Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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sexta-feira, 27 de maio de 2011

PUPILAS DILATADAS - José do Vale Pinheiro Feitosa

Um colírio para dilatar as pupilas. E mesmo de olhar embaçado eram duas janelas que davam para a escuridão que existe dentro de mim. Como visão indistinguível, aquelas duas escotilhas das pupilas abertas diziam mais que objetos escondidos.

O interior que acumula as impressões do mundo e das pessoas pareceu-me não revelar as impressões que nele nascem. Um mundo, das pupilas observadas, tão sem separações de sólidos e, no entanto, carrega um sentido para todas as impressões que nele chegam.

É que naqueles dois pontos escuros, que ocuparam o espaço da íris castanho claro, havia um universo de milhões de minutos a girar fantasias, sonhos, pisadas no solo firme e braçadas nas águas do revolto mundo. No interior das pupilas não acontecia o espelho do mundo anterior, mas a película em milhares de quadros que junta uma narrativa contínua e guardada.

Nas clarabóias das pupilas dilatadas, tudo era turvo, como um impedimento a priori. Mas a observação demorada revela outra coisa: a efervescência na fronteira entre o interior e o exterior. Como um rio que entra no mar e turva suas águas. Ali acontecia o batear das ondas entre eu e o mundo.

O choque que transportava a turbidez do espaço observado era a morte simultânea do mundo e de mim como tela em branco. Naquela fronteira turva o mundo tem sentido e reescreve os achados retocáveis do tempo que o meu interior inventa. Ninguém é mais puramente um ser no limite de sua própria metafísica.

No entrechoque do mundo e do interior das pupilas dilatas o ser é reinterpretado de um modo tão completo que sofre uma fuga como numa sinfonia. Simultaneamente o mundo amplo e fundamental, ontológico, deixa de sê-lo para adquirir nuances do contributo do interior escuro das pupilas sobre os quais de pronto nada tinha a dizer e, no entanto, era tudo o que tinha para dizer.

Hello !


Defronte do Copacabana Palace, no Rio, no domingo dia vinte e dois de maio, uma multidão olhava para a janela da suíte presidencial, quase a quebrar o pescoço, esperando pelo aparecimento, por um mínimo instante que fosse, do seu ídolo. A turba formava-se por muitas gerações : bisavôs, avôs, filhos, netos. Uma senhora, passando pelo calçadão, arrastando seu poodle estranhou aquela atitude. “Um bando de gente desse, olhando para cima, como bestas, esperando o quê? Outro besta aparecer lá em cima?” Um rapazinho de uns vinte e poucos anos, fita-a seriamente e diz:

--- Minha , senhora! O que é isso? Respeite a religião dos outros! Se a senhora soubesse que Jesus estava hospedado aqui, não estaria ajoelhada neste calçamento? Pois ali em cima se encontra meu deus! Respeite a minha religião!

Pertinho, um outro rapazinho conversa com amigos e informa que não vai dar mais para esperar. Tem que ir para o Engenhão, render alguns amigos que estão na fila e precisam almoçar. E diz: “Estamos acampados lá desde quarta-feira, queremos ficar pertinho de Paul!”. À noite, no estádio, uma fila quilométrica aguardava a abertura dos portões. Pessoas de todas as idades estavam prontas a suportar mais de nove horas em pé, deslumbradas e anestesiadas com possibilidade de, após a maratona, estarem pertos, num show inesquecível, de São Paul McCartney de Liverpool. Avós, filhos, netos, das mais variadas regiões do país – umas quatro gerações --- ali estavam firmes e fortes. Alguns já tendo feito igual peregrinação nos shows anteriores de São Paulo, Porto Alegre e Buenos Aires. À nossa frente, uma senhora testemunha dos dourados anos sessenta, nos disse ter comprado ingressos para vir ao show daquele domingo e da segunda-feira. Passadas as longas seis horas aguardando o ídolo, uma platéia aparentemente estafada simplesmente ressuscitou quando Sir Paul apareceu no palco, com sua banda competentíssima e, sem muitas pirotecnias, sustentou um inesquecível Show de três horas. É que todos, totalmente reconfortados, assistiam à sua frente um show não de Paul mas do “The Beatles”.

Em pleno Império do Efêmero , pus-me a pensar: o que dá a uma obra tintas de eternidade? Ali estavam quatro gerações comigo, não de apreciadores da Banda, mas de Beatlomaníacos! Como aquilo era possível, se a primeira e mais primal atitude dos jovens é jogar no lixo tudo o que a geração anterior apreciou? Em plena era do Forró de Plástico, do Breganejo, do Axé Insosso, onde o sucesso dura no máximo alguns dias e as bandas nascem e morrem numa velocidade estonteante, como explicar a perenidade e a blindagem dos Beatles?

Queóps construiu sua pirâmide dois milênios e meio antes de Cristo.O faraó ergueu sua tumba gigantesca esperando ali ficar aguardando a ressurreição, ou seja moveu-o a busca da imortalidade. No fundo, toda obra de arte é uma nova pirâmide feita pelo artista, na quase sempre inglória tentativa de com ela driblar a morte e o esquecimento.A possibilidade quase que única de sobrevivermos de alguma maneira ao desaparecimento físico inexorável. A música que se faz hoje, quase sempre, na sua volatilidade, nada tem de ritualística e nem pode pretender ser arrolada como Arte. São casas de adobe, sem alicerce, para o pouso temporário e incerto de alguns. Feitas para o entretenimento daquele instante, daquele momento específico, rui como por encanto à primeira neblina. Sequer os bordões permanecem: “minha eguinha pocotó”, “minha mulher não deixa não”, “Ah, eu tô maluco!”

As tintas da eternidade são perseguidas por todos os artistas e, no fundo, é o moto-contínuo do seu fazer artístico. Mas não basta querer a permanência simplesmente. Nem mesmo a qualidade inequívoca da obra reconhecida hoje lhe dá, a certeza da permanência. Alexandre Dumas foi o mais reconhecido escritor da sua geração, assim como Anatole France e, nem por isso, a vivacidade das suas obras resistiram totalmente ao impacto do tempo. Balzac e Baudelaire, bem menos incensados enquanto viveram, criaram uma vitalidade impressionante com o passar dos anos. Além da qualidade temporal imprescindível da obra de arte, essa necessita de alguns outros atributos para as banharem de eternidade. Faz-se mister genialidade. O grande artista é sempre um visionário e consegue imprimir um profundo ar de atemporalidade naquilo que faz. Tantas e tantas vezes passa totalmente despercebido por seus contemporâneos, simplesmente porque pinta na tela do hoje utilizando as tintas do futuro.

Se a impermanência é o atributo mais palpável do reino animal, rescendeu um ar de eternidade , de divino quando Paul subiu ao palco do Engenhão no domingo. Como se todos estivessem diante da pirâmide e de lá saísse um Queóps redivivo dizendo Hello! e nunca, nunca mais, Good Bye!

J. Flávio Vieira

Devaneios - Aloísio

Devaneios

Momento que se vai
Dá o que pensar
Me leva aonde
Eu não vou chegar

Os meus devaneios
Correm como os rios
Que com seus meneios
Desembocam no mar


São sons percussivos
Que por vários motivos
Rasgam meu caminhar
E voltam a se encontrar


Aloísio

Vôo 447: os horripilantes minutos finais - José Nilton Mariano Saraiva

Senhores,
Por entendermos ser de interesse geral, tomamos a liberdade de transcrever, abaixo, ipsis litteris, o relatório (parcial) sobre a queda no Oceano Atlântico do avião que fazia a rota Rio de Janeiro-Paris, também conhecido por Vôo 447. Parem um pouco e imaginem o pavor experimentado pelas 228 pessoas a bordo, naqueles horripilantes minutos finais.

José Nilton Mariano Saraiva

Balanço da investigação sobre o acidente do vôo AF 447 ocorrido em 1º de junho de 2009 (www.bea.aero) - 27 maio 2011
PREFÁCIO ESPECIAL AO TEXTO PORTUGUÊS
Este texto foi traduzido e publicado pelo BEA a fim de facilitar a leitura pelos falantes brasileiros. Tão exata quanto a tradução possa ser, é o texto original em francês que deve ser considerado como o trabalho da referência.
Histórico do voo
No domingo, 31 de maio de 2009, o Airbus A330-203, matrícula F-GZCP, operado pela Air France foi programado para efetuar o voo regular AF447 entre o Rio de Janeiro Galeão e Paris Charles de Gaulle. Doze tripulantes (3 PNT, 9 PNC) e 216 passageiros estão a bordo. A partida está prevista para as 22 h 00(1). Às 22 h 10 a tripulação tem permissão para ligar os motores e deixar o pátio. A decolagem ocorreu às 22 h 29. O comandante de bordo é PNF, um dos copilotos é PF. O peso na decolagem é de 232,8 t (para um MTOW de 233 t), e inclui 70,4 toneladas de combustível. À 1 h 35 min e 15 s, a tripulação informou o controlador ATLÂNTICO que passou o ponto INTOL e anuncia a seguinte estimativa: SALPU às 1 h 48 e ORARO às 2 h 00. Ela também transmite o seu código SELCAL e um teste é realizado com sucesso. À 1 h 35 min 46 s, o controlador pediu que ele mantenha FL350 e informe sua estimativa para o ponto TASIL.
À 1 h 55, o comandante de bordo desperta o segundo copiloto e diz «[...] vá tomar o meu lugar». Entre 1 h 59 min 32 s e 2 h 01 min 46 s o comandante de bordo assiste ao briefing entre os dois copilotos, onde PF disse principalmente que «o pouco de turbulência que você acabou de ver [...] devemos encontrar outras mais à frente [...] estamos na camada, infelizmente não podemos subir muito mais agora porque a temperatura está diminuindo menos rapidamente do que o esperado» e que «o logon com Dakar falhou». O comandante de bordo deixou a cabine.
A aeronave se aproxima do ponto ORARO. Ela voa em nível de voo 350 e à velocidade Mach de 0,82; a atitude longitudinal é de cerca de 2,5 graus. O peso e o centro de gravidade do avião são de cerca de 205 toneladas e 29%. O piloto automático 2 e auto-impulsão são ativados. Às 2 h 06 min 04 s, o PF chamou os PNC e lhes disse que «em dois minutos devemos atacar uma área mais agitada do que agora e devemos tomar cuidado lá» e acrescenta «eu lhe ligo logo que sairmos de lá». (1)O tempo universal (TU) é a referência de tempo utilizado na aviação).
As 2 h 08 min 07 s o PNF propõe «você pode, possivelmente, levar um pouco para a esquerda [...]». A aeronave começou uma ligeira virada para a esquerda; o desvio em relação à rota inicialmente seguida é de cerca de 12 graus. O nível de turbulências aumenta ligeiramente e a tripulação decide reduzir o Mach para 0,8. A partir das 2 h 10 min 05 s o piloto automático e em seguida a auto-implusão são desativados e PF anuncia «eu tenho os comandos». A aeronave rolou para a direita e PF exerce uma ação à esquerda e de elevação do nariz. O alarme de perda dispara duas vezes. Os parâmetros registrados mostram uma queda brutal de cerca de 275 kt para 60 kt da velocidade mostrada do lado esquerdo e poucos momentos depois a velocidade mostrada no instrumento de resgate (ISIS). (Nota 1: apenas as velocidades mostradas no lado esquerdo e no ISIS foram registradas no registrador de parâmetros; a velocidade mostrada no lado direito não foi registrada. Nota 2: o piloto automático e a auto-impulsão permaneceram desligados até o final do voo).
As 2 h 10 min 16 s, o PNF disse «perdemos as velocidades» e em seguida «alternate law {...]». (Nota 1: a incidência é o ângulo entre o vento relativo e o eixo longitudinal da aeronave. Esta informação não foi apresentada aos pilotos. Nota 2: em regras alternative ou directe, as proteções em incidência não estão mais disponíveis, mas um alarme de perda (stall warning) é ativado quando o maior dos valores de incidência válidos excede um determinado limite).
A atitude da aeronave aumenta gradualmente para acima de 10 graus e leva a uma trajetória ascendente. PF exerce ações de pique e alternadamente da direita para a esquerda. A velocidade vertical, que tinha atingido 7.000 pés/min, diminuiu para 700 pés/min e a rolagem varia entre 12 graus à direita e 10 graus à esquerda. A velocidade mostrada à esquerda aumentou brutalmente para 215 kt (Mach de 0,68). A aeronave se encontra então a uma altitude de cerca de 37.500 pés e a incidência registrada é de cerca de 4 graus. A partir das 2 h 10 min 50 s, o PNF tentou por várias vezes chamar o comandante de bordo. Às 2 h 10 min 51 s o alarme de perda soa novamente. Os manches de controle de impulso são colocados na posição TO/GA e o PF mantém sua ordem de elevar o nariz. A incidência registrada, de cerca de 6 graus no disparo do alarme de perda, continua a aumentar. O estabilizador horizontal regulável (PHR) passa de 3 para 13 graus de levantar o nariz em 1 minuto aproximadamente; ele permanecerá nesta última posição até o fim do voo. Quinze segundos depois, a velocidade mostrada no ISIS aumenta abruptamente para 185 kt; ela é consistente com a outra velocidade registrada. PF continua a dar ordens de elevar o nariz. A altitude da aeronave atinge o seu máximo de cerca de 38.000 pés, sua atitude e sua incidência são de 16 graus (Nota: a inconsistência entre as velocidades indicadas no lado esquerdo e na ISIS durou pouco menos de um minuto).
Às 2 h 11 min 40 s o comandante de bordo retorna à cabine. Em poucos segundos, todas as velocidades registradas se tornam inválidas e o alarme de perda pará (Nota: quando as velocidades medidas são inferiores a 60 kt, os valores medidos das incidências são considerados inválidos e não são considerados pelos sistemas. Quando são inferiores a 30 kt, os valores de velocidade por si só são considerados inválidos).
A altitude está, então, em cerca de 35.000 pés, a incidência ultrapassa 40 graus e a velocidade vertical é de aproximadamente -10.000 pés/min. A atitude da aeronave não excede 15 graus e os N1 dos motores estão perto de 100%. A aeronave sofre oscilações de rolagem que atingem por vezes 40 graus. O PF exerce uma ação no manche no limite para a esquerda e de levantar o nariz, que dura cerca de 30 segundos. As 2 h 12 min 02 s, o PF disse «eu não tenho mais nenhuma indicação», e o FNP disse «não temos nenhuma indicação que seja válida». Neste ponto, os manches de comando de impulsão estão na posição IDLE, os N1 dos motores estão em 55%. Quinze segundos depois, o PF faz ações de pique. Nos instantes que se seguem, houve uma diminuição da incidência, as velocidades tornam-se novamente válidas e o alarme de perda é reativado. Às 2 h 13min 32 s, PF disse «vamos chegar ao nível cem». Cerca de quinze segundos depois, ações simultâneas dos dois pilotos nos mini-manches são registradas e PF diz «vamos lá, você tem os comandos» (A incidência, quando é válida, está sempre acima de 35 graus).
Os registros param às 2 h 14 min 28 s. Os últimos valores registrados são velocidade vertical de -10.912 pés/min, velocidade de solo de 107 kt, atitude de 16,2 graus de elevação do nariz, rolagem de 5,3 graus à esquerda e um rumo magnético de 270 graus.
Novos fatos estabelecidos:
Nesta fase do inquérito, além dos relatórios do BEA, de 2 de Julho e de 17 de Dezembro de 2009, os novos fatos a seguir foram estabelecidos: A composição da tripulação estava em conformidade com os procedimentos do operador; No momento do evento, a massa e o centro de gravidade estavam dentro dos limites operacionais; No momento do evento, os dois copilotos estavam na cabine e o comandante de bordo em repouso, este último voltou para a cabine cerca de 1 minuto 30 s após a retirada do piloto automático. Houve uma inconsistência entre a velocidade indicada no lado esquerdo e a indicada no instrumento de resgate (ISIS). Durou pouco menos de um minuto.
Após o desligamento do piloto automático:
a aeronave subiu para 38.000 pés; o alarme de perda soou e o avião entrou em perda; as ordens de PF foram principalmente de elevar o nariz; a descida durou 3 min 30 s, durante o qual a aeronave permaneceu em situação de perda. A incidência aumentou e se manteve acima de 35 graus; os motores estavam em funcionamento e sempre responderam aos comandos da tripulação. Os últimos valores registrados são atitude de 16,2 graus de elevação do nariz, rolagem de 5,3 graus na esquerda e velocidade vertical de -10.912 pés/min.

Bureau d’Enquêtes et d’Analyses pour la sécurité de l’aviation civile Zone Sud - Bâtiment 153 - 200 rue de Paris - Aéroport du Bourget - 93352 Le Bourget Cedex FRANCE
T. : +33 1 49 92 72 00 - F : +33 1 49 92 72 03 - www.bea.aero

Melhor idade? Tô fora, prefiro ser idoso! – Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Na última quarta feira, da semana que amanhã se encerra, tivemos, eu e Magali de realizar uma urgente viagem ao Crato, tudo dentro de um prazo inferior a 18 horas de ausência de nossa casa. Dado a urgência e não me ser possível um afastamento maior de minhas atividades, utilizamos o transporte aéreo, com passagens adquiridas no balcão do aeroporto e tarifa cheia. Somente nos desincumbimos da missão que teríamos quase às três horas da tarde, de modo que fomos obrigados a retornar via Recife, onde fizemos uma conexão para Fortaleza, aqui chegando às 19 horas.

Como embarcamos em três aeroportos diferentes, em todos três fomos convidados a ter prioridade no embarque sendo tratados como “pessoal da melhor idade.” Deu vontade de perguntar se “melhor idade” é sofrer reumatismos os mais diversos, tendinite, bursite, artrite, sinusite, labirintite, rinite, e muitos outros “ites,” além de catarata, hipertensão, diabetes, bico de papagaio, esporão de galo, joanete, osteoporose, e o que é pior: a perspectiva de que a partida definitiva está cada vez mais próxima.

Pois é distintas aeromoças, “melhor idade” é a das crianças, adolescentes e a de todos aqueles com menos de trinta anos. Por favor, deixem de imitar os americanos, pois eu prefiro ser tratado por aquilo que realmente sou. Um pobre beneficiário do estatuto do idoso, com alguns centavos de experiências a mais, e as regalias de me divertir pagando “meia entrada” nos cinemas, teatros e futebol, com a agradável surpresa de ouvir os porteiros me solicitarem a “carteirinha de estudante” ou documento de identidade que comprove que realmente já sou um idoso.

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Falar em nome das matas - Emerson Monteiro


O projeto agora anda da Câmara para o Senado, mais para espantalho do que para código florestal. Espécie de lei remendo a tudo que se perpetrou até agora nas matas brasileiras, no afã dessa febre dos industriais no campo, a agroindústria exportadora, e da produção de carne para o mercado externo, a toque de caixa. Mundo desigual de tanta fome e tanto estrago. Os vegetais não têm deputados, senadores, advogados. Têm os donos das terras que tomaram dos índios, que receberam de herança, que compraram ao preço de banana, que desmatam e fica por isso mesmo, nessa ganância de ouro fácil. Defender o que, senhor parlamentar? As furnas das onças, os buracos dos tatus, as camas das pacas? Argumentar com o quê, senhor parlamentar? Com as cantigas dos matutos abilolados na faina de puxar cobra para os pés, e apurar quase nada ao final dos invernos? Ouvir o canto dos pássaros para quê, senhores, quando as parafernálias eletrônicas ecoam de norte a sul do País, nos forrós melados desse universo troncho da ressaca nacional, frutos negros da cultura de massa? Sim, o som estridente das motosserras e dos tratores do progresso invadindo tudo que pareça verde e que, vendido a troco de muambas, virá festa, nos salões amarelados das cidades de trastes engarrafados e brilhosos. Os gritos dos capitães da grilagem, caçadores com a espingardas dos outros. Grande farra coletiva, nesses tempos de pouca solidariedade e muito lucro. Há um protesto congelado nos ares da política pragmática e mercantil. Há dores caladas nos cantos escondidos das florestas esturricadas, abandonadas à própria ganância. Ninguém pode além de nada, nos tristes trópicos acelerados para que as florestas permaneçam nacionais, invés da dominação do Império avassalador. Quem contará essa história da entrega da alma cativa aos inúteis da fragilidade, aos apáticos e indiferentes? Quantas perguntas lançadas ao vento, nas manhãs melancólicas dos finais de natureza. Apenas reservos de poucas plantas restarão emolduradas aos quintais dos ricos, enquanto na praça da apoteose crescem os pretendentes aos postos de comando e erários públicos órfãos da cidadania.
Isto porque vejo pouca chance para as leis conscientes e que contemplem a realidade verdadeira dessa humanidade insana. O Brasil, nação estratégica dos novos tempos, quando acordará a isso, sem procurar conciliar os ânimos destrutivistas do que resta de patrimônio nativo?
A propósito, minha homenagem ao casal José Cláudio Ribeiro da Silva e sua mulher Maria do Espírito Santo da Silva, mortos a tiros na madrugada desta terça-feira (24 de maio de 2011) na área rural do município de Nova Ipixuna, sul do Pará. Eles só lutaram com autenticidade em nome da conservação da natureza!

BlogHumor - "Quem nunca errou que atire a primeira pedra" - Versão Dihelson Mendonça


Uma das mais interessantes passagens bíblicas é aquela do apedrejamento de Maria Madalena, em que Jesus interveio. Ouvi uma versão hoje que deixaria qualquer cristão de cabelo em pé, e que repasso para vocês:

Judeia, Ano 33 DC, mais ou menos às 16:30. Uma turma de Judeus repousa embaixo de uma árvore e discutem a programação da semana: "Já está quase na hora do apedrejamento, alguém quer ir ?" "Ora, apedrejamento tem todo dia. Vamos a uma crucificação ?", responde outro. "Eu não gosto, demora demais..." "Então vamos a um apedrejamento mesmo". E saíram todos procurando alguma sessão de apedrejamento vespertina, das muitas que existiam na cidade.

Ao passar por um dado local, viram uma mulher prontinha para ser apedrejada, e uma multidão que se acotovelava, cada um já com sua pedra na mão. Os judeus então, procuraram as melhores pedras, a fim de também participarem do evento.

Quando tudo já estava pronto, alguém começou a ler a sentença:

"Essa mulher foi pega em flagrante de adultério. Cumpre pela nossa lei que morra apedrejada"
"Morra! Que morra essa infeliz ! " gritou a multidão.
Quando já se preparavam para começar, eis que surge um homem de vestes brilhantes, que chamou a atenção dos presentes, e disse em voz alta:

"Eis que hoje eu vos digo: Aquele que nunca errou na vida, que atire a primeira pedra nesta mulher"

Ouvindo isso, um bêbado que estava ali presente, pegou a sua pedra e jogou, acertando bem em cheio a cabeça da condenada. Vendo isto, o homem de branco perguntou irritado:

"Oh rapaz! você não ouviu o que eu falei não ? Você nunca errou na vida ?"

E o bêbado respondeu:

"Doutor, dessa distância não, mas de 100 metros talvez eu até errasse..."

( autor desconhecido - Editado por Dihelson Mendonça )