Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

ENVIE SUA FOTO E COLABORE COM O CARIRICATURAS



... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

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.....................
claude_bloc@hotmail.com

segunda-feira, 19 de abril de 2010

a brisa do basculante aberto

Acordar ausente de si.
Dormir fermentando sonhos.

O amor atemporal
sobre calçadas sujas
ainda remelentas da noitada.

Da loucura das mãos senhoras dos dedos
adentrando em territórios úmidos.

E era amor com todos os sentidos.
Atenta prontidão.
Exasperados uivos.

Quem disse que o amor
precisa ser manso.

Em um cantinho da sala
junto às plantinhas
e aos anjinhos
de porcelana.

O amor na verdade
eufórico.

Tapar os olhos.

Empurrar a vítima
ao inferno da memória.

Em chamas.

O amor é tudo o que dizem
aqueles que nunca amaram.

Na loucura deles
reina a fantasia.

Própria do amor.

Mas é na carne dos que amam
que o amor se exubera.

Se faz justo
e palpável.

Das quimeras
da moça à janela
mais toda a volúpia
dos beijos na escada

brilha então o amor
com a pompa necessária
do engano e do suicídio.

E não me venham suplicar
juízo diante da taça de vinho.

Os danados do coração
já aperfeiçoam o laço
no altar e na guilhotina.

Porque quem ama
deseja vinho
como pede morte
no cadafalso.

Juntas as almas.
Próximos os corpos.

Até que o milagre floresça
bem mais que os sonhos

e cada qual não se veja
perca de vez e para sempre
a total compreensão do outro.

ARTE, MÍDIA E ESPIRITUALIDADE: O NOVO PARADIGMA ESPIRITUAL (CHICO XAVIER)


Bernardo Melgaço da Silva
De tempo em tempo um novo paradigma surge para substituir, complementar ou transcender um outro fenômeno coletivo indutor, condutor e orientador. Na maioria das vezes os paradigmas estão superpostos ao longo do tempo, semelhante as fases de energia no campo do eletromagnetismo. De um modo geral, uma das fases (paradigma) se sobressai e domina um grupo, nação ou contexto histórico mais amplo. As outras fases continuam no ritmo natural de suas naturezas vibratórias.

A arte sempre esteve presente nas formas de representação da realidade ou na construção ou formatação do imaginário na base dos paradigmas. A música, o teatro, o artesanato, a pintura e outras formas de manifestação foram utilizadas e aperfeiçoadas pela humanidade. Assim, o homem evolui num processo criativo de aperfeiçoamento de seus instrumentos de representação bem como incorpora novas percepções decorrentes dessas experiências e descobertas. Nesse sentido, a identidade humana se entrelaça e se confunde com os instrumentos e objetos psíquicos, biológicos e metafísicos intrínsecos à realidade vivida. A força da criação está no poder de elevar a compreensão do homem: do ser fazendo e fazer sendo.

Nesse contexto, nos defrontamos com um paradoxo histórico. Pois, todo homem é ser antes de fazer, mas também é antes de tudo criador fazendo-se a si mesmo nas diversas circunstâncias em que as leis da natureza chama-o para um novo salto da consciência: autotranscendência. Ele é tanto a escultura quanto o próprio escultor de si mesmo! As expressões latinas EDUCARE e EDUCERE (educar de dentro para fora e educar de fora para dentro), nos faz compreender muito bem o duplo movimento da educação.

Assim sendo, fazemos e somos a realidade que desejamos e vivemos. Não há como fugir dessa verdade! Recentemente o cinema lançou um filme que já virou sucesso de bilheteria. O filme Chico Xavier! A arte se prestando a mostrar a realidade vivida por um homem comum numa cidadezinha do interior de Minas Gerais. Chico é um exemplo marcante da vontade humana que em sua humilde e pobre condição sócio-econômica mostrou para milhões que vale a pena aprender fazendo e fazer criando - e descobrindo! - a verdade mais profunda e universal de todos os tempos: a disciplina interior!

O caráter é, portanto, a alma esculpida com disciplina. Foi o que nos mostrou Chico Xavier. Chico não era apenas um médium dotado de uma capacidade rara de percepção do invisível. Ele é uma referência brasileira de caráter, integridade, honestidade, caridade, bondade e amor. Chico era um artista da alma humana. Ele esculpiu, pintou, representou e ensinou a ciência ou arte do ser-fazer-ser. No mundo caótico e escuro em que vivemos, ele se mostra com humildade como luz e exemplo de valores notáveis a serem seguidos. Por isso mesmo, o seu esforço e disciplina impecável coloca-o no topo dos grandes mestres da humanidade, ao lado de Gandhi, Madre Teresa de Calcutá, São Francisco de Assis, Irmã Dulce etc.

O filme mostra um Chico humano com uma imensa espiritualidade-humanidade. O Chico-mito ou Chico-santo ele mesmo não desejava para si (segundo seus amigos mais próximos). Ele era simples, alegre, amigo, caridoso, hospitaleiro e consciente de suas fraquezas e deficiências humanas. O cinema religioso-espiritual brasileiro está de parabéns com esse lançamento. O próximo lançamento parece prometer sucesso também: o filme NOSSO LAR (baseado no livro psicografado por Chico Xavier). E para concluir vou citar uma frase de um pensador do século passado: “o próximo século será espiritual, ou, então, não será!”.

Bernardo Melgaço da Silva

Estrela - por Ana Cecília S.bastos




Estrela devora planeta,
exuberante.
Já a minha poesia, surge clandestina.
Habitua-se ao gemido,
soluço entrecortado,
grito quase estancado,

em suspenso.
[Notícia completa em http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u698907.shtml]
por Ana Cecília

Faltam 11 dias, Show MUSI(CA)MINHOS de Pachelly Jamacaru

Contagem regressiva, será dia: 30 Abril no Centro Cultural BNB em Juazeiro do Norte,às 19.15h. Participaçãoes Especiais: Abidoral Jamacaru, Luis Carlos Salatiel, João do Crato, Dihelson Mendonça, Nivando Ulisses, acompanhados por: Aminadaber, Danilo, Isaias do(Trio Cariri) e o Mestre Jairo Starqey Convidamos a todos, marquem presenças!

Trabalhadores do Brasil ! - por Norma Hauer

Hoje seria aniversário de Getúlio Vargas e os "puxa-sacos" de sua época, estariam "rendendo-lhe" homenagens como "Chefe da Nação".

Mas tudo isso ficou para trás, porém será recordado enquanto existirem contemporâneos vivos que ainda guardam na memória aqueles tempos.

A grande maioria hoje só o conhece como um vulto histórico que governou o Brasil.

Talvez nem saiba como. "Viver" uma época é uma coisa, conhecê--la através de compêndios é outra.

Aproveito para colocar aqui a letra de um samba composto por Assis Valente em 1932, quando, em São Paulo fez-se uma "revolução constitucionalista" exigindo de Getúlio (então "presidente provisório") uma nova Constituição.

Em 1934 foi promulgada a primeira Constituição da República, mas a que Getúlio queria mesmo foi a criada, por ele e seus "bajuladores" em 1937.

Mas vamos à letra de

PARA ONDE IRÁ O BRASIL?"
Samba de Assis Valente, que foi a segunda gravação de Carlos Galhardo.
Ne época ambos estavam iniciando a carreira, que quase foi "cortada" pelos "inteligentes" censores de então, ao deterem Assis Valente para que explicasse o que queria dizer com aquela pergunta:

PARA ONDE IRÁ O BRASIL?

Brasil,
O rei Momo desta vez é quem manda perguntar
Onde estão as fantasias, de ouro e pedraria
que fizeram p'ra te dar?

Tomaram teu chapéu de couro
E te deram capacete
Te fizeram guerrear...
Brasil!Brasil! onde é que vais parar?

Já que não te deram nada
que te possa dar vantagem
Trouxe um samba de mascote,
Que nasceu da malandragem.
Dar-te-ei meu violão
Que é de todos invejado,oi,
P'ra cantares , meu Brasil amado
O teu feliz passado.
(ih, que bom")

Não sei qual o objetivo de Assis Valente para perguntar "para onde irá o Brasil"? em 1932, mas hoje ele não veio para muito melhor, embora os tempos sejam, de fato outros. Mas o mundo de Getúlio ainda tem vez na Venezuela, com Hugo Chavez.

Esse Getúlio de 32 já dava uma amostra do que seria a censura depois de 1937.

E em cada 19 de abril...era a vez dos puxa-sacos de plantão.

Norma

Cariri Cangaço - Por Manoel Severo

Recebi por e-mail esta mensagem e creio ser do interesse de todos, sobretudo de nós, caririenses.
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Tenho a ousadia de enviar esta mensagem para apresentar um evento que coordenamos na região; tem um cunho histórico, científico, cultural, turístico e de integração, que é o Cariri Cangaço; que nasceu com o sentimento de trazer para o cariri, um grande fórum de debates e aprofundamento sobre temas nordestinos; dessa forma a convido para conhecer o Cariri Cangaço.
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Manoel Severo - Curador e Coordenador Geral do Cariri Cangaço.
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CONHEÇA O CARIRI CANGAÇO:

Cariri Cangaço - Coronéis, Beatos e Cangaceiros, evento de cunho turístico-cultural e científico; em sua edição 2010, acontecerá na Região do Cariri, sul do estado do Ceará, tendo como cidades anfitriãs: Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha, Missão Velha, Aurora e Porteiras. Reunirá a partir de uma programação plural, dinâmica e universal, personalidades locais, regionais e nacionais; do universo da pesquisa e estudo das temáticas ligadas ao Cangaço, Tradições e Histórias do Nordeste. Até o presente momento temos a confirmação de 86 personalidades, entre: pesquisadores, escritores, professores de várias áreas, artistas, cineastas, documentaristas, fotografos, jornalistas, enfim.
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O Evento em sua segunda edição terá um conjunto de 16 conferências, seguidas de debates, abordando temáticas ligadas à historiografia nordestina (sub temas: Coronéis, Beatos e Cangaceiros); distribuídas durante o período de realização do mesmo; 6 dias ; nos 6 municípios anfitriões. Os conferencistas são pesquisadores, estudiosos, escritores e professores, de renome nacional.
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A partir da Universidade Regional do Cariri – URCA; parceira do evento; o Cariri Cangaço - Coronéis, Beatos e Cangaceiros, estará promovendo também um grande Painel de apresentação de Trabalhos Acadêmicos, de participantes de todo o Brasil, sobre a temática do encontro.

Será apresentada a II Mostra Cariri Cangaço de Cinema, Vídeo e Documentários, possibilitando aos participantes uma maior interação com a temática a partir dos trabalhos apresentados.
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Teremos a II Latada do Livro Cariri Cangaço, onde os participantes terão a oportunidade de entrar em contato com as principais obras literárias sobre a temática.
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Teremos o II Grande Salão Cariri Cangaço, onde serão lançadas 8 novas obras literárias sobre a temática; de autores de todo o Nordeste e também São Paulo.
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Teremos distribuídas nos seis dias de evento, 17 Apresentações Artísticas, com as mais significativas manifestações culturais e folclóricas de toda região do Cariri, das áreas das Artes Cênicas, Música e Cultura Popular.
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Em sua primeira edição, o Cariri Cangaço-2009, reuniu 79 personalidades do universo da pesquisa e estudo das temáticas ligadas ao nordeste e ao cangaço; recebemos no cariri cearense 197 participantes de 12 estados da federação; Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Distrito Federal; além dos mais 1.500 participantes dos municípios promotores. Durante seis dias no ano de 2009; entre 22 e 27 de setembro, foram realizadas 19 Conferências, seguidas de debates, 21 Visitas Técnicas e 23 Apresentações Artísticas. Foram inauguradas a I Mostra de Cinema e Vídeo Cariri Cangaço, como também foi lançada a I Latada do Livro Cariri Cangaço, tivemos ainda o lançamento de 6 novos livros de escritores dos estados de Pernambuco, Ceará, Distrito Federal e Minas Gerais.
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O Cariri Cangaço é uma promoção da Cariri do Brasil ,uma realização das prefeituras municipais de Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha e Missão Velha, URCA/PROEX e ainda o apoio da SBEC, do ICC, do Centro Pró Memória, do ICVC, da Fundação Memorial Padre Cícero, da Associação de Cordelista de Crato, do Ponto de Cultura Lira Nordestina, do SEBRAE, do SESC e do Centro Cultural Banco do Nordeste, dentre outros.
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cariricangaco.blogspot.com
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Manoel Severo - Curador e Coordenador do Cariri Cangaço

Por Stela Siebra Brito


Socorro, querida amiga:

Tens pensado em tua mãe...e como ela buscado um caminho de harmonia e entendimento da vida, das pequenas e grandes aprendizagens. E te pertuntas: como começar tudo de novo?, como nos cruzaremos? De onde viemos? É tudo tão simples e tão misterioso, mas creio que no final do teu poema encontraste a fórmula certa, deixando que o amor se encarregasse de tudo. Nesse caso vejo o amor como entrega e contemplação, numa atitude mais netuniana, recorrendo aqui aos ensinamentos da astrologia.

Pos é amiga, penso que teu avental também conhece a cor e o cheiro do ovo;tua oração também alcança o ouvido divino;pois que teu céu é boêmio sim, mas é também sagrado, já que as coisas da terra se misturam com as do céu, o profano abraça o sagrado. É essa nossa busca, é isso que alimenta nossa alma: buscar beleza e grandeza nas infinitas coisas pequenas do nosso mundo. A centelha divina está em tudo e em todos.

18 de abril de 2010 09:01

A Semana que Passou - por José do Vale Pinheiro Feitosa

Qual o resumo dos eventos internacionais da semana passada?

No início da semana

O Presidente dos EUA, antes fazendo alguns acertos com a Rússia, a segunda maior potência nuclear, convocou uma reunião com alguns países importantes do mundo. Para dizer o quê?

Qual seria a sua política nuclear e as repercussões dela em todo o mundo. E qual a do Irã nisso?

Nada, não tem coisa alguma, é apenas o sparring do big boxer do mundo. Dizendo para todo mundo que o Império ainda não caiu e que cada presidente, a seu bel prazer, decide como usar a Bomba sobre os outros. Antes o método Bush de agir, agora o de Obama.

Do meio para o fim

Quatro países com grandes extensões territoriais e grandes populações (o Canadá é apenas um Dândi que faz chá de caridade) se reuniram no Brasil e procuraram definir um plano de ação conjunta. Não caíram no jogo do Big Boxer de falar em armamento, simplesmente demonstraram que não usarão o Irã como sparring e partiram para coisas “piores” que a bomba.

Por exemplo: excluir os dólares das suas transações correntes; criar mecanismos de financiamento de suas trocas comerciais, ajudas estratégicas em vários setores de desenvolvimento.

Realmente a chamada crise está mudando o cenário mundial! Vejamos o que acontecerá nos próximos anos, tanto no calor do cotidiano pleno de reviravoltas, quanto no arco maior das grandes mudanças. Aliás, além de monitorar as reviravoltas, o mais importante é a grande mudança.

E o vulcão da Islândia?

Como tudo que é humano, está sujeito a saber-se onde o evento mais encolhe o sapato já apertado do sujeito com calos. Por exemplo, todo mundo enxerga o caos aéreo (isso é uma invenção da mídia brasileira em luta pela privatização da INFRAERO). Muitos aeroportos europeus amanheceram parados por conta da nuvem de poeira de um vulcão na Islândia. Então é isso o que significa o vulcão, para os viajantes, aviões no pátio e a impossibilidade de ir para determinado lugar. De outra forma já se sabe o que acontece: não saem do lugar. De castigo, ali mesmo.

Mas tem o pessoal do meio ambiente. O gelo da Islândia diminuiu, o solo ficou mais leve e os vulcões estão vomitando o magma da terra. Que dizer não irrompia antes, pois estava arrolhado pelo gelo.

Esta é a verdadeira e principal demonstração da dialética Hegeliano: o gelo e o fogo. O pessoal só não deve criar medo onde o horror já existe, o efeito é outro. Como a propaganda contra as drogas, apenas amedrontando onde existe tanto “barato”, como diria Geraldo Vandré: pelos campos há delírios, em tantos tormentos.

BISAFLOR CHEGOU PRA LER UMA HISTÓRIA

Bisaflor foi convidada para um encontro com professoras de uma escola municipal. Pensando em estimular a leitura de histórias em sala de aula, ela levou seu Baú de Histórias e espalhou o conteúdo na sala. Foi uma festa! No baú estava a primeira edição do Sítio do Pica-pau amarelo e mais outras relíquias.
No final do encontro, Bisaflor fez a leitura do livro

"GALILEU LEU"
Texto de Lia Zatz (Editora Lê, 1992)

Era uma vez um menino que lia.
Mas a professora dizia:
- ERRADO! REPETE!
E o menino sorria. Riso amarelo. E repetia.
Mas era só acabar e lá vinha nova gritaria:
- ERRADO! REPETE!
QUE AGONIA!
E o menino, agora, já não sorria. Nem lia. Inibia.
Tentava, forçava, se debatia,
mas na hora do vamos ver, insistia:
- IVO VÊ A LUVA.
- ERRADO, SEU TONTO! É “I-VO-VÊ-A-U-VA”.
Aí sim é que a estória começava.
Enquanto a professora corrigia, soletrava, dividia, o menino sonhava. Que um dia ia ser goleiro e que no próximo aniversário ia juntar trocado por trocado, o que ganhasse do pai e da mãe, do avô e da bisavó, da tia Maricota e da prima-avó Carlota. Tudo, tudo num saquinho, ia correndo na esquina, na loja do Bola Bolão.
Ficava na ponta do pé, que não alcançava o balcão, e agora ordenava, não mais mendigava, que lhe desse aquela luva, aquela mesma, pendurada no aramado.
Luva profissional.
“Agora vou ser o tal. Chega de dedo quebrado!”
- LÊ MENINO!
E o menino acordava, assustado, e era obrigado a ler o que a professora queria, mas... qual o quê! Só conseguia ver aquilo que sentia.
- ERRADO, MENINO!
REPETE!
O menino estremecia, endurecia e balbuciava:
- A CASA DA BIA É UM LIXO.
E a professora berrava:
- ERRADO! ERRADO! ERRADO!
É “A CASA DE BIA É UM LUXO”.
Mas o menino nem ouvia, divagava. Aquela Bia exibidinha que sentava bem ao seu lado e esfregava na sua cara o reloginho que trocava pulseirinhas, a canetinha cheirosinha e milhões de outras riquezinhas, só podia ser uma fedidinha.
- LÊ, MENINO!
E o menino pulava, se sacudia, acordava e lia:
- A PROFESSORA É BOBA.
- ERRADO! ERRADO! MENINO MAIS DESASTRADO!
É “A PROFESSORA É BOA”.
A classe inteira ria, gargalhava.
A professora quase desmaiava, ameaçava.
O menino, chora não chora, chorava.
E era obrigado a escrever pra aprender, pra não esquecer, 365 vezes
“A PROFESSORA É BOA.
O menino sentiu cansaço. A professora...
Sorte que chegaram as férias: tempo pra brincar, descansar e... pensar.
“Mas pó que sempre eu?”, pensou o menino, quando voltaram as aulas e a professora logo o escolheu.
- Lê, Galileu.
O menino estremeceu, mas nem tanto. Endureceu, mas nem tanto. E leu:
- Teco latiu, pulou e morreu.
O menino encarou. A professora sustentou e com olhar doce perguntou:
- Do que o Teco morreu?
O menino não entendeu. Será que tinha escutado? Será que podia respirar aliviado? E desatou a contar que seu cachorro Teco era levado, mal acostumado, mais do que amado, supercomilão, um cachorrão, muito brincalhão, um amigão...
Um dia saiu apressado, não ouviu o chamado...morreu atropelado.
O menino contou e chorou. Chorou e desafogou.
Foi um tal de ouvir estória de peixe morrido daqui e gato matado dali que, num instante, a classe toda soluçava...
E acalmava.
A professora olhava o menino.
O menino olhou a professora e agora, desestremecido, desendurecido, releu:
- Tico latiu, pulou e mordeu.
A professora aplaudiu, rodopiou e falou:
- Valeu! Sabe, gente, nessas férias andei lendo e relendo a Emília – Eta boneca danada!
Quem aqui conhece a Emília? Quem gosta de estória de fada?
Ninguém respondeu. A classe emudeceu. Era um olhando no olho do outro assim, assim, sem saber se tinha que dizer não ou sim.
Passou um minuto, ou três e a professora começou a tirar de uma sacola xadrez, de cada em cada, um monte de livro de estória, de bruxa e fada
e rei e rainha
e sereia e menininha
e futebol e bonequinha
e gigante e anão
e vampiro e dragão.
Quem quer que eu conte a estória do menino-goleiro-campeão?

Adivinhem quem primeiro levantou a mão?

Luis Melodia - Com Muito Amor e Carinho

19 de Abril - Dia do Índio


"Um provérbio indígena questiona se somente quando for cortada a última árvore, pescado o último peixe, poluído o último rio, é que as pessoas vão perceber que não podem comer dinheiro."
UMA HOMENAGEM A TODOS OS ÍNDIOS DO BRASIL

Somos filhos da terra cor de urucum.
Dos sons do igarapé e da força do jatobá.
Das águas do Araguaia, do Tapajós, do Iguaçu.
Somos filhos do sol de Kuaray, da lua de Jaci.
E da chuva que semeia o guaraná, a pitanga e o aipim.
Somos filhos dos mitos.
Do uirapuru e seu canto, do vento e do pranto.
Guerreiros, fortes, sábios.
Somos Ianomânis, Guaranis, Xavantes, Caiabis.
E o que somos nunca deixaremos de ser.
Autora: Zeli Poa (Jornal Zero Hora)
JOGRAL DIA DO ÍNDIO

HABITANTES DO SOLO BRASILEIRO

Meninos: Ao explorarem a terra, cheia de coisas bonitas.
Meninas: Notaram que era habitada.
Todos: Por pessoas esquisitas!

Meninos: Andavam quase sem roupas. Uns com penas, uns com tangas...
Meninas: Com colares, com enfeites.
Todos: E caras sérias de zanga!

Meninos: Suas armas eram:
Meninas: O tacape, a flecha e o arco
Todos: E com o tronco das árvores, eles faziam o barco!

Meninos: Moravam em casas chamadas ocas.
Meninas: Que juntas formavam a taba.
Todos: Os homens caçavam e as mulheres faziam tapiocas!

Meninos: Adoravam a Lua Jaci.
Meninas: Eram bem supersticiosos.
Todos: Veneravam o Sol Guaraci.

Meninos: Seu chefe era o Cacique.
Meninas: E o Pajé seu curandeiro
Todos: Eram assim os habitantes deste solo brasileiro!
Autor: Não mencionado

O preço de ter duas línguas

O modo como os povos reagiram ao bilinguismo pode revelar curiosas formas de convivência entre as culturas

Aldo Bizzocchi


Um poliglota, alguém que sabe falar línguas, costuma ser alvo de admiração, pois, para muitos, dominar a própria língua já parece um desafio; dominar mais de uma, nem se fala!

No entanto, aprender um idioma é das tarefas que exigem menos Q.I. (quociente intelectual), tanto que todo mundo aprende a falar. O aprendizado de duas ou mais línguas é ainda mais fácil quando se dá na infância: uma criança que aprende dois idiomas terá ambos como maternos e, por consequência, será fluente em ambos.

Isso é mais comum em sociedades que falam mais de uma língua. Muitos países têm mais de uma língua oficial ou têm língua oficial que convive com línguas regionais e dialetos. Na Suíça e na Espanha há quatro oficiais, mais um sem-número de dialetos. A Índia é célebre pela profusão (mais de 400, das quais 23 oficiais).

Em todos esses casos, há uma situação de plurilinguismo, cujo tipo mais comum é o da sociedade que fala duas línguas. Nesse caso, trata-se de bilinguismo ou diglossia.

Alguns autores fazem distinção entre bilinguismo e diglossia, enquanto outros usam os termos como sinônimos. Para quem faz distinção, o bilinguismo é a convivência, numa comunidade, de duas línguas de igual status, ao passo que a diglossia pressupõe que uma tenha status superior ao da outra (um idioma oficial e um dialeto, por exemplo).

Em princípio, todo grupo humano tem sua própria língua. Mas contatos entre grupos desde cedo obrigaram um deles a aprender a língua do outro para que fosse possível a intercomunicação. Quando esse contato é permanente, como quando um povo ocupa um território já habitado por outro, um dos dois povos - às vezes, ambos - deve adotar a língua do outro, embora em geral não renuncie a falar a própria língua.

Distinção
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As línguas em convívio são chamadas de adstrato. Quando uma é suplantada pela outra em importância, chegando a desaparecer, torna-se língua de substrato. Nossos indígenas conviveram com o português no período colonial. Na época, o português e a língua geral eram adstratos, tendo cada um seu lugar de uso: os bandeirantes usavam a língua geral com os nativos e o português com os membros da Coroa. Quando, por obra do Marquês de Pombal, o português foi tornado idioma oficial do ensino, o dialeto indígena passou a ser substrato do português, deixando marcas em nossos léxico e pronúncia.

Mais tarde, a chegada ao país dos imigrantes europeus e asiáticos fez com que, nas regiões onde eles se estabeleceram, o português apresentasse influências fonéticas e lexicais dos imigrantes. A língua que chegou depois não suplantou a que existia, mas o contrário (os imigrantes é que adotaram o português). Como não falavam bem, natural que se exprimissem misturando ao português sons e palavras de sua língua. Hoje, mesmo quem não descende de imigrantes mas vive em regiões que receberam ondas de imigração, traz resquícios da língua dos colonos. Dizemos que os idiomas dos colonos formam um superstrato linguístico ao português do Brasil.

Mas a situação de bilinguismo pode perdurar séculos numa região. Muitos países bilíngues, como Bélgica e Canadá, não dão mostra de que tendam a abandonar uma das línguas em prol da outra. É que a própria identidade nacional deles se construiu sobre a base da identidade étnica e cultural dos povos que os formaram. Assim, manter viva a sua língua mesmo dominando a do outro alimenta um sentimento de pertencimento, familiaridade e orgulho. Nesses países, a população conhece as duas línguas, mas cada parcela tem só uma nativa - a outra é de intercomunicação. Muitos em que há poliglossia só têm língua oficial; as demais são dialetos, como o cantonês em relação ao mandarim, na China.

Na maioria dos casos, o idioma oficial é o da classe dominante (por exemplo, o colonizador europeu no caso dos países africanos); as línguas nativas, por terem seu uso restrito ao ambiente doméstico e às classes mais baixas da população, são estritamente orais, não produzindo literatura nem comunicação de massa (livros, jornais, rádio, TV, internet). Mas há línguas de cultura - como o occitano, no sul da França, que produziu importante literatura na Idade Média e ainda tem expressão escrita - que nem por isso são reconhecidas como oficiais em seus países.

Poliglotas
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Para o gramático Evanildo Bechara, temos de ser poliglotas na própria língua. Quis dizer que devemos dominar os vários registros linguísticos (formal, semiformal, informal, popular) para nos comunicar de maneira eficiente em cada lugar e situação. Há uma "língua" portuguesa mais adequada para proferir um discurso, bater papo, e assim por diante. Assim, dominar o português é conhecer as "línguas" da língua e saber usá-las com propriedade, na hora e com a pessoa certa.

Apesar disso, todas essas "línguas" existentes no português (os registros linguísticos, ou níveis de linguagem) nada mais são do que diferentes usos do próprio português. Mas, em muitos países, situações diferentes de comunicação exigem idiomas distintos. Na Índia, usa-se o inglês para tratar de temas formais e falar com autoridades, ao passo que as línguas nativas são reservadas a temas domésticos. No Paraguai, o espanhol é a língua das ruas e o guarani, do lar. O mesmo vale para o inglês e o gaélico na Irlanda.

Koiné
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Toda língua oficial é koiné, uma mistura de dialetos. Um (em geral, o da classe dominante) serve de base para a constituição do idioma, mas os outros contribuem principalmente com palavras e expressões. Essa é uma das causas da irregularidade fonética de alguns vocábulos.

O português se constituiu como idioma oficial de Portugal e dos demais países lusófonos a partir do dialeto falado em Lisboa. Mas o dialeto foi enriquecido com palavras dos falares do norte e do sul de Portugal. Por isso, embora o grupo pl no início das palavras latinas tenha evoluído no português para ch (lat. plattu, planu > port. chato, chão), há palavras, como "prazer" (do latim placere), que apresentam pr no lugar de ch. É que provêm de outros dialetos ibéricos, nos quais a evolução fonética seguiu outros rumos.

Exemplo clássico de koiné é o alemão moderno, criado por Lutero no século 16 para a tradução da Bíblia. Tendo por base o dialeto bávaro, então já bastante difundido, Lutero adotou palavras de outras regiões da Alemanha para que todos entendessem o texto bíblico, não importa qual fosse o seu dialeto nativo.

Aldo Bizzocchi é doutor em linguística pela USP, autor de Léxico e Ideologia na Europa Ocidental (Annablume)