Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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sábado, 1 de janeiro de 2011

Aos amigos e amigas do Cariricaturas - Emerson Monteiro

Admiro os frutos do trabalho com que se dedicam ao nosso querido Blog.
De certeza este Novo Ano vem nos achar dia a dia melhor identificados na rara oportunidade do encontro e do reencontro, razão maior das nossas produções elaboradas com amor e satisfação.

Abraço de Paz e Saúde!

AUTORRETRATO COM VOTOS DE ANO NOVO



                                
AUTORRETRATO
COM VOTOS DE ANO NOVO


Quiseram-me para padre
mas era muito difícil
viver com a molecada
no seminário dos padres

(dos futuros padres – na marra!
porque muitos são chamados
e poucos os escolhidos
– e quem não é escolhido
vai para os quintos do inferno!)

O jeito foi descobrir
a poesia – sinal de liberdade
com um anjo de cada lado
e as duas mãos de Deus no meio

Deus nunca mais me largou
por mais que eu esperneasse
fizesse o diabo a quatro
e ficasse todo estropiado
de não ter mais jeito não

A poesia nunca mais me largou
por maior que fosse a preguiça
e esperasse que os poemas
caíssem se espiralando do céu
– nem que fosse o céu das cabras
ou dos bodes chupando manga

Poesia é iluminação
mas Deus não dá assim de graça
é preciso quebrar a cabeça
o joelho e o tornozelo
brigar com os anjos como Jacó
tirar leite da pedra
e sangue da terra

(Verdade que certos poemas
não têm jeito não
Como talvez
este que lês
que é como pau que nasce torto
Também, não briguei com a cobra
nem briguei com nenhum anjo)

Juro que sou feliz
como Mário de Andrade
que morria de sofrer
mas achava a vida gozada
e proclamava: “A própria dor
é uma felicidade.”

Neste ano que principia
desejo a todos muita poesia
paz, saúde e alegria
Deus esteja com vocês
meus amigos, meus inimigos

(mas eu não tenho inimigos!)

As sementes do amor
se multipliquem em todos
os corações – e Viva a vida!



Curtas. Liduina Vilar.

Ano Novo menino é.

Necessita de construção,

embalo sem abalo,

nos braços, abraços... Atenção!

Meu primeiro Ano Novo – Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Recuando no tempo, as minhas lembranças remontam a alguns episódios de quando eu tinha dois anos de idade. Antes de sua morte, a minha mãe se surpreendeu quando eu, já velho e barbado, lhe perguntei em que ano ocorreram determinados fatos da minha infância. Guardo muita coisa na minha memória anterior, hoje com sua área de armazenamento já totalmente preenchida, de modo que não mais me ocorrem lembranças de anos mais recentes.

Eu tinha quatro anos e três meses de idade, quando descobri que o tempo era medido em anos. Leni, uma pessoa muito querida em nossa casa, rasgou a folhinha do calendário e disse: “Hoje é primeiro de janeiro de 1950. Faltam dez anos para o mundo acabar”. Foi assim que eu fiquei sabendo de duas coisas. Primeira: que cada determinado período de nossa vida constituía um ciclo que nós denominávamos ano. A segunda foi uma informação que me deixou bastante apreensivo. O mundo um dia iria acabar. E este dia estava bem próximo, pois dez anos para mim seria uma coisa que passaria rapidamente. Esta perspectiva do fim do mundo me apavorou só em pensar, que toda a vida existente um dia se acabaria. Por isso, a cada primeiro de janeiro, revejo a imagem de Leni puxando a folhinha do calendário e destacando aquele marco. Hoje guardo um sorriso pelos anos e anos em que tive medo das “três noites de escuro” que prenunciava o “fim do mundo” previsto, portanto para ocorrer em 1960.

Neste ano, que ontem se encerrou, quando me encontrava na UTI de um hospital, durante o pós-operatório de uma delicada intervenção cirúrgica, senti por alguns instantes a proximidade do “fim do mundo”.... E lembrei-me de Leni, que hoje vive no “outro mundo” preparando para os anjos e santos seus deliciosos bolos, pudins e o incomparável “baba de moça”, um doce feito com a polpa do coco verde, com os quais me empanturrei durante tantos anos. Tenho certeza que seus divinos clientes não correrão o risco de ter suas artérias obstruídas, como ocorreu comigo.

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

O Bigode de Hitler

Matozinho desfizera bravamente aquela famosa máxima brechtiniana : “Triste de um povo que precisa de heróis”. A vila alimentava quase que religiosamente sua história. Como temperá-la sem a água benta dos seus beatos, o sangue dos seus mártires, o riso dos seus sátiros, a pólvora dos seus heróis ? No que tange às façanhas militares, havia um valente soldado que imantava o orgulho de todos : Capitão Candóia ! Hoje o seu busto contempla a todos com olhos severos , defronte da prefeitura municipal. Como um guardião derradeiro da vila, da pompeiana Matozinho.
Os anais da história oficial da cidade não mentiam. Candóia fora um herói, servindo ao Exército Brasileiro na II Guerra Mundial. Voltara do conflito carregado de louros e, mesmo depois da vitória final dos aliados, continuara sua missão militar, como caçador de nazistas, mundo afora, uma espécie de Simon Wiesenthal tupiniquim. Este era, basicamente, o resumo das atividades bélicas do nosso Candóia, presente nos alfarrábios oficiais de Matozinho. Fora esta, também, a versão que permanecera na memória do povo, até porque os fatos acontecidos já ultrapassavam a longínqua distância de quase seis décadas e testemunhas de outras versões já tinham passado dessa para pior. Restara apenas o velho Sinfrônio Arnaud que teimava em não fraquejar, parecia uma braúna com mais de noventa anos. Às vezes, já tresvariava, como diziam os familiares, mas aparentemente ainda mantinha o vigor dos antigos anos. Pois bem, aqui vai a versão da épica vida de Chiquim de Candóia, o herói matozense, segundo a língua afiada do velho Sinfrônio.
Em 1943, o Brasil recém entrado na II Guerra, chegaram militares em Matozinho com fins de alistar soldados para defender a pátria do perigo nazi-fascista. Vários voluntários se apresentaram à comissão, recebidos com fogos e vivas. O Sargento Rufino , vindo da capital como chefe da missão, buscou escolher um bom destacamento. Passadas as primeiras revistas, sentiu-se desolado. Os homens que apareceram eram magricelas, baixinhos, e despombalizados, totalmente inaptos ao serviço militar. Para justificar ao menos sua ida àquelas plagas longínquas, Rufino, meio frustrado, escolheu apenas um, mesmo assim com a pulga atrás da orelha: Chiquim de Candóia ! Era meio parrudo, mas entroncado como tamborete de samba.
A partir desse momento, Chiquim foi imediatamente alçado à categoria dos heróis. Festas, discursos inflamados, presentes e assédio de moças donzelas atacaram Candóia por mais de dez dias, enquanto arrumava os teréns para sentar praça na capital. Partiu ao som da Banda de Música da Vila entoando Cisne Branco e do choro convulsivo de familiares e de mocinhas saudosas. Ao chegar à Capital dirigiu-se , imediatamente, para o quartel indicado, o glorioso 14 RI, onde, ao apresentar-se com carta de Rufino, foi novamente submetido a exame militar e médico. A conclusão dada por um oficial carrancudo e de poucas palavras lhe pareceu absurda:
--- Pode voltar prá casa, mocinho, você , magro que só assovio de sagüi , baixinho e de perna cambota, não serve aqui nem prá bucha de canhão !
Candóia saiu dali totalmente arrasado. Sentou-se na praça defronte ao quartell ( já que não conseguira sentar praça lá dentro ) e, num átimo, resolveu:
--- Não volto prá Matozinho de jeito nenhum ! Saí nos braços do povo, não posso voltar assim derrotado, sem ter disparado nenhum tiro de soca-soca nem baladeira !
Saiu perambulando até o cais do porto e foi ficando por lá. Começou a fazer bicos como estivador, arranjou um quartinho ali perto e foi se estabelecendo, por lá. Periodicamente desembarcavam e embarcavam tropas e Candóia ia se atualizando sobre o andar da guerra. Um dia um soldado vindo da Itália, lhe agraciou com uma farda velha. Todo carnaval Chiquim usava-a como fantasia, acrescia no figurino um longo bigode de palhaço que colava no lábio superior e saía, corso afora, com cara de general. Um belo dia soube da notícia : a guerra tinha acabado, os aliados por fim venceram e o III Reich fora esmagado.
Passados vários meses, enquanto carregava um navio cargueiro com frutas destinadas aos gringos,na Europa, bateu-lhe uma saudade danada de casa. Deve ter sido o cheiro inconfundível da manga rosa que se mesclava com as mais ternas fragrâncias da sua infância. Naquele mesmo dia, resolveu voltar. Já haviam se passado três anos e nunca dera uma notícia sequer, os familiares certamente, já deviam tê-lo como abatido em campo de batalha. Vestiu a farda velha , pegou a velha sopa de Duzentos na Rodoviária e partiu ! Nem é preciso dizer o alvoroço que o retorno do filho pródigo causou em Matozinho. A notícia correu de boca em boca na velocidade do vento: o herói estava de volta ! Durante mais de uma semana Capitão Chiquim de Candóia não parou. De boteco em boteco, de casa em casa ia desfilando incontáveis histórias das terras estrangeiras, da sua braveza e destemor no Campo de Batalha; das mortes incontáveis que teve que causar, para não ser trucidado pelo inimigo feroz.
Uma semana depois da chegada, Candóia foi homenageado em reunião solene da Câmara Municipal com a presença ilustre do Prefeito Pedro Cangati. Depois de inúmeros discursos laudatórios à braveza do herói matozense, o presidente apresentou decreto que criava a Medalha de Honra Capitão Candóia, a ser ofertada periodicamente “a matozenses que tenham defendido sua terra com o destemor típico dos heróis, colocando os interesses do município acima de quaisquer aspirações pessoais, inclusive da própria sobrevivência física”. Após o discurso de praxe, o Prefeito Pedro Cangati, solicitou que o Capitão contasse os terríveis momentos por que passou em terras estrangeiras:
--- Caro Chiquim, qual foi para você, herói desta vila, o momento mais difícil da guerra ?
Candóia não esperava pela pergunta e , pego de surpresa, invocou o testemunho de alguns soldados que haviam desembarcado na Capital. Lembrou que eles falavam numa batalha de “Monte Castelo”. Fincou o pé, empinou o peito e não contou conversa:
--- Amigos, o momento mais terrível e perigoso foi a tomada do Castelo de Hitler. O homem tava entocado lá em cima, como tatu acuado. Quando nos chegamos perto, o tiro comeu no centro. Eu chamei uns soldados e tive a idéia de arrodear e entrar pelas portas dos fundos. Saltamos o muro e, enquanto os outros soldados guerreavam, subi as escadas e, la´em cima, abri a porta. Hitler tomou um susto danado quando me viu. Estava sentado numa cadeira velha de balanço , fez finca-pé e tentou fugir. Eu pulei em cima dele e sustentei o salafrário pelas orelhas cabanas dele. Comi o safado na chulipa e no sabacu. Nisso meus companheiros conseguiram entrar pela porta da frente e chegaram lá onde eu brigava com o Füher. Começaram a me dizer uns impropérios pois era eles que queriam ter o privilégio de pegar o homem. Começamos a discutir e eu me abestalhei, nisso o safado se escafedeu, eu ainda segurei ele pelo bigode, mas não teve jeito, puxou, puxou, puxou e escapou pulando lá de cima e pegando o gramear, por dentro de um carrasco danado que tinha em volta do castelo.
Cangati, então, abismado com o feito pergunta:
--- Capitão Candóia, você trouxe alguma lembrança da guerra?
Chiquim, pensativo, num deixe-me-ver reflexivo, meteu a mão no bolso da farda e encontrou o bigode que lhe completava a fantasia de carnaval. Puxou-o e, firmemente, colocou-a na mesa. A platéia, perplexa, se levantou para ver a prenda. O prefeito, meio confuso pergunta:
--- Candóia, que diabo é isso, homem de Deus ? Um Bigode ?
Chiquim, deu uma pausa teatral e, com imponência, explicou:
--- Isso ? É o bigode de Hitler...
Pedro remexeu no bigodão meio flocado em cima da mesa e, meio descrente, interroga?
--- De Hitler ? Mas ele não tinha era um bigodinho miudinho, que parecia uma mosca varejeira sentada no beiço ?
Candóia não se entregou:
--- Era miudinho, mas depois que eu agarrei o homem pelo bigode, ele puxando para se escafeder, parecia um burro brabo,dando popa,e foi tanto supapo que o bicho terminou esticando e virou esse espanador...
As festas continuaram até que o bravo herói matozense avisou que precisava voltar pois o exército já o chamara, precisava voltar ao trabalho, agora com uma nova missão caçar o Fürer fujão. Sinfrônio conclui sorridente a sua história:
--- Até ontem, Candóia não voltou! Deve estar ainda na captura do homem. Quando pegar, tenho certeza : traz junto Bin Laden e Belchior !

J. Flávio Vieira

Funções da autoestima - Emerson Monteiro

O zelo para consigo mesmo torna-se, todo tempo, fator por demais importante para viver uma vida saudável do ponto de vista interior, o que facilita sobremaneira o relacionamento com os outros, com o mundo que nos rodeia e alimenta desejos de prosseguir e aperfeiçoar a realização daquilo a que se veio aqui fazer neste pedaço de universo. Os obstáculos já vencidos no transcorrer dos embates do caminho mostram o quanto podem as pessoas, em termos de coragem e resultados. Temos todos, reunida em nós, na nossa personalidade, uma enorme lista de vitórias obtidas no transcorrer dos acontecimentos de nossa história pessoal. Parar um pouco e estudar este material precioso serve de reciclagem e dispositivo para considerar o quanto de recursos e instrumento de reforço dispomos, nos passos seguintes desse traçado que nos conduzirá à formação do nosso projeto individual.
As tais anotações guardadas na memória demonstram, junto ao tribunal das consciências, o poder que dispõe o ser humano, vezes sem conta, ao querer atravessar as tempestades. Ninguém merece título de perdedor quando detém as provas de sucessivas vitórias, nas lutas apresentadas pelo caminho. E nunca serão poucos os tais acertos, desde nosso início, ainda na infância; depois, na juventude; e entrando pela idade adulta. Jamais cruzar os braços ou baixar a cabeça perante desafios, esta a lição preciosa que todos reservam para si na justiça eterna, livres do que pensem adversários ou imponham os limites da resistência.
Aprendida, pois, essa atitude positiva de resistir com garra aos males do fracasso, guerreiros erguem os olhos à metade superior da linha do horizonte e tocam o barco em frente, no sentido de concretizar seus maiores sonhos, detalhe sobretudo salutar do processo vida, sonhar sempre com o que de melhor se pretende trazer ao foco das realizações. Enquanto há vida, há esperança, dizem orientadores que querem o nosso bem. O amor às coisas boas encaminha todo percurso a destinos favoráveis. Com isso, criar na imaginação o porto a chegar, o que abre, no mundo invisível, o trilho de uma exata concretização desses sonhos. Passado em miúdos, isto quer significar o quanto pode a capacidade humana de planejar o futuro e conquistar territórios.
Houve um filósofo romano de nome Sêneca que, certa feita, escreveu que nenhum vento é favorável a quem navega sem destino, daí a importância do ato de formular o endereço firme do que se pretende realizar na existência.
Bom, quando recebidas com atenção e postas na prática, as palavras alimentam de ânimo o roteiro das pessoas, frutificando as nossas ações e o gosto de crescer ao infinito de nossas potencialidades.
Novo Ano, Ano Novo!
- Claude Bloc -


Um novo ano
um novo dia
um novo olhar
noutro olhar
todos os amores
num só...
Já que tantas palavras
não falam
sobre a distância
que se desfaz
somos presentes
por tanto tempo
e tanto faz.

Um novo ano
um novo dia
e a cada ponto
um reencontro.
Um novo dia
todavia
é sol que brilha
no recomeço
de tanto sonho,
quando amanheço.

Claude Bloc