Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Silêncio

Tempo breve, matéria escassa, espaço limitado
mesmo assim recolho das sobras que posso
algo mágico:

uma infância tenra com ares enrugados
sob as sombras dos dedos.

Escrever versos
em folha branca
sem pauta

traz-me à tona
meu primeiro chocolate
minha primeira farofa de ovo.

Mesmo que amanhã eu morra
para meu conforto
as estrelas há mais tempo
morreram

e só agora
cegam-me os olhos.

Tempo breve, matéria escassa, espaço limitado
e tu entras dentro da minha mente

açoitas meu coração ingênuo
que te responde todos os dias -
mesmo quando não ouço.

Não hei de morrer
após este último vislumbre

como não foge
da minha alma o gosto

do primeiro chocolate
da primeira farofa de ovo.

As estrelas cadáveres
são fábulas.

As estrelas brilham
porque são cacos de vidro.

Decido então não morrer
após este último soluço.

MOTOR TURBO 6.0, FUMAÇANDO por Joao Marni

Lembro-me dos meus aniversários em que havia no bolo menos de uma dúzia de velas e dos gritos agudos em torno da mesa, repleta de irmãos e amigos, do sopro forte apagando-as de uma vez, com o parabéns.
Aparentemente o tempo arrasta-se, mas é de fato meteórico: hoje seriam necessárias sessenta velas ocupando o cume do bolo, uma verdadeira favela de tantos dezembros... Por praticidade, porém, apenas duas - o seis e o zero - e não precisa entrar em apnéia de tanto soprar!
É chegada o momento em que o homem muda de fila e vê os umbrais da última fase da vida a convidá -lo para reflexões tantas, inclusive a coniência de que o vento deste sopro sobre as velas acaba de apagar sua juventude, num adeus ao pensamento da imortalidade e da inimputabilidade tão peculiar desse estágio. O que este cabelos
brancos me avisam e me pedem é que eu fique mais atento ás necessidades das
pessoas e que definitivamente eu quebre o espelho de Narciso. Magicamente, cruzando a lâmina dágua da cascata da vida, vislumbro agora a todos que não ajudei e que de alguama forma não soube compreender.
Peço-lhes perdão.
Propensa como é a mente humana a familiarizar-se com facilidade a qualquer mudança, desde que seja para melhor, sinto-me hoje muito à vontade e confiante para o que se convencionou chamar de terceira idade, pois afinal posso voltar a engatinhar, fazer caretas e mil piruetas sem que ninguém ache que enlouqueci, porque estarei a brincar com os netos... Quando lembro que sarampo, diarréia, remela, unha quebrada e cabeça raspada eram minha mazelas... Comparadas à minha saudade de papai e mamãe hoje, concluo que realmente a infância é a aurora da vida, com o barulho de asas em vôo ascendente num céu azul.
Dos sessenta anos de agora, quarenta têm sido com Fátima, desde fevereiro de 1969, com todos os humores da vida. Sinto-me responsável por cada cabelo branco dela porque contribuí para tingi-los assim. Ou de fato só o tempo é que nos desbota a todos numa nova aquarela? Nesta moldura vê-se cristalinamente que vossos olhares estavam convictos que seríamos mesmo um do outros: ''... esse seu olhar, quando encontra o meu... doce é sonhar e pensar que você gosta de mim e eu de você...''

O outono da vida é a idade em que deixamos de ser jovem. Já não tenho que agradar a todos, só àqueles que realmente me importam: a família e amigos de verdade, catados e cativados ao longo dos anos. Entro agora na ''prorrogação'' da vida, torcendo que o ''gol de ouro " demore a sair! Amanhã, posso até ficar cego, mas já tenho a minha paisagem na memória: vocês, o céu, morros e matas da cidade do Crato. Ao fundo, o arco-íris da minha remota infância.
Abrindo esta nova cortina, sinto que terei que ser bom, melhor e deliciosamente melhor, para que minha família e as pessoas em geral gostem de mim e que Deus venha a me querer. No meu julgamento, que meu coração não pese tanto e que o pai também tenha lapsos de memória!... Se perguntado pudesse eu viver minha vida novamente, diria que a viveria como vivi, podando alguns excessos, mas não todos os meus erros, afinal foram também eles que me compuseram e me trouxeram até aqui.
Concluo afirmando que hoje, nova etapa, sou um homem feliz e sex... sexagenário!

Crato, 21.12.2009
João Marni de Figueiredo

sete palavras

1.
um conselho, leitor de poesia,
não te fies assim no coração
mas prepara-te os dentes, pois é
tempo de chumbo nas palavras,
cada palavra-pedra que se pode
colher nesta cidade com suas linhas
azuis, tetos de ocre e ventania,
fiascos empalhados em sobrados,
mil dores espalhadas pelas sombras,
dias terrivelmente construídos
com influxos de sonhos e gravuras
maiores que teu peito de lirismos

2.
não estou certo, mas creio que a poesia
surgindo das arestas tem um gosto
típico de laranja podre e cheiro
de esgoto misturado com o suor
de todos esses homens que constroem
o dia odiado por mim, inútil
sonhador de presenças sem ferrugem

3.
quero voltar pra casa em silêncio
cansado dos acordos da política
no fundo dos porões, quero mulher
que me faça esquecer ratos com aspectos
angelicais e línguas de navalha
distribuindo engodos como flâmulas,
influências no centro do poder,
busca do verde vivo no papel,
uma por cima da outra, meu amigo
uma por cima da outra, sem moleza

4.
não confie nunca mais no coração
acostumado a versos sobre a lua
hoje é tempo de chuvas, enxurradas
dessas vozes melífluas e gasosas
cantos da casa escura, o barulho
hum! hum! tanto barulho de motores
rompendo sem milagres cada dobra
da noite com camadas de sentido
se esvaindo, mensagens por decifrar

5.
sombra da noite, fúria de mil pés
mil braços sem batalha aguardada
que o coração é um poço de enganos
e quem nele mergulhe parcialmente
seu rosto há de sair um pouco mais velho
desgastado, com voz rouca de quem
saltou do sono e foge do espelho

6.
poemas-guloseimas se repetem,
sabores que as palavras têm depois
de uma taça de vinho, nostalgia
sopro de lábios lívidos no ouvido
poesia sem ter rumo, vastidão
de ruas ensolaradas, gente estrela
cuspindo seus temores sobre as torres

7.
poesia agora é um pouco mais do que
esse açúcar na mesa eviscerada
também é mijo, pinga, pichação
de vitrines, calçadas com rancores,
a coreografia de homens nulos
um monte de palavras perfurando
os ouvidos, os olhos, o real

Iconoclastia

Agora que estás lúcida,
diz-me:

quem ganhou minha alma no bingo?

Aposto que muitos gostariam de tê-la
às mãos.

Tem abismo bem próximo da tua casa.

Na ceia,
antes e após a oração,
os convivas são santos.

Mas, sejamos justos:
meia dúzia adoraria
minha alma pegando fogo.

Triste a morte anunciada.

E os abutres já se debruçavam
sobre minhas costelas rasas
e meus olhos fundos.

No Espírito Santo


Rasgou os ciclos do mundo superior em prístina luz
e se projetou em essência sobre a luminosa criação
buscando sobre a Terra o motivo de sua bela alegria
encontrou em Jesus, a viva imagem de sua expressão.

Estando Jesus limpo de corpo e puro de mente
pelo iniciador João no batismo de água no Jordão,
em suave, esplendoroso e caudaloso véu desceu
o sublime Espírito convertido em Vinho e Pão.

Sentiu Jesus o profundo eflúvio cósmico dentro do seu Ser
e banhou de Luz, Vida e Amor a terra prometida de Israel
buscando a resposta certa em seu flamejante coração
da missão que Seu Sapiente Pai Nele depositou.

Espírito Santo, consciência de universal inteligência
que Te manifestas visível como um reino harmônico
expressando tuas energias em constantes vibrações
qual arco-íris derramado sobre o Teclado Cósmico.

Sublime emanação da Santa Trindade de Deus
Desliza um de Teus imaculados e sábios dardos
sobre esta impura personalidade do meu ser
e faz de mim, uma sentinela dos teus planos.

Não posso jurar ser fiel a Teus intuitivos mandamentos
porque as forças humanas são sempre cambiantes
apoiarei minhas esperanças em minha amada escola de conhecimentos
e submergirei minha ignorância em suas chamas purificantes.

Ao voltar os olhos sobre a senda de minha vida
tratando de reunir as experiências com um feito
sinto que tenho um botão de rosas em minhas mãos
e que nasceu uma pequena cruz rosada no meu peito.

A Vós Confio - F.R.C. R+C

GAROTO PROPAGANDA - Por Mundim do Vale

Fui autorizada por A. Morais a postar os textos de Mundim do Vale pescados no Sonharol.
Eu pessoalmente, adoro o bom humor e a matreirice de Mundim de quem me declarei fã incondicional. Apreciem comigo o bom humor, o ritmo e a agilidade mental do "rapaz ".

Não ganhei nenhum presente
Na passagem do natal,
Porque Noel não é gente
É um boneco virtual.
Fui dormir na esperança
De ganhar uma lembrança
Mas perdi a minha fé.
Na hora que acordei,
Na meia só encontrei
O mal cheiro de chulé.

Fiquei mais contrariado
Porque um vizinho meu
Mostrou um carro importado
Que papai Noel lhe deu.
Será que o bom velhinho,
Enxergou só meu vizinho
Porque anda caducando?
Ou será por preconceito,
Que ele age desse jeito
Só de rico se lembrando?

Já perdi esperança
Nesse Noel trapaceiro
Que só visita criança
Se o pai tiver dinheiro.
Pois eu lhe digo, Noel:
- Eu tenho um pai lá no céu
Que não gosta, disso não.
Quando seu filho nasceu,
Foi pobre assim como eu
Mas deixou uma lição.

Você com o seu saco cheio
E a bengala na mão
Onde tiver aperreio
Não passa por perto não.
Não conhece favelado,
Filho de desempregado
Subproduto de gente.
Porém a casa bonita,
No natal você visita
Para deixar o presente.

Será se você existe
Ou não existe sou eu?
Eu tou aqui muito triste
Por conta do jeito seu.
Passou cantando: - Ou, ou, ou....
Mas comigo não deixou
Nem um pequeno peão.
Ficou seco, o saco seu,
Mas você encheu o meu
De revolta e exclusão.

Você só não sabe disto
Porque é um boneco mal
Mas é para Jesus Cristo
Toda festa de natal.
Você só gosta do cobre,
Não anda em casa de pobre
Porque a mídia não manda.
É uma peça do mercado,
Que foi muito bem treinado
Pra garoto propaganda...


SEMPRE A MINHA ESPERA por Rosa Guerrera


Tua voz chega sempre
onde me encontro
trazendo uma suave melodia
ao meu coração.

E é confortante a certeza
de que alguém
pensa em nós !

É como se nas borrascas
dos mares do meu destino
brilhasse de repente
uma tremula vela
numa jangada distante.

É assim que ouço o teu canto !

Convicta de que
nos senfins das minhas dores,
tua luz estivesse
sempre brilhante...
a minha espera .

Mansidão

Não me lembro
de um natal,
vejamos,
tão silencioso.

Só ouvi estourar um champanhe
lá pra meia noite

quando os dedos dos meus pés
já se acomodavam entrelaçados
aos mais próximos.

Assim, ambos os pés passam a madrugada
agasalhados, revesando, juntinhos
contra o vento monstro.

O ventilador faz um frio monstro.

Imagino os dedos
do Abominável
Homem
das Neves.

Lei - por Domingos Barroso

Bisões não têm ressaca.

Mas gralha quando bebe
amanhece péssima:

os olhos taciturnos
o bico emudecido
de dá dó.

Portanto,
gralha que sou
evito o primeiro copo.

Cardápio do almoço -Sugestão ! Por Socorro Moreira

Depois da noite de ontem com tantas guloseimas, tudo que eu quero é uma panela de baião - de dois , bem molhado de pequisada, e uma porção de paçoca. Coca bem geladinha, né?
E rapadura derretida pra melar um pedaço de queijo de manteiga, como sobremesa .
Tenham um excelente dia ! Eu vou botar o feijão no fogo !
Claude , Stela, Rosineide , Edilma, e todos os amigos daqui estão convidados ...
- Os que gostam de pequi !

Natal ! - por Socorro Moreira




A casa está vazia.
A rede desarmada
O varal sozinho
O fogão limpinho
Pingos do ontem...
Manchas no chão!


Existem momentos,
em que tudo fica mudo
Até o telefone...
Existem momentos
Em que o contato maior se faz
- Ele atende!
Traz amigos
Filhos
Netas
E até um amor...
O Cariricaturas é sua rena
Seu veículo.


Estou apartada de grandes afetos
Estou contigo
Na simplicidade de uma ceia
Regada a pão e leite!
E o coração transbordando amor
Deseja a todos
Um dia de paz



Eu tive natais inesquecíveis. Eles, se chamar, voltam correndo, nas lembranças. O mais marcante é o de hoje!
Em nenhum daqueles anteriores vivi a experiência, na essência, do verdadeiro natal.
E a palavra chave é SOLIDARIEDADE!
A nossa dor não é a maior de todas, nem a fura-bolo, nem a mindinha... A nossa dor é transformadora, e eu posso sentir o prazer de estar viva, e poder contribuir com sonhos , a partir de mim.
No nascimento de Jesus, Nossa Senhora sofreu as dores e as alegrias de uma mãe...
Eu tenho as dores e as alegrias; os mimos dos meus amigos... Eu tenho a vida, que teima em renascer, em forma de esperanças !
Página Branca
(- Por Claude Bloc -)


Se alguém perguntar quem sou,
diga apenas a verdade:
que sou poetisa
que falo do amor e do vento
que me esqueço do tempo.

Se alguém perguntar onde vivo,
diga que vivo aqui e ali
mas que estou sempre perto
de quem eu quero bem.

Se alguém perguntar por onde ando,
diga que me perdi na noite
e que me escondo na madrugada.

Se alguém perguntar onde estou,
diga que estou presa aos versos
soltando a poesia,
na página branca de minha saudade.

Se alguém perguntar se eu amo,
Diga que morri de amor.
***

Claude Bloc
.

Coração de Papel

Música antiga - nova interpretação.

Com Luíza Pozzi

Para Rosa Guerrera - L'important c'est la rose ( Gilbert Bécaud)

Soneto do Amigo - Vinícius de Moraes para Rosa Guerrera


Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.

É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.

Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano.

O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica...

Vinicius de Moraes

Perfil da nossa aniversaiante ...

Nasci em Recife num Natal hoje um pouco distante .Filha de pai italiano e mãe brasileira , trago também no sangue o índio da avó materna . E talvez essa mistura de raças me fez uma mulher com suor híbrido ...romântica , instável , apaixonada , emotiva, sentimental , meio criança , moleca e sonhadora. Deitei muito cedo nas asas da poesia e me deixei embalar até hoje nos acordes harmoniosos de um mundo talvez até utópico ( para alguns ), mas muito concreto para mim. Cursei Jornalismo e Relações Públicas. Fui notíciarista, repórter, produtora, colunista e apresentadora de programas em rádios, tvs e jornais.Hoje exerço assessoria de Imprensa numa Secretaria do Estado. Sou uma mulher simples. Não ambiciono outra coisa senão colaborar para um mundo mais fraterno e mais amor. Amo sem restrições nos ponteiros no relógio do tempo, e deito no papel em forma de crônicas e poemas, experiências, lágrimas, alegrias e paixões armazenadas no meu livro de vida !


( Rosa Maria Guerrera)