Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

PÉROLA NOS BASTIDORES - Por José Carlos Brandão

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E agora, Claude?
A noite canta
nos dedos líricos
pelo teclado
ou pelas cordas
do violão.

Não cessa a música
com a poesia,
com a palavra
ou seu silêncio
encanta a dor.

E agora, Claude?
A intimidade
no coração
das suas palavras
e algum despeito
dentro do peito.

E agora, (v)ocê?
Eu sou qualquer
José da vida,
você é Claude
com o seu sonho
como eu ou nós.

Eu sou poeta
como você.
Sou no poema,
o meu espelho.
Você me lê,
você me vê
tal como sou:
uma palavra
ou uma imagem.

E agora, Claude?
Hora do fim
deste poema
jogado ao léu
na tela fria
para dizer
o que não pode:
vou a galope
nos cascos e asas
da criação.

E deixo aqui
o meu abraço
de poeta-irmão.

  José Carlos Brandão

tudo eu faria

eu percorreria
todas as estradas desse mundo
mergulharia no escuro mais profundo
que o mar tivesse pra oferecer:
tudo eu faria

me perderia por todas as ruas
esqueceria o meu nome até que
me voltassem as palavras suas
e no silêncio sempre sem saber
onde estaria o fim da saudade
nada mais teria pra dizer:
tudo eu faria

dobraria o tempo
retornaria ao começo de tudo
recolheria as pedras do templo
se um templo existiu num tempo de absurdo
sem que ninguém viesse a saber
tudo eu faria

me jogaria na calma dos desertos
o vento roçando na forma da areia
something vibrando em meus ouvidos
meu coração preso em sua teia
reduzido a nada o meu querer:
tudo eu faria

me entragaria às lâminas do frio
que castiga a cidade no outono
quando o meu copo então está vazio
porque bebi o dia que é sem dono
de cujas horas se faz a solidão
porque é meu o dom de não esquecer:
tudo eu faria

Solidão... - José Nilton Mariano Saraiva

É quando a agente se retira da multidão e se faz companhia. Quando a gente se livra da engrenagem e troca o medo de “ser só” pela coragem de “estar só”.

Seja amigo da solidão. Aceite seus convites, passeie com ela. Desmistifique-a.
Não fuja dela, não tenha medo. Desassombre-se. Ouse a solidão e fique em boa companhia.

Solidão é exercício, é visitação, pausa, contemplação. È inspiração e conhecimento. È pouso e também vôo. Marque encontros com você mesma. Experimente. Dê-se um tempo. Surpreenda-se.

Num mundo tão leviano e vulgar, que julga pelas aparências e endeusa espertalhões, turbinados e boçais, a solidão pode ser proteção e não contágio. Num mundo obcecado por juventude, sucesso e consumo, a solidão pode ser liberdade e não fracasso.

Existem curas, recordações, idéias, lembranças que só podem vir à tona quando estamos sós. Mesmo os momentos compartilhados só serão inesquecíveis se uma parte nossa estiver inteiramente só para aprender tudo que apenas a nós mesmos revelará e tocará.

Existe uma pessoa que só conheceremos se conseguirmos ficar sós: nós mesmos.

Solidão é requisito para nascer e para morrer. Que me desculpem os desesperados, mas solidão é fundamental para se viver.

Autor: desconhecido

São Gonçalo do Amarante - Emerson Monteiro

Consta da tradição popular que, certa feita, vindo Jesus por uma estrada deserta, deparou-se com Gonçalo, músico da cidade portuguesa de Amarante.
- Mestre, em que lhe posso ser útil para diminuir a tristeza deste mundo? - quis saber o artista e nisso foi perguntando.
- Ora, Gonçalo, por mais que faças, não conseguirás dominar o espírito rebelde dessa gente, mais ainda desses que se divertem no prostíbulo da vila - respondeu Jesus. - Estive lá e eles se mostraram surdos aos meus ensinos, igual a muitos, que preferem continuar na trilha da perdição.
- Senhor, haverá, por certo, outros meios de educar. Quem sabe a música possa tocar os seus corações? - falou Gonçalo, disposto a colaborar na divulgação do bom caminho.
- Tudo pode acontecer. Já que é violeiro, queres experimentar esse recurso? - acrescentou o divino Mestre. Seguiram prosando no assunto. Depois desse diálogo, os dois combinaram que, na hipótese de o músico realizar a proeza da transformação dos pecadores do prostíbulo da vila de Amarante, receberia em dobro as bênçãos de curador.
Gonçalo seguiu na missão. Quando chegou à comunidade, tratou de acertar que, naquela mesma noite, realizaria uma festa em que tocaria para quem viesse ao salão de dança. Os freqüentadores do lugar aceitaram de bom grado o convite, animados perante aquela rara oportunidade.
Festejaram a noite toda até de manhã cedo. No cantar do galo, ainda se ouvia o pinicado da viola do músico. Era chegada a hora de trabalhar. Todos tiveram de procurar suas obrigações, sabedores, no entanto, de que, mais tarde, de noite, se repetiria a mesma função. Mulheres e homens aceitaram bem a chance de, outra vez, se alegrarem com a música de Gonçalo.
Enquanto isso, a notícia se espalhou das cercanias aos lugares mais afastados, quando escureceu, se apresentaram as pessoas interessadas no folguedo que invadiu a madrugada. Antes do fim de cada festa, Gonçalo repetia o convite para a noite seguinte. Não deixava arrefecer os ânimos dos frequentadores, e dessa forma continuou nos dias que se seguiram. À noite, os bailes de rara animação; de dia, os duros afazeres do trabalho de cada um dos convivas para manter a sobrevivência.
À maneira de Gonçalo, todos, sem exceção, tanto as mulheres quanto os seus amantes, se viram na contingência de abandonar os vícios e a fornicação, por meio da música animada e da exaustão das numerosas festas.
Passados mais alguns dias, concluiu a tarefa e se apresentou a Jesus, levando consigo a fieira de almas que havia catequizado. Conta mestre Joaquim Pedro da Silva, o responsável pelo grupo da dança de São Gonçalo que existe na subida do Horto, em Juazeiro do Norte, que Gonçalo, fazendo assim, adquiriu o merecimento de poder socorrer, por si só, aqueles que lhe procuram, sem carecer de intermediação, chegando até Deus com a sua força espiritual, pois dispõe da ciência que recebeu de Jesus quando atendeu a esse ofício que Ele determinou.

POR DO SOL - Por Edilma Rocha



                                                           Vermelho que queima como fogo
                                 as mentiras injustas e falsas...
                                Amarelo pálido dos disfarces ocultos...
                             

                                               O negro cobre o céu azul
                         e revela os demônios escondidos
                                  da inveja, do labirinto
                                       da mentira...

                                                    Com um novo amanhecer,
                                         anjos passeiam
                                 por entre sorrisos inocentes...
                               Abrindo o coração para o perdão !

Despedida Dramática do Trema - Anônimo

Estou indo embora. Não há mais lugar para mim. Eu sou o trema. Você pode nunca ter reparado em mim, mas eu estava sempre ali, na Anhangüera, nos aqüiféros, nas lingüiças e seus trocadilhos por mais de quatrocentos e cinqüentas anos.
Mas os tempos mudaram. Inventaram uma tal de reforma ortográfica e eu simplesmente tô fora. Fui expulso pra sempre do dicionário. Seus ingratos! Isso é uma delinqüência de lingüistas grandiloqüentes!...
O resto dos pontos e o alfabeto não me deram o menor apoio... A letra U se disse aliviada porque vou finalmente sair de cima dela. Os dois pontos disse que seu sou um preguiçoso que trabalha deitado enquanto ele fica em pé.
Até o cedilha foi a favor da minha expulsão, aquele C cagão que fica se passando por S e nunca tem coragem de iniciar uma palavra. E também tem aquele obeso do O e o anoréxico do I. Desesperado, tentei chamar o ponto final pra trabalharmos juntos, fazendo um bico de reticências, mas ele negou, sempre encerrando logo todas as discussões. Será que se deixar um topete moicano posso me passar por aspas?... A verdade é que estou fora de moda. Quem está na moda são os estrangeiros, é o K, o W "Kkk" pra cá, "www" pra lá.
Até o jogo da velha, que ninguém nunca ligou, virou celebridade nesse tal de Twitter, que aliás, deveria se chamar TÜITER. Chega de argüição, mas estejam certos, seus moderninhos: haverá conseqüências! Chega de piadinhas dizendo que estou "tremendo" de medo. Tudo bem, vou-me embora da língua portuguesa. Foi bom enquanto durou. Vou para o alemão, lá eles adoram os tremas. E um dia vocês sentirão saudades. E não vão agüentar!...
Nós nos veremos nos livros antigos. saio da língua para entrar na história.

Adeus,
Trema.


Recebido por e-mail

O espelho de bronze




O CANÁRIO

O canário de ouro
entre as folhas da árvore
e os meus olhos.


A SOMBRA DAS NUVENS

Somente as nuvens fazem sombra
sobre as pedras e a areia do deserto.


O ESPELHO E O PÓ

O espelho reflete o pó sobre o relógio.
O pêndulo, pesado de sombra, não para.


VIRGÍLIO

Virgílio escreve o poema
do mar, dos deuses e dos homens.
Aos poucos a sua coroa de louros
transforma-se em bronze e ouro.


EVA

Eva recebe da serpente
uma maçã
e a minuciosa arte de amar.


O GIRASSOL

Senão em si mesmo,
onde o ser do girassol?


O ESPELHO DE BRONZE

Eu sou aquele que esquece.
Eu sou o esquecimento.


ESCREVO PARA NÃO ESQUECER

A poesia é filha da memória.
As imagens no espelho se iluminam
sob as águas do esquecimento.


A ROCA

O fio segue-se a outro fio
e a meada se completa.
E a roca a fiar, a roca a fiar.


O HIBISCO

O hibisco estende o pecíolo
à frente de suas largas pétalas.
Ofertório à beleza vermelha.

PÉROLA NOS BASTIDORES - Por Aluísio



Aloísio disse...


Como não se emocionar lendo este poema?
O barulho do teclado
Acompanhando o ritmo do violão
A água da chuva correndo
que ao mar chegarão
desmanchando as saudades
num sonho ou alucinação.


Aloísio
E agora?
- Claude Bloc -


E agora, José?
Como descrever cada sussurro da noite?
Como conter o barulho (in)discreto
dos dedos pelo teclado
ou
pelas plangentes cordas de um violão
como se um e o outro
fossem o mesmo e único instrumento singular?

Como descrever as palavras desgarradas
ou a quase perfeita intimidade
entre os silêncios rasgados e o desapontamento?

E agora, João?
como em meio às marés
poder escorregar para outra dimensão
devagarinho,
como as gotas de chuva
e esquecer a doçura
e esquecer a saudade
e ainda
desmedidamente
poder sonhar?


Claude Bloc

My sweet Lord!


(Recebido por e-mail)