Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Pomar






POMAR

Vem uma abelha e pousa
numa banana madura,
estourando de madura.

Os volumosos seios da mulher
eram verdes e dourados
de tão maduros.

Uma maritaca vaia
escorrendo amora do bico
como sangue.

Com um sanhaço em cada ombro
e a língua limpa de palavras
aproveito a vida no pomar.
 
 
 

QUE DECEPÇÃO ! - Por Edilma Rocha


Desde pequena  adorava os livros de História Geral por causa das gravuras estampadas com ilustrações dos quadros famosos. Como não possuía livros específicos sobre Historia da Arte, me contentava em olhar as pinturas dos artistas célebres no Brasil como Pedro Américo e Victor Meireles. As pinturas representativas de momentos históricos como: A Primeira Missa no Brasil, Batalha do Avaí, O Grito do Ipiranga, Coroação de Dom Pedro II, eram observadas pausadamente, estudando com cuidado as figuras, movimentos e as cores dentro das paisagens maravilhosas.
Com o passar do tempo a vida foi me dando oportunidades de aprecia-las ao vivo nos grandes museus e sempre que possível fazia  uma relação das obras com os locais representados, como palácios, jardins, florestas e mobiliário.
A Obra-prima de Victor Meireles, pintada na França, premiada e posteriormente trazida para o Brasil registrando a Primeira Missa no Brasil, sempre foi para mim motivo de deslumbramento na representação da cerimonia com o momento da elevação Eucarística, os aparatos e vestimenta dos Sacerdotes, a Cruz dentro da floresta e os índios que a tudo observavam dependurados nelas. A riqueza do verde em diversas folhagens com tons sobre tons, preenchia a tela com harmonia de valores da pintura. Muitos índios com adereços coloridos na variedade das plumas das aves nativas,  e o colorido do corpo pintado em destaque no primeiro plano. Mergulhava o olhar naquela tela de impressionante variedade de detalhes. E assim ficou na minha memória o local da celebração da primeira missa no Brasil.

Viajando pelo imenso Litoral Brasileiro, cheguei a Porto Seguro. Depois de me instalar no hotel, queria conhecer o local da celebração da primeira missa no Brasil. Entrei no carro e segui até o local. Mas que decepção! Somente uma cruz fincada num pedestal de concreto em meio a um enorme pátio revestido com pedras, vazio, sem cor e quente... Todas as árvores foram derrubadas e não restou uma só plantinha para representar o verde da mata. Lá longe, na praia, alguns coqueiros e alguns banhistas. Me informaram que aquela mudança toda era para ter espaço para representações culturais no local todos os anos. E o meu sonho de conhecer a belíssima mata da pintura de Victor Meireles ficou no meio do vazio real.
Apareceram alguns personagens querendo se passar por índios que na verdade eram vendedores em busca de turistas otários. Um cocar na cabeça, alguns braceletes nos braços  e colares no pescoço. Tudo para vender..
_ Senhora, quer comprar amuletos indígenas com penas do famoso "Uirapurú", Araras reais e Garças das matas Brasileiras ?
Eu olhei boquiaberta para aquele vendedor "fajuto"  querendo representar um índio de "arake"  e fiquei sem saber o que responder... Senti um leve toque no meu braço e uma vozinha de menino me falou :
_ Compre não, senhora ! É mentira !  Essas penas são de galinha de granja pintadas com "K-suco", ele vive enganando os turistas !
 Não me faltava mais nada. A decepção estava completa .
Isso era...
O local da Primeira Missa ...
Porto Seguro...
Brasil...

Edilma Rocha

FALANDO DE FLORES - Por Edilma Rocha


CAMOMILA - Chamaemelun nobile - Suavidade é a principal característica desta alegre plantinha. Tanto que tem sido usada desde a Antiguidade para acalmar bebes. Muito eficiente também contra insónia, ansiedade e stress. Calma e paciência são duas coisas de que sempre nos esquecemos deixando-nos dominar pelas exigências do dia-a-dia. A existência da Camomila talvez nos sirva para lembrar que a vida é leve e suave.


Planta vivaz e anual, alcança de 30 à 50 cm de altura. Cultivada em solo leve e bem arejado em regiões de clima moderado. Precisa receber luz solar por, pelo menos, 5 horas diárias. Semear entre os meses de Abril e Maio. As sementes não devem ser enterradas muito fundo, pois necessitam de luminosidade para brotar. Originada da Europa, o aroma intenso da Camomila despertou o interesse dos antigos pesquisadores que acabaram descobrindo várias das propriedades que a tornaram tão famosa. Os antigos Egípcios tratavam uma doença semelhante à "Malária" com o chá de suas flores. Na Espanha, um tipo de vinho aromatizado com flores de Camomila é usado como digestivo. Dizem que a Camomila dá muita sorte e ajuda a atrair dinheiro, por isso, em tempos remotos, os jogadores costumavam lavar as mãos com chá de Camomila antes de jogos importantes.


A Camomila é um dos remédios mais populares, desde os nossos antepassados, por suas inúmeras propriedades terapêuticas: sedativa, anti-inflamatória, anti-alérgica, anti-séptica, digestiva, alivia cólicas menstruais e tensões da menopausa. Acalma pessoas nervosas e bebes incomodados por gases no estômago e intestinos. O chá natural é usado para realçar o tom dourado das cabelos louros. Em compressas, suaviza olheiras e inchaço dos olhos. As flores secas de Camomila em travesseiros deixam um aroma delicado que acalma e diminui a ansiedade. Um punhado de flores secas na água da banheira relaxa e favorece um sono tranquilo. O óleo essencial de Camomila-romana é sedativo e relaxante. Pode ser usado em inalação, infusão, massagens e máscara facial. Combina bem com óleo essenciais de Alfazema, Bergamota, Rosa, Néroli e Patchuli.

Edilma Rocha

Fonte : Jardim Interior - Denise Cordeiro

ENCONTRO COM AMIGOS - Por Edilma Rocha


Edilma, Claude, Magali e Carlos
Sem palavras...


Rosas - Paulo Viana

Rosas - Paulo Viana

As rosas são evidentes clamores
De coração muito apaixonado
Pois se não sentes ele acelerado
Então se mostra através das flores
E se preciso for rufar tambores
Para provar não serem duvidosas
As intenções implícitas nas rosas
Tu ouvirás do amante a percussão
Representando aquele coração
De emoções reais e grandiosas


Foto de Antonia Morais (Didi )

HUMBERTO TEIXEIRA - Por Marcos Barreto de Melo


Como surgiu a imortal dupla do baião
Os primeiros sucessos de Luiz Gonzaga, como cantor, surgiram em 1943, dois anos após ter sido contratado pela RCA.No início de sua carreira, Gonzaga atuou apenas como solista, por uma imposição da própria gravadora.As primeiras músicas cantadas por ele compostas em parceria com o fluminense Miguel Lima logo se tornaram conhecidas do público.São dessa época músicas famosas como Cortando o Pano, Dezessete e Setecentos, Penerô Xerém e Mangaratiba, entre outras.
Apesar do êxito, a parceria com Miguel Lima não durou muito tempo. Luiz, de formação genuinamente sertaneja, queria gravar músicas que falassem de sua gente, do seu longínquo pé-de-serra. Ele tinha a melodia e precisava de alguém que fosse capaz de colocar a letra. Miguel Lima, no entanto, não se integrava muito bem com o projeto artístico de Luiz Gonzaga de querer lançar, no Rio de Janeiro, as músicas brejeiras do Norte. Por isso ficaram juntos somente até 1945.quando Gonzaga viu-se obrigado a procurar um outro parceiro que, como ele, estivesse disposto a cantar o Nordeste.E foi na poesia do jovem advogado cearense, Humberto Teixeira que Gonzaga encontrou a sua nova parceria.
Vencedor de Concurso
Humberto Teixeira nasceu em Iguatu, cidade do sertão cearense, a 5 de janeiro de 1916, de onde, aos dois anos de idade, saiu para residir em Fortaleza.Aos seis anos, aprendeu a tocar musete (uma versão francesa da gaita de foles) com o seu, o maestro Lafaiete Teixeira.Tocava flauta e bandolim e, com 13 anos, fazia parte da Orquestra Iracema, a qual regida pelo maestro Antônio Moreira, musicava os filmes mudos no Cine Majestic, de Fortaleza. Em 1931 o garoto Humberto Teixeira radicou-se no Rio de Janeiro, onde, aos 18 anos, em 1934, descobriu que a sua vocação estava indiscutivelmente voltada para a música.Venceu, neste mesmo ano, o concurso de música carnavalesca promovido pela revista “O Malho”, com a música “Meu Pedacinho”.A sua música foi classificada ao lado de outras compostas pó gente famosa, como Ari Barroso e Cândido das Neves.Em pouco tempo, Humberto foi se tornando amigo de Lamartine Babo, Benedito Lacerda, José Maria de Abreu e de outros cantores e compositores daquela época.
Quando, em 1943, formou-se advogado pela Faculdade Nacional de Direito, Humberto Teixeira já havia composto sambas, xotes, marchas e toadas. Sua primeira música a ser gravada foi “Sintonia do Café” lançada por Déo, em 1944.Outras composições de Humberto foram gravadas nessa mesma época: Só uma Louca Não Vê (Orlando Silva); Deus me Perdoe (Ciro Monteiro; Meu Brotinho (Francisco Carlos) e Natalina (Quatro Ases e Um Comigo).

Encontro com Luiz Gonzaga

Desfeita a parceria com Miguel Lima, Gonzaga estava agora à procura de um novo parceiro. Admirava muito as músicas compostas pelo cearense Lauro Maia, interpretadas com sucesso pelo conjunto “Quatro Ases e Um Coringa”. Decidiu, então, procurar Lauro Maia, que se mostrou pouco interessado na proposta apresentada. No entanto, disse conhecer a pessoa certa para ser seu parceiro e apresentou Luiz Gonzaga ao seu cunhado, Humberto Teixeira.
O encontro do pernambucano Gonzaga com o cearense Teixeira deu-se numa tarde de agosto de 1945, no escritório do bacharel, na Avenida Calógeras, no Rio. A conversa, animada, prolongou-se até à noite e.ao fim de algumas horas, já haviam acertado os detalhes da nova empreitada. Nesta primeira conversa, concluíram que o baião era o mais urbanizável e estilizável dentre todos os ritmos de música do Nordeste.
Logo no primeiro encontro destes dois nortista surgiu o esboço do que veio a ser xote No Meu Pé-de-Serra.
“(...) Solfejei a música, Humberto olhou-me meio descrente e perguntou-me:
-Já tem algum começo, um principiozinho de letra?
Cantei:
“Lá no meu pé de serra
Deixei ficar meu coração”...
Fez sinal de que parasse.
-Ótimo.Agora solfeje a música, bem devagarinho...
Rabiscava umas coisas num papel pra repetir.
Quando terminei dei uma espiadela no papel. Admirei-me de vê-lo coberto de versos.
-Mas que beleza!Exclamei entusiasmado.
Com que rapidez você faz letra rapaz!
Riu e adiantou:
-Às vezes faço música ainda mais depressa, embora cante pior que todos os cisnes do Capitólio. mas o que fiz agora não é a letra ainda não.
Isso é só o “monstro”. A letra faço depois. Eu, que lera por alto e gostara, protestei:
-Tá conversando!Nesse aqui você não bole mais. Tá muito boa, Humberto.
-Calma Luiz. É uma letra provisória, pra me basear. Faltam os retoques, mudar umas coisas. Quando vier, vem outra”(1).
E assim teve início a parceria de Humberto Teixeira com Luiz Gonzaga, onde as qualidades poéticas de um foram aliadas à capacidade melódica e interpretativa do outro. Dessa união resultou um grande incremento à nossa música, devido à excelente qualidade do que produziram.
“A minha parceria com o Humberto Teixeira foi perfeita, assim como uma luva que se encaixa na mão de uma pessoa” (2).Assim se expressou Luiz Gonzaga ao ser interrogado a respeito do parceiro.Ainda segundo Luiz Gonzaga “Humberto Teixeira era um grande poeta. Juntava sertão e asfalto numa mesclagem muito bem bolada, de onde saíram coisa bonitas”(2). De fato, Luiz precisava mesmo de alguém como Humberto Teixeira, que, além de ser um poeta dotado de uma capacidade indubitável, era também instrumentista e profundo conhecedor da vida e dos costumes sertanejos.

Nasce o baião

O baião, também chamado “baiano”, teve sua origem na batida dos violeiros do sertão, conforme estudos já divulgados. Esse ritmo, no entanto, era conhecido apenas nos estados nordestinos.O que Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira fizeram, na verdade, foi urbanizar e estilizar o baião, dando-lhe um novo aspecto.Na sua versão primitiva, cantada por violeiros, o baião apresentava-se entremeado de falas, o que atrapalhava a continuidade da música.Conforme declarou Humberto Teixeira: ”Estilizamos as principais características, traduzimos os modismos do Nordeste e tornamos a música mais dançável... (3). Segundo Luiz Gonzaga:”...o baião foi estilizado para tornar-se música comercial.Aproveitamos os temas folclóricos, com letra nova e melodia estilizada...”(4).
Surgia, assim, em 1945, o baião moderno e urbanizado, com uma nova roupagem, onde os instrumentos originais (viola, pandeiro, botijão e rabeca) foram substituídos por zabumba, triângulo e sanfona.Com isso, Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira promoveram uma verdadeira revolução na música brasileira, até então dividida entre o samba-canção e outros ritmos importados.
No ano de 1946, os “Os Quatro Ases e Um Coringa” gravaram a primeira composição pelo próprio Luiz Gonzaga, tempos depois.
Os primeiros frutos da parceria de Humberto com Luiz Gonzaga logo se transformaram em verdadeiros sucessos nacionais, o que possibilitou ao baião firmar-se como um novo e autêntico estilo de música, além de garantir a Luiz Gonzaga o título definitivo de “Rei do Baião”.No período de 1946 a 1950 o baião dominou 80% das execuções musicais no Brasil, o que refletia a grande aceitação tida pelas obras de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga.
Esse fenômeno, até então inédito na indústria fonográfica brasileira, fez com que as prensas da RCA trabalhassem quase exclusivamente para Luiz Gonzaga.
A primeira música da dupla a ser gravada por Luiz Gonzaga foi o xote No Meu Pé-de-Serra, em 1946. Depois vieram outros clássicos da música nordestina: Asa Branca, Paraíba, Baião, Lorota Boa, Mangaratiba, Baião de Dois, Juazeiro, Légua Tirana, Macapá, Xanduzinha, Qui Nem Jiló, Estrada de Canindé, Assum Preto e Respeita Januário.
Apesar do brilhantismo dos primeiros anos, a parceria de Humberto Teixeira com Luiz Gonzaga se desfez por volta de 1952, quando já estava em pleno vigor a parceria de Gonzaga com o poeta pernambucano Zé Dantas.Porém o que Humberto havia composto no período em que esteve com Luiz Gonzaga já era o suficiente para assegurar-lhe a posteridade.
Em 1954, Humberto elegeu-se deputado federal pelo Ceará, apoiado pelo líder paulista Adhemar de Barros, com cerca de 12.000 votos. Como deputado, ele teve destacada atuação no campo do direito autoral. Conseguiu a aprovação da lei “Humberto Teixeira”, o que permitiu uma maior divulgação da música brasileira no exterior, através de caravanas musicais subsidiadas pelo governo federal.
O baião entra em crise

Após ter dominado o mercado brasileiro por quase 10 anos, o baião, a partir de 1956, começou a dar sinais de visível declínio, tendo progressivamente cedido o seu espaço para o movimento da Bossa-Nova e os acordes da guitarra.
Durante um período de aproximadamente 15 anos (1956-1971), o baião esteve marginalizado e esquecido nas grandes cidades onde, um dia, reinou. Com isso, teve que retornar à sua terra de origem, refugiando-se no Nordeste.Assim como o baião, os seus criadores também foram condenados ao ostracismo.
No que pese o grande talento de Luiz Gonzaga, não podemos negar que a obra de Humberto Teixeira foi de uma importância inconteste na volta do baião e de seus congêneres e, conseqüentemente, na volta de seu maior intérprete maior.
Na verdade, o baião começou o seu caminho de volta em 1965, com a gravação do imortal hino nordestino Asa Branca (Humberto Teixeira/Luiz Gonzaga) por Geraldo Vandré, em seu LP “Hora de Lutar”. Três anos depois, em 1968, surgiu a notícia, não-confirmada, de que os Beatles iriam gravar Asa Branca.Embora isto não tenha se efetivado, foi, sem dúvida, mais um passo para o retorno de Luiz Gonzaga.
Em 1969, Gilberto Gil incluiu em seu LP o baião 17 Légua e Meia (Humberto Teixeira/Carlos Barroso), um antigo sucesso na voz de Luiz Gonzaga.Neste mesmo ano, Gonzaga lançava mais um disco, onde o parceiro dos anos 40, Humberto Teixeira, se fazia presente através de duas novas composições: Canaã e Baião Polinário.
Dois anos depois, em 1971, quando do seu exílio em Londres, Caetano Veloso deu uma nova interpretação a Asa Branca. Mais uma vez a Asa Branca promovia a volta do baião.Ainda em 1971, Gal Costa gravou Assum Preto (Humberto Teixeira/Luiz Gonzaga), outro grande sucesso da dobradinha.Com isso, abria-se definitivamente o caminho que traria o baião e seus criadores de volta ao cenário da música brasileira.

A grande volta

Para assinalar a sua volta, foi lançado em 1971 o LP “O Canto Jovem de Luiz Gonzaga”, onde ele canta músicas de Gil, Caetano, Geraldo Vandré, Tom Jobim e Humberto Teixeira, com quem lançou o baião nos anos 40.A música Bicho, Eu Vou Voltar, que conta com a participação de seu autor, Humberto Teixeira, fala exatamente deste momento histórico para os criadores do gênero (“Bicho com todo respeito/Dá licença eu vou voltar/Oh desafio pai d’égua/pra cabra macho enfrentar...”) e da enorme gratidão para com aqueles que, de alguma forma, promoveram esta volta (“Caetano muito obrigado/por me fazer lembrar/não a mim, mas a tudo que eu fiz...”).
Nesta nova fase do baião, Humberto Teixeira ainda compôs algumas músicas para o amigo Luiz Gonzaga: Ana Rosa (1972); Marilu (1972); Baião de São Sebastião (1973); Saudade Dói (1976); Chá Cutuba (1977); Menestrel do Sol (1977); Salmo dos Aflitos (1978); Dengo Maior (1978) e Orélia (1979).
No seu disco de 1979, Gil nos trouxe uma nova versão de Macapá (Luiz Gonzaga/Humberto Teixeira) lançada com sucesso pela cantora Mariene, em 1949.
Em 3 de outubro de 1979, aos 63 anos, em sua casa no bairro de São Conrado, no Rio de Janeiro, morria o grande compositor e poeta Humberto Teixeira.
Após a sua morte, duas músicas ainda foram gravadas: Dança do Capilé (1982) e Xengo (1983).
Autor de mais de 400 composições gravadas (5), Humberto Teixeira compôs Kalu, para Dalva de Oliveira, e, em parceria com Sivuca, fez Adeus Maria Fulô, para Carmélia Alves. Uma de suas músicas foi gravada por Elba Ramalho no início de sua carreira (Bodocongó). Outros também gravaram músicas do poeta de Iguatu, a exemplo de Caetano Veloso, que gravou Kalu, e de Fagner, que faz uma homenagem ao poeta conterrâneo ao cantar Dono dos Teus Olhos.
Nos últimos anos de sua vida, Humberto refugiou-se em casa, num isolamento voluntário.Poucas pessoas passaram a ter acesso a ele.Só compunha para consumo próprio ou sob fogo cerrado do parceiro e amigo Luiz Gonzaga. Assistiu à distância a nova invasão do Sul pela música nordestina, quando muitos cantores da nova safra seguiam as suas pegadas.
Os nomes de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga estão íntima e irreversivelmente ligados na história do baião e da música brasileira, como um todo. Através de suas canções, o Brasil passou a conhecer Asa Branca, que, em seu vôo derradeiro, foge tangida pela seca, tal qual o retirante nordestino; o Assum Preto, que, cego dos olhos para cantar melhor, vive solto sem poder voar; a receita para um gostoso Baião de Dois; a disposição que tem o nortista, capaz de andar, sem parar, 17 Légua e Meia para ir num forró dançar e, ainda, como se dança o Baião.
Advogado, político, instrumentista, poeta e compositor. Esse é o perfil de Humberto Teixeira, um sertanejo cearense que, em um dia de agosto de 1945, uniu-se a Luiz Gonzaga para lançar o baião. Embora não seja o rei, Humberto Teixeira é, sem dúvida, um dos donos desse reinado chamado baião.
A sua morte, no ano de 1979, constituiu-se na perda de um dos maiores compositores da música brasileira. Com ela, ficaram órfãos a Asa Branca, o Assum Preto e o próprio Baião.
Marcos Barreto de Melo

Referências Biográficas
(1) SÁ, Sinval, in “O Sanfoneiro do Riacho da Brigada”, 5ª edição, Editora Thesaurus.Brasília, 1978.
(2) Declarações feitas por Luiz Gonzaga ao autor deste artigo em 11/08/84, no Parque Asa Branca, em Exu-PE
(3) Veja (revista semanal brasileira), São Paulo nº 01,11/09/68, Págs. 110/111.
(4) Veja (revista semanal brasileira), São Paulo nº 74,04/02/70, Pág. 5.
(5) Veja (revista semanal brasileira), São Paulo nº 579,10/10/79, Pág. 110.