêncio:
"tolice."

A poesia de Geraldo Urano

Poemas de Geraldo Urano para Patativa do Assaré

safra entre as cenouras
com olhos de sonhadora
safra baby
voando para lá da challenger

a terna brisa rural
a paz em solo firme
e longe a capital
num clima de doidice

à luz das hortaliças
a lua foi surgindo
como uma cientista
a embrapa meiga ouvia
a nutridora cantiga
da soja na caatinga

safra baby então escreveu
um poema pouco maior
que a palavra sarajevo

- oh o canto da patativa

--- x ---

seu dotô sua licença
para uma palavrinha
seu dotô falô da sua
pois eu vou falar da minha
minha casa
num tem vrido
nem ôro nem porcelana
minha casa
é de pau e barro
mas nela
os anjo canta
e eu garanto
que o sol
quando alumia a sua
num tira o zóio da minha

A Música - Everardo Norões

Para Isaac Duarte

Sem pedir licença,
insinua-se pelos cômodos,
invade os espelhos,
derrama suas jarras de luz.
Vejo-a
pelos canteiros da casa,
na nitidez dos bordados
de minha mãe,
no brilhar de tua íris
quando os deuses descem
para beber a insensatez
das águas.
Depois,
ela se transforma em seios,
goiabas,
espigas.
E nua, adormece,
enquanto a lua brinca
entre meus dedos
e lagartixas
passeiam pelas pedras do pátio...


TRISTÃO

Em pé, ao sol e ao vento do sertão,
ele não se decompôs.
Pedro Nava (Baú de Ossos)

As palavras no alforje. E o rosário,
a escorrer das penas e dos dias.
O azul da barba lembra uma paisagem
onde campeiam cabras. E ramagens
desatam-se em sombras nas janelas.
A morrinha dos bichos. O mormaço,
trazendo o desespero, em vez de março:
um luto atravancando as taramelas.
A sela desapeada. E na garupa
do cavalo, a sentença das esporas.
Pendentes dos estribos, estão as horas,
relampejos de facas. E o sono da jurema.
O braço descarnado, o giz dos dentes,
e o olho além do corpo do poema.
No chão do meu degredo, sempre chão,
sete frases do ofício e um bordão.



SONETO I

Agonizavam os rastros de novembro.
E os meus ossos, cansados das neblinas,
doíam, no concerto das esquinas
da cidade, onde um dia, ainda me lembro,

penetrou-se de escuro a minha alma,
quando um cão, a ladrar contra o sol-posto,
mordeu o lado oculto do meu rosto
e deixou seus sinais à minha palma.

Lembro-me que era de tarde. Ainda chovia.
O eco dos espelhos conduzia
meus passos que jaziam pelas ruas.

Havia o som da água que caía.
E no horizonte, além da agonia,
um cemitério de meninas nuas.



TUA FALA

Tua fala parecia
uma rede de varandas,
branca,
no meio da sala.

(Uma coisa que envolve
e, ao mesmo tempo, se esquiva):
gesto seco de uma chama,
morrendo,
e sempre mais viva.

Era assim, tua palavra:
escorreita, sem medida.
Falas como pés descalços,
presos à relva macia.
Ou um cheiro de curral
quando a manhã principia.

(Tua fala parecia
a rede, toda bordada,
onde a noite amanhecia).

De A Rua do Padre Inglês (2006)

Os Encourados - Everardo Norões

A tarde chega.
A luz se dispersa:
quem anunciará a morte,
soltará o chicote,
abrirá a fresta?

Quem domará o espaço
entre o gume e a alma,
entre a cerca e a palma,
entre o assombro e a calma?

E dormirá no cio
de árvores cativas
ao solstício das pedras,
no despencar das sombras?
A tarde chega,
a luz se dispersa.
É uma luz de sede
do sol dos Inhamuns:
branca e calada.

Os encourados se miram
num horizonte de varas.
A copa é pequena:
na redondez dos cabos,
lâminas severas.

Nem palavras:
o vento soletra a mata,
converte-se em faca.
Sumida nos esteiros,
detida nas vazantes,
segue,
na garupa,
a sina dos instantes.

Adonde vosmecê,
alumia o sobrosso,
desmazelo do corpo?

A alma se estropia
nesses retirados
dentro dos Teus lustres...
A tarde chega.
A luz se dispersa.

E uma luz de sede
do sol dos Inhamuns:
branca e calada.

Ponto de cruz ou estrela:
uma rede bordada.

De Retábulo de Jerônimo Bosch (2009)

Everardo Norões



Everardo Norões nasceu na cidade de Crato, Ceará.
Viveu na França, Argélia e Moçambique.
Tem os seguintes livros publicados:
Poemas Argelinos (Ed. Pirata, 1981)
Poemas (Fundação de Cultura da Cidade do Recife, 2000)
Nas entrelinhas do mundo, em co-autoria (Ensol, 2002)
Le tigri del Bengala - tradução de Emilio Coco Edizione Nuove Muse, S. Marco in Lamis, Itália, 2005).
Co-autor do texto da peça Auto das portas do Céu, de Ronaldo Brito. Organizou a obra completa de Joaquim Cardozo, que se encontra no prelo (Editora Nova Aguilar)

Everardo Norões na Internet:
http://www.plataforma.paraapoesia.nom.br/everardon.htm

Descanso no silêncio de Itacimirim e o dia é manso - por Ana Cecília S.Bastos






Só me quero mar e verde e bichos e rios. Rios da infância que não são chamados e insistem em chegar, sensação de repouso e aderência ao real, a terra molhada e o cheiro de profundidade como extensão dos nossos corpos de criança, que, no entanto, dela eram feitos (“De que são feitos os meninos, de que são feitas as meninas”? perguntava). O barro e a terra onde nos plantamos até hoje.

Itacimirim é conchas do mar, que aparecem a essa época do ano. Ainda aparecem, mesmo quebradas e tímidas. As caravelas e sua transparência, seu violeta infinito. Os bichinhos que emergem da na grama, besouros multicores, lagartos e até um siri que veio do mar até em casa, migrante sem norte, atordoado. O mar que um dia vai inundar nossa casa... Os gatinhos que vêm à noite brincar na grama, ariscos mas sempre vindo quando eu chamo (também porque estou aberta, relaxada, nenhuma dor de cabeça, nenhum cansaço ou irritação ou pressa ou agonia ou compromissos de não ser, e assim me reconhece o que é bicho).

Os pássaros, todos reconhecidos por meu pai, e amo perguntar-lhe e nunca saber dos nomes para poder perguntar de novo e ouvi-lo em seu saber mais genuíno de menino passarinho. São muitas espécies que vivem aqui, e cantos vários, e nomes belos (casaca de couro, viana, graúna, sabiás, ferreiro...). Ouvir o mar e os pássaros, privilégio e necessidade vital. Agora o silêncio é absoluto, todos dormem nessa hora quente da tarde. Escuto o silêncio, e há pássaros ao longe, e são diversos, e são de versos, palavra nenhuma poderia preencher esse momento. Esse lugar está sempre aqui e nunca o tenho como agora... O silêncio, o pai e a mãe, o meu amor só para mim. Mas as crianças, quando vêm, são parte da grama e do mar, se não fossem as preocupações do cotidiano que vêm junto via os adultos.

E os irmãos, não sou sem eles. Como no livro de Marguerite Duras, o tudo que Luís evocava ao me dar de presente. E eu que não registrei, ou mal registrei, ocupada, e nunca o fiz sabedor do que significou para mim. Mas ele sabe, contudo, porque o nosso tecido de ser irmãos é precioso. Falta o fazer saber sem o qual somos silenciosos e nos colocamos cortinas e banalidades; ele sabe que ser irmãos é poder chorar pelas mesmas coisas.

Vislumbro nossa infância de nove irmãos, de ser criança muito, e os pais tão jovens como há muito fui. Minha mãe conta que até Luís nascer todos dormíamos no seu quarto; ela nunca abriu mão de cuidar de nós à noite. Eram três, quatro berços. Viro ternura e quase choro ao ver - na lembrança ainda, uma lembrança dentro de um corredor no qual minha mãe toma minha mão e seguimos - os berços, o cestinho enfeitado e mantido tão limpo com as coisas do nenê. A caixa plástica para mamadeiras e demais utensílios, protegida em um cantinho especial da cozinha. Os objetos suaves na penumbra do quarto e o cheirinho de bebê, tão naturalmente gerado naquele tempo, misto de leite e lavanda Johnson e talco e hipoglós e fraldas de pano sujas.

Minha mãe me conta desses arranjos para demonstrar o quanto ela me queria. Desde que chegaram de Ubajara, e acho que é a primeira vez que realmente vivem, mesmo que por cinco dias, em casa de um filho na chegada de um neto – eles falaram repetidamente sobre o quarto de sua netinha caçula: muito rosa e enfeites e rendados, um exagero que eles estranham. Fico enternecida ao vê-los, esses avós convivendo com práticas de criação tão distantes da sua experiência de pais, e obtendo um equilíbrio entre estranheza, descoberta e aceitação que só se explica pelo amor.

Imagino os dois com três filhos de até quatro anos de idade, e mais um por chegar. E o que minha mãe conta, de querer estar perto às noites para estender a mão sobre a gente ao primeiro chorinho ou sinal de inquietação, e acalentar baixinho, um cicio, de modo que a gente nem chegava a chorar, voltava para o sono.

Não lembro, esse tempo é só imaginação. Mas me parece que vejo nitidamente como era, e sei em algum lugar que éramos crianças tranqüilas, e que chorávamos pouco, e que era um acontecimento se algum chorasse muito à noite. Não me vejo quando eu era o meu ser original... no tempo que não lembro, ainda intacta.

Sou oceano nas extremidades e sou terra. A infância é mar e terra, e aquele poço profundo no Caboclo – trilha estreita, árvores mirradas mas envolventes, a nos emprestar galhos dos quais pulávamos na água, trampolim de delícias e completude.

Estou à toa e as lembranças também. As conversas fluem, as lembranças vêm, gratuitas, livres, sem nenhuma exigência de nexo.

Há um novo milênio e quero verdades. Verdadeiramente viver. Sentir e significar cada momento e cada tarefa.


Foto: MVítor.

Sobre o tempo - Lupeu Lacerda




Então chegou o senhor fulano,
trazendo em sua mão ossuda e
tatuada,
uma velha ampulheta quebrada.
Com uma voz que esqueci
(porque nem ouvi)
Me disse que eu estava jurado de morte
Me disse que a minha sorte
É que a vida anda muito
ocupada

Sinhozinho


Eliodório Pereira Oliveira (Barreiras, Bahia, 23 de abril de 1932 — Anápolis, Goiás, 6 de março de 1979), mais conhecido como Sinhozinho, é um embolador, repentista, cordelista, sambista e compositor brasileiro. Pode ser sugerido como o mais fecundo compositor da história cultural de Anápolis. Escreveu o hino-canção Uma Canção por Pirenópolis e também o samba Exaltação a Anápolis. Membro fundador da escola de samba "Veneno da Vila", tendo organizado os carnavais de 1976 e 1977 na cidade de Anápolis. Era também animador de comício e funcionário da prefeitura municipal como o cargo de apontador. Gravou um disco em 1973, Caminhada, com onze músicas inéditas de sua autoria e um baião de Luiz Gonzaga. Gravou com Elias Bittar um compacto de marchinhas de carnaval com duas músicas. Era amigo de Jair Rodrigues e conheceu também Lupcínio Rodrigues.

Singeleza - Domingos Barroso

Há de se forjar
um coração manso
ao primeiro idílio
percorrer toda a alma
da suposta amada

e beliscar-lhe o braço
e imaginar seus beijos.

Há de se viajar
no tempo certo
Rio, samba

Flamengo,
Salgueiro

e dedicar-se
ao único ato
da espera.

Há de se cuidar,
caro poeta
do pulso inflamado.

Diclofenaco potássico
é hoje a sua morfina.

Mas sonhar com a moça
é bem mais anestésico.

"ela é carioca,
ela é carioca..."

Gabriel Garcia Márquez



Um único minuto de reconciliação vale mais do que toda uma vida de amizade.

O segredo de uma velhice agradável consiste apenas na assinatura de um honroso pacto com a solidão.

A sabedoria é algo que quando nos bate à porta já não nos serve para nada.

Não se é de parte nenhuma enquanto não se tem um morto debaixo da terra.

Aprendi que um homem só tem o direito de olhar um outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se.

É necessário abrir os olhos e perceber que as coisas boas estão dentro de nós, onde os sentimentos não precisam de motivos nem os desejos de razão. O importante é aproveitar o momento e aprender sua duração, pois a vida está nos olhos de quem saber ver.

A sabedoria nos chega quando já não serve para nada.

"Aprendi que um homem só tem o direito de olhar um outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se."


Porque o jornalismo é uma paixão insaciável que só se pode digerir e humanizar mediante a confrontação descarnada com a realidade. Quem não sofreu essa servidão que se alimenta dos imprevistos da vida, não pode imaginá-la. Quem não viveu a palpitação sobrenatural da notícia, o orgasmo do furo, a demolição moral do fracasso, não pode sequer conceber o que são. Ninguém que não tenha nascido para isso e esteja disposto a viver só para isso poderia persistir numa profissão tão incompreensível e voraz, cuja obra termina depois de cada notícia, como se fora para sempre, mas que não concede um instante de paz enquanto não torna a começar com mais ardor do que nunca no minuto seguinte."


Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem de minha natureza. Descobri que não sou disciplinado por virtude, e sim como reação contra a minha negligência; que pareço generoso para encobrir minha mesquinhez, que me faço passar por prudente quando na verdade sou desconfiado e sempre penso o pior, que sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual para que ninguém saiba como pouco me importa o tempo alheio. Descobri, enfim, que o amor não é um estado da alma e sim um signo do Zodíaco.
(Memórias de Minhas Putas Tristes - Pg. 74)

Gabriel García Márquez

Melina Mmercouri



Melina Mercouri (Μελίνα Μερκούρη, nascida Maria Amalia Mercouri), (Atenas, 18 de Outubro de 1920 — Nova York, 6 de Março de 1994), foi uma famosa atriz, cantora e ativista política grega. Era parte do Parlamento Helênico e, em 1981, tornou-se a primeira mulher a ser Ministra da Cultura na Grécia.

Seu avô, Spyros Merkouris, foi prefeito de Atenas por muitos anos. Seu pai era membro do Parlamento. Seu tio era George S. Mercouris, líder do Partido Socialista Nacional da Grécia e que se tornou presidente do Banco da Grécia durante a ocupação da Grécia pelo Eixo, durante a Segunda Guerra Mundial.

Seu primeiro filme, Stella (1955), foi dirigido por Michael Cacoyannis, o diretor de Zorba, o grego. Foi ele que a levou para Cannes, onde o filme foi indicado a uma Palma de Ouro. Lá, Melina encontrou o homem de sua vida, o diretor Jules Dassin. Dassin e Mercouri viveram juntos pelo resto da vida, mas não tiveram filhos.

Melina tornou-se conhecida mundialmente quando estrelou em 1960, o filme Never on Sunday, de Jules Dassin. Ela se aposentou do cinema em 1978.

Durante o período da ditadura militar na Grécia, Mercouri morou na França. Quando a democracia retornou ao país, ela primeiro se tornou membro do Parlamento; depois, a primeira mulher a ser Ministra da Cultura no país por dois mandatos consecutivos; depois trabalhou novamente no mesmo cargo em 1993 e 1994. Como Ministra da Cultura, lutou para retomar os famosos Mármores de Elgin, que foram retirados do Partenon grego.

Melina morreu em Nova York de câncer de pulmão. Seu corpo retornou para Atenas, onde teve funerais dignos de um Primeiro-Ministro.

Wikipédia

Assis Valente





José de Assis Valente, desenhista, protético e compositor. Y 19/3/1908, Bahia - V 10/3/1958, Rio de Janeiro, por suicídio.

Sabe-se que Assis nasceu na Bahia, mas não se sabe onde. Ele mesmo, em reportagens, era controverso. Ora dizia ter nascido em Campo da Pólvora, Salvador, (e dizia que por isso tinha a pele "queimada") ora em Santo Amaro da Purificação. Também declarou várias vezes ter nascido entre Pateoba e Bom Jardim. A data de nascimento, segundo seus biógrafos, também é outra incógnita: "Há uma certa segurança, num documento emitido no Rio em 1939, quando Assis se casou. Na certidão de casamento consta que ele veio ao mundo no dia 19 de março de 1908, natural de Pateoba.(...) Seus pais, conta o mesmo documento, seriam José de Assis Valente e Maria Esteves Valente. Durante a vida, em nenhuma entrevista ou reportagem ele se referiu aos pais, parecendo querer ignorar seu passado."1

Ainda pequeno Assis foi tirado dos pais por uma família de Alagoinhas (BA) que mais tarde se mudou para Salvador e depois para o Rio de Janeiro. No entanto, ele continuou na Bahia, trabalhando na farmácia de um hospital e estudando desenho no Liceu de Artes e Ofícios. Pouco depois Assis foi trabalhar num circo, como orador e comediante, até o fim da década de 20 quando mudou-se para o Rio de Janeiro. Excelente desenhista, vendeu alguns desenhos e ilustrações para duas revistas cariocas. Simultaneamente começou a trabalhar como protético. Habilidoso, diziam que as suas dentaduras só faltavam falar. Foi nessa época que conheceu o alagoano José de Aguiar Dantas, com quem conviveu de 1929 até o fim da vida. Juntos, com o dinheiro que Aguiar recebeu de uma herança, montaram um laboratório de prótese. Assis, que dominava o assunto, ensinava seu sócio que aprendia facilmente a profissão.

Assis Valente tornou-se um respeitado protético mas, a partir da década de 30, começou a mostrar sua instabilidade emocional. Um belo dia, sem mais nem menos, anunciou para Aguiar Dantas que ia passar uns tempos na Bahia e sumiu. Meses depois Assis voltou e já manifestava seu dom para a música: passava o dia inteiro cantando e batucando em cima das banquetas ou no fundo das gavetas. Extravagante, ele pagava tudo para todo mundo, mesmo sem ter dinheiro. Por isso tinha fama de rico. Amoroso, divertido e "mão-aberta", vivia rodeado de rapazes pela noite carioca. Segundo depoimentos de pessoas que conviveram com o compositor nessa época, quem o estimulou e até ensinou a fazer sambas foi Heitor dos Prazeres (1898-1966), pintor e compositor e, em 1932, inspirado pelo modismo de falar francês e principalmente inglês, Assis compôs sua primeira obra, Tem francesa no morro. Nesse mesmo ano conheceu Carmen Miranda, sua intérprete predileta e por quem se apaixonou. Foi através dela que Assis ficou conhecido no meio musical. Deslumbrado, foi deixando de lado seu trabalho como protético. Seu sócio inutilmente tentava trazê-lo de volta ao trabalho, incentivando-o a largar a música, mas este sumia e ficava às vezes meses sem aparecer. Quando voltava, envergonhado, jurava que ia assumir seu cargo no laboratório, deixar "essa coisa de sambista", era só o tempo de concluir umas gravações, aproveitava para pedir um dinheiro emprestado e... sumia de novo. Nos anos que se seguiram os fatos se repetiram, Assis tornou-se um dos mais requisitados compositores e não conseguia dedicar-se com afinco nem para a música, nem para o laboratório.

Como era moda, em 1935 Assis organizou um conjunto vocal, Bando Carioca, nos moldes do Bando da Lua. O conjunto durou até 1939, quando se desfez, sem nunca ter gravado. Em 1938, empolgado com o sucesso do samba Camisa Listada, criou o grupo carnavalesco Camisas Listadas, com o qual passou a desfilar pela cidade. No consultório, era um entra-e-sai de artistas. Aguiar Dantas, irritado, chegou a oferecer ao (ainda) sócio que fosse aos Estados Unidos fazer um curso de prótese, mas diante da recusa, Aguiar renunciou à sociedade. Ofendido, Assis procurou uma sala no mesmo prédio em que trabalhava e continuou esporadicamente exercendo sua atividade como protético. Com a ida de sua intérprete predileta, Carmen Miranda, para os Estados Unidos em 1939, a carreira de Assis começou a declinar. Em dezembro desse mesmo ano o compositor casou-se com Nadyle da Silva Santos, sem que a imprensa ou seus amigos da época ficassem sabendo. Passou a dedicar-se inteiramente à sua atividade como protético e ao casamento, fugia do samba e dos lugares que antes freqüentava. Mas o casamento durou só até o nascimento de sua filha Nara Nadyle dos Santos, em 31 de janeiro de 1941. Angustiado, em 13 de maio de 1941 tentou o suicídio, atirando-se do corcovado. Milagrosamente, Assis ficou preso numa árvore, 70 metros abaixo. Foi retirado por um bombeiro e completamente transtornado declarava apenas: "tenho uma mulher e uma filha que não me têm". Fraturou duas costelas e teve contusões e escoriações generalizadas. Os jornais do dia seguinte, especulando o motivo de tal gesto tresloucado, publicaram que provavelmente o compositor estava passando por dificuldades financeiras, além de estar separando-se de sua esposa e de sentir-se desamparado no meio musical.

Mal resolvido sexualmente, Assis parecia não se aceitar. Tentou o suicídio por mais três vezes, tentando se jogar de uma janela, cortando os pulsos e tomando guaraná com formicida, numa praça pública, sua última e bem-sucedida tentativa.

Além de ter sido um dos criadores do gênero natalino no Brasil, Assis foi também um dos primeiros a compor músicas para as festas juninas. Sua obra, entre marchas e sambas, compreende mais de 150 composições.

1. GOMES, Dulcinéia Nunes & SILVA, Francisco Duarte. A jovialidade trágica de José de Assis Valente. Martins Fontes/Funarte. Rio de Janeiro, 1988, p. 28.


Principais sucessos:

Alegria, Assis Valente e Durval Maia, 1937

Boas festas, Assis Valente, 1932

Boneca de pano, Assis Valente, 1950

Brasil pandeiro, Assis Valente, 1940

Cai, cai balão, Assis Valente, 1933

Camisa listada, Assis Valente, 1937

É do barulho, Assis Valente e Zequinha Reis, 1935

E o mundo não se acabou, Assis Valente, 1938

Fez bobagem, Assis Valente, 1941

Good-bye, boy, Assis Valente, 1932

Gosto mais do outro lado, Assis Valente, 1934

Mangueira, Assis Valente e Zequinha Reis, 1935

Maria Boa, Assis Valente, 1935

Minha embaixada chegou, Assis Valente, 1934

O dinheiro que ganho, Assis Valente, 1951

Que é que Maria tem?, Assis Valente, 1936
Recenseamento, Assis Valente, 1940

Tem francesa no morro, Assis Valente, 1932

Uva de caminhão, Assis Valente, 1939

Oscar Strauss




Oscar Straus, 1902Oscar Nathan Straus (Viena, 6 de março de 1870 – Bad Ischl, 11 de janeiro de 1954) foi um compositor austríaco de operetas, e música para filmes.

Escreveu cerca de quinhentas canções de cabaré, música de câmara, coro e orquestra. Seu nome original era realmente Strauss, mas também para fins profissionais, ele deliberadamente omitia o final 's', para não associar-se com a família Strauss. Estudou música em Berlim com Max Bruch, voltou para Viena, e começou a escrever operettas, tornando-se um sério concorrente ao Franz Lehár. Em 1939, na sequência do Anschluss nazista, fugiu para Paris e, em seguida para Hollywood. Depois da guerra, voltou para a Europa, em Bad Ischl, Áustria onde morreu.

Suas obras mais conhecidas são: Ein Walzertraum (uma valsa Sonho), e O Soldado Chocolate (Der tapfere Soldat). A valsa do antigo regime é provavelmente o seu trabalho orquestral mais duradouro.

Michelangelo





Michelangelo foi escultor, arquiteto e poeta italiano. Nasceu em Caprese, Itália, em 6 de março de 1475 e morreu em Roma, em 18 de fevereiro de 1564.

Em 1488, entra para a academia do pintor Ghirlandaio, em Florença. Gênio criador, mestre de sua geração e um talento de renome universal, é considerado o mais ilustre representante do movimento Renascença Italiana. Fez os
afrescos da Capela Sistina. Seu trabalho mais famoso em escultura é "David" - a partir dai é chamado para decorar juntamente com Leonardo da Vinci, a sala do Grande Conselho, em Florença.

Santo do dia


6/Março
Santa Rosa de Viterbo, Virgem

Morreu com apenas 18 anos. Sua vida é repleta de episódios maravilhosos. Com apenas 12 anos já exortava a população de Viterbo a fazer penitência e a se manter fiel à Igreja, sem dar ouvidos às heresias que se difundiam na época. Seu corpo foi preservado da corrupção após a morte, e conservou-se perfeitamente intacto até mesmo depois de um incêndio que consumiu a madeira do próprio caixão.

O Encontro do Cariricaturas

O Encontro foi abrangente !
Reuniu escritores e colaboradores , recepcionou o amigo José do Vale Feitosa, e comemorou o aniversário de Roberto Jamacaru.
Tudo de bom, no jardim belíssimo de Fanca e Roberto.
Emerson dirigiu a reunião, nos inteirando do processo de edição do livro "Cariricaturas em verso e prosa".
Ouvimos os pronunciamentos de Salatiel Alencar, Carlos Rafael, José do Vale Feitosa, Olival Honor ...
A noite foi regada com muita alegria, a música de Hugo, o canto de Francisco Peixoto, Salatiel, sem esquecer a participação especial de João Nicodemos e sua rabeca.
Marcante e simpática a presença de Tereza Feitosa ( esposa de José do Vale), enfim integrada à nossa tribo, pelas afinidades verdadeiras : amor às artes !
Faltou muita gente querida, ( Claude, Zé Flávio, Edilma, Armando, Lupeu, Leonel, Zélia, Edmar, Corujinha, Vera, Rosa,Kaika,Dedê, Ana Cecília, Zé Nilton,Elmano, Joaquim, Maria Amélia, Carlos, Magali, Stela, Assis, Rejane,Marcos Barreto, Heládio, Domingos ...) mas foram ausências justificadas !
Estiveram presentes : Pachelly e Socorrinha, Zé do Vale, Ricardo, Tereza, Libório, Nicodemos, Rogério Silva, Liduína, Roberto e Fanca ( anfitriões) , Ceci Lacerda, Socorro e Victor, Emerson Monteiro, Hermógenes e Gorete, João Marni, Fátima Esmeraldo, Rosineide , Carlos Rafael e Francinilda, Salatiel e Ana, Hugo Linard e Peixoto, Olival Honor e Márcia, Dimas , Abidoral Jamacaru, Dihelson e Ninha além dos amigos e parentes mais chegados de Roberto Jamacaru, sem esquecer Ricardo (irmão de Zé do Vale) e Libório (filho dos Inhamuns) que também estiveram presentes no abraço de Parabéns !
Foi tudo perfeito. Só alegria !
Uma noite, e tanto, que precisa ser rememorada ,num novo e próximo encontro !
Uma questão interessante : a ecumenia dos blogues do Cariri. Diferenças , que se traduzem em complementariedade, sinergia !

Eita povo lindo, o povo dessa nossa tribo...Somos felizes nessa irmandade !

*Claude, você foi requisitada em pensamentos e falas, o tempo todo !

Pensamento para o Dia 06/03/2010



“Veda é o nome para uma compilação de Conhecimentos Divinos. Eles ensinam a verdade que não pode ser revista ou revertida pela passagem do tempo através de três períodos – passado, presente e futuro. Os Vedas são uma coleção de palavras que são essa verdade, que foram visualizadas pelos sábios que tinham alcançado a capacidade de recebê-los em sua consciência iluminada. Os Vedas são, realmente, o sopro de Deus. A importância única dos Vedas reside nesse fato: os Vedas conferem paz e segurança a toda sociedade. Eles garantem o bem comum e felicidade ao mundo inteiro.”
Sathya Sai Baba

Leituras - Emerson Monteiro

Houve um tempo quando coisas inesperadas complicavam o meio do campo da impaciência angustiosa que instinto selvagem parecia querer jogar fora a canga e destruir de qualquer jeito os quebra-mares estabelecidos nos sistemas de defesa. Comodidades vaidosas atiravam tudo para o ar, e acendia dentro de mim fome cruel de romper o ferro dos laços da organização pessoal, no sabor dos caprichos que aparecessem à porta principal. Com isso, contrariava fácil o ditame das regularidades, invadia outras praias, feria suscetibilidades, a começar pela saúde interna do respeito aos prospectos guardados meses a fio, na malha do esforço consistente.
Não queria aceitar que mesmo no calor dos testes necessários habitasse o mistério do drama secular das permanências e conquistas cotidianas. Perdia, a bem dizer, o senso do tanto das melhores partes, porque desistia de pagar o preço de acumular a poupança da paz, naqueles momentos de chegar aos limites e merecer resultados produtivos, lições que a vida traz aos seres sobreviventes, livres da discriminação de raça, credo, cor, sexo, idade, partido, time, filosofia, indo, nesse prumo, justificar lá adiante o querer sem a comprovação da resistência, azeite doce da hora de receber o que se ganha com esmero e qualidade.
Já hoje, talvez isso o que denominam experiência, descubro faceiro que inexiste vitória sem a luta correspondente. Noites insones, dúvidas, opiniões, renúncia. Bajulação perde a força no que tange ao valor real das sementes verdadeiras. Ninguém, de insana consciência, que aguarde pacote pronto dos reservos do destino, usufrui da mera credulidade indecorosa, insuficiente, que alimentou. Pode até, nas horas vagas, parece que ganhou qualquer lance, porém o custo da incúria corre solto atrás dos presságios alvissareiros da inércia.
Apresentou-se o desafio, logo em seguida, fruto daquela árvore imensa, cresce, no lodo e no tempo, as perguntas da justiça do merecimento. A cada um conforme seu mérito, porquanto a Natureza trabalha à base de leis matemáticas, soberanas, longe de peixadas sociais dos mundos tortos.
Quase uma mensagem cifrada indica: ou plantou ontem ou haverá de plantar agora, caso pretenda dispor de resultados sonhados para o futuro. Há normas equitativas, independente de que funcione ao passo da individualidade pretensiosa, luxenta, da própria barriga.
Depois de muito forcejar as barras da inconsequência, nenhum vento leve conduz aos segredos universais só por conta dos belos olhos.
Há batalhas pela frente antes da vitória. Luzes das doutrinas humanas caem aos primeiros acordes do dia, residência fiel da balança que estabelece princípios firmes.
O acaso de dados ao vento passa longe do Santo Graal, no passo dos peregrinos. E suportar espinhos permite a maciez da rosa mais perfeita.

Fotografias... Pachelly Jamacaru