Pela minha orelha grande
creio que viverei muito.
Se assim suceder,
serei um velhinho sátiro.
Amante dos traseiros belos
e dos peitinhos de mármore.
Não vigiarei o vizinho.
Com quem chega
ou se trai a esposa.
O mesmo digo
para a amiga.
Apenas da minha janela
observarei os enlaces carnais.
Espero nunca testemunhar um crime.
Um velhinho sátiro
ciente da flacidez
dos músculos
é o que serei
pelo resto da vida.
Na sala nunca.
Sempre estarei no quarto.
Lendo um livro.
A mão ao alcance
da xícara.
Mediante o barulho
encosto meus ouvidos
à parede.
Ainda com o velho copo
que guardo dentro do baú.
Um velhinho voyeur
o que serei conforme
ofereçam-me dádivas
os meus vizinhos.
Não sei se haverá lucidez
para escrever versos.
Em todo caso,
guardo os primeiros
escritos na olivetti 45
para que eu me lembre
daquela loucura santa.
Feliz.
Quem sabe.
Mas não espalha.
Os meus fantasmas
andam atentos.
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