Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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domingo, 28 de agosto de 2011

Boff no Cariri


Uma revolução ainda por fazer

Toda mudança de paradigma civilizatório é precedido por uma revolução na cosmologia (visão do universo e da vida). O mundo atual surgiu com a extraordinária revolução que Copérnico e Galileo Galilei introduziram ao comprovarem que a Terra não era um centro estável mas que girava ao redor do sol. Isso gerou enorme crise nas mentes e na Igreja, pois parecia que tudo perdia valor. Mas lentamente impô-se a nova cosmologia que fundamentalmente perdura até hoje nas escolas, nos negócios e na leitura do curso geral das coisas. Manteve-se, porém, o antropocentrismo, a idéia de que o ser humano continua sendo o centro de tudo e as coisas são destinadas ao seu bel-prazer.

Se a Terra não é estável –pensava-se – o universo, pelo menos, é estável. Seria como uma incomensurável bolha dentro da qual se moveriam os astros celestes e todas as demais coisas.

Eis que esta cosmologia começou a ser superada quando em 1924 um astrônomo amador Hubble comprovou que o universo não é estável. Constatou que todas as galáxias bem como todos os corpos celestes estão se afastando uns dos outros. O universo, portanto, não é estacionário como ainda acreditava Einstein. Está se expandindo em todas as direções. Seu estado natural é a evolução e não a estabilidade.

Esta constatação sugere que tudo tenha começado a partir de um ponto extremamente denso de matéria e energia que, de repente, explodiu (big bang) dando origem ao atual universo em expansão. Isso foi proposto em 1927 pelo padre belga, o astrônomo George Lemaître o que foi considerado esclarecedor por Einstein e assumido como teoria comum. Em 1965 Penzias e Wilson demonstraram que, de todas as partes do universo, nos chega uma radiação mínima, três graus Kelvin, que seria o derradeiro eco da explosão inicial. Analisando o espectro da luz das estrelas mais distantes, a comunidade científica concluiu que esta explosão teria ocorrido há 13,7 bilhões de anos. Eis a idade do universo e a nossa própria, pois um dia estávamos, virtualmente, todos juntos lá naquele ínfimo ponto flamejante.

Ao expandir-se, o universo se auto-organiza, se auto-cria e gera complexidades cada vez maiores e ordens cada vez mais altas. É convicção de grande parte dos cientistas que, alcançado certo grau de complexidade, em qualquer parte, a vida emerge como imperativo cósmico. Assim também a consciência e a inteligência. Todos nós, nossa capacidade de amar e de inventar, não estamos fora da dinâmica geral do universo em cosmogênese. Somos partes deste imenso todo.

Uma energia de fundo insondável e sem margens – abismo alimentador de tudo - sustenta e perpassa todas as coisas ativando as energias sem as quais nada existe do que existe.

A partir desta nova cosmologia, nossa vida, a Terra e todos os seres, nossas instituições, a ciência e a técnica, a educação, as artes, as filosofias e religiões devem ser resignificadas. Tudo e tudo são emergências deste universo em evolução, dependem de suas condições iniciais e devem ser compreendidas no interior deste universo vivo, inteligente, auto-organizativo e ascendente rumo a ordens ainda mais altas.

Esta revolução não provocou ainda uma crise semelhante a do século XVI, pois não penetrou suficientemente nas mentes da maioria da humanidade, nem da inteligentzia, muito menos nos empresários e nos governantes. Mas ela está presente no pensamento ecológico, sistêmico, holístico e em muitos educadores, fundando o paradigma da nova era, o ecozóico.

Por que é urgente que se incorpore esta revolução paradigmática? Porque é ela que nos fornecerá a base teórica necessária para resolvemos os atuais problemas do sistema-Terra em processo acelerado de degradação. Ela nos permite ver nossa interdependência e mutualidade com todos os seres. Formamos junto com a Terra viva a grande comunidade cósmica e vital. Somos a expressão consciente do processo cósmico e responsáveis por este pedaço dele, a Terra, sem a qual tudo o que estamos dizendo seria impossível. Porque não nos sentimos parte da Terra, a estamos destruindo. O futuro do século XXI e de todas as COPs dependerá da assunção ou não desta nova cosmologia. Na verdade só ela nos poderá salvar.

Leonardo Boff com Mark Hathway escreveram The Tao of Liberation:exploring the ecology os transformation,N.Y.2010.w

Linda História, Valiosa Sabedoria ... Por Magnolia


"Histórias para aquecer o coração das mães" 
Feche a Boca e Abra os Braços
Uma amiga ligou com notícias perturbadoras: a filha solteira estava grávida.  Relatou a cena terrível ocorrida no momento em que a filha finalmente contou a ela e ao marido sobre a gravidez. Houve acusações e recriminações, variações sobre o tema "Como pôde fazer isso conosco?" Meu coração doeu por todos: pelos pais que se sentiam traídos e pela filha que se envolveu numa situação complicada como aquela. Será que eu poderia ajudar, servir de ponte entre as duas partes? 

Fiquei tão arrasada com a situação que fiz o que faço  com alguma freqüência  quando não consigo pensar com clareza: liguei para minha mãe. Ela me lembrou de algo que sempre a ouvi dizer. Imediatamente, escrevi um bilhete para minha amiga, compartilhando o conselho de minha mãe: "Quando uma criança está em apuros, feche a boca e abra os braços." 
Tentei seguir o mesmo conselho na criação de meus filhos. Tendo tido cinco em seis anos, é claro que nem sempre conseguia. Tenho uma boca enorme e uma paciência minúscula.  Lembro-me de quando Kim, a mais velha, estava com quatro anos e derrubou o abajur de seu quarto.

Depois de me certificar de que não estava machucada, me lancei numa invectiva sobre aquele abajur ser uma antiguidade, sobre estar em nossa família há três gerações, sobre ela precisar ter mais cuidado e como foi que aquilo tinha acontecido  e só então percebi o pavor estampado em seu rosto.
Os olhos estavam arregalados, o lábio tremia. Então me lembrei das palavras de minha mãe. Parei no meio da frase e abri os braços. 
Kim correu para eles dizendo:

Desculpa... Desculpa  repetia, entre soluços. Nos sentamos em sua cama, abraçadas, nos embalando. Eu me sentia péssima por tê-la assustado e por fazê-la crer, até mesmo por um segundo, que aquele abajur era mais valioso para mim do que ela.

Eu também sinto muito, Kim  disse quando ela se acalmou o bastante para conseguir me ouvir. - Gente é mais importante do que abajures. Ainda bem que você não se cortou.

Felizmente, ela me perdoou.
O incidente do abajur não deixou marcas perenes. Mas o episódio me ensinou que é melhor segurar a língua do que tentar voltar atrás após um momento de fúria, medo, desapontamento ou frustração.

Quando meus filhos eram adolescentes  todos os cinco ao mesmo tempo  me deram inúmeros outros motivos para colocar a sabedoria de minha mãe em prática: problemas com amigos, o desejo de ser popular, não ter par para ir ao baile da escola, multas de trânsito, experimentos de ciência mal sucedidos e ficar em recuperação.
Confesso, sem pudores, que seguir o conselho de minha mãe não era a primeira coisa que me passava pela mente quando um professor ou diretor telefonava da escola. Depois de ir buscar o infrator da vez, a conversa do carro era, algumas vezes, ruidosa e unilateral.

Entretanto, nas ocasiões em que me lembrava da técnica de mamãe, eu não precisava voltar atrás no meu mordaz sarcasmo, me desculpar por suposições errôneas ou suspender castigos muito pouco razoáveis.

É impressionante como a gente acaba sabendo muito mais da história e da motivação por trás dela quando está abraçando uma criança, mesmo uma criança num corpo adulto.

Quando eu segurava a língua, acabava ouvindo meus filhos falarem de seus medos, de sua raiva, de culpas e arrependimentos. Não ficavam na defensiva porque eu não os estava acusando de coisa alguma.

Podiam admitir que estavam errados sabendo que eram amados, apesar de tudo. Dava para trabalharmos com "o que você acha que devemos fazer agora", em vez de ficarmos presos a "como foi que a gente veio parar aqui?"

Meus filhos hoje estão crescidos , a maioria já constituiu a própria família. Um deles veio me ver há alguns meses e disse "Mãe, cometi uma idiotice..." 
Depois de um abraço, nos sentamos à mesa da cozinha. Escutei e me limitei a assentir com a cabeça durante quase uma hora enquanto aquela criança maravilhosa passava o seu problema por uma peneira. 
Quando nos levantamos, recebi um abraço de urso que quase esmagou os meus pulmões. 
Obrigado, mãe. Sabia que você me ajudaria a resolver isto. 
É incrível como pareço inteligente quando fecho a boca e abro os braços.

Diane C. Perrone 
Histórias para aquecer o coração das mães 
Jack Canfield, Mark Victor Hansen e outros 
Editora Sextante

O Almirante Cochrane, os índios Cariris e o senador José Sarney – por Armando Lopes Rafael






Acordei, neste ensolarado domingo, tentando fazer uma junção entre o passado e o presente. E veio-me à lembrança Lord Cochrane ( no desenho à direita), almirante da Marinha Real Britânica, nobre escocês e herói nacional do Reino Unido. Considerado “O maior herói naval da Escócia”, Lord Cochrane tem um busto de bronze na sua terra natal, destinado a lembrar de sua epopeia nas guerras contra Napoleão Bonaparte, que o apelidou de Loup de Mer (lôbo do mar).

Visionário, Lord Thomas Alexander Cochrane (este seu nome completo) atuou na América Latina e passou à história do Chile, Argentina, Brasil e Venezuela. Neste último país, Lorde Cochrane auxiliou Simon Bolivar na Independência venezuelana. Em 1817, prestou serviços aos generais Bernardo O’Higgins e San Martin e às forças independentistas chileno-argentinas, como comandante de esquadra. Em 1823, Cochrane já estava no Brasil.

Convidado pelo imperador dom Pedro I, Cochrane iniciou seus trabalhos para consolidar a independência do Brasil, após o Decreto Imperial de 21 de março de 1823, que lhe conferiu a patente - única na história naval brasileira - de Primeiro-Almirante. Sua missão: debelarar pequenos focos de resistência à independência do Brasil. Desnecessário dizer que se houve bem na missão que lhe foi confiada.


Registra a história que em 1824, Lorde Cochrane também contribuiu para sufocar a Confederação do Equador (à esquerda a bandeira da Confederação), movimento republicano nascido em Pernambuco, com grande repercussão no Ceará. O bloqueio da cidade de Recife foi feito por Lorde Cochrane.

Ele foi impiedoso nos seguidos bombardeios à capital pernambucana, deixando a população civil sem gêneros alimentícios, sem remédios e sem munição. Após a capitulação de Pernambuco, Lord Cochrane passou-se ao Ceará, onde foi igualmente vitorioso.

O historiador J.de Figueiredo Filho, no 1º volume da sua História do Cariri, – na página 10 – reproduz um texto de relatório do Lorde Cochrane, no qual elogia os índios Cariris, seus aliados na luta contra os insurgentes da Confederação do Equador. A conferir.
“Os chefes indianos (ou seja, os caciques dos Cariris), assim com a gente que desses dependia, foram de grande préstimo na restauração da ordem, combinando robustez corporal superior com atividade, energia, docilidade e força de aturar que nunca falhava – formando, com efeito, os melhores padrões da raça que eu vira na América Latina”.

Taí um depoimento insuspeito, a provar a superioridade dos índios Cariris em relação à população autóctone da América do Sul, ou seja, aos aruaques, aymarás, mapuche, guaranis, tupis, dentre outros, todos velhos conhecidos de Cochrane.

No livro “1822”, o segundo da trilogia escrito por Laurentino Gomes, consta – na página 173 – o seguinte: "Em uma visita oficial a Abadia de Westminster, em Londres, o ex-presidente José Sarney, aproximou-se da tumba de 1860, e sem que os acompanhantes percebessem, pisou sobre a lápide de Lord Cochrane e sussurrou: “Corsário”. Consta que o lorde inglês saqueou a cidade de São Luís do Maranhão, quando lá esteve em combate aos portugueses. Interessante, que o clã Sarney, atual donatário do Maranhão desde 1965, é hoje acusado de saquear – não só São Luís – mas todo o Estado. Quem sabe, no futuro – não muito distante – alguém pisará sobre a tumba de José Sarney e sussurrará: “Corsário”...

O tamanho do poder do atual senador José Sarney – líder-mor da “base de sustentação dos governos do PT” – é imenso! Basta lembrar a “Operação Boi Barrica”, da Polícia Federal. Trata-se de investigação sobre Fernando Sarney, suspeito de fazer caixa dois na campanha de Roseana Sarney na disputa pelo governo do Maranhão em 2006. Antes das eleições, ele teria sacado 2 milhões de reais em dinheiro vivo.

O desembargador Dácio Vieira (amigo de fé e irmão camarada do velho Sarney) proibiu o jornal “O Estado de S. Paulo” – em 31 de julho de 2009 – de publicar reportagens sobre esta Operação. Em 10 de novembro de 2009, o Supremo Tribunal Federal negou o pedido do jornal contra a proibição. E veja que estamos num Estado de Direito democrático, que pressupõe imprensa livre...

PS – Em tempo: Laurentino Gomes está concluindo o terceiro livro da sua já clássica trilogia. Terá o título de “1889” e mostrará a farsa que foi a “Proclamação da República”, ou seja, o golpe militar de 15 de novembro daquele ano, o primeiro de uma longa série que viria a marcar “os novos tempos republicanos”.
“Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós”...


Texto e postagem de Armando Lopes Rafael