Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

ENVIE SUA FOTO E COLABORE COM O CARIRICATURAS



... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

Para participar, envie suas fotos para o e-mail:. e.
.....................
claude_bloc@hotmail.com

sábado, 16 de janeiro de 2010

Psicanálise pelo SUS - colaboração de Ana Lúcia


O importante é ter alguém que ouça os nossos problemas!!!

QUEM FOI QUE MANDOU? - Por Mundim do Vale

Teve uma época em Várzea Alegre que a cidade vivia cheia de ambulantes vendendo frutas e outros produtos de porta em porta. Quando os moradores não interessavam os produtos, perguntavam ao vendedor para descartá-lo:
- Quem foi que mandou?
Uma vez o meu pai que era escrivão, estava numa audiência com o juiz e o promotor, no cartório do segundo ofício, na rua Major Joaquim Alves, quando chegou Araújo com uma cesta de mangas jasmim. O vendedor entrou de uma vez no cartório sem nem pedir licença as autoridades e jogou duas mangas no balcão, enquanto falava quase gritando:
- Ói aqui Pedo Piau! Manga Jasmim da Cachoeira dos Vito. É doce qui só um favo de mé.
O escrivão na intenção de se ver livre do inconveniente perguntou:
- Quem foi que mandou?
Araújo falou mais alto ainda:
- Quem mandou foi Deus. Mais ele dixe qui era prumode o Sinhor pagar o portador.
.
Mundim do Vale
.

Perfil de um anjo



Em 1943, D. Almina Arraes tirou uma foto no estúdio do Sr. Júlio Saraiva, em Crato. Dias depois, um assistente do Sr. Júlio, Sr. Emetério, ex-funcionário da Aba Filmes de Fortaleza, foi entregar a fotografia na residência da fotografada e pediu autorização para levar uma cópia a fim de ser exposta em evento promovido por aquela empresa na capital cearense. A título de curiosidade, eis a peça que ficou um mês em exposição.
(Joaquim Pinheiro Bezerra de Menezes)

Ainda hoje , conversando com Dona Almina, ela se referia à minha mãe como protótipo de beleza da época.
Olhando agora a sua foto , me comovo com a delicadeza dos seus traços.
Eram lindas as nossas mães ! Pareciam anjos , cuja auréola persiste em crescente brilho, a medida que o tempo passa.
Beleza quando é exterior e interior tem uma permanência misteriosa, que só os anjos possuem.
(Socorro Moreira)

Pra comer depois - Adélia Prado

Na minha cidade, nos domingos de tarde,
as pessoas se põem na sombra com faca e laranjas.
Tomam a fresca e riem do rapaz de bicicleta,
a campainha desatada, o aro enfeitado de laranjas:
‘Eh bobagem!’
Daqui a muito progresso tecno-ilógico,
quando for impossível detectar o domingo
pelo sumo das laranjas no ar e bicicletas,
em meu país de memória e sentimento,
basta fechar os olhos:
é domingo, é domingo, é domingo.


Clareira - Adélia Prado

Seria tão bom, como já foi,
as comadres se visitarem nos domingos.
Os compadres fiquem na sala, cordiosos,
pitando e rapando a goela. Os meninos,
farejando e mijando com os cachorros.
Houve esta vida ou inventei?
Eu gosto de metafísica, só pra depois
pegar meu bastidor e bordar ponto de cruz,
falar as falas certas: a de Lurdes casou,
a das Dores se forma, a vaca fez, aconteceu,
as santas missões vêm aí, vigiai e orai
que a vida é breve.
Agora que o destino do mundo pende do meu palpite,
quero um casal de compadres, molécula de sanidade,
pra eu sobreviver.

O Livro do Cariricaturas - edição e lançamento.




Um livro escrito por muitas mãos: uma coletânea com nossos escritores e artistas.

Detalhes :

. Release com fotografia de cada escritor ( 01 página)
• 4 textos por escritor (máximo de 7 páginas - fonte : garamond - altura : 12) - Temática livre ( crônicas, contos e poemas).
• Os textos serão escolhidos pelos próprios escritores;
• um contingente de 200,00 por escritor
• O pagamento poderá ser feito em 4 x 50,00 ( fev-mar-abr-maio)
. O livro será dedicado aos mestres de todos os tempos, representados por Dr. José Newton Alves de Sousa.
- A capa será a foto de Pachelly- essa que já caracteriza o Cariricaturas.
- O título é: "Cariricaturas em prosas e versos"
- Edição: Emerson Monteiro ( Editora de Sonhos - Crato-Ce)
- Dedicatória ( Assis Lima )
- Prefácio/ Apresentação ( José do Vale e Zé Flávio)

-Já estão confirmadas as seguintes adesões:

01. Claude Bloc *
02. Magali Figueirêdo
03. Carlos Esmeraldo
04. Maria Amélia de Castro
05. Ana Cecília Bastos
06. Assis Lima *
07. Socorro Moreira *
08. Stela Siebra de Brito
09. Wilton Dedê
10. João Marni
11. Rejane Gonçalves
12. Rosa Guerrera *
13. Heladio Teles Duarte
14. Edilma Rocha
15. Emerson Monteiro *
16. José Flávio Vieira *
17. João Nicodemos
18. José do Vale Feitosa *
19. Liduina Vilar *
20. Elmano Rodrigues
21. Carlos Rafael
22. Armando Rafael
23. Bernardo Melgaço
24. Domingos Barroso *
25. Roberto Jamacaru *
26.Dimas de Castro *
27.Joaquim Pinheiro *
28.Edmar Lima Cordeiro
29.Hermógenes Teixeira de Holanda
30.Olival Honor
31.José Nilton Mariano
32.Marcos Barreto
33.Isabela Pinheiro

34.José newton Alves de Sousa

* Escritores que já enviaram material para edição.


Lembrem-se:

O envio dos textos será até 31.01.2010.


Outras informações :
Tiragem : 1.000 exemplares
Distribuição entre autores : 20 para cada
Saldo : será transformados em ingressos para cobrir as despesas da festa de lançamento : coquetel, convites, divulgação, banda,decoração, etc
Se houver saldo de livros será redistribuído entre os autores.
Preço do livro por unidade : 20,00
A edição foi orçada em 6.000,00 ( já considerados todos os descontos possíveis).
Número de páginas : 260 ( aproximadamente).
O valor da contribuição por escritor ( 200,00) será depositado numa cta do Editor (Emerson Monteiro) a ser informada por e-mail. Em contrapartida será enviado respectivo recibo.
Atentar para as datas limite de envio do material ,e de pagamento :
Data limite para depósito : Até maio de 2010.

Claude e Socorro Moreira

O sentido da vida - Por Emerson Monteiro

“Se a terra gira em torno do sol ou se o sol gira em torno da terra é uma questão de profunda indiferença.” “Por outro lado”, ele continua: - Vejo muitas pessoas morrerem porque julgam que a vida não é digna de ser vivida. Vejo outros, paradoxalmente, sendo mortos por ideias ou ilusões que lhes dão uma razão para viver – razões para viver são também excelentes razões para morrer. Concluo, portanto, que o sentido da vida é a mais urgente das questões.” (Albert Camus, in O mito de Sísifo).

Há dias claros como a luz das salas de cirurgia, quando a esperança corre solta por um fio brilhante de bisturi, aos olhos vesgos dos especialistas de armas em punho e sorrisos clínicos encobertos por baixo das máscaras brancas da matemática oficial da vida.
Noutros, o barco emperra areia da margem cinzenta das várzeas sem chuva no sertão, paisagens vazias dos córregos cheios de antes, na flor das alvoradas.
Os amigos em festas circulares chegam de repente e denotam cordialidade. Música das almas. Cheiro bom de terra molhada. O vento do estio nas telhas encharcadas de renovos. Portas fiéis. Nuvens...
Depois disso tudo, toca o telefone e o assunto mistura o que se pretende contar... E deixar de lado o desejo incontido de encaminhar um tema no papel, passar a quem lê o que se transcreve do lado de cá do universo, bem próximo dos maiores extremos.
Sentido impõe condições acima de outros aspectos perdidos na ilusão dos sentidos. Um marco único. Duas extremidades do trilho suave da noite das espécies, que fermentam sede monumental do perfeito, uns céus quase dentro das mãos que escapolem por entre os dedos, contas de vidro corrosivo, convergências toscas do sonho imortal da eterna felicidade.
Ainda que encharcados de euforia, leve sopro de brisa desmistifica a fome gritante de verdades perene nesta fase do tempo. Contudo os pássaros cantam; o verde reverbera; o Sol gira no próprio eixo; a Lua surge metálica nos finais das tardes, no poente; as crianças riem na algazarra mais simples e irreverente; as flores; os mananciais; os tetos manchados de rotos sinais, notas musicais, silêncios longos; momentos da alma que geme de dor, amor, espera.
As pulsações em passos lentos percorrem o espaço; qualquer névoa tinge de fulgor o espelho das memórias adormecidas.
Jamais como antes espectros perfurarão o vazio do sentimento. Novas notícias alimentaram o frêmito do coração e pediram (imploraram) esclarecimentos dos próximos passos a seguir. Sonhos em elaboração nas florestas do mistério. Só isto, pronto.

Segunda Chamada...

Convite...


Um dia de sábado , no paraíso de João Marni e Fátima -

Na boa prosa , Dona Almina , Olival, Roberto e Joaquim...
Contam histórias do Crato antigo e alguns dos seus personagens : Seu Abidoral, Seu Sá, Seu Moacir , Moreirinha ...
É como se ensaiassem uma peça de improviso , movimentada por desenhos, música , num cenário novo, onde a flora situa-se !

A simplicidade de uma rainha , acarinhada pelos amigos.

No santuário de Fátima , Dona Almina , contrita, silencia...


Rosineide , Joaquim, Fátima e Dona Almina posam serenidade e alegria.




Maria Alice é o chocolate branco de todos. Basta reparar nesses olhos de piscina , e na expressiva presença de menina.




Avós de netos distantes, matamos as nossas saudades com Maria Alice.
Nada mais gostoso do que sentir essa cabecinha carinhosa , registrando um momento único de pura poesia.

As belas da tarde : Fanca, Rosineide, Adriana e Monalisa.
Lá adiante encontraríamos João Marni grelhando um peixinho, curtindo belíssimas músicas e oferecendo o que de melhor , no seu coração habita : delicada e generosa hospitalidade !
P.S. Estou sentindo falta das fotos que incluem as sonoras gargalhdas do grupo com os" causos" bem contados por Loura, Ida e Márcia. Nossa ... Elas são demais !
Claude, eu juro que não faço de propósito, e que a gente sente a sua falta nos momentos de festa e alegria !
Graças a Deus a vida é bela , temos convênio com o SUS, e o povo lá de cima nos protege !

E porque hoje ainda é sábado...

E porque hoje ainda é sábado, nada nos impede de fazermos um passeio nos versos de outros poetas, quem sabe o Fernando Pessoa...
Fernando Pessoa está naquele seleto grupo de escritores que sempre tem um texto que nos toca fundo na nossa alma.
Estamos alegres? Ele tem um tema.
Estamos tristes? Ele tem algo que nos alegra?
Estamos em dúvida? Ele tem algo que nos faz refletir.
Gosto muito dele.
Vejam que grande lição podemos tirar deste poema de FERNANDO PESSOA.

Posso ter defeitos,
Viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,
Mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo.
E que posso evitar que ela vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver,
Apesar de todos os desafios,
Incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si,
Mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um "não".
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo... "

Um ótimo sábado para vocês ai no Crato.
Eu, aqui em Porto Alegre estou um tanto quanto reflexivo, talvez por isso tenha ido ao encontro de Vinicius e do Fernando - sintam a "intimidade" -.
É que a minha filha Marcela estará retornando amanhã para San Francisco para a conclusão do seu mestrado. Serão pelo menos 4 a 5 meses de ausência física longe dos olhos até o nosso próximo encontro, provavelmente em abril ou maio, não sei bem ainda.
Um abraço a todos.

Marcelo Mourão

Por que hoje é sábado...

Vinicius de Moraes

O dia da criação

Macho e fêmea os criou.
Gênese, 1, 27

I

Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas, como o mar
Os bondes andam em cima dos trilhos
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na cruz para nos salvar.

Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo mal.

Hoje é sábado, amanhã é domingo
Amanhã não gosta de ver ninguém bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado.

Impossível fugir a essa dura realidade
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.

II

Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado
Hoje há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado
Há um rico que se mata
Porque hoje é sábado
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado
Há um espetáculo de gala
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado
Há um grande espírito-de-porco
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado
Há criançinhas que não comem
Porque hoje é sábado
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado
Há um grande acréscimo de sífilis
Porque hoje é sábado
Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado
Há uma tensão inusitada
Porque hoje é sábado
Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado
Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado
Há um grande aumento no consumo
Porque hoje é sábado
Há um noivo louco de ciúmes
Porque hoje é sábado
Há um garden-party na cadeia
Porque hoje é sábado
Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado
Há damas de todas as classes
Porque hoje é sábado
Umas difíceis, outras fáceis
Porque hoje é sábado
Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado
Há uma infeliz que vai de tonta
Porque hoje é sábado
Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado
Há um frenesi de dar banana
Porque hoje é sábado
Há a sensação angustiante
Porque hoje é sábado
De uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado
Há uma comemoração fantástica
Porque hoje é sábado
Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado
E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado
Há a perspectiva do domingo
Porque hoje é sábado

III

Por todas essas razões deverias ter sido riscado do Livro das Origens,
ó Sexto Dia da Criação.
De fato, depois da Ouverture do Fiat e da divisão de luzes e trevas
E depois, da separação das águas, e depois, da fecundação da terra
E depois, da gênese dos peixes e das aves e dos animais da terra
Melhor fora que o Senhor das Esferas tivesse descansado.
Na verdade, o homem não era necessário
Nem tu, mulher, ser vegetal, dona do abismo, que queres como
as plantas, imovelmente e nunca saciada
Tu que carregas no meio de ti o vórtice supremo da paixão.
Mal procedeu o Senhor em não descansar durante os dois últimos dias
Trinta séculos lutou a humanidade pela semana inglesa
Descansasse o Senhor e simplesmente não existiríamos
Seríamos talvez pólos infinitamente pequenos de partículas cósmicas
em queda invisível na
terra.
Não viveríamos da degola dos animais e da asfixia dos peixes
Não seríamos paridos em dor nem suaríamos o pão nosso de cada dia
Não sofreríamos males de amor nem desejaríamos a mulher do próximo
Não teríamos escola, serviço militar, casamento civil, imposto sobre a renda
e missa de
sétimo dia.
Seria a indizível beleza e harmonia do plano verde das terras e das
águas em núpcias
A paz e o poder maior das plantas e dos astros em colóquio
A pureza maior do instinto dos peixes, das aves e dos animais em [cópula.
Ao revés, precisamos ser lógicos, freqüentemente dogmáticos
Precisamos encarar o problema das colocações morais e estéticas
Ser sociais, cultivar hábitos, rir sem vontade e até praticar amor sem vontade
Tudo isso porque o Senhor cismou em não descansar no Sexto Dia e [sim no Sétimo
E para não ficar com as vastas mãos abanando
Resolveu fazer o homem à sua imagem e semelhança
Possivelmente, isto é, muito provavelmente
Porque era sábado.

O Bebê

Estou a esperar um filho.
Barriga enorme.

O rebento nascerá com cara de cerveja.
Gelada, um véu de noiva.

Por mais que eu permaneça sóbrio
esta barriguinha acusa

meia dúzia à mesa,
uma grade debaixo.

Nota-se de longe a gravidez crônica.
Mesmo que eu malhe, reme, vomite.

Estou a esperar um filho.
Não há esperança de aborto.

Seu nome completo Cevada Amido Lúpulo.
Preferencialmente aos sábados.

Aos domingos -
chamem-no apenas de Ressaca.
E ofereçam-lhe chocolate.

Se José do Vale não estivesse de férias , já teria escrito sobre o Haiti.

Haiti ... Não consigo me desligar , por mais que procure a poesia !

O animal dos moteis - por Márcia Denser




“Mas sempre acabo em seus braços / do jeito
que você quer...” - Desabafo - Roberto Carlos

Deitamos ouvindo Roberto Carlos, a voz dos motéis, “por que me arrasto a seus pés?”. Porque sexo é isso mesmo. Essa gana de rastejar com Roberto, no coito dos motéis. Ele diz: esse motel já foi bom, e eu olho o banheiro, caixa amplificadora de fibroplast, as toalhas embaladas em sacos plásticos, os lençóis castanhos com ramagens duvidosas entre encardido e vestígios de cor, os três espelhos redondos, montados em curvim (um em frente ao outro, no meio a cama, o terceiro no teto, sobre a cama), claro que para transformar-nos numa espécie de confuso coquetel de siris assados: pernas, braços, carnes vivas, canteiro de patas, antenas, pêlos moventes, espiando de esguelha uma outra hidra em perspectiva no espelho da frente, de trás, de cima, de baixo, devassados, misturados, confundidos, a 850,00 a diária, porque (e então eu sei porque) todos os motéis é sempre o mesmo motel, o animal mitológico, a quimera que se arrasta interminávelmente na madrugada ao som de Roberto Carlos.
Apoiada nos cotovelos, a cabeça dela surge no horizonte do espelho. A brasa do cigarro, no ponto quase central da bola ensombrecida, como o primeiro sol de um universo, sopra a fumaça:
— Você já leu Hemingway?
— O que?
— Perguntei se você já leu...
— É importante? Ele soergue-se ligeiramente.
— Fatos. Parece que ele só se preocupa com os fatos, no princípio. Naquele conto do toureiro, não lembro o título. Começa que o sujeito bate na porta do patrão, quer voltar às corridas, o patrão não está interessado, diz: só nas noturnas, 300 pesos, discutem o salário. Muito seco, direto. De repente, o patrão olha bem na cara do toureiro e pensa: é assim que todos morrem. E pronto. Eis a cabeça do monstro, a cutilada no boca do estômago, Hemingway nos pega despre...
— E o cara? Morre? reprime um bocejo.
— A morte só o rodeia. Toda a tourada. Ele a persegue. Ela o arranha e o abandona. Mas ele volta a provocá-la. Como um cego. Ou um tolo. É inútil. Duas vezes entre os chifres do touro. Debaixo das patas dos cavalos. A espada se parte. Não acerta — o que é muito simples para um veterano — o local exato no dorso do animal, do diâmetro de uma moeda de prata. A morte apenas o maltrata, como e estivesse brincando, como se ele não a merecesse, como...
— Mas ele morre ou o quê?
— Não sei, o picador,
— Como não sabe? Então esse Hemingway é...
— Precisaria ler a estória
— Certo. Você já me contou.
A brasa desaparece no espelho, se apaga. É como uma sina, ela pensa, contemplar esta cabeça com fria ternura ou recorrer mais para trás, para uma piedade distante detonada pelo álcool, pela solidão, aquele sanduíche cinzento de noites de leitura e insônia e cigarros, como uma única noite boreal, amanhecer e crepúsculo, luz intermediária e intermitência de néon, de café, de galeria, de esperar sem mais esperar, suplicar, implorar por aquilo que sequer tem nome. O toureiro não merecia a morte. É como uma sina. Rastejar com Roberto: “você é mais que um problema / é uma loucura qualquer”, porque ele sabe de uma porção de coisas sem saber, coisas que eu ignoro. Lembra a Maga, uma personagem de Cortázar que, por sinal, ignora Hemingway e este, claro, além de vocês e todos, todos nós, amantes e condenados e Roberto.
Um touro espreita no fundo dos olhos dele: duas faíscas cúmplices transmitem a ordem ao dedo áspero que vadiamente começa a percorrer a coxa, queimado cilindro macio de luz negra. O dedo vai subindo, pincelando as penugens invisíveis — há partículas fosforescentes na superfície da pele — o dedo, e então são os dedos, vão se abrindo, agarrando, numa fofa mordida, a região dos pelos, capturando os lábios, separando-os com delicadeza: o indicador resvala pela fresta úmida. Imobiliza-o um instante lá dentro e então o leva à boca. A cabeça está inclinada sobre seu ventre, mas ela sabe que ele sorri: um garoto mergulhando o pão na panela e experimentando o molho. Olha-a, a mão agora pousada no seio, o tato pegajoso, feito clara de ovo.
— Você complica tudo. As faíscas divertidas, perversas. Como se fosse possível o amor, como se fosse muito fácil, muito simples. Possível. Fácil. Simples. Do diâmetro de uma moeda de prata. Uma fresta úmida. O ponto exato. Amor.
— Nunca estive na Espanha, ou no México. Ela acende outro cigarro.
— Ou aqui. Está precisando de um homem.
— Já pensei nisso. Aliás, não faço outra coisa.
— Pergunto se você já fez algo a respeito.
— Sinceramente...
— Por você mesma. Imagina que eu sou um idiota. Sei o que está pensando. Essa estória de toureiros fodidos e do tal Hemingway. Muito complicado, não acha?
— Então, nada de romance?
— As mulheres não mudem...
— Nem os homens. É bobagem. Penso: sinto-os pulsar aqui dentro, cegos, surdos, solitariamente, me tocando até a loucura, me penetrando até a loucura. Certo, o prazer também é meu, mas duplamente solitário, uma tarefa que cumprimos tão distraidamente, tão alheiamente como um violino que se tocasse a si próprio num dormitório de quartel, tarefa da qual só poderia, só deveria, nascer amor e música, no entanto...
— Roberto Carlos, aponta o alto-falante.
— Não estou falando de fundo musical, e depois isso é outra estória (“por que me arrasto?”).— Está querendo dizer que eu só me masturbo?
— Que nós.
— Isso. Que nós.
— Também não sente assim?
— Sei lá. Às vezes...
— É isso.
— O que quer? É bom pra mim, bom pra você...
— Exato. Bom-mim, bom-você, um em Guadalupe, outro no Japão, se fodendo por controle remoto.
— Garota engraçada, você. Vamos beber? Fisgou o cardápio na mesinha.
A brasa inflamou-se novamente no espelho: uma erupção solar. Mas este já é um outro capitulo: agora beber, começar a beber e ladeira abaixo.
— Vodca. Quero vodca.
— Pura? O telefone suspenso na pergunta, a expressão surpresa.
— Não. Com gelo.
Pousa o fone no gancho. Fita-a intrigado, ajustando o travesseiro.
O corpo enorme, em potente repouso, não faz parte do rosto. Coça os cabelinhos do peito. Ela está enrodilhada ao pé da cama (como se camas redondas tivessem alguma referência. São como o universo, não há direção, norte, sul, direita, esquerda, em cima, embaixo, esses caras são mesmo diabólicos, Deus é diabólico, ou seremos nós que...)Ele se inclina, acariciando-lhe as ancas dobradas, avaliando-as no espelho às suas costas, as nádegas projetando aquele invisível biquíni de sol. Afaga-lhe o rosto, os cabelos, hesitando, ganhando tempo, subornando, com medo de falar:
— Bebe sempre vodca pura?
— As bandejas passeiam no pátio repletas de coquetéis de frutas, martinis doces...— O que há de errado?
— Para as garotas boazinhas.
— E você? Não é? O dedo contorna os lábios: vai me calar, me silenciar com esse beijo, entupir-me com essa língua, porque esses encontros são acidentes vertiginosos cujo resultado é o titã de mil olhos, mil bocas famintas que murmuram te amo, te amo, e que respondem te amo, te amo, zumbindo num cercado de mentiras ciciantes de sons no espelho, dimensão da penumbra da vida, caixa de música abafando um só tema a repetir te amo, te amo, perseguindo o elo de uma cadeia prisioneira que nos abandona assim que sai da nossa boca, e a sua repetição implica na perseguição eterna daquilo que já esteve atrás da boca, do travesseiro. Ao formularmos com os lábios o rolo doce da língua e da saliva, saltamos à frente do tempo e imediatamente já nos sentimos abandonados por esse pássaro fugidio, que se debate te amo, te amo, ato irrefletido de cuspir, separar as coxas e tomar a primeira estocada, recuar, avançar, senti-lo rígido como um cilindro de aço vivo e então capturá-lo, mas, de leve, uns cinco centímetros, não mais, de repente, sugá-lo todo para dentro, frente a frente, de cócoras, como crianças agachadas brincando com bolinhas de gude, hipnotizadas pelo movimento das bolinhas que rolam, evoluem, param, prosseguem — o entrechoque das bolinhas liquidas — nova fisgada, novo recuo de quadris; as bocas navegando nas bocas, no rio das bocas, no mar das bocas, nas cavernas dos dentes e da língua, na correnteza das bocas, gargantas, ventres molhados e, lá embaixo, o borbulhar estourando as margens que recuam, cedem, enquanto ele bombeia, macho e terno, e bate e bate, martela o limite viscoso, implorando para nascer de novo, e combate e se estimula e a maltrata porque ela uiva, sussurra obscenidades — as primeiras palavras que um homem escuta, e as últimas — evoluindo, insuportável, maldita, insuportável, adorável, não é mais prazer, não é mais dor e é o milagre, a vertiginosa erupção, um terremoto visto ao longe e o centro de um furacão, assistir uma catástrofe atômica e, ao mesmo tempo, estar no centro dela, como Deus, como Deus, como Deus.
Depois do violento crepitar frio, o movimento cessa e então voltar a ouvir o vento se lastimando nas marquises dos edifícios, nas estruturas de aço da cidade industrial mais próxima e, não fosse o vento, poder ouvir até a nós mesmos (que é a última coisa que gostaríamos de ouvir na freqüência dos motéis), por isso, nosso ego logrado retorna, monstro rugidor e oceânico, às cavernas interiores, lá se aferrolhandoLá em cima, no espelho, duas, quatro, seis, oito larvas rotas, libertas do emaranhado.Termina a cerveja e dá-lhe uma palmada na coxa:
— Vamos (“pensando bem, amanhã eu nem vou trabalhar / e além do mais...”)— Ainda tem vodca. Ela aponta um dedo preguiçoso para o copo dois terços vazio.— Fica pra outra vez, já veste a camisa


(Extraído do livro Animal dos Motéis, Civilização Brasileira-Massao Ono / Editores — São Paulo, 1981, pág. 9)

Repassando um exercício da Oficina da Escrita ( saudades da Professora Claude) - por Socorro Moreira

Se não houvesse ...

se não houvesse relógios
se não houvesse trens
se a felicidade fosse vendida
e as alegrias também
muito dinheiro teria
o pobre, que alegria tem.
felicidade teria
o rico , que poder tem.
e o homem seria livre
e o mundo, livre também !

(socorro moreira)

Um Bonde Chamado seu Beijo - Elisa Lucinda



Quem encobrirá meu sono?
Beijará quem minhas costas no cotidiano?
Quem, no meio do frio, me cobrirá com lindas orelhas
e me dirá palavras indecentes nos ouvidos?
Quem, atrevido, me acordará com o ponteiro em riste
como um pássaro que não quer tudo
apenas o céu, a gaiola, o alpiste?
Quem que, quando eu dormisse, por mim zelasse
e eu, quando acordasse, lhe fizesse iogurtes brejeiros
massagens nos pés, cumplicidades de enlace?
Quem me agarrará por trás quando eu sair cheirosa do banho
e terá orgulho de eu ser guerreira e perfumada ao mesmo tempo?
Quem em bom senso dirá que muito me assanho
quem orientará a guerrilha diária a que me proponho
quem será inteligente e gostoso a meu lado como está no meu sonho?
Quem, a quem me disponho a cozinhar e fazer versos
quem racional e perverso cochichará nos tímpanos da minha alma
a doce ordem, a venal palavra: Calma?
Quem com sua alma me mostrará um mar vertical?
Quem, meu igual, me apontará andores reais, sem excesso de glacê no bolo
Com determinação de touro e a nobreza de poder ser banal?
Quem, coisa e tal, me beijará a boca e me enfiará as mãos
por debaixo da barra do segredo do vestido
e um dia passeará comigo no segredo contido na Barra do Jucu?
Quem, senão tu que eu elejo, eu planejo, pode habitar o lugar
a suíte que há tanto tenho reservado?
Quem, encomendado, pode me manter na confiança dos edredons
enquanto não chega?
Quem, com certeza, me visitará num outubourbon no gume da lira
de eu ser égua, cadela, mulher e sua?
Quem sobre mim sua, pinga, chove?
Quem que com lucidez resolve o abismo simples de prever o risco de sonhar
pra nele mesmo cair, rir
e se embolar?
Quem me dará a idéia de conceber a saudade no sentido tático
quem, não estático, de longe me fará cometer poemas de meia-noite?
Quem, sem favor, me estende o braço com rosas na mão
com explicação pro meu calor?
Quem, senão meu doido bondinho
meus olhos acesinhos, meu comedor...
Meu triz, meu risco
meu cristo redentor?

Elisa Lucinda

Cor-respondência - por Elisa Lucinda



Remeta-me
os dedos
em vez de cartas de amor
que nunca escreves
que nunca recebo.
Passeiam em mim estas tardes
que parecem repetir
o amor bem feito
que você tinha mania de fazer comigo.
Não sei amigo
se era seu jeito
ou de propósito
mas era bom
sempre bom
e assanhava as tardes
Refaça o verso
que mantinha sempre tesa
a minha rima
firme
confirme
o ardor dessas jorradas
de versos que nos bolinaram os dois
a dois
Pense em mim
e me visite no correio
de pombos onde a gente se confunde
Repito:
Se meta na minha vida
outra vez meta
Remeta.









Da beleza de Deus - por Ana Cecília S.Bastos



Olhos alados.
Palavras sem trégua.
Mas não escrevo, poesia distante.
Meu manuscrito circulando.
Leitores reticentes.
Dentro de mim o dragão, olhos alados.

Sou um continente e seus rios que correm, mansos e em fúria.
Sou as palavras desatadas quando algo me desperta, algo
gratuito e fortuito disperso
em algum atalho,
eu sem caminhos.

Apenas um caminho, e eu distante.
Rios fluem mansamente.
Persisto no erro, furiosamente.
Rios fluem, e sou eu.

Perco a palavra e o destino.
Só o amor de Deus me salva,
a mim,
que não fiz por merecer.


Remando contra a corrente. Foto de Mário Vítor.

On line - por Ana Cecília S.Bastos



Por que tais poemas e não outros
aqui se perfilam on line?
Por quem se desdobram,
que nem sinos,
os poemas?


Em algum lugar há um saber deles,
com eles,
à sua revelia.


Um saber que nem vidro estilhaçado,
que nem imagens que se dissolvem na névoa,
que nem corações
partidos.



Franja. Foto de MVítor.

Verão na Bahia - por Ana Cecília S.Bastos


Apenas isto:
a visão deste céu me dilacera.
E no verão da Bahia, sempre,
tudo é esplendor.

E eu,
silêncio.

Igreja de Malhadas, Ba. Foto de MVítor.

O Ressuscitante - Cecília Meireles

Meus pés, minhas mãos,

meu rosto, meu flanco,

- fogo de papoulas!

E hoje, lírio branco!


Pela minha boca,

por minhas olheiras,

- arroios partidos!

E hoje, albas inteiras!


Eu era o guardado

de sinistras covas!

E hoje visto nuvens

cândidas e novas!


Vi apodrecendo,

com dor, sem lamento,

meu corpo, meu sonho

e meu pensamento!


E hoje, sou levado

por entre as caídas

coisas – transparente!

(Do Livro Vaga Música)

O Cariricaturas , convida !


Convite !


NO ESPELHO ... por Rosa Guerrera

EU!
Um muito de nada.
Um muito de tudo.
Sem subterfúgios,
Exigente, malcriada
,afoita , bandida...
Moleca, vadia , despreocupada
Por momentos delicada, noutros rude, desconfiada.
Outras vezes, meiga e atenciosa
.Amarga e doce ao mesmo tempo.
Discreta, calada ,observadora.
Não gosto das linhas retas,
Tortuosos são os versos dos meus poemas
Ando pelo avesso
quando me sinto menina no sorriso
e mulher no instante da paixão.
Não sou anjo nem demonio.
Mas conheço de perto o céu e o inferno dos homens!
.Sou dividida em mil pedaços !
Mas em todos esses fragmentos eu me encontro inteira
E continuo sendo EU.

Arroz Preto - Histórico





Um arroz de grão curto e meio arredondado, textura macia, sabor e aroma acastanhado e coloração preta.

Cultivado na China há mais de 4 mil anos, com fama de produto afrodisíaco era chamado de “Arroz Proibido”, pois era consumido apenas pelo Imperador, cabendo a seus súditos somente a produção dos grãos.

No Brasil, a pesquisa teve início em 1994, desenvolvida pelos pesquisadores do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), órgão da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, para as características de solo e de clima paulistas, e batizado com o nome de IAC-600.

O Arroz preto tem 20% a mais de proteína, 30% a mais de fibra, tem menos gordura e menor valor calórico que o arroz integral.

É mais rico em compostos fenólicos que são benéficos à saúde humana, pois são substâncias que previnem o envelhecimento por seu poder antioxidante.

Por ser um produto exótico, é muito apreciado pelos chef’s da gastronomia nacional e internacional.

INTRODUÇÃO

Preocupado com a situação da orizicultura paulista o Instituto Agronômico iniciou em 1992 um programa de melhoramento genético com o objetivo de desenvolver variedades de arroz com tipos especiais de grãos para atender a demanda de nichos de mercado destinados à culinária mundial. Dentre esses novos produtos destacam-se aqueles com película colorida, caso específico do arroz com película preta, tipo bem difundido na Europa e nos Estados Unidos, oriundo da China, onde é produzido há mais de 4.000 anos.

A partir da década de 80, a China intensificou o melhoramento para arroz preto e hoje existem mais de 50 variedades modernas cultivadas naquele país. Com as pesquisas iniciadas em 1994, o Instituto Agronômico tem a grande satisfação de colocar à disposição dos orizicultores de São Paulo a IAC 600, primeira cultivar de arroz preto lançada no Brasil, para atender a demanda da cadeia produtiva de arroz.

Essa cultivar, IAC 600, é Oryza sativa, e não deve ser confundida com o chamado arroz selvagem que é outra gramínea (Zizania sp.).

ORIGEM

A cultivar IAC 600 originou-se de seleção massal realizada em 1994, em uma população da variedade chinesa Wang Xue Ren apresentava segregação para várias características agronômicas e culinárias.

Dessa seleção originaram aproximadamente 150 linhagens com diferentes tipos de grãos, panículas e porte de planta, até que no ano agrícola de 1996/1997 a linhagem IAC 1762 apresentou boa estabilidade agronômica e com potencial produtivo adequado para o padrão de tipos especiais, adaptando-se aos sistemas de plantio irrigado e terras altas com irrigação suplementar.

Testes de qualidade culinária realizados nos Estados Unidos revelaram um aroma acastanhado e teor de compostos fenólicos altos, dando a essa linhagem características específicas. A partir de 2001, iniciou-se a purificação de sementes e os experimentos avançados nas regiões produtoras do Estado de São Paulo para estimar o Valor de Cultivo e Uso (VCU).

COMPOSIÇÃO

A película que envolve o grão do arroz integral preto é rica em:

Hidratos de carbono, óleos, proteínas, compostos fenólicos, fibras, cobalto, vitaminas: A, B1, B2, B6, B12, niacina, ácido nicotínico, ácido pantatênico, pró-vitaminas C e E.

Clique aqui e veja o laudo emitido pelo ITAL (Instituto de Tecnologia de Alimentos).

VANTAGENS

Valor calórico reduzido.

Evita a formação de resíduos tóxicos que poderiam causar fermentação excessiva (flatulência) ou prisão de ventre.

Evita transtornos metabólicos e dos órgãos, que poderiam levar à obesidade, degeneração celular ou doenças malignas.

Promove melhoria na função celular, no fluxo sangüíneo, na oxigenação dos tecidos e do cérebro, harmonizando as funções dos órgãos internos.

Auxilia na formação do sangue, juntamente com o ferro.

Participa da manutenção e integridade dos vasos e do fluxo sangüíneos.

Previne o envelhecimento precoce, a hipertensão arterial, o diabetes, doenças da pele, além de beneficiar o funcionamento do coração e dos rins.

UTILIZAÇÃO

O arroz integral preto, sob a forma de papa, tem importante papel no início da alimentação infantil, convalescentes ou debilitados.


CARACTERÍSTICAS CULINÁRIAS

Este tipo de arroz é para ser consumido na forma integral, possui aroma e sabor acastanhado, grãos muito macios após o cozimento, com excelentes qualidades nutricionais, se comparado aos tipos tradicionais.

REAÇÃO A DOENÇAS

A cultivar IAC 600 é altamente resistente às raças fisiológicas do agente causal da brusone ocorrentes no Estado de São Paulo, tanto nas folhas como nas panículas. Os resultados confirmam os testes com marcadores moleculares realizados pela USDA/Texas. Em relação à mancha de grãos e queima das bainhas, a IAC 600 é bastante resistente.

EQUIPE DE PESQUISA

Melhoramento: Cândido Ricardo Bastos e Luiz Ernesto Azzini - CAPTA de Grãos e Fibras (IAC); Omar Vieira Villela - PRDTA do Vale do Paraíba (DDD) e Anna M. McClung - USDA/ARS-Beaumont, Texas.

Fitotecnia: Paulo Boller Gallo - PRDTA do Nordeste Paulista (DDD); Lúcia Helena Signori Melo de Castro e Vanda Maria Angeli Malavolta - CAPTA de Grãos e Fibras (IAC).

Apoio técnico: Maria Eunice Braga Ferreira; Takio Oda, José Rogério de Oliveira e Sérgio José Coradelo.


Alma de gueixa- por Socorro Moreira


manhã chuvosa
mágoas lavadas
vivem o dom e o tom
novo dia !

água da chuva
lava teus pés cansados
na cânfora adormecidos

sem cereja na boca
sem graúna nos olhos
ocidental nos anelos
calos de rendeira
azeitado desejo

um cheiro de flor
lembra a nossa história
acorda,
tá na hora...
o sol voltou !


Linha do horizonte - por Socorro Moreira


Até a poesia do teu silêncio

me preenche

E o nosso encontro,

na linha do horizonte,

em qual Janeiro será?

Inanimada- Socorro Moreira


sábado nascente

tangendo a poeira da sexta

feijão sem tempero

peixe frito no azeite

farinha que engasga a saudade

o banho de sal

a essência floral

e a preguiça mortal

de esquecer que estás vivo

a vida não é velório

ela precisa de um grito

ser desenho animado

ser filme !

Desprendimento - por Socorro Moreira


Um ato que se repete .
Começa no primeiro instante,
no corte umbilical
E com isso a vida diz :
aprende a conviver, amar e separar !
Um amigo especial está fora de mim
Com ele se foi a poesia
ou a poesia persiste em mim?
Os amores não se perdem
quando as pessoas de nós
se despedem
O amor se inaltera, e até cresce...
Mesmo no silêncio !
Quem se desliga
não está impedido de sentir
e dizer : te amo !

Hora Final - Léon Denis

“Quantas existências, quantos corpos, quantos séculos, quantos serviços, quantos triunfos, quantas mortes necessitamos ainda?André Luiz




Que se passa no momento da morte e como se desprende o Espírito da sua prisão material? Que impressões ou sensações o esperam nessa ocasião temerosa? É isso o que interessa a todos conhecer, porque todos cumprem essa jornada. A vida foge-nos a todo instante: nenhum de nós escapará à morte.
As sensações que precedem e se seguem à morte são infinitamente variadas e dependentes, sobretudo do caráter, dos méritos, da elevação moral do Espírito que abandona a Terra. A separação é quase sempre lenta e o desprendimento da alma opera-se gradualmente. Começa, algumas vezes, muito tempo antes da morte e só se completa quando ficam rotos os últimos laços fluídicos que unem o perispírito ao corpo. A impressão sentida pela alma revela-se penosa e prolongada quando esses laços são mais fortes e numerosos. Causa permanente da sensação e da vida, a alma experimenta todas as comoções, todos os despedaçamentos do corpo material.
Dolorosa, cheia de angústias para uns, a morte não é, para outros, senão um sono agradável seguido de um despertar silencioso. O desprendimento é fácil para aquele que previamente se desligou das coisas deste mundo, para aquele que aspira aos bens espirituais e que cumpriu os seus deveres. Há, ao contrário, luta, agonia prolongada no Espírito preso à Terra, que só conheceu os gozos materiais e deixou de preparar-se para essa viagem.
Entretanto, em todos os casos, a separação da alma e do corpo é seguida de um tempo de perturbação, fugidio para o Espírito justo e bom, que desde cedo despertou ante todos os esplendores da vida celeste; muito longo, a ponto de abranger anos inteiros, para as almas culpadas, impregnadas de fluidos grosseiros. Grande número destas últimas crê permanecer na vida corpórea, muito tempo mesmo depois da morte. Para estas, o perispírito é um segundo corpo carnal, submetido aos mesmos hábitos e, algumas vezes, às mesmas sensações físicas como durante a vida terrena.
Outros Espíritos de ordem inferior se acham mergulhados em uma noite profunda, em um completo insulamento no seio das trevas. Sobre eles pesa a incerteza, o terror. Os criminosos são atormentados pela visão terrível e incessante das suas vítimas.
A hora da separação é cruel para o Espírito que só acredita no nada. Agarra-se como desesperado a esta vida que lhe foge; no supremo momento insinua-se-lhe a dúvida; vê um mundo temível abrir-se para abismá-lo e quer, então, retardar a queda. Daí, uma luta terrível entre a matéria, que se esvai, e a alma, que teima em reter o corpo miserável. Algumas vezes, ela fica presa até à decomposição completa, sentindo mesmo, segundo a expressão de um Espírito, “os vermes lhe corroerem as carnes”.
Pacífica, resignada, alegre mesmo, é a morte do justo, a partida da alma que, tendo muito lutado e sofrido, deixa a Terra confiante no futuro. Para esta, a morte é a libertação, o fim das provas. Os laços enfraquecidos que a ligam à matéria destacam-se docemente; sua perturbação não passa de leve entorpecimento, algo semelhante ao sono.
Deixando sua residência corpórea, o Espírito, purificado pela dor e pelo sofrimento, vê sua existência passada recuar, afastar-se pouco a pouco com seus amargores e ilusões; depois, dissipar-se como as brumas que a aurora encontra estendidas sobre o solo e que a claridade do dia faz desaparecer. O Espírito acha-se, então, como que suspenso entre duas sensações: a das coisas materiais que se apagam e a da vida nova que se lhe desenha à frente. Entrevê essa vida como através de um véu, cheia de encanto misterioso, temida e desejada ao mesmo tempo. Após, expande-se a luz, não mais a luz solar que nos é conhecida, porém uma luz espiritual, radiante, por toda parte disseminada. Pouco a pouco o inunda, penetra-o, e, com ela, um tanto de vigor, de remoçamento e de serenidade. O Espírito mergulha nesse banho reparador. Aí se despoja de suas incertezas e de seus temores. Depois, seu olhar destaca-se da Terra, dos seres lacrimosos que cercam seu leito mortuário, e dirige-se para as alturas. Divisa os céus imensos e outros seres amados, amigos de outrora, mais jovens, mais vivos, mais belos que vêm recebê-lo, guiá-lo no seio dos espaços. Com eles caminha e sobe às regiões etéreas que seu grau de depuração permite atingir. Cessa, então, sua perturbação, despertam faculdades novas, começa o seu destino feliz.
A entrada em uma vida nova traz impressões tão variadas quanto o permite a posição moral dos Espíritos. Aqueles – e o número é grande – cujas existências se desenrolam indecisas, sem faltas graves nem méritos assinalados, acham-se, a princípio, mergulhados em um estado de torpor, em um acabrunhamento profundo; depois, um choque vem sacudir-lhes o ser. O Espírito sai, lentamente, de seu invólucro: como uma espada da bainha; recobra a liberdade, porém, hesitante, tímido, não se atreve a utilizá-la ainda, ficando cerceado pelo temor e pelo hábito aos laços em que viveu. Continua a sofrer e a chorar com os entes que o estimaram em vida. Assim corre o tempo, sem ele o medir; depois de muito, outros Espíritos auxiliam-no com seus conselhos, ajudando a dissipar sua perturbação, a libertá-lo das últimas cadeias terrestres e a elevá-lo para ambientes menos obscuros.
Em geral, o desprendimento da alma é menos penoso depois de uma longa moléstia, pois o efeito desta é desligar pouco a pouco os laços carnais. As mortes súbitas, violentas, sobrevindo quando a vida orgânica está em sua plenitude, produzem sobre a alma um despedaçamento doloroso e lançam-na em prolongada perturbação. Os suicidas são vítimas de sensações horríveis. Experimentam, durante anos, as angústias do último momento e reconhecem, com espanto, que não trocaram seus sofrimentos terrestres senão por outros ainda mais vivazes.
O conhecimento do futuro espiritual e o estudo das leis que presidem a desencarnação são de grande importância como preparativos à morte. Podem suavizar os nossos últimos momentos e proporcionar-nos fácil desprendimento, permitindo mais depressa nos reconhecermos no mundo novo que se nos desvenda.

Texto retirado do livro “Depois da Morte” - Léon Denis

Peixe à delícia para um sábado "sorridente"



Esta receita é na minha opinião uma das melhores comidas do Ceará, junto com a carne de sol com baião-de-dois, que faço de vez em quando. São postas ou filés de peixe assadas/os com bananas em um molho branco. Pode-se também adicionar leite de coco, que não faz parte da receita original, mas que tem tudo a ver. Você precisará de:

Um peixe de bom tamanho, cortado em postas ou filés. Depende de quantas pessoas você planeja alimentar, digamos que para 4 ou 5 pessoas você precisa de um peixe de 1kg a 1.5kg. Pode ser a princípio qualquer um, todos ficaram ótimos.
  • Um vidrinho (200ml) de leite de coco
  • 6 ou 7 bananas prata
  • uma ou duas cebolas
  • 4 colheres de sopa de farinha de trigo
  • meio-litro de leite
  • 75g de manteiga
  • sal
  • 50g de queijo parmesão ralado

Unte um prato para assar com óleo ou manteiga, e dispõe as postas ou filés de peixe no fundo. Descasque as bananas, corte elas em dois no sentido cumprido, acomode-as entre as postas ou filés, e despeja metade do leite de coco por cima.

Em uma panela, derrete a manteiga, e frite a cebola cortada bem fininho. Quando fica dourada, adicione a farinha, misture bem, e faça um molho béchamel assim: Sem parar de mexer, acrescente leite aos poucos, deixe engrossar, acrescente mais leite, deixe engrossar de novo, e assim por diante. quando começa a não querer engrossar mais tanto, o molho está pronto.

Despeje o molho em cima do peixe, espalhe e regue com o resto do leite de coco. Polvilhe o parmesão ralado por cima.

Asse em forno quente (>250°) por mais ou menos 45 minutos. Sirva acompanhado de arroz branco ou outro de sua preferência ( arroz à grega, quem sabe).

Pretexto - Por Claude Bloc