Embora pouco, ainda tenho muito pensado
Na pena das asas dos anjos que tornam
A tocar minha face quando sonho,
Num sonho de bêbado onde as putas recitam poemas
Onde poetas recriam os mundos
Dourados como a cárie dos dentes dos bêbados
Que palitam sob a luz da lua,
Sob o som dos ratos, som da lembrança
Das danças fugazes, das valsas que dançastes
Entre moças e rapazes em sua velha juventude
Embora o acaso dos dias infindos
Onde sóis e luas carcomem o meu rosto
Onde letras carcomem meus olhos
A mente burila idéias de fuga dos mundos
Onde bigornas nos bolsos carrego
Onde grilhões me mordem os passos
Onde juízes me podam pecados
Eu voo, embora me queiram por perto
Eu voo, embora sorriam os gênios sem obras
Embora não exista Lei Áurea para casos perdidos
Para mendigos, putas ou bêbados,
Existe o sorriso que teima na treva
Existe para nós o que jamais tu percebeste
Um veneno mortal ou uma chave que nos dá asas
Chamada poesia.
Embora pouco, ainda tenho muito pensado
Embora peso, ainda muito tenho voado.
Imagem: Antonio Mateus
Fonte: http://br.olhares.com/
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"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata."
(Carlos Drummond de Andrade)
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Um comentário:
Poeta ,
Pode voar à vontade , mas traga a poesia dos ares.
Muito bom tê-lo aqui.
Abraços.
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