Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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quinta-feira, 30 de julho de 2009

Nunca fui beijada - Sessão IX - Por Zélia Moreira


Mesmo sendo uma pessoa adulta(?), tenho meus momentos de tardia adolescência.
Adoro tudo que me faça rir ou suspirar.
O filme que trago hoje é uma comédia romântica de 1998.
Alguns não gostam do gênero.Eu o recomendo aos que gostam de músicas dos anos 60, especialmente sendo de The Beach Boys.
Pode até parecer absurdo, mas uma única cena, com um bom fundo musical, pode valer o ingresso pago.
"Nunca fui beijada", tem Drew Barrymore(Et) no papel de Josie Geller, revisora de um jornal em Chicago. Querendo se firmar como repórter, ela aceita o desafio de cobrir o dia a dia de adolescentes numa escola , passando por um deles.
O curioso em Josie, é que ela tem 25 anos, nerd e uma vida amorosa inexistente.
Nem preciso falar muito sobre o desenrolar do filme....Afinal comédias de amor têm sempre um final feliz. Ela além de fazer as pazes com o seu passado, ganha o amor do professor bonitão da escola.
Preparem as pipocas... Quando a necessidade for simplesmente descontrair, eis um bom programa.

Fiquem com a cena final e a música Don't worry baby/ The Beach Boys.

Zélia Moreira

Um comentário para o Coletivo - Por Socorro Moreira




Um blog é um Planeta novo , estrelado , no imenso cosmo virtual.
O Cariricaturas tem vista panorâmica para o Cariri, mas com seu olhar de lince, avista além do que está aqui.
Em dez dias recebendo o povo e o seu pensamento, já criou vários cantinhos e recantos.
Já instalou cadeiras de balanço na varanda, e armou suas redes cearenses. Acendeu o fogão de lenha, chaleira de água fervente, e uma panela de baião-de-dois com queijo de coalho e piqui. O pilão funciona a toda hora pisando a paçoca, o café; no tacho, o doce de buriti.
Claude entre versos, sempre de coração alterado de paixão, fotografa quem chega ,quem traz na sacola, um poema ou textos do nosso agrado.
É só clicando, sorrindo, e mostrando o canto.
Nilo Só fala no Madrigal, e nos amores do passado, que sempre acabam voltando. Ele sabe o quanto as emoções de outrora nos interessam, e como se cristalizaram na nossa alma.
Zé do Vale e Rafael trazem sempre ilustres convidados. São presentes, nessa festa.
Carlos e Magali têm a pontualidade dos caririris. Na ponta da língua um causo, um repente. Vivem com os olhos na gente e um sorriso de simpatia.
Joaquim por instantes esquece as pontes “venezianas”, o tabuleiro do xadrez, e traz uma novidade com seu ar de amigo e cavalheiro. Quando falta, a cadeira fica vazia.
Cumprimenta todos porque todos lhes são caros. A maioria é parenta ou colega de infância.
Leonel demorou, mas chegou. Trouxe Mônica sua musa, e a sua prosa poética sempre inteligente.
Zé Flávio já entrou, já conversou, e já deixou pendurado um dos seus legados. Mas ele é alado... Voa pra tudo quanto é lado. Aprendeu com Ícaro e com Vieirinha a ser um prosador danado. Danado de bom!
Dihelson já instalou o som. Reuniu o que de melhor existe na música, pra nos deixar chapados. É como se pra nós tocasse “Night and Day”.
Jairo está batucando algum jazz. Pensando em inglês, como um Rui Barbosa.
Da Bahia a Corujinha se intimida. Chega sorrateira, e nos promete poesia.
Ana Cecília já passou, deixou seu sorriso, seu talento, que ficou registrado. Com certeza voltará, com mais pérolas, nas suas ostras, pra gente apreciar.
Zélia é cinema, pipoca e emoção. Chega com aqueles olhos enormes de alegria, em poder dividir a emoção.
César deixa as terras distantes, e aterrissa nesse Planeta, como uma estrela cadente.
Liduina começou a bem postar. Tá cultivando orquídeas, mas sei que voltará.
Anita é quase uma cearense. Chega trazendo os haicais, e toda sua ternura, na poesia.
Emerson e Melgaço, espíritos elevados , são meus gurus. Acendo incensos de mirra para recebê-los. Que cheguem sempre!
João Marni e Fátima nos recebem em sua casa, e a gente se alegra quando chegam aqui, com uma prosa no bolso pra enfeitar a guirlanda de colaboradores.

Sávio, Domingos e Chagas são mestres nos poetares. Não pensam... Poetam!
Dimas, Nicodemos, Glória, Kaika, Roberto, Armando, Vera... Presenças queridas, ainda em silêncio. Mas quem os conhece sabe que eles sentem!
Tirando o chapéu de interiorana cratense para Everardo Noróes, Assis Lima, Stela, Tiago, Lupeu, Edilma, Pachelly... Belas contribuições. Nos primeiros acordes, já nos impressionaram.
Agora é hora de servir o rango. Estou de avental e colher de pau na mão.

Venham todos, a mesa está servida. Os nossos visitantes também são convidados!


Perseveremos, na alegria do encontro !

Namastê !
Socorro Moreira
Foto de Nilo Sérgio Monteiro

O Molusco

Dorme o molusco latente
só esperando sal e pimenta

e logo se acenda a lata
por efeito do arrebatamento

torna-se o molusco
um monstro apavorante

mil tentáculos venenosos
cruel cinismo

a devorar-me,
a enlouquecer-me
a lançar-me à morte

então estraçalhados
meu coração, meus pulmões e meu fígado

volta a dormir o molusco inocente
só esperando sal e pimenta.

Junções

Seu vazio,
a sua moeda encantada.

Deixe-a dentro
das rachaduras das paredes.

Lá repousam os medos
as faces medonhas
o corredor escuro.

Mas também o sorriso
da nódoa de chuva

entre a linha da porta
e a brancura do teto.

A FESTA DOS PORCOS


Que interesses econômicos se movem por detrás da gripe suína???
No mundo, a cada ano morrem milhões de pessoas vitimas da Malária que se podia prevenir com um simples mosquiteiro. Os noticiários, disto nada falam!
No mundo, por ano morrem 2 milhões de crianças com diarréia que se poderia evitar com um simples soro que custa R$ 0,25.
Os noticiários disto nada falam!
Sarampo, pneumonia e enfermidades curáveis com vacinas baratas, provocam a morte de 10 milhões de pessoas a cada ano.
Os noticiários disto nada falam!
Mas há cerca de 10 anos, quando apareceu a famosa gripe das aves... os noticiários mundiais inundaram-se de noticias... Uma epidemia, a mais perigosa de todas...Uma Pandemia!
Só se falava da terrífica enfermidade das aves.
Não obstante, a gripe das aves apenas causou a morte de 250 pessoas, em 10 anos...25 mortos por ano.
A gripe comum, mata por ano meio milhão de pessoas no mundo. Meio milhão contra 25.
Um momento, um momento... então, porque se armou tanto escândalo com a gripe das aves?
Porque atrás desses frangos havia um "galo", um galo de crista grande.
A farmacêutica transnacional Roche com o seu famoso Tamiflú vendeu milhões de doses aos países asiáticos.
Ainda que o Tamiflú seja de duvidosa eficácia, o governo britânico comprou 14 milhões de doses para prevenir a sua população.
Com a gripe das aves, a Roche e a Relenza, as duas maiores empresas farmacêuticas que vendem os antivirais, obtiveram milhões de dólares de lucro.
-Antes com os frangos e agora com os porcos.
-Sim, agora começou a psicose da gripe suína. E todos os noticiários do mundo só falam disso...
-Já não se fala da crise econômica nem dos torturados em Guantánamo...
-Só a gripe suína, a gripe dos porcos...
-E eu pergunto-me: se atrás dos frangos havia um "galo"... atrás dos porcos... não haverá um "grande porco"?
A empresa norte-americana Gilead Sciences tem a patente do Tamiflú. O principal acionista desta empresa é nada menos que um personagem sinistro, Donald Rumsfeld, secretario da defesa de George Bush,artífice da guerra contra Iraque....
Os acionistas das farmacêuticas Roche e Relenza estão esfregando as mãos, estão felizes pelas suas vendas novamente milionárias com o duvidoso Tamiflú.
A verdadeira pandemia é de lucro, os enormes lucros destes mercenários da saúde.
Não nego as necessárias medidas de precaução que estão a ser tomadas pelos países, mas se a gripe suína é uma pandemia tão terrível como anunciam os meios de comunicação...
Se a Organização Mundial de Saúde se preocupa tanto com esta enfermidade, porque não a declara como um problema de saúde pública mundial e autoriza o fabrico de medicamentos genéricos para combatê-la?
Prescindir das patentes da Roche e Relenza e distribuir medicamentos genéricos gratuitos a todos os países, especialmente os pobres. Essa seria a melhor solução.

Texto do Dr.Hercilio Rohrbacher Junior

QUASE LIBERDADE

Embora pouco, ainda tenho muito pensado
Na pena das asas dos anjos que tornam
A tocar minha face quando sonho,
Num sonho de bêbado onde as putas recitam poemas
Onde poetas recriam os mundos
Dourados como a cárie dos dentes dos bêbados
Que palitam sob a luz da lua,
Sob o som dos ratos, som da lembrança
Das danças fugazes, das valsas que dançastes
Entre moças e rapazes em sua velha juventude

Embora o acaso dos dias infindos
Onde sóis e luas carcomem o meu rosto
Onde letras carcomem meus olhos
A mente burila idéias de fuga dos mundos
Onde bigornas nos bolsos carrego
Onde grilhões me mordem os passos
Onde juízes me podam pecados

Eu voo, embora me queiram por perto
Eu voo, embora sorriam os gênios sem obras
Embora não exista Lei Áurea para casos perdidos
Para mendigos, putas ou bêbados,
Existe o sorriso que teima na treva
Existe para nós o que jamais tu percebeste
Um veneno mortal ou uma chave que nos dá asas
Chamada poesia.

Embora pouco, ainda tenho muito pensado
Embora peso, ainda muito tenho voado.

Imagem: Antonio Mateus
Fonte: http://br.olhares.com/

O leitor e a bibliotecária - por Ronaldo Correia de Brito

Na cidade do Crato, no Ceará, onde vivi parte da infância e adolescência, havia uma biblioteca municipal. Ou seria diocesana? Também não sei aonde foi parar o acervo que marcou tão profundamente minha meninice pobre de livros. O prédio da biblioteca não existe mais; no local funcionam um bar e lojas de bugigangas. Embora o acervo literário fosse deplorável, quase todo formado por livros católicos mal impressos e muito velhos, acho que a troca de uma biblioteca por um comércio nunca é feliz. Já existem bares em excesso nas cidades brasileiras.

Imagino que sou a única pessoa do mundo que leu a coleção Grandes Romances do Cristianismo, de que fazem parte títulos como Perseguidores e Mártires, Quo Vadis?, Otávio, Papai Falot, Ben-Hur, Os últimos dias de Pompéia, Os noivos e por aí afora. Na falta de livros melhores, eu mergulhava nessas narrativas lacrimosas, escritas para arrebanhar os espíritos rebeldes, transformando-os em almas piedosas. Afora esses livros exemplares, havia a biblioteca de um primo, com a melhor literatura universal: só que todos eles estavam parcialmente devorados pelos cupins e pelas traças. Dessa maneira, minha formação ficou cheia de hiatos. Nela, faltam muitas páginas, capítulos inteiros, começos, meios e fins.

Não sei por arte de que nigromante os insetos não comeram uma única página, uma lombada sequer, nem mesmo o parágrafo mais insignificante das obras completas de Machado de Assis, José de Alencar e das crônicas de Humberto de Campos. Dessa forma, até os quinze anos eu já lera todos esses respeitáveis senhores, de cabo a rabo, tão bem lido que nunca mais voltei a eles. Minto: jamais consegui atravessar Guerra dos Mascates, do meu conterrâneo cearense, e sempre releio os contos de Machado. Humberto de Campos, confirmando a transitoriedade do sucesso, anda esquecido. Ninguém lembra que ele foi o autor brasileiro mais lido há algumas décadas, um fenômeno nacional parecido com Paulo Coelho. Sem a auto-ajuda, claro.

A Biblioteca Municipal era pouco freqüentada e a bibliotecária passava a maior parte do tempo fazendo crochê ou rezando num terço de contas azuis e brancas. Creio que o seu interesse pela leitura não foi além das orelhas e prefácios. Dessa forma, ela construiu um conhecimento de superfície sobre o pequeno acervo, quase sempre doado, o que me leva a supor que se tratava de refugo, aquilo que as pessoas têm em casa e não apreciam. Nunca tive notícia de uma aquisição feita pela prefeitura da cidade, da compra de um pacote de bons livros. Quando completei catorze anos, deixaram que eu tivesse acesso à biblioteca da Faculdade de Filosofia e aí conheci livros melhores.

A bibliotecária pertencia à irmandade das Filhas de Maria, vestia-se de branco no mês de maio e usava uma fita azul no pescoço com uma imagem em prata de Nossa Senhora. Ela sempre me pareceu ingênua, boa e feliz. A necessidade de um emprego colocou-a no lugar de bibliotecária, sem vocação ou preparo para isso. Nossa amizade se deu por eu ser apaixonado pelos livros. A devoção que ela punha nas rezas eu colocava nas leituras. Diante de um menino deslumbrado por objetos de que ela cuidava sem maior convicção, sentia-se tocada. E era sincera quando me apresentava um título que acabara de chegar, uma nova doação. Esse é bom, dizia sem haver lido. Esperando que eu retornasse para a devolução com um resumo da obra e comentários que respeitavam sua fé católica.

Talvez um bibliotecário de grande erudição, culto e arrogante, tivesse me inibido. A bibliotecária modesta, com seu fetiche pelos objetos livros e sua admiração pelo menino leitor, me seduziu para a leitura. Ela me olhava invejosa e seus olhos confessavam: Ah, se eu tivesse coragem de atravessar esses dramas! Mas sua formação católica, de um catolicismo popular e singelo, reprimia vôos e fantasias, mesmo em romances que pareciam inventados por sugestão de Roma.

Quase todas as vezes em que voltava ao Crato, passava em frente à casa da bibliotecária. Nossa conversa não se mantinha por mais de dez minutos. Eu temia que a qualquer momento ela sacasse a sugestão de um novo romance. Mas o catolicismo anda em baixa e livros edificantes de escritores como Paulo Coelho tendem para o ecumenismo e o paganismo. A bibliotecária já não possui biblioteca, nem leitores a quem cativar.

Ela sabia que o menino curioso se tornara médico e escritor. Talvez desejasse ouvir um agradecimento que só agora faço: obrigado pelos livros que você me colocou nas mãos. Por mais estranhos que eles me pareçam hoje, contribuíram para me fazer leitor. Tomara que os santos em que você acredita lhe dêem no céu uma pequena biblioteca, com livros que você poderá nunca ler, mas com certeza amará, abaixo de Deus.

Ronaldo Correia de Brito

Arrastaí!


Dedicado a Dona Almina Arraes


Em 1979, no governo de João Figueiredo, derradeiro presidente da ditadura militar instaurada em 1964, foi aprovada uma ampla anistia política. Centenas de exilados começaram a retornar ao país, dentre eles os ex-governadores Leonel Brizola e Miguel Arraes, o líder comunista Luís Carlos Prestes e o ex-guerrilheiro Fernando Gabeira. Foi quando, ainda menino, comecei a despertar para a política, com grande curiosidade pela história recente e profunda do país, querendo preencher as muitas lacunas existentes, devido, sobretudo, à ação da censura e aos outros entulhos ditatoriais

Lembro, com bastante nitidez, os acontecimentos daquela época. A volta do pluripartidarismo, com as siglas que eram anunciadas: PMDB, PDS, PP, PDT, PT, PCB e sua dissidência, PC do B; o debate que voltava a fluir com a distensão do regime e os lançamentos editoriais que ajudavam a construir a memória da luta contra a ditadura. Um livro, particularmente, chamou-me atenção e ajudou na minha formação política: Carbonários, Memória de uma Guerrilha Perdida, de Alfredo Sirkys. Li-o duas vezes seguidamente, pois ao ler a última página retornei imediatamente para a primeira.

Lembro, ainda, com riqueza de detalhes, da volta triunfal de Miguel Arraes ao Crato, para visitar sua mãe, dona Benigna, e irmãs. Era sábado, por volta do meio-dia quando ele chegou à casa localizada no início da rua Dr. João Pessoa, que estava lotada de gente, espalhada pelo enorme jardim, pela sala, cozinha e quartos. Antes, ele percorreu algumas ruas em carro-aberto, à frente de uma carreata.

Fui para este evento porque Arraes sempre foi um nome familiar para mim. Meu pai, durante a permanência de Miguel Arraes no exílio, na Argélia, dava assistência à sua mãe e irmãs que residiam no Crato. Como era leitor assíduo de jornais e revistas, papai colecionava toda e qualquer referência a Miguel Arraes e repassava para elas. Por conta disto, quando retornou ao Brasil, Miguel Arraes mandou entregar ao meu pai o livro Jogos do Poder, de sua autoria, com dedicatória e agradecimento escrito do próprio punho.

Não sei por onde anda esse livro, que gostaria imensamente de reler e de tê-lo comigo, como uma relíquia que uniu dois grandes homens: Miguel Arraes e meu pai.


Obs1.: Esta matéria foi publicada originalmente no blog Tudofel (tudo-fel.blogspot.com).
Obs2.: Quando da recente mudança que fiz (agora estou residindo na cidade), encontrei o precioso livro que julgava perdido.

PAPO ENTRE AMIGOS - Por João Marni


CRÔNICA DE OLIVAL HONOR - PAPO ENTRE DOIS AMIGOS

Quase todos os cronistas da Rádio Educadora têm curso superior. Quando se encontram para bate-papo, têm por diretriz um pensamento clássico de Berthold Brecth, meio pernóstico ou gabola, mas a rigor verdadeiro, que define as pessoas em três categorias, quando conversando: as inteligentes, que falam de idéias; as pessoas comuns, que falam de coisas; e as pessoas medíocres, que falam de pessoas. As medíocres por falta de assunto, comentam a vida alheia, mentem, caluniam, detratam, - são as conhecidas e famosas faladeiras ou fuxiqueiras, categorias na qual o Ceará é campeão brasileiro e tem o Crato como vencedor “hors-concours” de todos os certames estaduais.
Pois foi em um desses bate-papos que pedi ao meu grande amigo, Dr. João Marni de Figueiredo, conhecido pediatra de nossa cidade, o qual é também formado em Psicologia pela Universidade Federal de Pernambuco, que me dissesse de onde vem a paixão,- por que as pessoas se apaixonam, algumas por um ideal, outras por objetos, tantas outras por animais e outras ainda, misteriosa e irracionalmente, por outras pessoas. Ele não respondeu imediatamente, mas entregou-me sua resposta seriamente escrita e de forma tão elegante e rica, que resolvi publicá-la hoje, enriquecendo esta crônica com seus conceitos.
Define assim o Dr. João Marni a origem da paixão:
“ A paixão vem de regiões escondidas da nossa alma, dos mares bravios de lá, surge de forma súbita arrebatadora feito uma doença incontrolável: sem limites, sem regras, sem remédio. É capaz de invadir, prender e matar, como um tirano. Para em seguida desatar os nós dos laços, saindo em busca de outros chamados, de onde rouba o sono e a fome. O amor...ah! , o amor é brando, paciente, contemplativo e capaz de sofrer em silêncio, querer bem sem ser correspondido; é fiel, gosta de prender-se a um aconchego, a um cafuné. Tem juízo e vem do coração do Mar da Tranqüilidade. A paixão aproxima, é chama ardente, é verão. O amor une, gruda, é fogo brando em permanente primavera.
A paixão é o hoje, é terra de ninguém, “non sense”. Alimenta-se de cartas românticas.O amor é o hoje e o amanhã e alimenta-se da verdade.
A paixão prende e procria, o amor liberta e perpetua.
Mas acredite: - quem criou um, criou o outro”!

29.07.2009

Reviver

Quando o Messias aconselha
a deixar para trás os mortos

percebe quão doloroso
esquecer a soberania do corpo

mesmo os músculos flácidos
e a carne podre.

Agora que acordaste
com os olhos bem abertos

e a alma adormecida
da queda de ontem

nega de vez o combate -
aceita teus despojos
lodosos e insignificantes.

Não há outra verdade
senão a luz faísca do tormento.

Mastiga teu comprimido contra vermes.
Bebe um pouco de água.

Agora dorme.

Só um toque

um toque


Anita D.Cambuim


Toque o meu coração agora

e me encha de ternura

Por que tu, ó criatura

tens o dom de me tocar

Toque o meu coração agora -

ponto reflexo da minha alma

Toque leve, tenha calma

pois, embora não pareça

eu sou frágil como uma flor

Toque o meu coração pra

que eu sinta quão suave é teu tocar

Desvenda os meus mistérios

Me ensina a delícia de te amar.

Haicai 002

Atchim no elevador

Esvaziado no próximo andar –

Conscidência?

Anita D.Cambuim

Zé Clementino - Por A.Morais



A morte do compositor José Clementino consternou o Cariri.

Ao lado de Luiz Gonzaga, Padre Antônio Vieira e Patativa do Assaré, Zé Clementino fez parte da “Trilogia do Ciclo do Jumento”, um movimento idealizado em Crato, em defesa do jegue.

A iniciativa tomou dimensão nacional através da música e da poesia dos quatro defensores do jumento. A campanha ganhou mais intensidade na década de 80, quando os quatro se encontraram na Exposição Agropecuária do Crato (Expocrato), sob a presidência de Henrique Costa.

Padre Vieira chegou ao palanque, onde se encontravam Luiz Gonzaga, Patativa e Zé Clementino, montado num jumento. Ao lembrar este fato, destacacamos que Zé Clementino foi um dos mais vigorosos músicos do Ceará. É o autor de autênticos clássicos da música nordestina, tendo sido interpretado por alguns dos grandes nomes da MPB, dentre os quais o “Rei do Baião” — Luiz Gonzaga.

Funcionário público aposentado, Zé Clementino, que já morou em Crato, quando trabalhava no INSS, integrou-se à vida boêmia da Princesa do Cariri, fazendo parcerias com outros artistas. Com o “velho Lua”, o talento de Zé Clementino ganharia destaque nacional, ao passo que, por outro lado, a inventiva produção artística do compositor varzealegrense proporcionaria vitalidade e renovação à obra musical de Luiz Gonzaga.

O “batismo” fonográfico da parceria Luiz Gonzaga-Zé Clementino procedeu-se, de certa forma, quando o “Rei do Baião” atravessava um longo período de ostracismo e mesmo de indefinição quanto à continuidade da carreira artística.

No seu trabalho anterior, o ilustre “sanfoneiro de Exu” mostrava-se desestimulado e cético quanto aos possíveis rumos de sua até então vitoriosa trajetória musical. Numa de suas canções mais emblemáticas da época, Luiz Gonzaga lamentava:

“Pra onde tu vai, Baião? / Eu vou sair por aí / Mas por que, Baião? / Ninguém me quer mais aqui...”.

De fato, o Baião, assim como outros ritmos nordestinos, havia perdido o forte apelo comercial que gozara no passado, particularmente em virtude do surgimento de novos movimentos musicais — a Bossa Nova e a Jovem Guarda.

Nesse panorama, foi lançado o álbum “Luiz Gonzaga – Óia Eu Aqui de Novo”, o qual continha três canções compostas por Zé Clementino. Uma delas, o “Xote dos Cabeludos”, uma bem humorada crítica à estética ‘hippie’ que conquistava a juventude de todo o mundo, tornou-se uma das músicas mais executadas do país no verão de 68, trazendo o ‘Rei do Baião’ de volta à mídia e despertando o interesse das novas gerações pelo riquíssimo acervo musical do artista. Naquele mesmo ano, Zé Clementino confere uma legítima e emotiva dádiva à sua cidade natal, quando compõe a letra do Hino Oficial de Várzea Alegre.

No seu álbum seguinte, Luiz Gonzaga grava “O jumento é nosso irmão”, uma homenagem à luta, encampada pelo Padre Vieira, em prol da preservação da espécie asinina. Em 1976, fazendo proveito do mesmo tema, o Rei do Baião gravaria “Apologia ao jumento”, uma espécie de discurso inflamado em que, com muito bom humor, exalta as benesses do “pobre e castigado” animal. Registra ainda o xote “Capim Novo”, outra canção do compositor varzealegrense, cuja letra sugere uma “discutível” alternativa terapêutica e afrodisíaca para os homens que enfrentam os “percalços” da terceira idade. Em 1978, o Trio Nordestino, na época o campeão em vendagem de discos no segmento de música regional, grava “Chinelo de Rosinha”, uma parceria de Zé Clementino e Paulo César Clementino.

Em 1983, o Brasil vê-se tocado pela sensibilidade musical do prodigioso varzealegrense Serginho Piau, que executa a comovente canção “Simplesmente Zé”, de autoria de Zé Clementino, em alguns programas televisivos. Por fim, os anos 90 marcaram o processo de revitalização estética e musical do forró, e o cearense Sirano, um dos mais bem sucedidos artistas do Ceará.

Entre as suas músicas estão: “Aí não deixo não”, “Xote dos cabeludos” , “O jumento é nosso irmão”, “Apologia ao jumento”, “Contrastes de Várzea Alegre”, “Capim novo”, “Sou do banco", "Xeêm”, “Chinelo de Rosinha”, “Jeito bom”, “Hino Oficial de Várzea Alegre”, e “Simplesmente Zé”.

Ele faleceu vítima de enfarte no Hospital de Várzea Alegre, aos 69 anos de idade.

Gravada pelo Trio Nordestino e campeã de vendagem veja a letra de :

Aí não deixo não!

Não, não, aí não deixo não!
Se você beijar aí vai ser grande a confusão.

Eu gosto muito de você e tenho admiração,
Entreguei só pra você meu coração.
Meu benzinho pelo bem do nosso amor,
Eu lhe peço, por favor.
Aí não deixo não!

Leve seus troços, vá deixar noutro lugar
Se você não quer casar
Porque vem com enrolação,
Você bem sabe, estas coisas não aceito,
Isso é falta de respeito
Aí não deixo não.

Não, não, aí não deixo não.
Se você beijar aí vai ser grande a confusão.

A. Morais

Apresentação do Madrigal , em 17.07.2009- Por Nacélio Oliveira



Dia do Patrimônio Cultural - Crato, 30 de Julho






















A furta cor de um dia

O parque, da quadra Bi-Centenário do Crato, sempre foi para mim uma espécie de refúgio, de idílio e de reserva imaculada de auto-afirmação, durante os meus conturbados anos de adolescência. Era um período de revolta inerente. Eram os fins da década de setenta e inícios dos anos oitenta. Foram praticamente três anos na companhia diária de Geraldo Urano, Clélio, Romildo e Orlando, principalmente. Sempre recebíamos algumas visitas inusitadas, bem como sabíamos de algumas despedidas repentinas, como a minha, por exemplo, rumo aos jardins suspensos do bairro Pinheiros, em São Paulo.

O horário sagrado era o pingo da mei dia. Os alunos passando ao largo, os sonhos flutuando à nossa volta, como pedras coloridas suspendidas, as divagações assumindo deliberadamente a solidão dos andarilhos envoltos em lençóis psicodélicos, enquanto a filosofia vã dos desocupados desenhava em nossas mentes paisagens urbanas ocupadas por tropas de assalto e anarquistas espiritualizados nas mais altas esferas da teosofia, dos mitos e do esoterismo fácil dos mundos adjacentes ao absurdo.

Discutíamos de tudo, tanto no sentido lato como no sentido estrito. As leituras eram colocadas em dias e debatidas com uma ferocidade sarcástica que se superava a cada dia, trocando de pele como uma cascavel da caatinga, recém chegada dos desertos americanos. Geraldo tinha uma capacidade mórbida de desconcertar qualquer um com comentários lúcidos e perturbadores. Romildo era dono inconteste de argumentos ferinos contra qualquer coisa. Clélio era o anarquista que todos nós precisávamos constantemente para crucificar a sociedade em nosso passatempo preferido. Orlando era a mansidão naturalista em pessoa, o peso ideal para aliviar e elevar as nossas dores marginais.

Geralmente chegávamos ao nosso encontro diário e inadiável com as idéias fervilhando os nossos ideais. Sempre existia uma certa concordância inicial sobre qualquer coisa. Depois a dialética revestia nossas íris com um arco-íris chamuscado pela urgência existencial de cada um. A catarse era coletiva e individual, com a mesma intensidade com que um ovo é fritado na imaginação de um vagabundo, aos pés de um viaduto de uma metrópole encardida pela fuligem do asfalto e do gás carbono. A tensão era a nossa marionete. A sociedade o nosso Pantagruel. A arte e a cultura eram o outro perdido no labirinto de Borges. Nosso senso crítico distribuía igualitariamente um Dom Quixote para cada moinho movido pelas nossas controvérsias. A gente se despedia, ou não, sempre de mãos vazias, mas com a alma repleta de saudades inconfessadas já para o próximo dia.

Naquele dia sentamos em completo silêncio e nele mergulhamos nossos anseios, vitórias e derrotas, e nele permanecemos, em perturbações imperceptíveis, como uma árvore que cria cascas, quebrando espelhos e fundando universos paralelos. Foram as três horas mais prolíferas da minha vida, naquele período de descobertas indomáveis. Foi aquele silêncio barulhento que fez com que eu percebesse que naquele exato momento aqueles dias inesquecíveis haviam acabado e que não reencontraríamos mais nenhum daqueles nós mesmos de há pouco tempo atrás. Foi naquele dia que o saudosismo foi definitivamente banido do meu reduto. Senti na face o vigor do sorriso de quem reconhece o próprio sangue pulsando nas veias.

Nicola di Bari , na amplificadora blogal

Divórcio à Italiana - por José do Vale Pinheiro Feitosa

Olho para teu sorriso, outrora sedutor, e nele um plástico moldável pela conveniência diária. Os cabelos continuam longos, brilhosos e envolvendo teu corpo, mas me dão coceiras de calor. Sabe estes olhos entre verdes e azuis, uma cor de encanto de borboleta, se tornaram enfeites inertes do cotidiano.

Quando falas com humor, acende-me um fogareiro de rancor. Vagueias pelas incertezas humanos de Shakespeare ou Nietzsche e todo o meu dia se torna um tédio com porta aberta para a rua. Se falas das coisas doces ou dos perfumes naturais, sinto as moscas sobre o merengue e me transporto aos odores dos matadouros.

E me vens com as lembranças dos filhos. Dos filhos que ambos fizemos no exercício das paixões em cópulas de dias inteiros, mas o que me resta são as faturas das creches ou as notas incertas dos colégios. A conta do médico, a paga da farmácia, a padaria, o mercado, a TV a cabo e a internet.

O nosso passado e o nosso amor são chagas que doem em cada esquina do cotidiano. E quando me vens à memória, é com certo asco que a esqueço. És palha de arroz, o borralho da queima da caldeira. Quando te vejo em foto, me vem um desejo de deletar teus pixels. Um desejo de nem mais haver uma tela em branco. De nunca ter havido uma tela.

O pior da palavra divórcio é a perpetuação em si do casamento, pela via da negação. Quando alguém me diz divórcio, logo um fel de lembranças ruins me toma da cabeça aos membros. E hoje, nem gostaria de sonhar que um dia nunca tivesse te conhecido. Tal sonho é apenas a lembrança de meu corpo colado ao teu. E tenho rejeições como uma doença crônica.

Nada mais me restando, mudo de vida, mudo de cidade, embora não mude de mim, vou a busca da bomba atômica que promova a fissão da minha substância. E mesmo envenenado pelas partículas que de mim se dissiparão é preciso que morra com esta lepra de amor roto.

E desesperado após esta última frase, todo motivo novo é uma solução do velho. E jamais gostaria de ter vivido este velho. Mas vivi. E ainda vivo dele. Dela. Dos múltiplos que vieram dos dois.

Como fazer? Divorciar-me do divórcio?

Encantados - Por Claude Bloc

Meus sonhos querem viver
Inteiros
Imersos na poesia
Pairar dispersos pelos versos
Bailar pelas entrelinhas...

E em cada estrofe,
Entre rimas e cenários,
Abrir uma janela,
Onde me ponho sozinha
A dedilhar meu rosário...

Meus sonhos querem viver
Nas nuvens
Querem pousar nos portos
Nos umbrais da noite
Vadios e sem rumo...
Meus sonhos querem aportar
No ocaso,
À última luz do sol
Sempre famintos, despertos
Ávidos e bizarros.

Meus sonhos
Querem viver,
Viver apenas...
E sobreviver
Encantados
No meu olhar.
.
Texto e foto por Claude Bloc

O brilho do olhar - Socorro Moreira


Os dias correm desavisados

Uma dor só fica aguda

depois de muitos avisos

O espelho é delator

das expressões concebidas

Uma foto no futuro

mostra os laços do passado

ou o excesso dos risos.

Faltavam muitos

Agora faltam tantos ...

Impossível contar o que se vive!

A emoção é camuflada na ação

A sobra da emoção,
.
mesmo em dose mínima,

afeta até a alma.

Praça iluminada

rostos envelhecidos

Guardam no olhar , o brilho !
.

O Belo e a Fera - Geraldo Urano


uma saudade a mil

dos amigos

estou a plena solidão

mundão de pedras

os robôs passam

garotas macias

elas são tão dispersas

o que ainda me toca

são os olhos fundos da pérsia



os caçadores de orca

estavam jogando num cassino

ali tudo era lindo

lugar perfeito para cascavéis

um maioral

segurava o cetro da violência

eu disse

olha ali aquele, inocência !

ela me disse

homem, vamos embora !


ser puro é a melhor coisa

melhor do que voar

melhor do que ser campeão

eu sou tribo de gêmeos

o menor de todos

quem não tem um leão

contente-se com um cavalo
.
Foto : Claude Bloc
.

Repentes nos bastidores- Magali, Carlos, César, Claude, Socorro e Anita.

Muitas pessoas do Crato
Gostam de andar a pé
Sempre tiram um retrato
Na nossa Praça da Sé.

Menino, se soubesses como dói
o repuxo louco da ausência
a saudade forte, a impaciência
a loucura que sinto em não ver-te
a falta, a ânsia que remói
o suspiro de pura insistência
em pensar e repisar com mais veemência
os acordes de tua voz, a resistência
me levando ao silêncio de não ter-te.

Esperando na estação
o trem que um dia viria
eu vi descer com a mala
o amor que um dia eu teria
"Noventa" ajudou o moço
a conduzir o seu fardo
e o peso da sua olhada
carrego em fotografia
a figura amarelada
pregada na minha alma
ainda está sepultada
no álbum daquela data

O Cariri refloresce
Na grandeza da palavra
Na imagem do sucesso
No jorro de tua lavra

O Cariri sempre foi
O meu lugar preferido
O meu lar, a minha vida
O sonho nunca perdido.

Esqueceram das Guaribas,
Quase chegando na Serra?
Lá de cima a gente avista
A beleza que há na terra.

Um dia vou conhecer
As serras do Cariri
Por enquanto é bom saber:
Cultivo amigos por aí.

Sincero é nosso convite
Alegre é nossa vontade
Morei na Rua da Vala
numa casa apertada
todo dia alguém caía
mas dela tudo escapava

Sei que você é sincero,
Sincero como ninguém
Falo sempre o que eu quero
E sou sincera também

Tuas palavras me falam
Teus olhos dizem também
Dos sentimentos que calam
e os anjos dizem amém...

Um anjo me cochichou
que um ajuntamento amoroso
aconteceria aqui
apostamos na verdade
pois a água aqui do Crato
no virtual tem vertente

A lamparina alumia
a noite que vem chegando
aquece a madrugada
e os sonhos que vão passando

E na janela ela fica
Esperando por alguém
esse silêncio indica
que vou esperar também.

Minha sanfona chora
sob a janela dela
e com uma canção de amor
entrego meu coração
e todo meu amor 'a ela.

Aquele que nasce no Crato
Sempre tem um alto astral
É gente de um fino trato
Que faz um bom carnaval.

MOTE: Cigana