Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Dia do Idoso 01-10-2011

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Muito Prazer Terceira Idade - Por: João Marni

Precisamos refazer a idéia de que estamos tão somente a caminho do fim, num processo inexorável de deterioração. Por que necessariamente agora, com cabelos brancos e experiência, está o idoso em declínio e não em transformação, - como tudo na vida? Onde é próprio da senilidade, mora o encanto. É imperativo para a felicidade dos que alcançam este degrau, que viajem com a vida, tal e qual fruto maduro que cai, apenas transferindo sua energia para outra estrutura; como a água do jarro jogada no riacho: não tem mais a forma do jarro, fazendo parte agora do riacho, pois somos águas correntes, inquietas. Não é o começo do fim, mas a busca por novos oceanos...

A vida se encerra quando finda a juventude? Por falar nisso, quando é mesmo que ela, a juventude, acaba? Um amigo confessou-me que não foi a percepção da perda da elasticidade da pele, nem os cabelos brancos e escassos, mas a dor que sentiu quando, em um certo dia, sentou em cima de suas próprias bolas! Disse-me também que há vantagens de ordem prática chegar-se à velhice: podemos competentemente, com as mãos trêmulas, espalhar canela em canjica, andar nos coletivos sem ter que pagar e, vez por outra, engolir um “azulzinho” e torcer pelo resultado. Não precisamos mais temer a vastidão do futuro.

O idoso encontra-se naquela fase em que os homens, naturalmente, afastam-se do culto ao corpo, e aproximam-se da filosofia, condição muito mais exuberante! Seria sábio e interessante não interferirmos na obra escultural, dinâmica e natural que é o corpo humano, de onde somos inquilinos. Para que cirurgia plástica “embelezadora”? Quer ser sua própria ficção, desconhecendo-se? O corpo paulatinamente perde a agilidade e a força, a expressão corporal muda do pulo do gato para o compasso lento e sereno. A visão diminui a acuidade, avisando que não se precisa mais ir à caça, mas ficar mais próximo da família. A audição também não é mais acurada, um prêmio para que não se ouçam mais tantas coisas vãs. Ter ótima memória apenas para fatos do passado distante, provavelmente serve para que se tenha melhor capacidade de reflexão da vida, sendo motivo de grande alegria poder rememorá-la quando não machucamos deliberadamente as pessoas com as quais nos relacionamos. Se a elas provocamos sofrimento, as lembranças são o preparo para o pedido de perdão. Recomenda-se que em conversa com ele (o idoso), puxemos por assuntos históricos, fatos de há muito tempo, onde sua memória encontra-se intacta e pode fazê-lo fluente.

A libido diminui, afinal para que reproduzir agora, se não dá para acompanhar o desenvolvimento do rebento? E quão patético é querer a performance dos vinte anos! Fica-se mais seletivo, a energia é usada com parcimônia e melhor distribuída em atividades também prazerosas e sociáveis, como ler, curtir os amigos, a natureza, a companheira, voltar a brincar fazendo a alegria dos netos, para os quais pode-se confeccionar antigos brinquedos!

Embora aparente fragilidade lá adiante, o ser humano se aborrece mais facilmente e é capaz de fazer valer suas vontades, bastando que lhe faltem com o respeito ou não compreendam sua rotina com seus objetos em seu cantinho predileto. Nesta fase gosta de segurar a mão da amada e dizer-lhe tudo, quase sem falar nada.
Se por coisas do destino tiver que ir para longe do convívio familiar, num abrigo, é bom que se diga que o experiente não é frágil como um cristal, nem se acaba aos cacos, mas não dispensa o polimento e que não se deve jogá-lo ao chão! Está apenas mais próximo de devolver sua "vestimenta", pois permitiu-lhe Deus que a usasse até o rompimento das malhas, abrigando um espírito, este sim, do interesse divino. É lamentável que um ser tão doce seja tratado de forma ingrata e desrespeitosa, num Brasil para poucos, com uma aposentadoria irrisória ter que enfrentar filas enormes na madrugada em busca de uma assistência médica caótica, ter que suplementar a renda trabalhando, quando os pés já não lhe obedecem mais e, pior, sem emprego para os seus descendentes, vê-los beliscar seus parcos ganhos, num estímulo à preguiça e à exploração. Este ser deveria chegar ao pódium da vida vivendo-a plenamente e não apenas suportando-a, mas elaborando-a sempre, com alegria.

ORAÇÃO DO IDOSO - (João Marni de Figueirêdo)

Ó mãos, sagradas mãos, de pregos transpassadas,
Ergam-me pela manhã no despertar,
Conduzam-me por todo o dia,
Afaguem-me nas minhas dores,
Devolvam-me ao leito à hora do recolhimento,
E, por ocasião do meu final, abracem-me para todo o sempre

Por: João Marni de Figueiredo

Ele vem aí, não demora não, ele vem aí com uma vassoura na mão! - José do Vale Pinheiro Feitosa

O vocábulo udenismo notado no dicionário Houaiss fala apenas da filiação partidária a um partido que existia antes de 1964, chamado UDN. É um cuidado de dicionário de uma pobreza histórica, pois a palavra passou para a história como aquele programa de se fazer política sempre através da denúncia da corrupção. O udenismo foi uma das armas da perseguição política exercida pelo regime militar com as chamadas cassações por corrupção, hoje se sabe mais feitas para tirar adversários do jogo político do que propriamente para solucionar a questão de origem. A verdade é que os cassados nunca tiveram acesso aos processos que o cassaram e por consequência a nenhuma defesa.

Instigada pela mídia nacional e pautada por uma realidade mercantilista em que tudo é dinheiro, a população cai como patinho nesta questão de ordem moral no particular, sem tomar consciência do mal maior (do geral) que é a dinâmica de apropriação e acumulação de riquezas que acompanhou a retomada liberal dos anos 90. Vivendo uma dinâmica de corrida para bater as entradas de renda com as saídas de consumo, a população sabe que algo muito podre acontece no reino e a mídia lhes oferece o veneno diário do mal feito por seu vizinho.

Olha os nossos problemas não estão no forró eletrônico do vizinho, no carro zero daquele orgulhoso da rua de cima, não estão apenas nas verdureiras que pretendem ganhar mais no molho de coentro. Mas a mídia nos instiga contra eles, naqueles programas policiais, de dedo em riste como a palmatória do mundo. É um estilo julgador daqueles pastores de olhos esbugalhados com os dedos sobre os pecados alheios, enquanto se julga o senhor do próprio pecado.

Este espírito linchador renascido na mídia nacional, a fazer renascer a vassoura de Jânio Quadros, a fazer pregações moralistas como se interesses não movessem esta prática. Nos idos da ditadura militar foi perseguir e extinguir quem pensasse diferente e agora não é diferente, embora tenha uma questão maior a esconder. O que escondem?

Os juros altos, por exemplo, que consomem as reservas fiscais mais do que qualquer outro programa social. Mas a mídia, diga-se de passagem, é “científica” em seus argumentos, ela não virá como um clérigo pecador a apontar os pecados alheios. Ela vem invertendo equações, desequilibrando a verdade e mudando de lugar causas e efeitos.

A quem beneficia os juros altos? Às famílias ricas do Brasil que recebem do Estado pelo dinheiro que acumularam na economia brasileira que inegavelmente e monetariamente é uma contribuição coletiva de trabalhadores e técnicos especializados. O trabalhador e o técnico, nunca receberão destes juros, eles são o que pagam, além do que já perderam para estas famílias ricas na origem da acumulação do capitalista. Então por que a grande mídia fica cheia de “argumentos” econômicos quando os juros caem?

Por que não vai mais dinheiro para a saúde pública? Vamos devagar para chegarmos a uma percepção maior. Primeiro por que a fonte do imposto para a saúde foi nas transações financeiras e estas que retiram alguma coisa das famílias pobres, abrem o “escândalo” das transações entre ricos. Segundo por que existe uma oposição beneficiária do “udenismo” renascido que precisa sangrar de meios o governo federal mesmo que à custa dos seus prefeitos e governadores. Terceiro por que alguns setores privados se beneficiam da fragilidade pública pelo subfinanciamento para ganhar um pouco mais na mercantilização da medicina. Quarto por que o Congresso Nacional foi eleito por financiamento privado e está lá para representar os interesses apontados pelos atores dos itens anteriores.

A verdade é que gastamos menos que países assemelhados ao nosso com saúde (proporção do PIB), estimulamos uma iniqüidade pervertida com os planos de saúde (já explico melhor) e estamos comprometendo uma escala enorme de programas sociais hoje exercidos em nível municipal: saúde, educação, segurança patrimonial, assistência social, etc. Estamos comprometendo por que os orçamentos municipais estão inchados de novas atribuições deste a constituinte de 1988.

Os planos de saúde são geridos por entidades privadas que lucram e lucram muito com eles, mas planos não são financiados por estas entidades. Os planos de saúde são fundos mutuais, formados por pessoas que aderem a ele e a maioria é de trabalhadores que os cria através de negociações salariais (portanto abdicando de ganho direto no bolso, por descontos em planos de saúde). Além do mais os planos de saúde se tornaram um grande negócio de vender produtos através de procedimentos o que gera um consumismo exagerado de meios e uma mercantilização perversa que só aumenta custos e diminui efeitos positivos sobre a saúde das pessoas. Os planos de saúde no Brasil por este lado do consumismo são um fator brutal de iniqüidade, quando o gasto per capita neste meio é muitas vezes superior àquele do setor público e acrescente-se o fato de que concentrado no sudeste e sul do país. A iniqüidade é de tal ordem que o consumidor padrão destes planos mora na capital de São Paulo, tem menos de cinqüenta anos e é homem.

Os agentes particulares da saúde não venderiam seus produtos, sem o esforço coletivo do povo brasileiro, através de impostos ou por formação de fundos mutuais, nem a um terço da população brasileira. Apesar dos pesares e das denúncias “udenistas” ou não, a saúde pública financiada pelo imposto dos brasileiros é a presença mais firme nas grandes questões de saúde pública e a única força que efetivamente descentraliza recursos para o interior do país.

O udenismo visa linchar alguns para subtraí-los do jogo político nacional, mas não conseguirá modificar a realidade desta civilização que tem enormes contradições, entre as quais ter que viver com o que existe de proteção social e da renda pessoal.

Tiririca, Doutor Honoris Causa -- por Armando Lopes Rafael



Foi sob protestos de um grupo de cerca de 100 estudantes ligados ao Diretório Central da Universidade Federal da Bahia (UFBA) que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu, no último dia 20, o título de Doutor Honoris Causa da instituição. Turminha ingrata!

Era a sexta condecoração do gênero recebida pelo ex-presidente. As outras foram concedidas pelas Universidades de Coimbra, em Portugal, Federal de Viçosa (UFV), de Pernambuco (UPE), Federal de Pernambuco (UFPE) e Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).

Durante a solenidade, um grupo de estudantes chegou ao prédio da reitoria da instituição para cobrar, entre outras melhorias, o aumento para 10% do Produto Interno Bruto (PIB) o montante a ser obrigatoriamente investido em educação no País. Como não havia espaço no salão onde ocorria o evento, os estudantes tiveram de ficar do lado de fora -de onde gritaram palavras de ordem até que o discurso do ex-presidente, que durou 30 minutos, fosse concluído.

Depois, os manifestantes conseguiram entrar no salão, onde acompanharam o fim das homenagens a Lula e voltaram a gritar palavras de ordem.

Agora será que Lula merece mesmo o título de Doutor Honoris Causa?

Para mim isso é matéria de pouca importância. Se quem deu o título acha que ele merece, então protestar para quê?
Vá lá. Lula é, no mínimo, incoerente. Como alguém que se orgulha de não ter educação formal pode ser Doutor Honoris Causa?

Como se pode laurear uma pessoa que apoiou ditaduras que violam os direitos humanos? Lula chamou Kadafi de “meu irmão e meu líder”; viabilizou a ditadura da dinastia Castro em Cuba, a ditadura mais antiga e a mais sanguinária do mundo. Deu apoio a ditadura do Irã, que mata mulheres com apedrejamento. Apoiou presidentes do naipe de Hugo Chávez e Evo Morales. Aliás, deste último -- o "cocaleiro" -- dizem que Lula se pelava de medo. A invasão das refinarias brasileiras na Bolívia estão aí para provar...
Todos sabem que não concordo com muita coisa feita no governo de Lula, durante oito anos. Ele fez vista grossa para a corrupção que se alastrou na sua administração. Mentiu dizendo que não sabia de nada na roubalheira do “Mensalão”. Desmascarado, tudo fez para que as falcatruas do “Mensalão” não fossem apuradas. Pior: não só manteve muitos desses corruptos durante toda a sua administração, como ainda patrocinou-os a permanecerem no governo de dona Dilma. Mentiu para enganar os incautos. Disse que tinha pago a dívida externa.  Na verdade, ela foi triplicada no governo Lula. Disse que o Brasil tornara-se autossuficiente na produção de petróleo. Hoje importamos mais do que em governos passados.
Enfim, seriam tantos fatos negativos do governo do “Cara” a comentar... Por isso, quando dona Dilma ("A Cara") tentou estancar a roubalheira  teve de capitular, para não perder o apoio da "base de sustentação do seu governo".
Mas vá lá. Querem dar honraria a Lula? Podem dar.

No entanto, estão cometendo injustiça com outras pessoas que também merecem ser Doutor Honoris Causa. Uma delas é o deputado federal Tiririca. Ele teve a maior votação que um deputado federal já obteve no Brasil. Ele também não tem educação formal. É nordestino. Tem gente que não se conforma em ver nordestino de pouco estudo galgar cargos importantes que exigem preparo para o exercício. São uns preconceituosos. Ou invejosos mesmos!" Tiririca também não sabe falar inglês, nem francês. Só arranha (e mal) o português. Diz “menas” ao invés de menos. Trabalhou em profissões humildes, antes de viver na mordomia da classe política. Era palhaço. Hoje é deputado por São Paulo, um estado que tem o PIB maior do que o da Argentina. Tiririca Doutor Honoris Causa já!Ele merece...

A questão carcerária - Emerson Monteiro


Um dia, pelas ruas de Mangaratiba, cidade litorânea do Rio de Janeiro, visualizei o passeio dos detentos da Ilha Bela, antigo presídio hoje desativado. Quadro marcante, cortejo de homens válidos, corpulentos, em marcha batida, controlados por guardas e cães, a percorrer trechos daquela cidade. Alguns traziam consigo peças de artesanato de própria fabricação, oferecidas aos circunstantes por preços ocasionais. A cena ficou gravada para voltar ao pensamento quando, como agora, enfeixo a intrincada crise penitenciária brasileira. Aqueles zumbis, de olhos vazios, trajes encardidos, quais reses de tosquia, trastes da culpa, apenas arrastavam o tropel do destino à luz da vontade dos homens.

E revivo também a sensação cotidiana dos noticiosos quando exploram o mundo cão. São raros os meses em que deixam de ocupar o cardápio as rebeliões nas celas, com registros de fugas, incêndios, perdas de vidas e homicídios.

Tais aspectos percebidos significam o estrangulamento do sistema penal; refletem a estrutura da sociedade como um todo, onde deficiências indicam muito chão ainda para percorrer até a perfeição final do processo vida.

Cheira mesmo a repetição dizer que as cadeias, quais viveiros de pássaros indomáveis, converteram-se no campus da monstruosa universidade do crime, imagem conhecida, onde os apenados ali encaram desafios primitivos junto de outros em condições físicas e morais deploráveis. Daí, qual onda avassaladora, estranho relacionamento impõe e multiplica a morbidez de seres vencidos, depois lançados às sarjetas, num ciclo de miséria que aumenta os custos do subdesenvolvimento mórbido.

Intenções honestas de resolver o problema, contudo, não eliminam o atraso dessa área, vistas experiências nos países ricos, mesmo sabidas quantas falhas lá também persistem.

Planos que se cogitem devam sempre vincular a participação efetiva da força de trabalho reclusa às celas, estagnando a capacidade produtiva. Em resposta, as sentenças assim deixariam de inutilizar a mão de obra prisioneira, sobrando ao Estado o mérito de soluções criativas e geração de riqueza, alimentando e estabilizando as contas da instituição punitiva, além de profissionalizar quem chegar, de comum, sem ofício. As prisões agrícolas demonstram a viabilidade desta idéia.

Restam imaginar perspectivas novas para problema tão arcaico. O gesto de segregar aos calabouços, sem outras preocupações racionais, apenas mascara uma chaga que transborda de dor e clama decência. Compromisso pesa, pois, sobre todos os ombros, sabendo que o zelo da liberdade vem assegurado como atributo essencial, dom divino que cabe manter, sobretudo a quem necessita desde criança das poucas e limitadas oportunidades vitais.

A consagração de Lula pela intelectualidade francesa

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve uma recepção de pop star hoje, em Paris, durante a cerimônia de entrega do título de doutor honoris causa pelo Instituto de Estudos Políticos (Sciences-Po), o maior da França. Em seu discurso, o ex-chefe de Estado enalteceu o próprio mandato e multiplicou os conselhos aos líderes políticos da Europa, que atravessa uma forte crise econômica.
Antes, durante e depois, Lula foi ovacionado por estudantes brasileiros, na mais calorosa recepção da escola desde Mikhail Gorbachev. A cerimônia foi realizada do auditório do instituto, com a presença de acadêmicos franceses e de quatro ex-ministros de seu governo: José Dirceu, Luiz Dulci, Márcio Thomaz Bastos e Carlos Lupi. Vestido de toga, o ex-presidente chegou à sala por volta de 17h30min, acompanhado de uma batucada promovida por estudantes. Ao entrar no auditório, foi aplaudido em pé pela plateia, aos gritos de "Olé, Lula". Em seguida, tornou-se o primeiro latino-americano a receber o título da Sciences-Po, já concedido a líderes políticos como o tcheco Vaclav Havel.
Em seu discurso, o diretor do instituto, Richard Descoings, se disse "entusiasta" das conquistas obtidas pelo Brasil no mandato do petista. "O SENHOR LUTOU PARA QUE O BRASIL ALCANÇASSE UM NOVO PATAMAR INTERNACIONAL", disse, completando: "NÃO É MAIS POSSÍVEL TRATAR DE UM ASSUNTO GLOBAL SEM QUE AS AUTORIDADES BRASILEIRAS SEJAM CONSULTADAS".
Autor do "elogio" a Lula - o discurso em homenagem ao novo doutor -, o economista Jean-Cluade Casanova, presidente da Fundação Nacional de Ciências Políticas, LAMENTOU QUE A EUROPA NÃO TENHA UM LÍDER "DE TRAJETÓRIA POLÍTICA TÃO ILUMINADA". Cssanova pediu ainda que Lula aproveitasse sua viagem para "DAR CONSELHOS AOS EUROPEUS" SOBRE GESTÃO DE DÍVIDA, DÉFICIT E CRESCIMENTO ECONÔMICO.
Lula aceitou o desafio e encarnou o conselheiro. Em um discurso de 40 minutos, citou avanços de seu governo, citando a criação de empregos, a redução da miséria, o aumento do salário mínimo e a criação do bolsa família e elogiou sua sucessora, Dilma Rousseff. "Não conheço um governo que tenha exercido a democracia como nós exercemos", afirmou, no tom ufanista que lhe é característico. Então, lançou-se aos conselhos. Primeiro criticou "uma geração de líderes" mundiais que "passou muito tempo acreditando no mercado, em Reagan e Tatcher", e recomendou aos líderes da União Europeia que assumam as rédeas da crise com intervenções políticas, e não mais decisões econômicas. "Não é a hora de negar a política. A União Europeia é um patrimônio da humanidade", reiterou.

ANDREI NETTO, CORRESPONDENTE - Agência Estado

Lula em Paris: imprensa brasileira dá vexame



Por que Lula e não Fernando Henrique Cardoso, seu antecessor, para receber uma homenagem da instituição?
Começa assim, acreditem, com esta pergunta indecorosa, a entrevista de Deborah Berlinck, correspondente de "O Globo" em Paris, com Richard Descoings, diretor do Instituto de Estudos Políticos de Paris, o Sciences- Po, que entregou o título de Doutor Honoris Causa ao ex-presidente Lula, na tarde desta terça-feira.
Resposta de Descoings:
"O antigo presidente merecia e, como universitário, era considerado um grande acadêmico (...) O presidente Lula fez uma carreira política de alto nível, que mudou muito o país e, radicalmente, mudou a imagem do Brasil no mundo. O Brasil se tornou uma potência emergente sob Lula, e ele não tem estudo superior. Isso nos pareceu totalmente em linha com a nossa política atual no Sciences- Po, a de que o mérito pessoal não deve vir somente do diploma universitário. Na França, temos uma sociedade de castas. E o que distingue a casta é o diploma. O presidente Lula demonstrou que é possível ser um bom presidente, sem passar pela universidade".
A entrevista completa de Berlinck com Descoings foi publicada no portal de "O Globo" às 22h56 do dia 22/9. Mas a história completa do vexame que a imprensa nativa sabuja deu estes dias, inconformada por Lula ter sido o primeiro latino-americano a receber este título, que só foi outorgado a 16 personalidades mundiais em 140 anos de história da instituição, foi contada por um jornalista argentino, Martin Granovsky, no jornal Página 12.
Tomei emprestada de Mino Carta a expressão imprensa sabuja porque é a que melhor qualifica o que aconteceu na cobertura do sétimo e mais importante título de Doutor Honoris Causa que Lula recebeu este ano. Sabujo, segundo as definições encontradas no Dicionário Informal, significa servil, bajulador, adulador, baba-ovo, lambe-cu, lambe-botas, capacho.
Sob o título "Escravocratas contra Lula", Granovsky relata o que aconteceu durante uma exposição feita na véspera pelo diretor Richard Descoings para explicar as razões da iniciativa do Science- Po de entregar o título ao ex-presidente brasileiro.
"Naturalmente, para escutar Descoings, foram chamados vários colegas brasileiros. O professor Descoings quis ser amável e didático (...). Um dos colegas perguntou se era o caso de se premiar a quem se orgulhava de nunca ter lido um livro. O professor manteve sua calma e deu um olhar de assombrado(...).
"Por que premiam a um presidente que tolerou a corrupção", foi a pergunta seguinte. O professor sorriu e disse: "Veja, Sciences Po não é a Igreja Católica. Não entra em análises morais, nem tira conclusões apressadas. Deixa para o julgamento da História este assunto e outros muito importantes, como a eletrificação das favelas em todo o Brasil e as políticas sociais" (...). Não desculpamos, nem julgamos. Simplesmente, não damos lições de moral a outros países.
"Outro colega brasileiro perguntou, com ironia, se o Honoris Causa de Lula era parte da ação afirmativa do Sciences Po. Descoings o observou com atenção, antes de responder. "As elites não são apenas escolares ou sociais, disse. "Os que avaliam quem são os melhores, também. Caso contrário, estaríamos diante de um caso de elitismo social. Lula é um torneiro-mecânico que chegou à presidência, mas pelo que entendi foi votado por milhões de brasileiros em eleições democráticas".
No final do artigo, o jornalista argentino Martin Granovsky escreve para vergonha dos jornalistas brasileiros:
"Em meio a esta discussão, Lula chegará à França. Convém que saiba que, antes de receber o doutorado Honoris Causa da Sciences Po, deve pedir desculpas aos elitistas de seu país. Um trabalhador metalúrgico não pode ser presidente. Se por alguma casualidade chegou ao Planalto, agora deveria exercer o recato. No Brasil, a Casa Grande das fazendas estava reservada aos proprietários de terra e escravos. Assim, Lula, silêncio por favor. Os da Casa Grande estão irritados".
Desde que Lula passou o cargo de presidente da República para Dilma Rousseff há nove meses, a nossa grande imprensa tenta jogar um contra o outro e procura detonar a imagem do seu governo, que chegou ao final dos oito anos com índices de aprovação acima de 80%.
Como até agora não conseguiram uma coisa nem outra, tentam apagar Lula do mapa. O melhor exemplo foi dado hoje pelo maior jornal do país, a "Folha de S. Paulo", que não encontrou espaço na sua edição de 74 páginas para publicar uma mísera linha sobre o importante título outorgado a Lula pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris.
Em compensação, encontrou espaço para publicar uma simpática foto de Marina Silva ao lado de Fernando Henrique Cardoso, em importante evento do instituto do mesmo nome, com este texto-legenda:
"AFAGOS - FHC e Marina em debate sobre Código Florestal no instituto do ex-presidente; o tucano creditou ao fascínio que Marina gera o fato de o auditório estar lotado".
Assim como decisões da Justiça, criterios editoriais não se discute, claro.
Enquanto isso, em Paris, segundo relato publicado no portal de "O Globo" pela correspondente Deborah Berlinck, às 16h37, ficamos sabendo que:
"O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi recebido com festa no Instituto de Estudos Políticos de Paris - o Sciences- Po _, na França, para receber mais um título de doutor honoris causa, nesta terça-feira. Tratado como uma estrela desde sua entrada na instituição, ele foi cercado por estudantes e, aos gritos, foi saudado. Antes de chegar à sala de homenagem, em um corredor, Lula ouviu, dos franceses, a música de Geraldo Vandré, "para não dizer que eu não falei das flores.
"A sala do instituto onde ocorreu a cerimônia tinha capacidade para 500 pessoas, mas muitos estudantes ficaram do lado de fora. O diretor da universidade, Richard Descoings, abriu a cerimônia explicando que a escolha do ex-presidente tinha sido feita por unanimidade".
Em seu discurso de agradecimento, Lula disse:
"Embora eu tenha sido o único governante do Brasil que não tinha diploma universitário, já sou o presidente que mais fez universidades na história do Brasil, e isso possivelmente porque eu quisesse que parte dos filhos dos brasileiros tivesse a oportunidade que eu não tive".
Para certos brasileiros, certamente deve ser duro ouvir estas coisas. É melhor nem ficar sabendo

Earth, Wind and Fire - After the love has gone

Para ouvir e se deleitar, dando um tempo às agruras e complicações.