Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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terça-feira, 25 de outubro de 2011

O "golpe do calendário" - José Nilton Mariano Saraiva

Não se trata de nenhuma descoberta da pólvora: pra que haja desenvolvimento, em qualquer cidade que se preze (ou numa comunidade minimamente organizada), a geração de emprego e renda é uma premissa básica, obrigatória; assim, se o seu gestor maior (prefeito, líder ou coisa que o valha) não conseguir atrair investidores particulares em potencial (através da oferta de certas facilidades – doação de um terreno, por exemplo - ou isenções tributário-fiscais para que se instalem no município), ou até mesmo cair na besteira de entrar em conflito com o governo do Estado, a tendência é que se processe um esvaziamento progressivo daquela localidade. A cidade do Crato, por exemplo. Verdade ou mentira ??? Certo ou errado ???
E aí, o próprio poder municipal tende a, obrigatoriamente, funcionar como uma espécie de imenso guarda-chuva gerador de emprego e renda, através das suas diversas secretarias (cada uma com uma atividade específica, evidentemente), a fim de que o cidadão (munícipe/empregado) tenha condição de pelo menos fazer a “roda girar” (ou seja, “consumir”, a fim de que a economia não entre em colapso). Verdade ou mentira ?? Certo ou errado ???
Pois bem, meses atrás, exatamente nessa época do ano (vésperas do Natal/Ano Novo), sob a alegativa da premente necessidade de enxugar a máquina (ou podar seus custos), a prefeitura da cidade do Crato resolveu presentear quase trezentas (300) pessoas com um mimo inusitado: o “bilhete azul” ou demissão sumária, sem choro nem vela (assim, pais de família de repente ficaram sem condição de sequer comprar o presente de Natal da garotada, além do comprometimento do próprio ganha pão diário). Verdade ou mentira ??? Certo ou errado ???
Estranhamente, hoje, embora não se tenha notícia de que a prefeitura do Crato haja conseguido agregar novas fontes de renda (além das tradicionais dotações orçamentárias), a administração municipal do Crato anuncia a abertura de um concurso para preencher, coincidentemente, cerca de 300 vagas nos quadros da prefeitura.
Agora, observemos um “pequeno-grande detalhe” (mas de suma importância) em tudo isso: as inscrições para o tal concurso serão realizadas já nesse final de ano (nov-dez/2011); como, de praxe, as provas deverão se realizar três meses após as inscrições (aí pelo mês de março/2012); a terceira etapa, da divulgação do resultado, normalmente se dará entre 60/90 dias depois (final de junho/2012, aproximadamente); e então, a prefeitura estará apta a convocar os aprovados a tomarem posse (a partir de julho/2012).
E aí é que pinta no pedaço o tal do “golpe do calendário”: todo mundo tá careca de saber que em outubro/2012 se realizará a eleição pra escolha do sucessor do atual mandatário (após uma sofrível administração), que quebrará lanças pra eleger o respectivo afilhado. Convocando (ou dando emprego) às vésperas da eleição, a 300 pessoas, teoricamente o ungido se beneficiará de tal handicap (obterá mais votos), mesmo que ele mesmo não saiba como ou o que fazer pra arcar com os imensos custos futuros (e se o vencedor for um oposicionista, que se vire pra desativar essa autêntica “bomba-relógio”).
Como se vê, a desfaçatez e irresponsabilidade imperam na arena política: lá atrás, a prefeitura do Crato mandou para o olho da rua cerca de 300 pessoas e, agora, às vésperas de uma eleição, e na tentativa de se beneficiar eleitoralmente, abre concurso pra preencher exatamente as tais 300 vagas (mesmo que suas receitas não tenham tido nenhum acréscimo), desde que consiga que os desavisados sufraguem seu candidato. Quando o povo irá acordar ???

A Rajada e o Tiro Certeiro - Alberto Dines

O Alberto Dines é um jornalista da velha guarda. Liberal, conservador, mas com uma virtude essencial: sabe o que é ser o jornalismo. Aquele que apresenta a informação, confronta os contraditórios e só então apresenta a própria versão (análise). Se não concordamos com a versão dele, não perderemos a viagem, ainda estão intactas a informação e as contradições. Acontece que a grande imprensa brasileira tomou partido. Por isso apenas tem a própria versão e esvaziou o conteúdo da informação e o contraditório. O episódio do ministro do Esporte é bem este tipo e como sempre um dos grandes veículos: a revista Veja.

Nesta análise do papel da revista Veja no episódio Orlando Silva Alberto Dines consolida uma visão da notícia. Inclusive parte do que circulou que atinge o PC do B na unidade mais sensível a ele que o jogo fora da corrupção burguesa. O partido tem que fazer muita autocrítica e apresentar à Sociedade algo convincente.

por Alberto Dines

Balística e jornalismo investigativo têm algo em comum: independente do calibre da arma e da força do projétil, é crucial avaliar o ângulo do disparo e a vulnerabilidade do alvo.

As denúncias da Veja contra o ministro do Esporte, Orlando Silva, publicadas no fim de semana 15-16 de outubro (edição 2239) devem demorar a derrubá-lo ou talvez nem o derrubem. Foram formuladas canhestramente. São ineficazes.

Para começar: o denunciante é réu. Portanto, suspeito. Tem ficha de truculento, negocista, policial-bandido, miliciano típico. Esteve envolvido no mesmo esquema que agora tenta demolir. Faz parte do mesmo bando que agora está sendo investigado. O desvio de verbas do ministério para ONGs que promovem o esporte assistencial já estava sendo investigado há mais de dois anos pelas polícias de Brasília e Federal, pela CGU e pelo Ministério Público.

O fato novo, bombástico, é a entrega de dinheiro vivo na mão do ministro ou de seu motorista. E esta tremenda novidade não colou porque carece de provas. Veja embarcou em nova aventura denuncista sem ter qualquer comprovante. Saiu atirando.

Fora dos holofotes

Na ânsia de ganhar o campeonato nacional de tiro-aos-ministros, o semanário fez escolhas estratégicas erradas. Quando a Folha de S.Paulo atirou em Antonio Palocci, mirou apenas em seu incrível e vertiginoso enriquecimento. Não pensou no PT nem em alvos próximos. Apontou, atirou, acertou na mosca, Palocci estrebuchou um bocadinho e emborcou.

O frenesi ideológico dos atiradores de Veja leva-os a optar pela rajada e esta nem sempre é mais letal do que o tiro único, certeiro. Queriam pegar o ministro e também o seu partido, fazer o trabalho completo. Não pegaram nem um nem outro.

O PCdoB, tal como uma porção significativa da base aliada, está envolvido em bandalheiras. Sua imagem de estoicismo e idealismo há muito evaporou. A vigorosa reação dos familiares das lideranças comunistas históricas em seguida à propaganda televisiva do partido (Anita Leocádia Prestes e Victoria Grabois, por exemplo) é prova de uma indisfarçável degradação.

São consistentes muitas das revelações sobre o que acontece dentro e em torno do Ministério do Esporte não apenas porque já vinham sendo investigadas, mas porque agora passarão a ser monitoradas também pela Procuradoria Geral da República. É da natureza da PGR relutar, não dispersar-se em muitas ações e trabalhar longe dos holofotes. Mas quando anuncia publicamente que vai apurar malfeitorias é porque pressente o que deve encontrar.

Esporte perigoso

A editoria de denúncias do semanário da Editora Abril não levou em conta as chamadas “circunstâncias ambientais”: a destituição do ministro do Esporte quando faltam três anos para o início da Copa do Mundo só poderia ocorrer diante de colossais ilícitos. Comprovados cabalmente. Também não levou em conta que naquele momento o ministro Orlando Silva não poderia ser facilmente sacrificado porque representava uma ala do governo que tenta oferecer resistências ao poderio conjugado dos abutres Fifa-CBF.

Para ser eficaz, o jornalismo de cruzadas deve evitar fúrias, ser preciso. A grande mídia está apostando para ver quem derruba mais ministros até o fim do ano. Trata-se de um esporte radical, cansativo e perigoso. Corre o risco de ficar desacreditado.

CUBA: a mosca na sopa do IMPÉRIO - José do Vale Pinheiro Feitosa

No século XX a “famosa democracia” americana, essencialmente de brancos europeus, evoluiu para o mais franco imperialismo. A famosa conquista do Oeste que se tornou a essência da alma americana, como bem disse o diretor de cinema John Ford, já era a conquista imperial de um território alheio. Não adianta os olhos rútilos de amor pelo expansionismo americano: está lá, em toda a costa da Califórnia, a presença secular das Missões Jesuíticas espanholas. Durante duzentos anos os espanhóis e depois os mexicanos criaram estruturas por lá. Não era um território abandonado, depois foi invadido pelos “pioneiros”.

O México, a América Central e a América do Sul se tornaram espécies de terreiros das instituições americanas, com estratégias de faxina prévia tipo a Fundação Rockfeller, depois os marines e boinas verdes, para consolidar as empresas americanas com governos dóceis aos desejos comerciais estrangeiros. John Gerassi ainda nos anos 60 traçou um perfil inquestionável do que chamou “A Invasão da América Latina.”

Os americanos estão comprovadamente por trás de todos os golpes efetuados na América Latina, inclusive a queda de João Goulart quando aproximaram navios da costa brasileira para dividir o país em vários territórios de domínio do império (haviam feito com a Coréia e o Vietnã). Recém falecido, o ex-ministro da saúde Wilson Fadul contava da arrogância do embaixador Lincoln Gordon com as autoridades brasileiras. Dr. Fadul descobriu uma enorme e ilegal remessa de lucros através de sobrefaturamento de medicamentos importados pelas filiais americanas da indústria farmacêutica. O ministro determinou a execução da prática de preços internacionais, por vezes dez a vinte vezes menos e o embaixador americano veio para cima dele querendo proteger a prática deletéria para o povo brasileiro. O Ministro não o recebeu, mas o embaixador esteve à frente do golpe contra Jango.

Os EUA treinaram torturadores, treinaram militares brasileiros e desviaram o Brasil de seu destino por mais de 30 anos apenas para exercer o controle sob o guarda chuvas da Guerra Fria. Cuba, uma ilha muito próxima da Flórida, com forte sangue Espanhol, especialmente galego, desde o final do século XIX que tinha um povo nacional que naturalmente brigou sob a liderança do poeta José Martí. O famoso Theodore Roosevelt, ainda hoje objeto de propaganda de culto à personalidade através de inúmeros filmes, voltados para a juventude, invadiu a Ilha e jogou-a sob o capricho do império em franca evolução.

Um império mercantil e industrial, do estilo capitalista, funciona com armas e domínio da produção e comercialização da mesma. E foi isso que ocorreu com Cuba. Viveu uma longa história na primeira metade do século XX sob o tacão da violência e golpes de estados financiados por empresas produtoras de frutas e da cana de açúcar e pasmem sob o controle da máfia americana.

O jornalista T.J. English acaba de publicar um livro, traduzido para o Brasil chamado “Noturno de Havana”. O assunto foi tratado em vários filmes, inclusive na trilogia do “Poderoso Chefão”. Trata-se da máfia americana sob a liderança de Lucky Luciano e Meyer Lansky querendo transformar Cuba numa Monte Carlo do jogo e da prostituição. Logo depois a ilha se tornou uma espécie de porta aviões fixo para o nascente comércio de drogas como a cocaína. Eles queriam tomar um país e subjugar um povo para os caprichos da indústria de entretenimento, bem ao largo do enorme império ávido por bacanais.

É preciso entender que o asco dos moralistas com este tipo de atividade não resolve a grande contradição que vaga em suas almas, tontas da ideologia da guerra fria. O cinema dos musicais, inclusive a nossa Carmem Miranda, o mundo da música como Frank Sinatra e da política como John Kennedy era comensais, protegidos e financiados pela máfia que pretendia dominar Cuba. Mas quando existe um povo, a história nem sempre atende aos interesses do poder dominador e o poder dominador cai. Mas isso é uma nova história para outro texto que pretendo escrever em breve.
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Ainda é cedo


- Aconteceu com Saddam Hussein, Bin Laden e, agora, com Gaddafi. Líderes importantes, como Obama, declararam que o mundo ficou melhor sem eles. É possível. Numa das perseguições aos cristãos durante o Império Romano, um dos Césares mandou erguer uma coluna que até hoje existe, declarando que não havia mais cristão na face da Terra e que o mundo seria melhor.

Não estou comparando nada com ninguém, apenas lembrando que o alívio da humanidade quando morre um ditador criminoso, como Gaddafi, em geral é um alívio mal informado. Quando Júlio César foi assassinado, Brutus comunicou à plebe que o tirano estava morto -e recebeu aplausos. Foi preciso que Marco Antônio, logo em seguida, pronunciasse seu famoso discurso para reverter o sentimento do povo.

E depois do primeiro César (o mais importante deles), vieram outros como Calígula, Nero, Vespasiano etc., que não tinham sequer o passado glorioso do conquistador das Gálias. Mesmo assim, o assassinato de ditadores, segundo Shakespeare, seria uma cena repetida ao longo dos séculos e em países que nem ainda existiam naquele tempo.

Nos impérios orientais, a sucessão de tiranos sanguinários foi quase ininterrupta. A situação na Líbia, mesmo com a queda e a morte de Gaddafi, está longe de ser tranquila. Não é hora de soltar foguetes, muita coisa ruim ainda pode acontecer naquele país sem tradição democrática.

Lembro igualmente aquele tenor que, depois de cantar a ária principal de uma ópera, foi vaiado vergonhosamente pela plateia enfurecida. Atiram-lhe ovos, tomates e sapatos. Resignado, enfrentando de cabeça baixa a irritação e os insultos do público, o tenor limitou-se a dar um aviso que, na realidade, era uma ameaça: "Vocês não viram nada. Esperem pelo barítono!".