Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

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sexta-feira, 9 de julho de 2010

O Escravo Romano

Tu queres que eu volte
a levantar peso,
meu bem?

Que eu fique admirando
meu tórax definido
e os antebraços?

A poesia não percebe
a minha aparência física.

Desvendei esse enigma
quando escrevi versos sombrios
com as panturrilhas anestesiadas.

Apesar de sentir uma onda de bem estar
circulando por vasos, tendões, músculos

minha alma prosseguia desregrada
em exílio próprio.

Os versos não mudam de faces.
Estranho, não?

Queres que eu volte
a malhar o corpo,
querida?

A tatuagem faço no final do ano.
Nas minhas férias.

O único estorvo e neurose
é que não te conheço tanto.

Ou melhor, não te conheço mesmo.
Nunca te vi os cílios mais pretos.

A boca mais gordurosa.
O andado mais requebrante.

Por via das dúvidas,
creio que em agosto
volto a levantar peso
a malhar o corpo
a comer com os olhos
as ninfas da academia.

É o que me resta.
Exposição do Crato
Quem sabe passo por lá,
no acarajé da baiana ?
Quem sabe procuro um pé de eucaliptus
pra recordar os amigos ?
Quem sabe  cruzo com alguns,
ou  fico  invisível,
numa festa estranha ...

Socorro moreira

Por Norma Hauer

A DEUSA DA MINHA RUA
Ele nasceu no dia 9 de julho de 1901, filho de pais libaneses, aqui no Rio e se tornou grande letrista de nossa música popular. Seu nome JORGE FARAJ.
Era aquele que tomava o trem das professoras como "um vagalume atrás dos astros", vindo da boemia.
Ele de fato fazia o que cantou em sua música "Professora" e a professora verdadeira, sabendo do caso, quis conhecê-lo, mas o achou feio e não se interessou por aquele poeta feio por fora, mas belo por dentro.
Despresou-o.
Hoje nem sabemos quem era ela, mas sabemos que Jorge Faraj foi um dos grandes letristas da MPB, compondo, ao lado de Newton Teixeira, "A Deusa da Minha Rua", onde uma "poça dágua era o espelho de sua mágoa"

Também cantou aquela que "era do morro a mais famosa flore que todo mundo cantava em seu louvor, todo mundo "Menos Eu".
Com Custódio Mesquita compôs "Preto Velho", cuja sombra passava e todo mundo fazia chalaça".
Com Benedito Lacerda compôs "É Quase a Felicidade" e ".. E a Saudade Ficou"... lâmpada triste..." Com Roberto Martins compôs "Último Beijo", a música que me fez "descobrir" Carlos Galhardo.
Jorge Faraj, como muitos de sua época,era um boêmio, que trocava o dia pela noite e acabou tuberculoso, mas para alguém que adquiriu essa terrível doença, viveu bastante: 62 anos.

Lembro-me que quando ele faleceu, apenas uma pequena nota saiu nos jornais, assim:"foi sepultado ontem, no Cemitério de Irajá, o compositor Jorge Faraj, autor de "Professora".
E nada mais!
Fosse ele "americano" daquele país ao norte do Equador, a notícia sairia com "letras garrafais".

Jorge Faraj faleceu em 11 de junho de 1963. como foi dito,aos 62 anos.

O Velhinho

Pela minha orelha grande
creio que viverei muito.

Se assim suceder,
serei um velhinho sátiro.

Amante dos traseiros belos
e dos peitinhos de mármore.

Não vigiarei o vizinho.
Com quem chega
ou se trai a esposa.

O mesmo digo
para a amiga.

Apenas da minha janela
observarei os enlaces carnais.
Espero nunca testemunhar um crime.

Um velhinho sátiro
ciente da flacidez
dos músculos
é o que serei
pelo resto da vida.

Na sala nunca.
Sempre estarei no quarto.

Lendo um livro.
A mão ao alcance
da xícara.

Mediante o barulho
encosto meus ouvidos
à parede.

Ainda com o velho copo
que guardo dentro do baú.

Um velhinho voyeur
o que serei conforme
ofereçam-me dádivas
os meus vizinhos.

Não sei se haverá lucidez
para escrever versos.

Em todo caso,
guardo os primeiros
escritos na olivetti 45

para que eu me lembre
daquela loucura santa.

Feliz.
Quem sabe.
Mas não espalha.

Os meus fantasmas
andam atentos.

Lembrando a programação da Expocrato.


E de repente apareceu um tal de Léo Magalhães. Ele vinha com muita harmonia no seu samba. Mandava muitas correspondências para a Caixa Postal 1022, para Ivete Sangalo que, com a sua saia rodada, dançou um calypso dentro da chicabana. Aí os dois tomaram um avião, esse do forró, e ficaram moídos, fizeram uns plays. Ela é realmente uma garota safada, ele tentando ser um magnífico Jammil. Pena que foi passado pra trás pelo Zezé Di Camargo que, junto com Luciano, pegaram o arreio de ouro e foram acabar, todos juntos, com a Expocrato.

Cariricaturas convida : Colaboradores ,Leitores e Amigos !

Dia 23.07- almoço literário no "4 Estações" - presença de todos os autores./colaboradores.
12,00 por pessoa.
Confirmem presença , e informem  número de pessoas.

Na oportunidade , começaremos a fazer a entrega  dos livros devidos a cada um.

Dia 24.07- Festa de lançamento do livro "Cariricaturas em prosa e verso", no Crato Ténis Clube -  a partir das 20 h.

Programação:

-cerimonial de lançamento

-performances poéticas

-coquetel (excluídos refrigerantes e bebidas alcoólicas).Facultado os pedidos ao bar da Associação).Música  ao vivo com João Nicodemos.

- baile com Hugo Linard e Banda ( 4 hs dançantes)

Mesas ainda disponíveis : 22

Façam  as reservas pelo telefone : 35232867 ( Socorro Moreira)
ou usem o e-mail: sauska_8@hotmail.com , para que possamos enviar o mapa .

Mesa 40,00 ( valendo 4 ingressos e um exemplar do livro)


Sorteio de brindes - presente especial de Elmano Rodrigues Pinheiro.
Maiores informações ? Estamos às ordens !

Claude,Socorro, Edilma e Emerson


9 de Julho - Por Norma Hauer

9 DE JULHO
Onde está o Ernesto que não veio falar um pouco sobre o 9 de julho?
Em São Paulo é feriado devido à Revolução constitucionalista.
Hoje é feriado, mas não foi sempre assim.

No tempo da ditadura de Getúlio era proibido festejar o 9 de julho e, quem tentasse fazê-lo seria preso.
É óbvio, afinal o 9 de julho foi um movimento contra Getúlio.

Como minha "praia" é o rádio e a música popular, venho lembrar que foi a Rádio Record de São Paulo que deu estímulo aos revolucionários e que o locutor e grande radialista César Ladeira, ao microfone daquela emissora, leu um manifesto convocando o povo paulista para tomar parte na revolução.

A voz forte, bem colocada e muito bonita de César Ladeira passou a ser a marca, através do rádio, daquele movimento.

Terminada a revolução (em outubro) obviamente vencida pelo Governo, César Ladeira e seus companheiros da Rádio Record foram presos.
Após ser libertado, César Ladeira veio para o Rio de Janeiro fazendo uma "revolução"
no rádio "morno" de então.
Em 1° de setembro de 1933 César Ladeira estreou na Rádio Myrink Veiga, transformando-a na mais avançada emissora de rádio da época.
Mas não vou falar de César Ladeira. Sua atuação no rádio merece um compêndio.

Ainda me referindo ao 9 de julho, lembrarei um samba de nome 'TREM BLINDADO".
Na época, os constitucionalistas adquiriram um trem blindado para seu movimento e o compositor popular (no caso Braguinha e Alberto Ribeiro) compuseram um "trem blindado" para Almirante gravar, constituindo em grande sucesso.

TREM BLINDADO
Meu bem pra me livrar da matrca
Da língua de uma sogra infernal
Eu comprei um trem blindado
P'ra poder sair no carnaval...

Mulata por teu encanto
Muito eu levei na cabeça
Porém agora eu duvido
Que isto outra vez aconteça
Do teu falado feitiço
Eu pouco caso hoje faço
Mandei fazer em São Paulo, mulata
Um capacete de aço.

Mulata quando eu te vi logo pedi anistia
Pois os teus olhos lançavam terrível fuzilaria
E p'ra niguém aderir
Ao nosso acordo amoroso
Botei na porta de casa, mulata
Um canhão misterioso.


Tanto o "capacete de aço", como o "canhão misterioso" diziam que foram usados em Sãoi Paulo durante a revolução constitucionalista.

Houve outra música,esta de Ary Kerner, também relativa a esse moivimento.
Seu nome "Na Serra da Mantiqueira", gravada por Gastão Formenti.

As composições lançadas nessas épocas de movimentos fazem as coisas se tornarem mais brandas.
Norma

Ajuda humanitária - Por Magali de Figueiredo Esmeraldo

É bom saber que a humanidade, apesar de todos os problemas como violência, individualismo, fome, miséria, drogas e muitas outras mazelas, não está perdida. A esperança no ser humano nos anima a acreditar que o mundo pode ser transformado através do amor. A solidariedade das pessoas neste momento de grande sofrimento dos moradores das cidades de Alagoas e de Pernambuco, vítimas das enchentes, que perderam além de familiares, tudo que adquiriram durante toda uma vida de trabalho, é sinal da presença de Deus no coração humano. Deus está sempre presente na vida dos sofredores e oprimidos.

Quando um fariseu perguntou a Jesus qual era o maior mandamento da Lei, Jesus respondeu: “Ame ao Senhor seu Deus com todo seu coração, com toda a sua alma e com todo seu entendimento. Esse é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: Ame ao seu próximo como a si mesmo. Toda a Lei e os Profetas dependem desses dois mandamentos.” (Mt 22, 34-40). Os fariseus estavam questionando sobre leis, deveres e obrigações. Jesus respondeu falando de amor. Sabemos que o amor não é obrigação, é sentimento que nasce do coração e gera satisfação pessoal. Na época de Jesus, o povo judeu estava subjugado a mais de 600 leis, das quais 365 eram proibições. Era um fardo pesadíssimo que nem os próprios sacerdotes cumpriam. Jesus queria que os fariseus entendessem que o ser humano deve trocar a lei opressora pelo amor e em conseqüência a obrigação pela satisfação. Ele desejava que os fariseus compreendessem que além de amar e entregar a nossa vida a Deus, nós devemos amar ao próximo como a nós mesmo. Se amarmos a Deus com total entrega, também nos entregaremos àqueles que são a sua imagem e semelhança. É no momento dessa tragédia, que ocorreu com os moradores de algumas cidades de Alagoas e Pernambuco, que devemos refletir sobre o exercício da solidariedade, que é o amor que Jesus nos mostrou através desses dois mandamentos citados acima.

Muito me sensibilizei ao assistir o noticiário e ouvir uma menina de três anos nos braços do pai, dizendo ao repórter: “eu quero a minha casinha”. Sabemos que o governo já tomou as primeiras medidas para reconstruir as cidades e a vida daquelas pessoas, mas cada brasileiro pode fazer a sua parte.

É animador saber que todo o Brasil está se unindo para ajudar as pessoas desabrigadas por tão grande tragédia. Quando o ser humano se liberta do egoísmo, acontece o milagre da abundância. Ninguém morre de fome por ajudar a matar a fome de alguém. Ao contrário, a sabedoria popular diz que quando nos doamos a alguém, recebemos em dobro, embora não devamos fazer a caridade pensando em receber algo em troca. Como diz o Evangelho segundo Mateus: “Quanto a ti, ao dares esmola, ignore a tua mão esquerda o que faz a direita, a fim de que tua esmola fique no segredo; e teu pai, que vê no segredo te retribuirá.” (3,6-4).

Quando nos dispomos a ajudar alguém sentimos o nosso coração leve pela alegria de servir. Por isso vamos nos dirigir ao um posto de coleta da nossa cidade, e doar com o coração o que podermos partilhar. Não importa a quantidade, até um quilo de alimento serve. O importante é que a “união faz a força”, e o pouco se torna muito quando é ofertado com amor.

Por Magali de Figueiredo Esmeraldo

A minha Homenagem ao Dia da Fotografia - Dihelson Mendonça



Cardo - Dihelson Mendonça


Crato - Igreja da Sé - Dihelson Mendonça



Estampa - Dihelson Mendonça



Busto - Dihelson Mendonça


A Fotografia eterniza momentos.
A Poesia eterniza sentimentos.
A Fotografia é a Poesia da imagem.
A Poesia é a fotografia das sensações.

( Autor desconhecido )

Fotografia: Dihelson Mendonça
Proibida a Reprodução e Utilização sem a Autorização do Autor

A "saunazinha" da Expocrato - Por: José Nilton Mariano Saraiva

Independentemente de se ser “expert” no trato da questão ou mesmo de uma providencial visitazinha básica ao “google”, todos temos a obrigação de saber que “museus” são espaços direcionados e convenientemente apropriados para a guarda de obras de arte ou antiguidades que retratem o legado, a cultura, os costumes e toda a história de um povo ou de uma nação; além do que, funcionam como valiosíssimas e imprescindíveis instituições permanentes, sem fins lucrativos, abertas à visitação pública, porquanto a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento. Normalmente, seu principal incentivador e mantenedor é o poder público, que trata de adquirir, preservar, exibir e conservar as evidências materiais dos povos e seu habitat natural, objetivando a apreciação, a pesquisa, o estudo, a educação.
Para tanto, no entanto (sem trocadilho), há que se oferecer e disponibilizar aos que os freqüentam, amplas condições de acesso, permanência e conforto internos, necessários e estimulantes ao embarque numa revigorante viagem no tempo; manuseando e estudando seu acervo num ambiente apropriado, habilitamo-nos à compreensão das nossas raízes, dos nossos ancestrais (quem já visitou o estupendo Museu do Louvre, em Paris, sabe bem do que estamos falando).
Trazendo aqui para nossa província, não há como não reconhecer das mais louváveis e meritórias a intenção da Prefeitura Municipal do Crato de, em mergulhando nas brumas do passado, buscar lá nos seus primórdios, nas suas lutas, nas suas origens, nas suas motivações e óbices, retratos emblemáticos do desenvolvimento da atual pujante “Expocrato”, através da criação e disponibilização do seu próprio "museu", a fim que, de forma pedagógica, aqueles que a freqüentam atualmente compreendam a dimensão da tenaz e hercúlea luta que foi construí-la, até se atingir a realidade momentânea.
Só que, talvez devido à pressa com que foi planejado, do pouco tempo disponibilizado em sua execução, da não localização em tempo hábil do seu rico e vasto acervo vídeo-áudio-fotográfico (certamente existente e dormindo em alguma gaveta de um burocrata qualquer) e, principalmente, devido à incompreensível ausência de um profissional “especialista” no mister (a fim de prestar a devida e competente orientação técnica de como deveria ser estruturado), o “Museu da Expocrato” acabou por transformar-se numa autentica decepção para aqueles que o adentraram.
Pra começo de conversa, é absolutamente injustificável que, com tanto espaço disponível no atual “parque de exposições” (cuja área construída e ocupada preenche apenas um terço da área total), o poder municipal tenha optado por abrigar tão importante instrumento público num único vão, uma espécie de “caixote” de tijolos, argamassa e cal, pessimamente localizado e de dimensão reduzidíssima; contando com apenas uma única abertura, que se presta para o acesso e saída dos visitantes, o item “segurança” fica seriamente comprometido, devido ao intenso fluxo de interessados em conhecê-lo, assim como na perspectiva de uma evacuação eventual; desprovido de janelas ou qualquer outra entrada de ar e sem contar com qualquer climatização artificial (ar condicionado ou simplórios ventiladores), a temperatura ambiente se situa nunca menos no patamar de 50 graus centígrados, tornando-o um ambiente sufocante, desconfortável, inadequado e desestimulante para qualquer tipo de atividade ou contemplação.
Com relação ao tímido, pobre e insuficiente acervo fotográfico disponibilizado, parece não ter havido - como seria recomendável - qualquer preocupação em catalogá-lo, organizá-lo e disponibilizá-lo, cronologicamente, de forma a que tivéssemos um encadeamento progressivo dos diversos eventos ao longo e através dos anos; além do que inexistem quaisquer legendas identificadoras das autoridades retratadas (somente os mais longevos tiveram condição de reconhecer um Wilson Gonçalves, Filemon Teles, Virgílio Távora, Dom Vicente, Alencar Araripe e outros).
Em resumo, o ambiente que inapropriadamente se resolveu cognominar de “Museu da Expocrato”, bem que teria uma definição muito mais apropriada e consentânea com a realidade se o houvéssemos batizado de “A Saunazinha da Expocrato”, propícia, aí sim, a desintoxicar e a curar a ressaca de qualquer um que exagere no exercício da atividade etílica, via levantamento de copo (algo recorrente em eventos da espécie).
No mais, a Prefeitura do Crato, à vista dos crassos erros protagonizados em 2009, bem que nesse 2010 poderia nos brindar com um autentico, respeitável e genuíno museu. Mas, um museu de verdade, digno da denominação e finalidade, e não um arremedo, não essa autentica "casa de horrores" que tivemos de inadvertidamente adentrar à busca de inolvidáveis recordações de um passado não tão distante.

Dialética - por Viniciíus de Moraes



É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste...

Por Vinícius de Moraes


A maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a dor do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana.

A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo,
o que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro.

O maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e ferir-se,
o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo. Esse queima como uma lâmpada triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno. Ele é a angústia do mundo que o reflete. Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes de emoção, as que são o patrimônio de todos, e, encerrado em seu duro privilégio, semeia pedras do alto de sua fria e desolada torre.


Procura-se um amigo

Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto, dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor.. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar.

Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoa tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.

Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.

Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive.

9 de Julho de 1980, partia o poeta ....

Lembrando Carlos Pena



Carlos Pena Filho fez sua estreia na poesia em 1952 com O tempo da busca, volume de poemas magro e apropriado à sua condição de jovem poeta. Nascido no Recife, em 17 de maio de 1929, desde muito cedo se afirmou como personalidade singular de poeta em franca e rápida expansão. Ao absorver a experiência concreta com o mundo sensível na atividade de maior peso em sua vida e na qual conseguia suas melhores realizações e sucessos, a poesia, desenvolveu um lirismo emocionado e subjetivo. Com o apuramento de uma sensibilidade estética privilegiada, contrapôs a esse lirismo limpo e arrojado poemas de vertente social e popular. E serviu-se do mesmo cuidado tanto com as estruturas fixas e tradicionais ocorrentes no lírico, quanto com as formas livres presentes nos poemas de raiz mais nordestinada. Tais poemas constantes no bloco Nordesterro, e no poema longo que se desdobra em outros, Guia prático da cidade do Recife, exerceram também o papel de afastar certa noção de purismo requerida para Carlos Pena Filho por companheiros de geração.

A mudança de orientação diccional nos poemas de Nordesterro revela uma faceta poética social e radicalmente oposta ao maneirismo formalista neoparnasiano apreendido da geração de 1945, façanha até então inimaginável num poeta que se diferenciava pela realização lírica de sua poesia. E isso vai culminar numa poética urbana de rara eficácia, representada pelo Guia prático, poema com feitio de inventário da cidade solitária em meio a seus transeuntes, prédios e rios. Assumindo uma atitude desse tipo, rompia de modo corajoso as amarras políticas de seu próprio meio e convivência, de cunho liberal. Essa nova prática demonstrava que o poeta não estava impregnado apenas de sonetos líricos e subjetivistas, mas poderia ser capaz de trabalhar conteúdos de maior impureza, como os referentes ao sociopolítico, ao rural e ao urbano escritos em linguagem contundente e desabrida.

Carlos Pena destacou-se como um dos poetas mais vigorosos da década de 1950. Devido ao seu temperamento boêmio, as suas vivências pessoais seriam sublinhadas por uma vida literária e intelectual movimentada e enriquecida de muitas solicitações e atividades.

Não se teve notícia até agora de nenhum evento ou iniciativa de âmbito público ou privado para lembrar a passagem dos 50 anos da morte de Carlos Pena Filho, em 1º de julho deste ano. Da parte de entidades culturais e oficiais, o silêncio em torno do poeta que tanto cantou e amou o Recife é frio e majestático, restando o sentimento individual disperso dos que o leem e continuam a admirar a sua poesia. Não é de nenhum modo justo nem animador esse esquecimento a que vem sendo submetido em sua própria cidade, quando se pensa que ele tem a maioria de seus leitores distribuídos por aqui. Contudo, não é possível negar que existem também grandes leitores da poesia do Livro geral espalhados por todo o País, certamente porque a leitura de seus versos não suprime a fruição e o prazer provocados por uma conformação altamente fluente e musical que os reveste.

Todo o desempenho lírico e estético do poeta que viveu e escreveu como um dos mais autênticos e entusiasmados recifenses, realiza-se numa obra que, se não extensa numericamente, mostra-se competentemente elaborada e trabalhada no pequeno circuito de uma década e meia. Impiedoso e irônico com o lado superficial e obscuro da cidade, repudiava seus surtos conformistas e a banalização conservadora e padronizada de comportamentos e relações. Sem excluir a força dessa indignação, pode-se partilhar ainda da descoberta lúdica de um mundo solar e marinho, luminoso e desértico ao mesmo tempo, que permeia frações e núcleos significantes de sua poesia. Ao largo de seus versos e estrofes de construção impecável, notadamente naqueles poemas em que se sente a presença do poeta pleno e maduro, confirma-se o percurso exigente de uma poesia que sempre buscou, da adolescência à morte prematura, as melhores soluções e definições acompanhadas dos mais convincentes resultados estéticos.

(In: Jornal do Commercio, Opinião, Recife, 19 de junho de 2010.)

Acesse e divulgue o Blog de Luiz Carlos Monteiro
(http://omundocircundante.blogspot.com)


LISTA DOS AUTORES - "CARIRICATURAS‏ em verso e prosa"

01. Ana Cecília Bastos /
02. Armando Lopes Rafael /
03. Assis Lima /
04. Bernardo Melgaço
05. Carlos Esmeraldo
06. Carlos Rafael
07. Claude Bloc
08. Corujinha Baiana
09. Dimas de Castro
10. Domingos Barroso
11. Edilma Rocha
12. Edmar Lima Cordeiro
13. Emerson Monteiro
14. Everardo Norões
15. Isabela Pinheiro
16. J. Flávio Vieira
17. João Marni
18. João Nicodemos
19. Joaquim Pinheiro
20. José do Vale Feitosa
21. José Newton Alves de Sousa
22. José Nilton Mariano
23. Liduína Vilar
24. Magali Figueirêdo
25. Marcos Barreto
26. Olival Honor
27. Rejane Gonçalves
28. Roberto Jamacaru
29. Socorro Moreira
30. Stela Siebra Brito
31. Vera Barbosa
32. Wilton Dedê
33-Bruno Pedrosa


*Na impossibilidade das presenças, os nomes grifados receberão seus livros pelos Correios.